quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Velhas amizades (Annie Besant)


Outro fato de grande importância é o de que somos levados pelo karma a entrar em contato com pessoas que conhecemos no passado. Com algumas delas temos dívidas, enquanto outras estão endividadas conosco. Homem algum faz sozinho a sua longa peregrinação, e os egos aos quais ele está ligado por muitos laços de um passado comum vêm de toda parte do mundo para junto dele, no presente. 
Conhecemos alguém, no passado, que passou adiante de nós em sua evolução; por acaso nós lhe prestamos algum serviço, formando-se com isso um laço kármico. No presente, esse laço nos leva para a órbita da sua atividade, e recebemos, de fora de nós, um novo impulso de força, um poder que não é nosso, impelindo-nos a ouvir e a obedecer. 
Vimos muitos desses benéficos laços kármicos dentro da Sociedade Teosófica. 
Há muito, muito tempo, Aquele que agora é conhecido como o Mestre K. H. caiu prisioneiro numa batalha contra o exército egípcio e foi generosamente favorecido e abrigado por um egípcio de alta categoria. Milhares de anos depois, a nascente Sociedade Teosófica precisou de auxílio, e o Mestre, voltando os olhos para a Índia, à procura de alguém que o ajudasse nesse grande trabalho, vê seu velho amigo do Egito e de outras vidas, agora o Sr. A. P. Sinnett, editando o principal jornal anglo-indiano, The Pionner. Como de costume, o Sr. Sinnett vai a Simla. 
Madame Blavatsky também vai para lá, a fim de que se forme o laço. O Sr. Sinnett é levado para a influência imediata do Mestre, recebe suas instruções e torna-se o autor de O Mundo Oculto e do Budismo Esotérico, levando a milhares de pessoas a mensagem da Teosofia. Ganhamos esses direitos pelo auxílio que prestamos no passado, o direito de ajudar em níveis mais elevados e com alcance mais amplo, ao mesmo tempo que também somos auxiliados pelo estreitamento dos antigos laços de amizade conquistados no serviço, e regiamente recompensados pelo dom inestimável do conhecimento, obtido por um e semeado, amplamente, para muitos. 

O karma da Índia (Annie Besant)


Há muito tempo, o East and West, jornal do Sr. Malabari, publicava um artigo que dizia que o karma da Índia seria o de ser conquistada – obviamente uma verdade, caso contrário essa conquista não teria acontecido – e que ela deveria, portanto, aceitar seu destino de servir e não modificar as condições existentes – o que é, obviamente, um erro. 
O conhecedor de karma teria dito: Os hindus não foram os donos originais deste país. Eles vieram da Ásia Central, conquistando a terra, subjugando os povos que ali viviam e reduzindo-os à servidão. Durante milhares de anos, conquistaram e governaram, e geraram o karma nacional. Pisotearam as tribos conquistadas, fizeram-nas suas escravas, oprimiram-nas, aproveitaram-se delas. O mau karma assim produzido trouxe para eles, por sua vez, muitos invasores: gregos, mongóis, portugueses, holandeses, franceses, ingleses. Ainda assim, a lição do karma não chegou a ser aprendida, embora os milhões de intocáveis sejam uma prova viva das perversidades que sofreram. Agora, os hindus pedem para fazer parte do governo de seu próprio país, e estão sendo prejudicados por esse mau karma nacional. Que tratem de pedir enquanto podem o aumento de liberdade para si mesmos, que tratem de resgatar o que foi feito a esses intocáveis, dando-lhes liberdade social e elevando-os na escala social. A Índia deve redimir-se do mal que fez e limpar suas mãos da opressão que antes exerceu. Assim, modificará seu karma nacional e construirá o alicerce da liberdade. O sentimento público pode ser mo dificado, e toda pessoa que falar com amabilidade e bondade com um subalterno estará ajudando nesse sentido. Entrementes, todos os que foram levados para essa nação pelo seu karma individual devem reconhecer os fatos como são, mas trabalhar pela modificação dos que são indesejáveis. O karma nacional pode ser modificado, assim como o karma individual, porém, do mesmo modo como as causas não tiveram continuação, o mesmo deve acontecer com os efeitos, e as novas causas adotadas apenas podem modificar lentamente os resultados que vêm se ampliando desde o passado. 

