sábado, 3 de março de 2018

Alquimia Pedra Filosofal


A Alquimia surgiu provavelmente no Egito, como sugere a raiz grega do nome (khemia = transmutação, fusão, mistura) e corresponde ao nome copta do Egito (Khem = terra negra), segundo Plutarco. Alguns estudioso indicam que a palavra está relacionado com o vocábulo grego “chyma”, que se relaciona com a fundição de metais. Os árabes, que invadiram o Egito em 640 d.C., incorporaram esse vocábulo na forma Al-Kimiya (transformação através de Alah). Associada ao culto do deus Thoth, que se tornou Hermes na Grécia Antiga e Mercúrio, em Roma, foi atribuída aos anjos pelas lendas cristãs, narrando que os mesmos teriam ensinado os segredos da natureza a alguns homens ao apaixonarem-se pelas mulheres terrenas. Possui três objetivos: transmutar metais inferiores em ouro; fabricar o Elixir da Longa Vida; e a criação de vida humana artificial a partir de materiais inanimados (homúnculos). 

O conceito do homúnculo (do latim, homúnculos, pequeno homem) parece ter sido usado pela primeira vez pelo alquimista Paracelso (pseudônimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, (1493 – 1541) - esse pseudônimo significa “superior a Celso", médico romano) para designar uma criatura que tinha cerca de 12 polegadas de altura e que, segundo ele, poderia ser criada por meio de sêmen humano posto em uma retorta hermeticamente fechada e aquecida em esterco de cavalo durante 40 dias. Então, segundo ele, se formaria o embrião. Outro Alquimista famoso que tentou criar homúnculos foi Johanned Konrad Dippel, que utilizava técnicas bizarras como fecundar ovos de galinha com sêmen humano e tapar o orifício com sangue de menstruação. No entanto, também é possível que o homúnculo seja uma alegoria, uma interpretação demasiado literal das imagens alquímicas referentes à criação.

O trabalho relacionado com a Pedra Filosofal era chamado por eles de “A Grande Obra”, pois narra-se que era um objeto que poderia aproximar o homem de Deus. A Pedra Filosofal (ou Mercúrio dos Filósofos, como também era chamada) era o principal objetivo dos alquimistas ocidentais - e é inexistente na Alquimia Chinesa, pois poderia não só efetuar a transmutação, mas também elaborar o Elixir da Longa Vida, uma panaceia universal que prolongaria a vida indefinidamente. Isto demonstra as preocupações dos alquimistas com a saúde e a medicina, muitos dos quais são de fato considerados precursores da moderna medicina, entre eles Paracelso. Segundo a descrição de centenas de manuscritos antigos e livros modernos, a Pedra Filosofal não é uma substância sólida, mas uma substância composta, que podia ser quase líquida ou gel. A descrição mais comum é um pó pesado e vermelho, às vezes uma pedra vermelha. Mas também podia ser um material ceroso amarelo, algo como o âmbar. uma substância mística que amplifica os poderes de um alquimista. A busca pela Pedra Filosofal é, em certo sentido, semelhante à busca pelo Santo Graal das lendas arturianas. Segundo os alquimistas europeus, o Elixir da Longa Vida poderia ser sintetizado por meio da Pedra Filosofal. Também segundo eles, o elixir poderia prolongar a vida somente até que um acidente os matasse, ou seja, não é um elixir da imortalidade.

Na concepção alquímica, o Universo originou-se de uma substância única, indiferenciada (matéria prima ou quintessência, que é o que ela tem de comum com a moderna cosmologia, que se sustenta na Física Quântica e sua Teoria das Membranas), a qual polarizou-se em princípios ativo e passivo, derivando daí o mundo manifesto. Este azoth (luz astral de correlação imediata com a fonte) alquímico corresponde ao conceito ocultista da luz astral (o mesmo veículo ao qual se referem os médiuns que lidam com cura espiritual ou materializações e que também encontra suporte no desconhecimento de 95% da matéria que compõe o Universo que nos cerca, sendo essa matéria desconhecida chamada de Matéria Escura).

A Alquimia nasceu como uma ciência natural que buscava a compreensão da própria natureza a partir de uma especulação filosófica, como se pode ver já na filosofia pré-socrática no século VI a.C. É dela que surge o conceito de prima matéria, a partir da crença de que o mundo tinha origem em uma única substância que era subdividida nos quatro elementos terra, ar, fogo e água, os quais, segundo diferentes recomposições, faziam surgir todos os objetos físicos existentes no universo.

