quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Baphomet & Opfer


A palavra ‘opfer’ refere-se geralmente ao sacrifício que ocorre – simbólico ou de outra forma – durante certos rituais. Existem geralmente dois tipos de opfer: associado a rituais para abrir uma passagem (ou ‘Portal Estelar’), entre Aeons – quando um/uns opfer(s) é/são considerado(s) necessário(s) em termos da ‘energia’ requirida; aqueles associados a crenças tradicionais respeitando ao ‘funcionamento do cosmos’ (‘Opfers’ associados com rituais de morte formam um terceiro tipo.).

O segundo tipo, de acordo com a tradição, era escolhido uma vez em cada 17 anos e este sacrifício era visto como necessário para manter ‘o equilíbrio cósmico’ – nos tempos modernos, manter uma passagem aberta (e assim preservar a civilização mais elevada associada etc). O escolhido era tornado um Sacerdote honorário (este tipo de opfer era sempre masculino) e havia uma união entre ele e uma ou mais mulheres, como sacerdotisas. Esta união era um tipo simples de ‘hierosgamos’, e ao descendente da união era dada grande honra. Na própria cerimônia, a cabeça do opfer era cortada e exibida – habitualmente por uma noite e um dia (embora este período possa ter sido mais longo num passado muito mais remoto). O Rito era realizado num espaço aberto num sítio ‘sagrado’ – normal ente um círculo de pedras ou uma colina.

O escolhido era capaz, por causa do sacrifício, de usufruir de uma existência acausal – tornando-se assim um Imortal. Dessa forma o ‘sacrifício voluntário’ era possível, embora seja fácil imaginar que em tempos mais tardios, o opfer não tinha tanta vontade.

Tradicionalmente, este tipo nos remete até Albion, e enquanto originalmente o ritual era provavelmente um acontecimento comunitário, tornou-se mais secreto. O que sobrevive até hoje (a Cerimonia de Lembrança com fim ‘opfer’) provavelmente reflete mais a essência desta tradição antiga do que o detalhe (as palavras, cânticos etc). Esta essência pode ser apreendida no papel da Senhora da Terra – representativa de Baphomet, a Deusa Negra. Era para Baphomet que o sacrifício era feito – daí um opfer masculino. Na realidade, toda a cerimônia (de Lembrança) pode ser vista como uma celebração da deusa negra – a Senhora/deusa da Terra no seu aspecto mais sombrio/violento/sinistro. A cabeça decepada estava associada à veneração de Baphomet – o culto derivado de Albion – daí a representação tradicional de Baphomet.

A identificação de Baphomet como a Esposa de Lúcifer/Satanás data provavelmente de meados do século X ou XI, assim como o uso do nome ‘Satan’/Satanás como o representante material dos Deuses Negros.

É importante lembrar que em tempos mais antigos (por exemplo em Albion durante o aeon Hiperbóreo) não havia uma distinção clara e/ou moral entre o ‘luminoso’ e o ‘sinistro’: os dois eram vistos como diferentes aspectos da mesma coisa. Assim, aquilo que nós conhecemos como a Senhora da Terra (a ‘deusa’) era tanto o que nós chamamos Baphomet (o lado sombrio) como Gaia (a Mãe Terra). Da mesma forma para o aspecto masculino – Satanás e Lúcifer – ou Dioniso/Kabeiroi e Apollo. Agora entendemos todos estes símbolos como projeções inconscientes/conscientes da ‘realidade’ (onde ‘realidade’ = região da convergência causal/acausal) – como ‘portais’/passagens para o próprio acausal, com as 7 esferas da Árvore de Wyrd sendo um ‘mapa’ destes portais, inteligível pela consciência do não-Adepto. Desta forma, a esfera de Mercúrio representa Lúcifer/Satanás – Mercúrio, Marte e o Sol sendo esferas “masculinas”, e a Lua, Vénus e Júpiter as “femininas” (Saturno para além desses opostos – o próprio Caos).

O culto de Baphomet era a veneração do aspecto negro das energias “femininas” – onde neste contexto, veneração significa um trabalho para compreender / integração consciente. Pistas da veneração do aspecto ‘luminoso’ sobrevivem na tradição Septenária no nome “Aktlal Maka” e na forma natural do rito dos Nove Ângulos. O aspecto mais tenebroso sobrevive, em essência, na Cerimônia de Lembrança e nas tradições associadas à Senhora da Terra e a Baphomet. Quanto ao nome original da deusa em ambos os aspectos, existe uma tradição que dá ‘Darkat’ (antiga forma de Lilith) como o nome usado antes de Baphomet se ter tornado de uso comum. No entanto, ‘Azanigin’ também já foi sugerido – tal como foi ‘Aktlal Maka’ para o aspecto ‘luminoso’/Gaia, embora ambos sejam apenas sugestões do século XX, não baseadas em qualquer tradição oral. Diz-se que alguns aspectos na deusa (negra) sobreviveram nos tempos Gregos sob a forma dos ‘cultos de mistérios’ (vide Kabeiroi – e também Eleusis para o aspecto ‘luminoso’), sendo estes uma ‘sobrevivência indireta’, a tradição Septenária sendo direta, de Albion.

