sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Santa Muerte


A ofensiva Mexicana contra a Santa Muerte, lançada pelo atual presidente Felipe Calderon, tornou-se agora global. Em uma entrevista com um site peruano católico (Aciprensa), o Presidente do Pontífice Conselho da Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi condenou o culto a santa esqueleto como “sinistro e infernal”. O prelado Italiano, que o observador do Vaticano John Allen recentemente chamou de “o mais interessante homem na Igreja” e que se candidatou ao Papado, convocou ambos – Igreja e sociedade para se mobilizarem contra a devoção a Santa Muerte.

“Todos precisam por um freio neste fenômeno, incluindo famílias, igrejas e a sociedade em sua totalidade.”
O Cardeal explicou que a devoção a Santa Muerte é uma “celebração da devastação e do Inferno”. O influente membro da Curia irá levar essa mensagem diretamente aos mexicanos durante sua visita no mês que vem, para conduzir seu projeto, a “Corte dos Gentios”, um programa do Vaticano designado para evangelizar não-crentes.

Tendo acompanhado de perto o desenvolvimento do culto a Santa Muerte dos dois lados (EUA e Fronteira do México), eu havia antecipado uma condenação pelo Vaticano, entretanto estou surpreso que tal condenação tenha vindo antes de qualquer manifestação dos bispos Americanos. Então, a questão é porque o Vaticano a condenou agora? De acordo com denúncias feitas anteriormente ao culto da santa esqueleto feito por bispos mexicanos, Cardeal Ravasi rejeitou a devoção a ela em termos teológicos. Da perspectiva cristã, Cristo derrotou seu último inimigo – a Morte – através da ressurreição. Portanto, a veneração e culto a figura da Morte a coloca no nível do Inimigo de Cristo, ou SATAN.

A maioria das declarações dos bispos mexicanos afirma que os devotos de Santa Muerte ingressam no Satanismo anonimamente. Oficiais da Igreja podem apontar inúmeros casos criminais onde assassinatos foram cometidos em nome do Esqueleto. Sacrifícios humanos, entre outros crimes foram cometidos no México e fronteira com EUA por um número menor de devotos que acreditam que serão abençoados somente com tais atos nefastos.

Além do campo teológico, a economia religiosa do México e América latina fornece uma excelente explicação não apenas para a condenação de “seitas satânicas” mas para outros competidores religiosos. Nas últimas três décadas, ambas convenções nacionais dos bispos e o Vaticano tem denunciado a “invasão das seitas” na América Latina. Claro, pentecostais, os mais vibrantes competidores, tem sido o primeiro objeto de condenação, mas os Mórmons, testemunhas de Jeová, grupos “New Age” e espiritualistas também tem recebido ofensivas. O Papa João Paulo II deu uma luz geral da situação em 1992 durante sua viagem a República Dominicana, quando acusou os Pentecostais de serem “lobos” rondando o rebanho católico.

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Então, porque a condenação da “Senhora Esqueleto” agora? Sem dúvidas devido a preocupação do Vaticano após a eleição do papa Francisco, primeiro Papa Latino Americano, e sua escolha do Cardinal Oscar Rodriguez Maradiaga para conduzir um novo conselho papal de oito cardeais. Papa Francisco é muito familiarizado com o primo argentino da Santa Murte, San La Muerte, que é o segundo dos três santos esqueletos mais cultuados na América. Mais coincidente ainda é que o mito de San La Muerte o remete em origens aos padres JESUÍTAS! Como sua prima Mexicana, San la Muerte é regular nas páginas criminais da Argentina e também foi considerado herético pela Igreja Local. Há uma grande chance do Cardeal Maradiaga estar ciente da Santa Mexicana ter sido condenada, pois em relatórios recentes foram citadas até mesmo a imolação de uma figura em uma fogueira organizada pela polícia local.

(…)

Em resumo, em termos teológicos, é uma competição religiosa, onde a nova influência Latino Americana no Vaticano e a Mídia sensacionalista resultaram na condenação do culto a Santa Muerte pelo Cardeal Ravasi, como uma condenação a representação da “Cultura da Morte” na América Latina.

Falxifer, O Ceifador da Mão Esquerda


Dentro da história da Humanidade, um dos acontecimentos mais antropomorfizados e cultuado foi a própria Morte. Tal culto se manifestou na história humana sob diversas máscaras diferentes, como o culto a Exu Caveira no Brasil, Baron Samedi no Haiti, Santíssima Murte no México e San La Muerte na Argentina.

Foi através do profundo estudo destes cultos ao mistério da humanidade que o Templum Falcis Cruentis codificou e desenvolveu o culto ao Falxifer, relacionando os aspectos magísticos e esotéricos deste culto com a demonologia e com o Satanismo, dando origem a corrente do Lord da Morte, Qayin Coronatus.


Assim como os espíritos de Exus, San La Muerte passou a ser visto como um “senhor dos caminhos”, uma entidade a quem se pede ajuda e proteção contra uma morte ruim. Os sincretismos realizados com cultos africanos, onde a presença do mistério da morte é constante e tem peso importante fizeram com que as oferendas concedidas a Exu Morte, Caveira, Calunga entre outros, também fossem utilizadas a San La Muerte. Essas oferendas normalmente consistem em incensos de patchuli, carne de porco mal passada e sem sal, bebidas alcoólicas e velas pretas e vermelhas, bem como charutos.

O culto mais associado à demonologia e foco do estudo do TFC em sua publicação, o livro “Liber Falxifer” foi o culto argentino a morte, correspondente a San La Muerte. Este culto diverge-se em seu cunho exotérico, aberto ao público e divulgado em meio a região e o culto esotérico, fechado apenas a aqueles iniciados na gnose da Morte. A associação deste culto argentino com a magia, quando aprofundado de modo exotérico, trazia à luz a identidade de San La Muerte como Azrael, anjo demiurgico responsável pelo desencarne. Já o aprofundamento esotérico da Mão Esquerda em relação a este culto, nos leva a um caminho muito mais sombrio e com muito mais profunda interpretação.

O caminho da Mão Esquerda atribui ao Ceifador a identidade de Caim/Qayin, primeiro ser a derramar sangue humano, conforme narra a mitologia judaica (não apenas bíblica, mas também as tradições orais e apócrifos). Estes textos apócrifos citam que Qayin não seria filho legítimo de Adão, mas fruto da relação entre Eva e a Serpente, uma manifestação da Chama Negra pela primeira vez presente no homem.

Segundo a tradição folclórica, Qayin, ao ter sua oferenda recusada por IHWH enquanto Abel, seu irmão era elogiado, decide matá-lo. E para isso ele utiliza seu instrumento de colheita, provavelmente feito de um osso curvo de animal, uma forma de foice primitiva. Desta forma, o espírito da Chama Negra presente em Qayin destrói Abel, o corpo de barro, transcendendo os limites do Causal. Como primeiro assassino, ao enterrar seu irmão, ele se torna também o primeiro coveiro e Senhor da Primeira Sepultura.

Ao enterrar seu irmão, os deuses ctônicos acausais aceitam sua oferenda sangrenta. Diz-se que no local onde Abel foi enterrado, uma roseira escarlate brotou, sendo essas as flores sagradas a Qayin e no culto a San La Muerte.

A linhagem de Qayin ben Samael (Qayin,filho de Samael) manteve-se ao longo das histórias, passando por Nahemah (A adorável) e por Tubal-Caim, ferreiro de armas de caça e guerra, sendo a base da humanidade. Essa fundamentação explicita que existe uma elite de seres humanos descendes do Falxifer, do portador da foice e grande iniciador – e todos nós portamos em nosso interior a Chama Negra, dependendo de nossa própria escolha despertá-la e portá-la orgulhosamente, ou reprimi-la e nos manter como os outros cordeiros de argila.

Ainda segundo esta tradição, Qayin, após ser morto por seus descendentes (que o confundiram com um animal em meio a mata), recebe a transição da carne para o Caos como um portal para o próprio Sitra Ahra, assentando assim em seu trono, e se tornando Baaltzelmoth (Senhor da Sombra da Morte).

