quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O Futuro será Arcaico e Tecnológico


Com a epidemia mundial e as leis de confinamento, que fazem tábua rasa da liberdade individual e promovem uma sociedade de censura inquisitorial da opinião adversa e contraditória, assim como de excepção a todas as leis, talvez estejamos a viver em 2020 a primeira catástrofe prevista por Guillaume Faye no seu “Archeofuturism, European Visions of the Post-Catastrophic Age”, no mundo democrático e liberal da actualidade.


​Um dos conceitos chave de Carl Schmitt (1888-1985) no seu “Political Theology “ era o de Ernstfall, traduzido como “estado de excepção” ou “estado de emergência”, usado pelo partido nazi para suprimir a República de Weimar. O estado liberal moderno criou o seu ernstfall para desencadear os primeiros passos de teste e aplicação da sua engenharia económica e social, assim como a sua justificação para desenvolver a vigilância e controle planetar.


Esta catástrofe inicia-nos ao mundo distópico e augura um mundo novo de pesadelos onde os valores do liberalismo, com o seu reducionismo ao primado simplista da razão; a ideia de progresso infinito numa noção de tempo linear, herdado do judaico-cristianismo; a reeducação imperativa das consciências que rejeitam a integração nas regras morais de um igualitarismo, que servem de base às suas engenharias sociais, darão margem para a irrupção de um novo pesadelo. Será previsível que volte o terror de uma nova “caça às bruxas”, isto é, às heresias ideológicas e aos livres pensadores.


O caminho para um sonho liberto dos pesadelos da Animal Farm, em que se tornou o Estado Liberal Moderno, só poderá ser desenvolvido pela esperança de uma reintegração no presente histórico o Velho Legado Europeu de suas múltiplas nações de fundo comum indo-europeu. Este legado constitui, pelas suas variadas versões tópicas, a mesma herança de costumes, tradições e mitos exemplares indo-europeus herdados do Paganismo Antigo, a verdadeira essência de nossa identidade europeia.


Essas categorias mentais e genéticas permanecem recalcadas no corpo e subconsciente de nossa humanidade como uma Força Vital e Visceral, atávica, de fundo sapiêncial,  no subsolo psíquico da Europa. Elas manifestam-se entre aqueles e aquelas que resistem à uniformização do capitalismo liberal das democracias modernas e à sua moral laica do igualitarismo e do “politicamente correcto”.


Ao contrário do Tradicionalismo clássico de fundo guénoniano, que acabou por servir de programa de recrutamento e conversão de algumas élites intelectuais ao Islamismo, o Tradicionalismo actual da terceira vaga de pensadores pós-tradicionalistas que emergiram desde os anos setenta do séc. XX, aceita o papel da ciência e da tecnologia da sociedade moderna, que a primeira renegava como um instrumento de alienação do sagrado, com as suas promessas progressistas e hedonistas oriundas da ideologia burguesa e liberal.


Por este motivo, para o homem pós-moderno o livro de René Guénon, La Crise du Monde Moderne (1927), embora estando correcto quanto aos Princípios está, porém, inteiramente ultrapassado na sua crítica à sociedade moderna, que mudou bastante desde então. Como disse Stephen McNallen, da Asatru Folk Aliance, é possível conciliar “a ciência e a tecnologia para o bem estar de nosso povo e trabalhar em harmonia com o ambiente natural em que vivemos”, unificando tecnologia e ambiente. Mas essa visão naturalista e exotérica, típica das Vias Externas e Panteístas, é insuficiente. É necessário juntar-lhe o conhecimento tradicional, neste caso de substracto esotérico e gnósico-pagão.


O Tradicionalismo actual pós-guénoniano tem como inspiração Julius Evola e Mircea Eliade, avatares da sua primeira e segunda vaga, mas actualizado pelas reflexões dos novos pensadores de terceira vaga, como Alain de Benoist, Dominique Venner e Guillaume Faye, já muito libertos da adesão cega e militante aos dogmas guénonianos. Para eles a Tradição continua a representar os Princípios Perenes subjacentes ao devir da História que asseguram o acesso à nossa Imemorialidade. Eles são o rizoma de uma existência sagrada e mitopoética, mesmo no seio adverso de uma sociedade alienada nos valores consumistas e seculares da Modernidade.


À cultura mimética das massas indiferenciadas na realidade vegetativa de uma existência vivida apenas para produzir, consumir, alienar-se e reproduzir-se, agora impõe-se sobre ela o dever adicional de se integrar submissamente no planeamento ético e económico de uma sociedade baseada na homogeneização cultural no igualitarismo e uniformização das raças num novo homem, o Homem Opaco das Massas. Nada mais se trata do que um projecto político à escala global servindo o propósito de recrutamento de mão de obra inócua e barata. A ele se opõe o diferencialismo e o nativismo identitário dos europeus lúcidos.


​A Tradição não necessita de regredir a uma sociedade obsoleta e medieval como desejava R. Guénon, para alcançar a salvação colectiva e encarnar os seus Princípios, como encontrou no seu exílio no Egipto. Necessita muito menos das suas versões sectárias, irracionalistas e misóginas, do tipo tariqua muçulmana. Desde sempre que os porta-vozes da Tradição foram uma élite de supra-consciência, uma aristocracia espiritual, rejeitando pactuar com a existência larvar da humanidade comum uniformizada na crença, tanto religiosa como materialista.


Para outro pensador, Guillaume Faye, o Tradicionalismo pós-guénoniano assenta na ideia de Tradição como uma Força Numinosa sapiencialmente viva e eternamente presente na nossa memória étnica, inconsciente e arcaica. Ela continua a viver incólume no nosso Corpo e Sangue Alquimizado ao longo das suas transformações históricas, ocultando-se por debaixo das cristalizações e solidificações ideológicas das sociedades burguesas e liberais, sobrevivendo mesmo no seio de um meio adverso e anti-tradicional, oposto à sua eclosão e afirmação. É necessário, por isso, uma nova Teurgia da Carne e do Sangue Transfigurado para as novas elites de Espírito.


​O oposto da Tradição não é a Modernidade, como pensava René Guénon. Mesmo no seio da modernidade irrompe muitas vezes ilhas espirituais de liberdade antinómica e anti-liberal que trazem os impulsos da Tradição. Esse oposto também não é o niilismo, como defendia o historiador Dominique Venner (Histoire et Tradition des Européens). Eu diria que o oposto da Tradição é a Alienação.


Guénon estava obcecado pelo desafio mortal que representava para os valores metafísicos da Philosophia Perennis os valores racionalistas e positivistas do Iluminismo, com o seu primado da razão científica e o seu evangelho ateísta do secularismo. Porém, o seu dualismo estrutural de pensamento não lhe permitiu ver para além das próprias dualidades da civilização, quando já os autores do Romantismo tinham alcançado esta Rubedo alquímica.


O que Guénon apresenta como a jóia da Tradição, tanto a Idade Média como o Islão, são já formas petrificadas e mortas, vivendo mumificadas no dogma e na crença religiosa como uniformização colectiva de ordem ideológica. Essas reconstruções tardias não respondem lucidamente ao desafio da espiritualidade, ao contrário do que pensava Guénon, a não ser por reflexos condicionados de ordem religiosa,  face às vicissitudes adversas da história.


Para nós trata-se, por isso, de voltar a fazer a anamnésia e repossuir a Força transformativa originária de nossas raízes arcaicas e identitárias, como pensava Guillaume Faye, isto é, as nossas raizes do Antigo Paganismo. Quando a Tradição fossiliza em estruturas ideológicas e dogmáticas, se institucionaliza em igrejas tanto políticas como religiosas, então o Sopro do Espírito não se reifica mais no tempo histórico, ossificando em sistemas de pensamento monolítico pela força da inércia da crença, como é o caso do Cristianismo e Islamismo actual.


Para começar a Despertar é necessário não só rejeitar, mas romper sem titubear com a força da inércia das formas de existência alienada das massas que passam a “vida inteira a ver cinema, televisão ou diante de um ecrã a morrer sem ter entrado na vida”, como dizia o pensador Eduardo Lourenço, mas também das religiões que rebaixam e alienam o ser humano na superstição do comportamento padronizado da crença e nos dogmas de cultos que patrocinam estados de existência insciente e vegetativa, por muito que Guénon os considere fiéis aos postulados do seu Tradicionalismo.


O Tradicionalismo e as suas agendas contra a Modernidade iniciadas por René Guénon foram processos terapêuticos no sentido de nos despertar para os Princípios Eternos e Primordiais por detrás de todas as tradições espirituais. Dessa forma permite-nos que possamos elevar a consciência de um plano de alienação, tanto do materialismo burguês como dos ocultismos das massas liberais, para aceder a um plano superior de lucidez espiritual, emancipada dos dogmas e das crenças.


Percebemos hoje que a própria Tradição é uma força teofânica sempre presente por detrás dos próprios ciclos de sucessiva degradação da consciência espiritual até aparentemente desaparecer na actual opacidade materialista, a deste Kali Yuga. Mas, mesmo na maior escuridão a Luz resplandece oculta por debaixo das formas amnésicas e inerciais da sociedade moderna.


A Tradição é imortal e, ao mesmo, tempo, Primordial. Ela sobrevive mesmo nas circunstâncias mais violentamente adversas à sua manifestação. Há, por isso, a esperança, sobretudo depois da descoberta da física quântica, de que o próprio Guénon ignorou as suas consequências para o campo gnóstico e sapiencial, talvez porque ameaçava as suas próprias convicções negativas sobre a ciência, de que a Ciência e a Tecnologia se encontrarão com o Primordial e o Arcaico. Mesmo quando hoje as novas tecnologias nada sirvam mais do que de plataformas de estupidificação e amnésia ontológica.


​Como concluiu o filósofo Raymond Ruyer (1902-1987) a ciência auto-revelar-se-á como um novo gnosticismo. Talvez esse momento demarque o paradigma futuro da Idade de Ouro de novo regressada das cinzas ainda quentes do Ragnarock, marcando assim o fim do Kali Yuga. Guénon não percebeu que a História está a viver a sua Nigredo. Mas a Nigredo traz a promessa da união de todos os opostos na Rebis futura, pelo menos entre aqueles que trazem como heróis a força da Vontade Anagógica.


Como diz Guillaume Faye “o futuro não é a negação da tradição e da memória histórica de um povo, mas a sua metamorfose, pela qual elas são reforçadas e regeneradas”. À visão estática e pessimista de Guénon o pensador G. Faye opõe uma perspectiva dinâmica e mitopoética, trazendo o fogo luminescente da esperança a um mundo cristalizado tanto na metástase do paradigma moral, cristão e burguês, das sociedades liberais e democráticas.


Herança dos postulados morais da crença judaico-cristã, assim como do seu multiculturalismo uniformizante que tolera a recusa de integração de etnias alógenas fanatizadas pela superstição do Islão, assim como a sua rejeição violenta por actos exibicionistas de terrorismo contra os nossos valores históricos de tolerância e liberdade das ideias. Na sentença corânica declara-se “matai-os (aos não-crentes) onde os encontrardes” (surata 191). Esses são os dois inimigos da Europa.


Exige-se de nós ter a coragem de nunca compactuar com os valores permissivos e suicidários desta sociedade liberal decadente pelo cancro histórico do judaico-cristianismo e combatê-los com o retorno ao nosso Paganismo Ancestral de fundo-indo-europeu. Como ascese devemos seguir a prática da “apoliteia” e da "autocracia", recusando tolerar ou se relacionar com a mentalidade geral das massas submissas e acéfalas, mantendo-se sempre numa distância irrevogável em relação a esta sociedade e seus valores, representados pelas massas instrumentalizadas e lobotomizadas pelo igualitarismo e multiculturalismo da actual civilização liberal, refém da ideologia do conforto e do consumo.


É obrigatório estar sempre lúcido e desperto, tendo-se a si mesmo como centro imóvel e auto-suficiente de tudo, num espírito de autocracia, símbolo vivo do Sol Invictus. Trata-se de, como dizem os alemães, aceitar que existir é mehr als leben (mais do que viver). É viver também em Espírito.

O Paganismo Primordial


O Paganismo é a religião Primordial da Europa e a base fundamental da nossa identidade espiritual. Sobre ele vestiu-se a camisa de forças do monoteísmo judaico-cristão, verdadeiro cancro moral e espiritual que contaminou com a metástase do igualitarismo e sentimentalismo a Alma Europeia, o sentir de nossa identidade religiosa, mitosófica e cultural. Sou orgulhosamente um pagão no sentido da Tradição, mas renego o Tradicionalismo guénoniano que é um sistema de ideias e valores congelados numa metafísica abstracta e mumificada na islamofilia. Sou seguidor do pensamento esotérico de raiz pagã de Julius Evola e Arturo Reghini, no espírito do Imperador Juliano, o Mensageiro do Sol.


