terça-feira, 13 de março de 2018

A Vida de Aleister Crowley


"Uma rosa vermelha absorve todas as cores, menos a vermelha; 
Vermelha, portanto, é a única cor que ela nao é.
Essa Lei, Razão, Tempo e Espaço, 
toda Limitação, cega-nos à Verdade. 
Tudo o que sabemos sobre o Homem,
Natureza, Deus,é apenas aquilo que eles não são; 
é aquilo que rejeitam como repugnante."

(Aleister Crowley, Liber CCCXXXIII, Cap. 40)

Na última hora do dia 12 de outubro de 1875, em 
Leamington Spa, Warwickshire, Inglaterra, nascia Edward 
Alexander Crowley.

Sua infância esteve marcada por rígidos padrões de 
comportamento impostos por seus pais, Edward Crowley e 
Emily Bishop, ativos membros de uma extremada seita 
Cristã chamada Irmandade de Plymonth (fundada por John N. 
Darby). Seu pai, um rico cervejeiro aposentado, e 
fanático Irmão de Plymonth, fez com que Crowley, ainda 
criança, freqüentasse a sua seita, forçando-o a diversas 
leituras da Bíblia Cristã e acostumando-o à vida 
religiosa da Irmandade. Este fato, muito embora viesse 
ser de grande valia bem mais tarde, quando da compreensão 
dos Mistérios com os quais esteve em contato, naquele 
momento apenas fez nascer na criança que se formava, uma 
intensa repulsa quanto a dogmas, em espécie aqueles de 
natureza "cristã". Outro fator que, certamente, muito 
contribuiu para a formação moral de Crowley, não só em 
sua infância como também na juventude, teria sido aquele 
bem conhecido e tradicional jeito de vida inglês da época 
vitoriana.

Em 1886, com o falecimento de seu pai, Crowley fica sob 
os cuidados de seu tio e tutor Tom Bishop. Tamanha era a 
crueldade de seu tio, que Crowley referiu-se a este 
período de sua vida como "A Infância no Inferno".

Em sua adolescência, a busca por aventuras o conduziu ao 
alpinismo. Praticou com afinco esse esporte, chegando a 
destacar-se no mesmo. Sua carreira de alpinista chegou ao 
ápice nos anos de 1902 e 1905, quando participou das 
primeiras tentativas de escalar o Chogo Ri (K2) e o 
Kanchenchunga, duas das maiores montanhas do mundo, 
situadas no Himalaia.

Estudou, destacando-se em todas as disciplinas, em 
Trinity College, Cambridge, onde ficou no período de 1895 
a 1898. Nesta época, Crowley, leitor voraz, estudou 
intensamente, incluindo tudo de importante que havia da 
literatura inglesa, francesa, além de diversas outras 
obras em Latim e Grego clássicos, inclusive filosofia e 
alquimia; se dedicou a canoagem, ciclismo, montanhismo e 
xadrez, atividade esta em que ganhou notoriedade e que 
exerceu por toda sua vida. Praticando o montanhismo, 
Crowley viria a conhecer um homem o qual passou a admirar 
profundamente: Oscar Eckenstein. Eckenstein, que, segundo 
Crowley, era um singular exemplo, sem igual em dignidade 
e nobreza, ensinou-lhe (por hora) o alpinismo. Alguns 
anos depois, Eckenstein demonstraria que seu conhecimento 
não se limitava apenas à conquista de elevadas montanhas.

Em Cambridge, seu espírito, como era bem próprio à 
natureza da Besta, ansiando por um volume maior de 
conhecimento e aventuras, encontrava-se perturbado com a 
insubstancial perspectiva futura. Em 1898, antes de sua 
graduação, Crowley abandona os estudos para se dedicar a 
algo não comum e de maior profundidade do que o oferecido 
por uma promissora carreira acadêmica.