O uso do nome ‘Baphomet’ deriva provavelmente dos séculos X ou XI embora a representação pictórica tradicional de Baphomet seja indubitavelmente mais antiga. Se existia uma tradição oral ligada à origem do nome Baphomet, foi perdida.

Assim, não existem indicações quanto aos nomes ‘originais’ dos elementos ‘luminosos’ e ‘sinistros’ do lado ‘masculino’ – conhecidos por nós como ‘Lúcifer’ e ‘Satanás’. Estes últimos nomes também datam provavelmente de meados do século X ou XI – embora ‘Karu Samsu’ (ou qualquer coisa muito semelhante) tenha sido sugerido para o aspecto ‘Lúcifer’ e ‘Sapanur’ para o aspecto ‘sinistro’.

Os ritos associados com o primeiro tipo de opfer – tal como o ‘Chamado Sinistro’ – não podem ser datados com certeza ou vistos como derivados de uma tradição mais antiga. Em toda a probabilidade, derivam do século XII ou XIII, embora seja muito possível que versões/formas antigas existissem. Algumas pessoas têm considerado o Chamado Sinistro como uma versão posterior da Cerimonia de Lembrança. Mais uma vez, se existia uma tradição oral, foi perdida – tudo o que persiste são os próprios rituais.

A própria ‘Missa Negra’ (e na realidade a maior parte dos rituais n’O Livro Negro de Satanás) originaram-se provavelmente por volta da mesma altura do Chamado Sinistro. A Missa original era dita em latim, embora a meio do século XX uma versão traduzida tenha encontrado o seu caminho para o Livro Negro – por necessidade, embora alguns cânticos em Latim tenham permanecido.

NOTAS: O significado do ciclo de 17 anos não é claro. Nas últimas décadas algumas teorias foram avançadas, mas não são convincentes.

Aktlal Maka é um cântico por vezes usado no Rito natural dos Nove Ângulos pela Sacerdotisa se a clareira tiver uma fonte de água. Significa ‘as águas fluindo da Terra’ e é cantado em homenagem a Gaia uma vez que as fontes naturais são vistas como as suas crianças.

Os mistérios dos ‘Kabeiroi’ (por vezes pronunciado Cabiri) são uma das tradições esotéricas associadas ao Aeon Helênico. Na sua forma original, ‘os mistérios’ respeitavam a determinadas deidades normalmente representadas na forma de grifos e ligadas ao mar assim como Deméter – a ‘Mãe Terra’ ou Gaia. Segundo a tradição esotérica, os mistérios respeitavam aos Deuses Negros – em variadas formas mutantes – e contavam como Deméter tinha dado aos primeiros Iniciados desta tradição um cristal (mais tarde venerado num santuário perto de Tebas, onde existia um bosque sagrado para Deméter) assim como também mostravam como um indivíduo, através de vários Ritos que envolviam Gaia, mulheres, casamento sagrado e por aí fora, podia ser transformado (transportado) para um nível diferente de consciência. Esta transformação, tal como noutros Cultos Gregos de Mistérios, era obtida principalmente através do envolvimento pessoal na ação ritual/cerimonial habitualmente de um tipo mitológico.

Mais tarde, esta tradição dividiu-se – Eleusis representando o elemento ‘Apolíneo’, e os Kabeiroi os aspectos ‘Dionisíacos’ ou sombrios, pois é dito que todos os iniciados dos Cabiri tinham de ter cometido um crime maior que os crimes comuns.

Os mistérios dos Kabeiroi eram habitualmente celebrados em santuários em montanhas (algumas combinações de rochas e água subterrânea sendo vistas como sagradas – isto é, capazes pelo seu poder mágico de transformar a consciência dos indivíduos (confrontar alguns sítios sagrados do povo Yezidi que possuíam uma versão mais confusa da tradição dos Deuses Negros) e atingir estes santuários era considerado parte do processo da Iniciação.

Os Gregos chamavam aos Kabeiroi ‘os grandes deuses’.

Jacques Bergier - Melquisedeque

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