"A Arte imita a Natureza", diz o lema alquímico.

O trabalho dos alquimistas em seu laboratório era acelerar ou fazer, dentro de condições controladas  (laboratoriais), aquilo que a natureza demoraria anos para fazer. Os alquimistas trabalhavam em seus fornos, com vasos semelhantes a úteros, lidando com o fogo, com o calor adequado a cada operação. Registravam, passo-a-passo, os procedimentos, mas os ingredientes são desconhecidos. Os “verdadeiros” alquimistas não divulgam seu sucesso, a não ser por pseudônimo, por receio de serem torturados para revelar o segredo; até porque durante a Idade Média muitos alquimistas foram julgados pela Inquisição e condenados à fogueira sob alegação de pacto com o diabo. Por isto, até os dias de hoje, o enxofre, material usado pelos alquimistas, é associado ao demônio.

É reconhecido que, apesar de não ter caráter científico, a Alquimia medieval foi uma fase importante na qual se desenvolveram muitos dos procedimentos e conhecimentos que mais tarde foram utilizados pela Química. Diversas novas substâncias foram descobertas. A obsessão pela transmutação levou ao desenvolvimento da mineração e da metalurgia, e essas artes, originalmente sagradas, desencadearam uma revolução científica e tecnológica que não apenas alterou o nosso modo de viver e de pensar como modificou todo o rumo tomado pela evolução.

Entretanto, com o florescimento do conhecimento científico, constatou-se que a transmutação alquímica, conforme defendida pelos alquimistas, é impossível. Sabe-se que a transmutação implica na alteração dos núcleos atômicos e estes se encontram fortemente unidos, e a energia envolvidas nas reações químicas são insuficientes para rompê-los ou alterá-los. Ironia do destino, o desejo dos alquimistas de transmutar os metais tornou-se realidade nos nossos dias com a fissão e a fusão nuclear.

Podemos dividir a história da Alquimia em dois movimentos independentes: a Alquimia Chinesa e a Alquimia Ocidental, esta última desenvolvendo-se ao longo do tempo no Egito (em especial Alexandria), Mesopotâmia, Grécia, Roma, Índia, Mundo Islâmico e Europa. Na cidade de Alexandria, no Egito, a alquimia recebeu influência das filosofias gregas de Aristóteles e do neoplatonismo. Foi graças às campanhas de Alexandre, o Grande, que a Alquimia se disseminou em todo o oriente. E foram os muçulmanos que a levaram novamente para a Europa, em razão da conquista Islâmica da Península Ibérica, ao redor do ano de 950 d.C.. Além de na Alquimia medieval estarem vários traços da cultura muçulmana, está também presente traços da cabala judaica, com a qual a possui forte relação. Todavia, os primeiros registros escritos datam do tempo de Cristo, mas apontam que já eram velhos os sistemas usados. Um dos primeiros é atribuído a Maria, a Judia, que datar entre 1 e 300 d.C. Esta sábia alquimista teria sido a responsável pela criação do processo conhecido como “banho Maria”.

São fáceis de achar textos judeus, egípcios e árabes sobre o assunto. Estudiosos europeus logo traduziram e tentaram a transmutação. Os filósofos do oriente médio, entre os séculos VI e VII afirmavam que alguns deles conheciam o segredo da fabricação da Pedra Filosofal, cujo processo era perigoso pois podia haver envenenamento por gás monóxido de carbono, uma vez que trabalhavam em ambientes fechados; ou ainda envenenamento por metais, como o mercúrio. Tais insucessos eram atribuídos aos espíritos malignos, que tentavam desviar o buscador de seu caminho.

Em muitos países a alquimia era uma arte proibida, pois poderia desestabilizar não só o país, mas o mundo, com uma quantidade muito grande de ouro e outros metais nobres. Ainda assim, existia uma exceção: o alquimista real. O que se sabe é que esteve em evidência nos séculos XVI e XVII, quando atingiu o seu desenvolvimento completo, graças em grande parte ao trabalho de Paracelso e seus alunos. O auge da alquimia ocidental durou cerca de 300 anos. Dessa forma o século XVIII marca o desaparecimento da Alquimia já que o seu “método de explicação: “obscurum per obscurius, ignotum per ignotius” (obscuro pelo mais obscuro e o desconhecido pelo mais desconhecido), era incompatível com o espírito do iluminismo e particularmente com o alvorecer da ciência química, no final do século. Após a Renascença a Alquimia passou a ser chamar Química.