Mas o que exatamente seria este algo mais profundo? 
Por volta de 1896, Crowley havia iniciado a leitura de 
alguns livros sobre magia e misticismo. Algo começava a 
tomar forma dentro de seu inquieto ser; porém a leitura 
de Nuvem sobre o Santuário , obra lhe recomendada por 
Waite, é que faz com que Crowley decida dedicar sua vida 
ao estudo do Ocultismo e da Magia, e empenhar-se com 
afinco no sentido de encontrar a Grande Fraternidade 
Branca mencionada no inspirador livro de Eckhartshausen.

E aqui começa a carreira mágica de Aleister Crowley.

Em 1898, através de dois amigos, Julian Baker e George 
Cecil Jones (respectivamente Frati D.A. e Volo Noscere, 
ambos membros da G.'.D.'.), Crowley é apresentado a 
Samuel Liddell "MacGregor" Mathers (1854-1918), Frater 
D.D.C.F. (Deo Duce Comite Ferro), um dos lideres da Ordem 
Hermética da Aurora Dourada (The Hermetic Order of the 
Golden Dawn, mais conhecida pela sigla G.'.D.'.), uma das 
mais influentes Ordens do final do século passado, que 
proporcionou a Crowley sua primeva Iniciação e o contato 
com os primeiros mistérios mágicos que tanto procurava.

A G.'.D.'. fora fundada pelo próprio Mathers, junto com 
William Winn Westcott (1848-1925), Frater Non Omnis 
Moriar, e William Robert Woodman (1828-1891), Frater 
Vincit Omnia Veritas, em 1887. Segundo seus fundadores, a 
existência da G.'.D.'. era devida à orientação e à ordem 
de uma alta iniciada alemã chamada Anna Sprengel (Soror 
S.D.A., Sapiens Donabitur Astris), que autorizara a 
abertura de uma Loja na Inglaterra que representasse a 
suposta Ordem ancestral a qual pertencia. Diga-se de 
passagem que, a G.'.D.'., mesmo levando em conta o 
possível conciliábulo de sua criação, constitui uma das 
mais importantes Ordens jamais inventadas pelo espírito 
humano, conseguindo reunir em seu corpo de iniciados a 
nata da intelectualidade inglesa e européia da época.

Nomes como o prêmio Nobel de Literatura em 1923, Willian 
Butler Yeats, além de Gustav Meyrink, Florence Farr, A. 
E.. Waite, Sax Homer, Bram Stocker, F. L. Gardner, Arthur 
Machen, o próprio Crowley e tantos outros, pertenceram a 
esta notável organização.

Crowley, iniciado por Mathers em 18 de novembro de 1898, 
ao Grau de Neophytus (0o=0), tomava, como Mote Mágico, o 
nome de Perdurabo (eu perdurarei até o fim), iniciando, 
assim, seus estudos na G.'.D.'., tendo como primeiro 
Instrutor Frater Volo Noscere (Jones). Em dezembro do 
mesmo ano, Crowley atinge o Grau de Zelator (1o=10). 
Sua capacidade de assimilação de conhecimento e sua 
dedicação ao estudo e a prática do Ocultismo o 
conduziram, agora sob a instrução de Frater Iehi Aour 
(Allan Bennett), a ascender rapidamente aos Graus 
subsequentes da G.'.D.'.; assim, respectivamente em 
janeiro, fevereiro e maio do ano seguinte, em 1899, 
Crowley conquistou os Graus de Theoricus (2o=9), 
Practicus (3o=8) e Philosophus (4o=7). Bennett, 
considerado por Crowley um autêntico Guru, o ensinou 
várias técnicas mágicas oferecidas pela G.'.D.'., 
técnicas como Cabala e Magia Cerimonial, consagração de 
Talismãs, evocação de Espíritos, etc.

Este período de sua vida foi fortemente marcado por duas 
atividades principais.. Quando Frater Perdurabo não estava 
estudando ou praticando, Crowley, sob o pseudônimo de 
Conde Vladmir Svareff ou Aleister MacGregor, custeava as 
edições de seus escritos (normalmente algum tipo de 
pornografia ou poesia), além de cultivar uma intensa vida 
sexual, a qual escandalizou alguns membros da G.'.D.'..

Sua grande atividade e principal preocupação, no entanto, 
continuava a ser a Magia.