Dentro deste cunho exotérico, San La Muerte/ Qayin Rex Mortiis é coroado não apenas como o senhor dos caminhos, mas também como um iniciador na senda da Mão Esquerda. Mais que um protetor, o portador do ensinamento e da iluminação provenientes da Morte e um detentor dos segredos da Alquimia de Saturno.

Qayin é a porta da Necrosophia e da Necromancia, ciências proibidas e pesadas até mesmo dentro dos aspectos da Mão Esquerda. O batismo de Falxifer vem da palavra latina Falcifer, cujo significado é “portador da foice”. O nome foi modificado de acordo com a gnose cainita, diferenciando assim o culto do TFC dos outros cultos exotéricos a San La Muerte. O “X” dentro desta gnose nos traz alusão a própria Marca de Caim, e também a seu título de guardião da cruz dos mortos, senhor da encruzilhada da Morte.


PROJETO ZARZAX -Dom Wilians, Lotan-


Introdução À Corrente 182

A Corrente 182 é uma manifestação esotérica e codificada da Sabedoria dos Mortos ou Necrosofia. Foi recebida e desenvolvida pelo Templum Falcis Cruentis e está sendo trabalhada por milhares de cultistas da Morte ao redor do mundo. O ensinamento do TFC está exposto em três principais obras, a saber o Liber Falxifer I ou Livro do Ceifador Canhoto, Liber Falxifer II ou Livro de Anamlaqayin e Liber Falxifer III ou Livro das 52 Estações das Cruzes de Nod. Tais obras são as abordagens atuais mais importantes sobre a Necrosofia e cada uma explora os segredos obscuros do Ceifador Canhoto e o arcano do seu fúnebre reino de forma profunda e devota.

 O nome Falxifer é uma ortografia esotérica da palavra “Falcifer’ em latim que significa Portador da Foice, um título que o TFC deu à Qayin como primeiro ceifador. Visto que a palavra original em latim está conectada ao anjo da morte Azrael e com toda a corrupção e deterioração da Sabedoria dos Mortos dentro do conceito cristão, o X então foi acrescentado para alterar e configurar o título de Qayin, sendo este a marca exotérica do Portador da Foice e de sua Linha de Sangue, além disso o X desempenha um significativo e amplo simbolismo na Corrente 182. 

No Liber Falxifer I, O Livro do Ceifador Canhoto, é apresentado o Caminho de Espinhos e Ossos da Iniciação Solitária no Culto da Morte, ele é o ponto de ingresso que concederá orientação e conhecimento necessários para a utilização dos outros livros. Já no LFII, O Livro de Anamlaqayin, é revelado o mistério da feitiçaria de Qalmana, a Mãe Velada geradora da Linha de Sangue e Senhora Falcífera dos espíritos obscuros que habitam os elementos mineral, vegetal e animal da natureza, e também é ensinado todo o fundamento gnóstico do culto necrosófico. E, por fim, o LFIII, O Livro das 52 Estações das Cruzes de Nod, apresenta o Caminho de Nod para aqueles que passaram pelos Espinhos e Ossos, ensinando as Linhas Vermelha (Sangue) e Negra (Nigromancia) de trabalhos mais avançados, assim como explanando os aspectos mais profundos de Qayin e Qalmana na Corrente 182. 182 é o número específico do Ciclo Qayinita (2x7x13 = 182 = 11 = 1-1 = 0). Esse número corresponde a ascensão de Qayin ao Trono da Morte de onde comanda a horda da Chama Negra. O Ciclo Qayinita leva o Espírio (7) para Sitra Achra (11) e, após, para o Vazio de Ain (0). Esse Ciclo Qayinita também está implícito no Caminho de Nod que é onde o cultista encontra o Rei da Morte. Essa passagem pelo Caminho de Espinhos e Ossos leva ao encontro com K-Ain (K=11-Ain, o Vazio). Sobre esse assunto falaremos especificamente mais adiante. 

Cultuadores da Morte

 Os Dois Tipos de Culto Na Corrente 182 há duas formas de cultismo do Señor la Muerte que é o Culto Aberto e o Culto Fechado. Embora ambos utilizem a Gnose Falcífera e possam trabalhar na Linha Vermelha e Negra (linhas do Sangue e da Necrosofia), um aborda aspectos diferentes do outro e suas práticas mágicas podem se concentrar em esferas distantes. 

1- O Culto Aberto Essa forma de cultismo do Señor la Muerte é especializada nas crenças de domínio público, é a fração exotérica da Gnose Necrosófica que foi dada ao povo. Os seus cultuadores posicionam seus altares em igrejas ou em suas casas onde todos possam ter acesso. Se trata de um culto de adoração, orações e pedidos de cura, proteção e iluminação com auxílio da Santa Morte, o Senhor da Boa Morte e etc. 

2- O Culto Fechado Se trata de um trabalho privado e esotérico dos iniciados diretamente na Corrente 182 ou no Culto do SLM (Señor la Muerte) espalhado pelo mundo. O altar é estritamente fechado e oculto dos olhares 2 dos mais leigos, sendo de pouco acesso mesmo entre fiéis do culto. Dentro de um culto esotérico da Morte somente o proprietário e pessoas iniciadas podem utilizar o altar. Quanto aos adornamentos consagrados, usa-se manter cobertos com véus negros e são preferencialmente confeccionados pelo próprio cultismo. Já o conhecimento obtido através da Gnose Necrosófica fica inteiramente restrito entre os que pertencem ao culto. 

Construindo Um Altar da Morte

 No culto aberto a estrutura do altar é básica, sua iluminação fica por conta de velas claras, usa-se véus brancos e a imagem do SLM muitas vezes está acompanhada de outras imagens de santos que tenham ligação com a morte e o sepulcro. É comum esse tipo de altar ter utensílios que também encontramos no gnosticismo, como cruzes e lanças, já a forma e disposição dos objetos de culto no altar não seguem um padrão, assim como também não existe um senso que estabelece que se deve construir sob uma tal medida e local, ficando a critério e inspiração do cultista.

 Ao contrário do culto aberto que não tem uma regra para a construção do altar, no culto fechado a estrutura segue um padrão único e mesmo havendo ligeiras modificações, sua construção final fica próxima desse padrão. A posição ideal do altar é no próprio chão ou o mais próximo possível para que esteja diretamente ligado ao reino subterrâneo do SLM e possa canalizar as correntes ctônicas que circulam na Terra. A imagem que mais se aproxima da aparência do SLM é de uma caveira coberta por uma capa de túnica branca, preta ou vermelha. Essas duas últimas cores correspondem as duas linhas de trabalho mágico da Corrente 182 e é comum estarem associadas a outros objetos no altar como velas das oferendas, os véus que cobrem as imagens e vestem o altar e tinturas consagradas para pintar os sigilos.

 A imagem do SLM se encontra na posição central sobre o altar pois atua como ponto ou foco que avizinha e canaliza a força mágica da Corrente 182. Usa-se ossos humanos ou de animais, madeira, cerâmica ou argila para criar a imagem. Uma outra opção é fazer uma tela, criar um quadro ou retrato de uma imagem, sendo necessário que o SLM tenha sua representação sobre o altar, então utilizar bandeiras ou uma parede pintada como fundo do altar não é o suficiente. De um modo particular, a imagem tem que ter um vínculo com a Morte e seu reino, por isso é melhor que seja confeccionada com ossos ou mesmo criada pelas mãos de um assassino para que suas virtudes sejam ativadas. Além do altar principal, é muitas vezes necessário criar altares extras. Estes são dispostos ao lado do altar principal e costumam ter três patamares onde o nível mais próximo do chão serve para ofertas e trabalhos (charutos, bebidas, incensos…), no segundo patamar fica os utensílios e paramentos do culto (sigilos, armas, ossos…), no mais alto fica a imagem do Señor la Muerte.

 A imagem SLM, como dito acima, é representado de três formas principais:

 1-Capuz Branco Essa imagem está relacionada a rituais de cura e proteção, é utilizada em práticas que harmonizam a saúde física, mental, emocional e equilibra o espiritual. Em seu altar são 3 oferecidos trabalhos para afastar doenças e desfazer ataques de energias desfavoráveis ao bem-estar geral dos cultistas. 