Sou bem assumido e tranquilo, também, tanto na minha aversão visceral pelo Islão e o Cristianismo, como na minha fraca tolerância para com a cultura de massas do neo-paganismo superficial e new-age da actualidade. Criado este último por bricolage textual e fabricado a partir de um processo de reconstrução retórica feito por plágios e remendos literários sobrepostos, membra disjecta articulada ao estilo da cozinha fast-food pela artisticidade de auto-didactas, como vemos em Gerald Gardner e Doreen Valiente na criação do Wicca. É um fenómeno de pseudomorfose em que se tenta conservar a forma sem conservar a pureza e qualidade da estrutura ontológica original do Paganismo Antigo. Trata-se, por isso, de uma contrafacção na feira de contrafacções das religiões modernas.


As religiões são portais para o mundo espiritual. Não são placebos religiosos. Elas não podem ser criadas por decisão deliberada da pequenez mental e subjectiva dos homens presos e alienados na sociedade liberal. Isso seria uma pretensão e vaidade no mínimo patética. As religiões irrompem porque foi soprado na consciência de quem se submeteu à ascese iniciática para se transmutar em supra-humano, o influxo pneumático do Transcendente. O nascimento das religiões é um processo paraclético. Esse influxo ou “influência espiritual” desencadeia uma transmutação tal na estrutura padronizada da vida cognitiva do ser humano individual que todas as referências de sua humanidade são reviradas do avesso tornando-o num Outro.


É esse Outro, o Génio, o Anjo ou o Daimon, que revela as bases cognitivas de uma religião nova. Foi assim que aconteceu a Maomé na caverna de Hira. Ora, o neo-paganismo não nasceu de uma Metanoia, mas de um processo de reconstrução por redação combinatória do tipo “copy & paste”, a partir de uma deliberação do ego. Não se trata, assim, de uma religião, mas de um jogo de “role playing”, um guião para uma festa rave ou o programa recreativo de um rancho folclórico.


Trata-se de formas rituais espiritualmente opacas, meramente retóricas, ontológicamente vazias, criadas como guiões teatrais e placebos rituais para as pessoas comuns, o Mass-Mensch, aqueles a quem faltam as necessárias “qualificações” iniciáticas para aceder à Grande Revolução do Espírito que é o Despertar e Libertação do seio da carcaça deste Novo Animal nascido da engenharia social das democracias liberais a que os humanistas chamam Humanidade.


Esse Paganismo que, por nomenclatura duméziliana, chamo de “terceira função”, isto é, criado para o largo e mais baixo espectro da classe plebeia e produtiva, da vida social e mental do uomo indifferenziato do mundo moderno, típico do igualitarismo e reducionismo neo-liberal, o que se poderia definir num sentido evoliano como a “terceira dimensão”.


Os valores europeus tradicionais atingiram hoje um estado generalizado de desagregação e esquecimento dissolutivo da sua raiz Espiritual, reduzindo o sujeito ao seu mais baixo estado de mero ente patologizado no eu social. Este paganismo fast-food contém o mesmo síndroma religioso típico de Igreja que adveio do Cristianismo dos primeiros séculos: o de servir de credo para os servos da sociedade neo-liberal presos na superstição igualitarista e multiculturalista do “politicamente correcto”, muito ao estilo do Animal Farm. O Neo-Paganismo irrompeu no rebaixamento iluminista a uma perspectiva horizontal e unidimensional para servir a mentalidade capitalista de colmeia.


O Iniciático enquanto processo de transmissão de uma Influência Espiritual, convocada a descer do Transcendente e a insuflar o Pneuma do recipiendiário para tal qualificado, nunca emerge a partir de baixo, da criatividade subjectiva individual do eu racional como fosse o texto literário de uma peça de teatro. O Sagrado advém de cima, como o Relâmpago. A sua natureza é ser da essência do Fogo. Este tipo de Iniciado é, assim, um verdadeiro portador do Raio, um Senhor do Fogo.


Sempre houveram duas grandes correntes do Antigo Paganismo que chegaram ao Mundo Moderno. Primeiro, existe o Paganismo Folclórico que advém do corpo proteico e sincrético do folclore preservado no povo mais rústico, ainda preso às dinâmicas fenomenológicas advindas do corpo imaginário. É na raiz deste Imaginário que os seus costumes, lendas e rituais de carácter ctónico, nascem e renascem. Adaptado às suas necessidade económicas e clânicas são, por isso, reduzidos ao baixo denominador comum da fecundidade dos solos agrícolas e das mulheres, da saúde e da fortuna. É um paganismo mágico, sem verdadeira ambição metafísica e espiritual.


Segundo, existe o Paganismo Gnósico, que como António Quadros prefiro à expressão gnóstico, por demasia doente de um enraizado maniqueismo. Ele advém dos Teurgos e filósofos neo-platónicos da Antiguidade pagã e que desde o Renascimento inundou o Ocidente cristianizado a partir de Florença sob a forma do Hermetismo. Desde o Iluminismo que o Paganismo do povo estava já, sem dúvida, fossilizado e atrofiado no folclore, ossificado nos usos e costumes do homem rural, completamente esquecido do corpo imaginário de onde irrompiam as hierofanias. No entanto, a segunda conheceu uma grande vitalidade transformativa, intelectiva e espiritual, desde o Renascimento e ao longo dos últimos séculos, desafiando o próprio Iluminismo e demonstrando, assim, continuar viva e trazendo a potestas do seu pneuma.


Uma emergência moderna, que é excepção no mundo de geral mediocridade e sentimentalidade típico do neo-paganismo actual é, sem dúvida alguma, a do Odianismo, expressão que uso a partir de Stephen Flowers para o distinguir do Odinismo rebaixado às formas de paganismo de igreja, criadas para as massas acéfalas e crédulas do movimento Asatru. Ela retoma o mito iniciático de Odin e o seu papel entre as linhagens guerreiras nórdico-germânicas como “modelo exemplar” e imitatio da Vontade Soberana e Transcendente. Ela virá a encarnar no Futuro Iniciado deste Ocidente em crise. Dele voltará a despertar o ímpeto Heróico das tradições guerreiras pagãs: o de ultrapassagem de todas as leis, interiores e exteriores, que alienam e atrofiam o homem-massa na unidimensionalidade cultural moderna.


Repudio o povo (demos) como hipóstase colectiva idiotizada típica do animal humanizado, o “pashu”, como o classificam os Tantras indianos, cuja natureza irrompeu na sentimentalidade cristã laicizada do Neo-liberalismo e do Neo-paganismo da actualidade. Sou dessa “aristocracia negra”, como lhe chamava Saran Alexandrian, para quem a Gnose se ocultou por detrás do Interdito da Magia Daimónica e da Alquimia do Sangue e que como Kali dança indiferente sobre o corpo agonizante do populus profano.


Para o Pagão Tradicionalista a alvorada do Paganismo só se pode iniciar por uma Nova Guerra, uma guerra das ideias como pensava Julius Evola e Alain de Benoist ou, actualmente, o pensador russo Alexander Dugin, contra as formas contingentes e alienatórias dos valores modernos e liberais, assentes no igualitarismo e no superficialismo a que se rebaixam todos os submissos.


Foi precisamente este credo laico que permitiu a tolerância permissiva pelo presença do Islão mais retrógrado na Europa e as suas formas de superstição extremista e medievalista do tipo salafita. Este Islão,  implicitamente patrocinado por vários tradicionalistas da veia teórico-ideológica de René Guénon, ao defenderem-no como o último reduto de excelência da Tradição, é o oposto de tudo o que o homem e mulher da Antiguidade Pagã representava sob o ponto de vista sapiêncial.


Não deixa de ser cómico que sendo a Tradição de origem e natureza primordial venha a ser atribuída à mais recente eclosão abraámica do Islão, na Baixa Idade Média, por René Guénon. Como diz o investigador Michael York o Paganismo foi a “religião raiz” de todas as posteriores religiões monoteístas actuais. O que nos estranha é como foi possível ter Guénon preferido seguir uma agenda desviante e mais convencional, a islamofílica, exaltando o monoteísmo mais rígido e fanático das religiões abraâmicas, mesmo estando já muito adulterado face às religiões primordiais. Para ele o monoteísmo mais rígido e obsoleto era o que representava o Ser Supremo e Primordial, de onde teriam emanado os princípios metafísicos de todas as religiões. Não deixa de ser sintomático que todos os seguidores de René Guénon se tornaram crentes assumidos da religião mais rígida e fanática da actualidade, o Islão.


O Tradicionalismo, não na sua faceta meramente contemplativa ao estilo guénoniano, mas na acepção da acção heróica e transcendente, é uma ascese de rebelião espiritual inspirada pelo Fogo da Gnose contra o embotamento e unidimensionalidade da Modernidade. O Tradicionalismo é inimigo do subhumano que a sociedade moderna, Iluminista e liberal, criou. Trata-se de um acto de subversão tanto espiritual como metapolítica. Não podemos regressar mais às formas serôdias das sociedades tradicionais e medievais do passado, como desejava René Guénon, presas na imbecilização colectiva do credo religioso, como ilustram hoje as formas patologizadas de alienação espiritual do Islão. Os heróis são homens livres.


Contudo, não podemos aceitar passivamente esta sociedade moderna e liberal, nem os seus valores de materialismo, igualitarismo e humanismo. Somos, por isso, iliberais e Inimigos do Mundo Hodierno. Este é o modelo de existência alienada, presa neste mundo de mortos e subhumanos viciados e lobotomizados no analgésico desta sociedade de esquecimento e consumo. O Tradicionalista é sempre “um homem contra o tempo” como defendera Julius Evola a partir da leitura de Savitri Devi, lutando contra a força de amnésia e alienação. Ele é aquele que “cavalga o tigre”.


Se o Paganismo Folclórico emergiu da experiência do corpo imaginário ilustrado no Sabat Pré-Moderno, muito antes de ser degradado e mistificado em festa popular no paganismo moderno, então o Paganismo Espiritual emergiu a partir da intuição espiritual. No primeiro a consciência transporta-se ao mundo intermediário onde os espíritos são corporificados e os corpos subtilizados, no segundo é pela percepção directa, intuitiva e metafísica, do mundo supra-racional e não humano que nos erguemos à dimensão não-humana. O Paganismo Moderno centrado na performance material e teatral, reduzido às proporções humanas e factuais, abstraído de todo o Princípio e experiência de ordem superior, é somente um simulacrum.


O Regresso da Tradição será um dia feito de um modo novo e para um Homem Novo. Esse homem será o Supra-Homem (Uber-Mensch) do Paganismo renascido do Sangue Primordial Europeu, de fundo indo-europeu, como uma palingenesia alquímica feita à imagem de Odin, Lug, Teseu, Prometeu, Hércules e tantos outros heróis. A Hubris será a sua fórmula operativa inspirando os actos e sacramentos transversais à apatia de toda a sociedade convencional, necessários à Libertação e Despertar.


Da inversão do Esoterismo no Ocultismo Kitsch


Não existe Esoterismo moderno. O Esoterismo é inteiramente tradicional e radical porque está fora do tempo em que vivemos. Está fora da história. Apenas as palavras e as imagens podem ter a cor do tempo que passa. O Esoterismo é o respiro da Tradição. O sopro de um corpo eterno de Sabedoria que vive oculto por debaixo do verniz histórico da humanidade. Em essência ele é não-humano, até se deveria dizer anti-humano, pois está para além das contingências ideológicas e as categorias mentais do Homem-Massa.


Ao longo da sua história o Esoterismo, tal como a literatura e a arte de vanguarda, tem defendido uma contra-narrativa do homem e da humanidade face aos estereótipos filosóficos, políticos e religiosos vigentes. Ela foi continuada nos anos setenta através de vários pensadores franceses inspirados em Nietzsche, Ernst Junger, Heideger e Julius Evola, como Jean Mabire, Alain de Benoist, Dominique Venner e Guillaume Faye, entre muitos outros, que trouxeram os impulsos de uma tradição de pensamento incómodo que pretende retornar às raízes identitárias e panteístas da velha raça indo-europeia.


O Esoterismo é pelo sufixo que lhe apuseram uma palavra inapropriada para reter as dimensões não racionais da Gnose. Pelo seu sufixo ela convoca sempre uma ideia de sistema petrificado em doutrinas (ocultas), rebaixando-o ao nível do Exoterismo e do Ocultismo. A palavra Esoteria é, na minha opinião, a palavra adequada para o que é uma arte de alpinismo espiritual. Ao longo de seu percurso de ascensão anagógica as formas do mundo opaco diluem-se no ar puro e na brancura nívea dos picos. Aí voam as águias livres do lastro pesado da matéria e da lei da gravidade. A esse cimo de Conhecimento Zenital só os bodes têm o talento e a astúcia para o alcançar.


