domingo, 2 de fevereiro de 2020

kenneth Grant Cultos de las Sombras (Introduccion)


Este libro expone aspectos del ocultismo que a menudo se confunden con la "magia negra". Su propósito es el de restaurar el Sendero de la Mano Izquierda y el de reinterpretar sus fenómenos a la luz de alguna de sus más recientes manifestaciones. Esto no puede lograrse sin un estudio de los cultos primigenios y de las fórmulas simbólicas que aquellos impusieron.
No existe un campo más rico para tal estudio ni un esquema más perfecto en que iniciarlo que los sistemas fetiche del África Occidental y su eflorescencia en los cultos egipcios pre-monumentales. Tal estudio se presenta en los primeros tres capítulos, después de los que los símbolos emergen a la luz de los tiempos históricos y se manifiestan en la forma de la Corriente Tántrica expuesta en los capítulos cuatro y cinco.
Esta Corriente parece dividirse en dos corrientes mayores que reflejan interminablemente la escisión original entre los devotos de los principios creativos femenino y masculino a los que en el Tantra se les conoce técnica y respectivamente como Senderos de la Mano Izquierda y Derecha. Estos son los de la Luna y el Sol, y su confluencia despierta a la Culebra de Fuego (Kundalini), el Gran Poder Mágico que ilumina el sendero oculto que hay entre ellos el Camino Medio el sendero de Iluminación Suprema.
La incapacidad casi general en comprender la función correcta del Sendero de la Mano Izquierda es la que ha causado su denigración --principalmente a cuenta de sus prácticas no convencionales-- y a causa de una percepción imperfecta de los Misterios últimos por parte de aquellos que son incapaces de sintetizar los dos senderos.
La luna está asociada con los antiguos cultos estelares de África, cuna de la humanidad y raíz de la magia "negra". Pero la causa primordial del vilipendio del Sendero de la Mano Izquierda por los partidarios de los cultos solares y posteriores --hasta el presente-- se debe a su vinculación con el aspecto femenino del Principio Creativo. El empleo sexo-mágico de la Mujer en los ritos del Sendero de la Mano Izquierda es lo que ha hecho de éste algo de lo que generalmente se recela.
En un sentido mágico, la Sombra es la contrapartida o doble que acompaña al hombre como su gemelo astral, siempre presente y vibrando en secreto con el potencial de su compañero, el cuerpo físico. Es también un símbolo de la región crepuscular de las almas en pena, de los vampiros, de los zombis y de los animales fantasmas como la hiena espectral, de la que aún hoy sobrevive un culto; y de La Couleuvre Noire (la Culebra Negra), de cuyos devotos modernos se dice que realizan ritos en lugares tan dispares como Chicago,Madrid y Leogane (Haití).
En un sentido místico, la Sombra representa las tinieblas que reemplazan al relámpago de éxtasis cósmico alumbrado biológicamente por la alquimia sutil del congreso sexual. La mujer, real o imaginada, en cuanto instigadora básica del orgasmo, es la sombra suprema, el agente redoblador a través del que la mente reproduce y materializa su imaginería. Para este fin ella cosifica en forma humana a la Culebra de Fuego centelleante conocida por los Adeptos como la Kundalini.
Una encarnación humana de esta Corriente Ofidiana sólo puede producirse en iniciadas femeninas poseedoras de una constitución peculiar, la cual les permite transmitir sus energías ocultas. Tales mujeres se manifestaban antiguamente como las prostitutas del templo, las pitonisas, las grandes sacerdotisas y las suvasinis de los cultos tántricos del Vama Marg (Sendero de la Mano Izquierda).
La fórmula de la "santa puta" ha perdurado hasta tiempos modernos en el Culto de Aleister Crowley del Amor dirigido por la Voluntad con su Mujer Escarlata; en el Zos Kia Cultus de Austin O. Spare; en el Culto Vudú de la Culebra Negra de Michael Bertiaux, y en el siniestro Culto Chino del Kû con sus demonios femeninos y sus putas del infierno, quienes a pesar de sus prostituciones tienen las llaves de las puertas del paraíso.
El sueño inherente, la voluntad verdadera y la obsesión primaria son términos utilizados por los iniciados para designar al Dios Oculto que acompaña al hombre a través de los ciclos de nacimiento y muerte, uniéndole siempre con la Sombra y buscando la materialización en el universo objetivo. Sólo un Adepto puede determinar cual es la substancia y cual la sombra.
Debido al presente estado de la humanidad en esta era oscura de Kali se ha producido una gran irrupción de energía primordial que encuentra su expresión más plena en los fenómenos del sexo. Pero si las energías sexuales no son controladas y polarizadas adecuadamente, la destrucción aguarda al practicante que las utiliza sin comprender plenamente la fórmula del Sendero de la Mano Izquierda, que es, de entre todos los senderos, el más rápido y más peligroso.
Casi parece superfluo añadir que sólo un Mago puede manipular con impunidad la Corriente Mágica que inspira a estos Cultos de la Sombra. Como dice el Tantra: "Se llega al cielo por los mismos medios que pueden llevarnos al infierno".

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Chamado do Sangue



O Chamado do Sangue
Despertando a Herança do Sangue-bruxo
por Leonard Dewar
Era Vulgaris MMXII

Esta é uma invocação que tem como objetivo acordar o sangue do praticante, revelando pelos sonhos e sinais, ao longo da prática, segredos e mistérios aprendidos pelos seus antepassados.
Quem praticá-lo deverá fazer um “Grimorio da Noite”, a fim de anotar tudo o que receber pelo mundo onírico, seja avisos, símbolos, conhecimentos e até mesmo o que parecer sem sentido ou desconexo.
Este Ritual deverá ser realizado por 99 noites consecutivas, ininterruptas, sendo que a cada 30 dias uma vela deverá ser usada, sendo a Branca representando a Luz, os poderes do dia e do Sol; a Preta representando a Escuridão, os poderes da Noite e da Lua e, por último a vermelha, o Fogo, representando o sangue e o espírito ancestral, os conhecimentos do próprio andarilho e de seus antepassados, a cor da Arte. A ordem das velas é de escolha do andarilho, pois o caminho de cada um é de própria responsabilidade, assim como as conseqüências. Quando completar um ciclo com cada vela, deve o Andarilho usar as três velas, fazendo assim, as últimas nove noites com três velas: a Negra á sua esquerda, a Branca á sua direita e a vermelha entre ambas, de frente ao feiticeiro. Dessa forma ele completará o ciclo dos 99 dias, realizando o noventa vezes nove, cujo resultado é o sagrado nome de Qayn.
Caso perca um dia e não consiga fazer sua prática, volte do início, até que você complete seus 99 dias ininterruptos.
Se tiveres um olhar atento, verás que o número nove e seus múltiplos estão ligados á Lillith e às suas formas, que se encerram em si mesmas, pois ela é a mãe do Sangue-bruxo, a primeira mulher de toda a criação. Porém, não se deixe enganar pelas aparências, Andarilho, pois desde já os trate não somente como seus ancestrais, mas também, como algo que está além de nossa compreensão; pois os mistérios que rondam essas histórias não são de natureza acolhedora: você estará invocando um poder tanto sagrado quanto profano. Eles são os poderes que aquecem e ensinam, que queimam e destroem; o fogo que transforma para ambos os lados e a lâmina afiada que traz a morte: seus caminhos não podem ser previstos. Lembre-se que as dores que passaram e o que tiveram de fazer não somente lhes trouxe a glória da rebelião contra a mentira sedutora, mas a maldição da Verdade que tanto liberta quanto envenena. E essa maldição é compartilhada por todos os seus filhos, por toda a sua linhagem.
Portanto, Andarilho, é isso que estás prestes a invocar: a história e a Herança de seu próprio sangue, com todas as bênçãos e maldições, glórias e tragédias.
Faça este chamado com orgulho, vontade e honra, mas nunca envolto em soberba ou vaidade:

