quarta-feira, 5 de setembro de 2018

O terceiro fio (Annie Besant)


Precisamos considerar, agora, de que modo o karma trabalha em relação à atividade, o terceiro aspecto do Eu superior. Nossas atividades – as formas pelas quais afetamos o mundo exterior da matéria – tecem o terceiro fio do nosso karma, e, sob muitos aspectos, ele é o menos importante. Nossos pensamentos e desejos, assim que se extravasam, por produzirem vibrações na matéria mental e astral que nos rodeia, ou por criarem formas-pensamento específicas, bem como formas- desejo, tornam-se atividades, são a nossa ação nos mundos exteriores de vida e forma, de consciência e corpos. No momento em que eles se precipitam para fora, passam a afetar outras coisas e outras pessoas; eles são a ação, ou a reação, conforme seja o caso, do organismo sobre o ambiente. A reação dos nossos pensamentos sobre nós mesmos, como vimos, é a construção do caráter e da faculdade; a reação dos nossos desejos sobre nós mesmos é a conquista de oportunidades, objetos e poder; a reação das nossas atividades sobre nós mesmos é o nosso ambiente, as condições e as circunstâncias, os amigos e os inimigos que nos rodeiam. A circunstância mais próxima, a expressão de parte das nossas atividades passadas, é o nosso corpo físico. Ele é modelado para nós por um elemental especialmente criado para essa tarefa. Nosso corpo é a resposta da natureza para aque- la parte da soma das nossas atividades passadas e que podem ser expressas numa única forma material, e a “natureza”, aqui, está representada nos Senhores do Karma, os poderosos Anjos do Julgamento, os Registradores do Passado. Traze- mos conosco duas partes do karma – a natureza do nosso pensamento e a natureza do nosso desejo, as tendências em germinação que criamos durante a longa extensão do nosso passado. Nascemos com a terceira parte do karma, a que limita a expressão do Eu superior e nos restringe; nossa ação passada no mundo exterior reage sobre nós como a soma das nossas limitações – o nosso ambiente, inclusive o nosso corpo físico. 
É provável que um estudo atento das atividades passadas e do ambiente atual traga como resultado o conhecimento de pormenores que não possuímos no momento. Lemos, nas Escrituras Budistas e Hindus, uma quantidade de detalhes sobre esse assunto, provavelmente resultado de meticulosa e cuidadosa observação. Presentemente, nós, estudantes modernos, podemos apenas constatar alguns poucos casos definidos. Crueldade em grau extremo infligida a seres indefesos – sobre hereges, crianças ou animais – reage sobre os inquisidores, os pais e professores desalmados, e sobre os vivisseccionistas, sob a forma de deformidades físicas mais ou menos repulsivas e extremas, de acordo com a natureza e extensão de suas crueldades. 

Vitória sobre o desejo (Annie Besant)


Podemos modificar os desejos pelo pensamento. O desejo-natureza com o qual nascemos é bom, ou indiferente, e segue o seu próprio caminho durante a infância. Logo depois, nós o examinamos, e achamos certos desejos bons e outros inúteis, ou mesmo nocivos. Fazemos, então, uma imagem mental do desejonatureza que seria útil e nobre e, deliberadamente, começamos a trabalhar para criá-lo pelo poder do pensamento. Há alguns desejos físicos que, segundo observamos, trarão doença se não forem controlados: comer em demasia para agradar o paladar; beber bebidas alcoólicas porque estimulam e animam; ceder aos prazeres do sexo. 
Vemos, em outras pessoas, que essas coisas causam obesidade, abalam os nervos e levam à exaustão prematura. Resolvemos não ceder a elas; freamos os cavalos dos sentidos e, deliberadamente, os mantemos assim, embora eles se rebelem; se forem muito indóceis, recorreremos à imagem do glutão, do bêbado, do libertino alquebrado, e assim criaremos repulsa pelas causas que os levaram a ser o que agora são. É assim com todos os outros desejos. Escolha e encoraje, deliberadamente, os que o levam a prazeres primorosos e inspiradores, e rejeite os que resultem no embrutecimento do corpo e da mente. Haverá falhas na sua resistência, mas, apesar das falhas, persista. De início, você cederá ao desejo e apenas tarde demais irá lembrar-se de que tinha resolvido abster-se; persevere. Em breve, o desejo e a lembrança da boa resolução surgirão juntos, e haverá um período de luta – seu Kurukshetra¹ –; às vezes você terá sucesso, outras vezes falhará; persevere. Então, os desejos morrerão e você os observará, ao lado da sua sepultura, receando que estejam apenas em estado de letargia, e revivam. Finalmente, você se verá livre para sempre dessa forma de desejo. Trabalhou com a lei e obteve a vitória. 

1. Kurukshetra – Cidade e região consideradas sagradas pelos hindus, onde existe um tanque sagrado, que dizem ter sido construído por Raja Kuru, ancestral dos Kurava e Pandavas, imortalizados no épico Mahabharata. 