Calamidades nacionais (Annie Besant)


O karma que produz catástrofes sísmicas e outras calamidades nacionais carrega, em sua varredura, grande número de pessoas, cujo karma contém morte súbita, doenças ou prolongado sofrimento físico. É interessante e instrutivo observar a forma pela qual as pessoas que não têm essas dívidas são tiradas para fora da cena de uma grande catástrofe, enquanto outras se apressam para se envolver nela. Quando um terremoto mata certo número de pessoas, sempre haverá as que “escaparam milagrosamente” – umas chamadas por um telegrama, outras por negócios urgentes, etc. – e também milagrosamente há o afluxo de pessoas que chegam a esse lugar a tempo de serem mortas. Se tal chamado fosse impossível para os que devem se salvar, então um outro arranjo, por exemplo, uma viga que evitasse o desabamento de grandes pedras, os protegeria da morte. 
Quando está para acontecer uma catástrofe, as pessoas que têm o karma individual apropriado reúnem-se nesse lugar, como na enchente de Johnstown, na Pensilvânia, no grande terremoto e incêndio de São Francisco. Num terremoto no norte da Índia, há muitos anos, houve vítimas que se tinham apressado, afobadamente – para serem mortas. Outras deixaram o lugar na noite anterior – para serem salvas. A catástrofe local é usada para acabar karmas particulares. Ou um carro que está levando uma pessoa para a estação é detido por um bloco da rua, e a pessoa perde o trem. Ela se zanga, mas o trem sofre um desastre e ela está salva. 
Isso não quer dizer que o bloqueio estava ali para fazê-lo parar, mas que foi utilizado para esse fim. Em Messina, os que não tinham de morrer foram resgatados dias depois do terremoto, e em mais de um caso foi possível fazer chegar comida a eles, para mantê-los vivos, comida essa trazida por um agente astral. Em naufrágios, a segurança ou a morte dependem do karma de cada um. Algumas vezes, um ego tem um débito de morte súbita a pagar, mas isso não estava incluído na dívida que precisaria resgatar durante a encarnação presente, e sua presença em algum acidente provocado pelo karma coletivo oferece a oportunidade de resgatar sua dívida “antes do tempo”. O ego prefere agarrar a oportunidade e livrar-se do karma, e seu corpo é abatido com os dos demais. 

O que vem do passado (Annie Besant)



Outro ponto de grande importância a recordar é que o karma do passado tem características muito mescladas. Não nos cabe enfrentar apenas uma única corrente, a totalidade do passado, mas um curso d’água feito de correntes que se dirigem para vários pontos, algumas opondo-se a nós, outras nos ajudando; a verdadeira força que temos de enfrentar, o resultado que ficar quando todas essas forças de oposição tiverem se neutralizado mutuamente, pode ser a que não está, de modo algum, longe da nossa possibilidade de dominar presentemente. Diante de um caso de mau karma do passado, temos de nos aferrar a ele, esforçando-nos por dominá-lo, lembrando-nos de que ele encarna uma parte apenas do nosso passado, e que outras partes desse passado estão conosco, fortalecendo nos e revigorando-nos para a batalha. O esforço presente, levado a cabo com o acréscimo dessas forças do passado, pode ser, e com frequência é, o bastante para dominar as situações que nos são adversas. 
Ou – tornamos a dizer – uma oportunidade se apresenta e hesitamos em aproveitá-la, temendo que nossos recursos sejam inadequados para atender às responsabilidades que ela traz. Ela, porém, não estaria ali a não ser que o nosso karma a tivesse trazido até nós como fruto de um desejo do passado. Tratemos de captar essa oportunidade, de forma corajosa e tenaz, e veremos que esse simples esforço desperta forças latentes que dormitavam em nós e que desconhecíamos. 
Elas estavam à espera de estímulo exterior para despertar e se tornarem ativas. 
Assim, muitos dos nossos poderes, criados pelo esforço do passado, estão a dois passos da expressão e só precisam da oportunidade para florescer em ação. 
Devemos visar sempre algo mais do que aquilo que pensamos que estamos em condições de fazer – não uma coisa totalmente fora de nossa capacidade atual, mas aquilo que parece apenas estar fora do nosso alcance. Enquanto nos esforçamos para alcançar esse objetivo, todas as forças kármicas adquiridas no passado vêm em nosso auxílio para nos fortalecer. O fato de que quase podemos realizar algo significa que trabalhamos com esse algo no passado, e o vigor acumulado por esse esforço está conosco. O fato de podermos fazer um pouco significa o poder de fazer mais e, mesmo que fracassemos, o poder demonstrado no máximo passa para o reservatório das nossas forças. O fracasso de hoje representa a vitória de amanhã. 
Quando as circunstâncias são adversas, ocorre o mesmo: pode ser que tenhamos chegado ao ponto em que um esforço a mais represente sucesso. É por isso que Bhishma aconselha o esforço em qualquer situação e diz esta frase encorajadora: “O esforço é maior do que o destino.” O resultado de muitos esforços passados tomou corpo no nosso karma, e se lhe acrescentarmos o esforço atual, ele pode adequar nossas forças para que alcancemos nossa meta. 
Há casos em que a força do karma do passado é tão grande que esforço algum no presente pode ser suficiente para vencê-la. Ainda assim, esse esforço tem de ser feito, pois são poucos os que sabem quando um desses casos acontece com eles e, em última análise, o esforço feito diminui a força kármica para o futuro. Às vezes, um químico trabalha durante anos para descobrir uma força, ou uma combinação de matéria que lhe dê possibilidade de alcançar o resultado desejado, e com frequência vê-se frustrado, mas não se dá por vencido. Ele não pode modificar os elementos químicos, não pode modificar as leis das combinações químicas, mas aceita o fato resmungando, e nisso consiste “a sublime paciência do pesquisador”. Contudo, o conhecimento do pesquisador, sempre maior em vir- tude de seus pacientes experimentos, chega, por fim, ao ponto que o leva a encontrar o resultado que deseja. Esse é o espírito que o estudante do karma precisa adquirir; ele deve aceitar o inevitável sem queixas, mas, sem descanso, procurar os métodos através dos quais lhe seja garantida a obtenção da sua meta, seguro de que sua única limitação é a sua ignorância e de que o conhecimento perfeito deve significar o perfeito poder. 

