sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Cabala - A Esfera Não‐Numerada


Daath significa “Conhecimento” e é considerada uma Sephira – e também uma Qlipha – “invisível”, não aparecendo na maioria das ilustrações da Árvore da Vida. Quando aparece, é representada por detrás do Caminho da Grande Sacerdotisa, no Pilar do Equilíbrio, de forma sutil, grafada com traços e não numerada.

Pode ser considerada o Trigésimo Terceiro Caminho [33] da Árvore da Vida e da Morte, pois está além dos 32 Caminhos conhecidos. Daath não possui nome divino, Arcanjo ou Coro Angélico, e surge, no processo da Criação, das energias de Chokmah, a Sephira n.° 2, e Binah, a Sephira n.° 3, que estão no Triângulo Superior da Árvore, além do Véu do Abismo, onde se situa Daath. É o conhecimento que deverá se tornar Sabedoria (Chokmah) por meio da compreensão (Binah). É o Conhecimento do Abismo Cósmico, o Conhecimento do Bem e do Mal, que é o segredo da Criação manifesta.

Estar em Daath e permanecer isento de compreensão ainda ilude e aprisiona, mesmo que imperceptivelmente, na cela da falsa teologia, da falsa deificação de si mesmo, pois Daath contém todo o conhecimento cru do universo manifestado, a Ilusão do real como uma amálgama de todas as Sephiroth e Qliphoth, uma dimensão de loucura dispersa para todos os lados. Para Daath, são convergidas todas as Sephiroth e todas as Qliphoth, do mesmo modo que para Tiphareth (Jehovah Aloah Va Daath) são convergidas as forças das Sephiroth.

Sob esse prisma, Daath é a porta para o lado reverso da Árvore, o universo B, é um portal entre as “duas” Árvores, que na verdade são uma: a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal (Otz Daath). Daath é a própria semente que contém a Árvore do Conhecimento, que contém o universo; é a semente da planta que é néctar ou veneno.

Seguindo tal raciocínio, a semente é como um holograma, contendo em si o todo, a informação do todo e qualquer parte do todo. Assim, Daath é o grande holograma do universo A e do universo B, ou seja, sephirótico e qliphótico.

Trata‐se de um plano de transição do universo “real” (Ilusão) para o potencial (Real) na Árvore Sephirótica, onde o tempo não existe. O Iniciado só conseguirá realizar essa transição se tiver uma vontade verdadeira e forte e todos os seus elementos em perfeito equilíbrio e completamente purificado das escórias de suas encarnações na Terra, pois ele deverá ter uma visão extremamente clara e capaz de distinguir a Realidade da confusão ilusória. Poderá “filtrar” toda a energia de Daath com discernimento espiritual e não ser vítima do conhecimento falso, da distorção e da insanidade.

Daath é a ponte pênsil que liga ao supremo plano espiritual, mas também é o calabouço do condenado que sempre vacila, pois o indivíduo não preparado se perderá desesperadamente na corrente caótica, ficando cativo em seu labirinto insano e tendo sua consciência devorada pelo arquidemônio enochiano Choronzon, o senhor da dispersão e do conhecimento falso e confuso, o senhor de Daath. A influência de Choronzon no mundo causa a confusão da grande massa de força humana fragmentada que se dispersa, voltando‐se depois contra cada indivíduo que então se perde e se desorienta na vida, em vez de uma concentração para o progresso de cada um e da vida no planeta.

Estudando Daath, a conclusão a que se pode chegar é que toda a existência manifesta abaixo do Abismo Cósmico (abaixo de Daath), a matéria‐energia, o tempo‐espaço, são ilusões criadas pela Mente Divina. É como um jogo, uma brincadeira que pode até parecer de mau gosto, se formos refletir bem. Mas deveríamos aprender a “brincar”, já que somos também ilusão em um universo de ilusão cujo objetivo final é o despertar da consciência espiritual e nossa retirada vitoriosa desse jogo aparentemente (e realmente) perigoso e assustador.

Para se cruzar Daath, é preciso que o indivíduo seja perfeitamente resolvido psicologicamente e que possua todas as virtudes morais e espirituais possíveis, e uma das mais difíceis dessas virtudes é o total desapego. Trata‐se de uma fase do caminho espiritual extremamente crítica e delicada, em que todas as dúvidas e medos já deveriam estar eliminados definitivamente.

Apesar de ser uma “falsa” Sephira ou uma Sephira sem número, ou uma não‐Sephira e não‐Qlipha, pode‐se atribuir a essa Esfera o número 11 (onze). Onze é o número da Magia e das transformações e, consequentemente, da Ilusão. Expressa a dualidade da Manifestação e a Árvore dupla, pois 1+1 = 2, ou seja, a Árvore Sephirótica (10) mais uma (1), que por sua vez possui mais uma Árvore (10) que possui mais uma (1)... e assim por diante, em um ciclo dual alternante que se completa (10) e recomeça (1); é como um sistema de código binário. Onze é o número das dez Sephiroth mais uma Sephira falsa, e das dez Qliphoth mais a Qlipha falsa: Daath.