A dificuldade de apreensão gnóstica e sapiencial do Esoterismo deve-se à sua aparente decadência actual no ocultismo multiculturalista e new age, fascinado pelo projecto de simplificação e psicologização do espiritual. Esta última, prisioneira do ciclo de degenerescência de tudo o que é metafísico e espiritual no ocultismo new age, aparece na maior parte travestido de sincretismo e sobreposições conceituais heterogéneas, ao estilo das policromias arquitectónicas do discurso exotérico, tanto conceptuais como pseudo-filosóficas, advindas de Blavatsky e petrificadas no pós-modernismo sincretista de Michael Bertiaux e Kenneth Grant.


Todos eles sendo exímios bricoleurs foram criadores excelentes de metanarrativas (cripto)-filosóficas através de uma arquitectura discursiva de expressão híbrida e sincretista, mas que se tornou um novo vernáculo na abordagem ocultista moderna, em emparelhamento com o multiculturalismo político. Ao contrário, o texto esotérico manteve-se imune a este contágio disformante no grotesco das arquitecturas narrativas ocultistas e que invadiu o ocultismo contemporâneo, como vemos nos trabalhos tradicionalistas de René Guénon, Julius Evola, Titus Burckhardt e Ananda Coomaraswamy.


Esse ocultismo de azulejo, acima definido, serve apenas para satisfazer a imaginação e, noutros casos, os instintos sexuais básicos, mas sem qualquer elevação gnóstica. Não confundamos elevação gnóstica e metafísica (Anabase) com delírio imaginativo por sincretismo cultural com laivos kitch. A incompreensão do Esoterismo e a sua confusão com o ocultismo nestes autores, tão apreciados actualmente, advém por ele ser um pensamento linear, no formato de vitral ou biombo, ao estilo da escrita do Quarteto de Alexandria.


Ao contrário, o Esoterismo define-se por ser complexo e ambíguo. Por escapar aos movimentos prensados da ratoeira linear do pensamento convencional, tal como o movimento da Serpente. Tudo o que é do domínio misterioso da Ambiguidade exprime-se pelo poder do paradoxo da Poesia e não através das soluções retóricas de ladrilhado teórico, heteróclito e sincrético, típico dos sistemas policromáticos do pensamento em azulejo, criados por construção e sobreposição barroca, em bricabraque, ao estilo das colchas de retalhos.


O Esoterismo é, ao contrário disso, um tipo de escrita de dupla mensagem, em camadas verticais. Por debaixo da sua camada visível e oratória, oculta-se o seu lado oculto e interior, escandaloso e herético, escondendo-se por debaixo do aparente como ausência e “não-óbvio”, como diria Arthur Melzer (Philosophy Between the Lines). É um pensamento que advém da necessidade de regressar ao estado onirosófico para o compreender e sentir. O verdadeiro sentido só emerge do sentir.


Tanto M. Bertiaux como K. Grant seguiram o caminho do óbvio por excessivo ladrilhado retórico, engordando a linguagem de adiposidades multiculturalistas, em discurso de azulejo e por sucessivas collages retóricas. Eles foram os mais conhecidos e fecundos patrocinadores deste simulacrum, desta ideia de azulejaria ocultista no mundo moderno. Ela satisfaz ironicamente a superficialidade e horizontalidade de pensamento do ocultismo moderno alienado ao mundo da aparência e da quantidade.


A relativizacão e degenerescência do Esoterismo no exoterismo começa com o bricabraque teórico e pseudo-indiano da Teosofia de Helena P. Blavatsky, já denunciado por René Guénon (Le Théosophisme, Histoire d'une Pseudo-religion). Continua, depois, com a subcultura new-age e, finalmente, acaba, por agora, no reducionismo ao discurso comparativo e histórico-filosófico da esoteriologia, que o circunscreveu a uma cartilha de ideias e discursos culturais e plurais, cruzados e sobrepostos, que confundem com o Espiritual.


Este efeito redutor ao baixo denominador comum da filosofia universitária e da psicologia junguiana faz parte da tendência degenerativa do mundo moderno e quantitativo de redução ao psíquico e à razão dialéctica e discursiva. Para o esoterista que escreve e manifesta as suas ideias-experiências no circo profano do discurso público elas servem como núcleo explosivo de uma anti-semântica de guerrilha espiritual e técnica de choque, em completa oposição ao que hoje se denominaria de inteligibilidade e que predomina no pensamento por estereótipos morais e humanistas, oriundo da “politically correcteness” e da ditadura do pensamento único.


Para o esoterista, que é por natureza um insubmisso e indomesticado, a humanidade vive numa época de decadência, anunciada pelo Cristianismo, na polarização simplista da realidade. Não se trata de uma polarização vertical como na Tradição, que preserva sempre a Unidade espectral da Totalidade, mas uma polarização horizontal e dialéctica, herança do dualismo cristão, que se deseja agora dissipar na teoria universalista da Inclusão. Ela reproduz fora de tempo o bom estilo do pastor evangélico do passado com o seu universalismo do tipo cristão, abençoando os bons e perdoando os maus, desde que se submetam à hegemonia do seu credo, como fazem hoje os nossos políticos liberais e de esquerda.


Sou em essência um Anarquista Gnóstico como Carpocrates e o Marquês de Sade, de inclinação luciferina, ao estilo do Caim de Lord Byron e Andrew Chumbley. É cada vez mais necessário exercer uma leitura crítica e desligada do torpor mental das ideias-estereótipos resultantes da força de deslumbramento e alienação mental vindo da sociedade de massas, engendrada pela hipnose colectiva que os “média” exercem febrilmente no tempo presente sobre a massa dos néscios.


O primeiro passo da Serpente deve ser o de se tornar inteiramente Livre e Lúcida para se preparar para vir a ser um dia um Desperto, um Jiva-Atman, acima e fora das leis humanas da sociedade bovina do Mass Mensch.

Gnosimaginalismo


Gnosimaginalismo é um neologismo resultante da combinação da palavra gnose com imaginalismo. Preferindo a palavra Imaginal à de Imaginação pois a primeira subentende uma intrusão gnóstica de imagens arcaicas de natureza preternatural, com a imersão paraclética de conteúdos não racionais no campo imaginário de nossa psique, sem a deliberada intervenção volitiva da subjectividade particular do sujeito que a recebe, como no segundo caso. Ela enquadra-se no fenómeno de expressão e intrusão do Daimonico.


O Adepto tem sempre a face dupla de Janus. Cada Iniciado como na física quântica é simultaneamente onda e partícula. Devemos lembrar-nos que por detrás de nosso rosto convencional existe Outro rosto, o de nosso Eu Preternatural. Este tem o rosto teriónico e azazélico dos Anjos Guardiões. Ao olhar para trás o Iniciado segue o Caminho Retrógrado, olhando para a Origem, o Ser Primordial de onde emana o Eu como sua máscara e fantasma no jogo de ilusões do Pluriverso.

​Sobre o Iniciado


​O Iniciado é Aquele/a que se despiu Inteiramente de sua Humanidade. Deixou de ser o veículo do gregarismo consensual que aliena e unidimensionaliza os macacos racionais.


O Iniciado encarna Qayin, regeitando tanto Deus como o Homem. Matando Abel, o homem indiferenciado e unidimensionalizado, nasce o primeiro Assassino e Iniciado. O Crime que garante a Liberdade ao matar o Homem Profano encarna o Primeiro Iniciado, o Homem Diferenciado de sua própria humanidade.


O Iniciado aceita desaprender tudo o que de humano aprendeu, renegando tanto as suas leis como a sua moral colectivista, voltando ao estado selvagem  de Ser Livre e aprender somente com os animais irracionais que dormem nas nossas pulsões e atavismos. O verdadeiro Iniciado é aquele ou aquela que passou pela experiência da Morte, não qualquer morte, como a das massas acéfalas, mas aquela que heroifica, assim como  da Metanoia.


A Nigredo do Iniciado é representada pelo reconhecimento do carácter de rigor mortis  de tudo o que é em si o fundamento do Eu e do Homem, enquanto um campo psíquico omnipresente de conhecimento prático-conceptual que uniformiza e aliena a consciência do Ser.


A Espiritualidade é uma nova maneira de olhar e conhecer sem o efeito de blindagem do pensamento condicionado. O seu "conhecer" dá-se inteiramente livre pela Sensação.


​Abandona quem és e pensa como um Liberto e Autocrata, entrega-te inteiro à sensação pura e exaltada das tempestades e das paixões violentas, sem medo de seres condenado ou censurado. Desnuda-te de tudo o que és  enquanto existes. Então deixarás de existir (exsistere), isto é, estar fora,  para inxistir (insistere), isto é, estar dentro, no Ser.

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Ad Rosam para Crucem Ad Crucem para Rosam


A ROSAM POR CRUCEM A CRUCEM POR ROSAM


Que e quanto valor extraordinário está contido nestas palavras...


Que segredos, embora simples - e portanto muito preciosos - o "uniforme" dos Rosacruzes revela...


Um uniforme, um lema, uma bandeira…


Como preferirmos defini-lo, ele esconde em si o Caminho e o Fim ao qual o homem divino é chamado.


Belo, a meu ver, o paralelo - ou melhor, a identificação - feita por Jean Delville,  pintor, escritor, que durante a década de 1890, no campo artístico, foi simbolista e principal expoente do movimento idealista belga, um dos fundadores da Sociedade Teosófica na Bélgica de 1911 a 1913.


Delville acreditava que a Arte, em sua forma material como objeto físico real, deveria ser a expressão do Ideal ou espiritual, fundada no princípio da Beleza Ideal. Quem tivesse contemplado obras em que a Beleza Ideal se manifestasse teria entrado em contato indireto, por intermédio, com uma dimensão espiritual capaz de iniciá-lo à transfiguração.


Este princípio é profundamente partilhado e exaltado por Joseph Aimé Péladan, conhecido como Joséphin Péladan, escritor, pintor e esoterista francês, fundador em 1890 do movimento religioso cultural conhecido como Rosa + Cruz Católica do Templo e do Graal , segundo o qual o lema da Ordem “ad rosam per crucem, ad crucem per rosam” exortou a arte a recuperar o seu sentido de ideal e a igreja o seu sentido de beleza; Caso contrário, a civilização ocidental estaria condenada à morte.


É precisamente no Anjo do Esplendor, 189 óleo sobre tela, que Delville representa a evolução espiritual da alma.


O reino da matéria é simbolizado pelas cobras e rosas espinhosas no canto inferior direito da tela.


A figura masculina, que estende os braços para cima e tem os olhos voltados para o céu, pertence na parte inferior do corpo ao reino material, enquanto a parte superior é envolvida pela luz das dobras fluidas e veladas do feminino e anjo incorpóreo que tende.


Muito abaixo dos dois corpos encontra-se uma densa paisagem de picos recortados, roxos e dourados que se erguem de um mar azul brilhante.


O que significa “ad rosam per crucem, ad crucem per rosam” para aqueles que desejam buscar o Ouro do Espírito?


A ROSAM PELO CRUCEM


Através da Cruz devemos chegar à Rosa.


O caminho que devemos seguir para chegar à nossa alma passa necessariamente pelo nosso corpo.


A Cruz é o corpo ou matéria .


Através da matéria, como veículo e recipiente, a nossa consciência espiritual evolui e é realizada, mas, igualmente, a matéria é transmutada e edificada através do desenvolvimento e evolução desta luz interior.


A Rosa no centro da Cruz representa a consciência superior do homem, que se desenvolve enquanto ele é crucificado em seu corpo e a Cruz me lembra imediatamente o Pólo em torno do qual está enrolada a serpente, o elemento transmutador do Fogo, de cujas chamas o originam energias sutis regenerativas, arautos de purificação e transmutação.

Aqui está, então, o extraordinário valor do Fogo!


INRI Ignis Natura Renovatur Integra


O Fogo divino que purifica, renova a natureza, limpando-a do que não é divino e restabelecendo a igualdade substancial entre a fonte e a manifestação.


Um fogo que parte do corpo, que arde na mente e que molda a alma, desintegrando cada nódulo e mancha.


O neófito, através de uma jornada iniciática de vida-morte-renascimento, que corresponde à visão sapiencial da ciclicidade e sazonalidade da matéria, típica da doutrina Rosacruz, realiza a transmutação de si mesmo e do iniciado, tendo tomado consciência da importância do Conhecimento, ele se torna um mago capaz de transmutar a realidade factual que o cerca.