Cavaleiro da meia-noite das bruxas,
Tu, que corres com a montaria marcada com a Estrela na fronte,
Que caminhas sobre o fogo da rebelião,
Escute o nosso Chamado!
Tu, que tens o rosto oculto pelo mistério da noite
e a imagem refletida pela luz do dia,
Que é ameaçador para os filhos do barro e sedutor para os filhos do fogo,
Venha ao nosso encontro!
Senhor que guarda o segredo ancestral,
Serpente flamejante que adormece em nossas almas:
Venha a nós com o olhar do Djinn do deserto com olhos de brasas,
E nos traga os conhecimentos secretos!
Cavalo e cavaleiro,
A Mão que semeia vulcões que rasgam a terra,
O sopro que incendeia nossas Almas,
Em tua graça, profano e sagrado se tornam um,
Assim como era no início e como será no final.
Á tua imagem e semelhança se torna o meu fogo
Assim como os espíritos daqueles que andam O Caminho sob tua Luz;
Tu és a vida na morte e a morte na vida,
Tu és a Sombra sem forma que dança na luz,
A Luz flamejante que dança nas sombras,
O morto que fala com os vivos e o vivo que fala com os mortos!
Guardião dos mistérios da morte,
Senhor dos mistérios da vida,
Acorde a serpente do sangue
E escute o nosso chamado!
Abra-nos os portais da nossa herança,
E deixe-nos vislumbrar o poder oculto,
A memória ancestral que dorme em nossas almas.
Conheces as dores da raça exilada,
O peso da herança maldita,
A glória de toda a magia,
O poder indomável do sangue!
Serpente de chamas que dorme em nossas veias,
Cavalo com crina e com casco de fogo,
Dragão indomável com chifre esmeralda,
Nós lhe chamamos para o despertar!
Mostre-me a revelação do sangue,
Dê-me a semente e a foice do verdadeiro tornar-se,
Que minha alma acenda e que nada limite minha chama!
Nem vivos ou mortos,
Nem eu próprio ou meus medos mais secretos!
Que ela queime a tudo o que não for digno,
E que transforme o que for impuro em digno de Honra e de Orgulho,
Mesmo que meu coração se parta em tristeza e minha alma se cubra de cinzas!
Mestre Caim, Tu, Filho do fogo,
Que mataste o profano do barro!
Que com Ela – a mãe do sangue-bruxo – deram origem a nossa raça!
Que junto á Ela fazes a Direção Oculta,
Que está nos mistérios das oito direções sagradas!
Tu, que caminhastes pelas terras sombrias de Nod,
Que nos livraste do licor da mentira!
Que nos envenenaste com a Verdade libertadora!
Ouça meu chamado!
Atenda a minha oração!
Olhai para os vossos descendentes!
Nós lhe chamamos em nome do nosso sangue!
  
Repetir a oração Oitenta e Uma vezes, no sagrado Nove vezes Nove:

Mestre Qayn, Assassino primeiro, desperte o poder do meu sangue,
Que eu mergulhe nos poderes e mistérios de minha Alma,
Que a chama esmeraldina ascenda resplandecente em minha fronte!

Quando terminar, encerrar com a seguinte oração:

Cavaleiro da meia-noite das bruxas!
 Pelos sete regentes do céu e do inferno,
Pelos poderes do alto e de baixo e tudo entre eles!
Pelo sangue ancestral,
Nós lhe pedimos que esteja sempre conosco.
Que possamos escutar o sussurro dos mortos,
Entender as mensagens dos ventos,
E despertar os segredos do sangue.
Que todos os poderes se encontrem na Direção Oculta,
no centro das oito direções!
Amém, Amém, Amém.


Oração aos Antepassados – Uma Invocação Luciferiana da Nona Direção


“Por tudo o que é valioso,O sangue em minhas mãos:É o sangue de divindades”
Quando teu sangue sussurrar ao teu ouvido, com uma voz que te lembrará do som do rastejar de uma serpente;
Quando o vento lhe trouxer tais sussurros como se os trouxesse do Abismo;
Quando sentires que esse Abismo, seja qual for tua máscara, reside em teu sangue e espírito pelo antigo pacto;
Quando aceitares a ideia de que o teu sangue é o mesmo dos Deuses Antigos e das forças caóticas e primitivas anteriores aos mesmos;
E finalmente, quando for capaz de sentir, sem precisar emitir palavra alguma, que o silêncio e o poder, assim como tua maldição e tua sabedoria, são tua herança e tua Marca na linhagem de Qayin e dos Anjos Caídos;
Será o dia em que teu mundo irá ruir e, teu entendimento, mesmo trazendo a sua vista todas as mentiras, lhe trará a visão da face da Luz, das Trevas e dos Caminhos.
Será quando entenderá tua origem e teus mistérios.
E será quando estará mais próximo da Chama das Eras que brilha entre os chifres sagrados de Azazel.
Chame pelos teus ancestrais com o orgulho de todos os seus feitos que adormecem em teu próprio sangue e espírito.

Oração aos Antepassados

Das Profundezas de meu ser,
Eu invoco a fagulha do fogo primordial,
A Chama das Eras que brilha entre os chifres sagrados de Azazel!
Eu invoco aquele que é desconhecido!
A sombra obscura, a metade sombria.
O que possui o rosto ocultado pela escuridão da noite
e a imagem refletida pela luz do dia.
Aquele cuja Luz brilha na escuridão mais profunda.
O Ferreiro divino e infernal,
O fogo negro sob a alcunha de Tubal-Qayin!
Cuja descendência forjou o prego que nunca esfria!
Eu chamo pelos pais do fogo e sangue!
Cuja chama ardente e indomável vive eternamente!
A serpente flamejante que adormece em minhas veias!
O beijo lascivo da mãe que açoita!
Aquela da casa de Samael!
Pois Eu sou Ele! E Eu sou Ela!
A máscara das possibilidades,
E o véu que esconde o segredo!
Aquele cuja palavra não pode ser escrita.
Eu sou a forja e o metal retorcido de TUBALO-LÚCIFER,
Aquele que pelo fogo vive em eterna transformação!
Eu sou a foice purificadora de QAYIN!
Aquele que alimenta a terra com o verdadeiro sacrifício!
Eu sou o sangue ancestral e de poder implacável de NAAMAH-LILITH!
A Serpente-Dragão que a tudo devora!
Pois eu invoco e evoco a mim mesmo!
Pois eu sou aqueles que já se foram!
E toda sua glória e seu poder também pertencem a mim!
Pois Eu sou a Luz e Eu sou as Trevas!
Eu sou tudo o que ha entre eles!
Eu sou Ele, e Eu sou Ela!
Portador da Luz, Portador da Noite, Portador dos caminhos,
Aquele que é fogo e transgressão!
Que minha alma ascenda como a Chama das Eras que brilha entre os
chifres sagrados de Azazel!

LUCIFER! NOCTIFER! CRUCIFER!

Conceitos Draconianos


Incontável é o número de histórias que ouvimos falar sobre esses seres de imenso poder e imponência. Inúmeras são suas formas e seus poderes, sempre temidos e fascinantes. Assim sempre foi e sempre será a figura do Dragão, seja como símbolo, como criatura, como Deuses ou Demônios: os Dragões estão vivos em inúmeros planos de existência e de manifestações: Imaginários, religiosos, físicos e simbólicos. Portanto, a proposta deste texto é tentar mostrar um pouco mais sobre tais criaturas, baseando-se em variados povos e culturas, de épocas diferentes e inclusive no que ainda existe tanto nas religiões mais novas quanto na crença e na fé de outros grupos, bem como a importância de sua figura e de seu imenso poder que nos remete á verdadeira Sabedoria, finalizando com sua ligação extremamente importante na Magia e na Bruxaria em si.

