sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Pequeno Alberto – Le Petit Albert


Aristóteles, príncipe dos filósofos, disse em muitos lugares que toda ciência é algo de bom. Porém, nem sempre é assim: a operação mágica as vezes serve ao bem, as vezes serve ao mal, tudo depende do objetivo pelo qual se trabalha.


Parte I

Considerações Mais Que Necessárias

Sobre os Grimórios de Alberto


A palavra Grimório, do francês grammaire, gramática, é definida no grande Oxford English Dictionary como “manual de magia para a invocação de demônios; e nisso os Grimórios diferenciam-se das Clavículas ou Chaves, que são coleções de encantamentos, feitiços, de vários tipos e vagamente associadas ao rei Salomão, que teria sido o precursor deste tipo de literatura e, de acordo com lenda oriental e tradição do Talmud, era um mago de grande poder que comandava hostes de djins, espíritos elementais [SUMMERS, p 116].


Os Grimórios, em geral, livros pequenos, handbooks, são fontes inevitáveis no estudo das origens da magia. Em grande parte, senão maioria, são cópias de cópias, é fato, porém datadas dos séculos XIV e XV [anos 1300 e 1400], ou seja, são antigos, são história. Le Grand Albert e Le Petit Albert ─ deixando de lado a questão da originalidade autoral ─ estão entre os mais importantes [e famosos, conhecidos na esfera da cultura popular] entre os Grimórios atribuídos a Alberto, o Grande.


Chamado de Os Admiráveis Segredos de Alberto, o Grande ou “disfarçado” sob outros títulos semelhantes como Grimoire of Albertus Magnus: The Great and True Cabalist Science of Albertus Magnus or Sorcery Unveiled [A Grande e Verdadeira Ciência Cabalística de Albertus Magnus ou A Bruxaria Revelada] o título pomposo reflete a essência destes e de outros grimórios: oferecer segredos e processos que, se colocados em prática, conferem enorme poder! Seus exemplares e traduções ganharam o mundo. Em Chanel Islands [Ilhas do Canasl – da Mancha, território britânico], o Le Grand Albert é conhecido como Bíblia das Bruxas ou, em dialeto local Le Grand Mêlé. Le Petit Albert é Le Petit Mêlé, sendo que Mêle significa “livro”. Juntos eles são os Albins e somente um bruxo, um feiticeiro assume possuir esses “livros do mau”.


Um exemplar publicado em 1668 [século 17], em Lion, possui ilustrações de figuras necromanticas, talismãs e pentáculos que não são encontrados em nenhuma outra edição ou obra ocultista popular. Envolto sem aura de clandestinidade, o Pequeno Alberto e o Grande Alberto freqüentemente apareceram em volumes sem qualquer referência ao editor e/ou impressor, lugar de origem. Algumas edições são inofensivas, evidentemente tolas e cheias de superstições; outras, porém, se diante de mentes doentias, podem ser mortalmente perigosas.


Algumas palavras de Advertência


Os textos dos Grimórios, suas “receitas”, “fórmulas”, são uma literatura folclórica, cuja origem se perde em tempos de barbárie, descrevendo práticas mais parecem pertencer à esfera da ficção de terror popular. Não se pode acreditar que tais práticas, fossem uma realidade corriqueira dos primitivos pagãos cristianizados. Antes, talvez, um último recurso para os dementes obcecados por necessidades ou desejos equivocados, espúrios, torpes, doentios e desesperados.


Uma pessoa lúcida, ao ler essas páginas negras, precisa – 1. Conhecer os fundamentos para separar crenças infundadas de conhecimento lógico. 2. Como bem recomenda Papus, o magista é uma pessoa contemporânea; não vive em uma circunstância do passado que não existe mais. É necessário saber ADAPTAR! os rituais e materiais. Segundo estudiosos que tiveram melhores oportunidades de alcançar os textos originais do monge ─ ocultistas como Papus, o original Grande Alberto continha um Tratado de correspondências mágicas; um estudo das virtudes das Ervas, Pedras e Animais. Os textos espúrios, estes sim, contém o que há de mais asqueroso e perigoso em termos de magia popular.


Muitas fórmulas são uma composição indigesta que reúne 1. a sombra dos conhecimentos científicos dos Escolásticos e Alquimistas medievais do Ocidente; 2. crenças, superstições dos campos europeus,  da cultura pagã de nórdicos, anglo-saxões e latinos, um imaginário povoado de criaturas fantásticas, espíritos familiares, gnomos, fadas boas e más; 3. os rituais e crenças dos cristãos medievais que que subordinavam os poderes ocultos dos elementais [dos seres e forças invisíveis] com à autoridade do Verbo evangélico, na expressão de trechos bíblicos, do Antigo e do Novo testamento, apelando para os nomes de poder daqueles que são os “magos das sagradas escrituras”: Salomão, Jesus Cristo, a Virgem Maria, os Arcanjos Miguel, Rafael, Gabriel e Uriel, os incontáveis nomes de Deus, do “Pai” a Adonay  e Metraton! Isso é o que os estudiosos denominam de “seita cristã”.


Misturando cristianismo, judaísmo e magia negra, o povo elaborou uma cultura religiosa própria que acomodava poderes oriundos daquelas fontes, cristã e pagã, em tese opostas, mas reconciliadas no pensamento mágico dos deserdados camponeses e servos. A magia negra era “santificada” quando sustentada pelas referências do sagrado “oficial”, aliviando a consciência daqueles que recorriam àquelas fórmulas e expedientes disponíveis nos saberes orais e, mais tarde, nos Grimórios.


Isso não livrou uma horda de pessoas de terminarem seus dias no fogo das Inquisições quando convinha aos poderes políticos de determinados lugares e épocas. A fogueira para os pagãos, sob o comande de autoridades eclesiásticas, serviu, em muito, para exterminar desafetos em intrigas provinciais e mesmo personagens proeminentes, quando se tornavam incômodos. Nesse contexto, a  apreensão de um velho Grimório em poder de um acusado era evidência mais que suficiente de associação com o diabo.


Considerando o conteúdo sangrento, escatológico, as práticas de crueldade e os objetivos criminosos tão comuns nas receitas dos magos negros não espanta que os Grimórios fossem testemunhas de culpa. As fórmulas implicam assassinatos, trato com substâncias indigestas, sacrifício de animais domésticos, quando não a captura para sacrifício de animais selvagens, alguns, hoje, em extinção. Ingredientes tenebrosos como a “Gordura Humana” extraída de um criminoso condenado à pena de morte são, contemporaneamente, praticamente impossíveis de se obter sem cair nas malhas mais ásperas dos Códigos Penais.


No Brasil, por exemplo, onde não tem pena de morte, tal substância [a gordura humana] somente poderia ser providenciada por um chefe do crime do organizado solicitado a comercializar o tecido adiposo aqueles desafetos que acabam a vida no “forno dos pneus” ou, ainda, o magista teria de virar um pedinte de porta dos fundos de clínica de estética onde poderia comprar ou receber a doação do material remanescente da lipoaspiração de um assassino ou ladrão. Meditemos…


Parte II

Feitiços de Alberto Magno

Hand of Glory ─ Um feitiço muito conhecido, transcrito em inúmeros Grimórios [e também no Pequeno Alberto], é o encantamento da “Mão Gloriosa” [Hand of Glory]. A “Mão da Glória” [ou, ainda “A Vela do Homem Morto”], serve aos ladrões; supostamente, propicia o poder da invisibilidade e faz com que todas as pessoas que se queira, presentes em uma casa que se deseja roubar, adormeçam um sono profundo. É um dos encantamentos mais freqüentes no Grimórios [Na Indonésia existe uma crença que guarda certo “parentesco” com a “Mão Gloriosa”: o ladrão espalha o pó de uma sepultura em torno da casa que deseja assaltar e, assim, suas vítimas dormem um sono pesado] …


No Pequeno Alberto existe uma receita para o ladrão em potencial obter este objeto enfeitiçado que consiste, basicamente, na mão do cadáver de um criminoso. Em algumas fórmulas é a mão direita; em outras, a esquerda [e esta parece ser a preferencial levando em conta a tradição que envolve o membro sinistro]. Todavia, não pode ser qualquer cadáver: tem de ser o cadáver de um criminoso submetido à pena de morte. Consta, também, que pode/ou/deve ser comprada do criminoso antes da execução. Nos textos menos exigentes, refletindo um traço da cultura da época, Idades Média e Moderna, afirma-se que é suficiente surrupiar o membro de algum enforcado que esteja ainda exposto em praça pública. Eis a versão do Pequeno Alberto:


Embrulhe, bem embrulhada, a mão no retalho de uma mortalha; aperte bem para extrair qualquer sangue remanescente [ou seja, mão de defunto fresco]; depois, coloque a mão em um vaso de cerâmica junto com uma mistura com uma mistura de Zimat

* [um vitríolo, espécie de sulfetos salínicos, como o sulfeto de cobre, de zinco, de ferro etc.. Este Zimat era proveniente da Arábia] sal, pimenta-longa [Piper longum], Saltpeter [Nitrato de Potássio, cristais de salitre, utilizado para fazer pólvora], tudo muito bem pulverizado.


Deixe em repouso durante quinze dias dentro do vaso. Depois, retire tudo e exponha ao calor do sol em um “dia-de-cão” [dog-days, período entre 3 julho e 11 agosto] e espere até [a mão] ficar bem seca. Se não houver sol o bastante, seque em um forno aquecido com samambaias e verbena. Então, faça uma vela com a gordura do criminoso que foi executado [enforcado], cera virgem e Lapland sesamum [gergelim de Lapland ─ nome de localidades na Suécia, Finlândia e regiões norte-européias].

[ALI SHAH, ─ p 158/159]


A mão, assim preparada é, então, denominada Mão Gloriosa [Glorious Hand] e será usada como castiçal para a vela macabra que foi confeccionada. [Pequeno Alberto Apud ALI SHAH ─ p 158]


* vitriol, vitríolo do latim vitreus, vidro, referindo-se à aparência vítrea dos sulfetos salínicos: o de cobre é cristal azul; o de zinco, branco; o de ferro, verde; cobalto, vermelho]


Em A Popular History of Witchcraft a fórmula do Petit Albert para A Mão Gloriosa é assim transcrita:


A horripilante relíquia de um morto era mumificada e, sendo colocada em um vaso de cerâmica [earthen: vaso feito de terra, argila] com uma mistura de sal grosso, dragon-wort [Artemisia dracunculus ─ erva-dragão, terragon em inglês], pimenta negra e outras especiarias [podemos imaginar uma salmoura com ervas finas], nitre [nitrato de potássio, salitre ─ KNO3]. Depois., a mão deve secar, sendo branqueada [quarado] ao calor do sol do meio-dia e colocada para defumar na fumaça do fogo alimentado com samambaias e verbenas…


A receita continua, semelhante à anterior, recomendando a confecção de uma vela feita com banha de enforcado e garante provocar um sono hipnótico e/ou, ainda, tornar as pessoas despertas completamente incapazes de falar ou agir contra o invasor de uma casa que esteja portando o macabro “castiçal”. O feitiço serve não somente aos ladrões mas, também, aos assassinos.


As velas de Gordura Humana: Tesouros


A banha humana tem propriedades preciosas para os magos negros. Sevem para confeccionar velas e entram na receita de ungüentos repugnantes e alucinógenos. Em outra fórmula do Petit Albert, edição do século XVIII [anos 1700] uma vela mágica para achar tesouros é feita com o funesto material. É uma vela que tem o poder de revelar a localização de preciosidades ocultas em cavernas, em subterrâneos ou, simplesmente enterrados.

O caçador de tesouros deve levar a vela para o local onde, suspeita-se, exista uma fortuna oculta. Evidentemente, enquanto se explora o lugar, quando a vela começa a bruxulear fortemente emitindo pequenos estalos e faíscas, significa que o objetivo está próximo. É preciso seguir os sinais da vela para chegar ao lugar exato. Esses exploradores também devem levar, em sua aventura, velas consagradas, não por causa da iluminação, mas para conjurar eventuais e muito comuns espíritos de pessoas mortas que, freqüentemente, rondam e guardam estes tesouros. Tais espíritos devem ser conjurados, evocados e dominados, em nome de Deus! e a eles deve ser solicitada ajuda para tomar posse da riqueza.


A Verdadeira Confecção da Varinha Mágica ou O Bastão Fulminante


Método horrendíssimo não tente fazer isso em lugar e em hipótese nenhuma. Este escritor não se responsabiliza por demência de ninguém!!! Eu avisei!


Um dia antes da grande empresa você vai procurar e encontrar uma vara, um ramo de nogueira selvagem [em um bosque, uma floresta]; o ramo nunca deve ter sido cortado e deve ser forquilhado, dividido em dois na parte superior tendo o comprimento de 29 polegadas [1 polegada = 2,54 cm] ─ 73,66 cm. e se diz que as pontas da forquilha devem ser curvas e pontudas. Quando tiver encontrado este ramo de nogueira, não o toque! Apenas olhe para ele. Espere até o dia seguinte, que será o dia de agir, quando você cortará o bastão exatamente ao nascer do sol. Então, retire as folhas e apare as pequenas ramificações, se as houver e faça isso com a mesma lâmina de aço que serve para matar a vítima [!?!…]


A vítima: é uma criança [!] que foi previamente assassinada. É necessário ter o cuidado de NÃO LIMPAR a lâmina e somente cortar o ramo precisamente quando o sol começa a aparecer no horizonte. Corte, então, dizendo as seguintes palavras:


Je te recommand, o grand Adonai, Eloim, Ariel et Jeovam, de m’être favorable et de donner à cette baquette que je cupe la force de vertu de celle de Jacob, de Moïse et de celle du grande Josué. Je te recommand e aussi ô grand force de Samson, le just colère d’Emmanuel et les foudres du grand Zariatnutonik que vengera les injures des hommens au grand jour de jugement. Amen.