O fogo é o principal elemento para realizar estas transmutações, não é à toa que os alquimistas do Renascimento afirmam: “Ele se esconde em todos os lugares, abraça a Natureza, produz, renova, divide e consome. O fogo, que é o princípio da vida, é simultaneamente a causa operante da sua destruição e da sua transformação.” No catecismo Rosacruz o tetragrama INRI, colocado pelos romanos no topo da cruz de Jesus significa Igne Natura Renovatur Integra, “com o Fogo a natureza é inteiramente renovada e rejuvenescida”.


Aqui, portanto, enquanto o homem é crucificado no seu corpo, a Rosa no centro da Cruz representa a sua consciência superior, a sua centelha divina.


Durante o caminho escolhido rumo à perfeição e à sabedoria eterna, portanto, necessitamos de todas aquelas experiências de vida, através das quais poderemos nos tornar progressivamente conscientes até que nossa alma alcance sua plenitude.


Afinal, nosso corpo está sujeito às leis da matéria viva. Tudo o que está vivo morre e a nossa passagem neste plano material muitas vezes pode ser difícil.


Algumas situações que vivenciamos em nossa vida terrena são muito dolorosas e, para alcançar a sabedoria dos Adeptos, é necessário que “nas chamas” permaneçamos fortes e constantes no bem.


Sabemos bem que através deles chegaremos à Rosa.


Mas o homem é potencialmente sábio e perfeito mesmo na sua própria imperfeição e não pode negar que, por mais ardente que seja o desejo, às vezes não é fácil reagir com força a certas experiências que visam a nossa purificação e a nossa evolução.


Não posso deixar de me lembrar dos momentos em que, em circunstâncias difíceis, reajo com raiva, medo, desespero... Lembro-me dos efeitos nocivos que sinto quando deixo espaço para as minhas vibrações muito baixas.


Mas igualmente entendo bem que as circunstâncias difíceis e os efeitos nocivos acima mencionados são aliados perfeitos e meus melhores amigos ao longo do meu caminho de purificação e evolução.


Portanto, se quisermos viver uma vida em sintonia com a missão a que somos chamados, para progredir no nosso caminho rumo à Rosa, devemos aceitar que a Cruz cumpra o seu papel sagrado e dar o melhor de nós nos momentos mais difíceis. circunstâncias.


A verdade deve prevalecer sobre as mentiras, a bondade sobre a maldade, a luz sobre as trevas.


Eu me perguntei se sou realmente capaz de fazer isso...


E cada vez que sou prontamente avisado de que, independentemente das tentações causadas pela minha ignorância ou pela minha dor, devo sempre sair vitorioso, porque uma derrota pressupõe uma pausa no meu caminho rumo à perfeição e um atraso em fazer florescer a Rosa da Cruz.


Penso que uma aliada preciosa, pronta a apoiar-nos na nossa passagem pela Cruz, é a Meditação .


A Cruz através da qual cuidamos da Rosa nos lembra constantemente como o homem deve reconstruir esses sentidos sutis agora profundamente imersos na matéria e, para isso, exigirá uma vontade inflexível e esforços incessantes.


Gosto muito da comparação com o mineiro, que é chamado a fiscalizar e a perseverar.


Eu me pergunto, porém, sobre a maneira pela qual o homem carnal deve ser derrotado.


As doenças do corpo físico são provocadas pela materialidade e, embora seja impossível negá-las, a sua cura parece legítima e desejável, pois acredito que pedem para serem trazidas aos reinos espirituais por meios legítimos.


Não é em vão que na “Cosmogonia dos Rosacruzes” se diz que: “uma vez que o corpo de desejo e a mente ainda não estão bem organizados, não podem ser usados ​​como veículos separados de consciência.


O corpo vital não pode abandonar o corpo físico, pois haveria risco de morte.


É portanto evidente que certas medidas devem ser tomadas para nos dotarmos de um veículo organizado, fluido e construído de forma a satisfazer as necessidades do Ego nos mundos internos, como é o caso do corpo físico no mundo interno. mundo físico.


É por isso que, ainda que laboriosamente devido a contingências sempre imprevistas e variáveis, procuro aprender a concentrar-me , a adquirir um certo grau de controlo e domínio dos meus pensamentos e a aprender a evitar que se dispersem.


O segundo passo consiste na meditação, que, como sabemos, consiste em manter diante dos olhos do espírito um ideal, um ideal a ser estudado em todos os sentidos até que, tendo-se tornado realidade, se desenvolva, e assim o espírito comece a perceber tudo refere-se a esse ideal evocado antes da concentração.


Temos uma missão a cumprir, tendemos a fazer florescer a Rosa e, para isso, devemos passar pela cruz, vivendo as nossas experiências vitais.


Isso não significa que todas as experiências que enfrentamos sejam dolorosas, nem que apenas aprendamos com elas.


Acredito que o adepto Rosacruz é um ser humano que vive intensamente e desfruta do bem, mas deve estar pronto para vivenciar tudo o que lhe for apresentado e obter benefícios para o seu progresso espiritual.


Passar pelo fogo da Cruz significa encontrar o nosso centro, o nosso ser interior, a nossa alma.


Para chegar a este estado não há caminho fácil, nem atalho.


Ou vamos em direção ao que somos, ou estamos perdendo tempo. Porque somos chamados de forma perfeitamente inevitável.


Quanto tempo levamos para chegar lá depende de nós e, para nosso bem, devemos nos concentrar no que é importante.


AD CRUCEM PARA ROSAM


A segunda parte da moeda indica que vamos à Cruz porque o nosso desejo ardente é chegar à Rosa.


Ad Crucem per Rosam ordena-nos que assumamos a responsabilidade pela importância do nosso corpo, nossa parte material, essencial para chegar à alma.


Sem o corpo e suas experiências nosso progresso espiritual seria impossível, pois o ser toma consciência de si mesmo através da evolução do universo material.


Nosso corpo não é nada supérfluo, nem prejudicial e penetrar na ordem Ad Crucem Para Rosam significa ter chegado à convicção de que nossa vida no plano material tem grande valor, justamente porque nos proporciona as experiências necessárias para que nossa alma desperte à realidade espiritual.


Dizem-nos: “Ao ir até a Cruz, ao elevar a matéria, nos encontramos no centro, no lugar onde floresce a Rosa”.


Os planos de existência não são compartimentos estanques, mas estão interligados entre si e, justamente por isso, a nossa alma eleva o nosso corpo na medida em que ele sobe.


O que vivenciamos no plano material é um reflexo do que temos no plano espiritual.


Tudo o que trabalhamos e avançamos no nível espiritual terá sua manifestação direta e óbvia também no material.


Indo até a Cruz pela Rosa, chego ao centro, para encontrar Antaia.

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

JOHN YARKER: UM MESTRE DO PASSADO E SUA JORNADA INICIÁTICA

 

Dentro de nosso processo iniciático, em determinadas ordens (e em especial no Martinismo), em determinados momentos, somos convidados a escolher um nome esotérico/iniciático.

Essa escolha não é uma tarefa simples, pois temos a possibilidade de que seja através de um mote em latim, um nome criado do zero ou a escolha do nome de um Mestre do Passado.

Independente do caminho escolhido, a ideia é que esse nome ancore uma determinada “energia”.

No caso da escolha pelo nome de um Mestre do Passado, encaro esta escolha como a continuidade do seu trabalho, movendo no momento presente, o que fora realizado outrora no passado.

Nesse quesito, quando me deparei com a necessidade de concretizar esta escolha, investi um bom tempo refletindo e pesquisando: “Quem”, dentre vários Mestres do Passado, mais me conecto e mais admiro seu trabalho?

Dentre todos o que se destacou em minha mente e em minhas pesquisas foi o nome de John Yarker, o qual trago de forma sintética uma extensa pesquisa sobre sua jornada iniciática.

Infelizmente, pouco encontrei sobre sua vida profana, me impedindo de compreender melhor como pensava e agia no mundo ordinário, no âmbito familiar ou em sua carreira profissional, aplicando nestas áreas o que encontrou dentro das ordens.

Espero que o(a) leitor(a) se sinta motivado(a) em viajar comigo através da história nas linhas que se seguem.

I. SOBRE SUA VIDA PROFANA:

Nascido em 17 de abril de 1833, em Swindale, Shap, Westmorland, no norte da Inglaterra. Era descendente de Reinhold Yarker de Laybourne, que viveu em meados do século XVII.

Ele se mudou com seus pais para Lancashire e depois para Manchester em 1849, quando tinha apenas 16 anos. 

Trabalhou como comerciante de importação/exportação e como agente de fios ou de tecidos ao longo de sua carreira profissional.

Há, de fato, pouca informação sobre sua vida profana, nos impedindo de conhecer um pouco mais da intimidade deste grande mestre.

Sabe-se, apenas, que desde muito jovem se interessava pela Maçonaria em todas as suas formas.

Em minhas pesquisas, nada encontrei sobre matrimônio, herdeiros ou continuidade familiar.

II. SOBRE SUA JORNADA NA MAÇONARIA TRADICIONAL

Ele foi feito maçom na Grande Loja Unida da Inglaterra aos 21 anos, especificamente na Loja da Integridade, nº 189 (mais tarde re-numerada para 163), em Manchester, no dia 25 de outubro de 1854.

Após um interstício de apenas três meses, foi prontamente Passado a Companheiro em 16 de Fevereiro e Elevado à Mestre em 25 de Abril de 1855. Servirá como Secretário, Segundo Vigilante e Venerável Mestre dentro dos três anos seguintes.

Filiou-se à Loja Fidelidade nº 623 em  27 de abril 1855 em Dunkinfield. 

Instalado Cavaleiro Templário em 1856, no Conclave Jerusalém, de Manchester, tornou-se fascinado com a história da Ordem. Recebeu os graus de Malta, Rosa Cruz e o de Sacerdote Cavaleiro Templário do Real Arco.

Também se interessou muito pelos ritos apócrifos, pelos altos graus e pelos graus co-laterais, incluindo os de Mestre Maçom da Marca, o Arco Real, Rito Escocês Antigo e Aceito e outras Ordens de Cavalaria.

Alguns registros indicam que ele era membro de várias Grandes Lojas em todo o mundo, algumas clandestinas aos olhos da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE), outras reconhecidas.

III. SUA DEMISSÃO E AFASTAMENTO DA MAÇONARIA TRADICIONAL

Sete anos depois, em 1862, ele se demitiu (renunciou) à Maçonaria (Graus Simbólicos) e cortou contato com a Maçonaria Inglesa, com exceção do Ciclo de Correspondentes da Loja Quatuor Coronati, que integrou como um de seus primeiros membros, em 1887.

Em sua correspondência, Yarker refere-se a “Maçons de garfo e faca”, “Leitores de atas” e “Adoradores da garrafa”. Ele estava mesmo insatisfeito com a falta de ligação esotérica entre seus Irmãos.

Freqüentou o Capítulo Palatino R+C, em Manchester (1862) e também trabalhou com o Grau Kadosch. Não se sabe se antes ou depois de sua demissão da Maçonaria Simbólica.

IV. SUA JORNADA INICIÁTICA APÓS SUA DEMISSÃO

Avançando em sua jornada, a conexão com os Altos Graus parece não se romper totalmente após a sua demissão. Inclusive, o seu primeiro livro foi dedicado ao seu Acampamento Templário: Notas sobre as Ordens do Templo e São João e o Acampamento de Jerusalém, Manchester (1869).

Foi em suas pesquisas nos arquivos do Conclave Jerusalém, que Yarker encontrou as relíquias de uma história esquecida da Maçonaria, incluindo registros de rituais há muito abandonados ou esquecidos. Isto precipitou a sua obsessão vitalícia com a arqueologia maçônica. Tornou-se um prolífico escritor de livros, juntamente com artigos, notas e cartas à Maçonaria – e, como veremos, no futuro, ainda contribuiu com revistas de ocultismo. Tudo isto lhe valeu a reputação não só como um dos historiadores mais eruditos da maçonaria, mas também como um dos mais opinativos. Enquanto os seus amigos abraçaram os seus conhecimentos enciclopédicos, os seus detratores achavam-no abrasivo e descredenciado.

Percebeu que a maioria dos Ritos de Altos Graus eram, na verdade, compilações de cerimônias mais antigas e independentes. Yarker concluiu, então, que estes ritos não tinham qualquer base para reivindicar exclusividade sobre os seus rituais de graus constituintes: ou seja, os rituais individuais eram criações de outros, e não pertenciam aos ritos que mais tarde os adotaram.

[Nota: Na Inglaterra, o REAA é chamado de AAR (Ancient and Accepted Rite), excluindo-se a referência ao termo Escocês.]

Esta crença de que os rituais não eram criações dos sistemas em si, colocou Yarker em conflito com o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), do qual acabou por ser expulso em 1870.