Um dos mitos mais antigos conhecidos é o do gênesis dos povos da Mesopotâmia, que incluía a criação dos Deuses, do mundo e dos humanos(2). Nesse mito, podemos resumir que havia uma poderosa Deusa chamada Tiamat, cuja forma remete-nos a um Dragão(3).Ela era a Deusa dos oceanos e das águas salgadas, do Caos e das trevas. Ela era a mãe dos Deuses junto com seu marido Apsu, que era o Deus criador, senhor das águas doces, lagos e rios. Na história do Enuma Elish (4), Tiamat e Apsu tiveram filhos e netos, porém, seus filhos eram tumultuosos e barulhentos e Apsu decide mata-los. Seu filho Ea/Enki antecipa-se e mata Apsu, seu pai. Tiamat se enfurece e cria onze monstros poderosos para liderar seu exército de criaturas terríveis e seus filhos e netos se preparam para lutar contra sua mãe. Tiamat cria Kingu e o torna seu esposo, dando-lhe as tábuas do destino e colocando-o a frente de teu exército. Ea/Enki tenta lutar contra Tiamat, mas é derrotado, assim também acontece com Anu/An. No final, Marduque (filho de Ninhursag com seu irmão Enki), conseguiu capturar Kingu e matar Tiamat, ganhando o título de Reis dos Deuses e homenageado pelos mesmos. Após matar Tiamat, Ele cortou seu corpo em dois, fazendo de uma metade a terra e da outra metade o firmamento e de sua saliva ele cria a chuva. Nota-se nesse momento uma certa semelhança de quando o Deus Odin, junto com seus irmãos Vé e Vili matam o gigante Ymir e despedaçam seu corpo, usando suas partes para a criação do mundo. De qualquer forma, o poder e a proporção de Tiamat contido no mito, bem como na dificuldade dos Deuses em derrotarem sua mãe, assim como o mundo que conhecemos ser na verdade seu próprio corpo, nos dá uma gama ilimitada de ferramentas e de poderes a ser explorado. Não apenas isso, quando os Deuses desejam criar os humanos (para fazerem os trabalhos mais pesados), eles decidem matar Kingu e usar seu sangue misturado a terra (que é o corpo de Tiamat) para concretizarem tal criação, nos remetendo a uma ideia de que nós somos descendentes dos Deuses Antigos e que em nosso sangue corre o sangue de Kingu, assim como o de Tiamat.

Nos mitos nórdicos temos a história do Dragão Fafnir e de como o seu sangue tornou Siegfried imortal em todo o lugar em que tocara seu corpo e de como após beber o seu sangue, Siegfried podia entender a linguagem dos pássaros e, após comer seu coração, Ele ganhou o dom da Sabedoria.

Também há o Dragão Níðhöggr que rói as raízes de Yggdrasil (5), com o intuito de destruí-la. Níðhöggr significa “Devorador de Cadáveres” e no Ragnarök(6) ele irá subir para Midgard e trará os mortos para batalha.

Não poderíamos esquecer de Jörmungandr, a terrível serpente-dragão que envolve o mundo, cujos movimentos de seu corpo causam os maremotos e as ondas gigantes. Jörmungandr é filho de Loki com a giganta Angrboda e irmão de Fenrisulfr(7) e da Deusa do submundo Hel. Jörmungandr lutará contra o Deus Thórr e será morto pelo mesmo, que após dar nove passos, cairá morto pelo seu veneno.

Nos mitos gregos nós temos exemplos de Dragões tanto como Deuses quanto guardiões. Na História de Cadmo e da fundação da cidade de Tebas, o herói mata um Dragão que protegia um bosque sagrado que era tido como um filho de Ares e, após mata-lo, segue o conselho de Athena e semeia os dentes do Dragão na terra, o que gerou diversos guerreiros fortemente armados e de aspecto ameaçador. Seguindo mais um conselho de Atena, Cadmo lança uma pedra sem ser visto em um dos guerreiros e eles começam a brigar e a matar uns aos outros. No final da luta, restaram apenas 5 guerreiros, ou sparti (8) e esses ajudaram Cadmo na construção de Tebas e se tornaram também os ancestrais das famílias Nobres da cidade.

Nos mesmos mitos, temos também o Dragão Ladão, que possuía cem cabeças e que cada um de suas cabeças falava uma língua. Longe de ser uma besta, Ladão era filho do poderoso Titã Tiphon e possuía além de força, muita inteligência e fora escolhido pela Deusa Hera para guardar os Frutos Dourados da vida eterna. Ladão fora morto por Hercules que depois arremessou seus restos para o céu formando a constelação de Draco.

O Próprio Tiphon, dado como um Deus poderoso e caótico ao ponto de todos os Deuses o temerem, era tão grande que sua cabeça tocava os astros celestes e suas mãos iam do Oriente ao Ocidente. Suas asas abertas podiam tapar o Sol, acima de seus ombros possuía cabeças de Dragões, 50 de cada ombro, fazendo-se 100 cabeças. De sua boca cuspia fogo em torrentes, e lançava rochas incandescentes aos céus.
Saltando para o México, temos a famosa serpente alada Quetzalcóatl, cultuada pelos antigos Astecas e ainda pelos seus descendentes nos dias de hoje. Quetzalcóatl significa “Serpente Emplumada” e era visto como um Deus benévolo que representava a Luz, os ventos e a Sabedoria.

No Brasil temos o Boitatá, que era visto como uma serpente gigante feita de fogo que protegia as florestas e os campos contra incendiários, ateando fogo nos mesmos.

Também há a lenda do Dragão de Wawel, na Polônia, onde seria a atual Cracóvia, onde o príncipe de Krak, não sabendo como se livrar do poderoso e imenso Dragão que apareceu em suas terras, oferece a mão da princesa Wanda e metade do Reino a quem derrotasse o Dragão. Após vários falharem na missão, um jovem sapateiro apresenta uma ideia que não só da certo, como lhe garante a mão da princesa e metade do Reino. A gruta em que o Dragão dormia existe até hoje e virou um local turístico com uma estátua de dragão em sua entrada.

Até mesmo na bíblia encontramos referências a Dragões, sendo uma deles a seguinte descrição:

“1 “Você consegue pescar com anzol o leviatã ou prender sua língua com uma corda?
2 Consegue fazer passar um cordão pelo seu nariz ou atravessar seu queixo com um gancho?
3 Pensa que ele vai lhe implorar misericórdia e lhe vai falar palavras amáveis?
4 Acha que ele vai fazer acordo com você, para que você o tenha como escravo pelo resto da vida?
5 Acaso você consegue fazer dele um bichinho de estimação, como se ele fosse um passarinho, ou pôr-lhe uma coleira para as suas filhas?
6 Poderão os negociantes vendê-lo? Ou reparti-lo entre os comerciantes?
7 Você consegue encher de arpões o seu couro, e de lanças de pesca a sua cabeça?
8 Se puser a mão nele, a luta ficará em sua memória, e nunca mais você tornará a fazê-lo.
9 Esperar vencê-lo é ilusão; só vê-lo já é assustador.” (9)

Ainda:

“12 “Não deixarei de falar de seus membros, de sua força e de seu porte gracioso.
13 Quem consegue arrancar sua capa externa? Quem se aproximaria dele com uma rédea?
14 Quem ousa abrir as portas de sua boca, cercada com seus dentes temíveis?
15 Suas costas possuem fileiras de escudos firmemente unidos;
16 cada um está tão junto do outro que nem o ar passa entre eles;
17 estão tão interligados, que é impossível separá-los.
18 Seu forte sopro atira lampejos de luz; seus olhos são como os raios da alvorada.
19 Tições saem da sua boca; fagulhas de fogo estalam.
20 Das suas narinas sai fumaça como de panela fervente sobre fogueira de juncos.
21 Seu sopro faz o carvão pegar fogo, e da sua boca saltam chamas.
22 Tanta força reside em seu pescoço que o terror vai adiante dele.
23 As dobras da sua carne são fortemente unidas; são tão firmes que não se movem.
24 Seu peito é duro como pedra, rijo como a pedra inferior do moinho.
25 Quando ele se ergue, os poderosos se apavoram; fogem com medo dos seus golpes.
26 A espada que o atinge não lhe faz nada, nem a lança nem a flecha nem o dardo.
27 Ferro ele trata como palha, e bronze como madeira podre.
28 As flechas não o afugentam, as pedras das fundas são como cisco para ele.
29 O bastão lhe parece fiapo de palha; o brandir da grande lança o faz rir.
30 Seu ventre é como caco denteado, e deixa rastro na lama como o trilho de debulhar.
31 Ele faz as profundezas se agitarem como caldeirão fervente, e revolve o mar como pote de unguento.
32 Deixa atrás de si um rastro cintilante; como se fossem os cabelos brancos do abismo.
33 Nada na terra se equipara a ele; criatura destemida!
34 Com desdém olha todos os altivos; reina soberano sobre todos os orgulhosos”.” (10)

O mais interessante é ter na bíblia uma descrição tão poderosa da figura do Dragão, que no texto acima é referido como Leviathan ou um Dragão Marinho.