2-Capuz Vermelho SLM com o capuz vermelho tem forte influência sobre o amor e a vida sexual dos cultistas. Os trabalhos oferecidos em seu altar são de dominação amorosa, incitação de paixões e desejos sexuais, assim como conciliar casais ou destruir relacionamentos. 

3-Capuz Preto Com o capuz preto os atributos hediondos do SLM são atraídos para o altar. Com essa imagem é praticado ataques mágicos de morte e imprecação. A natureza sombria do poder mágico do SLM nessa imagem é popularmente conhecida como Magia Negra e tem o caráter da Morte como ceifadora. Os trabalhos oferecidos para essa terrível feição do SLM são veementes em destruir, por conta disso essa imagem é utilizada somente por cultistas mais experientes do culto fechado. 

Consagrando a Estátua 

O poder mágico do SLM se concentra na estátua através do contato do altar com a força ctônica que circula a terra. Antes de qualquer coisa, a estátua deve ser consagrada para ocorrer esse eflúvio de poder e materialização da essência do SLM, porém existe uma diferença na forma de consagração no Culto Aberto e no Fechado que deve ser previamente observada. Como o Culto Aberto é popular e muito influenciado pela Igreja e muitas vezes praticado junto com a adoração de santos da morte e sepulcro, os seus praticantes usam consagrar a estátua em locais onde haja realização de cerimônias comandadas por oficiantes cristãos e/ou devotos desses santos. A consagração da estátua do SLM é igual à de outras imagens de santos abençoadas para ser utilizadas em casa ou templo público, com a única diferença de que normalmente a consagração ocorre sete vezes, cada qual feita por um sacerdote diferente. 

Há consagrações feitas também por cultistas em que a estátua fica confinada por 7 dias em um oratório com velas e oferendas que buscam atrair a essência do SLM. Durante esse período vários devotos fazem cantos, orações e pedem que SLM preencha a imagem com suas virtudes. O Culto Aberto aposta na devoção dos cultistas para atrair poder para a estátua e quanto mais pessoas abençoando-a, mais acredita-se ancorar as virtudes de SLM, por tal que o trabalho todo é feito no vulgo.

 A consagração da estátua no Culto Fechado é vista como o primeiro passo ou iniciação na Corrente 182 e pacto direto com o Falxifer. O principal propósito é do ritual de consagração criar um elo mágico com o reino ctônico e a estátua, após isso, servir de mediadora entre a essência do Portador da Foice e o iniciado. O processo agrega vários elementos, batiza a estátua e cria uma nova aura ou casca astral que carregará os poderes que  o cultista precisa para trabalhar com seu altar, porém o elemento principal de toda operação é a devoção sincera à consagração. O ritual usado no Projeto Zarzax é o mesmo da consagração no Liber Falxifer I, Seção 19, salvo algumas adaptações que percebemos como necessárias no decorrer da evolução da nossa prática.

 Elementos do Ritual 

– Tecido negro do tamanho do altar

 – Giz branco

 – 3 velas de 7 dias (1 preta, 1 vermelha, 1 metade superior vermelha e metade inferior preta)

 – Cinzeiro

 – 3 Charutos

 – Braseiro com carvão

 – Terrina grande com tampa

 – 1 Litro de água mineral

 – 1 Litro de Vodka ou Rum – 1 Litro de água de rosa

 – 1 Copo pequeno de sangue (bode, galo ou porco)

 – 1 Litro de maceração de arruda

 – Mirra em pó

 – Folhas de oriza pulverizada

 – 7 Pimentas pretas ou vermelhas

 – Folhas de espinheiro-negro pulverizadas

 – 1 Colher pequena de enxofre

 – Terra de Cemitério 

– Tabaco 

– Caixa de Fósforo

 – 13 Cravos vermelhos

 – 7 Pedras de Ônix

 – 3 Moedas

 – Faca afiada

 – colher grande

 – Pergaminho 

– Estátua

 Uma segunda opção para quem não deseja usar uma estátua é consagrar uma pintura ou quadro de SLM ou alguma figura específica dos aspectos do Falxifer: 

-Qayin Dominor Tumulus, o Senhor do Cemitério segurando uma cruz negra ou cetro. – Qayin Messor, a morte ceifadora com uma foice

. – Qayin Ben Samael, o regente dos reinos ctônicos com um tridente.

 – Qayin Occisor, o Senhor da Morte em batalha com uma espada

. – Qayin Coronatus ou Rex Mortis, senhor entronado e coroado.

 – Qayin Baaltzelmoth, a morte em busca das almas montando em um corcel negro. 

Ritual de Consagração da Estátua 

Passo 1: Prepare de antemão – antes da meia-noite de Sábado – o tecido do altar defumando-o com incenso de mirra. Feito isso, use o giz branco para traçar o Triângulo de Manifestação no centro do tecido com um tamanho que comporte a estátua. No centro do Triângulo da Manifestação faça o Sigilo de Qayin Ben Samael. Esse tecido será usado durante todo processo de consagração e também posteriormente no altar. 

Passo 2: Na meia-noite de Sábado estenda o tecido no chão com a ponta superior do Triângulo de Manifestação voltada para o Norte. Coloque as velas de 7 dias em suas respectivas pontas do triângulo (vela preta e vermelha na ponta superior, vela vermelha na ponta direita, vela preta na ponta esquerda), como mostra a imagem: 

 Passo 3: Banhe levemente a estátua em um tanque com a maceração de arruda. Depois de seca, posicione-a no centro do triângulo voltada para você. No lado direito do triângulo coloque os 3 charutos, a caixa de fósforo e o cinzeiro. No lado esquerdo do triângulo posicione o braseiro com carvão. 

Passo 4: Inicie o Ritual de Consagração batendo três vezes no chão com a mão esquerda. Em seguida acenda as velas nos pontos do triângulo começando com a vermelha no ponto direito, depois a preta no ponto esquerdo e por última a preta/vermelha no ponto superior e proclame: “Eu convido os espíritos ctônicos da Morte e as Sombras dos Mortos a participar, testemunhar e abençoar o Ritual de Consagração que realizo nesta noite! É meu desejo, nesse momento de escuridão, invocar os poderes de meu Mestre Qayin e, através de Suas Benções, criar e unir todas os pontos que me ajudarão na canalização de Sua essência espiritual! Em nome do Senhor da Morte, é meu desejo e intenção carregar com poder e animar está estátua que personificará o Ceifeiro Canhoto e funcionará como um portal aberto para Seu reino obscuro e feitiçaria! Estejam agora ao meu lado espíritos que servem o Senhor da Segadeira Sangrenta, e concedam seus poderes sobre os elementos que, através de meus rituais sagrados, conectarão os feitiços ao espírito do Mestre Qayin! Salve Señor la Muerte, Qayin Mortifer!”

 Passo 5: Posicione a terrina abaixo do triângulo. Ela deve ser preenchida com água mineral, vodka ou rum, maceração de arruda, colher pequena de mirra em pó, água de rosas, as 7 pimentas, folhas de espinheiro negro pulverizadas, folhas de oriza pulverizadas, enxofre, tabaco, 13 cravos vermelhos, terra de cemitério, 7 pedras ônix e o copo de sangue. Em seguida acenda o carvão e jogue mirra em pó e diga: “Para Sua honra Senhor da Morte!” 

 Passo 6: Coloque o pergaminho na sua frente. Empunhe a faca e defume sua lâmina na fumaça do incenso e após use-a para ferir o dedo médio da mão esquerda e sangrá-lo. Use o mesmo dedo para traçar um X em sua testa e outro no pergaminho e recite: “Qayin, Eu (seu nome completo), que pertenço à sua própria Ardente Linhagem de Sangue, nesta noite juntei todos os elementos que, de acordo com a tradição, podem criar uma conexão à sua essência. Agora deixe seus temíveis poderes serem abertos e abençoarem este trabalho que executo em seu nome, com a luz obscura de suas chamas frias! Esteja ao meu lado, Grande Mestre, nesta noite quando eu selar o pacto ao invocar seus poderes e deixe-me, protegido por sua segadeira, tornar-me iluminado pela Luz Negra da Morte, e purifique-me com a escuridão do seu reino! Abençoe esta água, sagrada e batismal e todos os elementos nela misturados, e conceda-lhe o poder para que a estátua que ela batizará se torne receptiva para as suas emanações espirituais! Agora deixe o toque de seu sagrado espírito de Fogo carregá-la com a plenitude de seu poder acósmico! Salve Qayin Falxifer! Salve Qayin Coronatus! Salve Qayin Mortifer!” 