Em 1871, filiou-se ao Acampamento Antiguidade, em Bath, onde encontrou o Rito de Mizraim.

Aceitou, em 1871, o Grau 33 do “irregular” Rito de Cernau, USA, ignorando a manifesta oposição da Maçonaria.

Em Nova York, Yarker filiou-se ao Rito Antigo e Primitivo e, em Londres, foi instalado como Grão Mestre Geral do Soberano Santuário para a Grã-Bretanha e Irlanda (1872).

Ele respondeu à expulsão fundando um Supremo Conselho do Rito Antigo e Primitivo, com 33 graus, sob uma carta patente de Harry J. Seymour. O Rito Escocês Antigo e Aceito considerou isto como uma versão espúria do seu rito, e avisou os seus membros para se afastarem sob ameaça de expulsão.

Em 1875, Yarker declarou guerra ao Supremo Conselho – uma guerra que continuou pelo resto de sua vida.

Os ritos de Yarker provariam ser um pomo de discórdia contínuo, a ponto de Yarker lutar verbalmente com Albert Pike sobre estas questões nos anos 1880.

Por fim, sabe-se hoje que o Rito Antigo e Primitivo nunca foi uma ameaça para o REAA, e subsistiu através do pagamento das quotas de um pequeno quadro de membros dedicados, com Yarker a fazer a diferença a partir do seu próprio bolso.

Com o tempo, Yarker adicionaria também o Rito Escocês de Cerneau e o Rito de Swedenborg ao seu considerável portfólio de patentes, juntamente com ordens e ritos pouco conhecidas como: o Rito de Ismael, o Ramo Vermelho de Eri, Sat Bhai, e a Antiga Ordem de Zuzumites. 

Em 1884, começou também a publicar p “The Kneph”, que era o “Jornal Oficial do Rito Antigo e Primitivo da Maçonaria”.

Apesar do seu conflito contínuo com o REAA, Yarker continuou a ser um maçom em boa posição. Juntou-se ao círculo de correspondência acadêmico e prestigioso da Quatuor Coronati em Maio de 1887 como membro número 77; permaneceria como membro, e contribuiria regularmente para a sua revista, Ars Quatuor Coronatorum, para o resto de sua vida.

Yarker encontrou no Rito Primitivo aquilo que não pode achar na principal Maçonaria inglesa: Um sistema que sintetizava sua necessidade da posse do conhecimento arcano, que fizesse com que seus membros pensassem sobre o que aconteceu antes, e procurassem pelo conhecimento que fornecesse a chave para a sabedoria.

Editou uma Constituição do Rito em 1875. Além de se manter em contato com membros da Societas Rosicruciana in Anglia (SRiA) e da Order of the Golden Dawn, Yarker editou cartas-patentes do Rito de Memphis-Mizraim para Kall Kellner e Theodor Reuss (1904) e, mais tarde, conferiu à Aleister Crowley, o Grau 95 do Memphis e o 90 do Mizraim.

Como muitos dos seus colegas, Yarker também estava interessado no ocultismo. A maçonaria era o seu vício como porta de entrada, e entre 1876 e 1878 conduziu um “inquérito experimental sobre Cristandade, Mesmerismo e Ocultismo” – 1) William L. Cummings confirma isto, recordando que [Yarker] parece ter estado familiarizado com tudo o que tinha sido escrito sobre magia e confessa ter levado a cabo algumas experiências de alquimia prática sem obter quaisquer resultados definidos. Aparentemente, tomou tudo de natureza ocultista ou mística para a sua província e dirigiu toda a gama de experimentos. 2) Estes interesses esotéricos incluíam Teosofia: H. P. Blavatsky (1831-1891) fez de Yarker um Companheiro correspondente da Sociedade Teosófica e citou as suas ‘Notes on the Scientific and Religious Mysteries of Antiquity (1872)’ em seu Isis Sem Véu (1877). Por sugestão do seu mútuo reconhecimento a Charles Southeran (1847-1902), Yarker retribuiu conferindo graus honoríficos maçônicos a Blavatsky tanto na Sat Bhai como na Maçonaria de Adoção. Foi também um dos primeiros colaboradores do The Theosophist.

Em 12 de novembro de 1893, solicita por correio a Papus sua admissão na Ordem Martinista, na qual ele é iniciado antes do final do mesmo ano através do Barão Adolph Franz Leonhardi de Platz (1841-1902), membro da Loja L’Estrela Azul de Praga e Delegado Geral da Ordem para a Boêmia e Hungria. Em 1901, Papus obteve de John Yarker uma patente para abrir em Paris a Loja INRI, que trabalhava de acordo com o Rito de Swedenborg. A loja INRI mais tarde se tornou a sede da Grande Loja Swedenborgiana da França, graças a uma nova carta constitutiva recebida de John Yarker, em 20 de março de 1906.

Em Novembro de 1902, Yarker passou de Grão-Mestre 96° para a Grã-Bretanha e Irlanda para suceder  Francesco Degli Oddi como Grande Hierofante 97°, o chefe internacional ou Grão Mestre Geral Soberano do Rito Antigo e Primitivo.

Quando Theodor Reuss e colegas começaram a recolher autoridade para estabelecer a Academia Maçônica que se tornaria a Ordo Templi Orientis, a maior parte das suas cartas patentes vieram de John Yarker: em 21 de Fevereiro de 1902, Yarker autorizou Reuss a estabelecer uma Grande Loja Alemã do Rito de Swedenborg. Pouco tempo depois, Yarker nomeou Reuss, Franz Hartmann e Henry Klein ao grau de Grande Conservador Geral (95°) em honoris causa, tendo então conjuntamente patenteado os três para formar um  Soberano Santuário e “conferir os vários Graus do nosso Rito Antigo e Primitivo desde o Primeiro ao 33°-95° A[tient] e Primitive], 90° Misraïm e 33° do Ancient and Accepted. 

Em 14 de Julho de 1903, o Soberano Santuário da Grã-Bretanha e Irlanda – satisfeito com o progresso do Rito na Alemanha – fez Carl Kellner, Theodor Reuss, Franz Hartmann e Henry Klein, Grão Mestres Honorários para a Grã-Bretanha e Irlanda.

Além disso, Yarker foi membro do grupo precursor da Golden Dawn, a Sociedade dos Oito, a Irmandade Celestial de Charubel (John Thomas, 1826-1908), e da Ordem Martinista de Gérard Encausse (1865-1916). Ele tinha ligações com a Irmandade Hermética de Luxor – o seu selo adornou a primeira página da tradução de Yarker, Magnetic Magic (1898) – assim como Paschal Beverly Randolph (depois da morte de Randolph, Yarker pagou £4 pelo manuscrito original de Eulis de Robert Fryar, 1845-1909). 

Em 1906, Rudolf Steiner recebeu de Theodor Reuss, que representava Yarker na Alemanha, a patente para fundar em Berlim um capítulo e grande conselho de Memphis-Misraim sob o título distintivo de “Mystica Aeterna”. Steiner foi nomeado Grão-Mestre Adjunto com jurisdição sobre os membros que recebeu onde quer que recebesse no futuro . Steiner logo entrou em conflito com Reuss e recuperou sua independência. Então, a partir dos elementos iniciáticos que ele reuniu, ele fundou seu próprio Rito “Maçonaria Esotérica”, ao qual Edouard Schuré provavelmente teria sido iniciado . Este rito utilizava um ritual muito antigo, cujo texto pode ser encontrado parcialmente na obra Dogme et Rituel de Haute Magie de Éliphas Lévi. Em sua autobiografia, Steiner minimiza o relacionamento que teve com a Maçonaria e Reuss em particular. Observe que Theodor Reuss foi um ex-membro da Sociedade Teosófica. De acordo com alguns autores, Steiner também foi iniciado na Ordem da Rosa-Cruz Esotérica por Franz Hartmann, outro teosofista e amigo de Reuss, que depois do caso do Juiz fundou um ramo dissidente da Sociedade Teosófica na Alemanha.

A publicação em 1909 da Obra Magna de Yarker, The Arcane Schools, foi recebida com pouca repercussão. A recepção da imprensa foi morna e a sua editora relatou vendas lentas. Yarker ficou, por isso, visivelmente surpreendido. Em correspondência com Aleister Crowley, o mesmo publicou em The Equinox: “o leitor deste tratado é no início esmagado pela imensidão da erudição do Irmão Yarker. Ele parece ter examinado e citado todos os documentos que alguma vez existiram. […] Mas o Irmão Yarker reprimiu nobremente uma tendência spenceriana de divagar; escreveu com perspicácia, evitou a pedantice, e fez florescer os monótonos campos da arqueologia com flores de interesse. Por conseguinte, devemos elogiá-lo ao máximo, pois ele fez o melhor possível. Ele provou abundantemente o seu ponto principal, a verdadeira antiguidade de algum sistema maçônico. É um paralelo ao traçado de Frazer da história de Deus.”

Essa correspondência revelar-se-ia temporariamente funcional para ambos. Para Yarker, ofereceu uma oportunidade de publicar resenhas de livros no The Equinox e de encontrar um jovem ansioso por continuar o trabalho que há tanto tempo tinha nutrido. Para Crowley, Yarker reconheceu o 33° que tinha recebido no México em 1900 e há muito havia assumido ter sido espúrio. Em 29 de Novembro de 1910, reconheceu Crowley como 33° no Rito Antigo e Aceito (ou seja, a linhagem Cerneau de Yarker, não a RAA descendente de Charleston).

Durante este tempo, Yarker ensinou a Crowley a política de dirigir um Rito da Maçonaria Esotérica de Altos Graus sem correr à falta da Grande Loja Unida de Inglaterra. Esta educação incluiu a importância das quotas numa organização de membros. Como Yarker observou, “virá a ver […] que uma dúzia de homens, que já são Franco-Maçons, e pagarão uma taxa razoável, valem 40 ou 50, admitidos ao acaso, e em absoluto desafio a toda a regularidade Constitucional e Simbólica; Alguns dias mais tarde, enfatizou, “se tivéssemos adotado a sua ideia de admitir toda a gente livre, poderíamos ter tido metade da cidade, não que eles teriam sido de alguma utilidade. O que é comprado barato é avaliado pelo mesmo preço”.

Em 07 de Agosto de 1912, Yarker deu a Crowley dispensa para proceder à revitalização dos corpos adormecidos do Rito Antigo e Primitivo de Londres. Crowley interpretou isto de forma ampla, como significando: “começar algo”. E assim ele conferiu – com a aprovação escrita de Yarker – os graus aos primeiros membros do novo M∴M∴M∴. Crowley considerou os rituais pouco práticos e impraticáveis, e evidentemente o Grande Hierofante concordou: de acordo com Crowley, “John Yarker viu em 1911 e 1912 que os seus 33 graus eram eles próprios impraticáveis”. A solução de Crowley foi pegar os rituais e reduzi-los a um conjunto de cerimônias reduzido e exequível para M∴M∴M∴.

Yarker produziu uma enorme quantidade de material escrito. O tendo como trabalho final “As Escolas Arcanas: Uma Revisão da sua Origem e Antiguidade com uma História da Maçonaria e a sua Relação com os Mistérios Teosóficos, Científicos, e Filosóficos”. No avanço do livro Yarker expressou o seu desagrado com o ofício, afirmando que muitos pareciam dispostos a aceitar o que foi escrito sobre a fraternidade pelos fundadores da Grande Loja da Inglaterra em 1717. Sentiu que era necessário fazer mais para aprofundar a investigação do passado da Maçonaria.

John Yarker morreu de decadência senil, fibróide phthis, e insuficiência cardíaca em 20 de Março de 1913. O seu manuscrito sobre a História dos Templários estava nas mãos da sua gráfica na altura, e uma edição revista das Escolas Arcanas tinha sido preparada.

Há uma obra póstuma, que é a reorganização e atualização dos Ritos de Memphis e de Mizraim, com J.M. RAGON e o SCT, formando, assim, o Novo Rito Oriental de Memphis-Mizraim.