Visto que a Igreja condena e repudia a imagem do Dragão, podemos observar mais coisas, inclusive inerentes as tradições católicas, como por exemplo Santa Marta, cujo mito nos conta que após ressuscitar um jovem que morrera afogado, fora procurada pelos moradores de Tarascon para ajudar-lhes com um Dragão que estava assolando os habitantes da região. Santa Marta voltou com o Dragão atado no seu próprio cinto e o levou para a cidade, manso como se fosse um cordeiro. E até os dias de hoje, todos os anos, há uma grande festa para homenagear a Santa Marta, cuja imagem atravessa as ruas em cima de um Dragão. Uma de suas imagens contém um Dragão enrolado em suas pernas, como se fosse manso e protetor.

Não só na cidade de Tarascon, na França, persiste a festa, mas também em algumas cidades da Espanha, como Granada, Andalucía e Barcelona.
A imagem do Dragão não somente está contida em diversos povos que não tiveram contato uns com os outros e também separados por Eras completamente diferentes, mas em culturas tão diversas que o Oriente em si está repleto de Dragões.

Os Símbolos mais comuns são desde Forças poderosas e incontroláveis quanto de Ordem, Ancestralidade e Tradição. Dragões possuem um forte simbolismo ligado a Sabedoria e ao Poder em todos os seus sentidos.

Até esta parte qualquer leitor pode encontrar referências simples e até similares sem trabalho algum. É a partir deste ponto, após ter citado algumas das mais conhecidas caracterizações dos Dragões, que o assunto começa a ser abordado de uma forma mais interessante e ligado tanto a Bruxaria quanto aos poderes de alguns grupos e de pontos de vista variados.
Tal Poder não poderia ser ignorado nem pelos religiosos e muito menos pelas bruxas de todas as Eras ou ainda por aqueles que realmente enxergam e entendem o poder em várias de suas formas.

Não é difícil achar textos ou rituais onde se encontrem citações ou ainda visões de Dragões como Deuses ou formas para certas entidades, ou ainda, Dragões como formas de magia ou representação de poderes.

Algumas pessoas acabam se deparando com alguns grupos com visões mais abertas para os Dragões, como os praticantes de Magia Draconiana, cujo escopo de rituais e crenças lhe coloca como um Caminho único dentro do Caminho da Mão Esquerda, ou “Left Hand Path” como acaba sendo mais conhecido.

Diferente daqueles que acham que praticam ou que trilham um Caminho Draconiano, mas na verdade apenas substituem alguns de seus apetrechos rituais por Dragões levianamente (como elementos por Dragões, Deuses por Dragões e etc) e continuam fazendo o mesmo ritual que sempre realizaram apenas mudando as aparências; o Verdadeiro praticante da Magia Draconiana não somente enxerga além, como também acaba mudando sua própria visão sobre a figura dos Dragões e de seu papel no universo. Ele sabe que os poderes possuem máscaras e que o Dragão é uma das mais poderosas e que personificam o Poder absoluto, assim como a liberdade e a Sabedoria. Além disso, assim como a Apoteose da Serpente seria o Dragão, nossa Apoteose seria o Divino, o que no final, é exatamente a mesma coisa, pois Dragões também podem ser Deuses.

No ‘Rito do Fogo de Tubalcaim’( 11) há uma passagem em que é dito na oração:

“Tu és Ele: Reis dos Dragões da Sabedoria, teus ministros que são os demônios formados do fogo: Shemyaza, Armaros, Baraqijel, Kokabel, Ezeqeel, Araqiel, Shamsiel, Sariel.”

Temos ainda, um chamado cedido por Andrew Chumbley a um dos livros de Michael Howard, “O chamado de um amante ao anjo da linhagem das Bruxas”(12),sendo que na primeira parte há duas menções ao nosso tema na Arte Real:

“Ó Az’ra-Lumial! Alma angélica do mestre Caim! Iniciador do Mistério Draconiano, aquele que abre os portões à Vereda Tortuosa!”

E também:

“Ó Az’ra-Lumial, ascendei como a Gnose, a Mente do Céu: O Grande Dragão de sete cabeças, coroado e vitorioso!”

Ainda podemos citar mais uma passagem:

“Sobre o centro cósmico do céu gira a constelação de Draco, o Dragão.  Na Pérsia, era o Dragão-serpente Azhadaha, identificado como a Serpente Negra da Luz, Azazil-Ebas, chefe dos Inri ou Anjos Caídos. A Grande Estrela Dragão enrolada sobre uma árvore eixo dos mundos é emblemática da serpente da sabedoria enrolada sobre a cruz de Tau, o selo da Arte dos Sábios. A Grande Serpente, Draconis Azhadaha, é significantemente chamada também de Thyphonis Statio ou a Estação de Typhon ou Seth. No planisfério egípcio reproduzido em Oedipus Aegytiacus de Athanasius Kircher (1652), Typhon é mostrado como um Dragão escamado escarlate e verde e é equiparado com o deus mais antigo. Esse esquema de cores verde e vermelho retrata a tradição Luciferiana.” (13)
Além das anotações possíveis e dos bons debates que poderiam vir advindos de alguns desses pontos sobre a figura do Dragão nos ritos de Poder, podemos ainda acrescentar as Sábias palavras de Andrew Chumbley em um de seus Grimórios da Arte:

“O Caminho em si é personificado sob a forma de uma besta a qual tipifica sua natureza tortuosa e sempre-mutável – a Serpente, e então, em sua mitológica apoteose, o Dragão: Aquele que envolve o Grande Ano. O Grande Dragão é o símbolo do Arcanum central. Shaitan e Lilith representam a natureza bifurcada ou dupla implícita em sua identificação. Eles são as serpentes gêmeas (Ob e Od – a Serpente Negra e a Vermelha) ou os aspectos gêmeos do Poder Ofídico. Ele, o transmissor do sagrado veneno, o qual desperta o Oraculo; e Ela, a absoluta da Revelação.” (14)

Não há como negar o poder dos Dragões na Bruxaria e de seu poderoso simbolismo que, se colocado sobre a direção “correta”, causa admiração ou temor ao coração dos que escutam seus nomes. Dessa forma, quando falamos em Dragões, a primeira imagem que vem para a maioria das pessoas são as de Dragões populares dos filmes e livros de fantasia. Quando mencionamos ou comparamos a figura do Dragão como uma das formas de Shaitan ou de Lúcifer, sua imagem passa a ser considerada ‘monstruosa’ e ‘intimidadora’ para aqueles que ainda permanecem na ignorância do ‘homem do barro’, que ainda temem o poder Real do Fogo e de sua sabedoria. São nesses termos em que a Magia e a transformação possuem a chance de se tornarem algo mais: quando se dá a direção correta para ativar seus sentidos e expandir a sua compreensão.

O Dragão é um símbolo poderoso e diversas linhas de Poder fazem uso de sua forma e de seus valores, como por exemplo, o ‘Temple of the Ascending Flame’ e a ‘Ordo Draconis et Atri Adamantis’, mais conhecida como ‘Dragon Rouge’, são Ordens que focam na Magia Draconiana, incluindo uma variedade de práticas e o uso de máscaras para o Dragão.
Muitos exercícios possuem como objetivo alcançar técnicas que envolvem fogo e meditações para elevar seus sentidos, despertar a Kundalini ou a Serpente-Dragão, visualizações de situações e entidades, tomar a forma de Dragões ou de algum híbrido durante visualizações e viagens oníricas ou astrais, bem como a de ter acesso a tais poderes e símbolos relativos aos mesmos. Todo esse poder e glória devem ser levados para o seu dia-a-dia e cada vez mais, que assim como em inúmeros Caminhos da Bruxaria e da Magia em si, tornar-se o Dragão numa analogia sob a perspectiva de uma Apoteose, como se voltássemos a nos aproximar de nossa natureza Original, como de nossa mãe Tiamat, que foi o Dragão do Caos e das trevas, a geradora dos Deuses; e nosso Pai Kingu, cujo corpo e sangue foram matéria prima para nossa criação: no final, caminhamos cada vez mais para nos tornarmos Deuses ou, simplesmente, voltarmos a ser exatamente aquilo que já somos, o que normalmente é entendido por apenas alguns indivíduos.

