quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Iconográfico do Pantocrátor


O tipo iconográfico de Cristo Pantocrator é um dos mais significativos da iconografia oriental, e também o mais difundido, a ponto de se tornar quase o único tipo de Cristo que se encontra não só nas cúpulas e nas absides das igrejas, mas também sobre selos, moedas, marfins, evangeliários e outros objetos litúrgicos; é encontrado nas cenas históricas que representam Cristo nos diversos momentos da sua vida de adulto, nos diversos milagres que constelam a sua missão na Palestina da época; é encontrado sobretudo em inúmeros ícones oferecidos à veneração dos fiéis nas iconostases das igrejas e nas casas particulares. Quer esteja presente em mosaico, em afresco ou em ícones grandes ou pequenos, o tipo transmite, ao menos do século VI em diante, a mesma e idêntica figura de Cristo, reconhecível mesmo quando faltam as inscrições que normalmente devem acompanhá-la; e isso até os nossos dias.
O Cristo representado em todos os ícones é o Cristo adulto, com trinta anos de idade mais ou menos. Distingue-se pela mesma estatura do corpo, os mesmos traços somáticos - em especial os do rosto -, as mesmas roupas: todos esses traços que convergem num retrato ressaltam a sua figura histórica real; outros traços, como os símbolos e as inscrições, têm valor de retrato espiritual que põem em destaque a sua realidade de pessoa atualmente viva, transfigurada, divina e salvífica.
O ícone transmite, assim, o dogma cristológico das duas naturezas humana e divina - unidas na única Pessoa do Verbo: Filho de Deus e Deus ele próprio, consubstancial ao Pai.

Significado do nome
A esse tipo de imagem de Cristo é dado o nome genérico de «Pantocrator» tão rico de significados. O termo grego, traduzido geralmente por «Onipotente», mas que é melhor traduzir pela expressão «Oniregente», ou «Aquele que tudo rege», é um termo que se encontra já na literatura pagã. É encontrado na versão grega dos Setenta que o retoma para traduzir a expressão «Sabaoth», conferindo-lhe o significado de Deus «Dominador de todas as potências terrestres e celestes».
No Novo Testamento, o termo se encontra referido preponderantemente ao Pai, mas já no Apocalipse refere-se indiretamente também ao Verbo encarnado, Redentor e Juiz universal (cf. Ap 11, 17; 21, 22). Nas suas Cartas, os apóstolos Pedro e Paulo propõem o tema do domínio absoluto de Cristo sobre toda a criação. «Jesus Cristo» - escreve Pedro -, «tendo subido ao céu, está à direita de Deus, estando-lhe sujeitos os anjos, as Dominações e as Potestades» 1Pd 3, 22). São Paulo, por sua vez, fala da «submissão de todas as coisas» (1Cor 15, 28) ao Cristo ressuscitado, afirmando que «para isto Cristo morreu e reviveu: para ser o Senhor dos mortos e dos vivos» (Rm 14, 9).
Os Padres da Igreja, que retomam o termo no início do símbolo niceno-constantinopolitano, aprofundam seu significado e ao mesmo tempo justificam a sua atribuição ao Filho. Gregório de Nissa, por exemplo, assim explica a riqueza de conteúdos do termo:
«Quando ouvimos o termo 'Pantocrator', 'Aquele que tudo rege', compreendemos com a mente que Deus mantém no ser todas as coisas: tanto as de natureza inteligível como as de natureza material. Por isso ele contém o universo; por isso tem nas mãos os confins da terra; pelo mesmo motivo ele avalia os céus com o palmo (d, 1s 40,12); por isso ele mede o mar com a mão; e também por isso abrange em si toda criatura inteligível, a fim de que todas as coisas permaneçam no ser, contidas por meio do poder que tudo abraça...»

