sábado, 7 de outubro de 2023
Lección II Ley Absoluta
Lección I La Enseñanza Arcana
sexta-feira, 6 de outubro de 2023
A Demanda do Graal
Se alguma coisa marcou e se destacou, desde a alva ao ocaso da Idade Média, determinando decisivamente a mentalidade espiritual e religiosa dos que nela viveram[1], foi sem dúvida a Lenda do Graal transbordada da Lenda Arturiana, que oficialmente entrou na Literatura Ocidental, no século XII, através do cronista e poeta francês Chrétien de Troyes (c. 1130 – c. 1190), autor, dentre outros títulos, de Érec et Énide (c. 1170), Lancelot ou le Chevalier da la Charrette (c. 1175-1181) e Perceval ou le Conte du Graal (c. 1182-1190), obras escritas em langue d´oil (o francês romanizado do Norte)[2], a mesma utilizada pelo cluniense São Bernardo de Claraval para redigir a Regula Vitae (Regra de Vida) da Ordem do Templo (1128), por exemplo.
Chrétien de Troyes tomou a primazia, encabeçou um corpo de poetas e cronistas de seu tempo na divulgação da Matéria da Bretanha que marcou o Ciclo Arturiano, fortemente efabulado por maravilhamentos aventurescos na constante órbita da Quête du Graal, a Demanda do Graal, a Taça Sagrada dotada de propriedades miraculosas com que o Espírito Santo a bafejava assim a dando por Eucarística, portanto, na feição cristianizada, decerto tomada da celta anterior, druida, do “caldeirão da abundância” de Dagda e do “caldeirão mágico” de Ceridwen.
Esse autor francês e os seus ilustres pares criaram uma novelística francamente heterodoxa recambiando para o Hermetismo mais puro e transcendente que marcou decisivamente a mentalidade espiritual e religiosa da Baixa Idade Média (séculos X-XV), tendo esse efabulamento se inspirado em factos históricos reais anteriores ocorridos durante o final do império romano na Ilha Britânica, sobretudo em Gales, e no Norte de França, na Bretanha, com personagens que deveras existiram mas que eles transpuseram, por via do romance e da parábola com grande engenho, para aventuras iniciáticas no terreno da mais pura heterodoxia a que Portugal não foi alheio[3], como veremos mais adiante, desde Afonso Henriques e o seu “Porto-Graal” a D. Nuno Álvares Pereira, o “Galaaz do Carmelo”[4].
Pois bem, a Alta Idade Média (séculos V-IX) fez do Cálice Sagrado motivo de Iluminação Espiritual que diversos autores e autoras desse período registaram em fólios e pergaminhos, a maioria de profissão religiosa de acolhimento mosteiral, que nos períodos paleocristão (visigótico) e moçarábico (sob regime árabe) serviram para a pregação às assembleias de fiéis catequisando-as pela moral e o instigo à perfeição interior. É assim que em 1151 aparece a Scivias (do latim Scivi vias Domini, “Conhece os Caminhos do Senhor”), obra ilustrada constando das visões espirituais da monja beneditina alemã Hildgard von Bingen (1098-1179)[5], claramente inspiradora dessa outra do século XIII, de autor anónimo, A Demanda do Santo Graal, sendo o famoso Manuscrito de Heidelberg, que Chrétien de Troyes toma como referência principal e funde lendas celtas e germânicas, bretãs, irlandesas e ibéricas, a maioria de fonte oral, tomando por base justificativa o Antigo Testamento[6].
Da Matéria da Bretanha destacam-se três títulos que cedo marcaram decisivamente a “mentalidade mágica” portuguesa: Livro de José de Arimateia, Demanda do Santo Graal e História de Vespasiano, esta atribuída a Jafel, sobrinho de José de Arimateia, onde descreve com vivacidade a conversão ao cristianismo do imperador romano Vespasiano e de seu filho Tito. A restante novelística da Matéria da Bretanha seria igualmente traduzida – inicialmente, a partir do século XII português, graças ao labor cisterciense, sobretudo dos copistas de Santa Maria de Alcobaça – desde o início do reino e sobretudo no reinado de D. Dinis, cuja difusão ampla influenciou a demais literatura místico-cavaleiresca e até o onomástico português da época (vulgarizando-se na fidalguia lusa os nomes de Tristão, Iseu, Lançarote e outros)[7], tornando-se a corte portuguesa o centro da vida cultural peninsular.