Ambos os Caminhos são parte do que chamamos de LHP (Left Hand Path) ou o Caminho da Mão Esquerda, pois não há como seguir o Caminho do Dragão ou da Magia Draconiana por outra forma, já que seus símbolos, além de muito variados, também implicam em trilhar e ousar por Caminhos mais tortuosos e de práticas mais sombrias e agressivas com o ideal e meta de uma Apoteose, o que no caso, também incluiria a capacidade de tomar a forma espiritual e onírica de um poderoso Dragão.

Outra analogia bem comum é a associação de Lilith com um Dragão, assim como a do mestre Qayin. É natural que suas comparações sejam feitas dessa forma, uma vez que suas naturezas não apenas mutáveis, mas poderosas em meio as suas ordálias, tenham lhes trazido tanta sabedoria e poder. O Dragão, como um arquétipo do Poder Absoluto e Ancestral, seja como Criador e gerador ou como Guardião e Sábio, ainda perdura tanto nesses personagens quanto em inúmeros outros, seja como comparações diretas ou apenas ilustrações de seus poderes e características.

De qualquer forma, um dos primeiros passos das pessoas comuns seria o de desvincular os Dragões das Fantasias modernas e tentar compreender o seu valor Oculto e Magicko. Não apenas pelas associações de grupos ou escritores, mas pelo temor e fascínio que causavam em cada época e em cada povo, seja como criaturas Poderosas ou como Deuses de outrora.

Só a partir dessa mudança é que se torna possível o contato com o poder Real da Magia Draconiana de forma mais direta.

Não é de se surpreender que muitos Bruxos e praticantes de magia usam Dragões em seus chamados ou símbolos, como fonte de inspiração e poder, assim como o fizeram símbolos de todo o mundo, incluindo brasões de famílias e personagens inspiradores de inúmeras histórias, como o famigerado “Drácula” e o Dragão como símbolo de seu Poder; ou ainda a bandeira do País de Gales, onde jaz, até hoje, um poderoso Dragão Vermelho com um fundo Branco e Verde.

Finalizo com uma frase de Andrew Chumbley, retirado de um de seus Grimórios da Arte sem Nome, na qual possui inúmeras analogias e sabedorias para aqueles que possuem olhos para ver:

“Tornou-se Eu o Dragão de sete Cabeças, o Pai e o Filho das Serpentes Gêmeas da Vida e da Morte.”
Notas:

(1) Jó 30:29;

(2) Como parece ser mais aceito, tomo como mais antigo a criação do mundo na Mesopotâmia do que na bíblia, já que a bíblia em si além de não ter sua suposta idade comprovada tudo indica que a mesma fora influenciada por povos mais antigos, como aqueles que faziam parte dos povos da Mesopotâmia;

(3) Embora seja totalmente popular a visão de Tiamat como um Dragão, há apenas indícios de suas formas;

(4) Enuma Elish é o mito de criação babilônico. Foi descoberto por Austen Henry Layard em 1849 (em forma fragmentada) nas ruínas da Biblioteca de Assurbanípal em Nínive (Mossul, Iraque), e publicado por George Smith em 1876. Essa versão data do século 7 ac, mas provavelmente teve origem na Idade do Bronze ou  no período Cassita, em torno do século 18 – 16 ac), tornando-o muito mais antigo que a bíblia;

(5) É a Árvore dos Mundos. Midgard, literalmente “terra média”, é o nosso mundo e se localize bem no meio da árvore;

(6) Traduzido literalmente como “Crepúsculo dos Deuses”, que representaria o fim do mundo, dos Deuses e dos humanos, numa batalha feroz e caótico onde tudo no final é devorado pelo fogo;

(7) Mais conhecido como Lobo Fenris;

(8) “Semeados”;

(9) Jó 41:1-9

(10) Jó 41:12-34

(11) Os Pilares de Tubalcaim, Apêndice IV, pág 288, Nigel Jackson e Michael Howard, Editora Madras;

(12) O Livro dos Anjos Caídos, pág 149-150, Michael Howard, Editora Madras;

(13) Os Pilares de Tubalcaim, pág 268, Nigel Jackson e Michael Howard, Editora Madras;

(14) Andrew Chumbley, Qutub, pag 46, Xoanon;

(15) Andrew chumbley, azoetia, pág 312, xoanon.

Nigromancia


A palavra Nigromancia provém do latim e essa por sua vez de Necromancia, “nekrós” (morto) e “mantéia” (previsão, adivinhação), um termo de origem grega que significa literalmente adivinhação através da evocação dos espíritos dos mortos. Seu surgimento encontra-se em meio às práticas religiosas das civilizações e povos da antiguidade tal como assírios, babilônicos, egípcios, gregos, romanos e etruscos. O geógrafo e historiador grego Strabo faz referência à Necromancia como a principal forma de adivinhação entre os persas.

Na antiguidade clássica havia muito interesse em Necromancia - a consulta dos mortos para adivinhação. Tanto os sacerdotes egípcios quanto os magos persas deveriam ser especialistas em Necromancia, e os papiros mágicos greco-egípcios certamente confirmam que a comunicação com os mortos fazia parte do repertório de um mago egípcio. O Necromanteion era um antigo templo dedicado ao deus do submundo, Hades, e sua consorte, a deusa Perséfone. Os antigos gregos acreditavam que enquanto os corpos dos mortos decaíam na terra, suas almas seriam libertadas e viajariam para o Mundo Inferior através de fissuras na terra. Dizia-se que os espíritos dos mortos possuíam habilidades que os vivos não tinham, incluindo o poder de predizer o futuro. Os templos foram, portanto, erguidos em lugares considerados como entradas para o submundo para praticar a Necromancia (comunicação com os mortos) e receber profecias. As pessoas podiam buscar conhecimento dos mortos dormindo em tumbas, visitando oráculos e tentando reanimar cadáveres e crânios.

Um dos casos mais famosos de Necromancia é o da denominada "Bruxa de Endor", descrito na Bíblia, em Samuel 1;28, onde essa convoca o espírito de Samuel na presença do rei Saul. O episódio bíblico foi amplamente aceito durante muito tempo como evidência irrefutável da existência da prática da bruxaria. Outro episódio exemplar de Necromancia encontrado na Bíblia está em Deuteronômio 18;9-12, onde os Israelitas são advertidos a evitar a censurável prática do Cananeus, de previsão do futuro por meio da evocação dos mortos.

Durante a Idade Média o termo Necromancia foi derivando para Nigromancia (nigro=negro), que é a antiga forma italiana e francesa, e passou a se referir ao conceito mais generalizado de conjuração de demônios. A mudança foi teológica, a crença cristã medieval afirmava ser impossível que os mortos, ou qualquer outro espírito intermediário (como gênios, elementais etc.), entrassem em contato e se comunicassem com os vivos e que seria mais razoável supor que os espíritos que acudiam as conjurações do nigromante fossem demônios disfarçados. Afinal somente Deus poderia chamar almas para à Terra na vida após a morte, e qualquer adivinhação deve basear-se no poder demoníaco, o que impedia a prática da Necromancia no sentido literal.

Assim doravante Necromancia seria conhecida como Nigromancia e passou a designar um tipo de Magia Cerimonial onde resultados maravilhosos são alcançados devido a invocação de espíritos malignos (isto é demônios); embora isso não significasse que seus praticantes também não convocassem outros tipos de espíritos.

