Vayu sustém os constituintes do corpo (sangue, músculos, gordura etc.) e corre através dele. É de forma quíntupla.
É a causa determinante dos movimentos de diferentes classes. Afasta a mente do não desejável e concentra-se sobre o desejável. Concorre para que os DEZ SENTIDOS de conhecimento e de acção cumpram as suas funções próprias. Leva à mente os objectos que entraram em contacto com os sentidos. Mantém unidos os elementos do corpo e é a força coesa das suas partículas. É a causa da VOZ. É a causa primária do TACTO e do SOM (audição) e a raiz do OLFACTO. É a origem da ALEGRIA ou contentamento. Excita o calor. Arrasta todos os humores e impurezas. Penetra através de todos os condutos do corpo, grossos e finos. Dá forma ao embrião na matriz. Dá evidência à existência da vida. O Vayu não excitado realiza todas essas funções. Quando excitado no corpo, aflige-o com diversas moléstias. Destrói a força, a complexão, a felicidade e os períodos da vida. Agita a mente. Destrói todos os sentidos.
Os humores do sistema (VAYU, BÍLIS e FLEUMA) têm três classes de coisas:
1.ª – podem ser atenuados, normais ou excitados;
2.ª – correr para cima, para baixo ou diagonalmente;
3.ª – viajar pelo estômago e condutos referentes, ou pelas partes vitais e articulações. Se se encontram normais, não existe enfermidade; porém, se anormais manifesta-se a enfermidade. Geralmente, é o ALIMENTO USADO EM EX-CESSO que gera a doença. “Quem muito come – diz o velho provérbio – pouco vive”.
A alimentação deve estar em harmonia com as diferentes estações e constituições, mentais e físicas. O alimento para uma época ou pessoa, não é para outra pessoa e tempo.
Um linfático necessita de carne, o mesmo não acontece com um sanguíneo. No Verão, abusar da carne é suicidar-se lentamente. No Inverno, ela aumenta as calorias. O regime frugal é o melhor, isto é, comer pouco mas coisa que de facto alimente o organismo.
Para crianças, logo acabado o período da amamentação, recomenda-se o regime frugívoro, que é o puramente humano. O próprio animal, que é a “degenerescência do Homem no final da 3.ª Raça-Mãe, o SÍMIO”, só se alimenta de frutas. O mesmo não pode mais fazer a criança que já passou dos 7 anos alimentando-se de carne, a menos que o faça vagarosamente, passando de um regime para outro paulatinamente. Um linfático, este não mais pode alimentar-se pelo regime vegetariano, quanto mais o frugívoro! O sanguíneo pode fazê-lo imediatamente, pois só terá a lucrar com isso, principalmente se for um hipertenso.
Quando o fleuma muda de condição normal, converte-se nas impurezas que se evacuam pelo sistema (feridas, etc.). Quando se altera a condição normal, converte-se em várias fontes de doenças. Todos os actos e funções são devidos a Vayu, que foi chamado à vida das criaturas. Através do mesmo, todas as enfermidades têm sua origem e as criaturas se destroem ou aniquilam.
A digestão produz-se pelo calor da bílis; quando esta se excita, produz toda classe de desordem.
Um organismo fraco ou anemiado começa desde logo a dar indícios pela frialdade dos pés e das mãos (as extremidades do corpo). O corpo é como uma caldeira. Sem calor não funciona. No entanto, pés quentes… cabeça fria… Daí a exigência: DORMIR COM A CABEÇA PARA O NORTE, que é a região fria ou polar. E os pés (já se vê) para o Sul, como região quente (embora fria por ser polar). O primeiro alimenta o segundo. Vayu corre no corpo para que este se mantenha vivo ou aquecido. É comum dizer-se: o Fogo está VIVO; brasas vivas ou acesas, etc.