Autoexame (Annie Besant)


O primeiro passo a examinar, refletidamente, é o que se refere ao que podemos chamar de nosso “estoque de mercadorias”, e são nossas faculdades e qualidades inatas, boas e más, são os nossos poderes e as nossas fraquezas, as nossas oportunidades presentes e o nosso ambiente atual. Nosso caráter é o que pode ser modificado mais rapidamente, e nele temos de começar a trabalhar, selecionando as qualidades que convém fortalecer e as fraquezas que constituem nosso perigo mais premente. Vamos tomá-las, uma a uma, e usar a força do pensamento da forma antes descrita, lembrando sempre que jamais devemos pensar em fraqueza e, sim, na força de que o pensamento é dotado. Pensamos naquilo que desejamos ser e, aos poucos, de uma forma inevitável, nos tornamos aquilo em que pensamos. Essa lei não pode falhar. A nós cabe, apenas, trabalhar para que ela obtenha êxito. 
A natureza do desejo também é modificada pelo pensamento, e criamos as formas-pensa-mento de que necessitamos. Alerta para ver e captar uma oportunidade conveniente, nossa vontade se fixa nas formas que o nosso pensamento cria, e assim coloca-as ao nosso alcance, produzindo-as, literalmente, e aproveitando as oportunidades em que o karma do passado não nos apresenta. 
O mais difícil de se modificar é o nosso ambiente, porque nesse caso estamos tratando com a forma mais densa de matéria, aquela sobre a qual a força do nosso pensamento tem menos força. Nesse caso, nossa liberdade fica muito limitada, porque estamos no ponto mais fraco, e o passado está em seu ponto mais forte. 
Ainda assim, não estamos de todo desamparados, porque, nesse ponto, seja pelo combate, seja pela aceitação, poderemos, finalmente, obter êxito. A parte indesejável do nosso ambiente que podemos modificar com vigoroso esforço é a que temos de modificar de imediato. O que não conseguirmos modificar, aceitamos e ficamos observando o que isso tem a nos ensinar. Quando tivermos aprendido essa lição, essa parte indesejada irá desprender-se de nós como uma roupa usada. 
Temos uma família indesejável: bem, ela é formada pelos egos que chamamos para junto de nós no passado; realizamos todas as obrigações com ânimo e paciência, pagando com honradez nossas dívidas; adquirimos paciência através dos transtornos que ela nos causa, vigor através das irritações diárias e perdão através de seus erros. Nós a usamos como o escultor usa seus instrumentos de trabalho: para aplainar nossas excrescências e alisar e polir nossas arestas. Quando a utilidade desses egos terminar para nós, eles serão levados embora pelas circunstâncias ou afastados para outro lugar qualquer. O mesmo acontecerá com os outros aspectos do nosso ambiente, que, aparentemente, são aflitivos. Como o marinheiro experiente que move suas velas conforme o vento que ele não pode modificar e então força-as a colocá-lo na rota, usamos as circunstâncias que não podemos alterar adaptando-nos a elas, de forma que se vejam compelidas a nos ajudar. 
Assim, em parte somos compelidos, em parte somos livres. Temos de trabalhar entre e com as condições que criamos; mas somos livres, dentro delas, para trabalhar sobre elas. Nós próprios, Espíritos eternos, somos inerentemente livres, mas só podemos trabalhar dentro e através da natureza do pensamento e do desejo que criamos. Esses são os nossos materiais e as nossas ferramentas; não poderemos ter outros enquanto nós mesmos não os produzirmos. 