De fato, ainda que a maioria dos espíritos convocados pelos nigromantes medievais fosse explicitamente demoníaca, a Nigromancia também invocava santos, anjos, gênios da natureza e (é claro) a alma dos mortos. Aliás, a distinção entre as almas inquietas dos mortos, demônios e espíritos elementais sempre foi distorcida nos textos nigromânticos, na melhor das hipóteses.

Em geral magos cerimoniais da Idade Média e Renascimento praticavam formas baixas e altas de Nigromancia. Suas operações envolviam círculos mágicos, rituais de exorcismos, consagrações talismânicas, adivinhações, conjuração de espíritos (anjos, deuses, fantasmas, elementais, demônios etc), simpatias ocultas e cristalomancia ritual. Tudo isso funcionava dentro de um contexto místico da Teurgia judaica-cristã cujos ritos abundam de referências textuais da Bíblia, o uso de salmos e litanias, observação de ciclos lunares, palavras de poder e magia astral derivada de fontes árabes. Alguns desses elementos remontam ao paganismo greco-romano ou germânico, enquanto o exorcismo vem do mesmo culto cristão, embora enxertado da tradição judaica. Quanto à magia astral essa alcança a Europa Ocidental por meio do mundo árabe, juntamente com a disseminação de imagens astrológicas, círculos ou espelhos com incenso, mirra ou outras substâncias.

O círculo como um catalisador de poder remonta à antiga magia judaica e sua principal função era concentrar o poder do mago sobre os espíritos. Parece, então, que o propósito de proteger o mago dos espíritos é uma derivação, menos presente nos manuais mágicos medievais, embora seja o mais difundido por seus detratores e pela literatura. A magia judaica incluí a magia salomônica que analisaremos mais abaixo. A caracterização esotérica de Salomão tornou-se popular em algumas correntes literárias da antiguidade tardia derivadas do Judaísmo e Cristianismo.

Historicamente falando a Magia Salomônica deriva de uma tradição hermética-secreta transmitida desde Alexandria no Egito (século VII) através dos grimórios gregos de Bizantio (a Hygromanteia) aos manuscritos em latim da Clavicula Salomonis, e sua encarnação inglesa como a Chave de Salomão.

Os textos mágicos salomônicos dizem terem sido escritos por Salomão que o transmitiu para os seus sacerdotes. A tradição afirma que Salomão recebeu a revelação do conteúdo de seus textos diretamente de Deus. Rituais mágicos nessa tradição incluem orações aos anjos e instruções para o uso de círculos mágicos e sacrifícios para conjurar espíritos utilizando selos e instrumentos mágicos confeccionados por seus praticantes.

Por sua vez os textos ocultos árabes tiveram origem em fontes persas e, finalmente, indianas e, possivelmente, na comunidade sabeana de adoradores de estrelas em Ḥarrān, no norte da Mesopotâmia. Um ramo intelectual dos sabeanos foi estabelecido em Bagdá no século IX e incluía Thābit ibn Qurra, autor de vários textos mágicos de imagens traduzidos para o latim.

O conceito do mal

Além da doutrina e do ritual da Igreja Católica, a Nigromancia também se apoiava na Magia Neoplatônica (Teurgia), Islâmica e Judaica, que tinha conceitos diferentes dos demônios. É natural que os nigromantes incorporassem conceitos não-cristãos que pareciam mais úteis para sua arte.

O conceito do mal absoluto encarnado na figura do diabo nem sempre era prevalecente entre os adeptos da Nigromancia. Isto porque existia também a crença nos espíritos neutros, cuja existência as autoridades da Igreja negavam veementemente. A ideia de espíritos neutros veio essencialmente de uma demonologia alternativa baseada na crença greco-romana em daimones que são “seres do mundo espiritual” mais ligados ao ambiente terrestre que ao espiritual propriamente dito e podiam ser tanto maléficos como benéficos. Neste caso, o daemon grego se aproxima ao conceito de Gênio (Djin Árabe) pois são tanto bons como maus (indiferentes) e podem assumir as mais diversas formas.

Nos versos Áureos, tradicionalmente atribuídos a Pitágoras (522-497 a.C), a palavra (daemon) se encaixava numa hierarquia de poderes, possivelmente humanos, que deveriam ser louvados normalmente. Os antigos gregos entendiam os daemones como espíritos intermediários entre a humanidade e os deuses superiores, que podem exercer uma influência benéfica ou maléfica sobre o destino humano. Esses espíritos passaram a ocupar uma posição intermediária na hierarquia sobrenatural; posição esta, às vezes, um pouco parecida com a de um Deus menor e considerada capaz de intervir em todo aspecto da atividade humana, se assim quisesse ou fosse compelida a fazer. A crença popular considerava-os como espíritos guardiões e o próprio Sócrates, por exemplo, afirmava ser inspirado por um daimon pessoal.

De forma semelhante também existe um tipo de magia árabe, e provavelmente proveniente da tradição babilônica, que consiste na utilização dos djins (gênios) que não eram inteiramente bons nem inteiramente maus, em que se bem se parecem com a humanidade, pois são capazes de realizar qualquer tarefa a que sejam compelidos. Existem, é verdade, bons e maus gênios, machos e fêmeas. Aqueles a quem a tradição diz terem sido aprisionados por Salomão num vaso de bronze e atirados no mar eram quase todos maus. Mas alguns eram bons, e outros, indefinidos.

A associação da Magia com o mal, e com os demônios em particular, teve seu início no fim da Antigüidade, período no qual a cristandade iniciou um longo processo de demonização da Magia. A Magia passou a ser vista como obra exclusiva de demônios perversos e os magos e feiticeiros como seus servos. Entretanto, os pagãos não tinham horror à Magia, pois não associavam com o Diabo (ou com seus equivalentes pagãos – Seth, Ariman e outros). A crença em hordas de demônios perversos pode ser considerada uma reinterpretação da Magia Pagã pela nova religião (Cristianismo). Posteriormente, Miguel Psellos (século XI), de Constantinopla, criou uma "hierarquia demoníaca", de influência neoplatônica; a distribuição das hostes dos caídos se espelha no Paganismo (DAIMONS). Então, teremos os demônios sendo distribuídos pelos elementos (inclusive o Éter).

Quando o Cristianismo alcançou o poder com o imperador Constantino, a Magia assumiu rapidamente a natureza cristã. No início a Igreja não era contra a prática da Magia, mas com o tempo terminou colocando-a sob a jurisdição do Diabo. Para a Igreja, o poder da Magia se originava nos “demônios”, que eram, aos olhos dos primeiros padres cristãos, simples espíritos do mal chefiados por Satã. Essa noção do mal absoluto encarnado em uma figura satânica era estranho as crenças e as práticas gregas, egípcias e babilônicas, países tidos como intimamente ligados às origens da Magia. Para os pagãos todos os deuses tinham um lado bom e outro mau, sendo que ambos eram necessários ao equilíbrio natural.

Assim o conceito primitivo da palavra daemon afasta-se do atual conceito de demônio maligno da tradição cristã. Na verdade não havia uma posição dualista clara entre daemones bons e maus. Essa teoria permaneceu influente no início da cristandade, mas na Idade Média os demônios maus haviam substituído decisivamente os daemones ambivalentes, pelo menos no mundo cristão. A partir de então o conceito de ambivalência do termo daemon foi abolido e a palavra passou a ter o sentido de espírito do mal e, consequentemente, de demônio maligno. Uma figura que jamais contribuiria para o bem do homem, mas era isto sim, seu mais horrível inimigo. De agora em diante, as pessoas que buscavam ajuda espiritual segundo os antigos costumes, e através de Daemom, passaram a ser vistas como fatalmente iludidas, e suas práticas como a pior espécie de Magia.
Magia Hermética & Magia Salomônica

Atualmente, duas grandes correntes de magia medieval culta são freqüentemente distinguidas: Magia Salomônica, a arte de invocar e controlar espíritos por meio da aplicação de certas fórmulas descritas nos grimórios, e Magia Hermética das traduções grega e árabe-latina, que é baseada na invocação de imagens astrais (talismãs). Essas duas tendências podem ser identificadas com a divisão entre os dois personagens míticos (ou seja Salomão e Hermes) aos quais muitos textos apócrifos, de um e de outro, foram atribuídos."