D. Dinis revestiu-se de Hermetismo e até nos aparatos de seus trajes palacianos ele transparece, como se revela na espada retirada de seu túmulo em 24 de Outubro de 2022, no convento das bernardas de S. Bernardo e S. Dinis de Odivelas. Trata-se de uma espada de aparato, não de uma espada de combate. Além de apresentar restos das cores originais dos esmaltes na empunhadura e guarda-mão de prata, sendo a lâmina de ferro, está decorada por medalhões mostrando figuras zoomórficas e mitológicas que remetem para o simbolismo do Hermetismo medieval. Delas destaco: leão = valentia, coragem, ânimo; cão atrás de lebre = destreza, arte no manejo da lâmina; serpe no guarda-mão = protecção contra o mal, contra a má sorte no guerrear; três losangos na empunhadura = Santíssima Trindade; lucernas = clareza, lucidez.
Com essa matéria se constituiu a chamada Demanda Portuguesa, que pôs em relevo Portugal logo ao seu início, quando Matilde (Mahaut), filha de D. Afonso Henriques, desposou, em 1183, Filipe de Alsácia, conde de Flandres, o qual lhe forneceu um livro contendo a história do Graal que teria contribuído para a construção do Perceval, obra inacabada de Chrétien de Troyes por morte deste[8]. O tema do Graal é, pois, conhecido entre os portucalenses desde muito cedo, possivelmente desde o conde D. Henrique de Borgonha nos seus contactos com o Islão erudito em Sintra (Al-Shantara) e noutros lugares do nosso futuro país sob ocupação árabe. Também os santões e visionários do Islão ibérico, sobretudo os de corrente sufi caracterizados pela sua mística e erudição nos textos sagrados, deram relevo ao Santo Vaso (Saint Vaisel) como sinónimo de libações paradisíacas e sinal supremo de ascenso à Morada da Sabedoria (Bayt al-Hikmah)[9]. Nisto reside a origem das posteriores “cortes de amor” portuguesas[10], que juntou o amor cortês (palaciano) ao amor divino (monástico), pela prosa e a trova, exaltando a transcendência da coyta, ou seja, da “dor do amor”, onde a Mulher tomou papel destacado por via de firme e profundo entendimento hermético[11].
O certo é que aparece em anagrama o nome “Porto-Graal” em vários sinais rodados afonsinos nas cartas de doação e/ou de aforamento reais pelo nosso primeiro rei, como a de Sintra, a do Reguengo de Colares e a de Ceras, o que dispõe Portugal como Peanha ou o Trono do Graal, geograficamente na “cabeça da Europa inteira”, no dizer de Fernando Pessoa em sua Mensagem.
terça-feira, 12 de setembro de 2023
Jâmblico - Eudæmonia, ou o verdadeiro sucesso
O último assunto que resta para discussão é em relação ao verdadeiro sucesso. Você colocou problemas intrincados com relação a isso, a saber: primeiro, observações sobre certos assuntos; depois, questões de dúvida; e depois disso, questionamento. Por conseguinte, colocaremos suas perguntas em sua ordem, cada uma delas, e responderemos a elas no devido tempo em referência a elas.
Tu perguntas “se não existe outro caminho para o verdadeiro sucesso além dos deuses”. Que caminho diferente para cima pode haver, “inteiramente à parte dos deuses” que seja razoável? Pois se a essência e a perfeição de todo bem estão contidas nos deuses, e seu poder e autoridade primários estão conosco (sacerdotes), e com aqueles que são igualmente possuídos pelas divindades superiores, e entraram genuinamente em união com eles – e em suma, se a fonte e o fim do bem são seriamente perseguidos: nesse caso, estão presentes de acordo, o Espetáculo da Verdade e a iniciação no conhecimento espiritual. E com o conhecimento dos deuses, a volta para nós mesmos e o conhecimento de nós mesmos. seguir juntos.
DIVERSAS DECLARAÇÕES CRÍTICAS.
Sem nenhum propósito, portanto, você propõe a dúvida “se é necessário prestar atenção às opiniões humanas”. Para que lazer tem a pessoa cuja mente e pensamento estão com os deuses para olhar para baixo em busca da aprovação dos seres humanos? Nem no que segue tu falas com o propósito: “se a Alma não forma de vez em quando grandes concepções”. Pois que princípio de criações fantasiosas tem lugar naqueles que têm um ser real? Não é a faculdade da imaginação em nós a formadora da eidola? Mas quando a vida espiritual está perfeitamente ativa, não há nada da imaginação desperta. A verdade em sua essência não coexiste com os deuses? Pelo menos, não está estabelecido com princípios racionais harmoniosamente? É em vão, então, que tu e outros sussurram tais coisas.