Dois pontos mais 

1.  Às vezes os estudantes se perturbam porque cedem em sonho a um vício que consideravam dominado, ou sentem o despertar de um desejo que já acreditavam extinto. O conhecimento destruirá o problema. Num sonho, o homem está em seu corpo astral, e um despertar do desejo, fraco demais para causar vibração material, física, causará uma vibração na massa astral; se o sonhador resistir, como depressa o fará se se determinar a fazê-lo, o desejo cessará. Mais tarde, ele deveria se lembrar que esse desejo terá deixado por algum tempo exausto o corpo astral, que antes fora usado no momento em que o desejo surgiu, mas que agora, pelo desuso, está em processo de desintegração. Pode acontecer que o corpo astral seja temporariamente vivificado por uma formadesejo passageira, causando, assim, vibração artificial. 
É coisa que pode acontecer a qualquer homem, esteja ele dormindo ou acordado. Trata-se apenas do movimento artificial de um cadáver. Que esse homem o repudie: “Você não vem de mim. Saia daqui”, e a vibração cessará. 
2.  O guerreiro que está combatendo o desejo não deve deixar que sua mente se fixe em objetos que despertem esse desejo. Nisso também o pensamento é criativo. O pensamento acenderá o desejo, e o transformará em vigorosa atividade. Do homem que se abstinha da ação, mas gozava o pensamento, Shri Krishna disse, severamente: “Esse homem iludido é o que se chama de hipócrita.” Alimentados pelos pensamentos, os desejos não podem morrer. 
Irão tornar-se mais fortes pela repressão física, quando alimentados pelo pensamento. É melhor não lutar contra o desejo, é preferível fugir dele. Se aparecer, volte a mente para alguma outra coisa, para um livro, para um jogo, que seja, ao mesmo tempo, atrativo e puro. Combatendo-o, a mente se apega a ele, e assim alimenta-o e fortalece-o. Se você perceber que o desejo tende a acordar, tenha algo à mão a que possa recorrer imediatamente. 
Assim, ele entrará em inanição, já que não terá alimento por parte de qualquer ação ou pensamento. 

Nunca devemos nos esquecer de que os objetos são desejáveis por causa da imanência de Deus. “Nada, que se mova ou não, pode existir privado de Mim.” Num certo estágio da evolução, a atração que os desejos exercem se volta para o progresso. Só mais tarde eles são substituídos. A criança brinca com uma boneca, e isso é bom: desperta seu amor materno em germinação. Mas uma mulher adulta brincando com uma boneca seria lamentável. Objetos de desejo atraem emoções que ajudam a desenvolver e a estimular a atividade intelectual. Deixam de ser úteis quando os transcendemos e, deixando de ser úteis, tornam-se prejudiciais. 
O efeito de tudo isso sobre o karma se evidencia por si mesmo. Desde que o desejo nos leva a criar oportunidades, e põe ao nosso alcance os objetos do desejo, nossos desejos planejam minuciosamente nossas oportunidades e possibilidades futuras. Abrigando apenas desejos puros e não desejando nada que não possa ser usado para servir, garantimos um futuro de oportunidades para ajudar nossos semelhantes, e de qualidades que serão consagradas ao trabalho do Mestre. 

O conhecimento da lei (Annie Besant)


O conhecimento do karma não só possibilitará que um homem construa, como deseja, o seu próprio futuro, mas também o capacitará a entender a ação da lei do karma no caso dos outros, assim podendo ajudá-los com maior eficiência. Só pelo conhecimento dessa lei podemos nos movimentar sem medo e utilmente em mundos onde a lei é inviolável e, estando nos próprios seguros, possibilitamos aos outros a conquista de segurança semelhante. No mundo físico, a supremacia da lei é universalmente admitida, e o homem que desdenha a “lei natural” não é visto como um criminoso, mas como um louco. Igual loucura, e de muito mais longo alcance, seria desdenhar a “lei natural” nos mundos acima do físico, e imaginar que, embora no mundo físico a lei esteja onipresente, os mundos moral e mental são desordenados e destituídos de leis. É bom lembrar a seguinte verdade: 

Embora os moinhos de Deus moam devagar, 
ainda assim moem muitíssimo fino; 
Embora Ele espere com paciência, 
Ele mói com grande exatidão. 

Vimos que o nosso presente é o resultado do nosso passado e que pelo pensamento construímos o nosso caráter, pelos desejos construímos a oportunidade de satisfazê-los e pelas ações construímos o nosso ambiente. Consideremos, agora, até onde podemos modificar, no presente, esses resultados do nosso passado e até onde somos compelidos e até que ponto somos livres. 