Já a Alquimia chinesa está associada ao Taoismo e parece ter evoluído quase ao mesmo tempo em Alexandria ou na Grécia. Há um mito que diz que a Alquimia chinesa já era usada em 4.500 a.C., tendo dado origem ao Taoismo. Entretanto os textos alquímicos começaram a surgir somente na dinastia Tang, em torno de 600 a.C. O seu principal objetivo era fabricar o Elixir da Longa Vida (também chamado por eles de Elixir do Retorno, Pílula da Imortalidade), que segundo eles estava relacionado com fabricação do ouro, não havendo a Pedra Filosofal e o Homúnculos, que tratam-se de conceitos puramente ocidentais. As escritas dos antigos chineses citam a “Ilha dos Bem Aventurados“, a morada dos imortais. Também havia uma corrente de pensamento que dizia que o elixir era capaz, além de ceder a vida eterna, fazer o alquimista ir ao paraíso e viver com os imortais. Note-se que na China o ouro não possuía o mesmo valor que no Ocidente, não se trata de buscar o ouro alquímico com o objetivo de enriquecer, mas sim de se aperfeiçoar. É deste modo que o ouro fabricado possui muito mais importância por concentrar nele a sabedoria de sua produção, enquanto o ouro natural é considerado apenas matéria bruta, embora a mais perfeita da natureza.

Na filosofia védica da Índia ao redor do ano 1.000 a.C. também havia uma relação entre o ouro e a imortalidade, cuja ideia provavelmente foi adquirida dos gregos, quando Alexandre, o Grande invadiu a Índia no ano de 325 a.C. e teria procurado a fonte da juventude.

Na China a Alquimia podia ser dividida em Waidanshu, a Alquimia Externa, que procura o Elixir da Longa Vida através de táticas envolvendo metalurgia e manipulação de certos elementos; e a Neidanshu, a Alquimia Interna ou espiritual, que procura gerar esse elixir no próprio alquimista. A medicina tradicional chinesa herdou da Waidanshu as bases da farmacologia tradicional e da Neidanshu as partes relativas ao chi (pronuncia-se qi = energia). Muitos dos termos usados hoje na medicina chinesa provém da sua forma de Alquimia. Ainda assim a Alquimia chinesa não está diretamente ligada à metalurgia, talvez por necessitar de minérios ou pelo devagar desenvolvimento dessas técnicas na China. Esta prática possui características próprias e outras semelhantes à do ocidente, sendo que muito daquilo que sabemos sobre a Alquimia Chinesa encontra-se registrado no livro "O Segredo da Flor de Ouro".

Por sua vez, o livro alquímico chinês mais famoso é o Tan chin yao chüeh (“Grandes Segredos da Alquimia”), provavelmente escrito por Sun Ssu-miao, que viveu em torno de 581-673 d.C. A pólvora foi primeiramente descoberta por acidente por alquimistas chineses no século IX que procuravam pelo elixir. A partir do século X a Alquimia na China abdicou da preparação de ouro e centrou-se mais na espiritualidade. Em vez de fazerem experiências alquímicas com metais, a maioria dos alquimistas as faziam diretamente com seu corpo e espírito. Essa volta a uma ciência espiritual teve seu ápice no século XIII com as práticas da escola Zen e o Taoísmo Budista.

Simbolismo

De um modo geral, o processo alquímico é descrito de forma velada usando-se uma complicada simbologia que inclui símbolos astrológicos, animais e figuras enigmáticas. Os termos alquímicos, desde os mais simples até aos mais complicados, não podiam ser catalogados em um dicionário, pois eram usados com sentidos diferentes, até por uma mesma pessoa. A simbologia alquímica consiste em diversas alegorias e símbolos com diversas representações. Símbolos como animais, monstros mitológicos, ícones do cristianismo e cabala demais símbolos são usados para representar os processos químicos e a interação das substâncias para fins alquímicos tanto para representar as substâncias e elementos em si.