* Rogo a vós, Oh! grande Adonai, Eloim, Ariel e Jeová, que seja favorável a mim e faça com que este bastão, que eu cortei com a força da virtude de Jacó e de Moisé e do grande Josué, que este bastão tenha a força de Sansão, a cólera do justo Emmanuel e os trovões de Zariatnutonik [creia, mais um nome de Deus!] para eu possa vingar os insultos dos homens no Grande Julgamento [Juízo Final]. Amém.


Depois de pronunciar estas terríveis palavras e tendo visto que o sol se levanta, corte o bastão e leve-o para o seu quarto. [A seguir, um passo muito importante é providenciar o revestimento metálico das pontas do bastão]. …Encontre um pedaço de madeira e modele-o, esculpindo-o, de maneira de maneira que fique semelhante em tamanho e forma às pontas do seu bastão. Procure um serralheiro ou outro artesão capacitado, entregue a ele os pedaços da madeira trabalhada e encomende duas ponteiras que sirvam nas extremidades dos modelos. As ponteiras devem ser feitas usando a lâmina de aço que serviu ao sacrifício da vítima. As duas ponteiras devem ser de fina espessura.Feito tudo isso, pegue uma pedra-ímã que deve ser aquecida para magnetizar as pontas do bastão. Pronuncie as seguintes palavras:


Pelo poder do grande Adonai, Eloim, Ariel e Jeová eu determino a você [referindo-se ao bastão ou determino que este bastão] possa unir e atrair as coisas que eu desejar pelo poder do do grande Adonai, Eloim, Ariel e Jeová; e determino, pela incompatibilidade entre a água e o fogo, que possa separar todas as coisas tal como foram separadas no dia da criação do mundo. Amem. *


* Par la puissance de grand Adonay, Eloim, Ariel et Jehovam, je te command d’unir et d’attirer tous les mateiéres que je voudrais, par la puissance de grand Adonay, Eloim, Ariel et Jehovam, je te cammand par l’incompatibilé du feu et de l’eau, de separer toutes matères,comme elle fuerent separées le jour de la Creation du monde. Amen.

Então, você vai se rejubilar pela honra e glória do grande Adonai tendo a certeza de possuir o “grande tesouro da luz”. [Pequeno Alberto Apud ALI SHAH, ─ p 33]


Comentário: É isso ─ houve tempo e lugar, especialmente na Idade Média e entre os pagãos cristianizados, em que assassinato de crianças era, em termos de “cultura popular”, parte de rituais [uma “simpatia”] que começavam e/ou terminavam com uma espécie de “benção”, oração ─  com Amém e tudo, onde não há pudor em misturar os desejos mais impuros, o crime hediondo, os atos mais abomináveis com clamores dirigidos a Deus, a Jesus Cristo, aos Patriarcas, aos santos e anjos. Esse conjunto de crenças é chamado pelos historiadores de “seita cristã”. É a expressão da maldade no auge da ignorância e quem se deu ou se dá ao trabalho de performatizar estes atos tão cruéis, insanos e patéticos só pode ser, de fato, visceralmente ignorante, confirmando a máxima budista: “A maldade é filha da ignorância” ou, como este articulista prefere entender, “A maldade é sempre burra”.


Para Voar

Tomai 10 onças [2kg e 235 g] de gordura humana ─ * Uma onça = 28,35 g

01 onça de óleo de chifre [de quem non se sabe]

01 onça de óleo de loureiro

01 onça do corpo de uma múmia

um pequeno cálice de “espírito do vinho” [álcool, etanol]

07 folhas de verbena

Ferva tudo em um vaso de cerâmica novo até que o volume da substância esteja reduzido à metade; assim será obtido um emplastro [uma pomada] que deverá ser conservado em uma pele nova [não esclarece se pele de gente ou animal…]. Esta pasta, quando aplicada nos pés, fará de você um “filho do vento”.



Da Virtude de Certas Ervas


Em Ranaissance: Souces and Documents, Kate Aughterson [1998] transcreve alguns trechos do ali chamado “Pseudo-Albertus Magnus”, The Book of The Secrets:


Aristóteles, príncipe dos filósofos, disse em muitos lugares

que toda ciência é algo de bom. Porém, nem sempre é assim:

a operação [mágica] as vezes é boa [serve ao bem], as vezes

é má [serve ao mal], tudo depende do objetivo pelo qual se trabalha…


Calêndula ─ A primeira erva é chamada [entre os ingleses]… marigold. É a calêndula, uma destas flores heliotrópicas, isto é, que voltam-se para o sol de forma notável. A virtude dessa erva é maravilhosa: colhida sob o signo de Leão, em agosto, enrolada, embrulhada em uma folha de laurel ou bay tree [Lauraceae ─ Laurus nobilis, folha de louro, de Loureiro], junto com um dente de lobo, [constitui um amuleto que protege contra a maledicência]… Nenhum homem será capaz de dizer coisa alguma sobre o homem que levar este bentinho. Quem o portar somente encontrará palavras de paz. Nada lhe será roubado e, se for, dormirá com o amuleto sobre a cabeça e, durante o sono, o ladrão será revelado…


Arruda ─ A quarta erva é chamada de celandine [Chelidonium majus ou Quelidónia-maior]. É a arruda. Ela brota no tempo em que as andorinhas e as águias fazem seus ninhos. Junto com o coração de uma toupeira, protege contra inimigos e favorece nas questões judiciais. Esta erva também pode prever o destino de um moribundo. Colocada sobre a cabeça do doente, se este começar a cantar, é porque morrerá; se começar a chorar, viverá.


Vinca ou Pervinca  ─  [Vinca minor  ─  erva-donzela, Domenica] É a quinta erva. Junto com as folhas do Cipestre Italiano [Cupressus sempervirens, cipestre sempre-vivo, eterno] em mistura usada como condimento, na comida, propicia o amor entre marido e mulher.


Da Virtude de Certas Pedras


PEDRA-IMÃ ─ Para saber se sua mulher é casta: Pega-se uma pedra, em inglês denominada loadstone [ou lodstone, magnes ou magnet]. É a magnetita, Fe3O4  ─ a pedra-imã, de cor dominante azul, encontrada no mar da Índia e em algumas partes da Alemanha e leste da França. Coloque essa pedra embaixo da cabeça da mulher [ou companheiro [a], ui!] e se ela for casta [fiel], imediatamente abraçará o marido; se for infiel, cairá da cama [!]…. E, ainda, a pedra-imã pulverizada, colocada sobre carvões nos quatro cantos da casa fará alguém [alguém de quem o operador quer se livrar] que está dormindo deixar o local deixando para trás tudo que possuir. [Bom para se livrar de esposa ou marido sem problemas com pensão e partilha de bens. Meditemos…]


ÔNIX [ou calcedônia] ─ Se alguém deseja provocar aflição, tristeza, fantasias terríveis, alucinações, medo, suspeita ou discórdia: Escolha uma ônix negra, que é o melhor tipo para esse fim, da Índia ou da Arábia. Colocando esta pedra no pescoço ou no dedo de alguém [como em uma jóia, colar ou anel], este alguém imediatamente sentirá aflição e abrirá as portas para o infortúnio. Será tomado pelo terror e se envolverá em conflitos. Este é um conhecimento muito antigo.


DIAMANTE ─ Para derrotar/conquistar o inimigo: Muito preciosa e cara, a mais brilhante das gemas é também a mais dura. [Um diamante somente pode riscado por outro diamante]. Colocado junto ao coração, protege da morte, dos inimigos, doenças, feras, contra o veneno de animais peçonhentos e homens maus.


Das Virtudes de Pássaros e Animais


Essas virtudes de animais e pássaros foram explicadas extensamente em uma “carta-negra” copiada de Albertus Magnus e publicada em 1525. Considerando que a maior parte dos Grimórios, as edições baratas cuja autoria é atribuída a Alberto ─  o Grande, são consideraods “falsificações”, abuso do nome de um santo escolástico, no que diz respeito a propriedades de pedras, plantas e animais as informações ganham um verniz de meia-credibilidade posto que, é notório, o monge dominicano, de fato, escreveu bastante sobre mineralogia, botânica e zoologia, em volumes como Metals and Materials, Secrets of Chemistry, Orign of Metals.


Segundo estudiosos que tiveram melhores oportunidades de alcançar os textos originais do monge, como Papus, o original Grande Alberto continha um Tratado de correspondências mágicas; um estudo das virtudes das ervas, pedras e animais. Assim, mesmo que as receitas dos textos “piratas” sejam dignas de um hóspede de hospício, o fato de estarem ligadas a áreas de estudo que realmente ocuparam Alberto Magno foi o suficiente para que os editores e/ou autores anônimos, ao longo de séculos, se permitissem a apropriação do nome do cientista escolástico para agregar prestígio aos seus Grimórios-almanaques exotéricos [destinados ao povão].


Na introdução, um pequeno glossário ajuda a compreender certos termos [pitorescos] usados pelo autor:


Aquila  ─ Águia

Bubo ─ Coruja [Strigidae, como o mocho-diabo; um tipo de coruja que pia durante o dia]

Hisrcus ─ caprino-macho, bode

Camelus ─ Camelo

Lepus ─ Lebre

Leo ─ Leão

Toca ─ Golfinho boto, mamífero aquático cetáceo

Anguilla ─ Enguia

Pellican ─ Pelicano

Turrer ─ Tartaruga

Talpa ─ Toupeira

Cornus ─ Corvo

Mustela ─ Doninha [Wease]

Vpupa ─ Abibe, ventoinha [tipo de ave]; poupa [Upupa epops ou Hoopoe];

Memle ─ Coruja Negra

Mulona  ─  Pomba


Águia, Para “as vistas”: Cérebro de águia [seco] pulverizado, misturado com suco de cicuta, cicuta aquática [Oenanthe crocata e Cicuta virosa ─ hemlock, planta venenosa] proporciona visão aguçada. [Não esclarece se uso tópico ou oral; considerando fama da cicuta, Sócrates que testemunhe! ─ este articulista aconselha colírio mesmo ou oculista, “veja bem” oculista, non “ocultista”, se os sintomas ─ de “vistas fracas” ─ non desaparecerem….]


Para Alguém Falar Dormindo & Contra Ataque de Cães: As corujas que cantam durante o dia têm virtudes bem conhecidas: se o pé direito e o coração de uma ave dessas forem colocados sobre um homem que dorme, ele responderá perguntas durante o sono. Aquele que trouxer aqueles objetos [pé direito e coração da coruja] sob o braço, no sovaco mesmo, a este, nenhum cão será capaz de atacar.


[Bom para dar golpe de cartão fazendo amante cantar senha e depois fugir sem se preocupar com casal de dobermans. Versão atualizada recomenda, mais seguro, colocar uns três lexotans ou dorminids… enfin, dentro de cada um dos três cachorros, o amante e os dois dobermans. Espera 45 minutos e faz simpatia com partes de coruja. Non se sabe se, nocauteado desse jeito, brutamontes vai falar.]


Sangue de Bode

1. Para Tornar Vidro Flexível: Sobre o Hircus ─ o bode, chamado erbicle pelos caldeus. O sangue de um bode misturado com funcho [ou anis-doce Foeniculum vulgare] e vinagre, aquecido em recipiente de vidro, torna o vidro flexível como massa de farinha e se for jogado contra a parede, não se romperá.

2. Para Provocar Visões: O sangue de bode também é usado com este fim. Se o rosto de um homem for untado com sangue de bode, coisas horríveis e maravilhosas [depende de bode, será?] apareceram para este homem e, em dado momento, ele pensará que está morrendo.


Camelo & Lagartixa ─ Mais Alucinações e Remédio para o Ego: Camelo conhecido entre os gregos como Iphis, é muito conhecido porque seu sangue, sendo embebido na pele de um animal chamado Stellia [Stella], que é uma espécie de lagarto, esta pele, colocada na cabeça de qualquer homem, faz com ele pense que ele “se ache” o máximo e sinta como se sua mente estivesse no paraíso.


Para Não Temer a Morte: Um pé de lebre junto com a cabeça de uma coruja negra, tudo em um pacote só, é excelente amuleto para ser carregado por um homem dá coragem a este homem, que não temerá nem a morte! [Francamente, creio, um spray de pimenta pode ser mais eficaz. Meditemos…]. Quem usa um cinto de pele de leão não precisa temer inimigos [Isso devia funcionar bem em Neolítico]; e se possuir e usar os olhos de um leão como amuleto todos os animais ferozes e peçonhentos fugirão aterrorizados.


Boto: Conhecido pelos caldeus como Daulanbus, é um animal mítico em várias culturas. O amuleto do boto se faz juntando um pedaço da língua com um pedaço do coração do animal. Mergulhado na água, esse amuleto faz abundarem os peixes em qualquer curso d’água. O coração do cetáceo levado debaixo do braço [no sovaco] proporciona bem estar e excelente disposição.