V. BIBLIOGRAFIA
Yarker, John. Notas sobre as Ordens do Templo e de St. John and the Jerusalem Acampment, Manchester. Manchester: np, 1869.
Yarker, John. Notas sobre os mistérios científicos e religiosos da Antiguidade; A Gnose e as Escolas Secretas da Idade Média; Rosacrucianismo moderno; e os vários ritos e graus da Maçonaria Livre e Aceita. Londres: J. Hogg, 1872; rpt. Nova York: JW Bouton, 1878.
Yarker, John. Cargas e palestras maçônicas, uma série traduzida do francês. Manchester: Isaac W. Petty & Son, 1880.
Yarker, John. “English Ghost Stories”, Theosophist, fevereiro de 1880, 1: 114.
Yarker, John. Manual dos Graus do Antigo e Primitivo Rito da Maçonaria, emitido pelo Soberano Santuário, 33º Grau, na e para a Grã-Bretanha e Irlanda. Sl: np, 1881.
Yarker, John. “The Beni Elohim”, Theosophist, agosto de 1881, 2: 237-8.
Yarker, John. “The Beni Elohim and the Book of Enoch”, Theosophist, abril de 1882, 3: 171-2.
Yarker, John. Genealogia do Sobrenome Yarker; Com os Leyburn e várias famílias aliadas, residentes nos condados de Yorkshire, Durham, Westmoreland e Lancashire, incluindo todo o nome em Cumberland, Canadá, América e Middlesex (da Conquista até o presente). Manchester: AM Petty, 1882.
Yarker, John. “Can the Double Murder — Or Produce Results on the Material Body”, Theosophist, março de 1883, 4: 149-50;
Yarker, John. “The Adwaita Philosophy versus the Semitic Bible,” Theosophist, abril de 1883, 4: 175.
Yarker, John. Recapitulação de toda a maçonaria, ou, uma descrição e explicação do hieróglifo universal do Mestre dos Mestres. Dublin: Sovereign Sanctuary, 1883.
Yarker, John. Maçonaria especulativa: uma palestra histórica sobre a origem do ofício e da Maçonaria de alto grau, e mostrando a grande antiguidade do sistema combinado, entregue antes dos irmãos do Palatino e capítulo de Jerusalém, nº 2 do Livro do Soberano Santuário do Antigo e Rito Primitivo da Maçonaria no e para o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, em Assembléia em seu local de reunião, o Grosvenor Hotel, Deansgate, Manchester, 26 de novembro de 1883. Liverpool: Joseph Hawkins, 1883.
Yarker, John. The Kneph, 1884–1900.
Yarker, John. Duas palestras sobre alvenaria de alto grau. Liverpool: np, 1886.
Yarker, John. O Código da Apex e o Sat Bhai, revisado. Londres: np, 1886.
Invictus [Robert H. Fryar?] E John Yarker, The Letters of Hargrave Jennings, autor de “The Rosicrucians”, “Phallicism”, & c., & C .: Forming the Unabridged Correspondence with the Editor of the Bath Occult Reprints, entre 1879 e 1887, com o Frontispício. Bath: Robert H. Fryar, 1895.
Thomas Inman e John Yarker, Supernatural Generation. Banho: RH Fryar, 1896.
Yarker, John. “Aureus:” the Golden Tractate of Hermes Trismegistus: Concerning the Physical Secret of the Philosopher’s Stone: In Seven Sections: With an Introductory Essay by J. Yarker. Bath: Robert H. Fryar, 1886.
Villars de Montfaucon e John Yarker, Sub-Mundanes: Ou, os Elementares da Cabala, Sendo a História dos Espíritos. Banho: RH Fryar, 1886.
Villars de Montfaucon e John Yarker, Continuação do Conde De Gabalis, ou Novos Discursos Sobre as Ciências Secretas; Tocando na Nova Filosofia: Obra Póstuma: Amsterdam, Pierre de Coup, MDCCXV. Bath: Robert H. Fryar, 1897.
Antoine Androl e John Yarker, The Assistant Génies e Irreconcileable Gnomes, ou Continuation to the Comte de Gabalis. La Haye, M.DCC.XVIII. Bath: Robert H. Fryar, 1897.
LA Cahagnet e John Yarker, Magnetic Magic. [Bath]: [Robert H. Fryar], 1898.
Yarker, John. “Obituário do Dr. Karl Kellner”, Ars Quatuor Coronatorum 1905, 18: 150.
Yarker, John. As Escolas Arcanas: Uma Revisão de Sua Origem e Antiguidade; com uma história geral da maçonaria e sua relação com os mistérios teosóficos, científicos e filosóficos. Belfast: W. Tait, 1909.
Yarker, John. As Antigas Encargos Constitucionais dos Maçons Livres da Guilda: às quais é adicionada uma comparação com a Maçonaria de York. Belfast: William Tait, 1909.
Yarker, John. “The Apocalypse Unsealed” [revisão], The Equinox 1911, I (6): 164-7.
Yarker, John. “The Secret Tradition in Freemasonry” [revisão], The Equinox 1912, I (7): 413–7.
CONCLUSÃO
É através desta conexão com um Mestre do Passado, que fica assim demonstrado que a morte não existe para os que crêem e trabalham pela conquista da Imortalidade!

É também uma forma de honrar o trabalho empreendido, os campos desbravados e o legado deixado.

John Yarker nos proporciona um legado para além do Memphis-Misraim, com ordens internas, paralelas, verdadeiramente secretas, além de um acervo bibliográfico extraordinário.

Nota-se na cronologia acima que muitos nomes conhecidos no meio esotérico e ocultista da Europa, de alguma maneira, se conectaram com John Yarker ao longo de sua jornada.

Nota-se também que o mesmo chancelou esses grandes nomes, de modo a realizarem seus trabalhos, ainda que o nome do próprio John Yarker permaneça, por vezes, desconhecido para os que se conectam com esses outros nomes.

O trabalho e a obra de John Yarker permanece, perdura e continua no velho continente (a esmagadora maioria das ordens que eram dirigidas por ele continuam ativas até hoje). E, através da conexão do nome iniciático com este Mestre do Passado, sua obra vive, perdura e continua também em terras brasileiras.

Que a Eterna Luz da Sabedoria Divina nos Ilumine sempre!

Por Sâr John Yarker – S:::I:::I:::

FONTES:
https://freemasonry.bcy.ca/kneph/aprm.html
https://freemasonry.bcy.ca/biography/esoterica/yarker_j/yarker_j.html
https://en.wikipedia.org/wiki/John_Yarker
https://pt.frwiki.wiki/wiki/John_Yarker 

O Novo João Batista


Quando subimos a Escada e não prestamos atenção no caminho, é normal tropeçarmos e cairmos. O tropeço é necessário, mas ai de quem fizer tropeçar[1]. A queda sempre nos leva a Malkuth, e, o retorno, à condição anterior, demanda mais ação daquele que estava mais alto do que daquele que estava mais baixo[2]. Por isso, enquanto aquele que está mais baixo, em seu tropeço, passa despercebido na multidão, o tropeço daquele que está no alto, faz-se notar com mais clareza.


Contudo, uma vez aceita a condição da queda e a realização das ações necessárias para o seu regresso ao ponto anterior, Yahweh, que é Justo, pode nos conceder, de acordo com a Sua Vontade, as características da condição anterior. Uma vez limpos da queda, somos imediatamente encaminhados para a continuação de nossa jornada rumo à Terra Prometida, descortinando os Véus que ainda nos separam do Reino de Deus.


(40) e foi a ele um leproso pedindo e caindo de joelhos e dizendo a ele: “Se queres, podes me purificar”.

Antes de ingressarmos na análise do significado do versículo, cabe-nos destacar a expressão “leproso”, utilizada para designar a característica daquele que busca o auxílio de Jesus.


A tradução do koiné (λεπρὸς) guarda o mesmo significado da palavra em português. Contudo, a expressão utilizada em koiné é uma tentativa de traduzir uma expressão hebraica que não possui correspondência em outras línguas, que é Tzaraat (צרעת). A raiz de Tzaraat significa “ferir” e, na Torá ela é apresentada, principalmente, nos capítulos 12 e 13 do Levítico, como uma “doença” que gera manchas na pele, mas que também afeta as roupas e as construções. Apesar de ser traduzida para o koiné e para o português como “lepra”, a Tzaraat não guarda qualquer semelhança com aquela doença. Na verdade, ela é um sintoma físico de um defeito espiritual, que, geralmente, afeta indivíduos de “alto nível espiritual”.


Números 12 : 9-16


A ira de Yahweh se inflamou contra ele. E retirou-se e a Nuvem deixou a Tenda. E Miriã [Maria] tornou-se leprosa, branca como a neve. Aarão voltou-se para ela, e ela estava leprosa. Disse Aarão a Moshé: ‘Ai, meu senhor! Não queiras nos infligir a culpa do pecado que tivemos a loucura de cometer e do qual somos culpados. Peço-te, não seja ela como um aborto cuja carne já está meio consumida ao sair do seio de sua mãe!’ Moshé clamou a Yahweh: ‘Ó Yahweh’, disse ele, ‘digna-te dar-lhe a cura, eu te suplico!’ Disse então Yahweh a Moshé: ‘E se seu pai lhe cuspisse no rosto, não ficaria ela envergonhada por sete dias? Seja, portanto, segregada sete dias fora do acampamento e depois seja nele admitida novamente’. Miriã foi segregada durante sete dias fora do acampamento. O povo não partiu antes do seu retorno. Depois o povo partiu de Haserot e foi acampar no deserto de Farã.


A “lepra” (Tzaraat) que recai sobre Miriã (Maria) é fruto da maledicência[3] cometida por ela e por Aarão. Contudo, apenas ela ficou marcada, posto que é a representante do corpo “animado” pelo princípio representado por Aarão[4]. Assim, a tzaraat é uma marca corporal que destaca para os olhos[5] que uma mácula existe ali, decorrente de um desvio do caminho reto.


Neste sentido, verificamos que, aquele que se aproxima de Jesus, é alguém dotado de grande poder espiritual, mas que, pelas forças do seu adversário interno, acabou caindo no erro. Em outras palavras, é alguém que já ultrapassou o Véu de Nephesch, mas ainda não o de Paroketh. Contudo, apesar de ter “caído”, busca Yahweh, representado na figura de Jesus, a fim de obter a sua redenção[6], prostrando-se de joelhos.


1 Reis 8 : 52-56


‘Que teus olhos estejam abertos para súplica de teu servo e de teu povo Israel, para ouvires todos os apelos que lançarem a ti. Pois foste tu que os separaste como tua herança[7], dentre todos os povos da terra[8], como declaraste por meio de teu servo Moshé, quando fizeste sair do Egito nossos pais, senhor Yahweh’. Quando Salomão acabou de dirigir a Yahweh toda essa prece e essa súplica, levantou-se do lugar onde estava ajoelhado, de mãos erguidas para o céu, diante do altar de Yahweh e pôs-se de pé. Abençoou em alta voz toda a assembleia de Israel, dizendo: ‘Bendito seja Yahweh, que concedeu o repouso a seu povo Israel, conforme todas as suas promessas; de todas as boas palavras que disse por meio de seu servo Moshé, nenhuma falhou!’


A atitude daquele que se encontra marcado pela tzaraat, remete a oração feita por Salomão em prol de Israel. Assim, como as mãos de Salomão se encontravam erguidas para o céu, aquele, que estava marcado, pede a Jesus (Tipheret), que se encontra no Céu (Briah, o Mundo da Criação).


Apesar da sua postura redentora, o marcado pela tzaraat demonstra ainda guardar consigo os ensinamentos que adquiriu anteriormente, pois pede que a confirmação da sua redenção não decorra do seu próprio querer, mas do querer de Jesus. Em outras palavras, ele sabe que, apesar de ter realizado ações redentoras, quem decide sobre a redenção não é ele, mas Yahweh.


Aqui também cabe destacar um detalhe do texto em koiné. A palavra utilizada para designar a vontade de Jesus, enquanto servo de Yahweh, é thélis (θέλῃς), que significa “você quer”. Ela deriva da expressão Thelema (θέλημα), que é uma palavra complexa e de múltiplos significados: “disposição; vontade; desejo; ter vontade ou capacidade de; poder; estar disposto a; consentir em; ser disposto por natureza; ser habitual; amar alguém; comprazer-se em”. E, na Bíblia, Thelema está vinculada à Vontade de Yahweh.


Mateus 6 : 9-10


Portanto, orai desta maneira: Pai nosso que estás nos Céus, santificado seja o teu Nome, venha o teu Reino, seja feita a tua vontade (θέλημα) na terra, como no céu.


Assim, entendemos que, se o nosso querer se encontrar em sintonia com a Vontade de Yahweh, tudo pode ser criado, formado e feito[9]. E, por isso, o marcado pela tzaraat solicita que seja feita a Vontade de Yahweh e não a sua.


(41) E tendo as entranhas revolvidas, estendia a mão, tocou-o e diz a ele: “Quero, sê purificado”[10].

A condição experimentada por Jesus pode causar certa estranheza e, em algumas traduções, encontra-se a expressão “irado”, alguns usam a expressão “comovido”, contudo, a palavra utilizada em koiné é splanchnistheís (σπλαγχνισθεὶς), que significa “eviscerado”. A sua aplicação no versículo em análise nos revela que, diante do pedido feito, por aquele que está marcado pela tzaraat, Jesus sentia como se as suas vísceras estivessem sendo retiradas.


