segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Multiverso Parte 2


Multiverso é um termo usado para descrever um hipotético grupo de todos os universos possíveis. É geralmente usado na ficção científica, embora também como possível extrapolação de algumas teorias científicas, para descrever um grupo de universos que estão relacionados, os denominados universos paralelos. A ideia de que o universo que se pode observar é só uma parte da realidade física deu luz à definição do conceito "multiverso".

Conceito

O conceito de Multiverso tem suas raízes em extrapolações até o momento não científicas da moderna Cosmologia e na Teoria Quântica, e engloba também várias ideias oriundas da Teoria da Relatividade de modo a configurar um cenário em que pode ser possível a existência de inúmeros Universos onde, em escala global, todas as probabilidades e combinações dessas ocorram em algum dos universos. Simplesmente há espaço suficiente para acoplar outros universos numa estrutura dimensional maior: o chamado Multiverso.

Os Universos seriam, em uma analogia, semelhantes a bolhas de sabão flutuando num espaço maior capaz de abrigá-las. Alguns seriam até mesmo interconectados entre si por buracos negros ou de buracos de minhoca.

Em termos de interpretações da Mecânica Quântica, que, ao contrário da Mecânica Quântica em si, não são cientificamente estabelecidas, a Interpretação de Vários Mundos fornece uma visão que implica um multiverso. Nessa visão, toda vez que uma decisão quântica tem de ser tomada - em termos técnicos, toda vez que há uma redução da função de onda de um estado emaranhado - dois ou mais universos independentes e isolados surgem, um para cada opção quântica possível. Vivemos no universo no qual as decisões quânticas adequadas levam à nossa existência.

Devido ao fato da conjectura de multiverso ser essencialmente ideológica, não havendo, atualmente, qualquer tipo de prova tecnicamente real, a "teoria dos universos paralelos" ou "multiverso" é em essência uma teoria não científica. Nesse ponto, aliada à completa ausência de evidência científica, há ainda a questão concernente à compatibilidade com as teorias científicas já estabelecidas e os rumos diretamente apontados por essas. No conceito de multiverso, imagina-se um esquema em que todas os universos (as bolhas de sabão) agregavam-se mutuamente por uma infinita vastidão. Tal conceito de Multiverso implica numa contradição em relação à atual busca pela Teoria do Campo Unificado ou pela Teoria do Tudo, uma vez que em cada Universo pode-se imaginar que haja diferentes Leis Físicas.

Ressalta-se, contudo, que a Teoria do Campo Unificado e a Teoria do Tudo são, assim como a Teoria das Cordas e outras similares, em vista dos rigores do Método Científico, pelo menos até o momento, teorias não científicas. A exemplo, a Teoria M prevê que nosso universo possua em verdade 11 dimensões. Factualmente, vivemos, contudo, em um universo quadridimensional, descrito por três dimensões espaciais e uma temporal interligadas entre si no que se denomina malha espaço-tempo.

Evidências

A idéia de que vivemos em um 'multiverso' composto por um número infinito de universos paralelos tem sido, por muitos anos, considerada uma possibilidade científica. A corrida era para encontrar uma maneira de testar a teoria. Em 2015, um astrofísico pode ter encontrado evidências de universos alternativos ou paralelos, olhando de volta no tempo para um momento imediatamente depois do Big Bang, embora ainda seja uma questão de debate entre os físicos. Dr. Ranga-Ram Chary, após a análise do espectro de radiação cósmica, Chary encontrou um sinal de que é cerca de 4500 vezes mais brilhante do que deveria ter sido, com base no número de prótons e elétrons cientistas acreditam que existia no início do universo, assim, demonstrando sinais de colisões com outros universos.

Multiverso, ciência e religião

As diferentes teorias de Multiverso são por muitos utilizadas para contraposição à ideia do Design Inteligente e seu Argumento da Improbabilidade ou Argumento do Universo Bem Ajustado. Ou seja, são utilizadas por muitos como explicação para a pré-assumida "improbabilidade estatística" das leis da física e das constantes físicas fundamentais serem "tão bem ajustadas" para permitirem a construção do universo tal qual o conhecemos; em particular um universo capaz de abrigar vida inteligente com habilidade de indagar sobre a história do próprio universo em que existe. A ideia central dos adeptos de tal linha de pensamento é a de que, se existem múltiplos universos, em um número extremamente grande, a probabilidade de pelo menos um deles se desenvolver com leis e constantes capazes de possibilitar a vida se torna plausível em meio a um multiverso de universos diferentes estocasticamente estabelecidos, assim explicando-se o "ajuste" de nosso universo sem ter-se que recorrer à ideia de um "ajuste fino" cogitado no argumento associado.