E acrescenta:

«Quem é aquele no qual todas as coisas foram criadas e no qual tudo permanece, em quem vivemos, nos movemos e somos? Quem possui em si mesmo tudo isto que é do Pai? Não sabemos ainda, por tudo que foi dito, que aquele que é Deus sobre todas as coisas, como diz são Paulo, é nosso Senhor Jesus Cristo? Ele tem nas mãos todas as coisas do Pai, como ele mesmo diz; ele abrange absolutamente tudo com o seu amplíssimo palmo; ele rege todas as coisas que abrange e ninguém as tira da mão daquele que tudo rege. Se, pois, ele possui tudo e rege o que possui, quem é ele senão o Pantocrator, aquele que tudo rege.» (1)
Padre Carmelo Capizzi, que escreveu a monografia mais completa sobre o Pantocrator, resume assim o pensamento dos Padres a respeito do termo (2):
«A Patrística, fundando-se sobre dados do Antigo e do Novo Testamento e utilizando algumas noções e expressões da filo helenística, determinou o conceito de Pantocrator, vendo nesse epíteto divino quatro elementos conceituais: a 'onidominação', a 'onicompreensão', a 'onicontinência', e a 'onipresença'. Deus, em outras palavras, é Pantocrator porque 'domina sobre toda a criação', 'conserva tudo no ser', 'abrangendo e contendo tudo em si' e, por conseguinte, 'penetrando e enchendo tudo de si', através da sua onipotência. Além disso, a Patrística tem o mérito de ter ampliado o sujeito de atribuição de Pantocrator, passando de Deus indistintamente e Deus Pai a uma atribuição consciente e justificada ao Filho como Logos somente, ao Filho como Logos encarnado e ao Espírito Santo. Essa extensão foi fundada na identidade de natureza das três Pessoas divinas, da qual se originava uma verdade que foi formulada incisivamente por Santo Atanásio: "O mesmo Pai pelo Verbo no Espírito tudo opera e concede» (3).

Tipologia geral do Pantocrator
Segundo os cânones pictóricos, o Pantocrator é representado quase sempre em busto, mas pode ser também em meio busto ou de corpo inteiro; neste último caso ele está, as mais das vezes, sentado no trono e rodeado, às vezes, pelas hierarquias celestes, que sublinham sua majestade divina. Caracteriza-se pela auréola crucífera; pela mão direita que abençoa «à maneira grega»; e pela esquerda que segura um livro aberto ou fechado, ou mesmo um rolo. Quando o livro está aberto, o versículo evangélico que nele aparece é, as mais das vezes: «Eu sou a luz do mundo». Mas podem também aparecer outros versículos previstos nos manuais de pintura e deixados à escolha do hagiógrafo ou do comitente, como vamos ver. Os traços somáticos que distinguem a imagem do Pantocrator são aqueles típicos que encontramos nas descrições literárias, embora com algumas variantes menores.
A estatura do corpo é a tradicional, já fixada no séc. VI, no tempo de Justiniano.
O rosto, para a tradição oriental, é o do Mandilion, considerado impresso pelo próprio Cristo na toalha enquanto ainda vivia. Os traços podem ser resumidos assim: rosto alongado, sobrancelhas arqueadas, olhos grandes e abertos voltados para o espectador, nariz longo e delicado, a barba bastante longa terminando em ponta arredondada, bigode caído, cabelos ondulados que formam como uma cúpula sobre o alto da cabeça e são depois recolhidos à altura das orelhas e descem sobre os ombros (essa cabeleira é chamada, segundo Capizzi, «tipo capacete») (4). No alto da fronte -larga e alta - destacam-se muitas vezes, da cabeleira, dois, três ou mais cachos, cuja presença, atestada só para a imagem de Cristo, tem sido diversamente interpretada. As roupas que cobrem o corpo de Cristo são constituídas de três peças, as mesmas usadas na Palestina no tempo de Cristo: a túnica vestida diretamente sobre o corpo, o manto, e as sandálias, presas ao tornozelo por tiras de couro.
A mão direita, que desponta sob o manto, geralmente está erguida fazendo o gesto de bênção «à maneira grega». A mão esquerda segura um rolo, mas com maior freqüência um livro: o dos Evangelhos que contêm a Palavra do Verbo. O livro pode estar fechado ou aberto. Neste último caso nele estão escritas citações escolhidas pelo iconógrafo ou pelo comitente.
O corpo de Cristo se destaca no fundo dourado, chamado na iconografia grega «céu», para indicar que a pessoa representada se encontra agora na glória do céu. A auréola, chamada «coroa» e também «glória», desenhada com traço fino sobre o mesmo fundo dourado, é sinal da santidade do personagem. Em todas as imagens de Cristo, na auréola estão desenhados três braços de uma cruz; esta, que se tornou comum no decurso do séc. VI desde o tempo de Justiniano, é uma clara alusão à dimensão salvífica da personagem representada.
Sobre o ícone estão presentes inscrições, cuja finalidade é chamar a atenção para a identidade divina e ao mesmo tempo humana da personagem representada. Algumas inscrições, obrigatórias, são constituídas dos dois digramas do nome de Cristo IC XC, para Jesus Cristo, e do sagrado trigrama do nome de Deus revelado a Moisés no Sinai: Ο ΩΝ («Eu sou o Existente», Ex 3, 14), e inserido nos três braços visíveis da cruz introduzida na auréola. Essas inscrições são sempre em grego. As outras inscrições, facultativas, são: o nome acrescentado e as frases no livro quando este está aberto.