Passo 7: Queime o pergaminho na chama da vela metade preta e metade vermelha deixando as cinzas caírem dentro da terrina. Através do sangue e fogo, isso criará uma ligação direta do seu Self com a essência desses elementos ctônicos. Use a colher grande para mexer em movimentos anti-horários os elementos da terrina misturando-os enquanto chama por Qayin: “Veni Qayin Messor, Mortifer et Occisor! Veni, veni Letifer, Dominor Tumulus et Falxifer! Veni, veni Qayin Coronatus! Veni, veni Cain Rex Mortis! Veni Baaltzelmoth et Niantiel! Veni Qayin ben Samael!” Faça isso até sentir-se conectado com Qayin e o reino ctônico dos mortos.

 Passo 8: Sente-se na frente da estátua, acenda 1 charuto de cada vez e sopre 7 vezes a fumaça de cada um por toda a estátua. Deixe os charutos queimando no cinzeiro e recite: “Salve Qayin Messor, Mortifer Et Occisor! Salve, salve Letifer, Dominor Tumulus Et Falxifer! Salve, salve Qayin Coronatus! Salve, salve Qayin Rex Mortis!” Deixe o ritual permanecer no mesmo local até a noite de segunda-feira com as velas acesas (reacenda caso apaguem). Na noite de segunda-feira apague as velas e junto com a terrina leve até um cemitério. Leve contigo as 3 moedas e a caixa de fósforo. No cemitério encontre um túmulo isolado e ofereça o restante de material em nome de Qayin Dominor Tumulus. Abre o túmulo e derrame os elementos da terrina em X. Feche o túmulo e coloque as velas no topo da lápide da mesma forma que estiveram no triângulo e acenda todas elas e saúda o Mestre da Sombra da Morte. Saia do cemitério traçando um caminho diferente que você usou. Antes de deixar por completo o portal, tire as três moedas do bolso e jogue quando estiver no limiar como oferta ao espírito do morto e guardião do cemitério. Após isso, a estátua pode ser utilizada como foco da essência do Senhor da Morte no altar.

Atavismo


Biologicamente, o atavismo é o reaparecimento de traços ancestrais e aspectos remotos da natureza humana. A palavra vem do latim atavus e estritamente refere-se a algo secular e hereditário, mas é comumente utilizada no ocultismo para apontar tanto o ancestral, quanto aquilo que não pode ser rastreado na gene e nem na história da humanidade, ou seja, a algo além da nosss própria realidade. O atavismo se encontra abaixo do radar eclesiástico pois se trata de uma ‘manifestação ancestral’ que muitas vezes ressurge mediante experiências isoladas, não algo que constitui fenômenos que possam ser provocados dentro de uma religião ou culto organizados, sendo mais uma anomalia de probabilidade do que uma prática com resultado formal.

O atavismo é um vórtice profundo que faz emergir aspectos primordiais do subconsciente criando um núcleo de energia senciente que percorre desde as primeiras linhas da natureza até a sua explosão na superfície da consciência. Nesse sentido, o atavismo pode ser interpretado tanto como uma Forma do Pensamento, uma zona de poder de magnitude maior como são os Éteres, quanto a manifestação de deuses e forças esquecidas como os da narrativa de Lovecraft sobre os Old Ones.

A visão de Grant sobre o atavismo é baseada na paleantropologia e tem forte influência dos estudos de Gerald Massey. Para Grant, o ressurgimento atávico era um impulso primordial de reunião com a fonte do ser que ocorria mediante a reversão da vontade e do desejo como forma de voltar paras as regiões do subconsciente. O simbolismo da bruxaria tradicional, da feitiçaria e magia, para ele era uma manifestação atávica desse impulso. A lua ligada aos êxtases noturnos, a dança de costas das bruxas e cântigos feitos ao contrário, para Grant representavam uma forma de reunião com o passado remoto. Muitas dessas práticas ritualísticas estavam ligadas à uma oposição ao curso do sol, remetendo a ideia de que a escuridão era a própria fonte para a qual o impulso atávico levaria ao reencontro. Podemos ver que as ideias os estudos de Massey na Seção 6 do Gênesis Natural dão fundamento para a praxis tifoniana sobre o atavismo como impulso de retorno a fonte desconhecida e coloca essa fonte como a escuridão à qual a luz se opõem:

O platonista Damascius relata que os egípcios colocaram a escuridão como o princípio de todas as coisas, a escuridão desconhecida, incompreensível e inconcebível, da qual a luz foi emanada. A escuridão primitiva ainda não era a de Orfeu e dos platônicos obscurecidos pelo excesso de luz. Eles vieram mais tarde distinguir dois tipos de escuridão, uma abaixo e a outra além da luz. A noite foi o primeiro ‘revelador’ da luz das estrelas e, portanto, uma forma de mãe, a mãe ( Mut) que é chamada de “amante da escuridão e aquela que traz a luz”. Na última das Lendas de Izdubar, a mãe de todos, Ishtar é “Aquela que é a Escuridão; aquela que é a noite, a Mãe, que dá a luz ao Alvorecer, Ela é a Escuridão”. A mãe no México, Cihuacohuatl, é a serpente feminina que gerou a luz, e ela é a mãe de gêmeos claros e escuros. Na sabedoria de Salomão é uma fase primordial personificada pela escuridão: “Ela é mais bonita do que o sol e acima do arranjo das estrelas. Não pode ser comparada com a luz, pois é antes disso – análogo à frase de Plutarco- antecessora a luz”. O eon ou a idade ( heh) é o dia, a eternidade é a noite.
As primeiras condições de existência observadas pelos homens primitivos foram precisamente aquelas que podiam imediatamente ser contempladas, a noite e o dia seguinte em uma alternância incessante. O início era a impenetrável escuridão da noite primitiva. A exclamação universal da mitologia é: “Havia Escuridão. “No começo, tudo era escuridão e a escuridão era tudo”. O homem primitivo saiu da noite, sua mente impressionou de forma indelével, tingida exatamente como seu corpo em uma escuridão natural, porque a influência da noite era a primeira a ser pensada conscientemente, a primeira coisa que chamou sua atenção e puxou o seu olhar para cima quando ele ainda estava se movendo mentalmente a quatro patas.

A fórmula thelêmica de ALHIM pode ser utilizada para entender os fenômenos primitivos e escuros do atavismo pois permite um contato ou varredura dos aspectos do Aeon da Mãe no subconsciente do indivíduo, principalmente aqueles em conflitos com o surgimento de personalidades mais humanizadas criadas para se oporem ao lado primitivo, como no caso de Sofia e muitos arquétipos patriarcais de deuses. Em Magick Em Teoria e Prática, Crowley descrevendo a fórmula de ALHIM nos dá uma melhor ideia disso:

“Alhim (אלהים ‒ Elohim) é a palavra exotérica para “Deuses”. É o masculino plural de um substantivo feminino, mas sua natureza é principalmente feminina. É um perfeito hieróglifo do número 5. Os elementos estão todos representados, como um Tetragrammaton, mas não há desenvolvimento de um para outro. Eles estão, por assim dizer, misturados – indisciplinados, simpatizando uns com os outros apenas em virtude de sua energia selvagem e tempestuosa, mas elasticamente sem resistência.