A cor de Daath é um cinza‐prata violáceo meio indefinido, porque o falso conhecimento é cinza, indefinido, uma mistura de luz e trevas, branco e preto, bem e mal, alegria e desespero, prazer e dor, alegria e trevas, paz e sombras, branco e mal, bem e dor, desespero e deus, prazer e demônio, amor e mal, branco e ódio, amor e ódio, desejo e discórdia (Eros e Éris, o amor erótico e a discórdia que muitas vezes se origina no desejo), etc. Enfim, um verdadeiro caos.

Daath é representada astronomicamente e astrologicamente pelo sistema estelar binário de Sírius (Sothis ou Sopdet), da constelação do Cão Maior, que no Egito antigo era simbolizada graficamente por um triângulo isósceles e uma estrela estilizada. Está a oito anos‐luz e é uma estrela dupla, Sírius A e Sírius B, sendo esta última chamada também de Po‐Tolo pela primitiva tribo africana dogon que já a conhecia em detalhes muito antes de ser descoberta por meio de potentes telescópios em 1862. Segundo os dogons, esse e outros conhecimentos foram trazidos por seres alienígenas chamados nommos, conhecidos como homens‐peixes. No Egito, Sothis era vista ao amanhecer juntamente com o Sol e a inundação do rio Nilo, marcando assim o início do ano egípcio com o forte calor do verão. Sírius significa “brilhante” (do latim sirius e do grego seirios), e era também a grande estrela da Iniciação e dos Mistérios. Eis aqui um fato para reflexão à luz da analogia simbólica.

O planeta Urano também passou a ser uma representação astrológica de Daath, após sua descoberta no século XVIII. Urano é co‐regente de Aquário e sua força é revolucionária e caótica, é energia destrutiva para os despreparados e conformados, pois sua força quebra tabus e impele à evolução drasticamente de maneira perturbadora e com determinação. Mudanças fortes e às vezes súbitas, ocorrem no indivíduo e no mundo por meio da influência de Urano, mesmo que tal mudança cause catástrofes e destrua a ordem estabelecida.

O deus grego Urano é um correspondente mitológico de Daath. Janus, o deus romano que possui dois rostos opostos, olhando para lados contrários. Janus é o deus da dualidade, que olha para o passado e para o futuro ao mesmo tempo, que busca conhecer tudo, seja bom ou mau. Janus é a “porta” para a vida e para a morte, para a lucidez e para a loucura, para o bem e para o mal...

Podemos também atribuir à Esfera de Daath, o deus egípcio Set, já abordado longamente neste livro. Além de Daath, Set está associado à próxima Sephira, Binah.

Alguns dos símbolos mais interessantes e significativos de Daath são o calabouço, a cela de hospício, a casa maluca, o labirinto, o cubo mágico, a semente, o holograma, o espelho (de Alice), a toca do coelho, a cabeça de Janus, o relógio mecânico, a “oficina do Diabo”, o palhaço, a máquina do tempo, a caixa de Pandora, o código binário, o cérebro, o disco rígido do computador, a torre de Babel, o navio fantasma, etc.

Além dos símbolos citados (alguns principais) e das atribuições astrológicas e astronômicas, podemos considerar todos os símbolos possíveis para Daath, os antigos e os modernos, os sagrados e os profanos, os concretos e os abstratos, infinitamente, bem como desconsiderar qualquer símbolo também. Paradoxal? Absurdo?

Pelo que precede, Daath pode ser considerada como o centro principal da magia do caos ou caoísmo, que é um sistema não muito sistemático no qual cada magista faz seu próprio sistema. Na magia do caos o mais importante é a experiência individual (como em qualquer outro sistema ocultista), a busca pelos estados alterados de consciência, o desenvolvimento pessoal e a responsabilidade ou irresponsabilidade pelos seus seus resultados. Crenças são adotadas ou criadas à vontade como meios de se atingir determinados fins ou objetivos, podendo ser abandonadas ou substituídas por outras. O magista caótico visa alterar sua própria “realidade” e utiliza tudo o que possa ser útil e funcional para o seu sistema pessoal, como, por exemplo, magia cabalística, xamanismo, magia enochiana, tantrismo, Necronomicon, doutrinas religiosas, magia goética, mitologia, psicologia junguiana, radiônica, tarô, neurologia, fisiologia, biologia, mecânica quântica, ciência acadêmica em geral, plantas enteógenas e psicoativos sintéticos, sigilização, ufologia, música atonal, rock progressivo, filosofia, artes, literatura, poesia, fantasia, ficção científica, teorias, hipóteses, etc. Enfim, tudo pode ser adaptado e utilizado no sistema caótico no qual não há mestres, gurus ou professores, a não ser que o magista queira.

Assim como a magia do caos, Daath é um verdadeiro pandemônio que influencia a vida na Terra e as civilizações. Na humanidade, a influência de Daath pode gerar insanidade ou criar gênios encarnados…

Fonte:

Livro: A Cabala Draconiana, Editora Madras

Autor: Adriano Camargo Monteiro