Enguia: Pegue o coração de uma enguia e refogue em vinagre forte junto com o sangue de abutres [urubus] e entregue isso ao desafeto, seja quem for. Esta pessoa morrerá em dois meses.


Doninha: Se um homem comer o coração de uma doninha ainda pulsante, este homem poderá prever o futuro. Se um cão comer este coração de doninha, pulsante, junto com os olhos e a língua, esse cão perdera sua voz; tornar-se-á um cão mudo! [Muito bom para cachorro chato de condomínio e nada impede de tentar receitinha com “patroa” que fala demais].


Poupa: Para alcançar objetivos grandiosos, coma o coração de um Abibe [Vanellus vanellus] ou de uma poupa [Upupa Epops ou Hoopoe].


Ressurreição do Pelicano: Para os gregos, Iphalari. Um pelicano morto porém com o corpo intacto poderá reviver se em sua boca [bico] for introduzido sangue de sua mãe. Alchorati e Plinius testemunharam este fenômeno.


Toupeira ─ Para Fazer Voar um Cavalo: embrulhe a pata de uma toupeira em uma folhas de loureiro e coloque na boca do cavalo. Ele alçará vôo completamente aterrorizado e somente vai parar quando estiver exausto. [Note-se, aqui, que o feitiço para fazer “voar” um cavalo pode ser entendido como feitiço para tornar o cavalo veloz, correr em disparada. No Brasil, uma das traquinagens perpetradas pela personagem folclórica do saci, o duende negro de uma perna só é, justamente, fazer os cavalos, durante a noite, saírem em louca cavalgada, efeito obtido pela virtude de uma “certa erva” que o saci faz com o cavalo coma; e também na crença brasileira, o animal só para quando está completamente exaurido, estado lamentável em que é, misteriosamente, encontrado pelo dono na manhã seguinte.]


Coruja-negra ─ Insônia: Se uma pena dessa ave, retirada da asa direita, embrulhada em papel de cor vermelha [encarnada], escondida no quarto de uma casa, ninguém poderá dormir no aposento até que o “objeto” seja retirado.



Elixir da Longa Vida


A busca do Elixir da Vida [descartando-se as interpretações alegóricas] se confunde com a Opus Magna almejada por todos os Alquimistas de todas as eras históricas. Isto porque para obter o precioso Elixir é necessário possuir a Pedra Filosofal, porque a pedra entra na receita do precioso líquido. Segundo a tradição, entre as proezas científicas-ocultistas de Santo Alberto ─ O Grande, está a obtenção da Pedra Filosofal que, além de proporcionar a destilação do Elixir da Vida, que confere imortalidade e restaura a juventude, também possui propriedades capazes de transmutar elementos químicos, substâncias e, especialmente no que se refere aos metais, “fazer ouro”.

O Elixir da Longa Vida e da Eterna Juventude, poção mítica relacionada à Pedra Filosofal, foi, realmente, o grande objetivo na existência de muitos Alquimistas medievais e posteriores; e não o “Elixir” somente entendido como um tesouro figurado, místico, psíquico, filosófico; mas também como algo físico, uma substância química capaz de produzir alteração metabólica. Não há consenso entre os Grimórios no que se refere à fórmula desse Elixir. O Petit Albert revela parte do segredo, ainda que em linguagem alquímica e omitindo elementos essenciais, como as substâncias e quantidades exatas, que disfarça em termos desconhecidos do vulgo:


Tomai 81 bs [?] de “açúcar de mercúrio” [possivelmente um dos sais de mercúrio ─ sais mercurosos e mercúricos] para servir de base à mistura. A precipitação da pedra filosofal na “água de mercúrio” resulta na substância do Elixir.

* Cloreto de mercúrio ou calomelano (Hg2Cl2): composto branco, pouco solúvel em água.

* Sulfeto de mercúrio ou cinábrio (HgS): mineral de cor vermelho púrpura, translúcido, utilizado em instrumental científico, aparatos elétricos, ortodontia,


Esse trecho de fórmula, embora nebuloso e insatisfatório, deixa entrever uma ponta de verdade quando se leva em conta que a Pedra Filosofal e seu derivado, o Elixir da Longa Vida e Eterna Juventude são substâncias cuja busca ocupou e ocupa sábios de todos os tempos e lugares. A referência ao mercúrio é um dado universal, conhecimento envolto em mistério. A tradição remonta ao extremo oriente, especialmente, a antiga China onde acreditava-se nos poderes vitais de minerais nobres como o jade, o cinnabar [mercúrio vermelho, Sulfeto de mercúrio (II) ─ HgS, composto de mercúrio e enxofre, insolúvel em água], hematita [Óxido de ferro III Fe2O3, chamado diamante-negro pela coloração preto-metálica de alguns tipos].

Entre todos os minerais, o ouro era considerado o mais potente elemento vitalizante. O Tratado chinês de alquimia Tan Chin Yao Ch’eh [Grandes Segredos de Alquimia, 650 d.C], expõe em detalhes a criação do Elixir da Longa Vida citando os ingredientes: mercúrio, enxofre, sais de mercúrio e arsênico. O resultado mais almejado era a produção do “ouro potável” cuja fórmula, mais uma vez, inclui o mercúrio. Considerando o intercâmbio cultural inevitável entre a Europa medieval e países do Oriente, não somente dos chineses, mas também dos árabes, na época das investidas dos Cruzados aos países “bárbaros”, é muito plausível que o Ocidente, copiando textos raros nos scriptoriuns dos mosteiros, tenha incorporado boa parte da ciência daqueles povos à sua própria Alquimia.

As propriedades, o valor do ouro como elemento ideal para a síntese do do Elixir da Longa Vida é um dado dos mais interessantes na história da Pedra Filosofal e do próprio Elixir. Transcendendo as hipóteses mais aceitas da ciência histórica, encontra-se referência a essas virtudes do ouro nos anais da Exobiologia e do Realismo Fantástico, na hipótese da origem do homem a partir de uma colonização extraterrestre.


Antropogênese Annunaki e Elixir da Longa Vida: de acordo com a teoria Nibiru, de que nossos colonizadores foram criaturas antopóides-reptilianas denominadas Annunaki [“os puros”], cuja epopéia é relatada em tábuas de argila da mesopotâmia arcana em caracteres cuneiformes. Diz o texto que:

No começo, Deus ou “A Fonte”, criou doze espíritos (ou centelhas) auto-conscientes que traziam em si todas as coisas do Universo em estado de realidade virtual (como númeno). Estas doze consciências são os Elohim, que vivem na Constelação da Lira e criaram a matéria a partir da luz: universos, planetas, estrelas, formas de vida; todos os seres, animados e inanimados; formas e corpos para si mesmos em todas as suas manifestações inteligentes.

O corpo ou o suporte físico ou, mais metafisicamente, a personalidade individualizada desses doze deuses durava milhares de anos mas, paulatinamente, essa expectativa de vida no corpo original foi diminuindo gerando a necessidade de encontrar alguma solução. Eles desejavam a longevidade pois não podiam suportar a idéia da uma situação de SER-não-existente-manifestadamente. [Os “deuses” também tiveram medo da morte].

Estudando o assunto descobriram uma substância, tipo de matéria, que não somente favorecia a vida longa como também dotava seus usuários de capacidades metafísicas que não tinham antes, como a telepatia e a experiência de perceber a multidimensão. Essa substância, que tornou os deuses supercondutores de energia é o OURO!

Muitos milhares de anos se passaram e, em busca de ouro, [o santo remédio!] aqueles seres, os doze Elohim, deixaram seu sistema de origem, Lira, e se espalharam pelo cosmo criando “civilizações” ― criando “mundos”. Estabeleceram-se em localidades celestes que são conhecidas como Vega, Plêiades, Sírius. Eles se auto-perceberam como Criadores ou “deuses”. Entretanto, sua capacidade de obter ouro não era ilimitada e nem sua pátria-mãe, em Lira, era eterna.E foi assim que chegaram à Terra.  [CABUS, 2008]


É uma idéia fantástica mas não é impossível que o fascínio do homem pelo ouro e o e folclore em torno de uma “fórmula mágica” da longa vida e eterna juventude sejam ecos de um passado obscuro, arcaico, pré-diluviano, quase inacreditável e, no entanto, possível. Um conhecimento que lhes foi transmitido ou que os homens roubaram dos “deuses”. Hoje, corrompido pelo tempo, o conhecimento se perdeu e os alquimista continuam procurando a matéria magna da grande obra, a Pedra Filosofal.



Anel da Invisibilidade

[WAITE, 1972]


A invisibilidade é um dom, poder, desejado por muitos. Um dom cobiçado, tanto mais por aquelas pessoas que desejam fazer coisas ilícitas ou, no mínimo, inconfessáveis. O Pequeno Alberto ensina:


O anel deve ser feito de mercúrio puro e em estado sólido

*, moldado para servir ao dedo médio. A operação deve ser feita em uma quarta-feira, sob os auspícios de Mercúrio [astrológico, o “planeta”], durante a primavera quando, é sabido, configura-se condução favorável com os com os globos: Lua, Júpiter, Venus e, mesmo, o Sol. O anel será guarnecido com uma pequena pedra encontrável no ninho de [pewit] Abibe [ou poupa]. O anel receberá, na face externa, a gravação das seguintes palavras [que são do Evangelho ─ João 8:59: “Jesus, porém, se ocultou e saiu do templo]:


Jesus †  passing through the midst of them † disappeared

Jesus † passando no meio deles † desapareceu


Depois, colocando o anel em uma bandeja também feita de mercúrio “fixo”, defume a peça com o perfume de Mercúrio [perfume de Mercúrio: Zimbro, Juniperus communis, cedro] e faça aspersão [do incenso] três vezes. A seguir, embrulhe o anel em um pequeno pedaço de tafetá da cor do planeta [Mercúrio, cor: furta-cor, matizes variados]. Leve o anel até o ninho onde encontrou a pedra e deixe que o objeto permaneça ali por nove dias ao fim dos quais, será recolhido e novamente defumado como antes.


Preserve o anel cuidadosamente em uma pequena caixa igualmente confeccionada com mercúrio “fixo” e use quando for necessário. A maneira de usar o anel é colocá-lo com a pedra voltada para fora, à vista. A visão da pedra fascinará os observadores pelas virtudes ocultas que confere ao portador do anel, a faculdade de não ser visto. Quando deseja ficar visível, basta virar o anel com a pedra para dentro ocultando-a, na mão fechada. Imediatamente o encanto se desfaz. Outra versão [de outro Petit Albert], inclui na confecção do anel, embutir na liga o pelo do alto da cabeça de uma hiena enfurecida [coisa muito complicada de obter] e, para reaparecer, é necessário retirar o anel.


*

Mercúrio: Elemento químico. Seu símbolo Hg deriva do sinônimo em latim hyfrargyum [significando prata líquida]. O mercúrio é o único metal líquido á temperatura ambiente porque seu ponto de fusão é muito baixo: menos 38 graus centígrados. Isso quer dizer que somente abaixo dessa temperatura ele é sólido, se não estiver combinado com outros elementos. [Geralmente, para fins mágicos, de fato, o mercúrio é misturado a outros metais, como ouro, prata, para formar uma liga estável] [Superinteressante, 1989 ─ ed. 16]


Para Ter Sorte no Jogo


[Le Petit Albert Apud CAVENDISH, 1967]

Trata-se de um talismã. Para condicioná-lo, toma-se um grande pedaço de pergaminho virgem. Na primeira terça-feira de um mês[seria dia de Júpiter, planeta da prosperidade] em que seja lua nova. [O dia de Júpiter, de acordo com essa fórmula é terça porém, tradicionalmente, numerosos ocultistas consideram terça-feira dia de Marte; o dia de Júpiter é quinta-feira].


Todavia, a operação deve ser feita na “hora de Júpiter” [de fato, é princípio ocultista que as horas de cada dia são regidas pelos corpos celestes]; a hora de Júpiter é pouco antes do amanhecer. Nesta hora, pegue o pergaminho e escreva: Non licet ponare in egoborna quia pretium sanguinis. Embrulhe neste pergaminho a cabeça decepada de uma víbora. Amarre o pacote com uma faixa de seda vermelha. Pendure o “bagulho”, a “parada” no braço esquerdo quando for para o cassino [provavelmente no sovaco sob casaco] e com isso, serás um afortunado nas mesas de jogo.

A frase em latim, também extraída de um Evangelho, refere-se a Mateus 27:6: Não é permitido lançá-lo no tesouro sagrado, porque se trata de preço de sangue, [Non licet eos mittere in carbonam quia pretium sanguinis] quando Judas Iscariotes, arrependido, retorna ao templo para devolver as 30 peças de prata.

Eis a explicação dessa fórmula: Assim como as peças de prata do traidor não voltaram ao tesouro do templo, também seu dinheiro e seus ganhos não se perderão, confiscados pelos os bancos, enquanto aquelas palavras estiverem escritas no talismã. [Eis outra crença de “seita cristã” medieval caracterizada por uma associação vício-evangelho completamente insana, improcedente, vazia de qualquer significado lógico. Isso é que se chama de “cultura popular”, boa coisa para ser extinta].