Além de ser parte dessa “energia selvagem e tempestuosa” que Crowley descreve – e que pode ser facilmente ligado aos fenômenos primários de ressurgência-, o atavismo também se encontra por detrás de muitas de nossas criações modernas. Spare no Livro dos Prazeres dá um exemplo de ressurgência atávia de ave se manifestando através da criação da tecnologia de máquinas voadoras.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Rosacrucianismo


THELEMA E O ROSACRUCIANISMO

No início do século XX, a Lei da Thelema, sistema de filosofia e magia desenvolvido por Aleister Crowley (1875-1947) – To Mega Therion – teve grande influência filosófica na cultura esotérica, na cultura pop e também foi precursora do pensamento pós-moderno. No meio esotérico, a Lei da Thelema também influenciou outras ordens que não estavam ligadas diretamente a Crowley, ordens ligadas pelo fenômeno da O.T.O. (Ordo Templi Orientis), como a  FRA (Fraternitas Rosicruciana Antiqua) do Dr. Krumm-Heller (1876-1949) – Mestre Huiracocha – foco do nosso estudo.

Muitos argumentam que os ensinamentos do Dr. Krumm-Heller eram antagônicos com do Aleister Crowley, e que não possuíam nenhuma ligação esotérica, principalmente na questão da magia sexual. Mestre Huiracocha revela que uma das chaves da Magia Sexual é a não ejaculação durante o ato mágico. Em seu livro, Logos Mantram Magia, ele afirma: “declaro que, para mim, a vocalização, o uso dos mantras e a oração, mediante o despertar das secreções sexuais, é o único caminho de chegar a meta, e o resto é, infelizmente, uma perda de tempo”. Diante disso, Peter Koenig, classifica o ensinamento do Dr. Krumm-Heller como Gnosticismo Homeopático; e Gnosticismo Ascético do Samael Aun Weor – aonde evita-se ejaculações, mesmo com a sua esposa – e classifica de Gnosticismo Libertino do Crowley, na qual não há qualquer tipo de proibição quanto ao sexo.


Aparentemente, essas duas ordens não parecem ter nenhum ponto em comum. No entanto, Crowley recomenda o estudo da Fórmula da Rosa-Cruz. O que leva muitos a considerar uma alegoria somente à magia sexual. Como ele mesmo escreve: “não precisamos nos sentir surpresos se a Unidade de Sujeito e Objeto na Consciência que é Samadhi, a unificação da Noiva e do Carneiro que é o Céu (…), a união do Lingam e da Yoni, a Cruz e a Rosa”. No entanto, James Eshelman escreve, que isso, na verdade, seria o trabalho mágico da união dos opostos em sua Natureza, que muitos místicos cristãos descrevem como no aniquilamento de si mesmo no Amado.

O Dr. Krumm-Heller era membro da O.T.O., apesar que recebeu seu grau, em 1908, de Theodor Reuss, antes da reformulação da ordem por Crowley. Mas após 1930, o Dr. Krumm-Heller e Crowley se encontram pessoalmente em Berlim e trocam uma extensa correspondência. O Mestre Huiracocha não foi discípulo do Mestre Therion, na verdade, Crowley em uma correspondência, considera o Dr. Krumm-Heller um maçom igual a ele, na qual tinha muito a ver com a realização da “Grande Obra”, a divulgação da Lei da Thelema. E o Dr. Krumm-Heller escreve:

“Meus mestres foram Eliphas Levi e Papus, e graças a eles eu poderia decifrar os segredos da Magia. Dr. Hartman tem nos ensinado na Alemanha, a parte esotérica da Bíblia e da Igreja Cristã. Outro mestre que teve maior influência sobre mim foi o Mestre Therion, ele me deu a sua obra “Liber Aleph Vel CXI (O Livro da Sabedoria ou da Tolice)”.

E após esse encontro, o Dr. Krumm-Heller aceitou a Lei da Thelema, sendo que nos rituais de congregação da FRA (baseados no Liber CCXX e Liber XV) é dito: “A nossa divisa é Thelema”. Apesar das muitas influências, o Dr. Krumm-Heller não integrou nenhum curso ou prática operativa da Astrum Argentum (ordem esotérica desenvolvida por Aleister Crowley e George Cecil Jones), nem há algum estudo aprofundado da doutrina thelêmica no currículo da FRA.

Diante disso, surge uma questão, como a Lei da Thelema se adequou ao ensinamento das ordens não thelemitas, como a FRA – uma ordem de tradição rosacruciana.

THELEMA E CRISTO

Para os seguidores de Crowley, a Lei da Thelema possui o objetivo de descobrir sua Verdadeira Vontade, através da Conversação com o Sagrado Anjo Guardião e, após isso, dedicar sua vida inteira ao seu cumprimento. A necessidade do cumprimento da Vontade se demonstra através daquele que é considerado o único mandamento em Thelema: “Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei. O amor é a lei, amor sob vontade”. A Lei da Thelema prega uma ética individual, na qual nenhuma regra externa pode interferir, ou seja, o cultivo e satisfação plena das próprias vontades. Mas qual é a visão do Dr. Krumm-Heller acerca da Lei da Thelema.

Para entender essa visão, peguemos o artigo do Dr. Krumm-Heller: CHRISTO-ABRAXAS-BAPHOMET-THELEMA, na qual é dito que há quatro forças – Cristo, Abraxas, Bafomet e Thelema – são uma só coisa: LUZ.

“Eis aqui quatro palavras e no fundo uma só. Eis aqui quatro forças e, contudo, em essência uma força única: a  LUZ. (…) Disto temos uma prova magnífica. Uma das coisas que mais me impressionou em minha viagem ao Oriente, foi a mesquita HAGUIA SOPHIA de Constantinopla (…). Ao serem executados certos trabalhos, no referido templo, descobriram que o mosaico antigo era a representação de um grande quadro em cujo centro se distinguia o Cristo, em que se lia a seguinte legenda: “EU SOU A LUZ”.

Para o Dr. Krumm-Heller, o cristianismo adotou a ideia gnóstica de que o Cristo simboliza o Sol, conforme a Cristologia Gnóstica. E a Luz Solar atua de diversos modos. Ela é o Cristo, aspecto derivado do Pai, como parte do Sol Oculto. Para os gnóstico seria Abraxas. Outro aspecto desta Luz seria Baphomet, um aspecto mais grosseiro, porque é a força astral. E por fim, outro aspecto desta Luz é Thelema que significa a Vontade atuante na Luz. Todos essas diferentes variações da Luz são denominados pelos Gnósticos como Força Cristônica.

“(…) Outro aspecto desta força é  Thelema que significa a vontade atuante na Luz. O discípulo não deve esquecer que todos esses nomes e símbolos representam forças e nos Mistérios usavam-se símbolos para objetivar essas forças.

(…) Assim, pois a força de Abraxas manifesta-se de modo distinto da força de Baphomet; porém, todas derivadas da força espiritual da Luz, que os Gnósticos chamam FORÇA CRISTÔNICA. O discípulo precisa aprender o manejo de todas essas forças”.

CRISTOLOGIA GNÓSTICA

A Cristologia Gnóstica diz que o Sol visível é o mediador do Sol Central ou Sol Oculto. E o Crestos Cósmico é o meio astral que liga o homem ao Pai Solar. A força de Cristo pode manifesta-se de diferentes modos, seja como Baphomet, Abraxas ou Thelema, porém, todas derivadas da força espiritual da Luz do Sol Oculto. Podemos inferir, assim, que Thelema é Cristo. Ou que a Vontade do Crestos é Thelema.

Como símbolo, Cristo se liga aos deuses solares, Mitra, Abraxas e Dionísio. Mas também é um fato histórico, na pessoa de Jesus. O corpo de Jesus de Nazaré foi utilizado para que a entidade divina do Cristo, no momento do batismo, pudesse tomar a forma que lhe era necessária para, daí em diante, estar em comunhão com as almas humanas. Os acontecimentos na Palestina foram necessários para o nascimento da vida terrena do Cristo que aconteceu a partir do Mistério do Gólgota, esse acontecimento é denominado por Rudolf Steiner (1861-1925) de “Impulso do Cristo”.

Para os Gnósticos há uma diferença sensível entre os as personalidades de Buda, Zoroastro, Confucio, Maomé e a divindade do Cristo. Os primeiros foram certamente grandes filósofos e grandes Iniciados a quem lhes foi dada a incumbência de a pregar e instalar uma região em sua época. No entanto, Cristo tem uma personalidade diferente. Ele é Deus, é o Logos Solar ou a Essência Solar, a força do Espírito que está fundida no Sol. 