Apesar de, inicialmente, parecer estranha esta sensação experimentada por Jesus, ela faz referência a uma passagem no Livro de Isaías:


Isaías 53 : 10-11


Mas Yahweh quis esmagá-lo pelo sofrimento. Porém, se ele oferece a sua vida como sacrifício expiatório, certamente verá uma descendência, prolongará seus dias, e por meio dele o desígnio de Yahweh triunfará. Após o trabalho fatigante da sua alma, verá a luz e se fartará. Pelo seu conhecimento, o justo, meu Servo, justificará a muitos e levará sobre si as suas transgressões.


Pelo transcrito trecho, verificamos que, uma vez que aquele que se desviou do caminho, ofereceu-se em sacrifício expiatório, tendo cansado a sua alma (Nephesch), ele conseguirá ver à Luz. Porém, para que isso aconteça, o servo de Yahweh, isto é, aquele que representa a sua ação projetada, sentirá em si as transgressões daquele que está para ser purificado.


Assim, como a tzaraat recai sobre aqueles que já avançaram no caminho espiritual[11], isso revela que o suplicante já ultrapassou o Véu de Nephesch[12], mas ainda não o de Paroketh[13], localizando-o no Mundo Formativo (Yetzirah). Essa localização faz referência ao abdome do Adam Kadmon[14], representado pela letra Mem (מ). Por isso que, na condição de representante do Adam Kadmon, Jesus sente que as suas vísceras reviraram, sinalizando que é da Vontade de Yahweh que as marcas da tzaraat sejam limpas (καθαρίθητι)[15], “quero, sê purificado” [thélo, katharíthiti (θέλω, καθαρίθητι)].


Uma vez que é a Sua Vontade, Jesus o toca, isto é, na condição de Ruach, ele interpenetra aquele corpo, animando-o[16] e, consequentemente, tornando-o puro.


(42) E logo foi embora dele a lepra e purificou-se.

Uma vez recebendo o toque de Jesus, representando a expressão da Sua Vontade, o corpo marcado pela tzaraat é limpo, retornando a sua condição anterior de espiritualidade e permitindo que ele possa ser reintegrado à comunidade (Números 12:9-16), realizando as suas atribuições (Lucas 15-11-32).


(43) E, fremente, logo o pôs para fora[17]

Novamente, o comportamento físico atribuído a Jesus gera, em uma leitura casual, certa estranheza. A expressão em português “fremente” denota “agitação”, sendo um dos significados contidos da palavra, em koiné[18], emvrimisámenos (ἐμβριμησάμενος) que é utilizada no texto bíblico. Em algumas traduções bíblicas, encontramos o uso de outro significado, “advertindo-o severamente”, mas que também denota uma sensação de agitação e urgência transmitida pela autoridade.


Este comportamento agitado, adotado por Jesus para colocar aquele que havia sido limpo para fora, transpassa a urgência de colocar aquele que foi limpo em condições para retornar a sua missão, posto que “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho[19]”


Lucas 15 : 22-24


Falou então o pai aos seus escravos: ‘Rápido, buscai túnica de primeira e vesti-o, e dai anel para a mão dele e sandálias para os pés. E levai o vitelo cevado, sacrificai, e, comendo, nos deliciarmos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado’. E começaram a deliciar.


Tal qual o filho pródigo que havia deixado a casa do pai e regressou, após estar com os porcos, o “leproso” havia sido limpo e, portanto, estava retornando a casa de Yahweh, sendo reencontrado, após estar perdido.


(44) e disse a ele: “Vê que não fales nada a ninguém, mas vai. Mostra-te ao sacerdote e apresenta pela tua purificação as coisas que comandou Moshé em testemunho a eles”.

O versículo tem início com uma advertência dada por Jesus “não fales nada a ninguém, mas vai”. Apesar de muitos comentarem sobre a importância do trabalho silencioso, desprovido de interesse próprio[20], a advertência se aplica, principalmente, como um alerta para que aquele indivíduo que acabou de ser curado da tzaraat não venha a cometer o mesmo erro, a prática da maledicência[21].


João 8 : 10-11


Tendo-se endireitado, então Jesus falou a ela: ‘Mulher, onde estão? Ninguém te condenou?’ Ela então falou: ‘Ninguém, Senhor’. Falou então Jesus: ‘Nem eu te condeno. Vai e a partir de agora não mais erres’.


A transcrita passagem, que integra do Evangelho segundo João, nos revela o mesmo conselho: uma vez perdoado o seu desvio, segue adiante e não tropeces mais[22]. Contudo, a passagem também nos revela algo a mais a respeito da conduta do próprio Jesus.


O trecho se inicia com a descrição de que Jesus tinha acabado de se endireitar, e que, em algumas traduções, comenta sobre ele ficando em pé, posto que tinha se abaixado para escrever na terra. Por se tratar de um texto esotérico, compreendemos que a sua mensagem foge da simples literalidade e, por isso, entendemos que Jesus sinaliza que, até “pouco tempo atrás”, ele também havia se desviado do caminho, mas que agora ele andava na retidão[23]. Ademais, em trecho anterior, ele instiga a multidão a revelar quem jamais havia errado e, em função dessa condição, poderia julgá-la. Como no passado, ele também tropeçou, ele se afasta de julgá-la, pois, ao abaixar-se e tocar a terra, ele se recorda do seu caminho até ter conseguido atravessar o Véu de Paroketh.


Deste modo, tendo em mente que o tropeço faz parte da jornada e que ele próprio, em sua vida pretérita, havia tropeçado, ele não poderia condenar o tropeço alheio. Então, a única coisa que lhe cabia fazer é orientar para que a pessoa redimida não volte a cometer o mesmo tropeço.


Feita a advertência, Jesus determina que a pessoa, que foi limpa da tzaraat, siga os ritos determinados por Yahweh a Moshé (Levítico 14:1-20). Essa orientação reforça a ideia de que, Jesus, como servo de Yahweh, não pode quebrar as suas Leis[24], mas deve aplicá-las com exatidão. Ademais, a orientação dada a Moshé sobre o rito de purificação, visa, dentre outras coisas, permitir que aquele que foi redimido, possa ser reinserido à comunidade.


Outrossim, o rito demonstra, simbolicamente, uma série de ensinamentos. O primeiro, está vinculado ao uso de 2 (duas) aves[25], no qual uma será sacrificada, enquanto a outra será solta após banhar-se no sangue sacrificial da primeira. Isto é, como a tzaraat é uma marca associada a maledicência de alguém que já estava mais avançado na senda espiritual, uma ave deveria ser sacrificada, demonstrando a sua queda. Porém, o seu sangue[26], a sua energia vital, a sua experiência, deveria cobrir uma nova ave, que seria liberta para retornar ao seu mundo, demonstrando que aquele que caiu, aprendeu com o tropeço e agora poderá voltar a senda da retidão.


Levítico 17 : 11-12


Porque a vida da carne está no sangue[27]. E este sangue eu vo-lo tenho dado para fazer o rito de expiação sobre o altar, pelas vossas vidas; pois é o sangue que faz a expiação pela vida. Esta é a razão pela qual eu disse aos israelitas: ‘Nenhum dentre vós comerá sangue, e o estrangeiro que habita no meio de vós também não comerá sangue.’.


O ritual também envolve a limpeza das roupas, simbolizando a purificação do corpo, e a raspagem dos seus pelos, representando tanto a demonstração de que não há nenhuma marca no corpo, quanto ter de iniciar o processo de usar o tzitzit[28], que indica que ele está recomeçando e, por isso, deverá ainda cumprir as mitzvot[29]. Essa etapa dura 7 (sete) dias e, no oitavo dia, há o sacrifício de 2 (dois) novilhos, que ratifica o status sacerdotal daquele que foi marcado pela tzaraat, conforme se verifica em trecho anterior do Levítico:


Levítico 4 : 2-4


Esta é a lei se um indivíduo comete um pecado inadvertidamente, violando qualquer um dos mandamentos proibitórios[30] de Yahweh. Se o sacerdote ungido[31] comete uma violação, trazendo culpa a seu povo, o sacrifício para sua violação será um novilho sem defeito como uma oferenda pelo seu pecado à Yahweh. Ele trará o novilho diante de Yahweh à entrada da Tenda da Comunhão


Contudo, diferentemente da “regra geral” sobre a violação por um sacerdote que requer a imolação de 1 (um) novilho[32], no caso da purificação referente a tzaraat, há a necessidade de 2 (dois), de maneira similar ao que acontece com os pássaros.


Um ponto que podemos destacar neste ritual de purificação, é que, diferentemente de outros rituais visando purificar um sacerdote, em que o próprio pode realizar (Levítico 4:2-4), a ritualista da limpeza no caso da tzaraat demanda que outro sacerdote a conduza. Este ponto é importante para se traçar um paralelo com os atos praticados por Jesus no processo de purificação daquele que estava marcado pela tzaraat.


Além de ter sido o responsável por atestar que aquele sacerdote, que havia utilizado da fala levianamente, estava limpo, destacamos a presença do termo vehenyf (והןיף) no texto da Torá (Levítico 14:12[33]). Apesar de em algumas traduções do hebraico, a expressão seja apresentada como “elevação” ou “gesto (ritual) de apresentação”, o seu significado está associado ao ato de agitar de um lado para o outro, vinculado ao sacrifício de culpa ou oferenda pelo pecado ou oferenda de paz, o que nos remete a expressão emvrimisámenos (ἐμβριμησάμενος ), contida no versículo 43, e a sparássô (σπαρἀσσω), contida no versículo 26, nos tópicos O novo João Batista e O 5º Dia, respectivamente.


(45) Ele, porém, tendo saído, começou a apregoar muito e a propagar a palavra a ponto de ele não mais poder entrar na cidade manifestamente, mas ficava fora, em lugares desertos. E iam a ele de toda parte[34].

Este versículo é importante porque nos mostra o que o “sacerdote” fazia antes de ficar marcado pela tzaraat. Ao ser purificado, ele começa a fazer uso da palavra para proclamar as designações de Yahweh, significando que, anteriormente, era justamente isso o que ele fazia, isto é, ele era um nabi (ןביא)[35], um profeta, alguém que cumpre a função de ser a boca de Yahweh:


Deuteronômio 18 : 17-19


E Yahweh me disse: ‘Eles falam bem. Eu farei surgir um profeta [nabi (נביא)] para eles dentre seus irmãos, assim como tu. Eu colocarei Minha palavra em sua boca, e ele lhes declarará tudo que Eu lhe ordeno. Se alguma pessoa não ouvir a palavra que ele declara em Meu nome, Eu punirei (essa pessoa). Ao contrário, se um profeta presunçosamente faz uma declaração em Meu nome, quando Eu não lhe ordenei fazê-lo, ou se ele fala em nome de outros deuses, então esse profeta deverá ser morto[36].


Uma vez que ele se encontra limpo, deve voltar a fazer exatamente o que fazia antes de sua queda, proclamar a mensagem de Yahweh. Contudo, justamente por propagar a palavra em todos os seus momentos, tal como aconteceu com o profeta Elias (1 Reis 19), ele teve de se refugiar no deserto a fim de continuar a cumpri os desígnios de Yahweh[37], posto que se encontrava limpo da tzaraat e estava disposto a não tropeçar mais.


E, no deserto, continuou a proferir a palavra, o que fez com que pessoas de toda a parte fossem ao seu encontro para ouvir a palavra. Com essa informação, podemos traçar um paralelo com um trecho do Livro de Isaías, referente ao próprio Isaías, e um do Evangelho segundo João:


Isaías 40 : 1-3


‘Consolai, consolai meu povo, diz vosso Deus, falai ao coração[38] de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz que seu serviço está cumprido, que sua iniquidade foi expirada, que ela recebeu da mão de Yahweh paga dobrada por todos os seus pecados’. Uma voz clama: ‘No deserto, abri um caminho para Yahweh; na estepe, aplainai uma vereda para o nosso Deus’.


João 1 : 19-23


E este é o testemunho de João, quando expediram a ele os judeus de Jerusalém sacerdotes e levitas para que perguntassem a ele: ‘Tu quem és?’ E confessou e não negou. E confessou: ‘Não sou o ungido’. E perguntaram-lhe: ‘O que, portanto? Tu és Elias?’ E diz: ‘Não sou’. ‘O profeta és tu?’ E respondeu: ‘Não’. Falaram, portanto, a ele: ‘Quem és? Para que uma resposta damos aos que nos enviaram. Que dizes sobre ti mesmo?’ Afirmava: ‘Eu: voz que clama no deserto, Endireitai o caminho do senhor, segundo falou Isaías, o profeta’.