Talvez conhecido pelos antigos mesopotâmios (como os sumérios), foi muito considerado por Pitágoras que observou sua relação com o número aúreo. A maioria dos autores opina que o pentagrama foi primeiro conhecido e estudado pelos babilônios, e daí em diante pelos pitagóricos, devido a coincidente associação do pentágono regular com o cosmos e ordem divina. Eudemo de Rodas e Proclo mencionam que os pitagóricos apenas conheciam, das três figuras cósmicas, os poliedros regulares, desconhecendo o octaedro e o icosaedro. A explicação dada é que eles os conceberam da forma dos cristais naturais e que surgiram de uma dedução matemática, o que iria contra a herança babilônica. Desde então, ao mesmo tempo místico-mágico e científico, o pentáculo passou a ser usado na magia com sua ponta voltada para cima significando o ser humano (de fato, durante a Idade Média se esboçavam figuras humanas adequadas ao espaço de um pentáculo, como se verificou com Leonardo Da Vinci), cuja junção dos quatro elementos, em total comunhão, celebrariam o ápice espiritual.

Nonagrama, uma estrela de nove pontas utilizada como símbolo em diversas religiões. Muitas vezes é relacionada ao satanismo, porém, assim como o pentagrama e outros símbolos mágicos, de fato não o é. Símbolo de realização e de estabilidade, também pode ser relacionado ao sistemas de nove pontas, tal como o nove kanji taoista (centros psíquicos) que são semelhante ao chakras do Hinduísmo. Nove é o número de planetas conhecidos no sistema solar, e o número de deidades no Enéade do Egito antigo, que agruparam suas deidades de numerosos modos a partir do número três. 

Grandes Alquimistas

Nicholas Flamel: Nasceu em 1330, na França. A partir de 1380, começa a dedicar-se a experimentos alquímicos. Cerca de dez anos mais tarde ao início dos experimentos, ele teria conseguido transmutar metais em prata e ouro e inicia a realização de um grande número de obras de caridade como a construção de igrejas, hospitais, abrigos, decorando-os com pinturas e esculturas contendo símbolos alquímicos. Tanto ele como sua esposa gozavam de uma saúde invejável e não aparentavam a idade que tinham, segundo alguns devido aos conhecimentos alquímicos de Flamel. Conta a lenda, que após a sua morte, ladrões violaram o seu túmulo em busca de ouro, mas não encontraram nem ouro, nem o corpo de Flamel. É por isso que dizem que, além da pedra filosofal, ele descobriu também o elixir da longa vida, e que está vivo até hoje. 
Nostradamus ou Michel de Notre-Dame: Médico, alquimista e astrólogo. Nasceu em 14 de dezembro de 1503. Suas profecias ficaram tão conhecidas que chegam a ofuscar o restante de sua obra. Foi convidado por um alquimista, Julius César Scalinger, para conhecer suas pesquisas e permaneceu um tempo em sua casa. Acabou se casando com Marie Auberligne, grande estudiosa e auxiliar de Scalinger em seus experimentos. Foi nesta época que Nostradamus passou a aprofundar-se na Alquimia, utilizando a biblioteca escondida de Scalinger, porque nesse tempo era proibida qualquer prática alquímica. 
Paracelso: Nasceu em 17 de dezembro de 1493 na Suíça e tinha como princípio que a Pedra Filosofal da alquimia não devia ser somente para a procura do ouro e da prata, mas também de medicamentos para melhorar as condições de saúde do corpo humano, e assim, providenciar a forma de alcançar a vida eterna. Afirmava que “O homem não está na natureza; ele é da natureza.” 
Roger Bacon: Viveu em torno do ano 1250 e foi um dos mais sábios estudantes da Alquimia, realizando até mesmo transmutações de metais. Bacon trabalhou no Calendário Juliano, aperfeiçoou instrumentos de óptica, fabricou a pólvora e aproximou-se muito dos princípios que permitiram a fabricação de óculos e telescópios alguns anos mais tarde. Foi preso duas vezes, pois os Franciscanos não toleravam seus questionamentos.
Isaac Newton: Nasceu em 04 de janeiro de 1643, em Londres. Era alquimista, matemático e físico e foi um dos maiores gênios de todos os tempos. Desde pequeno já tinha uma enorme inteligência, resolvia problemas e criava engenhos. Sempre foi obstinado por seus livros e aos vinte e sete anos foi eleito Professor Titular de Matemática da Universidade de Cambridge. Nesta mesma época elaborou o cálculo infinitesimal. Publicou a obra Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, onde expunha sua teoria para a explicação do universo, baseada na atração da matéria. Acreditava que a Alquimia deveria permanecer secreta e por esse motivo nunca publicou os resultados de seus experimentos alquímicos. Deve-se a isto o fato de pouco se saber a respeito. Newton buscava na Alquimia encontrar a estrutura do microcosmo. Apesar de seus intensos estudos sobre o assunto, que duraram de 1668-1696, ele não conseguiu explicar as forças que governam os corpos pequenos. Em 1940, baseado nos manuscritos deixados por Newton, foi escrito o livro “Os Fundamentos da Alquimia de Newton". 
Postulados Alquímicos