O lugar da representação
O Pantocrator, assim descrito, encontra-se nas mais variadas representações, mas antes de tudo no lugar de culto: a igreja. É encontrado em três pontos bem distintos: em mosaico (ou afresco), no nártex à frente da igreja; na calota da cúpula central (ou no côncavo da abside, quando falta a cúpula); em ícones portáteis, em diversas partes da iconostase. Em cada uma dessas colocações, a representação toma um sentido bem determinado pela teologia, que subentende o significado do lugar do culto como nos foi transmitida pelos grandes Padres da Igreja e por autores mais recentes, codificados, depois, nos manuais de pintura.

O Pantocrator no nártex das igrejas
As primeiras imagens de Cristo acolhem o fiel já no nártex, que precede a igreja propriamente dita. Nessa parte do templo, o ícone do Cristo Pantocrator está presente em pelo menos dois modos: nas representações, chamadas dedicatórias, e sobre a Porta, chamada Porta Régia, que introduz na nave principal do templo.
O Cristo das imagens dedicatórias está presente, as mais das vezes, na «Deésis»: o Cristo ladeado pela Theotokos e por João Batista, com gestos de súplica a ele dirigidos, apresenta-se como Juiz escatológico; as três figuras, chamadas Trimorfon, são às vezes acompanhadas da figura do fundador da igreja ou então do oferente.
Por sua vez, o Cristo representado na luneta que encima a Porta Régia se apresenta como Porta que introduz na Igreja, considerada como o redil espiritual. Cristo olha para baixo, os olhos ao mesmo tempo severos e cheios de bondade, abençoando com a mão direita e segurando o livro com a mão esquerda. O manual de pintura propõe sobre o livro aberto a seguinte inscrição: «Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, será salvo» (Jo 10, 9). É por essa porta que é introduzido o neófito que se prepara para receber o batismo.

O Pantocrator na cúpula (ou no côncavo da abside)
Entrando no templo, elevando os olhos para o alto, o Pantocrator acolhe o fiel do alto da cúpula e, às vezes, quando não há cúpula, do côncavo da abside.
A cúpula, considerada pelos orientais símbolo do céu, dá à imensa figura do Pantocrator o sentido de Pai e de Filho ao mesmo tempo, expressão da doutrina da sua consubstancialidade. Esta é assim expressa por santo Atanásio:

«O Filho está no Pai, dado que todo o ser do Filho é o que é próprio da substância do Pai, como o reflexo que vem da luz e o rio da fonte. Quem, pois, vê o Filho vê o que é próprio do Pai e compreende que o próprio ser do Filho está também no Pai como Ele próprio vem do Pai. Por outro lado, o Pai também está no Filho, já que o Filho é o que vem do Pai e que lhe é próprio, como o sol está no seu reflexo, o espírito na palavra e a fonte no rio. Portanto, aquele que vê o Filho vê o que é próprio da substância do Pai e compreende que o Pai está no Filho. Com efeito, sendo a forma e a divindade do Pai o ser mesmo do Filho, segue-se que o Filho está no Pai e o Pai no Filho.» (5).
Ele é o Altíssimo no sentido literal e também simbólico da palavra. É aquele que desce do céu, do seio da Trindade, para salvar a sua criatura e, ao mesmo tempo, aquele que, realizada a obra salvífica, torna a subir com a humanidade redimida para glorificá-la e fazê-la sentar-se à direita do Pai. É aquele que desce para o Juízo escatológico e aquele que sobe depois do Juízo, para o gozo eterno. A arte criou, aqui, uma obra de grande pujança que exprime toda a teologia cristã sobre o Cristo, Verbo eterno, Criador e, também, Salvador escatológico.

Os mais antigos exemplos de Pantocrator na cúpula
Os mais antigos exemplos de Pantocrator na cúpula remontam ao século VI: trata-se de Santa de Constantinopla, da igreja dos Santos Apóstolos - também de Constantinopla -, e talvez da igreja de Santa de Odessa. Todas as três representações infelizmente desapareceram, mas delas possuímos descrições contemporâneas ou posteriores que nos permitem medir sua importância.
A representação se multiplica a partir do século IX quando, terminada a luta iconoclasta, generalizou-se na arquitetura a adoção quase exclusiva da igreja de planta central e cúpula. O século XI deixou-nos o severo Pantocrator da cúpula de Dafnes, de 1100 aproximadamente. O século XII transmitiu-nos os exemplares mais numerosos e mais perfeitos, a ponto de merecer o nome de «século do Pantocrator». Entre estes, recordemos: o Pantocrator de mosaico do côncavo absidal da Catedral de Cefalu (1130), o da cúpula da Capela Palatina de Palermo (1140), o da bacia absidal de Monreale, do final do séc. XII (cf. figura 11), etc.
Numerosas representações foram realizadas depois e se acham dispersas em algumas igrejas supérstites de Constantinopla e em todos os Países de tradição bizantina - em primeiro lugar no monte Athos -, e em não poucos países do Ocidente - sobretudo a Itália.

Significado do Pantocrator segundo L. Bouyer
Louis Bouyer, conhecido teólogo oratoriano francês, na sua pequena obra-prima intitulada Verdade dos Ícones, dá do Pantocrator a seguinte descrição:
«Infelizmente, alguns ocidentais chegaram, a propósito dessa prodigiosa figura, não só ao cúmulo da incompreensão, mas ao supremo grau da ignorância. Essas representações de Cristo, que se prolongam até o conhecido ícone, venerado pelos russos, do 'Salvador dos olhos de chama', não representam de modo algum um Juiz irado, nem feroz, mas antes, como diz o título que sempre se lhes dá: 'O Salvador'. Evidentemente, este Salvador, como também a salvação que ele traz, nada tem a ver com a fátua benignidade que um Ocidente (e também, aliás, um Oriente!) decadente devia mais tarde colocar sob esse título. A gravidade do mal, do pecado - satânico como também humano -, que ele teve de vencer, se reflete e se supera na sua majestade. Mas essa majestade não é mais aquela de um soberano terreno, exaltado até o ápice do seu vigor físico e do seu esplendor material: é a de Deus mesmo que se revela, numa humanidade totalmente espiritualizada, como o "Totalmente outro" e também o 'summum fascinans'. Numa palavra, é o triunfo da visão monástica... Para quem sabe ver, na figura sublime entre todas, a de Cefalu, como na da Nea Moni, manifesta-se que este Salvador não abateu os poderes da iniqüidade, senão para melhor atrair-nos à sua santidade, a qual faz um todo com o ágape - o amor divino. E, evidentemente, esse 'amor' nada tem a ver com um sentimentalismo fácil! Ademais, esse Pantocrator reflete indiscutivelmente o evangelho da reconciliação: a sua mão direita erguida, para abençoar e não para condenar, longe de rejeitar o homem, convida-o a elevar-se até ele.» (6).

