quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Baphomet


O nome de Baphomet é visto pelos Satanistas Tradicionais como significando “a senhora (ou mãe) de sangue” – a Senhora que por vezes se banha no sangue dos seus inimigos e cujas mãos estão assim tingidas.
A suposta derivação é do grego bajh mhtra [baphē mētra] e não, como é às vezes dito, de mhtioV [mētios] (a forma Ática para ‘sábio’). O uso do termo ‘Mãe’/Senhora era bastante comum em escritos gregos alquímicos tardios – por exemplo Iamblichus em “De Mysteriis” usou mhtrizw [mētrizō] para significar possuído pela mãe dos deuses. Mais tarde escritos alquímicos tenderam a usar o prefixo para significar um tipo específico de ‘amálgama’ (e alguns tomam isto como uma amálgama do Sol com a Lua, no sentido sexual).
No Sistema Septenário, Baphomet, como Senhora da Terra, é ligada à sexta esfera (Júpiter) e à estrela Deneb. Ela é assim num sentido um “Portal Terrestre” mágico e a Sua reflexão (ou natureza ‘causal’ – por oposição à Sua natureza acausal ou Sinistra) é a terceira esfera (Vénus) relacionada com a estrela Antares. De acordo com a Tradição esotérica, o aspecto Antares era celebrado por ritos em Albion cerca de 3000 A.P. [Antes do Presente i.e. cerca de 1990 eh – ‘era horrificus’] – no meio e em direcção ao fim do mês de Maio e dizia-se que alguns círculos de pedras / sítios sagrados estavam alinhados para Antares. Em contraste, o aspecto Sinistro da Senhora (i.e. Baphomet) era celebrado no Outono e estava relacionado com a subida de Arcturus, a própria estrela Arcturus estando ligada ao aspecto masculino Sinistro (Mercúrio – segunda esfera), mais tarde identificado com Lúcifer/Satanás. Assim, a celebração de Agosto era um hierosgamos [casamento sagrado] Sinistro – a união de Baphomet com o Seu esposo (ou ‘Sacerdote’ que tomava o papel do aspecto masculino Sinistro). De acordo com a Tradição, o Sacerdote era sacrificado depois da união sexual, onde o papel de Baphomet era assumido pela Sacerdotiza/Senhora do culto. Assim, a celebração de Maio era um (re-)nascimento de novas energias (e da criança da União). A Tradição conta este rito sagrado Sinistro e Arcturiano como tendo lugar uma vez em cada 17 anos. Mais uma vez, diz-se que alguns sítios sagrados em Albion estão alinhados com a subida de Arcturus, há mais de 3000 anos. Na Idade Média, Baphomet começou a ser vista como a Esposa de Satanás – e é desde este tempo que ‘Baphomet’ e ‘Satanás’ começaram a ser usados como nomes para o aspecto feminino e masculino do lado obscuro (pelo menos na tradição sinistra secreta).
Daí a representação Tradicional de Baphomet – uma bonita mulher adulta (frequentemente mostrada nua) segurando a cabeça decepada do sacerdote sacrificado (habitualmente mostrado com barba).
Até determinada etapa os Templários ressuscitaram parte deste grupo, mas sem qualquer entendimento esotérico e para os seus próprios propósitos. Eles adoptaram Baphomet como uma espécie de Yeshua [Jesus] feminino, mas com alguns aspectos sangrentos/sinistos – e contrariamente às ideias mais aceites, eles não eram especialmente ‘Satânicos’. Mais que isso, eles viam-se a si próprios como _guerreiros_ sagrados, e tornaram-se num culto militar com laços de honra, embora o seu conceito de “sagrado” diferisse de certa forma do da igreja contemporânea, incluindo aspectos sombrios/Gnósticos. Os seus sacrifícios eram feitos em batalha e não faziam parte de um ritual específico.
A imagem de Baphomet (por exemplo segundo Levi) como uma figura hermafrodita é uma confusão romântica e/ou distorção: essencialmente da união simbólica/real da senhora e do sacerdote e o seu posterior sacrifício. O mesmo se aplica à derivação do sufixo do seu nome com ‘sabedoria’ (e uma imagem masculina nisso!) – até os confusos Gnósticos entendiam ‘sabedoria’ como feminina.

