As runas são mais do que simples letras. Elas são símbolos arquetípicos que atravessam os véus do tempo, carregando consigo o espírito dos povos germânicos, nórdicos e anglo-saxões. A sua origem envolve mitos, rituais e mistérios, fazendo das runas uma ferramenta tanto de linguagem quanto de magia, adivinhação e espiritualidade.
✦ Origens Históricas: Um Alfabeto Sagrado
As runas surgiram por volta do século II d.C., embora muitos estudiosos acreditem que sua origem seja anterior, com possíveis influências de alfabetos itálicos antigos, como o etrusco ou o latino arcaico. O mais antigo conjunto conhecido é o Futhark Antigo, composto por 24 caracteres. O nome “Futhark” deriva das seis primeiras runas: Fehu, Uruz, Thurisaz, Ansuz, Raido e Kenaz.
Esse alfabeto era usado por diversos povos germânicos, espalhados por regiões que hoje correspondem à Escandinávia, Alemanha, Inglaterra e outras partes do norte europeu.
As runas não eram usadas apenas para escrever, mas também para inscrever nomes, fórmulas mágicas, epitáfios e bênçãos em objetos, espadas, pedras e túmulos. Elas possuíam uma função ritualística e sagrada, sendo vistas como portadoras de poder espiritual.
✦ Runas e Mitologia Nórdica: O Dom de Odin
Segundo a mitologia nórdica, as runas foram descobertas por Odin, o deus da sabedoria e da magia, que se sacrificou pendurando-se na Árvore do Mundo, Yggdrasill, por nove dias e nove noites, ferido por sua própria lança e privado de alimento e bebida. Ao final do rito, as runas lhe foram reveladas como um dom dos mundos ocultos.
Esse mito indica que as runas não são invenções humanas, mas forças primordiais do cosmos, acessadas por meio da iniciação e do sacrifício. Elas representam princípios arquetípicos que regem o universo, e quem domina as runas possui poder sobre os mistérios do destino.
✦ Evolução e Variações do Futhark
Ao longo do tempo, o alfabeto rúnico evoluiu:
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Futhark Antigo (24 runas): usado entre os séculos II e VIII.
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Futhark Jovem (16 runas): usado na Era Viking, a partir do século IX, especialmente na Escandinávia.
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Futhorc Anglo-Saxão (até 33 runas): uma ramificação que se desenvolveu nas Ilhas Britânicas, incorporando sons da língua inglesa antiga.
Essas variações mostram a adaptação das runas aos contextos linguísticos e culturais, mas todas mantêm seu núcleo simbólico e esotérico.
✦ As Runas como Oráculo e Ferramenta Esotérica
Além de seu uso linguístico e mágico, as runas sempre tiveram um papel divinatório. Em tempos antigos, sacerdotes e videntes lançavam pedaços de madeira ou pedras com runas inscritas, interpretando os símbolos como mensagens dos deuses ou do destino.
No esoterismo contemporâneo, as runas são usadas como um oráculo simbólico, semelhante ao tarot ou ao I Ching. Cada runa contém um conceito, uma energia, um princípio — como Fehu (prosperidade), Hagalaz (crise e transformação), ou Eihwaz (proteção espiritual).
Elas são também utilizadas em meditação, magia simbólica, talismãs e práticas xamânicas nórdicas, como instrumentos de alinhamento com as forças do cosmos.
✦ O Renascimento das Runas
Durante o século XX, houve um renascimento do interesse pelas runas, tanto por estudiosos quanto por ocultistas. Autores como Guido von List, Ralph Blum, Stephen Flowers (Edred Thorsson) e Freya Aswynn ajudaram a reviver seu uso mágico e esotérico, embora com diferentes níveis de rigor histórico.
Atualmente, as runas são estudadas e praticadas por neopagãos, wiccanos, reconstrucionistas nórdicos e esoteristas que buscam reconectar-se com as tradições espirituais do norte europeu.
✦ Conclusão: As Runas Como Espelhos do Invisível
As runas são mais do que um alfabeto ancestral: são portais simbólicos, chaves de sabedoria espiritual, mapas da alma e do cosmos. Elas falam a uma linguagem anterior às palavras — uma linguagem do ser, da natureza e dos arquétipos eternos.
Quem as estuda e honra não apenas aprende símbolos antigos, mas desperta uma memória profunda e ancestral, ecoando o chamado dos deuses antigos e da sabedoria esquecida.
✧ “As runas não foram criadas. Foram encontradas.” — Tradição Odínica