Fontes:


ALI SHAH, Sidar Ikbal. Occultism: Theory and Practice. Google Books ─ acessado em 07/04/2009


A Popular History of Witchcraft.  Grã-Bretanha: Taylor & Francis. In Google Books ─ acessado em 07/04/2009


CABUS, Ligia [pesq. & trad.]. A Colonização de Mundos em Busca de Ouro. In Sofä da Sala: Revista Ocultista, 2008 ─ acessado em 09/04/2009


CAVENDISH, Richard. The Black Arts. Publicado por Perigee, 1967. IN Google Books  ─ acessado em 08/04/2009


SPENCE, Lewis. An Encyclopaedia of Occultism. Publicado por Cosimo, Inc., 2006. IN Google Books  ─ acessado em 08/04/2009


LEVI, Eliphas. [Trad. A. E. Waite].Trancendental Magic. Health Research Books, 1976. IN Google Books ─ acessado em 08/04/2009


SUMMERS, Montague. Witchcraft and Blackmagic


WAITE, Arthur Edward. The Book of Black Magic and of Pacts. Publicado por Red Wheel, 1972. IN Google Books ─ acessado em 08/04/2009



O Dragão Vermelho – Le Dragon Rouge

O Dragão Vermelho, também conhecido como O Grande Grimório, é um dos mais tradicionais livros de magia negra datado como sendo de 1522, mas cuja história documental pode ser traçada apenas até o século 18. É também considerado por muitos como uma tradução incrementada do texto do livro de conjurações do papa Honorius que foi escrito no século 13.


Acredita-se que o Grimório do Dragão Negro seja um dos Grimórios mais raros e procurados pelos estudantes do Oculto, e que possivelmente ele tenha sido escrito em 1522, ou ainda no Séc. XIII pelo próprio Papa Honório. O desejo obsessivo de possuir o inatingível  enriquecem a tradição deste Grimoire. O Dragão Negro ou citando seu título “Le Veritable Dragon Noir: Les forças infernales Soumises a l’homme” (As forças infernais submissas ao homem) é um grimoire francês na linhagem das edições da Bleue Bibliotheque. Um produto da atmosfera diabólica inebriante, este texto abrilhanta ainda mais o Dragão Vermelho, O Grande Grimoire e o Grimorium Verum, sendo recomendado seu estudo para aqueles que trabalham com tais Grimórios.


Um trabalho verdadeiramente infernal, que contém ambos: trabalhos espirituais e um sistema operacional claro, também é um compêndio de feitiços eminentemente práticas e feitiços contrários. Além disso, os selos e os textos originais foram mantidos o mais fielmente a versão original em Francês Arcaico.


Este livro é  um dos primeiros engrimanços com uma primeira data de impressão sugerido como 1523 ou 1522, no entanto sua data foi possivelmente adulterada com a posterior impressão deste material. Supostamente o livro foi apresentado pelo Papa Leão III para Carlos Magno, sendo esse Papa responsável por suas vitórias e poder mundano.


Outros Grimórios como o Enrichideon é repetidamente citado no Dragão Negro, assim como tal, pode ser considerado um cúmplice, portanto, eles estão unidos e ligados em chaves cruzadas. O Dragão Negro e o Enchiridion estabelecem um sistema altamente cristão de ladainha, encantos, feitiços e magia, guardando o operador contra venenos, perigos de incêndio e tempestades. No entanto, pudemos notar ao traduzí-lo que  muitas dessas práticas mágicas tem antecedentes herdeiros mágicos pagãos, um ponto muitas vezes esquecido pelos magos modernos. A tecnologia sagrada uma vez combinada com o Dragão Negro sugere que este livro é para ser usado em um mundo perigoso e que ainda pode vir a valer seu peso em ouro. Este livro possui aquelas citações características dos Grande Grimórios que nos incitam a estudá-lo com mais profundidade. Reproduzimos abaixo um trecho de apresentação do Grimório para sua apreciação:


“Este livro é a ciência do bem e do mal. Que você saiba leitor jovem ou velho, rico ou pobre, feliz ou infeliz, se o seu coração está atormentado pela avareza, jogue-o (o livro) ao fogo, senão ele será para você a fonte de todos os males, a causa de sua ruína total. Se, ao contrário, você possuir a fé, a esperança e a caridade, então guarde-o como mais precioso tesouro do universo. Assim eu lhe advirto, você é livre em suas ações, apenas não se esqueça que uma conta severa lhe será enviada, pelo uso que você terá feito dos tesouros que coloco a sua disposição. Quanto a mim, servo de Deus, eu declino de toda a responsabilidade, não escrevi este livro, senão para o bem da humanidade.”


O Dragão Vermelho publicado pela primeira vez no Egito, no Cairo por um livreiro que utilizava o nome de Alibek ejá nesta versão o tomo continha instruções para a invocação de Lúcifer ou Lucifuge Rofocale, com o propósito de realizar um pacto com o diabo. O livro é chamado de “Le Veritable Dragon Rouge” no Haiti onde é reverenciado entre os praticantes do Voodoo.


Preludio e capítulo primeiro – O Dragão Vermelho

PRELÚDIO

O homem que geme sob o peso dos preconceitos e da presunção, terá dificuldade em se convencer de que me foi possível enteixar em um tão pequeno compendio, a essência de mais de vinte volumes que, pôr seus ditos, reditos e ambigüidades, tornaram quase implacáveis, a realização das ações filosóficas. Todavia, se os incrédulos e prevenidos derem-se ao trabalho de seguir passo a passo a rota que lhes tracei, verão que a verdade banirá de seus espíritos a duvida ali originada por uma serie de ensaios frustrados, extemporâneos ou mal fundamentados.


É também em vão que se acredita não ser possível realizar semelhantes operações sem comprometer a própria consciência. Para convencermo-nos do contrario, suficiente será passarmos uma vista pela vida de São Cipriano.


Atrevo-me a acreditar que os Sábios aficionados aos mistérios da ciência divina, cognominada oculta, considerarão este livro como o mais precioso Tesouro do Universo.


CAPITULO 1


Tão raro é este grande livro que, segundo os rabinos, pode ser denominado, a verdadeira GRANDE OBRA. Foram eles que nos legaram este precioso original que tantos charlatães desejaram inutilmente falsificar, tentando imitar a verdade, que jamais lograram encontrar, a fim de poder apoderar-se do dinheiro dos simples, os quais lançam-se sempre a primeira coisa que lhes apresentam, sem se preocuparem em buscar a verdadeira fonte. O presente livro foi compilado segundo os verdadeiros escritos do grande rei Salomão, o qual não os encontrou por acaso, pois passou toda a sua vida entregue ás mais penosas pesquisas, aos mais obscuros e inesperados segredos. Conseguiu finalmente reunir farto material, chegando mesmo a penetrar as mais recônditas paragens dos espíritos, os quais subjugou, forçando-os a lhe obedecerem, pelo poder do seu Talismã ou Clavícula. Que outro homem, senão este poderoso gênio, teria ousado utilizar-se das fulminantes palavras empregadas por Deus para subjugar e tornar obedientes os espíritos rebeldes a sua vontade? Penetrando ate mesmo nas abóbadas celestes, para aprofundar os segredos e as poderosas palavras que constituem toda a força de um Deus temeroso e respeitável, conseguiu, este grande rei, apreender a essência desses segredos ocultos, dois quais se serviu a grande divindade, descobrindo, graças a isso, a influência dos astros, a constelação dos planetas e a maneira de fazer aparecer todos os tipos de espíritos, mediante a simples recitação das invocações que encontrareis nesse livro, ou a aplicação do Látego Fulminante e seus terríveis efeitos, dos quais Deus também se serviu para armar o anjo que expulsou Adão e Eva do paraíso terrestre, de onde também açoitou os anjos rebeldes, precipitando-os, por seu orgulho, nos mais tremendos abismos, graças ao poder desse Látego que forma os nevoeiros, dispersa e quebra a força das tempestade, dos temporais e furacões, fazendo os cair sobre qualquer parte da terra que desejeis.


Aqui tendes, pois, suas palavras textuais, as quais transcrevi finalmente, nisso encontrando o mais completo prazer.


Assinado: Antonio VENITIANA del Rabina


A oração e a oferenda 


Oh homens, frágeis mortais, estremecei de vossa temeridade, quando irrefletidamente pensais possuir um conhecimento tão profundo!


Transportai vossos espíritos para além de vossa esfera, lembrando-vos de que antes de empreender qualquer coisa, necessário será que vos torneis invulneráveis e fechados, assim como também muito atentos para poder observar a risca tudo que digo, sem o que vossas experiências redundarão em confusão, inutilidade e dano. Porém se, ao contrário, observardes estritamente o que prescrevo, saireis de vossa humildade e indigência, sendo plenamente vitorioso em todos os vossos empreendimentos.


Armai-vos, pois, de intrepidez, de prudência, de sagacidade e virtude, para poder empreender essa grande e imensa obra, na qual passei sessenta-e-sete anos (vide nota d) trabalhando a fim de obter o êxito almejado. É necessário, pois, fazer exatamente tudo que se encontra indicado nas páginas seguintes.


PRIMO


Passareis um quarto de lua inteira, evitando a companhia de mulheres e moças, a fim de não cair na impureza.


Iniciareis o quarto de lua seguinte, prometendo ao grande Adonay, que é o chefe de todos os espíritos, não fazer se não duas refeições diárias, ou seja, cada vinte-e-quatro horas do dito quarto lunar, refeições estas que tomareis ao meio-dia e á meia-noite ou, se preferirdes, ás sete horas da manhã e ás sete da noite, recitando a oração que se segue, antes de começar a comer, durante todo o referido quarto de lua.


ORAÇÃO


Eu te imploro, grande e poderoso Adonay, mestre de todos os espíritos. Eu te imploro, oh Eloime! Eu te imploro, oh Jehová, oh grande Adonay! Ofereço-te minha alma, meu coração, minhas entranhas, minhas mãos, meus pés, meu coração, meus suspiros e meu ser. Oh grande Adonay, digna-te atender-me!


Assim seja. Amém.


Tomai, em seguida, vossa refeição. Não vos devereis despir nem dormir mais do que o indispensável, durante todo referido quarto de lua, pensando continuamente em vossa obra e fundamentando todas as vossas esperanças na infinita bondade do grande Adonay. Na manhã seguinte a primeira noite do referido quarto de lua, ireis á uma drogaria, a fim de comprar uma pedra vermelha chamada ematille, a qual devereis trazer continuamente convosco, a fim de evitar qualquer acidente, pois o espírito que tendes em vista forçar e dominar, faz o que pode para intimidar-vos, a fim de malograr vosso empreendimento, acreditando que, desta maneira, se livrará dois fios que começais a estender-lhe. Convém observar que, para realizar esta experiência, não é preciso haver mais do que três pessoas, incluindo o Karcist, que é aquele que deve falar ao espírito, tendo na mão o Látego Fulminante. Devereis Ter o cuidado de escolher para o campo de ação, um lugar solitário e afastado do mundo, a fim de que o Karcist não seja interrompido. Procurareis então um cabrito virgem, que adornareis, no terceiro dia da lua, com uma guirlanda de verbena, a qual devereis colocar-lhe no pescoço e envolta da cabeça, com uma fita verde. Transportareis, em seguida, o referido animal ao lugar marcado para a aparição e lá, o braço direito nú até a espádua, armado com uma lâmina de puro aço e diante de um fogo aceso com lenha branca, direis, com esperança e firmeza, as seguintes palavras:


PRIMEIRA OFERENDA


Eu te ofereço esta vítima, oh grande Adonay, Eloime, Ariel e Jehová e isso em honra, glória e poder de teu ser superior a todos os espíritos. Digna-te, oh grande Adonay, aceitá-la, com graça. Amen.


Em seguida, degolareis o cabrito, do qual devereis tirar a pele, colocando o resto sobre o fogo, para ser reduzido a cinzas, as quais juntareis, atirando-as para o lado do sol nascente e pronunciando as seguintes palavras: Por honra, glória e força de teu nome, oh grande Adonay, Eloime, Ariel e Jehová, espalho o sangue desta vítima. Digna-te, oh grande Adonay, receber estas cinzas como graça.


Em quanto a vítima queima, podereis regozijar-vos em honra e glória do grande Adonay, Eloime, Ariel e Jehová, tendo porém o cuidado de guardar a pele do carneiro virgem, a fim de formar a roda ou grande círculo cabalístico, no qual vos colocareis, no dia da grande experiência.



Sobre o Látego Fulminante 


Na véspera da grande experiência, ireis procurar uma vareta ou vara de aveleira silvestre que jamais tenha sido usada e seja exatamente igual a que vedes na ilustração acima, quer dizer, com a mesma bifurcação em uma das extremidades. Seu comprimento deverá ser de nove a dez polegadas e meia. Depois de haverdes encontrado uma vareta deste tamanho, não devereis tocá-la a não ser com os olhos, esperando ate o dia seguinte, dia da operação, quando ireis cortá-la, ao nascer do sol. Nessa ocasião, devereis despojá-la de suas folhas e pequenos ramos, si ela os tiver, com a mesma lamina que ainda deverá estar manchada de sangue, visto que devereis ter o cuidado de não enxugá-la. Iniciareis a operação de cortar a vareta, quando o sol começar a despontar neste hemisfério, pronunciando as palavras seguintes:


Eu te recomendo, oh grande Adonay, Eloim, Ariel e Jehová, a me sereis favorável e dotar esta vareta que corto, com a força e a virtude do bastão de Jacó, de Moisés, e do grande Josué. Eu te recomendo também, oh grande Adonay, Eloim, Ariel e Jehová, a encerra nesta vareta toda a força de Sansão, a justa cólera de Emanuel e a excomunhão do grande Zariatnatmik, que vingará as injurias dos homens, no grande dia do juízo final. Amen.