Parte II

Existe uma tradição respeitante à origem do nome Baphomet que merece ser registrada, mesmo que não seja autêntica, não tendo quaisquer defensores atuais.
Esta tradição encara o nome como derivando de  [boubastis] – o nome Grego para a deusa egípcia Bastet, registada por Heródoto (2137 ff). É interessante que Heródoto identifique a deusa com Ártemis, a deusa da lua. Bubastis era vista como a filha de Osíris e Ísis e frequentemente representada como uma fêmea com a cabeça de um gato – os gatos eram considerados sagrados para ela. Ártemis era uma deusa não movida pelo amor e era vista como a irmã gémea de Apollo (a identificação dela como uma ‘deusa lunar’ derivou naturalmente disto já que Apollo estava relacionado com o sol). Tal como Apollo, ela frequentemente enviava morte e pragas, e era por vezes presenteada com sacrifícios.
É interessante que (a)  é o nome Pitagórico para ‘cinco’ [vide Iamblichus: Theologumena Arithmeticae, 31] – talvez uma ligação com o ‘pentagrama’?; (b) dizia-se que os Templários, com os quais o nome Baphomet é associado, veneravam a sua divindade sob a forma de um gato.
A tradição registada acima, e a descrita na parte 1, ambas representam Baphomet como uma divindade feminina – e ambas são tradições esotéricas, portanto não registadas. É possível que ambas estejam corretas, isto é, que o _nome_ Baphomet deriva (tal como mencionado na parte 1) do Grego [baphē mētra]: referindo-se o prefixo a estar manchada ou molhada em sangue. O sufixo deriva de ‘mãe’ ou ‘senhora’ usado num sentido religioso (vide Iamblichus ‘De Mysteriis’). Este nome – Baphomet – é portanto descritivo para a deusa “sombria” (lunar), a quem sacrifícios eram feitos, e que era na realidade conhecida em tempos antigos como ‘Bubastis’ – isto é, Bastet, para a qual os gatos eram sagrados. Assim, Baphomet podia ser vista como uma forma de Ártemis/Bastet – uma divindade feminina com um lado ou natureza ‘sombria’ (quando vista segundo a moralidade convencional) a quem sacrifícios eram, e continuam a ser, feitos. A tradição Sinistra vê Baphomet como a esposa de Satanás/Lúcifer – isto encaixaria bem uma vez que Lúcifer é frequentemente visto como uma forma de Apollo: Ártemis é a forma feminina (‘irmã’) de Apollo. Aqui, deve ser lembrado que tanto Apollo como Ártemis não eram divindades etéreas, morais e sublimes (os deuses clássicos foram romanticamente mal interpretados) – eles podiam ser, e eram frequentemente, mortais e ‘sombrios’: ambos ‘sinistros’ e ‘luminosos’.

Parte III

A Tradição fala de uma comunidade que venerava a deusa numa área do que é agora o Norte da Escócia. Acredita-se que esta comunidade constituiu os antepassados dos ‘Pictos’, e estava baseada perto do rio Oykel. A forma Latinizada do seu nome, dada por Ptolemeu, era Smertae, que significa ‘manchado’ ou ‘povo tingido’.
O nome pelo qual esta comunidade conhecia a deusa não está registado, mas em inscrições Gaulesas existem referências a uma deusa da guerra chamada Rosmerta. O nome dela significa ‘a grande deusa tingida’ – isto é, manchada com sangue. É bem possível que os Smertae estivessem relacionados com a sua veneração, e dizia-se que eles se costumavam pintar ou tingir a si próprios com o sangue dos seus inimigos, na sua honra.
Um facto interessante, outro povo que vivia perto da região dos Smertae durante a mesma época, era conhecido por um nome que é traduzido como o ‘povo gato’.