Nos temos escutado as mentiras da serpente, temos feito delas o nosso evangelho.
Temos semeado na carne do mundo e temos colhido os frutos da morte.
Um corvo me disse, palavras inefáveis, palavras de engano.
O evangelho que desperta e aviva a essência amorfa, nos kelins de barro, essas são as palavras da serpente.
Satanizam!
Palavras silenciosas cujo meus tímpanos não poderão ouvir.
Mais o meu espírito pode ver, através do olho do dragão que perscruta além da ilusão.
Temos apreciado os espinhos da roseira, que faz sangrar.
Este sangue mágico que faz crescer os cravos sobre a terra estéril.
Temos tomado para nos a coroa do espinheiro negro e nos banhado com as cinzas dos ídolos queimados, pois somos a transgressão.
Bem acima do bem e do mal nos somos, para deixar de ser.
Somos devotos da morte.
Além daquela estrada de pedras e espinhos a tua foice nos aguarda.
Temos seguido seus passos, caminhando sobre a aspereza da vida, caminhando sobre nosso sentimentos, e sobre nossas dores temos dançado.
Temos bebido do veneno da vida, e estamos nos decompondo, estamos apodrecendo, junto a esse mundo moribundo, juntos caminhamos para a morte em um processo de degradação em vida.
Desolados sabemos que ao fitar o céu não há nada lá para nos.
Acima das nuvens não há deus algum para quem possamos rogar.
Não existe para nos Deus algum além da Dor.
Dor!
Foi este o Deus que nos trouxe a esta encruzilhada.
O Santo caminho pavimentado de espinhos.
O santo caminho da Dor e da devoção.
Foi a Dor o nosso guia, e será a dor que nos fará transcender, pois seus açoites nos fazem continuar a caminhar.
Só existe uma porta no final dessa estrada.
A morte!
A nossa cabeça rolará nesta dança.
Os grandes e os pequenos dançarão.
Acima do solo há distinção e os títulos e posses valem algo.
Abaixo da terra todos são iguais.
Todos serão súditos dos vermes, e todos serviremos em suas mesas.
A dor rogará por nós no final deste caminho.
A dor rogará por nós quando formos entregues a morte.
E a morte rogará por nós quando formos jogados no vazio sem fim para onde também regressará.
Texto via Spinosa By Zero.
Arte via Caini cruentis By Zero