A unidade do princípio material (matéria prima primordial);
Evolução da matéria (todos os elementos são radioativos, uns mais outros menos, de forma que ao longo de milhões de anos, mesmos os átomos considerados estáveis, sofrem transformações análogas à dos elementos instáveis);
Os elementos químicos representam estados de evolução (sendo o ouro o mais perfeito);
A transformação é o resultado de uma evolução natural ainda desconhecida do homem, a qual é possível reproduzir em laboratório, sendo este trabalho ao mesmo tempo espiritual e material (ora et labora = reza e trabalha; de onde vem a palavra “laboratório” = labor + oratório).

Segundo a filosofia alquímica e os princípios da magia, os sete metais planetários são os que mais acumulam spiritus de natureza análoga à “influência” planetária correspondente. Eles apresentam um ritmo energético oscilante, de acordo com a posição do astro a ele associado (é o “biorritmo” do metal). Como o próprio Hahnemann (fundador da Homeopatia) comprovou, as coisas que são de alguma maneira semelhantes na natureza de suas vibrações características têm afinidade entre si. Isto é conhecido como “Princípio das Correspondências ou Concordâncias”. Os Florais e a Homeopatia baseiam-se em princípios elementares da Alquimia Herbácea (alquimia vegetal, que compõe a “Pequena Circulação”, em contraposição à Alquimia Mineral ou “Grande Circulação”). Em ambos os casos, o princípio ativo é a quintessência dos elementos impregnada num catalisador (que no caso da aplicação vegetal pode ser água ou álcool, e na mineral geralmente um ácido).

Os alquimistas acreditavam que o mundo material é composto por matéria-prima sob várias formas, as primeiras dessas formas eram os quatro elementos (água, fogo, terra e ar), divididos em duas qualidades: úmido (que trabalhava principalmente com o orvalho), Seco, Frio ou Quente. As qualidades dos elementos e suas eminentes proporções determinavam a forma de um objeto, por isso, os alquimistas acreditavam ser possível a transmutação: transformar uma forma ou matéria em outra alterando as proporções dos elementos através dos processos de destilação, combustão, evaporação, etc.

Por outro lado, um grande número de alquimistas afirmava: “as vias usadas no processo são duas e as chamamos de seca e úmida (ou a do sábio e do filósofo)”. Uma é mais rápida do que a outra; no entanto, é muito mais arriscada. A via seca era sempre mais rápida, realizada no athanor (forno) aberto, com fogo direto, vivo e forte e numa espécie de panela que normalmente era chamada de ‘cadinho’. A via úmida era mais eficaz, porém mais lenta. Normalmente feita em um recipiente fechado que levava o nome de ‘retorta’ ou ‘pelicano’ e cozinhada em fogo brando por bastante tempo. O forno também era fechado e muito maior do que na via seca. A maioria dos escritores dividia a via úmida em quatro estágios principais, que por vezes, também ter significado espiritual, e os associava a cores e suas vibrações. Como não podia deixar de ser, os nomes eram em latim.

Nigredo: ou Operação Negra, é o estágio em que a matéria é dissolvida e putrefata (associada ao calor e ao fogo);
Albedo: ou Operação Branca, é o estágio em que substância é purificada;
Citrinitas: ou Operação Amarela, é o estágio em que opera-se a transmutação dos metais;
Rubedo: ou Operação Vermelha, é o estágio final.
Entre a Nigredo e o Albedo, há a fase da Cauda Pavonis (cauda do pavão ou arco-íris). Deve ser por Eisso que se diz que no fim do arco-íris está um pote de ouro. O problema é que nunca encontramos o fim do arco-íris, mas na maioria das vezes o caminhar é o verdadeiro tesouro. Os processos apresentam perigo real de explosão (algumas composições tratam-se de reações violentas, que se aproximam da pólvora), queimaduras (temperatura próximas dos 1000°C e quase sempre acima dos 100°C, ácidos e bases fortes), envenenamento (gases) e toxicidade por metais (Mercúrio, Antimônio, Chumbo). Os perigos psicológicos são também reais, em conseqüência de trabalho excessivo, concentração prolongada, frustração repetida, falta de repouso, por vezes isolamento, estímulos à imaginação, etc.