Entretanto, e isto deveu-se menos aos escândalos 
promovidos por Frater Perdurabo do que ao ciúme e inveja 
de certos Adeptos londrinos, e mesmo Crowley tendo 
demonstrado capacidade e talento em magia, sua iniciação 
à Segunda Ordem fora negada, em fins de 1899, pelos 
chefes da seção inglesa da G.'.D.'.. Nesta época, 
Mathers, agora único líder da Ordem, residia em Paris. 
Mesmo contrariando a opinião dos líderes londrinos, em 16 
janeiro de 1900, em Paris, Mathers, fazendo valer sua 
autoridade dentro da Ordem, inicia Crowley ao Grau de 
Adeptus Minor (5o=6), sob o Mote Parzival. Talvez aqui 
tenha sido o inicio da ruína da G.'.D.'.. Pouco antes de 
sua iniciação, seu grande amigo e Instrutor, Allan 
Bennett, decide partir para Ceilão, e tornar-se monge 
Budista.

A insatisfação dos membros da G.'.D.'. com Mathers já era 
mais que um fato nessa época. Provavelmente o caso 
Crowley tenha servido como impulso e álibi necessários 
para o grupo londrino, liderado por Yeats, entre outros 
menos conhecidos, declarar-se independente de seu mentor 
e líder, MacGregor Mathers.

O que se seguiu após a rebeldia londrina resultou em 
histórias fantásticas de ataques mágicos envolvendo 
Crowley e uns demônios versus Yeats e, é claro, mais 
demônios. Depois o próprio Mathers teria entrado na 
briga, junto, evidentemente, com uma outra legião de 
encapetados amiguinhos. Mas essa estória não escapa nem a 
mais tola crítica. O fato é que Crowley e Mathers ficaram 
praticamente sozinhos, e a outrora grande G.'.D.'., agora 
conduzida pelos auto-proclamados novos chefes, ia 
progressivamente implodindo, ou se esfacelando, 
resultando num sem número de Ordens Cristianizadas, sem o 
élan da G.'.D.'. original.

Crowley, que abandonara um importante trabalho mágico 
para ajudar Mathers, vê-se só. Parte para Nova York e 
depois vai para o México.

A estadia no México constituiu um período bem produtivo a 
Crowley. Além de Tannhauser, escrito em ininterruptas 67 
horas, conseqüência de uma bem sucedida opera Sexualis, 
esse período na América Central representou uma decisiva 
conquista no magista que se formava.

Foi apresentado a Don Jesus Medina, um dos altos chefes 
da Maçonaria local, Rito Escocês, que, de tão 
impressionado por aquele singular figura, não tardou em 
convidar Crowley para iniciar-se em sua Loja. Como 
hábito, Crowley rapidamente galgaria os graus Maçônicos, 
alcançando, por graça, o mais alto Grau do Rito.

Mas a chegada de seu amigo e mentor, Oscar Eckenstein, é 
que daria novos rumos a seu aprendizado. Eckenstein, 
revelando-se, para a surpresa de seu pupilo, um grande 
instrutor, demonstrou que Crowley não tinha controle 
sobre seus próprios pensamentos, qualificando sua atitude 
para com a magia como apenas mera fascinação romântica. A 
partir daí, Crowley decide dar um tom científico a seus 
experimentos, estudando com Eckenstein, uma série de 
métodos de controle mental.

Após algum tempo de escaladas e treino mental, Crowley 
parte para o Oriente, para se encontrar com Bennett, seu 
antigo instrutor, no Ceilão. Antes, entretanto, combina, 
com Eckenstein, a escalada do K2, no Himalaia, aventura a 
se realizar na primavera de 1902.

Bennett, agora Bhikku Ananda Meteya, que aprendera Yoga e 
Budismo, instrui Crowley nestas disciplinas.

No outono de 1902, após a expedição ao K2, Crowley 
retorna a Paris. Seu novo encontro com Mathers o 
decepciona a tal ponto que só lhe restou a boêmia vida 
parisiense. Retorna a Boleskine em 1903 e então, 
procurando algo suficientemente prosaico para si, 
intitula-se Lorde Boleskine. Neste mesmo ano, casa-se com 
Rose Kelly.