O Dr. Krumm-Heller diz que a Força Cristônica de Jesus, se propagou pelo mundo (Impulso do Cristo) e transformou seu ambiente, perpetuando-se até nossos dias. Para vida terrestre, o Sol possui grande importância para nosso planeta, por sua vez, o Sol físico depende de outro Sol espiritual. O Sol espiritual é algo prático e real, como também é o Logos. Cristo é a Luz do Sol física e espiritual.

O Dr. Krumm-Heller reúne na figura do Cristo uma força consciencial e uma substância material. Isso pode parecer estranho, mas nas próprias palavras do Dr. Krumm-Heller, a realidade é formada pelo trio de matéria, energia (força) e consciência. Deste modo, o Crestos Cósmico é uma substância, uma força, uma consciência atuante. Os gnósticos aprendem a manejar Crestos e sua força mediadora.

CRISTO EM SUBSTÂNCIA

O Dr. Krumm-Heller associa Cristo a outros conceitos, o que pode causar uma certa confusão, mas ele mesmo, didaticamente divide essa força em duas: o Cristo Real ou Substancial e o Cristo Ético ou Consciencial. Em sua oração ao Logos Solar, ele invoca essas forças da seguinte maneira:

“Tu, Logos Solar, emanação ígnea, Cristo em substância e em consciência, vida potente pela qual tudo avança, vem até mim e penetra-me, banha-me, transpassa-me e desperta em meu SER todas essas substâncias inefáveis que tanto são parte de ti como de mim mesmo.”

Primeiro, vamos entender o que seria o Cristo Substancial e como ele se relaciona com a Thelema. Como já dito sobre a Cristologia Gnóstica, Cristo é uma substância material, na qual possui Vontade. Essa Vontade atuante na Luz é chamada de Thelema, conceito muito similar da Telesma apresentado por Hermes Trimegisto na Tábua Esmeralda:

(1) É verdade, certo e muito verdadeiro:

(2) O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.

(3) E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.

(4) O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua alma;

(5) O Pai de toda Telesma (Thelema) do mundo está nisto.

(6) Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.

(7) Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.

(8) Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores.

(9) Desse modo obterás a glória do mundo.

(10) E se afastarão de ti todas as trevas.

(11) Nisso consiste o poder poderoso de todo poder: Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.

(12) Assim o mundo foi criado.

(13) Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.

(14) Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegisto, pois possuo as três partes da filosofia universal.

(15) O que eu disse da Obra Solar foi cumprido.

Recorremos ao Dr. Gerald Encausse (1865-1916) – Papus – que cita Eliphas Levi (1810-1875) para explicar que Telesma é um agente universal, um fluído e uma força que permeia a tudo e a todos. Uma Thelema substancial que pode ser manejada e modificada. Ele escreve:

“Esse agente universal das obras da natureza é o OD dos hebreus e de Reichembach, é a luz astral dos martinistas. A existência e o uso possível dessa força constituem o grande arcano da magia prática. (…) Essa substância é a que Hermes Trimegisto chama “o grande Telesma”. Quando ela produz seu esplendor, ela se chama luz. (…) O grande agente mágico se manifesta por quatro tipos de fenômenos: calor, luz, eletricidade e magnetismo. O grande agente mágico é a quarta emanação da vida princípio, da qual o Sol é a terceira forma. (…) Quando a luz universal forma os metais, ela é chamada de azoto, quando dá vida aos animais é chamada magnetismo”.

No texto, Levi traz outros nomes para essa substância: Luz Astral e Força Odica. Como ele, associamos essa força com outras diversas substâncias espirituais, cada uma com um nome cultural próprio: Prana para os hindu, Ki para os japoneses, Chi para os chineses ou, como denominam os espíritas, Fluído Vital.

As Doutrinas Vitalistas ensinam que a força vital permeia os seres orgânicos e dá vida a eles. Essa força vital interpenetra e nutre todas as coisas do universo. Antes de ser absorvida pelos seres orgânicos é chamada de Energia Cósmica ou, nas palavras de Hermes, Telesma. Esse agente universal, como é dito no texto, pode ser manipulado. Como dito por Levi, o Magnetismo Animal é a faculdade de transformar o fluído cósmico em fluído magnético ou fluído vital. É também chamado de Mesmerismo, por conta de Franz Anton Mesmer (1734-1815) um dos primeiros a teorizar sobre o estudo do magnetismo. Nesse ponto, Telesma acaba por se tornar o fluído universal.

O Dr. Krumm-Heller também fala do Vitalismo. Ele diz que o Prana é uma força modeladora do Universo, que brota do Sol. Escreve que: “Prana é movimento, vibração, sensação de peso, luz, calor, eletricidade, magnetismo etc., especialmente em sua forma primordial. Prana é a vida do éter (…) Sem Prana não poderia haver nada vivo na Natureza”. Ao que parece, a explicação sobre o Prana é muito similar ao que Eliphas Levi fala sobre a Telesma e, por conseguinte, o Crestos Solar.

Então, Thelema na visão rosacruciana, do Dr. Krumm-Heller, inicialmente, é afastado o princípio filosófico da Thelema descrito por Crowley e se aproxima de uma explicação realista da formação do universo e da vida, como uma força que pode ser manipulada magicamente.

CRISTO EM CONSCIÊNCIA

Seguindo a linha de pensamento, na qual o Dr. Krumm-Heller entendia Cristo e Thelema como forças impessoais, inferimos, então que a Força Consciencial Cristônica também é impessoal. Podemos entender melhor esse conceito Vontade Universal lendo um trecho da obra “Uma Aventura entre os Rosacruzes”, de Franz Hartmann:

“- Tudo não passa de efeito deste poder primordial, único, chamado Vontade, pelo qual o mundo veio à existência – disse o Imperator dos Rosa-cruzes de Ouro. – Ela pode manifestar-se de muitos modos e nos sete distintos planos de atuação como força mecânica ou como influxo espiritual; porém, é simplesmente o mesmo poder divino e único da Vontade, movida pelo harmonioso conjunto instrumental do organismo humano, dirigido pela inteligência.

– Então, disse eu – intentar fortalecer a Vontade deve ser o fator mais imediato e necessário?

– Não – respondeu Imperator. – A Vontade é uma força universal que sustém entre si os mundos no espaço e causa as revoluções planetárias; existe em toda parte e a tudo penetra, não havendo necessidade de fortificá-la, porque ela é suficientemente poderosa para conseguir o que deseja. Vós não sois mais do que um instrumento, por meio do qual esta força universal pode agir e manifestar-se; podeis experimentar a plenitude do seu poderio se não tratardes de oferecer-lhe resistência. Porém, se imaginais possuir uma vontade vossa, na qual a ação difere da Vontade Universal, na realidade, não fazeis outra coisa do que subtrair dela um fragmento insignificante, opondo-a à grande força original. Se vós imaginais de posse de um vontade exclusiva e própria, no mesmo instante entrais em conflito com a potência energética do universo e sendo, como sois, uma partícula insignificante dele, sereis aniquilado, causando vossa própria ruína. Vossa vontade não pode usar o seu poderio senão quando se harmoniza com a vontade do Espirito Universal; ela será tanto mais forte, quanto menos a empregardes em benefício próprio e por isso deveis permanecer sempre obediente à lei. (…) Porém é lícito submeter a razão e a inteligência ao serviço e guia da força voluntária universal, já existente na Natureza para conduzi-la; assim podemos acelerar o ritmo da vida inconsciente de mais lento movimento, sem nosso auxílio ou intervenção”.

A Vontade apresentada por Hartmann não é a Vontade individual, apesar de atuar no individuo, é um princípio universal, análogo a Divina Providência. Como expresso por Paulo de Tarso: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20). Desta forma, podemos entender a Vontade como uma Força Impessoal, como é invocada na Missa Gnóstica do Mestre Huiracocha: “Vem, Santo Querer, Divina Energia Volitiva. Transforma a minha vontade fazendo-a una com a Tua”.

