quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

A Senhora da Terra


Culto da Cabeça de Satanás

O Satanismo Tradicional tal como é praticado na ONA – “Order of Nine Angles”, tem origem em tradições e cultos que remontam à mais distante Antiguidade, nos quais se adorava uma Deusa (a Senhora da Terra) e um Deus (o Senhor da Terra).

Embora no princípio a Deusa e o Deus fossem vistas como divindades duais (isto é, contendo simultaneamente aspectos causais/luminosos e acausais/sinistros), mais tarde foram divididas, e então o Deus passou a ter duas “facetas”, tal como a Deusa.

As estas duas facetas do Deus e da Deusa foram dados vários nomes ao longo da História:

LÚCIFER ou KARU SAMSU, o Deus no seu aspecto causal-luminoso (correspondente à esfera de Mercúrio, II°, na Árvore de Wyrd);
GAIA ou AKTLAL MAKA, a Deusa no seu aspecto causal-luminoso (correspondente à esfera de Vénus, III°, na Árvore de Wyrd);
SATANÁS ou SAPANUR, o Deus no seu aspecto acausal-sinistro (correspondente à esfera de Marte, V°, na Árvore de Wyrd);
BAPHOMET (Mãe de Sangue), a Deusa no seu aspecto acausal-sinistro (correspondente à esfera de Júpiter, VI°, na Árvore de Wyrd).
Outros nomes para Satanás e Baphomet são, respectivamente, KTHUNAE e DAVCINA. Consultem a este respeito o capítulo 3, onde falei dos 21 Deuses Obscuros e do Tarot Sinistro.

Muitas pessoas me perguntarão:

«Então mas Baphomet não era o ídolo supostamente venerado pelos Cavaleiros Templários? Que sentido faz compará-lo a uma Deusa?»

A resposta é: O nome Baphomet pode não vir, como é normalmente aceite, do árabe “Mohammed” (Maomé) nem de “baph-metis” (batismo/imersão em sabedoria), mas sim da expressão grega “Baph-Metra” (a Mãe –“Metra” ou “Meter”– tingida ou submersa –“Baph”– em sangue; isto é, a Mãe de Sangue, ou a Deusa Sinistra). E quanto às ligações entre a Deusa e a cabeça decepada («baphomet» templário, etc), leiam o seguinte…

Nestes cultos antigos, um Sacerdote (o “Opfer” ou VINDEX) era escolhido a cada 17 anos, fazendo o papel de “Senhor da Terra” (isto é, representado o Deus Sinistro Satanás), sendo-lhe dados grandes privilégios. Este Opfer ou Sacerdote participava então na cerimônia do Casamento Sagrado ou Hierosgamos com a Sacerdotiza do Culto (representando Baphomet, a Deusa Sinistra), sendo seguidamente decapitado como oferenda à Deusa e aos Deuses Obscuros (fora do universo causal). Este sacrifício do Opfer/Sacerdote permitia-lhe então tornar-se um “Imortal”, tornando-se Uno com os Deuses Obscuros. Então a cabeça do Opfer (Satanás) era exibida durante 1 dia e uma noite, sendo apresentada posteriormente a todos os novos iniciados no Culto. A esta cabeça, que era simbolicamente a Cabeça do Deus Satanás sacrificado, eram atribuídos poderes fabulosos, entre eles o poder de trazer fertilidade e abundância, e de proteger contra o infortúnio. Podemos ver traços desta “veneração da Cabeça” um pouco por todo o mundo, particularmente no culto celta das cabeças cortadas e também –surpresa– nos Templários que se dizia venerarem como Salvador uma Cabeça com barba e aspecto demoníaco, e que a dita cabeça tinha poderes semelhantes à Cabeça de Satanás venerada nos cultos antigos: fertilidade, riqueza, proteção contra o infortúnio.

É interessante reparar em vários pormenores aqui:

Sabe-se que os celtas usavam as cabeças cortadas dos inimigos como talismãs de boa-sorte, chegando a pregá-las na entrada das suas casas e castelos para atrair a fertilidade e proteger contra o mal. É também sabido que depois das batalhas, os celtas irlandeses cortavam as cabeças aos inimigos, empilhavam-nas, e chamavam a isso a “colheita de Macha” (a Deusa sinistra da Terra e da Guerra, que prevalecia sobre os machos). No Hinduísmo Tântrico, a terrível deusa Kali é representada a segurar a cabeça de um demônio com barba (o baphomet templário? :D), e é normalmente mostrada em pé ou sentada em cima do corpo inativo –adormecido? morto?– do seu esposo Shiva, o Destruidor e Senhor da Terra (Satanás/Kthunae). Este mesmo Deus Shiva era antigamente chamado Pashupati e Vanaspati, o “Senhor dos Animais” e “Senhor da Floresta” (semelhante ao deus Cernunnos/Herne celta). Na mitologia azteca, Coatlicue ou a Deusa-Mãe (Terra-Serpente) era mostrada com um colar de cabeças humanas decepadas, apresentando incríveis parecenças com a Deusa Negra Kali. E na mitologia maia, a cabeça decepada do deus Hun-Hunahpu tinha o poder de fazer as árvores crescer e dar fruto, trazendo fertilidade e abundância.

É também interessante reparar no seguinte:

Na 2ª parte (CAELETHI) do Livro Negro de Satanás da ONA, são-nos mostrados os símbolos dos 21 Deuses Obscuros, sendo fornecido uma espécie de mistério ou frase enigmática para cada Deus/Arcano. É bastante curioso que o símbolo de VINDEX (o “Opfer” ou Sacerdote sacrificado, que representava Satanás) seja um antigo símbolo ocultista da estrela ALGOL, que é apelidada em algumas tradições de “Cabeça de Satanás” (Rosh ha-Satan) ou “Cabeça do Demônio” (Ras al-Ghul). Desta última expressão é que vem o nome da estrela: Al-Ghul, Algol.

Heinrich Cornelius Agrippa diz-nos no seu precioso livro “De Occulta Philosophia” ou “Da Filosofia Oculta”, livro 2, capítulo 47, que a influência de cada uma das principais estrelas podia ser «usada» na Magia Cerimonial, sendo empregues determinados símbolos ou imagens para cada uma delas. Assim, a estrela Aldebaran era representada por um Anjo ou Deus e trazia honra e riqueza, etc. Acontece que a nossa “interessante” estrela Algol era simbolizada por uma CABEÇA DECEPADA, COM BARBA E ASPECTO DEMONÍACO, QUE SE DIZIA TRAZER FERTILIDADE E PROTEGER CONTRA O MAL. Coincidência? Certamente que não!

Foi precisamente isto que me conduziu a uma teoria, que vocês poderão achar interessante.

Eu acredito piamente que os Templários de facto veneravam uma Cabeça com barba e aspecto demoníaco, como nos falam os Testemunhos da Inquisição (que são demasiados, com demasiadas parecenças, em demasiados lugares para serem apenas superstições ou invenções da Igreja), e que eles acreditavam mesmo que esta Cabeça de aspecto terrível os poderia proteger e trazer boa-sorte. Acredito também que essa mesma cabeça, à qual se chamava “baphomet”, era na realidade um símbolo de Algol, a Estrela-Demônio, e que era realmente usado na Magia Cerimonial nos rituais templários de Iniciação na Ordem. Este simbolismo teria vindo sem dúvida dos antigos Cultos de veneração da Deusa Sinistra e do seu esposo sacrificado Satanás, o Senhor da Terra.

Se isto estiver de fato correto, então teremos aqui uma justificação plausível para muitas coisas.

Algumas vez se interrogaram porque é que Eliphas Lévi, o conhecido Mago católico, ilustrou o «baphomet» templário como um misto de homem e bode, com seios e falo erecto, numa postura ou “asana” que faz lembrar as posturas de deuses como Cernunnos e Pashupati, antigos deuses da fertilidade?

Na realidade a Tradição Sinistra responde perfeitamente a estas perguntas, e através dela conseguimos “ligar” muitas coisas que são aparentemente inconciliáveis. O facto (ou teoria) de que a Cabeça (Algol, Ras al-Ghul, Cabeça do Demônio) venerada pelos Templários representar o antigo Senhor da Terra (Satanás, Kthunae ou Sapanur), explicaria a razão de Eliphas Lévi representar essa Cabeça como um homem-bode (o homem bestial ou Senhor da Terra), sentado na posição dos deuses da fertilidade. Sendo assim, a representação de Eliphas Lévi teria um significado bastante mais profundo, e intimamente relacionado com o Culto da Cabeça de Satanás.

Aliás… não será com certeza por acaso que no seu livro “O Pêndulo de Foucault”, Umberto Eco nos diz que numa das salas do Castelo de Tomar (a “capital” dos Templários em Portugal) existe uma face esculpida, uma *cabeça* com barba, com traços nitidamente caprinos…