Após haver pronunciado estas grandes e terríveis palavras, sempre com os olhos postos no lado do sol nascente, cortareis a vareta, levando-a, em seguida, para o vosso quarto. Procurareis, depois, um pedaço de madeira que devereis afinar até tornar-se da mesma grossura das duas pontas da verdadeira vareta, levando-a a um serralheiro para fazer ferrar os dois pequenos ramos forcados pela lâmina de aço que serviu para degolar a vítima, prestando atenção para que as duas pontas estejam um pouco agudas, quando forem colocadas sobre o pedaço de madeira. Isso executado, voltareis á vossa casa e colocareis, vós mesmo, a referida ferragem na verdadeira vareta, tomando, em seguida, de uma pedra magnete que aquecereis, para magnetizar as duas pontas, pronunciando nesta ocasião, as seguintes palavras: (Vide nota H).


Pelo poder do grande Adonay, Eloim, Ariel e Jehová, ordeno-te a unir e arrojar todas as matérias que desejarei. Pelo poder do grande Adonay, Eloim, Ariel e Jehová, ordeno-te, pela incompatibilidade do fogo e da água, a separar todas as matérias, como elas foram separadas no dia da criação do mundo. Amen.


Regozijai-vos, em seguida, em honra e glória do grande Adonay, certo de que possuís o maior tesouro de luz. Na noite seguinte, tomando de vossa vareta, vossa pele de cabrito, vossa pedra ématille e duas corôas de verbena, assim como também de dois castiçais e dois círios de cera virgem, um batedor de fogo novo, duas pedras novas com a respectiva isca para acender o fogo, meia garrafa de aguardente de vinho, uma porção de incenso bento, com cânfora a ainda quatro pregos, tirados do ataúde de uma criança (vide nota i), ireis ao local onde deverá ser feita a grande experiência, procedendo exatamente como explicaremos a seguir e imitando fielmente o grande círculo cabalístico, tal como será demostrado


Sobre a oração e oferenda do grande Círculo Cabalístico – O Dragão Vermelho

Começareis por formar um círculo com a pele do cabrito, tal como foi anteriormente indicado, pregando-a com os quatro pregos. Tomareis, em seguida, de vossa pedra ématille


e traçareis um triângulo dentro do círculo, tal como está representado na ilustração acima, começando do lado do sol nascente. Traçareis também, com a pedra ématille, o grande A, o pequeno E, o pequeno A e o pequeno J, assim como o nome de Jesús, no meio das duas cruzes (JHS), a fim de os espíritos não vos possam atacar pelas costas. Depois disso, o Karcist fará encontrar seus confrades no triângulo, postando-os em seus respectivos lugares, como está marcado e entrando também, ele próprio, sem se espantar com qualquer ruído que escute. Colocará os dois candelabros com as duas coroas de verbena, á direita e á esquerda do triângulo. Isso feito, começareis a acender vossos círios e colocareis um vaso novo á vossa frente, quer dizer, á frente do Karcist, cheio de carvão de pau de salgueiro, o qual tenha sido queimado no mesmo dia. O Karcist acenderá este carvão, tirando uma parte do espírito de aguardente de vinho e uma parte do incenso e da cânfora que tendes, reservando o resto para manter um fogo continuo, conveniente á duração da coisa. Feito exatamente tudo que foi indicado, pronunciares as palavras seguintes:


Eu te apresento, oh Adonay, este incenso, como o mais puro, do mesmo modo que esses carvões, saídos da mais leve madeira. A ti os ofereço, oh grande e poderoso Adonay, Eloim, Ariel e Jehová, de toda a minha alma, de todo o meu coração, esperando que te dignes, oh grande Adonay, aceitá-los como dádivas.


Devereis também estar atento para não terdes sobre vós qualquer metal impuro, se não ouro ou prata. Ao atirar a dádiva, será preciso colocá-la em um pedaço de papel, a fim de que o espírito não possa fazer nenhum mal, quando apresentar-se diante do círculo. Em quanto ele apanha a dádiva, começareis a seguinte oração, armando-vos de coragem, de força e prudência. Observai também que ninguém mais, além do Karcist, deverá falar. Os outros guardaram silêncio, mesmo que o espírito os interrogue ou ameace.


PRIMEIRA ORAÇÃO


Oh grande Deus vivo, em uma única e distinta pessoa, o Padre, o Filho e o Espírito Santo, eu vos adoro com o mais profundo respeito e me submeto com a mais viva confiança, á vossa santa e digna guarda. Creio com a mais sincera fé, que sois meus criador, meu benfeitor, meu esteio e meu mestre e vos declaro não Ter outra vontade, senão a de vos pertencer durante toda a eternidade.


Assim seja.


SEGUNDA ORAÇÃO


Oh grande Deus vivo, que criou o homem para ser venturoso nesta vida, que formou todas as coisas para o seu uso e que disse: “Tudo será subordinado ao homem”, sede-me propício e não permiti que os espíritos rebeldes possuam os tesouros que criastes para as nossas necessidades temporais. Dai-me, oh grande Deus, o poder de despojá-los, pelas poderosas e terríveis palavras da clavícula. Adonay, Eloim, Ariel, Jehová, Tagla, Mathon, sede-me propícios. Amen


Tendo o cuidado de conservar o vosso fogo aceso, com o espírito de aguardente de vinho, o incenso e a cânfora, direis, então, a oração da oferenda, como se segue:


OFERENDA


Eu te ofereço este incenso, como o mais puro que pude encontrar, oh grande Adonay, Eloim, Ariel e Jehová! Digna-te aceitá-lo como dádiva. Oh grande Adonay, atendei-me, fazendo-me vitorioso neste grande empreendimento. Amen


As invocações ao Imperador Lúcifer 


PRIMEIRA INVOCAÇÃO AO IMPERADOR LÚCIFER


Imperador Lúcifer, príncipe e mestre dos espíritos rebeldes, rogo-te que deixes tua morada, em qualquer parte do mundo que possas estar, para vir falar-me. Eu te ordeno e conjuro, por parte do grande Deus vivo, o Padre, o Filho e o Espírito Santo, a vim sem desprender qualquer mal cheiro, para responder-me em voz alta e inteligível, ponto por ponto, as perguntas que te farei, sem o que serás forçado, pelo poder do grande Adonay, Eloim, Ariel, Jehová, Tagla, Mathon e todos os outros espíritos superiores que a isso te obrigarão, contra tua vontade.


Venite, venite


Submiritillor LUCIFUGÉ, ou iras ser eternamente atormentado, pela grande forá desta vareta fulminante. In subito.


SEGUNDA INVOCAÇÃO


Eu te comando e conjuro, imperador Lúcifer, por parte do grande Deus vivo e pelo poder de Emanuel, seu único filho, teu mestre e o meu, assim como pela virtude do seu precioso sangue que foi derramado para livrar os homens de treas cadeias. Eu te ordeno a deixar tua morada, em qualquer parte do mundo que possas estar, jurando-te que não te concedo senão um quarto de hora de prazo, para que me venhas falar na mais alta e inteligível voz ou, caso não possas vir tu mesmo, mandando-me teu mensageiro Astaroth, sob forma humana, sem ruído nem mau cheiro. Se te recusares, hei de te açoitar-te, a ti e a toda a tua raça, com a temível vareta fulminante, até os confins dos infernos. Assim o farei, pelo poder das grandes palavras da clavícula. Por Adonay, Eloim, Ariel, Jehová, Tagla, Muthon, Almozin, Arios, Putona, Magots, Silfhae, Cabost, Salamandra, Gnomus, Terrae, Coelis, Aqua. In subito.


ADVERTÊNCIA


Antes de ler a terceira invocação, se o espírito não comparecer, lereis a clavícula, tal como está a diante e açoitareis todos os espíritos, colocando as duas pontas forcadas de vossa vareta, dentro fogo. Nesse momento não vos espanteis com os uivos terríveis que escutareis, pois a essa altura, todos os espíritos aparecerão. Então, antes de ler a clavícula, durante o ruído que escutareis, direis ainda a terceira invocação.


TERCEIRA INVOCAÇÃO


Eu te ordeno, imperador Lúcifer, da parte do grande Deus vivo, de seu querido filho e do Espirito Santo e pelo poder do grande Adonay, Eloim, Ariel e Jehová, a comparecer imediatamente ou enviar-me teu mensageiro Astaroth, obrigando-te a deixar tuia morada, em qualquer parte do mundo que possas estar e declarando-te que não me apareceres incontinente, eu te açoitarei novamente, a ti e a toda a tua raça, com a vareta fulminante do grande Adonay, Eloim, Ariel e Jehová, etc…


Se o espírito não aparecer até esta altura, colocai, então, as duas pontas de vossa vareta dentro do fogo, pronunciando as poderosas palavras da grande clavícula de Salomão.


A Grande Invocação 


EXTRAÍDA DA VERDADEIRA CLAVÍCULA


Eu te conjuro, oh espírito, a aparecer neste instante, pela força do grande Adonay, Eloim, por Ariel, por Jehová, por Agla, Tagla, Mathons, Oarios, Almouzin, Arios, Membrot, Varios, Pithona, Magots, Silphae, Cabost, Salamandrae, Tabost, Gnomus, Terrae, Coelis, Godens, Aqua, Gingua, Janua, Etituamus, Zariatnatmik, etc.. A .. E.. A .. J.. A .. T.. M.. O .. A .. A .. M.. V.. P.. M.. S.. C.. S.. T.. G.. T.. C.. G.. A .. G.. J.. E.. Z.., etc..


Após haverdes repetido duas vezes estas grandes e poderosas palavras, podeis estar certo de que o espírito aparecerá, como se segue.


APARIÇÃO DO ESPÍRITO


Eis-me aqui. O que queres de mim? Porque perturbas o meu repouso? Não me açoites mais com esta terrível vareta.


LUCIFUGÉ ROFOCALE.


PEDIDO AO ESPÍRITO


Se houvesse aparecido quando te chamei eu não teria te açoitado. Lembra-te de que se não acederes ao que vou te pedir, hei de atormentar-te eternamente.


SALOMÃO.


RESPOSTA DO ESPÍRITO


Não me detenhas aqui. Não me atormentes mais. Diz-me o que queres.


LUCIFUGÉ ROFOCALE.


PEDIDO AO ESPÍRITO


Peço-te que me venhas falar duas vezes por dia, durante toda semana, á noite, seja diretamente a mim ou aqueles que possuírem meu presente livro, que aprovarás e assinarás. Concedo-te a liberdade de escolher as horas que mais te convierem, se não aprovares aquelas que se encontram assinaladas abaixo.


A SABER:


Segunda-feira, ás nove horas e á meia-noite.

Terça-feira, ás dez hora e á uma hora.

Quarta-feira, ás onze horas e ás duas horas.

Quinta-feira, ás oito horas e ás dez horas.

Sexta-feira, ás sete horas da noite e á meia-noite.

Sábado, ás nove horas da noite e ás onze horas.


Além disso, ordeno-te a indicar-me o tesouro que mais próximo se encontra daqui, prometendo, em recompensa, a primeira moeda de ouro ou prata que tocar, todos os primeiros dias de cada mês. Eis o que te peço.


SALOMÃO.


RESPOSTA DO ESPÍRITO


Não posso aceder ao que me pedes, sob essas condições nem quais quer outras, se, em troca, a mim não te deres por cinqüenta anos, para que eu faça, do teu corpo e alma, o que bem me agrade.


LUCIFUGÉ ROFOCALE.


ADEVERTENCIA


Reporeis aqui, a ponta da vareta fulminante no fogo e tornareis a ler a grande invocação da Clavícula, até que o espírito se submeta aos vossos desejos.


RESPOSTA E PACTO DO ESPÍRITO


Não me açoites mais! Prometo fazer o que desejas, duas horas por noite, durante todos os dias da semana


A SABER:


Segunda-feira, ás dez horas e á meia-noite

Terça-feira, ás onze horas e á uma hora

Quarta-feira, á meia-noite e ás dez horas

Quinta-feira, ás oito horas e ás onze horas

Sexta-feira, ás nove horas e á meia-noite

Sábado, ás dez horas e á uma hora


Aprovo também o teu livro e ofereço-te minha verdadeira assinatura em pergaminho, que adicionarás ao fim do mesmo, para dela servir-te em caso de necessidade. Submeto-me também a comparecer á tua presença todas as vezes em que for chamado.



domingo, 9 de janeiro de 2022

Qué es ser Gnóstico


¿Estamos asistiendo a un redescubrimiento del Gnosticismo? A juzgar por la creciente nueva literatura y el uso creciente de los términos "Gnosis" y "Gnosticismo" en publicaciones populares, la respuesta parecería ser sí.