O processo se dá com quatro operações:

Solução ou Liquefação – A primeira é a solução (liquefação) da matéria em água mercurial pela semente do mar. A geração começa pela conjunção do macho e da fêmea de suas sementes. Segue a putrefação. Pela solução, os corpos, dizem eles, retornam à sua primeira matéria e se reincorporam pela cocção (cozimento). Nesse momento, faz-se o casamento entre o macho e a fêmea, e dele nasce o corvo. A pedra se transforma em quatro elementos, todos misturados; o céu e a terra se unem para dar à luz Saturno. Na química filosófica é uma redução do corpo à sua primeira matéria, uma desunião natural das partes compostas e uma coagulação das partes espirituais; eis porque os filósofos chamam-na uma solução do corpo e um congelamento do espírito.
Ablução ou Calcinação – A segunda é a preparação do mercúrio dos filósofos, que volatiliza e espermatiza os corpos, expulsando a umidade supérflua e coagulando toda a matéria sob forma de terra viscosa e metálica. A ablução ensina a branquear o corvo e fazer nascer Júpiter de Saturno, o que é feito pela transformação do corpo em espírito. A calcinação comum é a pulverização pelo fogo e a redução do corpo em cal, cinza, terra, etc. é a morte do misto. A filosófica é a extração da substância, da água, do sal, do óleo e do resto terroso. A calcinação comum se faz pela ação do fogo comum ou dos raios concentrados do Sol. A filosófica tem a água por agente, por isso se diz ablução.
Redução ou Putrefação – A terceira parte é a corrupção que separa as substâncias, retifica-as e as reduz. As águas tiveram que ser separadas das águas com peso e medida [destilação]. A função da redução é devolver ao corpo seu espírito, que a volatilização havia retirado, e alimentá-lo a seguir com um leite espiritual, em forma de orvalho, até que Júpiter criança tenha adquirido uma força perfeita. É, de algum modo, a chave de todas as operações, ainda que não seja a primeira. É a ferramenta que rompe as ligaduras das partes. A destilação e a sublimação comuns são a imitação das da natureza.
Fixação ou Fermentação – A quarta é a geração e a criação do enxofre filosófico, que une e fixa as substâncias; é a criação da pedra; o mistério acabou. Sem ouro não se pode fazer ouro. O ouro é, portanto, a alma e o que determina a força intrínseca da pedra. O medicamento amarelo não é mais do que uma composição de terra e água, isto é, de enxofre e mercúrio fermentados com o ouro, porém um ouro reincorporado.
As cores que a matéria assume no decorrer das operações da obra são signos demonstrativos, que permitem saber que se agiu de maneira a ter êxito. Elas sucedem imediatamente e por ordem. A perturbação desta ordem é uma prova de que se operou mal. Há três cores principais: a primeira é negra, chamada cabeça de corvo, serpentes, dragões e muitos outros nomes. A segunda cor é o branco. Essa matéria, dita fumaça branca, é considerada como a raiz da arte, o verdadeiro mercúrio dos filósofos. A formação dessa brancura desejada anuncia-se por um círculo capilar de cor alaranjada, que aparece ao redor da matéria, nos lados do recipiente.

A matéria ao deixar  a cor negra, não se torna branca de repente; a cor cinzenta, que participa das duas é a intermediária. Os sábios lhe deram o nome de Júpiter porque ela sucede ao negro, que eles chamam de Saturno. A matéria que se fixou na parte inferior do vaso é Júpiter. Essa matéria branca é, desde então, um remédio universal para todas as doenças do corpo humano. A terceira cor primordial é o vermelho, que se obtêm continuando o cozimento da matéria. Deve-se saber que, para despistar os garimpeiros, a maioria dos sábios começam seus tratados da Obra com a pedra vermelha. Nessa operação, o corpo fixo se volatiliza; sobe e desce no vaso até que o fixo, tendo vencido o volátil, o precipite ao fundo com ele, não fazendo mais do que um corpo de natureza absolutamente fixa. As três cores – preta, branca e vermelha – devem necessariamente sucederem-se na ordem que acabamos de indicar. Não são as únicas que se manifestam. Indicam as mudanças essenciais que ocorrem na matéria, enquanto as outras cores, quase indeterminadas e semelhantes ao arco-íris, são passageiras e de curta duração; afetam antes o ar do que a terra, repelem umas às outras e dissipam-se para dar lugar às três cores principais, das quais estamos falando.