Mas o ano seguinte revelaria a Crowley o mistério que o 
acompanharia até seu último momento: A Lei de Thelema. 
Casado com Rose Kelly, de acordo com Crowley, "uma da 
mais brilhantes e inteligentes mulheres do mundo", viaja 
pela Europa e Egito. E no Cairo, após uma série de 
Rituais e Invocações, um ser, identificando-se como 
Aiwass, transmite a Crowley, nos dias 8, 9 e 10 de abril, 
o Liber Al vel Legis ou, como passaria a ser conhecido, O 
Livro da Lei. Àqueles que conhecem todo esse processo, é 
significativo saber que esse extraordinário livro foi o 
primeiro escrito de Crowley, de cunho místico-mágico. 
Entre tantos significados, Liber Al vel Legis proclama o 
fim de uma era, ou Eon, marcada pelo sofrimento, pela 
intermediacão entre Deus e o homem, pelo deus 
sacrificado, etc. Em seu lugar, nascia a época do deus de 
alegria, onde o homem teria a liberdade de realização de 
sua própria vontade. A epígrafe "Faze o que tu queres 
deverá de ser o todo da Lei", contida em Liber Al e 
utilizada nos escritos de natureza thelêmica, sintetiza a 
própria regra de conduta a ser tomada como tônica do Eon 
nascido.

Essa experiência, levou Crowley a assumir o Grau de 
Adeptus Major, 6o=5 da G.'.D.'., sob o novo Mote de 
O.S.V...

De volta a Boleskine, Crowley imediatamente trata de 
expor sua experiência a Mathers, revelando ter, 
finalmente, feito contato com os Mestres Secretos que 
tanto havia procurado. Como costume, Mathers não aceita a 
revelação. Conseqüentemente, o mundo do esoterismo 
novamente, é palco para ataques mágicos de Mathers a 
Crowley e vice-versa. Mas o incontestável fato é que isso 
era o fim da convivência entre os dois magos. 
Em 1905, mais uma expedição ao Himalaia: desta vez o alvo 
era o Kanchenchunga.

Cansado de suas birras com a G.'.D.'., em 1907, Crowley 
funda a A.'.A.'.; a Argenteum Astrum, Ordem da Estrela de 
Prata, que - segundo Frater O.S.V. - substituirira a 
G.'.D.'., herdando sua estrutura de graduação. Entre 
tantos significados possíveis, particularmente um 
inspirou Crowley na escolha desse nome para a Ordem. 
Segundo ele, o dourado amanhecer (Golden Dawn) é o que 
precede a Estrela Dalva (Vênus, ou Lúcifer), a prateada 
estrela da manhã que "anuncia" o Sol. Crowley, em 1909, 
dá início ao primeiro período aberto a Probacionistas a 
sua A.'.A.'. e, com a publicação da série The 
Equinox, "destrói" magicamente a G.'.D.'..

No período de 1907-1911, Crowley, consagrando seu tempo 
ao estudo, a prática e a escrita, publicaria cerca de uma 
dúzia de livros de cunho poético-mágico (excluindo a 
série The Equinox). Neste período também, após a morte de 
sua filha em 1906, Crowley separa-se de sua esposa, Rose 
Kelly, em 1909. Nesse mesmo ano, Crowley assume o Grau 
Adeptus Exemptus 7o=4(, agora da A.'.A.'., com o Mote OU 
MH. Em 3 de dezembro de 1909, durante uma a Visão do 14o 
Aethyr, toma o Grau de Magister Templi, sob o Mote 
V.V.V.V.V., 8o=3 da Ordem da Estrela de Prata [19]. Em 
1911 Crowley escreve Liber CCCXXXIII, O Falsamente 
chamado Livro das Mentiras, que publicaria mais tarde, em 
1913.

Em 1912 porém, outro acontecimento daria novo rumo a sua 
vida.