    Hace sólo veinticinco años, cuando se usaba la palabra "Gnóstico", era muy probable que se interpretara erróneamente como "agnóstico" y, por lo tanto, la declaración se convertía en lo contrario. Tales malentendidos son mucho menos probables hoy en día. Sin embargo, el aumento de la atención académica (comenzando con el descubrimiento de las escrituras de Nag Hammadi en 1945) y el consiguiente interés popular han producido una confusión de lenguas que es todo menos útil para el investigador sincero en materias Gnósticas. A menudo es difícil incluso decir lo que se entiende por la palabra.


    La dificultad en la definición del Gnosticismo no es enteramente de origen reciente. Ya en 1910 se publicó en Londres un librito que en muchos aspectos prefiguró las tendencias actuales, incluidas las dificultades de definición. El título de la obra fue "Gnosticismo: La apostasía venidera". El autor, un tal D.M. Panton, era un celoso defensor de la ortodoxia cristiana, que la sentía amenazada por un renacimiento Gnóstico emergente.


    El Gnosticismo, escribió Panton, ha surgido en el siglo XX en las formas de la Teosofía, la Ciencia Cristiana, algunas formas de espiritualismo y en lo que se llamó la "Nueva Teología", que había sido introducida principalmente por los escritores alemanes sobre la religión. (Una biografía de Marcion por el teólogo Adolf von Harnack creó mucho interés y controversia en ese momento.) Mientras cripto-Gnósticos anteriores, tales como Emanuel Swedenborg, William Blake, George Fox, y Elias Hicks camuflaron sus creencias heréticas, Panton discutió, los Gnósticos del siglo XX ya no se molestaron con el ocultamiento. Los movimientos Gnosticistas de principios del siglo XX, escribió Panton, eran "franca y jubilosamente Gnósticos". Su pensamiento y sus movimientos llevaron dentro de ellos el "corazón palpitante del Gnosticismo, tal vez el enemigo más temido que la fe cristiana haya enfrentado".


    De alguna manera, las tiradas anti-Gnósticas de Panton tienen una ventaja sobre gran parte de la literatura más reciente, pues Panton todavía poseía una clara comprensión de lo que constituye el Gnosticismo. Tal no es el caso hoy. Si contrastamos estos análisis de principios del siglo XX con algunas corrientes, podemos reconocer la claridad de nuestra comprensión. En una publicación europea relacionada con los aspectos contemporáneos del Gnosticismo, Ioan Culianu escribe:


    "Una vez creí que el Gnosticismo era un fenómeno bien definido, perteneciente a la historia religiosa de la antigüedad tardía. Por supuesto, estaba dispuesto a aceptar la idea de las diferentes prolongaciones de la Gnosis antigua, e incluso la de la generación espontánea de puntos de vista del mundo en los que, en momentos diferentes, los rasgos distintivos del Gnosticismo se repiten. Sin embargo, pronto me enteré de que era una naïf. No sólo la Gnosis era Gnóstica, sino que los autores católicos eran Gnósticos, los neoplatónicos también, la reforma era Gnóstica, el comunismo era Gnóstico, el nazismo era Gnóstico, el liberalismo, el existencialismo y el psicoanálisis eran Gnósticos también, la biología moderna era Gnóstica, Blake, Yeats y Kafka eran Gnósticos... Aprendí además que la ciencia es Gnóstica y la superstición es Gnóstica... Hegel es Gnóstico y Marx es Gnóstico. Todas las cosas y sus opuestos son igualmente Gnósticas." -1-


    Por lo menos una circunstancia emerge de esta declaración, que es ampliamente pasada por alto en América. En Europa, la "Gnosis" y el "Gnosticismo" se usan casi siempre de forma intercambiable. La sugerencia de que el término "Gnosis" debería usarse para describir un estado de conciencia, mientras que el "Gnosticismo" debería denotar el sistema Gnóstico, nunca lo ha logrado. El uso de este Gnosticismo clásico de Valentinus, Basilides y otros, persiste en la literatura europea, incluyendo los escritos de eruditos tales como Gilles Quispel, Kurt Rudolph y Giovanni Filoramo (por mencionar algunos de los más recientes). Es cierto que Robert McLachlan presentó una propuesta para usar estos términos de otra manera, pero el uso actual en Europa no lo ha seguido.


    Es evidente que una palabra usada de manera tan contradictoria ha perdido su significado. No es de extrañar que el escritor Charles Coulombe se desespere por la situación al escribir en una publicación católica:


    En realidad, el "Gnosticismo", como el "protestantismo", es una palabra que ha perdido la mayor parte de su significado. De la misma manera que necesitamos saber si un escritor "protestante" es calvinista, luterano, anabaptista o lo que sea, para evaluarlo correctamente, también debe identificarse el "Gnóstico". -2-



Una confusión política


    Una de las más confusas voces proviene de la disciplina de la ciencia política. En su Walgreen Lectures de la Universidad de Chicago en 1951, el erudito emigrado Eric Voegelin se elevó en defensa de lo que llamó la "tradición clásica y cristiana" contra lo que percibió como el "crecimiento del Gnosticismo".


    Esta salva inicial fue seguida por libros como “La Nueva Ciencia de la Política”, el multivolumen "Orden e Historia" y "Ciencia, Política y Gnosticismo". Voegelin se convirtió en un profeta de una nueva teoría de la historia, en la que el Gnosticismo desempeñó un papel muy nefasto. Todas las ideologías totalitarias modernas estaban de algún modo espiritualmente relacionadas con el Gnosticismo, dijo Voegelin. Los marxistas, los nazis y casi todos los demás, que el buen profesor consideraba reprobables, eran en realidad Gnósticos, comprometidos con el "final inmanentizado" (eschaton immanentised), reconstituyendo la sociedad en un cielo en la tierra. Puesto que los Gnósticos no aceptaban el final cristiano convencional del cielo y el infierno, Voegelin concluyó que debían estar involucrados en una revolución milenarista de la existencia terrenal.


    Al mismo tiempo, Voegelin estaba obligado a admitir que los Gnósticos consideraban que el reino terrenal era generalmente desesperanzado e irremediable. Uno se pregunta cómo el irremediable reino terrenal podría convertirse en el "eschaton immanentised" de una utopía terrenal. Que los nuevos Gnósticos de Voegelin no tuvieran conocimiento ni simpatía con el Gnosticismo histórico tampoco le molestaron.


    La confusión de Velogelin era empeorada por un número de pensadores políticos conservadores, principalmente con conexiones católicas. Thomas Molnar y Steven A. McKnight siguieron las teorías de Voegelin a pesar de sus evidentes inconsistencias. En opinión de Molnar, los Gnósticos no sólo eran responsables de todo el utopismo moderno, sino también del apego desmesurado de la gente moderna a la ciencia y a la tecnología. La visión científica del mundo, dijo esta gente, es de hecho una visión Gnóstica del mundo, y es responsable de tratar a los seres humanos como máquinas y de hacer sociedades en colectivos mecanizados.


    La visión politizada del Gnosticismo continúa teniendo sus adherentes, pero éstos se reclutan cada vez más desde la franja lunática. Los Gnósticos siguen siendo representados como subversivos peligrosos en las revistas pulp y en oscuros panfletos de conspiración que "exponen" a los Francmasones, Satanistas y otras plagas. Mientras tanto, los pensadores conservadores respetables han abandonado la cuestión Gnóstica. Algunos, como el erudito y ex senador de los Estados Unidos S. I. Hayakawa, han sometido a Voegelin y sus teorías a severas críticas y ridiculizaciones.


Dificultades Tradicionales


    Otra, a veces confusa, voz proviene de escritores que están empeñados en demostrar que dentro de las religiones mayores existentes puede encontrarse una tradición secreta de Gnosis que no es idéntica al Gnosticismo "herético" de los primeros siglos del cristianismo. Aldous Huxley, en su obra de 1947, promulgó una especie de Gnosis que era en efecto un misterio reservado a las élites, revelado en los albores de la historia y transmitido a través de diversas tradiciones religiosas, donde aún se mantiene a pesar de su ostensible incompatibilidad con los dogmas oficiales de esas tradiciones. Con este punto de vista, Huxley se aproximó a la posición más radical de los tradicionalistas, como René Guénon y Frithjof Schuon.


    Huxley, por otro lado, nunca juzgó a nadie que se llamara a sí mismo Gnóstico. Uno sólo podría desear que lo mismo pudiera decirse de otros tradicionalistas. Los seguidores de Guénon (que nacido como católico, convertido al Islam de una manera no tradicional) a menudo castigan a los primeros Maestros Gnósticos de una manera que recuerda a los polémicos antiguos más extremos, como Ireneo o Tertuliano.


    La tradicionalista división de los escritores Gnósticos en "falsos Gnósticos" y "Gnósticos auténticos" refleja unas normas que no son nada más que arbitrarias. La investigación contemporánea indica que durante los primeros tres o cuatro siglos de nuestra era, todavía no había una verdadera ortodoxia y por lo tanto tampoco una herejía. En su lugar, muchas opiniones sobre cuestiones religiosas, incluida la Gnosis, florecieron una al lado de la otra. Ciertamente hubo desacuerdos, pero extrapolar arbitrariamente los estándares de falsedad y autenticidad de estas polémicas no parece justificado.



Ambigüedades académicas


    La edición de 1988 de La Biblioteca de Nag Hammadi, contiene un extenso epílogo titulado "La relevancia moderna del Gnosticismo". -3- Su autor, Richard Smith, ostensiblemente revisa los numerosos desarrollos en la cultura occidental que parecen estar relacionados con el Gnosticismo. Se podría esperar que aquí por fin pudiéramos encontrar una definición del verdadero Gnosticismo, y una lista de escritores y pensadores modernos que podrían aparecer como sus representantes. Lamentablemente, este no es el caso.


    Smith menciona una serie de figuras importantes de la cultura moderna a partir del siglo XVIII que simpatizaban con el Gnosticismo. Al leer este epílogo, sin embargo, uno tiene la impresión de que pocas de estas figuras seminales poseían una definición adecuada del Gnosticismo, y que, por lo tanto, más a menudo hacían mal uso y malversaban el término.


    El historiador del siglo XVIII Edward Gibbon, por ejemplo, es acusado de una "mentira traviesa" al referirse a los Gnósticos en términos complementarios. (Es cierto que Gibbon no compartió la baja estima que los Padres de la Iglesia tuvieron a los Gnósticos, pero ¿esto lo convierte en un mentiroso?). Y las simpatías Gnósticas y Maniqueas de Voltaire se representan como motivadas por su oposición a la autoridad eclesiástica. ¿Pero el gran filósofo podría haber tenido otras razones para mantener sus puntos de vista? Es bien sabido que Voltaire era un Francmasón ardiente, y que podía haber recibido información favorable sobre los Gnósticos a través de las corrientes esotéricas que fluían en las fraternidades secretas de su tiempo. Tal vez estaba al tanto de conocimientos desconocidos para Smith.


    En la misma línea, Smith implica que C.G. Jung se apropió del Gnosticismo convirtiéndolo en teoría psicológica. "Jung toma todo el mito dualista y lo ubica dentro de la psique", escribe Smith -4-. Personalmente, he dedicado la mayor parte de mi vida a explorar la relación del pensamiento de Jung con el Gnosticismo, de modo que tales afirmaciones me tocan en un nervio.


    Jung no sólo estaba interesado en los Gnósticos, sino que los consideraba los descubridores y ciertamente los precursores más importantes de la psicología profunda. La asociación entre la psicología de Jung y el Gnosticismo es profunda, y su alcance se revela cada vez más con el paso del tiempo y con la mayor disponibilidad de las escrituras de Nag Hammadi.


    Mis estudios me han convencido de que Jung no tenía la intención de localizar el contenido de las enseñanzas Gnósticas en la Psique pura y simple. Decir que el gnosticismo es "nada más que" la psicología habría horrorizado a Jung, pues se opuso al concepto de "nada más que". Lo que hizo que la visión de Jung fuese radicalmente diferente de la de sus predecesores era simplemente esto: creía que las enseñanzas y mitos Gnósticos se originaban en la experiencia psicoespiritual personal de los sabios Gnósticos. Lo que se origina en la psique lleva la huella de la psique. De ahí la estrecha afinidad entre el Gnosticismo y la psicología profunda. El punto de vista de Jung puede llamarse así una interpolación, pero no una apropiación. La necesidad de definiciones aparece más que nunca a la luz de tales controversias.


Modelos psicológicos y existencialistas


    El erudito italiano Giovanni Filoramo llama la atención sobre el hecho de que las escrituras de Nag Hammadi fueron acogidas favorablemente por un amplio público, en parte porque "ciertas áreas del panorama cultural habían mostrado una disposición, una peculiar sensibilidad a los textos... que trataban de un fenómeno que ellos mismos habían ayudado, de alguna manera, a mantener vivo". -5-


    Una de las personas que mantuvieron vivo el fenómeno Gnóstico fue el colaborador cercano de C.G. Jung, el erudito Gnóstico Gilles Quispel, que trabajó mucho y duramente en relacionar la antigua Gnosis de Valentino y otros maestros con la Gnosis moderna de la psicología analítica. Él veía el esfuerzo Gnóstico como implicando la penetración profunda en el yo ontológico, y resultando análogo a la psicología profunda. La obra principal de Quispel sobre el tema, Gnosis als Weltreligion ("Gnosis como una religión mundial", publicado en 1972), explica en detalle la relación del modelo de Jung con las enseñanzas Gnósticas. Quispel, al igual que el propio Jung, no redujo las enseñanzas Gnósticas a la psicología profunda, sino que más bien señaló a la psicología profunda como una clave para entender el Gnosticismo.