A luz para um homem bom (Annie Besant)


…que se vê rodeado de condições infelizes. Ele construiu seu caráter e também construiu as circunstâncias da sua vida. Seus bons pensamentos e desejos fizeram dele o que ele é; sua incompetência criou o ambiente dentro do qual ele sofre. Portanto, que ele não se contente em ser bom, mas trate também de que a sua influência em derredor seja benéfica. Então, isso reagirá sobre ele trazendo-lhe um bom ambiente. Por exemplo: uma mãe muito egoísta estraga o filho cedendo, à sua própria custa, a todos os seus caprichos, impedindo-o de dominar suas inclinações egoístas, alimentando sua natureza inferior e deixando que se definhe sua natureza superior. O filho cresce egoísta, sem controle, escravo de seus próprios caprichos e desejos. Traz infelicidade para o seu lar, talvez lhe traga dívidas e vergonha. Essa é a reação criada pela mãe na sua insensatez, e ela terá de suportar as angústias que daí resultarem. 
Um homem egoísta, por outro lado, pode criar para si próprio, no futuro, um ambiente visto como afortunado pelo mundo. Com a esperança de obter um título, ele constrói um hospital, aparelhando-o inteiramente; muitos sofredores ali encontrarão alívio, muitos doentes, prestes a morrer, ali acharão um bálsamo para seu derradeiro instante, muitas crianças serão cuidadas amorosamente para se conservarem sadias. A reação para isso tudo será um ambiente bom e agradável para ele próprio: essa pessoa colherá a safra do bem físico que semeou. Mas seu egoísmo também fez a sua semeadura, e mental e moralmente ele colherá também a sua safra, que será de desapontamento e dor. 

A nossa nação (Annie Besant)


No que se refere ao ambiente nacional, o conhecedor do karma deve estudar cuidadosamente as condições nacionais em que nasceu, e ver se nasceu ali principalmente para desenvolver qualidades nas quais é deficiente, ou, principalmente, para ajudar essa nação com as qualidades desenvolvidas nele próprio. Em tempos de transição, muitos egos podem nascer numa nação com as qualidades do tipo necessário para as novas condições pelas quais essa nação está passando. Assim, na América têm nascido muitos egos com grande capacidade de organização, com força de vontade altamente desenvolvida e com aguda inteligência comercial. Criaram-se os trusts, organizações industriais dotadas de grande capacidade para mostrar as vantagens econômicas de abrir mão das competições, de controlar a produção e o abastecimento, de satisfazer a demanda, mas sem exageros. 
Abriram, assim, o caminho para o cooperativismo na produção e na distribuição, preparando um futuro mais feliz. Em breve nascerão egos que verão na garantia de conforto para a nação maior estímulo do que no ganho pessoal, e esses egos podem completar o processo de transição: um grupo concentra as forças do individualismo em um ponto; outro grupo irá dirigir essas forças para o bem comum. Assim é o ambiente governado pelo karma e, com o conhecimento dessa lei, pode-se criar o ambiente desejado. Se o ambiente se apodera de nós assim que nascemos, nem por isso deixa de nos caber a decisão sobre o que será esse novo nascituro. Nosso poder sobre o ambiente futuro está agora em nossas mãos, pois ele é criado pela atividade presente. 
Eis aí… 

O ponto de vista mais moderno (Annie Besant)


O ponto de vista científico mais moderno, de que o organismo e o ambiente inter reagem modificando-se reciprocamente e fazendo surgir dessas modificações novas ações e reações, assimila o que é verdadeiro em cada um dos pontos de vista anteriores. Ele precisa apenas expandir-se pelo reconhecimento de uma consciência permanente, que passa de vida para vida, levando consigo o seu passado, e sempre crescendo, sempre evoluindo e, com esse crescimento e essa evolução, tornando-se cada vez um fator mais forte na direção e controle do seu destino futuro. 
Assim, chegamos ao ponto de vista da Teosofia. Não podemos evitar o que trouxemos conosco, assim como não podemos evitar o ambiente no qual fomos atirados. Podemos, entretanto, modificar ambos, e quanto mais soubermos, maior será a nossa eficiência para realizar essa modificação. 

Crescemos quando ofertamos (Annie Besant)


Na verdade, neste mundo de leis, onde ação e reação se equivalem, toda ajuda volta a quem a fez, como a bola atirada contra uma parede volta para a mão de quem a atirou. O que damos volta para nós; assim, mesmo por motivos egoísticos, é bom dar, e dar com abundância: “Atira o teu pão à água e irás encontrá-lo depois de muito tempo.” Dar, mesmo por motivos egoísticos, é bom, porque leva a um intercâmbio de sentimentos humanos úteis, pelos quais tanto quem dá como quem recebe cresce e se expande, de modo que o Divino, dentro de cada um, tem oportunidade de se expressar mais amplamente. Mesmo que a doação, de início, seja coisa interesseira, “quem dá aos pobres empresta a Deus” e vê que o que ele deu lhe será novamente pago – ainda assim, aos poucos, o amor invocado fará com que as dádivas futuras sejam espontâneas e isentas de egoísmo. 
Assim, os laços kármicos ligam ego a ego, em longas séries de vidas humanas. 
Todos os laços pessoais, sejam eles de amor ou de ódio, crescem, vindo do passado, e em cada vida fortalecemos os laços que nos ligam aos nossos amigos e garantem nosso retorno juntos, nas vidas que temos pela frente. É assim que formamos uma verdadeira família, independentemente dos laços de sangue, e volta- mos à Terra muitas e muitas vezes, para ligar mais apertadamente os antigos vínculos. 

Invocações e Evocações: Vozes Entre os Véus

Desde as eras mais remotas da humanidade, o ser humano buscou estabelecer contato com o invisível. As fogueiras dos xamãs, os altares dos ma...