Crowley, com o seu Livro das Mentiras, curiosamente, 
mesmo antes de sua publicação em 1913, chamaria a atenção 
de, nada mais nada menos, Theodor Reuss, membro do 
serviço secreto germânico, maçom e ocultista, Frater 
Merlin Peregrinus Xo, então O.H.O. da Ordo Templi 
Orientis (O.T.O.). Reuss, tendo lido Liber CCCXXXIII, 
para seu espanto, lá identificara o segredo central da 
O.T.O..

A O.T.O. era uma organização de cunho maçônico, místico e 
mágico, fundada por Karl Kellner, em 1902. Kellner, 
segundo a lenda, teria viajado pelo oriente onde havia 
sido iniciado por um faquir árabe, chamado Solimam ben 
Aifha, e pelos yoguis hindus Bhima Shen Pratap e Sri 
Mahatma Aganya Guru Paramahansa, recebendo os mistérios 
da Filosofia e do Yoga da Mão Esquerda, a Magia Sexual. 
A O.T.O., que reivindicara para si a detenção do 
conhecimento outrora pertencido aos lendários Cavaleiros 
do Templo, assim como ocorreu com a G.'.D.'.., reuniu 
entre seus Adeptos vários eminentes maçons e ocultistas 
da época, alguns dos quais, a partir dos fundamentes 
adquiridos nessa Ordem, ou fundaram ou em muito 
colaboraram em outros movimentos da época. A título de 
exemplo temos: Rudolf Steiner, fundador da Antroposofia; 
Franz Hartmann, um dos mais importantes colaboradores do 
movimento Teosófico; Krumm-Heller, responsável pela 
expansão da Fraternitas Rosacruciana Antiqua (F.R.A.); 
Gerald Gardner, considerado como o "pai" da Wicca; Karl 
Germer, sucessor de Crowley como líder da O.T.O.; Kenneth 
Grant, que depois lideraria um variação da Ordem na 
Inglaterra; H. Spencer Lewis, fundador de um bem 
conhecido movimento neo-rosacruciano denominado AMORC; 
além do próprio Crowley.

O bizarro encontro entre Reuss e Crowley, 
definitivamente, marcaria o destino da Ordem alemã. 
Crowley, após ter sido acusado de divulgar abertamente 
este segredo, expõe a Reuss que este teria sido aprendido 
por ele quando de sua viagem ao Oriente e que já o 
praticava há muito; sendo-lhe impossível saber ser este o 
mesmo Santo Segredo cultivado pela O.T.O.

O desenvolvimento da conversa entre os dois Iniciados 
deixou Reuss tão bem impressionado que este nomearia 
Crowley líder da O.T.O. para os países da língua Inglesa. 
Essa tarefa foi exercida por Crowley através do Mote 
Baphomet.

Crowley então, passaria a escrever (e também reescrever) 
os Rituais da O.T.O. sob a luz de seu Liber Legis. Em 
1914, acompanhado de Mary d'Esté Sturges (Soror Virakam), 
escreve seu famoso Book Four.

Em 12 de Outubro de 1915, em seu quadragéssimo 
aniversário, Aleister Crowley toma o Mote de TO MEGA 
THERION, 666, para o 9o=2, o Grau de Magus da A.'.A.'.. 
E, como 666, Crowley concebe uma das mais belas páginas 
da literatura esotérica, Liber Aleph, The Book of Wisdow 
or Folly, uma Epístola de 666 a seu Filho 777 (Frater 
Achad, Charles S. Jones). Em 1919, publica o primeiro 
número do terceiro volume do The Equinox.

Um dos mais curiosos feitos da Besta, teve lugar com a 
fundação, em 2 de abril de 1920, da Abadia de Thelema, em 
Cefalu, Sicília, Itália. Depois, Crowley, em secreto 
juramento, assume, em maio de 1921, o Grau de 10o=1 
A.'.A.'., Ipississimus. A Abadia funcionou até 1923, 
quando Crowley foi expulso da Itália por Mussolini. 
Mas, em 1925, com o falecimento de Theodor Reuss, Crowley 
é convocado para uma reunião internacional da O.T.O., 
onde os rumos dessa Ordem seriam traçados. Crowley é 
convidado a ser o Chefe Internacional da Ordo Templi 
Orientis. Aceita e toma o Santo Mote de Deus est Homo. 
Durante os anos seguintes, Crowley viveu alternadamente 
na França, Alemanha e Norte da África. Nesta época ele 
viria a conhecer duas pessoas que, além de serem 
discípulos e amigos, seriam depois importantes 
personagens dentro da história de Thelema: Karl Germer e 
Israel Regardie. Expulso da França em 1929 sob acusação 
de ser agente alemão, Crowley retorna à Inglaterra.