As inscrições em torno do Pantocrator

Outro modo de entender o sentido teológico do Pantocrator que reina na cúpula é constituído das inscrições que o acompanham. Estas são constituídas dos habituais digramas IC XC, do sagrado trigrama Ο ΩΝ, do nome acrescentado O ΠANTOKPATOP, e sobretudo das longas inscrições desenhadas em grandes caracteres sobre frisos que circundam a parte inferior da cúpula.
Essas inscrições são muito diversas, tiradas dos livros do Antigo e do Novo Testamento. Os Manuais de pintura recolheram as principais. Foti Kontoglou, na sua Ekphrasis, propõe a seguinte lista:

Em torno do Pantocrator escreve sobre um friso as palavras seguintes:

«Do céu o Senhor contemplou, viu os filhos dos homens. Do lugar de sua morada ele observa os habitantes todos da terra: ele forma o coração de cada um e discerne todos os seus atos' (Sl 33, 13-15).

Podes também escrever outras palavras proféticas, como as seguintes:

«Do céu, Deus se inclina sobre os filhos de Adão, para ver se há um sensato, alguém que busque a Deus» (Sl 53, 3).
«Para sempre seja bendito o seu Nome, e desde antes do nascer do sol o seu Nome permanece» (Sl 72,19).
«Deus seja glorificado na assembléia dos Santos, é grande e terrível entre todos os que os rodeiam» (Sl 89, 8).
«Antes de mim nenhum Deus foi formado e depois de mim não haverá nenhum. Eu sou Deus e fora de mim não há nenhum Salvado» (Is 43,10-11).
«Fui eu que fiz a terra e criei o homem sobre ela; foram as minhas mãos que estenderam os céus, eu é que dou ordens a todos os astros» (Is 45,12).
«O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés. Que casa me poderíeis construir, que lugar, para o meu repouso?» (Is 66, 1).
«Do levantar ao pôr-do-sol, meu Nome é glorificado entre as nações, e em todo lugar é oferecido incenso ao meu Nome» (Ml 1, 11).
A lista se encerra com esta anotação: Às vezes, no lugar desse friso com a inscrição, O ΠANTOKPATOP é circundado de um colorido arco-íris, segundo a descrição profética.

O Pantocrator sobre a iconostase
Sobre a iconostase o ícone de Cristo Pantocrator, em busto ou de corpo inteiro, ocupa um lugar de primeira ordem em ao menos duas representações: à direita da Porta Real na fileira chamada local em contato direto com os fiéis que ocupam a igreja, e na fileira chamada da Deésis.
O Pantocrator à direita (de quem olha) da Porta Real, tem uma função especificamente litúrgica e eucarística. Diante dela o sacerdote recita as preces das Horas do Ofício, e ela o introduz no santuário antes de celebrar a Divina Liturgia; diante dela a comunhão ao corpo e ao sangue de Cristo é distribuída aos fiéis; também a bênção final do sacerdote, que imita o gesto de Cristo, é concedida aos fiéis em nome do próprio Cristo.
O Pantocrator da fileira superior, chamada fileira da Deésis é rodeado de pelo menos duas figuras: à sua direita pela Theotokos, à sua esquerda por João Batista, para ele voltados em forma de súplica (é este o sentido da palavra deésis). Muitas vezes são acrescentadas outras personagens como apóstolos, anjos e santos; o conjunto forma uma Deésis ampliada na qual a figura central de Cristo tem o aspecto do Juiz. Nas iconostases russas, as figuras estão em pé, e o Cristo toma a forma do Cristo na glória: o mesmo que - rodeado das potestades celestes deve vir no final dos tempos para julgar os vivos e os mortos .