No entanto, essas coisas sobre as quais certos padres saltimbancos e adivinhos caluniam aqueles que ministram na adoração dos deuses, e tu falaste da mesma maneira – não são de forma alguma relacionadas com a teologia e a teurgia genuínas. Mas se, de alguma forma, certas coisas de tal caráter brotam como excrescências ao lado dos saberes das coisas boas, como as más artes brotam com outras artes, esses mesmos saberes são realmente mais combatidos por eles do que qualquer outra coisa. Pois o que é mau é mais hostil ao bem do que ao que não é bom.
A RESPEITO DO PRESENTIMENTO NATURAL.
Desejo depois disso examinar curiosamente outras observações que deturpam a presciência divina. Tu comparas com ela “outros métodos para obter premonições do que acontecerá”. Pois para mim, embora uma certa aptidão da natureza ajude a significar o que está para acontecer, assim como a presciência de terremotos, ou ventos, ou tempestades acontece com os animais, não parece digno de nossa veneração. Pois tal faculdade inata de adivinhar acompanha a agudeza dos sentidos – ou simpatia, ou alguma outra comoção das faculdades naturais, e não tem nada sobre isso de adoração e sobrenatural. Nem se alguém, por raciocínio humano ou observação sistemática, determinar dos sintomas as coisas de que os sinais são indicativos, como os médicos da sístole do pulso prognosticam uma febre próxima, ele de modo algum me parece possuir algo honroso e bom. Pois ele também se propõe a isso humanamente e infere logicamente por nossa faculdade de raciocínio em relação às coisas que confessam ocorrer na ordem da natureza e faz seu diagnóstico não muito longe da ordem corpórea das coisas. Assim, se há em nós alguma percepção natural do futuro, a faculdade se mostra claramente na atividade como em tudo o mais, mas ao tê-la nada de muito feliz é possuído. Pois o que pode haver das qualidades implantadas em nós pela natureza no reino da existência gerada que seja um benefício genuíno, perfeito e eterno? e infere logicamente por nossa faculdade de raciocínio em relação a coisas que confessam ocorrer na ordem da natureza e ele faz seu diagnóstico não muito longe da ordem corpórea das coisas. Assim, se há em nós alguma percepção natural do futuro, a faculdade se mostra claramente na atividade como em tudo o mais, mas ao tê-la nada de muito feliz é possuído. Pois o que pode haver das qualidades implantadas em nós pela natureza no reino da existência gerada que seja um benefício genuíno, perfeito e eterno? e infere logicamente por nossa faculdade de raciocínio em relação a coisas que confessam ocorrer na ordem da natureza e ele faz seu diagnóstico não muito longe da ordem corpórea das coisas. Assim, se há em nós alguma percepção natural do futuro, a faculdade se mostra claramente na atividade como em tudo o mais, mas ao tê-la nada de muito feliz é possuído. Pois o que pode haver das qualidades implantadas em nós pela natureza no reino da existência gerada que seja um benefício genuíno, perfeito e eterno?
A DOAÇÃO DIVINA.
Somente o dom divino da adivinhação, portanto, sendo conjugado com os deuses, nos confere a vida divina e, igualmente, tornando-nos participantes da presciência divina e dos pensamentos divinos, nos torna verdadeiramente divinos. Faz com que sejamos genuinamente possuidores do bem, porque o pensamento mais abençoado dos deuses abunda em todo bem. Portanto, “aqueles que possuem o dom de adivinhar”, não, como você supõe, “preveja e não seja realmente bem-sucedido”, pois toda presciência divina é aparentemente boa. Tampouco “prevêem eventos futuros e não sabem como fazer uso adequado da previsão para si mesmos”. Ao contrário, com a presciência, eles recebem a própria beleza e a ordem que são ao mesmo tempo verdadeiras e decentes, e há com isso o que é proveitoso. Pois os deuses lhes dão também o poder de se proteger contra calamidades terríveis do reino da natureza: e quando é necessário exercitar a coragem e a incerteza do futuro contribui para isso, eles mantêm ocultas as coisas que devem ser, para para melhorar a alma. No entanto, quando a incerteza não traz nenhuma ajuda para este fim, e a presciência é vantajosa para as almas, para salvá-las e conduzi-las para cima,
O CAMINHO PARA O VERDADEIRO SUCESSO.
