sábado, 10 de outubro de 2020

Portões da Morte



Quem poderá cruzar os portões da morte?
Quem poderá ver seu próprio funeral?
Quem poderá ver seu próprio corpo putrefato?
Quem poderá cruzar de cabeça erguida o mar da morte por onde flutuam as cabeças e os membros decepados?
A mão do esqueleto me guia pelos espinhos do caminho e me faz provar cada um deles em minha carne, castigado por açoites é o meu corpo mortal.
Quem poderá banhar-se com as cinzas dos ídolos queimados?
Quem poderá mata-los em seu coração?
Quem será digno de voar sobre as asas dos corvos da dispersão?
Quem será digno da sabedoria da morte em vida?
Ora aquele que não morreu não pode obtê-la.
O medo da morte rasga a carne do fraco, pois o ego teme a morte.
Todo medo do desconhecido é medo da morte é medo do ego.
Na coroa de flores!
Vejo o universo em sua mortalha.
A mascara da morte veste todos os mortos, e todos eles estão em baixo das asas da morte!
Quem, pois poderá ver tudo que ama morrer?
Quem poderá oferecer seu corpo e seu sangue em uma ceia para o Diabo?
Sobre minha cabeça carrego a sua marca, acima de mim arde uma chama que me lança para os portões da morte.
Lança-me para morrer, sou seduzido pela melodia da morte e sigo caminhando sobre o chão gelado.
Não posso parar ate que eu caia em seus braços, não posso parar ate que eu sinta no seu hálito o aroma de todos os sepulcros.
Guiado pelas mãos do esqueleto caminho entre a carniça, sobre os vermes famintos, sobre a cruz negra me deito.
Gritam os corvos famintos:
Crucifica-o!
Crucifica-o!
Crucifica-o!
Que seu sangue possa banhar a nós e a nossa descendência!
Quem, pois pode dançar com a morte, sem levar isso ate as ultimas consequências?
Existe meia morte?
Velas negras!
Rosas vermelhas!
Pilhas de crânios!
Eles já foram homens como eu, eles já tiveram os seus amores, seus vícios lutaram e morreram, pois o destino dos homens é a morte com dignidade ou não!
Eu quero ser digno da morte, que meu crânio possa decorar o seu trono!
Ofereço-me a morte, em um banquete para os vermes e para as aves saprófagas.
Despedaçada a alma é repartida para o diabo e suas falanges, eu habitarei em seu reino não regressarei ao mundo dos vivos como um deles, habitarei o reino dos mortos e vestirei também a mascara e o manto negro da morte.
Então serei a mão do esqueleto guiando outro através dos portões da morte.

Texto Frater “Zero” Rivair Oliveira.