Vemos, portanto, que dos três a causa primária é o humor chamado VAYU. Como tornar à normalidade o estado anormal desses três humores? Administrando alimentos e medicamentos de condições opostas à causa que produziu tais anormalidades, ou antes, anomalias! VAYU, que pode ser seco, frio, ligeiro, subtil, instável, claro e azedo, se normaliza por meio de coisas que possuam qualidades contrárias. A BÍLIS, que pode ser quente, fria, fina, ácida, líquida e AMARGA, normaliza-se por meio de coisas contrárias. Peso, frieza, ligeireza, aquosidade, estabilidade, debilidade e doçura, qualidades de FLEUMA, normalizam-se com substâncias contrárias. O doce, o acre e o salgado reprimem a VAYU. O adstringente, o doce e o amargo, à FLEUMA. Sendo as enfermidades geradas por esses três elementos, individualmente ou em combinação, prescrevem-se medicinas e dietas apropriadas para criar atributos contrários à anormalidade gerada.
Existe outro processo de cura. Cada enfermidade possui o seu DEVATA próprio… ou inteligência. Daí o que se tem como charlatanismo: rezar a erisipela, por exemplo; do mesmo modo, o cobreiro e assim por diante. Não é propriamente o valor da prece, mas o magnetismo do operador e a fé ou confiança do paciente (sugestão, diriam outros).
No Tibete e na Mongólia, tal tratamento é feito por meio de mantrans ou dharanis apropriados a cada moléstia, senão, de vibrações desarmónicas com tais devatas; por isso mesmo, obrigando-os a deixar o lugar e, muitas vezes, a irem morrer aos poucos por falta de “vitalidade”, tal como acontece nos sertões brasileiros, com a “reza das bicheiras do gado”, etc.
Segundo o Hinduísmo, não há vida sem forma, nem forma sem vida; não há espírito sem matéria, nem matéria sem espírito. Cada humor, portanto, tem o seu próprio devata, e para curá-lo, ou melhor, os seus desarranjos, basta que se cure por sistemas terapêuticos fundados sobre actos relativos às deidades e à razão. Esta era a Medicina do Grande PARACELSO!
Quando o elemento OJAS (FORÇA) atenua, o paciente apresenta febres inexplicáveis, debilidade, tendência a pensamentos de ansiedade e desânimo. Sente grande secura, e a languidez que experimenta é tal que o menor exercício lhe causa fadiga.
Reside no coração certa quantidade de sangue puro, ligeiramente amarelado. Tal sangue no corpo se chama OJAS. A sua atenuação ou perda pode chegar a produzir a morte.
O que se chama OJAS aparece a princípio nos corpos das crianças, dotado de cor de manteiga clarificada. O seu gosto é parecido ao mel. O seu cheiro ao de arroz fermentado. Assim como o mel é feito pelas abelhas, extraindo-o das diversas espécies de flores e frutos, assim o OJAS dos homens é reunido por VAYU, BÍLIS e FLEUMA dos vários elementos referidos.
Com o coração se relacionam dez grandes CONDUTOS, que produzem poderosos resultados. MAHAT e ARTHA dizem ser sinónimos de coração para o SÁBIO. O corpo, com os seus seis membros, a inteligência, sentidos, cinco objectos dos sentidos, a alma com os seus atributos, a mente e os pensamentos, tudo se acha estabelecido no coração. Sendo o coração o escrínio desses objectos aí existentes, logo é ele considerado pelas pessoas que especulam a respeito do sentido das coisas, como o ápice do organismo humano.
O coração é a sede do OJAS mais perfeito, como é a sede do Supremo Brahma. Por tais razões, o coração é chamado de MAHAT e ARTHA. Sendo o coração a raiz dos dez grandes condutos ou canais, estes são considerados como as DEZ GRANDES RAIZES. Elas tomam o OJAS e fazem-no correr por todo o corpo. Todas as pessoas vivificadas por OJAS são activas. Sem ele a vida se extingue.
Pelo que se vê, OJAS é um fluído tal como o sangue. A questão está em discernir se se trata de um fluído físico ou etérico. Eu me inclino pelo último – abusando do termo e da forma dual das coisas – como o espírito do sangue. Se se tratasse de sangue físico, haveria algo de semelhante na moderna fisiologia… e tal não acontece. Ele acha-se localizado no coração e é quem alimenta e destrói a vida: alimenta com a presença e destrói com a ausência. As lesões cardíacas de natureza simples produzem perda de consciência, e as graves a morte. OJAS joga um papel importante na constituição humana. Se uma pessoa quer preservá-lo, PRECISA LIBERTAR-SE DOS TORMENTOS MENTAIS que retêm OJAS no coração. Daí a necessidade de que todo o homem seja calmo!