Mas por que estou prolongando esses discursos? Já mostrei abundantemente antes, pelas muitas explicações que fiz neles, a superioridade da inspiração sobre a adivinhação humana. Melhor, portanto, é o que você pede de nós: “Para deixar claro para você o caminho para o sucesso, e em que consiste a essência dele.” Pois a partir disso a verdade deve ser encontrada, e todas as dificuldades podem ser facilmente resolvidas de uma só vez. Digo, portanto, que a pessoa divina dotada de intuição, tendo, em uma condição anterior de ser, sido participante da unidade, pelo espetáculo dos deuses, chega posteriormente a outra alma (ou condição psíquica) que é ajusta-se ao ideal humano de figura, e através disso se envolve no vínculo da Necessidade e do Destino. Agora, então, é necessário considerar como ele pode ser solto e libertado de suas amarras. Não há outro caminho, exceto o conhecimento dos deuses. Pois o ideal ou sucesso é a percepção do Bem, assim como o ideal do mal passa a ser o esquecimento do que é bom e o engano em relação ao que é ruim. O primeiro, portanto, se une à natureza divina: mas o último, um destino inferior, é inseparável do mortal. A primeira busca as essências inteligíveis pelos caminhos sagrados: mas a segunda, desviando-se dos primeiros princípios, se entrega à medição dos ideais do ambiente corpóreo. O primeiro é o conhecimento do Pai: mas o último é o afastamento dele e o esquecimento de Deus, o Pai, primeiro em Essência e suficiente para si mesmo. O primeiro preserva a vida genuína e a traz de volta ao seu Pai, mas o último traz o homem que governa no reino da existência gerada para o mundo que nunca é permanente, mas sempre mutável.
Que, então, este caminho superior para o verdadeiro sucesso, que é a realização espiritual da união das almas com a natureza divina, seja conhecido por ti. Mas o dom sacerdotal e teúrgico do verdadeiro sucesso é chamado de Porta para o Criador do Universo, ou Suprema Bondade. Em primeiro lugar, possui o poder da castidade da alma que é muito mais perfeita do que a castidade do corpo: depois, a preparação do entendimento para a participação e visão do Bem e sua libertação de tudo de caráter contrário: e depois destes, a unidade com os deuses, os doadores de todas as coisas boas.
RETORNO DA ALMA À DIVINDADE.
Depois que a disciplina teúrgica une a alma individualmente com os vários departamentos do universo e com todos os poderes divinos que a permeiam, então ela conduz a alma ao Criador do mundo, a coloca sob sua responsabilidade e a liberta de tudo. pertencente ao reino da matéria, unindo-o com a Única Razão Eterna (Logos).
O que estou dizendo é isto: Que une a alma individualmente ao Uno, Pai de si mesmo, auto-movente. Aquele que sustenta o universo, espiritual, que ordena todas as coisas, que o conduz à verdade suprema, ao absoluto, ao eficiente e outros poderes criativos de Deus: estabelecendo assim a alma teúrgica nas energias, nas concepções e qualidades desses poderes. Em seguida, insere a alma em todo o Deus Demiúrgico.
Isto, com os Sábios Egípcios, é o fim do “Retorno” como ensinado nos Registros Sagrados.
EM RELAÇÃO AO “BEM”.
O próprio Bem, eles consideram de um lado como Divindade absoluta; o Deus subsistindo antes do pensamento: mas por outro como humano, que é uma unidade com ele. Bitys explicou isso nos Pergaminhos Hermaicos. Isso, portanto, não é “passado” pelos sacerdotes egípcios, como você sugere, mas é transmitido por eles em um estilo digno do ser divino. Nem os teurgos “invocam a Mente Divina” em relação a “assuntos triviais”, mas, por outro lado, é em relação a assuntos relativos à purificação da alma, sua libertação e salvação. Nem eles “se ocupam diligentemente com coisas que são difíceis: mas sem utilidade para os seres humanos”;mas, ao contrário, são as mais proveitosas de todas para a alma. Tampouco são impostas por um daemon “Vagante”, que em todos os casos não apenas lutou com sucesso com a natureza demoníaca enganosa, mas também se exaltou ao reino da mente e da divindade.
De despedida
A essas muitas coisas te respondemos como melhor pudemos em relação às dúvidas e dificuldades que descobriste em relação à divina arte da adivinhação e da teurgia. Resta agora ao fim destes discursos que rogo aos deuses que concedam a mim e a ti, a imutável salvaguarda das verdadeiras concepções: e também para implantar em nós para sempre a verdade eterna, e nos fornecer uma participação de concepções mais perfeitas. em relação aos seres divinos: pois neles a consumação mais abençoada de todas as coisas boas é colocada diante de nós, e a confirmação da amizade sincera que agora existe entre nós.
FIM
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