No entanto, tal distinção torna-se turva quando vamos às fontes, já que em muitos escritos de Magia Salomônica as imagens astrais desempenham um papel crucial, enquanto os rituais não estão ausentes de muitos textos de Magia Hermética (também chamada de 'magia astral' para incluir obras não atribuídas especificamente a Hermes), já que suas operações também são dirigidas a seres sobrenaturais associados às estrelas. Além disso, os poderes espirituais dos textos mágicos talismânicos nem sempre se manifestam como entidades e, quando o fazem, as entidades nem sempre se decompõem perfeitamente em anjos e demônios como na Magia Salomônica.

Nós também encontramos vários livros e manuscritos de magia, nos quais ambos os gêneros se mesclam pois as liturgias mágicas são adaptáveis ​​a múltiplos usos, assim como as liturgias católicas normais. Além do mais embora as cosmologias da Magia Salomônica e Hermética aparecem superficialmente diferente eles muitas vezes se complementam. Os textos mágicos herméticos apresentam o universo como integrado por um teia harmoniosa de conexões entre os mundos celestial e físico e descrevem como o praticante deve reunir coisas com naturezas correspondentes em seu ritual - espíritos, nomes, imagens, orações, horários, locais e materiais - para que a energia possa ser transferida dos corpos superiores para os inferiores e ser intensificado pela harmonia de todas as partes do corpo. Já o praticante da Magia Salomônica deve dominar os espíritos através do conhecimento de seus nomes, que ele costumava conjurar para estarem presentes e obedecê-lo. Mas ambos herméticos e textos salomônicos enfatizaram que o sucesso das operações mágicas dependia da vontade de Deus.

Estudantes modernos de ocultismo muitas vezes criticam o sistema de Magia Salomônica por considerá-lo “sujo e pesado” além de, na maioria das vezes, focado em questões puramente materiais, algo indigno de atenção para um verdadeiro estudioso da “elevada” filosofia Hermética. Entretanto o Hermetismo foi o veículo, desde a antiguidade, de um sistema de Magia Astral que muitas vezes foi considerada mais deplorável porque as orações, invocações e fumigações oferecidas aos espíritos planetários pareciam expressar um culto à idolatria planetária. Isso não era aceito pela Igreja que alertava aos seus fiéis que não deveriam adorar qualquer coisa ou pessoa além do único e Supremo Deus Trino.

Embora os textos mágicos medievais não incentivassem explicitamente o mago a adorar os planetas, não é difícil ver como essa suspeita surgiu. Por exemplo, o Picatrix fornece orações mágicas aos planetas e descreve quais animais são apropriados para sacrificar a eles. O sacrifício ritual de um animal antes de invocar os Espíritos de um planeta também faz parte das instruções para falar com os Espíritos de Mercúrio em um texto mágico produzido na corte de Alfonso X, o Livro de Astromagia (Livro de Magia Astral, c.1280 -1). Na imagem que acompanha as instruções para obter um anel mágico desses espíritos, o praticante se ajoelha ao lado de uma cabra que ele sacrificou e recebe um anel mágico de um anjo que é acompanhado por um cavalo. Um compartimento menor à esquerda da imagem maior representa Mercúrio como um homem montado em um pavão e o signo do zodíaco Leão, sob o qual a oração e o sacrifício foram feitos.

Os Livros Negros

Os livros com que os nigromantes estudavam, e se formavam, receberam o nome de grimórios ou “livros negros”. São livros de fórmulas mágicas, feitiços e rituais usados pelos antigos feiticeiros. Vários são conhecidos como o Livro da Magia Sagrada de Abra-Melin, O Grimório do Papa Honório (ou Liber Iuratus ), A Clavícula de Salomão, O Picatrix, O Livro de São Cipriano, Liber Razielis, Lemegeton (ou Pequena Chave de Salomão) etc. A origem desta “literatura” é, com efeito, ancestral, e se tem notícias da mesma desde a Alta Idade Média. A origem dos primeiros livros contendo ritos nigromânticos é meio obscura e até duvidosa. Até hoje ninguém conseguiu provas que confirmem que eles foram escritos na época que dizem terem sido, e pelas pessoas que os supostamente os assinam. Nesse rol de autores encontramos o mítico Rei Salomão, o Mago Abramellin, o Papa Honório e São Cipriano. Eles provavelmente são reminicências de manuscritos, ou até mesmo de outros livros, e de tradições orais que tem suas raízes na antiguidade tardia.

Os objetivos perseguidos pelos grimórios são basicamente influenciar as mentes, inclinações e os desejos dos outros (sejam eles pessoas, animais ou espíritos para que faça ou pare de fazer algo), atuar ou agir sobre a natureza física das pessoas e animais para fazer o bem ou o mal, influenciar os elementos do tempo ou alterar estados e eventos incertos e, finalmente, criar ilusões, descobrir segredos ou “ver” fatos do passado, presente ou futuro. A ambigüidade, flexibilidade e utilidade variada de tais “livros negros” contribuem para o seu interesse ainda nos dias de hoje.

O apelo dos textos mágicos, sem dúvida, residia na acessibilidade de suas cosmologias. Considerando que, para os teólogos medievais, o conhecimento preciso dos reinos e espíritos celestes, e dos meios para os humanos aproveitarem seu poder, era inapropriado e perigoso, expressando o que estava além do alcance dos homens e do Universo cristão, bem mais limitado. Já os textos mágicos povoavam o Universo com uma série de espíritos nomeados, com papéis cosmológicos particulares e habitações espaciais e temporais. Embora se acreditasse que existia um grande número de anjos - Agostinho havia postado um anjo para todas as coisas visíveis no mundo - a maioria desses anjos era deliberadamente sem nome nas principais fontes religiosas. Mas nos textos mágicos os espíritos eram designados ao ar, ventos, mar, terra e fogo, e aos corpos celestes de vários céus e partes dos céus. Da mesma forma, os dias, horas e estações do ano e seus nomes, características e poderes foram descritos para que o praticante de Magia pudesse usar esse conhecimento para chamar os espíritos, ou ordená-los a ajudá-lo. Por exemplo, Ascymor, um anjo de Marte, aparece em vários textos mágicos com origens principalmente judaicas que foram compilados sob o patrocínio de Alfonso X, rei de Castela. Ele era um anjo útil para invocar quando alguém queria inspirar amor e paixão entre duas pessoas, obter graça e amor de todos os homens ou falar com a lua e as estrelas, os mortos e os demônios.

Salomão, o Nigromante

Ainda que a maior parte dos grimórios remonte ao fim da Idade Média e início do Renascimento nós sabemos pela análise de seus conteúdos que as informações neles contidas são muito mais antigas. É o caso de uma série de textos mágicos que, dizem, representam a Magia Salomônica ou que “foram escritos” pelo Rei Salomão. O mais famoso é conhecido como “A Chave Maior de Salomão” ou “Clavícula de Salomão”.

A Magia de Salomão está intimamente ligada a Magia hebraica e babilonesa. Alguns estudiosos acreditam que o sistema originou-se com os judeus no período denominado de “Cativeiro da Babilônia” e após alcançar a Idade Média sofreu um processo de sincretismo cristão da doutrina de anjos e demônios. Uma das inúmeras edições da Chave nos diz como este livro foi enterrado com Salomão em seu túmulo e depois levado para a Babilônia por um príncipe desse país. “Todas as coisas criadas devem obedecer aos seus segredos”.

Salomão era famoso pela sua grande sabedoria e pelas lendas que contam que ele controlava vastas ordens de espíritos e Djînn. Provas circunstanciais demonstram que a Chave de Salomão realmente existiu, em uma forma ou outra, desde a antiguidade mais remota. Segundo os historiadores do assunto, e ao contrário do que seu título sugere, este livro não foi escrito pelo Rei Salomão. Supõe-se que Salomão tenha nascido em 1033 anos antes de Cristo. A maioria dos manuscritos originais é em francês e latim e datam dos séculos XVI e XVII d.C, entretanto há uma versão em grego do século XV d.C.