Assim, para o Dr. Krumm-Heller, Thelema é a Vontade Divina Universal, na qual atua sobre toda existência. Como escrito por ele mesmo, Thelema é a Vontade atuante na Luz. E a Luz é o Cristo. A Vontade provém do Crestos Cósmico, a fonte universal que todos podem beber. A diferença entre Crowley e o Dr. Krumm-Heller é a origem dessa Vontade.

Para Crowley, a Thelema brota no próprio homem, “Todo homem e toda mulher é uma estrela” (AL I:3). Frater Achad escreveu o ensaio Passando do Velho ao Novo Aeon , no qual explica que a partir do momento em que o homem passar a se identificar com o Sol, ele passará a ser um Deus, pois será a fonte de luz:

“Você sabe o quão profundamente nós sempre ficamos impressionados com as ideias de Sol nascente e Sol poente, e como os nossos antigos irmãos, vendo o Sol desaparecer à noite e nascendo novamente na manhã seguinte, basearam as suas ideias religiosas neste conceito de um Deus Moribundo e Ressuscitado. Essa á a ideia central da religião do Velho Æon (…). O Sol não morre, como acreditavam os antigos; ele está sempre brilhando, sempre irradiando Luz e Vida. Pare por um momento e tenha uma clara concepção deste Sol, como Ele está brilhando já cedo pela manhã, brilhando ao meio-dia, brilhando à tarde e brilhando à noite. Você percebeu esta ideia claramente em sua mente? Você acabou de sair do Velho Æon e entrar no Novo.

Agora consideremos o que aconteceu. O que você fez para obter essa imagem mental do Sol sempre brilhante? Você se identificou com o Sol. Você saiu da consciência deste planeta; e por um momento você teve que se considerar um Ser Solar”.

No novo Aeon de Hórus, a era thelêmica, da criança conquistadora, todo homem e toda mulher passam a ser deuses, co-criadores do Universo.

THELEMA DO AEON DE HÓRUS OU DO LOGOS SOLAR

Primeiramente, devemos entender que a maioria das escolas esotéricas buscam fortalecer a Força de Vontade de seus membros. Mas a Vontade da Thelema não é o mesmo que Força de Vontade. Essa é uma característica psicológica do homem, não se compara a Thelema, que transcendente o mundo humano.

Percebemos que o Dr. Krumm-Heller também individualizou a Vontade Divina como ensinado pela Lei da Thelema. A busca por Cristo não é o mesmo que pregado nas Igrejas. A Fórmula da Thelema para o Aeon de Hórus é “Faze o que tu queres, há de ser o todo da Lei” (AL I:41) e foi modificada por Dr. Krumm-Heller para “Haz lo que quieras. Esta es la única Ley; pero piensa que de todos tus actos tienes que dar cuenta. Fíjate en esto, que lo que emana de esta Ley, arranca de estas 5 fuentes; ¡Luz! ¡Amor! ¡Vida! ¡Libertad! ¡Triunfo!” (tradução nossa: Faze o que tu queres. Está é a única Lei; porém pensa que tereis de dar conta de todos os seus atos. Atenta nisto, que a emanação desta lei brota destas cinco fontes: Luz, Amor, Vida, Liberdade e Triunfo!). Ou seja, mesmo que a fonte da Vontade seja externa ao homem, na figura do Crestos Solar, seu cumprimento depende de como o homem expressa isso, como é dito na advertência kármica do Mestre Huiracocha, tereis de dar conta do seus atos.

Por suas raízes no Teosofismo, vemos que a identificação com a divindade se faz no Eu Superior. A Thelema não brotaria nos corpos inferiores, pois como é dito por Crowley: “’fazer sua Vontade’ não é o mesmo que ‘fazer o que se deseja’. A Lei é a apoteose da liberdade; mas é também a mais estrita das injunções” (Liber II). Vivendo a Lei da Thelema, o Eu Superior atuaria sobre os corpos inferiores. Rudolf Steiner explica que o corpo astral, assim espiritualizado por um trabalho consciente do homem, será transformado naquilo que ele denominou de Personalidade Espiritual. Essa atuação será do Manas sobre o Corpo Astral, posteriormente, o Espírito Vital (budhi) será o Corpo Vital transformado e, por fim, o Homem Espirito (atmã), o Corpo Físico transformado. Vemos nisso grande proximidade  do conceito de Personalidade Espiritual com a Verdadeira Vontade.

Cristo é a Luz do Logos Solar e essa Luz modifica nosso Corpo Astral, tornando um Corpo Astral Cristificado. O Crestos Mediador. Com esse veículo chegamos ao Pai Solar. Crowley alude sobre isso:

“Tu deves (1) Descobrir qual é a tua Vontade. (2) Fazer aquela Vontade (a) de modo unidirecional, (b) desapego, (c) paz. Então, e somente então, tu estarás em harmonia com o Movimento das Coisas, tua vontade será parte de, e portanto igual, à Vontade de Deus. E já que a vontade é nada mais que o aspecto dinâmico do ser, e já que dois seres diferentes não podem possuir vontades idênticas; então, se a tua vontade for a vontade de Deus, Tu és Aquele”.

Concluímos, que a consciência Cristônica do Logos Solar não é a ética moralista pregada nas igrejas. Mas também não surge como revela Crowley. Seria como a experiência mística de Pentecostes ou de Paulo de Tarso. Nesse último, o próprio Cristo em espírito encontrou com Paulo nas portas de Damasco, ou seja, Cristo veio até ele. Nesse estado de União Mística com a Vontade Divina, muitos anos transcorreram até que Paulo se harmoniza completamente com a Divindade. Se Cristo pode expressar-se individualmente, então, há uma Verdadeira Vontade para cada ser humano.

ADENDO: AMOR E ÊXTASE

Os atos de Thelema são atos de amor. Crowley explica que a Vontade é a Lei e a natureza daquela Vontade é o Amor. Como dito no axioma: “Amor é a lei, amor sob vontade”. Mas este Amor é como se fosse um subproduto daquela Vontade; ela não contradiz nem substitui aquela Vontade (Liber II).

Explica São Tomás de Aquino, na Summa Theologiae, que o Amor produz o êxtase. Ora, sendo todo amor semelhante ao amor divino, resulta que todo amor causa o êxtase que faz meditar no ser amado e faz abstrair dos outros, levado para fora de si mesmo. Aqui lembramos do conceito Rosa-Cruz de Crowley, a união dos opostos, dos amantes em um amor orgástico. No livro Logos Mantram Magia, o Dr. Krum-Heller escreve: “Deus se manifesta sempre como Deus, mediante a linguagem e a escrita. O que no estado físico é o som ou tom, é o Êxtase no plano espiritual. O mais sublime é compreensão extática, como resultado ou síntese dela, é a ascensão à Deus” (tradução nossa).

No entanto, esse amor para o Dr. Krumm-Heller é o Amor Consciente. Como advertido por ele (“tereis de dar conta do seus atos”). Assim, como há uma busca para descobrir a Vontade Divina, há uma busca para descobrir o ritmo perfeito do Amor em cada ser. Finalizamos com um trecho do livro Biorritmo:

“Amem uns aos outros. Essa é a Lei Suprema, a Lei que tudo rege, que a tudo harmoniza (…). Mas é preciso não perder o nosso lema: Faz o que tu queres. Ou seja, faça tua vontade. Cumpra como entendas. Procede como quiser. Mas… sempre dentro desse grandioso mandamento do Amor. Nosso próprio Mestre, nosso Ego Interno, quer AMAR constantemente. Constantemente quer harmonia. Luta a todo o momento para encontrar sua nota (…). Até que um dia, uma delas, a mais preciosa, a única, vibrará em toda a sua extensão o ritmo do Amor” (tradução nossa).

Fonte: Texto de Acauã Alves Galvão.

sábado, 8 de dezembro de 2018

Culto Vulvo-ctônico de Nahemoth


A Terra Negra

Nehemoth não é apenas o antipolo elementar de Malkuth, mas a própria natureza em seu caráter selvagem, obscuro e remoto. Na cabala é a força motriz dessa concha que suscita ferozmente a sobrevivência do instinto animal e que destrói tudo aquilo que não consegue adaptar-se a sua violenta mudança evolutiva. É evidente que sem o abalo destrutivo de Nahemoth, o mundo/malkut seria apenas um éden sedentarizado, com seres despreocupados em evoluir entre si e conquistar além. Foi o vórtice bestial dessa qlipha agitando a alma do homem que fizera uns despertarem como predadores em busca de conhecimento e poder enquanto outros permaneciam como animais acomodados em seus sítios esperando a hora de serem abatidos pela morte.