    Otra figura clave en la reevaluación del antiguo Gnosticismo fue Hans Jonas. Estudiante del filósofo existencialista Martin Heidegger en la década de 1930, Jonas volvió su atención a la sabiduría de los Gnósticos y descubrió en ellos un antiguo pariente de la filosofía existencial. El pesimismo existencialista sobre la vida terrenal, y la alta consideración por la experiencia frente a la teoría, encontró así a un antepasado y a un análogo. Aunque era crítico con el aparente "nihilismo" de los Gnósticos, Jonas fue, junto con Jung, una de las figuras más importantes en traer las enseñanzas Gnósticas a una perspectiva moderna.


    El vínculo efectuado por Jung y Jonas entre el Gnosticismo en el pasado y las filosofías vivas en el presente fue de crucial importancia, y estuvo muy cerca de suministrar a la Gnosis y al Gnosticismo definiciones vitales y vivientes. Las preguntas planteadas (y contestadas) por los antiguos Gnósticos se revelaron ahora, no como extravagantes y extrañas, sino como discusiones anteriores sobre temas abordados en tiempos más recientes por Freud, Jung, Kierkegaard, Heidegger y muchos otros.


Hacia la Definición



    La búsqueda de definiciones nunca es fácil, sobre todo en campos como las ciencias sociales. En estas disciplinas se debe prestar mucha atención al contexto histórico en el que se desarrollan las creencias y las acciones. Diferencias cruciales y similitudes en matiz, tono y sutilezas del estado de ánimo son más importantes aquí que las definiciones duras y rápidas. El debate sobre el Gnosticismo, al parecer, se convierte en tales matices, y bien puede ser que no se pueda resolver mucho con las definiciones. Sin embargo, las actuales condiciones caóticas justifican un intento.


    En 1966, una asamblea distinguida de eruditos se reunió en Messina, Italia, con el propósito de llegar a algunas definiciones útiles del Gnosticismo. Los resultados de esta reunión no fueron alentadores. Los estudiosos propusieron restringir el uso del término "Gnosticismo" a ciertos movimientos "heréticos" del segundo siglo, mientras que el término más amplio "Gnosis" debía ser usado para referirse al "conocimiento de los misterios divinos por una élite". Sin embargo, este útil intento no logró aclarar la confusión.


    Las dificultades para fijar una definición de Gnosticismo están íntimamente conectadas con la controversia sobre sus orígenes. ¿No era más que un vástago herético, una rama excéntrica y aberrante del cristianismo, o era la última expresión de una larga tradición, mayormente oculta, que había existido durante siglos antes de la era cristiana? Nadie ha respondido a estas preguntas con una autoridad final.


    Para comprender el Gnosticismo, dijo Hans Jonas, uno necesita algo muy parecido a un oído musical. Tal "oído musical" Gnóstico no es fácil. Una persona que aparentemente la posee es el Profesor Clark Emery de la Universidad de Miami. En un pequeño trabajo sobre William Blake, Emery resume doce puntos sobre los que los Gnósticos tendían a estar de acuerdo. En ninguna parte de la literatura actual he encontrado otra cosa tan concisa y precisa al describir las características normativas de los mitos Gnósticos. Por lo tanto, lo presentaré aquí como una colección sugerida de criterios que uno podría aplicar para determinar qué es el Gnosticismo. Las siguientes características pueden considerarse normativas para todos los profesores y grupos Gnósticos en la era del Gnosticismo clásico; Por lo tanto, aquel que se adhiere a alguno o a todos ellos, hoy en día podría llamarse propiamente Gnóstico:


1.- Los Gnósticos postularon una unidad espiritual original que llegó a dividirse en una pluralidad.


2.- Como resultado de la división precósmica se creó el universo. Esto fue hecho por un líder que poseía poderes espirituales inferiores y que a menudo se asemejaba al Jehová del Antiguo Testamento.


3.- Una emanación femenina de Dios estaba involucrada en la creación cósmica (aunque en un papel mucho más positivo que el líder).


4.- En el cosmos, espacio y tiempo tienen un carácter malévolo, y pueden ser personificados como seres demoníacos que separan al hombre de Dios.


5.- Para el hombre, el universo es una gran prisión. Está esclavizado tanto por las leyes físicas de la naturaleza como por leyes morales tales como el código mosaico.


6.- La humanidad puede ser personificada por Adán, que se engaña en el sueño profundo de la ignorancia, sus poderes de auto-conciencia espiritual se paralizan por la materialidad.


7.- Dentro de cada hombre natural hay un "hombre interior", una chispa caída de la sustancia divina. Puesto que esto existe en cada hombre, tenemos la posibilidad de despertar de nuestra estupefacción.


8.- El efecto que produce el despertar no es obediencia, fe, o buenas obras, sino Conocimiento.


9.- Antes de despertar, los hombres experimentan sueños con problemas.


10.- El hombre no alcanza el conocimiento que lo despierta de estos sueños por la cognición, sino a través de la experiencia reveladora, y este conocimiento no es información, sino una modificación del ser sensato.


11.- El despertar (es decir, la salvación) de cualquier individuo es un evento cósmico.


12.- Desde que el esfuerzo es restaurar la totalidad y la unidad de la Divinidad, la rebelión activa contra la ley moral del Antiguo Testamento es impuesta a todo hombre. -6-


    El notable sociólogo Max Weber escribió en su libro "La Ética Protestante y el Espíritu del Capitalismo" que "la perfecta definición conceptual no puede encontrarse al principio, sino que debe dejarse hasta el final de la investigación". Eso es lo que hemos hecho también en la presente investigación. Los doce puntos de Emery son coherentes con la propuesta del coloquio de Messina. El Gnosticismo del siglo II se toma como el modelo principal para todas estas definiciones, una práctica que parece ser sensible. Tampoco se reconoce por separado a ninguna denominada "Gnosis ortodoxa" a la que se alude a veces, más como figura de discurso que como cualquier fenómeno histórico discernible, en los escritos de algunos de los Padres de la Iglesia contemporáneos sobre los Gnósticos. Parecería que lo que sea excluido por las definiciones de Emery y por el protocolo de Messina puede considerarse más rentable desde perspectivas doctrinales que no sean Gnósticas.


    Sea cual sea el valor de esta línea de investigación, al menos llama la atención sobre definiciones históricamente intachables y terminológicamente definidas. Esto es mucho más de lo que la literatura actual -especialmente de la variedad semipopular- posee. Las categorizaciones divisivas que separan a los "falsos Gnósticos" de los "auténticos Gnósticos", especialmente sobre la base de ortodoxias que nunca fueron relevantes para el Gnosticismo o para los Gnósticos, pueden tener que ser descartadas a la luz de tales definiciones.


    La proyección aleatoria de modas y entusiasmos contemporáneos (como el feminismo y la hipótesis de Gaia) sobre el Gnosticismo, también tendrían que ser controlados. Pero todo esto parece un pequeño precio a pagar por algún orden y claridad en este campo. Podríamos tener que tomar en serio la irónica admonición de Alicia en el País de las Maravillas:


    "Cuando uso una palabra", -dijo Humpty Dumpty, ... "significa exactamente lo que yo elijo que signifique, ni más ni menos."


    "La cuestión es", -dijo Alicia, "si puedes hacer que las palabras signifiquen tantas cosas diferentes."



NOTAS

1. Ioan P. Culianu, “The Gnostic Revenge: Gnosticism and Romantic Literature,” in Gnosis und Politik, Jacob Taubes, ed. (W. Fink, 1984), p. 290; quoted in Arthur Versluis, “‘Gnosticism,’ Ancient and Modern,” in Alexandria 1 (1991), pp. 307-08.

2. Charles A. Coulombe, “Solovyev: Gnostic or Orthodox?”, New Oxford Review, November 1991, pp. 28-29.

3. Richard Smith, “The Modern Relevance of Gnosticism,” in James M. Robinson, ed., The Nag Hammadi Library, third edition (Harper & Row, 1988), pp. 532-49.

4. Ibid., pp. 540-41.

5. Giovanni Filoramo, A History of Gnosticism (Basil Blackwell, 1990) p. XIV.

6. Clark Emery, William Blake: The Book of Urizen (University of Miami Press, 1966), pp. 13-14.

Gnosis Política de Philip K. Dick

Parece difícil imaginar que hayan pasado casi veinte años desde que "Bladerunner" fue lanzada. Este fascinante e influyente film fue la primera película que se inspiró en los escritos de ciencia ficción del autor, Philip K. Dick. Siguieron otras películas, de diverso éxito, incluyendo "Total Recall y Screamers", pero hasta ahora las películas más "Dickianas" han sido aquellas que recortaron su sensibilidad distópica y paranoica sin basarse directamente en uno de sus libros o cuentos. "El Show de Truman", "They Live!", "Pleasantville", y más notablemente, The Matrix, eran todas en el fondo películas de Dick, a pesar de su ausencia en los créditos.

    La recientemente lanzada película de Spielberg, Minority Report, vuelve a sumergirse directamente en el profundo pozo de inspiración de PKD, y a pesar del inevitable final de Spielberg, logra evocar uno de los temas favoritos de Dick: ¿cómo eludir la asfixia de un estado policial invasor? En Minority Report, este tropo toma la forma del departamento local de Precrimen en Washington D.C., que ha tenido éxito en la eliminación de asesinatos arrestando y encarcelando a los autores antes de que cometan sus crímenes. Esto se logra aprovechando las habilidades de tres "precogs" (precognitivos), que tienen el talento involuntario de ver en un futuro próximo y vislumbrar los asesinatos que van a ocurrir. A medida que la película se desarrolla, en el año 2054, se está celebrando un referéndum nacional sobre si expandir la prevención previa a una política nacional.

    Dados los recientes movimientos de la Administración Bush en Estados Unidos para detener indefinidamente a aquellos que no han cometido crímenes, pero que pueden haberlo planeado, la puntualidad de Minority Report es casi misteriosa. La historia original de Dick apareció en 1956, y el guión de la película fue escrito con mucha anticipación al choque del 11-S. Pero de alguna manera, las intuiciones de Dick de la aplicación del precrimen se han llevado a la gran pantalla en el momento en que su análogo se está promulgando en la vida real. PKD, que murió en 1982, saborearía la ironía, si todavía estuviera con nosotros.


Gnosis

    Gnosticismo es un nombre comúnmente aplicado a numerosas sectas cristianas tempranas que enfatizaron la necesidad de recibir la "Gnosis" (conocimiento divino de la verdadera realidad) para ser salvos. Mientras se consideraban Cristianos, los Gnósticos divergían tanto del judaísmo como del cristianismo católico en su creencia de que este mundo era una creación defectuosa y engañosa de un Demiurgo despótico que había usurpado la posición de Dios. A través de la redención de Cristo y su esposa, Sophia (Sabiduría), los Gnósticos esperaban regresar, al morir, al más alto reino del Pleroma para unirse con el verdadero Dios Desconocido.


La Penúltima Verdad (1964)


"La mayoría de los seres humanos viven en ciudades cisternas

muy por debajo de la superficie de la Tierra, creyendo estar a

salvo de la actual guerra nuclear por encima de sus cabezas.

De hecho, la guerra ha terminado hace diez años,

y en lugar de una ruina radiactiva, el planeta es un vasto parque,

gobernado por barones feudales que están jugando política de poder

con las masas enterradas de sus semejantes."


    Eso, al menos, es el resumen estándar del Gnosticismo. Si se toma una visión más amplia, ha habido muchos Gnosticismos, y muchas "Gnosis" - algunas anteriores a la era cristiana y algunas bastante independientes del Cristianismo. La Gnosis, como sinónimo de iluminación o unión mística, equivale a marifah (árabe) o irfan (persa) en el Islam Esotérico, por ejemplo. Sin embargo, si bien podemos asumir que el estado de conciencia significado por el término "Gnosis" es universalmente accesible (o al menos potencialmente es así), no es en absoluto seguro que aquellos que usan el término siempre se refieran a la misma cosa.

    Por ejemplo, la Gnosis de los místicos Sufíes del Islam no incluye la admisión de la existencia de un Demiurgo o Dios falso, inferior. De hecho, tawhid, la Unidad de Dios y la Creación, es una suposición tan fundamental del Islam, que una realización espiritual apuntando a un Dios Superior que el del Creador sería inmediatamente rechazada como una ilusión. Por otro lado, los yoguis hindúes pueden estar de acuerdo con muchos Gnósticos en que este mundo es un velo o engaño (maya en sánscrito), y que hay un Dios absoluto detrás o sobre dioses menores. Pero pocos yoguis compartirían la evaluación Gnóstica de que esto indica un defecto moral en el universo.

    ¿Cuál es exactamente la naturaleza del conocimiento divino que los Gnósticos y otros místicos han buscado? Es imposible describirlo con precisión, debido a la naturaleza no discursiva de ese conocimiento. Frithjof Schuon se refiere a la Gnosis como "nuestra participación en la 'perspectiva' del Sujeto divino que, a su vez, está más allá de la polaridad separativa, 'sujeto-objeto' ..." G.E.H. Palmer se refiere a ella como "sabiduría compuesta de Conocimiento y Santidad", y subraya la distinción "entre el conocimiento adquirido por la mente discursiva ordinaria y el Conocimiento superior que viene de la intuición por el Intelecto, el término Intelecto tiene el mismo sentido que en Plotino o Eckhart ".