As inscrições e os nomes acrescentados
O ícone do Pantocrator da Porta Real é as mais das vezes enriquecido de duas inscrições diversas: a do nome acrescentado e a do livro aberto. Os nomes acrescentados são de grande riqueza. Os manuais de pintura indicam os seguintes, acrescentados ao nome de Cristo IC XC:
O Pantocrator (Aquele que tudo rege), O Eleimon (o Misericordioso), O Zoodotes (o Vivificante, ou o que dá vida), O Fotodotes (o iluminador, ou o que dá luz), O Sotir tou kosmou (o Salvador do mundo), O Philanthropos (o Amigo dos homens), E Chora ton zonton (a Terra dos viventes), O Emmanouil (o Emanuel), O Megalis Boulis Aggelos (o Anjo, ou Mensageiro, do Grande Conselho), O Dikaios Krites (o justo Juiz), O Megas Archiereus (o Sumo Sacerdote), O Basileus ton basileuonton (o Rei dos reinantes), O Psychosostes (o Salvador das almas) (8).
Note-se que esses nomes são apenas indicativos e não esgotam a riqueza dos nomes presentes nos inúmeros ícones que chegaram até nós. Entre os outros nomes, que são as mais das vezes nomes dados a igrejas e mosteiros - alguns dos quais tiveram uma grande celebridade -, citemos ainda os seguintes:

Luz do mundo;
Sabedoria de Deus;
Antigo de dias;
Cordeiro de Deus;
Panteropto (Onividente);
Videira, Benfeitor;
Antifonitis (Fiador);
Yperagathos (Sumamente Bom) etc.

O livro segurado na mão esquerda
O livro que Cristo traz na mão é o dos Evangelhos; ele tem um grande apelo litúrgico. Este mesmo livro, com efeito, é o único objeto admitido sobre o altar, para afirmar a presença do mesmo Cristo no seu Verbo ou Palavra. Na Liturgia eucarística, esse livro é levado fechado em procissão, para significar a primeira manifestação silenciosa de Cristo sobre a terra; a seguir, no decurso da Divina Liturgia é aberto [a] leitura do trecho diário [..]
A leitura do Evangelho, durante a Divina Liturgia, é acompanhada de orações e ritos mais ou menos solenes em todas as Igrejas. A Igreja bizantina faz preceder a leitura da grande incensação do altar, da iconostase e de toda a comunidade eclesial presente no templo. Enquanto o diácono procede a esta incensação, o sacerdote reza a seguinte oração que exprime bem os sentimentos que devem acompanhar a leitura e os frutos que dela se esperam.

A mão que abençoa
Na Igreja Oriental, sobretudo na bizantina, a bênção (em grego ('euloghia') é reservada ao bispo ou ao sacerdote que a pronuncia para abençoar uma ou mais pessoas, ou um objeto, fazendo um sinal da cruz e pronunciando ao mesmo tempo uma breve fórmula de bênção. A fórmula de bênção mais simples reza assim: «Bendito o nosso Deus, em todo tempo, agora e sempre, e nos séculos dos séculos. Amém.»
Uma das mais solenes é a que o sacerdote dá no fim da liturgia eucarística: «A bênção e a misericórdia do Senhor desçam sobre vós com a sua graça e a sua benignidade em todo tempo, agora e sempre, e nos séculos dos séculos. Amém.»
Como se vê por esta e por outras fórmulas semelhantes, a fórmula não é indicativa: ou seja, o sacerdote não dá a bênção em nome próprio, mas transmite a bênção dada pelo próprio Cristo. Isto fica evidente no ícone de Cristo com a mão direita que abençoa.
A bênção é chamada «à maneira grega», na qual os dedos aparecem em posições bem precisas com significado simbólico, sobre o qual se detêm os manuais de pintura. O de Dionísio de Furná assim descreve a posição dos dedos da mão direita que abençoa e o sentido simbólico:
«Quando fazes uma mão que abençoa, não unas os três dedos juntos, mas une o polegar com o anular apenas; o dedo chamado indicador e o médio formam o nome IC: com efeito, o indicador forma o I; o dedo médio curvado forma o C; o polegar e o anular que se unem obliquamente e o mínimo que está ao lado, formam o nome XC; de fato a obliqüidade do mínimo, estando ao lado do anular, forma a letra X; o mesmo mínimo, que tem forma curva, indica justamente por isso o C; por meio dos dedos, portanto, se forma o nome XC e por esse motivo, pela divina providência do Criador de todas as coisas, os dedos da mão humana foram modelados assim e não foram demais ou de menos, mas em quantidade suficiente para formar este nome.»