Principais Obras Alquímicas

O Arcano Hermético (de Jean d’Espagnet)
Anfiteatro da Sabedoria Eterna (de Heinrich Khunrath)
Atalanta Fugiens (de Michael Maier)
Aurora Consurgens (de São Tomás de Aquino)
A Aurora dos Filósofos (de Paracelso)
Coelum Philosophorum (de Paracelso)
A Carruagem Triunfal do Antimônio (de Basílio Valentim)
Doze Chaves de Basilio Valentim (de Basílio Valentim)
As Seis Chaves (de Eudoxus)
A fabricação de Ouro (de Francis Bacon)
O Parentesco dos Três (de Wei Boyang)
Tabula Esmeragdina (de Hermes Trismegistus)
O Tratado Dourado (de Hermes Trismegistus)
Corpus Hermeticum (de Hermes Trismegistus)
Teorias e símbolos dos Alquimistas (de Albert Poisson)
Mutus Liber (editado por Eugene Canseliet)
As Moradas dos Filósofos (de Fulcanelli)
Teorias e símbolos dos Alquimistas (de Albert Poisson)
O Livro das Figuras Hieroglíficas (de Nicolas Flamel)

O Baphomet

Uma das mais controversas figuras da Alquimia/Cabala. Criada com o proposital intuito de afastar os leigos, os despreparados, os imaturos e as pessoas de “mente fraca”, que tomariam tal figura como sendo a de adoração do demônio. Repleta de simbolismo, a figura retrata o processo de autotransformação, mascarando com figuras do imaginário religioso. A palavra “Baphomet” em hebraico é como segue: Beth-Pe-Vav-Mem-Taf. Aplicando-se a cifra Atbash (método de codificação usado pelos cabalistas judeus), obtém-se Shin-Vav-Pe-Yod-Aleph, que soletra-se Sophia, palavra grega para “sabedoria”.

A Alquimia como Técnica de Autotransformação Psicológica

A Alquimia é, antes de tudo, um sistema de autotransformação. O caminho é ao mesmo tempo espiritual e material. Muito do trabalho alquímico relacionado com os metais era apenas uma metáfora para um trabalho espiritual. Torna-se mais clara a razão para ocultar toda e qualquer conotação espiritual deste trabalho, na forma de manipulação de “metais”, se nos lembrarmos que na Idade Média qualquer um poderia ser acusado de heresia e satanismo, acabando por ser perseguido pela Inquisição.

Para o alquimista, o universo todo tendia a um estado de perfeição. Como, tradicionalmente, o ouro era considerado o metal mais nobre, ele representava esta perfeição. Assim, a transmutação dos metais inferiores em ouro representa o desejo do alquimista de auxiliar a natureza em sua obra, levando-a a um estado de maior perfeição. Portanto, a alquimia é uma arte filosófica, que busca ver o universo de uma outra forma, encontrando nele seu aspecto espiritual e superior. Assim, a transformação dos metais em ouro pode ser interpretada como uma transformação de si próprio, de um estado inferior para um estado espiritual superior. Outros consideram que as operações alquímicas e a transmutação do operador ocorrem em paralelo; existem, ainda, outras opiniões.

A Psicologia moderna também incorporou muito da simbologia da alquimia. Carl Jung reexaminou a simbologia alquímica procurando mostrar o significado oculto destes símbolos e sua importância como um caminho espiritual. Os símbolos alquímicos sendo semelhantes aos símbolos de nossos sonhos, fantasias, dos mitos, das artes. Expressando portanto as profundidades da alma humana, onde somos todos semelhantes.

A cor dourada e o ouro geralmente estão associados ao Self e à totalidade. Na interpretação de Jung, a obra alquímica é análoga ao processo de individuação, e a pedra filosofal é um símbolo do Self. Pondo em jogo sua intuição e sua teoria dos arquétipos, Jung encontrou uma correspondência entre as clássicas operações da Alquimia e as etapas já assinaladas que é necessário percorrer no caminho da Individuação. Tais operações alquímicas adquiriram, assim, uma significação simbólica. Todo o processo aparece como resultado de uma projeção arquetípica. Entretanto, a metáfora alquímica é um tema muito vasto e complexo que amplia o horizonte de estudo sobre a natureza humana.