Mas precisamos recuar muito mais no tempo, em busca de provas de que a Chave ou algo muito parecido com ela, exista provavelmente há mais de dois mil anos. O historiador judeu do primeiro século, Flávio Josefo, conta como um exorcista chamado Eleazar expulsa na frente do imperador Vespasiano os demônios que possuíam um homem:

“meteu no nariz do possesso um anel que levava dentro uma das raízes prescritas por Salomão. Logo que o homem respirou o perfume, expulsou o demônio pelo nariz. O homem, então, desmoronou e o exorcista adjurou o demônio para nunca mais voltar. Invocava para isso o nome de Salomão e recitava os encantamentos que ele prescrevera.”

Antiguidade Tardia (cerca de 284—750).

Mesmo no fim da Antiguidade Clássica existiu um manuscrito de magia semelhante à Chave denominado“o Testamento de Salomão”, um antigo manuscrito pseudepigráfico, escrito em grego, atribuído supostamente ao Rei Salomão, no qual ele discorre sobre os demônios que teria subjugado com o poder de um anel dado pelo arcanjo Miguel e colocado a serviço da construção do grande Templo dedicado a Jeová. A datação do texto é incerta, mas provavelmente foi escrito entre os séculos I e III d.C.

Segundo esta obra, através de artes mágicas (ou milagres, ou o que lhe queiram chamar) o Rei Salomão capturou diversos demônios, com os quais construiu o famoso Templo de Jerusalém. A versão grega do Testamento de Salomão provavelmente foi escrita no Séc. 300-400 d.C., mas deve ser o resultado de várias traduções, tendo sua origem no mundo judaico. Com toda certeza, já existia e era conhecido no tempo de Jesus, mesmo que posteriormente tenha sofrido acréscimos cristãos.

O pesquisador Charlton Mc Cown afirma que as fórmulas e receitas mágicas do Testamento de Salomão o associam aos papiros mágicos gregos (PGM) que analisaremos depois. Ele identificou as principais idéias desse documento; isto é, demonologia, astrologia, angeologia, magia e medicina. Em outro documento conhecido como “Sabedoria de Salomão”, composto no primeiro século a.C, Salomão é retratado como o maior ocultista de sua época: estudou astrologia, magia das plantas, demonologia, adivinhação, mas também physika, ciência natural.

Os nigromantes medievais praticavam a Magia Salomônica com objetivo de dominar os demônios que, segundo lenda, haviam participado da construção do Templo de Salomão. Ainda que a maioria das pessoas acredite que a Magia Salomônica trabalhe exclusivamente com demônios estes estavam sempre subordinados aos anjos e, muitas vezes, o contato com os anjos era procurado diretamente. Textos conjurando anjos são geralmente orientados para a busca de conhecimento, seja local (por exemplo, recuperação de bens roubados), global (por exemplo, as artes liberais e filosofia), ou simplesmente busca do êxtase e da profecia.

O estudo das correntes de transmissão dos textos manuscritos de Magia Salomônica coloca problemas específicos, principalmente devido à destruição que afetou os primeiros manuscritos. Sabemos hoje que essa forma de magia é muito antiga, mesmo se os famosos manuscritos citados são do século XI ou mais tarde ainda. A Tradição Mágica Salomônica foi transmitida ao Ocidente Latino por gregos, judeus, árabes, bizantinos - o que estabelece suas raízes na antiguidade tardia e mesmo além.

Nigromancia Greco-Romana

Estudiosos ocultistas apontam para o fato que a origem mais remota do nigromante medieval pode ser rastreada até seu equivalente no mundo antigo. Falamos dos sacerdotes escribas dos papiros mágicos gregos (Papyri Graecae Magicae) do Egito helenístico, o produto de uma longa tradição transmitida através de várias civilizações antigas. Esses feiticeiros profissionais do mundo greco-romano tinham a fama de possuírem visão profética e de serem capazes de afetar a realidade por intermédio de sua compreensão do mundo dos daemons.

No mundo antigo, a maioria das pessoas olhava para o universo e o via habitado por seres invisíveis que, embora transcendentes no sentido da impossibilidade, via de regra, de não serem vistos ou tocados, sua presença interferia no mundo e na vida visível dos humanos. Segundo Elaine Pagels, os antigos egípcios, gregos e romanos imaginavam deuses, deusas e seres espirituais de diversos tipos, enquanto alguns judeus e cristãos, monoteístas ostensivos, falavam cada vez mais em anjos, mensageiros celestiais de Deus, e alguns até em anjos decaídos.

O repertório da magia antiga era uma mescla de diferentes culturas e incluía fórmulas persas, egípcias e hebraicas. As fórmulas desses papiros atende a todo tipo de desejo humano: cura de doenças, adquirir riquezas, poder e fama, ter sucesso no amor, descobrir um ladrão, ser aceito na corte, desvelar o futuro, separar casais, prejudicar e até mesmo matar um inimigo.

Na verdade, muitos dos chamados papiros mágicos não são mais que textos religiosos pagãos, não sendo possível separar rituais de “magia” daquilo que pode ser denominado “religião”, em um contexto antigo. Nos papiros mágicos a cultura da magia fundia-se quase que totalmente com a prática religiosa comum pois, como observa Gager, o mundo antigo era “povoado” com todos os tipos de seres sobrenaturais de diferentes ordens, e a maioria dos homens não teria pensado em dividir nas categorias “religioso” e “mágico”. O sincretismo religioso helenístico dos papiros mágicos incluía invocações a deuses gregos, como Toth (também identificado como Hermes); Osíris (governante do mundo subterrâneo) e Set (normalmente identificado com o grego Tífon); deuses e poderes judaicos, como Iao (=Yahweh como Jeová), Adonai e querubins; outras deidades do Oriente Próximo, como Isthar, da Babilônia.

As fórmulas e rituais dos receituários de magia greco-egípcia parecem derivar de antigos cultos esquecidos ou deliberadamente abolidos que chegaram a Magna Graecia ainda no período pré-histórico via Tessália, local que reza a lenda ocorreu a batalha entre os Titãs e os Deuses Olímpicos. Um antigo comentário de Eurípedes fala dos feiticeiros da Tessália (goetes), chamados de “condutores de espíritos” (psychagogoi), cuja habilidade consiste em ser capaz de enviar espíritos para atacar pessoas e também mandá-los de volta aos túmulos. Os tessalianos herdaram a Magia dos Persas. Devemos nos lembrar que os persas invadiram a Babilônia e dominaram todo o território da Mesopotâmia, portanto eram herdeiros da magia dos caldeus, povo semita de origem árabe, que ocupou o território correspondente à Mesopotâmia meridional.

Com a desintegração do Império Romano do Ocidente no século V (em 476 d.C) a Nigromancia Greco-Romana, ganhou uma sobre-vida no Império Bizantino que foi a continuação do Império Romano na Antiguidade Tardia e Idade Média.

A Magia Astral ou Magia Hermética tem raízes neoplatônica e árabe sendo desenvolvida pelos magos renascentistas Giovanni Pico della Mirandola e Marsilio Ficino e tornou-se popular no norte da Europa, principalmente Inglaterra, por Heinrich Cornelius Agrippa. Esse estilo de Magia era fortemente influenciado pela corrente literária proveniente de Bizâncio. O domínio bizantino era efetivamente a parte oriental do Império Romano centrada em Bizâncio (Constantinopla, Istambul moderna) que se separou do Ocidente latino em 364 dC. Seus legados intelectuais ajudaram a estabelecer as bases para a Renascença italiana: foi a queda de Constantinopla, em 1453, que libertou uma maré de estudiosos da leitura grega para a Europa Ocidental, particularmente Veneza. Com eles veio muito do conhecimento mágico e hermético que os gregos, por sua vez, herdaram dos egípcios. A Chave de Salomão (original) foi um desses textos.

Invocações e Evocações: Vozes Entre os Véus

Desde as eras mais remotas da humanidade, o ser humano buscou estabelecer contato com o invisível. As fogueiras dos xamãs, os altares dos ma...