Tal OJAS, que é a fonte de tudo quanto é facultado ao coração por VAYU, BÍLIS e FLEUMA através do sangue, passa do coração a todos os outros lugares pelos condutos (nadhis) de que o corpo se compõe, em todas as direcções e desempenhando diversos papéis. Tais condutos ou nadhis, são os que conduzem os ingredientes do corpo de um lado para outro durante o processo do seu desenvolvimento ou transformação.
A mente, os sentidos etc., localizam-se no coração. Como vem a ser tal coisa? Para compreendê-lo, temos que nos aprofundar na constituição do Homem. Sabemos que este possui três Corpos: grosseiro ou Físico, subtil ou Psíquico e causal ou Espiritual. Isto é, CAUSADO ou tecido pelo ESPÍRITO UNIVERSAL, o que implica em ser tal CORPO uma sombra espiritual da verdadeira LUZ ESPIRITUAL, uma Partícula (ou Mónada) do GRANDE TODO!
E é por isso que nos dois primeiros Corpos se acham os sentidos, e estes quando continuam sempre da mesma natureza o terceiro Corpo não se manifesta, isto é, o Homem não se apercebe dele, necessitando de várias encarnações até descobri-lo. É o facto do equilíbrio das TRÊS GUNAS: SATWA, RAJAS e TAMAS.
Como essas três qualidades de matéria estejam ligadas entre si, assim o estão os três Corpos no Homem! Pô-los em equilíbrio… é formar o Homem Perfeito. É por isso que o Corpo CAUSAL tem esse nome, por ser “a Causa dos outros Corpos… e em si mesmo… o reflexo da “CAUSA DAS CAUSAS”. É necessário que na “Causa se encontre o Efeito”, embora em forma latente.
As obras esotéricas assinalam o CORPO CAUSAL NA FORMA DE OVO ÁURICO. Nos livros hindus, diz-se que é ele um corpo de inconsciência que funciona no alto transe. O que até certo ponto é lógico, porque ele só pode ter consciência ligado aos dois outros que lhe ficam imediatamente abaixo. Isolado, impossível possuir consciência.
Nos Upanishads, encontramos o Corpo Causal localizado no coração com diferentes pórticos, que é o próprio Homem quem lh’os dá… e onde se acham colocados os elementos restantes dos corpos menos elevados…
Por conseguinte, no centro do coração é onde se concentram todas as energias do alto transe. É nele onde residem os “Oito Poderes do Yogui”, e quando o homem tem que despertar tal estado o OJAS do coração é obrigado a correr pelos diferentes condutos, para dar forças ao corpo subtil e depois ao físico. Facto esse ligado ao dos CHAKRAS, que recebem de cada Plano e até de cada corpo a vitalidade necessária, o que implica que a matéria mais subtil é quem vasa, ou antes, anima a matéria imediatamente menos subtil.
Tudo isso confirma esta nossa revelação dos ADORMECIDOS, principalmente quando se diz: “E quando o homem tem que despertar de tal estado o OJAS do coração é forçado a correr pelos diferentes condutos”. Tal estado de transe, ou o que adormece o homem, deixando-lhe apenas a vida no “coração”… assemelha-se com o que se passa do seio da Terra… onde é possível dormir-se o “SONO DAS SETE ETERNIDADES”. Porém, com muito mais propriedade, onde a morte é apenas aparente: igual à da construção cósmica, que desperta nos grandes movimentos sísmicos… porquanto dizer-se Ônfalo ou Umbigo da Terra também poderia ser o seu CORAÇÃO, pois é onde pulsa o de todo o Universo… o do “transe de Brahma” no seu 8.º Dia de Criação, afora o ÚLTIMO (o 9.º) que é o da Ressurreição. Os faquires indianos enterram-se em estado cataléptico, porém, não o fazem fora da terra. O mistério está no próprio calor do “Coração do Mundo”.
Contam-se vários casos dos que habitam nas entranhas da Terra, sob uma pressão calorífica impossível de ser suportada por outros seres. No Tibete o facto é mais do que clássico. No Norte brasileiro, há uma tribo misteriosa de índios que entram e saem de verdadeiras “crateras vulcânicas”…