sexta-feira, 22 de outubro de 2021

A Linhagem da Serpente


"Júpiter foi o Primeiro e o Último, Júpiter é a cabeça e o meio; Dele provieram todas as coisas. Júpiter foi homem e Virgem Imortal. Júpiter é o fundamento da terra e dos céus; Júpiter é o sopro que anima todos os seres; Júpiter é a origem do fogo, a raiz do mar; Júpiter é o Sol e a Lua. Júpiter é Rei, só Ele é o Criador de Todas as Coisas. É uma Força, um Deus, Grande Principio de Tudo; um só corpo excelente, que abarca todos os seres, o fogo, a água, a terra e o éter, a noite e o dia, Mêtis, a primeira criadora, e o Amor cheio de encantos. Todos esses seres estão contidos no imenso corpo de Júpiter..."

Hino Órfico conservado por Estobeu.


Podemos observar que Iupiter é uma projeção ou "cópia" dos aspectos que definem o caráter do demiurgo e que ele possui múltiplos atributos ou facetas, tal como o demiurgo é representado pelos muitos nomes e aspectos sefiróticos da árvore da vida (Otz Chiim). Entretanto, devemos compreender que todos os panteões de deuses em todas as nações, são projeções geradas das fagulhas de luz que se alojam nas cascas de yetzirá somada às energias desprendidas pela humanidade.

Daremos como exemplo o que Dion Fortune nos tem a oferecer em seu aclamado livro "Cabala Mística":

"Voltará ela aos planos da forma ou ser-lhe-á permitido passar à luz? A questão é: "Acreditas nos deuses?". Se responder "Sim", a alma errará nos planos da ilusão, pois os deuses não são pessoas reais no sentido em que entendemos a personalidade. Se responder "Não", será expulsa, pois os deuses não são ilusões. O que deverá ela responder?

A intuição de um poeta deu-nos a resposta:

"Pois nenhum pensamento humano criou deuses para amar a honrar senão depois que a canção vibrou no silêncio da alma, e nem em sonhos pôde a terra unir-se aos céus antes que a palavra se vestisse de fala pelos lábios do homem".

Temos aqui a chave do enigma. Os deuses são criações do criado, nascem da adoração daqueles que o invocam. Não são os deuses que fazem o trabalho da criação, mas sim as grandes forças naturais, cada uma agindo de acordo com a sua natureza; a procissão dos deuses tem início depois de o Cisne do Empíreo depositar o ovo da manifestação na noite cósmica.

Os deuses são emanações, das almas grupais das raças, e não emanações de Eheieh, o Um, o Eterno. Não obstante, são imensamente poderosos, porque, graças à sua influência na imaginação de seus adoradores, eles unem o microcosmo ao macrocosmo; meditando sobre a beleza ideal de Apolo, a alma humana abre-se à beleza em geral."

Dion Fortune de forma magistral nos expôs um grande ensinamento mal digerido por muitos. A personalidade dos deuses é fundamentalmente uma criação do homem somados aos eflúvios criativos herdados do poder do arquiteto universal, sendo criatura mas também co-criador da realidade material e projetor das formas astrais dos mundos e entidades metafísicas .

O homem detentor da essência criativa, reproduziu a natureza demiúrgica a partir de si, cuja imagem e semelhança é do proprio criador em atributos e espelhou a persona dos homens nos deuses moldando a realidade Assiática e Yetzirática. Deste modo é de se supor que o homem fragmentado e dividido em sua impureza, projete criaturas, espíritos e entidades igualmente impuras caracterizando a idolatria, pois apesar destes deuses reproduzirem os caracteres magistrais e criacionistas da essência demiúrgica, em seus mitos cosmogênicos estão impregnados de impurezas klipóticas das cascas de Malchut (reino material) e Yesod (plano da fundação/ astral), tais como os véus de Olam Assiá (mundo da ação) e Olam Yeszirá (mundo da formação).

Os deuses pagãos são os veículos ou ídolos nos quais os homens intermediam seu contato com a divindade que devido sua corrupção klipótica se tornam eventualmente em seus aspectos mais obscuros e negativos, ferramentas de contato com a natureza da serpente, a portadora da Lvx Nigra, por outro lado, o demiurgo irá se aproveitar de semelhanças ao seu caráter criacionista, detentor da ordem cósmica e temeroso de sua morte para tentar corrigir tais anomalias pagãs, idólatras e politeístas.

Retomando a figura de Iupiter, o romano, como homem da antiguidade e tradicional, concebeu um encontro e uma interação recíproca entre as forças divinas e as forças humanas. O romano encontrou o locus Primigênio da natureza caos colérica ignis bellator Martii o fogo guerreiro de Marte através do tempo e da história. Seus assentamentos espirituais estão em cada homem ocidental que celebra sua memória através de sua cultura sendo nomeada pela história como a Cidade Eterna. Deste modo, dentre os romanos, havia a concepção de que não à nada sacro ou divino que não esteja vinculado ao homem e que cada ato de vida cívica romana era um ato místico.

Que o espírito bélico do negro Samael seja alimentado através da memória de nossos antepassados, cuja imagem fora retratados pelos filhos do demiurgo, da linhagem de Abel e Remo como pagãos e idolatras e que sejam reinvidicados em nome do grande Dragão primordial do abismo!


Nostra voluntates lex nostra est.

Nostra lex est caos!

Kali Yuga super omnium!

AVE SERPENS EL ACHER!