A publicação de suas Confissões, em 1930, proporcionou a 
Crowley um interessante encontro com um dos maiores 
gênios da literatura portuguesa. Estamos falando de 
Fernando Pessoa (1888-1935). Pessoa, que além de célebre 
poeta era um competente astrólogo, fascinado pelas 
ciências esotéricas, envia, neste mesmo ano, uma carta a 
Crowley, indicando erros em seu mapa natal.. Crowley, 
entusiasmado com o conhecimento do poeta lusitano, 
contesta sua carta, dando-lhe razão, e expressa seu 
desejo de conhecê-lo.

Pessoa, mesmo incomodado e receando tal encontro, recebe- 
o no porto de Lisboa. A lenda diz-nos que estranhos 
acontecimento tiveram vez naquela tarde, como um 
inexplicado nevoeiro que, descendo na cidade de Lisboa, 
atrasou o barco que conduzia a Besta ao encontro do 
criador de Álvaro de Campos. E tanto foi a admiração e 
fascínio de Pessoa para com o pior homem do mundo, que, 
no famoso caso da Boca do Inferno, onde Crowley simulou 
um trágico suicídio, Pessoa testemunhara, confirmando o 
que supostamente teria ocorrido a seu novo amigo.

Pessoa, que vira naquele estranho inglês um irmão nos 
Mistérios, a partir do encontro e da amizade com Crowley, 
em muito mudou o tom de sua poesia. Adentrou-se no estudo 
do simbolismo, publicando obras de notável valor, até sua 
prematura morte, aos 47 anos, em 1935.

Crowley segue e, entre casos amorosos, drogas, e causas 
judiciais, publica nos anos 30 uma série de ensaios e 
instruções que comporiam os números subseqüentes de The 
Equinox, iniciado em 1919. The Equinox of the Gods, 
relatando suas experiência no Cairo e a escritura de 
Liber Legis, é publicado em 1937.

Trabalhando com Lady Frieda Harris, Crowley, ao longo de 
cerca de cinco anos, concebe um Tarot de modo que a 
imagem do Eon fique registrada. O resultado final é o 
maravilhoso The Book of Thoth, onde a principal mensagem 
de sua obra está apresentada de forma sintética. Durante 
esse trabalho com Lady Harris, em 1942, na forma de um 
manifesto da O.T.O., Crowley publica Liber OZ, a Carta 
dos Deveres e Direitos dos homens e das mulheres. Algo 
muito parecido seria elaborado alguns anos depois pela 
ONU.

Seus últimos anos, a partir de 1945, são vividos em 
Hastings, onde uma série de novos discípulos continuam 
recebendo instruções. E, assim, Kenneth Grant, John 
Symonds, Grady McMurty, conhecem a Besta. Desta época, 
vem sua última obra, consistindo numa coletânea de cartas 
dirigidas a uma jovem discípula, que foram publicadas bem 
mais tarde, após a sua morte, como Magick Without Tears.

No primeiro dia de dezembro de 1947, aos 72 anos, 
Aleister Crowley, serenamente segundo alguns, exultante 
segundo outros, e ainda perplexo, segundo terceiros, 
falece, vítima de bronquite crônica e complicações 
cardíacas.

Quatro dias depois, no crematório de Brighton, assistido 
por um reduzido número de admiradores e discípulos, é 
realizada a cerimônia que ficou conhecida como "O Último 
Ritual", com a leitura de trechos da Missa Gnóstica, e de 
seu maravilhoso Hino a Pã.

Realizara-se, assim, a última vontade da Besta.

(Texto retirado da Revista Safira Estrela - Março de 1995)

Autor:  Carlos Raposo