As escolas discordantes (Annie Besant)


Segundo o pensamento do mundo exterior, bem longe das ideias de reencarnação e karma, são muitas e opostas as opiniões. Robert Owen e sua escola veem o homem como criação das circunstâncias, não considerando a hereditariedade um reflexo superficial científico do karma; eles consideram que a mudança de ambiente pode mudar o homem, e isso com maior eficácia se a criança for retirada desse ambiente antes de formar maus hábitos. A criança tirada de um mau ambiente e colocada em ambientes bons cresceria para ser um bom homem. O fracasso da grande experiência social de Robert Owen mostrou que sua teoria não continha toda a verdade. Outros, compreendendo a força da hereditariedade, quase deixaram de considerar o ambiente. “A Natureza” – disse Ludwig Buchner – “é mais forte do que a alimentação.” Em ambos esses pontos de vista, tão extremos, há verdade. De vez que a criança traz com ela a natureza construída no seu passado, mas reveste-se de uma nova natureza emocional e de uma nova mentalidade, nas quais suas faculdades e qualidades autocriadas já existem como germes, e não como forças inteiramente desenvolvidas, esses germes podem ser alimentados para ter um crescimento rápido, ou podem se atrofiar pela falta de alimento, e isso é forjado pela influência do ambiente bom ou mau. Além do mais, a criança apresenta o revestimento de um novo corpo físico, com sua própria hereditariedade física, projetado para a expressão de alguns dos poderes que traz consigo, e isso pode ser amplamente afetado pelo seu ambiente e desenvolvido de uma forma saudável ou doentia. Esses fatos ficam à margem da teoria de Robert Owen e explicam o sucesso obtido por instituições filantrópicas como os Dr. Barnardo’s Homes nos quais os germes do bem são cultivados e os germes do mal deixados à míngua. O criminoso congênito, entretanto, e demais seres dessa espécie, não se podem redimir numa só vida, e esses representam, em vários graus, os insucessos do benevolente salvador. 
Igualmente é uma verdade, segundo afirma a escola oposta, que o caráter inato é uma força com a qual todo educador tem de contar. Ele não pode criar faculdades que não existem; não poderá erradicar inteiramente tendências que, abaixo da superfície, lançam raízes em busca de alimento apropriado. Algum alimento, vindo da atmosfera do pensamento em derredor, alcança essas raízes, bem como as alcançam as más formas de desejos que surgem do mal nos outros, e tais coisas não podem ser inteiramente lançadas fora, a não ser por meios ocultos, desconhecidos pelo educador comum. 



O ambiente familiar (Annie Besant)


O mesmo acontece com o ego que se vê embaraçado com responsabilidades e deveres de família, quando saltaria para a frente, de boa vontade, para atender ao chamado que pede auxiliares para um trabalho maior. Se for um ignorante do karma, ficará irritado contra os laços que o prendem, ou talvez chegue a rompê- los, assegurando, assim, sua volta no futuro. O conhecedor do karma verá nesses deveres as reações às próprias atividades passadas, e as aceitará pacientemente e se desincumbirá bem delas. Ele sabe que quando essas atividades estiverem inteiramente redimidas, irão deixá-lo livre, e que, durante esse tempo, receberá algumas lições que lhe ensinarão o que, para ele, é obrigatório que aprenda. Procurará ver quais são essas lições e irá estudá-las, seguro de que as capacidades que elas proporcionam farão dele um auxiliar mais eficiente quando for livre para responder ao chamado para o qual toda a sua natureza está vibrando. 
O conhecedor do karma procurará estabelecer na sua nação e na sua família condições que atrairão para elas egos do tipo nobre e adiantado. Para isso, ele cuidará para que os arranjos da sua casa estejam dentro de escrupulosa limpeza, suas condições de higiene, sua harmonia, seu bom sentimento e amorosa bondade, a pureza de sua atmosfera mental e moral, criem um ímã de atração, trazen-do para a sua casa e para o seu relacionamento egos de alto nível, estejam eles à procura de nova encarnação – se pais jovens fizerem parte da família – ou estejam já de posse de um corpo, vindo para a família como futuros maridos e esposas, amigos ou dependentes. Na proporção em que seu poder se estende, ele ajudará a formar condições semelhantes na sua cidade, na sua província, no seu país. Ele sabe que os egos têm de nascer em ambientes apropriados e que, assim, fornecendo bons ambientes, atrairá egos do tipo desejável. 

Invocações e Evocações: Vozes Entre os Véus

Desde as eras mais remotas da humanidade, o ser humano buscou estabelecer contato com o invisível. As fogueiras dos xamãs, os altares dos ma...