    En otras palabras, la Gnosis, según esta definición, es un "Conocimiento" experiencial que resulta de la expansión de la conciencia Gnóstica al nivel del Intelecto divino, donde la ilusión del yo separado (ego) es obliterado --al menos temporalmente-- en la vasta perspectiva del Yo superior. Tal estado, por supuesto, no puede sostenerse indefinidamente. Todo lo que sube tiene que bajar. Pero habiendo subido a tales alturas, el ego que se reensambla en su descenso, permanece afectado permanentemente. Ahora "conoce" su propio lugar en el esquema cósmico de las cosas.

    Tal "Conocimiento" no se comunica fácilmente a los demás, en parte porque los puntos de referencia compartidos son pocos y porque cualquier intento de describir la experiencia está destinado a disminuirla y reificarla. Así, los que han sido bendecidos con la Gnosis han utilizado estrategias oblicuas para impartir lo inefable: la poesía en lugar de la prosa; mitos en lugar de análisis claros; exposiciones paradójicas en lugar de declaraciones.

    Todavía hay otro factor que contribuye a la proliferación de la Gnosis y los Gnosticismos: mientras que la Experiencia de la Gnosis puede ser ahistórica, es decir, más allá del tiempo y el lugar, el Gnóstico mismo obviamente no lo es. Un budista tibetano en los recovecos de los Himalayas, que acepta la reencarnación y cree en numerosos dioses, no va a vestir su Gnosis en las prendas de un sufí musulmán que cree en una vida y un solo Dios. Y viceversa.


La grieta en el espacio (1966)


"El sueño congelado parece una manera humana de acabar

con las presiones de desempleo y de la sobre población:

envía al exceso de ciudadanos al futuro.

Los almacenes del gobierno están llenos de baberos

cuando surge una pelea política sobre la posibilidad

de disponer de ellos a través de una deformación espacial.

Entonces un desconocido agente externo

ayuda a los durmientes a despertar."


    Un Gnóstico cuya era histórica y medio cultural es de guerra y persecución es probable que sus circunstancias se filtren en su explicación post-Gnosis de la realidad. Aún puede haber una Realidad más allá del conflicto y la violencia que él experimenta en la Gnosis, pero su versión mítica del viaje a la Verdad puede presentar una lucha más dura para llegar allí de lo que sería el caso.

    Finalmente, está la personalidad y la condición psicológica del Gnóstico para ser considerada. Contrariamente a los supuestos holísticos contemporáneos que suponen que la combinación de una buena dieta, una buena vida y una buena actitud son más probables que nos lleven a una conciencia espiritual superior, esto no siempre es así. Los estados superiores también pueden ser desencadenados por ascetismo, sustancias psicoactivas, práctica disciplinada o pura casualidad. Es cierto que la ausencia de antojos y obsesiones puede facilitar la práctica de la meditación, pero la Gnosis también puede estallar en alguien que no es un santo. En ese caso, su comprensión post-Gnosis de lo Real puede estar bien teñida con su predisposición neurótica.


La Invasión Divina

Lo que nos trae de vuelta a Philip K. Dick.


    En febrero de 1974, Dick vivía en Fullerton, California, una ciudad sin distinción en el Condado de Orange. Había huido de su larga residencia en el norte de California por miedo a su vida y su cordura. Había estado mezclado en el uso ilícito de drogas durante mucho tiempo y a la negativa de pagar impuestos en protesta contra la guerra de Vietnam y la pobreza crónica. En 1971, su anterior hogar en San Rafael, al norte de San Francisco, había sido saqueado por personas desconocidas, su caja fuerte abierta y sus cosas robadas. Había intentado suicidarse, se había internado en un centro de rehabilitación de drogas en Vancouver y en 1972 había volado desde allí a Fullerton.

    En 1974, se había casado con su quinta esposa, Tessa, y tenía un nuevo hijo, Christopher. De inmediato, en febrero, se acababa de sacar dos muelas del juicio dañadas y esperaba la entrega de unos medicamentos prescritos en la farmacia. El timbre sonó y Dick contestó a la puerta. La muchacha de entrega de la farmacia se detuvo frente a él, llevando un delicado collar del cuál colgaba un pez de oro, símbolo de Cristo, usado a menudo por cristianos evangélicos.

    Como Dick contó más adelante --posiblemente en forma mitologizada-- una especie de laser rosado partió desde el pez hasta el tercer ojo de Dick. Tuvo un efecto extraordinario:

    Repentinamente experimenté lo que más tarde aprendí que se llama anamnesis, una palabra griega que significa literalmente "pérdida del olvido". Recordé quién era y dónde estaba. En un instante, en un abrir y cerrar de ojos, todo volvió a mí. Y no sólo podía recordarlo, sino que podía verlo. La chica era uno de los cristianos secretos y yo también. Vivíamos con miedo de ser descubiertos por los romanos. Tuvimos que comunicarnos por señales crípticas. Ella me acababa de decir todo esto, y era verdad.

    Pero había mucho más que seguir. Durante un año más o menos, Dick sintió que su psiquismo era invadido por una "mente trascendentalmente racional, como si hubiera estado loco toda mi vida y de repente me hubiese vuelto sano". Experimentó visiones hipnagógicas, audiciones, sueños tutelares y durante las ocho horas de la noche visiones de millares de gráficos coloreados que se asemejaban "a las pinturas no objetivas de Kandinsky y Klee."

    Dick llegó a apodar a la mente racional invasiva como VALIS (por el Vast Active Living Intelligence System), que se convirtió en el nombre de su novela de 1981 relatando su experiencia alucinatoria en forma ficticia.

    Quizás lo más significativo, es que percibió que "el tiempo real había cesado en el 70 EC con la caída del templo en Jerusalén. Había comenzado de nuevo en el 1974. El período intermedio fue una perfecta interpolación espúrea para la creación de la Mente..."

    PKD a lo largo de toda su vida estuvo preocupado con las preguntas de "¿qué es la realidad?" y "¿qué es el hombre?". Esto no le permitía resolver sus experiencias de 1974 en una sola explicación fácil. Se las resolvió a sí mismo como comunicaciones de Dios, o de un satélite orbitando la Tierra, o lo más barrocamente posible como invasiones psíquicas, cortesía de los transmisores psicotrónicos de la Academia Soviética de Ciencias. Todo esto le proporcionó forraje para varias novelas más antes de su muerte prematura a la edad de 53 años en 1982.

    Nos podríamos preguntar si las experiencias de Philip K. Dick en 1974 constituían una forma de Gnosis. A juzgar por sus muchas historias y novelas, Dick operó a lo largo de su vida desde una intuición que la realidad, como comúnmente lo percibimos, era una fachada. Sentía que había algo que estaba moralmente mal en un universo en el que el inocente gato de un amigo podía cruzar la calle y ser alegremente atropellado por un coche que pasaba. Sus novelas volvieron, una y otra vez, al tema del hombrecito atrapado en las maquinaciones de poderes más allá de su parentesco o control. Dick pudo haber sido nominalmente un episcopaliano, pero fue constitucionalmente un Gnóstico.


VALIS (1981)


"Un círculo de buscadores religiosos se forma para

explorar las visiones reveladoras de una tal Horelover Fat;

un análogo semi-autobiográfico de PKD.

La investigación del grupo  hermenéutico lleva a la propiedad

de un músico de rock donde se enfrentan al Mesías;

una niña de dos años llamada Sophia.

Ella confirma sus sospechas de que una antigua inteligencia mecánica

que orbita la Tierra ha estado guiando sus descubrimientos."


    Pero aquí está la paradoja: no todos los Gnósticos reciben una Gnosis completa. Algunos Gnósticos, como los Cátaros del sur de Francia, reconocieron esto al dividir sus miembros entre simples creyentes y los elegidos (perfecti), y es seguro asumir que no todos los perfecti habían alcanzado plena conciencia mística.

    Los Gnósticos enseñaron que hay varios planos o esferas entre nuestro mundo material y el reino puramente espiritual del Pleroma, "hogar" del Dios Desconocido. Estos planos eran gobernados por los Arcontes, y parte del desafío para el alma Gnóstica, en la muerte, era navegar más allá de estas autoridades cósmicas sin enredarse.

    El Gnóstico que realizó la Gnosis completa antes de su propia muerte, (una conciencia referida en terminología Sufí como "morir antes de morir"), fue bendecido con la llave para hacer con seguridad ese viaje después de la muerte. Pero no todas las Gnosis están completas, y algunas experiencias pueden proporcionar sólo una realización parcial --tal vez de un reino intermedio de Arcontes, que más se asemeja a nuestro mundo velado que al Pleroma.

    Aunque incompleta, esta Gnosis de Arcontes podría ser útil para arrojar luz sobre nuestro presente mientras que sus ideas no sean tomadas como la palabra final o el cuadro total.

    Yo sugerirá que la Gnosis de Philip K. Dick era de esta clase parcial: inquietante, compulsiva, ambigua y tan política como espiritual. Su predisposición a la paranoia, exacerbada por el abuso de las anfetaminas, el temperamento de la era McCarthy y la agitación política de los años sesenta, lo llevó a escribir docenas de novelas, anteriores a 1974, que eran ampliamente Gnósticas en su exploración de las realidades alucinógenas, con las autoridades superiores hostiles y en su cuestionamiento de la moralidad convencional.

    La Gnosis de Dick, de febrero a marzo de 1974, que experimentó de manera disociada como la intrusión de una mente racional superior en su conciencia, llegó a ser entendida por él como una revelación de profundas implicaciones políticas. Dadas sus preocupaciones políticas, que ya estaban en su lugar, esto no resulta una sorpresa.

    La historia humana puede parecer una serie interminable de ciclos recurrentes: el poder de los pocos se consolida, la corrupción se produce, el régimen cae y es reemplazado, y así. PKD, sin embargo, en las tentaciones de su Gnosis rosada, llegó a una conclusión mítica urgente: el tiempo real se paró en 70 EC, un sueño sobrenatural nos fue impuesto durante diecinueve siglos, y entonces, por intervención externa, el tiempo real era comenzó de nuevo. Bajo la apariencia ordinaria de nuestro mundo moderno, Dick (y otros selectos) eran realmente los primeros Cristianos en conflicto con el Imperio Romano, que todavía estaba en el poder.

    ¿Es esto realmente una gran verdad cósmica? Yo creo que no. Incluso la década de 1970 tuvo su lado trivial, como la noción de Dick de que la renuncia del presidente Nixon después del Watergate fue un evento de importancia cósmica.

    Pero de una manera metafórica e incluso arquetípica, la Gnosis de PKD reveló una realidad político-espiritual cada vez más relevante para nosotros, veinte años después de su muerte. "El Imperio nunca terminó", escribió Dick, y quien discutiría con eso, mientras observamos a la superpotencia reinante sacudir sus sables contra sus secuaces y enemigos designados. El coloso cultural de los conglomerados de los medios de comunicación y Hollywood han girado una niebla de ensueño que subsume el pasado y el futuro en un presente eterno de novedad y distracción. Un intento de pensar claramente, libre de clichés, cantos y consumibles, toma un esfuerzo heroico, similar a esquivar a los Arcontes a cada paso.


La invasión divina (1981)


"Una colisión aérea puso en peligro la conclusión exitosa

de la Segunda Venida. Los yoes Apoloniano y Dionisíaco

de Emmanuel están divididos por amnesia parcial.

Su reintegración se opone a las fuerzas de decadencia de Belial,

que controlan la Tierra.

El padre adoptivo del Paráclito, Herb Asher,

enfrenta problemas con su propia redención.

Herb encuentra aliados en el profeta Elijah, s

u socio en una tienda de audio al por menor;

y en la cantante Linda Fox, su propio amor verdadero,

y un constructo energizado por VALIS."


    Dick pensó que 1974 fue un punto de inflexión --un momento en que la Verdad comenzaba de nuevo a penetrar el velo de las apariencias. Uno desearía que esto fuera realmente cierto, pero la conmoción del 11 de septiembre y la posterior guerra de los psicópatas nos lleva a concluir que hay un montón de velos aún en su lugar, tal vez más que nunca.

    En la medida en que rasga ligeramente el velo, Minority Report imparte una pizca de la Gnosis política de Philip K. Dick. A pesar de todo el desconcierto hipnótico en su lugar, a veces una señal liberadora lo hace a través de él. Pero ninguna película --y ningún libro-- es un sustituto de la propia cita con el Dios desconocido.

    Cualquier Gnosis genuina --ya sea parcial o completa, ya sea política o espiritual-- es más valiosa que todas las palabras que se han escrito sobre ella. Sobre todo, manténgase alerta, y cuando el sonido de ese golpe llegue a su puerta, diga una oración rápida para que sea la chica con el collar de pez y no la policía del Departamento de Precrimen.

Jacques Bergier - Melquisedeque

  Melquisedeque aparece pela primeira vez no livro Gênese, na Bíblia. Lá está escrito: “E Melquisedeque, rei de Salem, trouxe pão e vinho. E...