Entendo esse processo de purificação de que o profeta passou, de ficar diante de Jesus para ser purificado e, depois, de realizar o seu batismo, compreendemos um dos significados da passagem existente no Evangelho segundo João:


João 1 : 15


João testemunha sobre ele e apregoou dizendo: ‘Esse era quem eu falava: o que atrás de mim vem, à minha frente ficou, porque primeiro do que eu era’.


Esse trecho do Evangelho segundo João costuma gerar confusão justamente pela busca de um pensamento pautado numa linearidade temporal, o que tornaria, praticamente, impossível o Jesus vir antes e, ao mesmo tempo, depois de João Batista. Contudo, quando compreendemos que os Evangelhos seguem a métrica da Torá, na qual ciclos se repetem continuamente, onde o Shabat representa, ao mesmo tempo, o término de um período de 6 (seis) dias simbólicos e o início de outros 6 (seis) dias simbólicos, conseguimos entender não apenas a passagem, mas todo o Evangelho e além.


Apocalipse 1 : 8


Eu sou o Alfa e o Ômega, Diz o Supremo [kýrios (Κύριος)], “Aquele-que-é, Aquele-que-era e Aquele-que-vem”, o Todo-poderoso[39].


A declaração da divindade como sendo o alfa (α) e o ômega (ω) indica que tudo começa nela[40], ao mesmo passo que tudo se encerra nela. Isto é, todos os ciclos têm início e fim na própria divindade. Cada dia um (Yom Rishon) é o primeiro dia após um Shabat, da mesma maneira que cada Shabat também é o dia sete após o Shabat anterior[41].


Desta forma, entendemos que o “leproso” que foi limpo por Jesus é, na verdade, João Batista. E João Batista é, na verdade, aquela parte de nós que nos batiza no micvê[42], fazendo com que a gente ultrapasse o Véu de Nephesch[43], mas que também é purificada pela nossa ação cristônica a fim de se encontrar apta a purificar aqueles que vem depois, que surjam como um broto novo (Nazareth[44]).


E, como João Batista já se encontra limpo, pregando no deserto, desde o seu (re)nascimento[45], será possível que Jesus venha e diga: “Completou-se a ocasião e está à mão o reinado de Deus. Mudai de mente e confia no bom anúncio” (Marcos 1:15), porque é Shabat, o dia que Yahweh (IAÔ) cessou a sua ação criativa-criadora e o santificou[46].


 


 NOTAS:


[1] Mateus 18:7 “Ai do mundo por causa dos tropeços. Pois necessidade vir os tropeços, só que: ai do homem através de quem vem o tropeço”.


[2] Lucas 12:47-48 “Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor, mas não se preparou e não agiu conforme sua vontade, será açoitado muitas vezes. Todavia, aquele que não a conheceu e tiver feito coisas dignas de chicotadas, será açoitado poucas vezes. Àquele a quem muito se deu, muito será pedido, e a quem muito se houver confiado, mais será reclamado”.


[3] Aarão e Miriã falam mal da esposa que Moshé havia tomado para si. Por isso, há o vínculo da tzaraat com a prática da maledicência, do uso da fala para difamar alguém. É importante lembrar que a “fala” é o atributo divino que representa a ação criativa-criadora, então, quando uma pessoa faz uso da fala para o mal, o seu corpo fica marcado pela tzaraat para que todos possam ver o que fez.


[4] Vide comentários ao tópico “O 6º Dia”, que contém os versículos de 29 a 31.


[5] Vide explicação sobre a ayin (ע) no comentário introdutório do tópico O 5º Dia, que é formado pelos versículos de 21 a 28.


[6] Vide comentários sobre Tsadic no versículo 36 deste capítulo.


[7] Vide comentários ao O 6º Dia.


[8] Embora costume ser verificada como uma separação entre Israel e outras culturas, a referência deve ser compreendida como sendo a distinção entre Adam, quanto humanidade, e as demais criaturas que habitam o Mundo de Assiah.


[9] Vide comentários ao versículo 31.


[10] καὶ σπλαγχνισθεὶς ἐκτείνας τὴν χεῑρα αὺτοῦ ᾕψατο καὶ λέγει αὺτᾧ. θέλω, καθαρίθητι


[11] Vide comentários do versículo 40 deste capítulo.


[12] Vide tópico O Batismo de Jesus – o Véu de Nephesch, que aborda os versículos de 9 a 11.


[13] Vide tópico Tentação de Jesus – o Véu de Paroketh, que aborda os versículos 12 e 13.


[14] Vide comentários ao versículo 8.


[15] Mateus 10:8 “Fracos tratai, mortos levantai, leprosos (quem tem tzaraat) limpai, demônios ponde para fora. Em dom recebeste, em dom dai (δωρεὰν ὲλάβετε, δωρεὰν δότε)”.


[16] Vide comentários do versículo 8.


[17] καὶ ἐμβριμησάμενος αὺτῷ εὐθὺς ἐξέβαλεν αὐτὸν


[18] Os outros significados em koiné incluem “fazer censuras violentas a; reprovar duramente”. Etimologicamente, a palavra deriva de βριθύς, que significa “estar pesado; ter peso (no sentido de autoridade); superar”.


[19] Vide comentários ao versículo 15.


[20] Mateus 6:3-4 “Tu, porém, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que tua esmola fique em segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará”. Dentro da tradição judaica, a mão esquerda é a mão utilizada para receber alguma coisa, enquanto a direita é utilizada para entregar. Assim, a recomendação feita por Jesus e contida na passagem transmite o ensinamento de que devemos fazer o certo pelo certo e não aguardando uma recompensa pela ação feita.


[21] Vide comentários ao versículo 40.


[22] Mateus 18:7 “Ai do mundo por causa dos tropeços. Pois necessidade vir os tropeços, só que: ai do homem através de quem vem o tropeço”.


[23] Vide comentários ao tópico O Evangelho de Jesus.


[24] Mateus 5:17 “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento”.


[25] Vide comentário introdutório ao tópico O 5º Dia, referente aos versículos de 21 a 28.


[26] A ave deve ser imolada e o seu sangue deve ser recolhido em um vaso de barro (simbolizando um novo corpo), em um micvê (vide comentários sobre o versículo 4 deste capítulo). Além do pássaro, também se utiliza um hissopo (uma planta herbácea utilizada nos rituais de purificação pela sua característica de absorver a água, e que era utilizada como aspersório); um pedaço de cedro (vide Salmos 92:12; Salmos 104:16; Isaías 14:8; Jeremias 22:23; Ezequiel 27:5); e um pouco de lã escarlate (vide Isaías 1:18).


[27] O sangue, além de dar a vitalidade para o corpo, também é considerado o responsável pela natureza animal do homem.


[28] Vide comentários ao versículo 6.


[29] A raspagem dentro do simbolismo do uso do tzitzit também é uma forma de deixar a pessoa simbolicamente nua, isto é, ela revela como ela está de fato, sem a possibilidade de esconder uma marca com uma mitzvá (מצוה).


[30] Em toda a Torá, existem 2 (dois) tipos de obrigações impostas por Yahweh: as de natureza positiva, isto é, que determinam o que se deve fazer, a exemplo do 5º mandamento, “Honra teu pai e tua mãe. Tu viverás longamente na terra que Yahweh Elohim está te dando” (Êxodo 20:12); e as de natureza negativa, isto é, que determinam o que não se deve fazer, a exemplo do 9º mandamento, “não atestes como falsa testemunha contra o teu próximo” (Êxodo 20:13). Destacamos que a maledicência (causa da tzaraat), nada mais é, do que uma prática vinculada a violação de uma obrigação negativa contida no 9º mandamento.


[31] Vide Êxodo 29 e Êxodo 30:30.


[32] Vide Hebreus 9:12.


[33] ולקח הכהן את־הכבש האחד והקריב אתו לאשם ואת־לג השמך והניף אתם תנופה לפני יהוה


[34] Ό δὲ ἐξελθὼν ἤρξατο κηρύσσειν πολλὰ καὶ διαφημίζειν τὸν λόγον, ὤστε μηκέτι αὐτὸν δύνασθαι φανερῶς εἰς πόλιν εἰσελθεῖν, ἀλλʹ ἔξω ἐπʹ ἐρήμοις τόποις ἦν. καὶ ἤρχοντο πρὸς αὐτὸν πάντοθεν.


[35] A junção da letra Nun (ן) com Bet (ב) transmite a ideia de um buraco, um lugar vazio por onde passa a mensagem [Yod (י)] de Yahweh [Aleph (א)]


[36] No final da passagem, Yahweh explica o que deve acontecer com o profeta que não fala exatamente o que Ele determina. Contudo, isso não significa necessariamente que a comunidade irá matar o antigo profeta imediatamente, uma forma de se matar alguém é, justamente, o retirando da comunidade, segregando-o, mesmo procedimento adotado para aqueles que possuem tzaraat.


[37] Em algumas traduções, é feita a referência de que foi Jesus que teve de buscar exílio no deserto. Contudo, no texto em koiné não há qualquer indicativo deste fato. A atribuição a Jesus do exílio decorre, basicamente, de dois fatores. O primeiro, vinculado ao início do capítulo seguinte, no qual informa que Jesus havia voltado a Cafarnaum; e o segundo está associado ao fato de que o “leproso” costuma ser tratado com um personagem anônimo e de pouca importância, relegado ao papel de demonstrar o poder curativo de Jesus, desconsiderando todas as referências que foram abordadas neste tópico, O novo João Batista.


[38] Importante destacarmos que, enquanto, atualmente, o coração é a sede simbólica das emoções, dentro da cultura judaica antiga, o coração é a sede do pensamento, onde se cria o raciocínio. Enquanto a emoção está ligada à alma (Nephesch).


[39] ἐγώ εἰμί α καί Ω λέγω κύριος ὁ ὅ ὤν ὁ ἦν ὅ ὤν καί ὁ ὅ ὤν ἔρχομαι ὅ ὤν παντοκράτωρ.


[40] Em koiné, quando se faz referência direta a própria divindade transmitindo a ideia Dela ser o Alfa e o Ômega, encontramos a inscrição: ιαω (iota, alfa e ômega), que se pronuncia IAÔ. Esta utilização nos textos em koiné são encontradas em algumas versões da Torá no lugar da expressão YHWH (יהוה). No texto denominado Pistis Sophia, há uma passagem na qual Jesus se volta para os quatro cantos do mundo, juntamente com os seus discípulos, e diz: IAÔ. A utilização do iota (ι) designa o fato de o universo ter “brotado”, ao passo que o alfa (α) indica que esse “brotar” é o seu início, enquanto o ômega (ω) indica que ele também é a sua conclusão. Assim, em koiné, o tetragrammaton é escrito com 3 (três) letras: IAÔ (ΙΑΩ ou ιαω). O iôta (ι), na numerologia do koiné, tem valor igual à 10 (dez), o mesmo que o yod (י) hebraico. Além disso, em um dos seus significados, também pode ser utilizado como nominativo do pronome reflexivo de 3ª pessoa, onde significa “si mesmo”. O alfa (α), na numerologia em koiné, tem valor igual à 1 (um) ou indica o primeiro. Além disso, pode ser utilizado para designar o pronome relativo ὅς, que, por sua vez, refere-se a um antecedente expresso ou não, e tem significado de “o qual” ou “a qual”. Enquanto o omega (ω), a última letra do alfabeto grego, possui valor numérico de 800 (oitocentos), além de, em função dativa singular poética do pronome possessivo. transmitir a ideia do pronome reflexivo de 1ª ou 2ª pessoa do singular ou plural, ἑος, que significa “meu”, “minha”, “nosso”, “nossa”, “teu”, “tua”, “vossa”, “vosso”. Desta forma, IAÔ (ΙΑΩ ou ιαω) significa “aquele que é o primeiro e o último” ou “si mesmo o qual o meu”.


[41] Gênesis 2:24 “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”. Vide comentários sobre o versículo 30 deste capítulo.


[42] Vide comentários ao tópico João Batista, que contém os versículos de 4 a 8.


[43] Vide comentários ao tópico O Batismo de Jesus – Véu de Nephesch, que contém os versículos de 9 a 11.


[44] Vide comentários ao versículo 9.


[45] Lucas 1:64-65 “Reabrindo-se então a sua boca imediatamente e a sua língua e falou elogiando Deus E deu medo em todos os que moram em volta deles. E em toda a região montanhosa da Judeia falava-se de todos esses declaros.”. Uma vez que foi devidamente purificado, João Batista não nasce mais na Galileia (vide comentários ao versículo 9), mas na Judeia [Yehuda (יהודה), que significa “louvor”].


[46] Vide comentários ao versículo 36.