Tal argumentação é comum em discussões envolvendo os defensores da existência de um "projetista inteligente" e os defensores de sua inexistência, defensores últimos que buscam uma resposta alternativa à questão decorrente da inexistência do projetista onipotente para o universo através da extrapolação das regras científicas encerradas na teoria da evolução biológica ao restante do universo, contudo sem as pertinentes considerações, o que leva à ideia do multiverso como resposta às estipuladas "particularidades" de nosso universo defendidas pela outra ala. O uso de tal linha de raciocínio e resposta é contudo desaconselhado sem acompanhamento dos devidos rigores, e especificamente falho no caso do Multiverso. Ele falha essencialmente por desconsiderar que a existência do multiverso não é cientificamente estabelecida, consistindo o argumento por tal apenas em se trocar uma crença por outra; a crença do "projetista inteligente"pela crença do "multiverso". Falha também porque ignora indagações acerca das leis, incluso as de seleção, que regeriam o multiverso, o que levaria de novo à mesma condição inicial: por que o multiverso tem regras capazes de estabelecer a miríade de universos tão distintos que, em um deles, quer via alguma regra de seleção quer não, acabar-se-ia tendo a vida como possível, e acabar-se-ia tendo a vida por realidade?

Importante perceber que a invalidação da resposta via multiverso não implica a validade do argumento do "Universo Bem Ajustado" via um "projetista inteligente", contudo. Este argumento é também falho, e falha essencialmente no mesmo ponto em que o primeiro falhou. Em verdade, a falha primordial é mais sutil e comum às duas alternativas de resposta. A falha vai além das respostas, e encontra-se essencialmente na pergunta que visam a responder.

O conceito de um "universo finamente ajustado" funda-se logicamente na premissa da existência de um objetivo final, de uma teleologia, para o universo: usualmente, "o universo existe com a finalidade de nele haver vida, em específico vida inteligente"; e em particular para alguns dos bons egos que defendem a ideia de "ajuste fino", uma teleologia que traduz-se explicitamente na afirmação "o universo existe e foi concebido para o meu umbigo existir". A premissa contudo não é, assim como a ideia de multiverso, factualmente corroborada. Factualmente não há nada que implique que o universo foi concebido para um "umbigo em particular" existir, quer seja esse umbigo um ser humano em particular, quer seja ele a vida que sabemos ter se desenvolvido em nosso universo, ou quer seja ele uma simples simples garrafa pet ou um outro objeto de plástico qualquer.

Selecionar algo que, em consonância com as leis que nele vigoram, é sabido existir em nosso universo, e afirmar que o universo foi ajustado para que este algo viesse a existir, é uma atitude certamente muito atrativa quando esse algo é em particular o "seu umbigo", e ao fim, essencialmente egocêntrica; para não dizer fatídica demais. A teleologia usual que propõe-se para o universo é facilmente questionável em vista do número de estrelas bem como de sistemas estelares hoje sabido existentes em nosso universo quando comparado ao que se tem de concreto sobre a existência de vida no mesmo universo; e a crítica torna-se ainda mais contundente frente à parcela volumétrica do universo efetivamente capaz de abrigar vida. Foram o universo e a Terra finamente "ajustados" para abrigar vida, ou é a vida que por ventura surgiu e adapta-se, a duras e mortais penas, a um inóspito ambiente, para nele continuar existindo durante o tempo que for possível? Factualmente, há para essa pergunta uma resposta científica, e esta fica evidente ao se considerar o destino da Terra daqui há alguns bilhões de anos, quando nosso Sol entrar na etapa final do seu ciclo natural.

A ideia do "universo finamente ajustado" é, nesses termos, uma ideia suportada essencialmente pelo ego, e não por evidências científicas; e como tal, pelo mesmo motivo da ideia de multiverso, também não é uma ideia científica. E frente à invalidade da pergunta teleológica, não importa se o universo conhecido é único ou um entre uma miríade em um Multiverso: em ambos os casos poderíamos igualmente estar - e estamos - aqui, mesmo estabelecida a ausência de teleologia atrelada. E não se precisa da validade da última hipótese - do Multiverso - para descartá-la.