Ao longo de todo vasto alcance da história da humanidade, vemos que a sociedade sempre estivera invariavelmente influenciada ora por Nehemoth, lidando com a sobrevivência em um nível primitivo, ora por Malkuth preocupada com o progresso científico e material. Não raramente, os grandes conflitos aconteceram -e continuam acontecendo- por conta do desejo de um lado evoluir em total detrimento do outro, e esse atrito inevitavelmente levará a sociedade à um colapso. É notável que a própria mente ainda traz vestígios, nem poucos e nem brandos, de um passado com padrões bárbaros, agressivos e sombrios para o modelo de vida do homem moderno, por isso que a tentativa de cada vez mais se socializar em normas que excluem as expressões primevas da natureza tem feito o homem criar antagonismos irreconciliáveis entre o que ele é de verdade e o que ilusoriamente tem tentado ser.

Ao estudar a influência de Nahemoth sobre o homem, vemos que o conjunto de elementos primitivos que essa concha comanda – avaliado não só no homem pré-civilizado mas de todas as épocas, inclusive o moderno – é o principal meio de nexo com o submundo, só que a contar da antiguidade até os tempos atuais, muitos têm lutado em vão para destruir esse liame da alma com essa qlipha,  inventando algum paraíso celestial que os abrigue longe das zonas subterrâneas mesmo sabendo que inevitavelmente tudo que vive sobre Malkut um dia voltará ao útero da Terra Negra. Infelizmente o medo do homem em escavar as próprias raízes ou rastreá-las nas baixas regiões de onde elas surgem atingiu seu acme nessa idade moderna, mas nem sempre fora assim. Os gregos, por exemplo, sabendo da importância em conhecer a furna que engolirá toda força orgânica da terra e à qual a alma está fortemente anexada, cunharam um termo genérico para categorizar o submundo, as formas espirituais atreladas a ele e o lado sombrio e primevo da natureza humana que corresponde-o. Todos os deuses cromáticos do sangue e geração, as bestas feéricos, espíritos noctâmbulos e demônios, foram relacionados de alguma forma ao solo, a profundas grutas, fendas terrenas, crateras e principalmente cavernas, e portanto chamados de ‘ctônicos’ (do grego θονιος/khthonios). Esse termo também era usado para definir o culto a Nahemoth e a estrutura básica do ser humano que está sempre em ciclos instintivos. Toda revolução que a humanidade sofre, seja psicológica, emocional ou sexual, é fortemente alimentada pelos elementos ctônicos e ocorre afim de garantir a sobrevivência da sua natureza bestial. Foi através do impulso desses ciclos durante a era pré-civilizada ou selvagem que as adorações de deuses subterrâneos e aquáticos – representados principalmente pela serpente e a mulher – foram desenvolvidas como forma do homem estudar a própria origem, estirpe animal e caminho, fato que fez a imagem da serpente e a mulher preambular a religião como um culto sem nome e seus mistérios foram posteriormente incluídos em vários mitos não só cosmogônicos como também apocalípticos.

Nessa idade moderna, é mister a maioria acreditar que tudo tivera um deus celestial como fonte criadora e que voltarão a esse lar etéreo, mas os povos antigos sabiam que a gênese do ser humano é outra extremamente contrária. As tribos seculares dos Angamis que vivem no extremo norte da Índia afirmam, baseados em suas tradições, que seus ancestrais surgiram de dentro de cavernas; os nativos das Ilhas Trobriand ao longo da costa da Nova Guiné acreditam que o homem veio de uma fenda subterrânea chamada de Obukula e se espalhou formando as várias tribos que vivem no arquipélago, e todo ano as tribos se reúnem para fazerem o intercâmbio Kula que é uma troca de conhecimento intertribal onde um índio assimila a crença e costume de um outro de tribo diferente; as tribos Ianomâmis aqui do Brasil que vivem a quase um milênio na Serra Parima na fronteira com a Venezuela, também dizem que muitos dos seus antepassados vivem ainda no submundo e, por fim, os Incas que em seus mitos relatam que seus deuses os criaram dentro de profundas grutas no extremo leste de Cuzco, no Peru.

A Víbora e a Mulher

Tem um mito grego da criação baseado na união de Ophion, a Serpente do Grande Mar caótico, com Eurynome, a Deusa Primordial. Nada existia além do Caos representado pelo Grande Mar revolto onde Eurynome surge nua. A deusa utiliza o vento do Norte para criar calmaria e equilíbrio no Grande Mar e assim poder se ‘apoiar’. A Serpe foi tomada de desejo ao vê-la e enlaçou-a. A cópula da Deusa e a Serpe gerou o cosmos que Eurynomes, transformando-se em uma grande ave, carregou em seu ventre como Ovo Universal até a hora do engendro. Ophion afim de conhecer a nova criação encerrou o ovo cósmico em suas voltas até quebrá-lo e liberar a criação. Maravilhados com o mundo, o casal foi viver no monte conhecido mais tarde como Olimpo, mas admirando-se como pai de tudo, Ophion deixou com que a soberba fizesse-o esquecer da importância de Eurynome no processo criativo, o que enraiveceu a deusa caótica que esmagou a Serpe com o calcanhar e abriu as primeiras fendas/portais na Terra Negra lançando seu consorte para o submundo, onde a Serpente habita com a promessa de voltar e destruir toda a criação. Eurynome foi a mais importante divindade dos Pélago, um povo que viveu na região da Grécia em tempos pré-históricos.

É de consenso entre os historiadores e arqueólogos que tantos outros mitos envolvendo a mulher e a víbora tenham sido (re)criados em diferentes sociedades com a mesma finalidade de estabelecer o culto vulvo-ctônica ancestral. Esse culto iniciou com a utilização do ocre (uma forma de argila vermelha) utilizado para representar o panteão ctônico, assim como a vida que a terra produz/alimenta e principalmente a morte – fato que levou o sepultamento a ser uma das primeiras cerimônias ritualísticas da humanidade. O impulso dessas sociedades rumo a crença foi, sobretudo, de uma profunda veneração á imagem da mulher porque, como da Terra brotava ‘misteriosamente’ a vida, dela nascia os filhos. Este culto também está intimamente ligado ao sangue, tanto menstrual quanto derramado na geração, e também á fertilidade. Podemos citar como exemplos seculares as adorações a deusa titânica Réia, esposa de Kronos, cujo nome é uma referência ao fluxo da terra fértil, e que foi várias vezes representada como uma deusa escarlate; a Porta (vulva) de Ishtar com desenhos de serpentes e dragões construída ao norte da entrada da antiga cidade da Babilônia; adamah ou barro vermelho de onde foi criado אדם, o primeiro homem das escrituras hebraicas, e muito mais. Uma vez que o homem contemplou profundamente a Terra, a sua experiência e conhecimento de si mesmo -vida e morte- expandiram, pois no submundo está suas raízes elementais e essência. A cripta, as úmidas cavernas e grutas continuam sendo lugares sagrados de grandes mistérios espirituais porque ativam a obscura memória da natureza primitiva do homem, por isso o culto vulvo-ctônico sempre esteve além dos graus puramente elementares que compõem a busca espiritual da maioria das pessoas. No reino da escuridão de Nahemoth está a fonte magicka da Deusa Primordial e é nele que conhecemos o grande mistério da Vida/Morte e descemos ao núcleo incandescente de Luz Negra que muitas tradições chamam de Sol da Meia-Noite, cuja chispa arde intimamente no ser humano como dádiva espiritual desde sua criação á partir do solo.

A víbora mesmo que apresente um aspecto fálico, dominador e saliente do homem, culturalmente sempre foi manipulada pelas deusas subterrâneas e mulheres que trabalhavam em nome das deidades femininas. Embora o animal implique sempre algum mistério na capacidade de viver tanto na água quanto na terra, foi por escavar os cascalhos do solo e se alojar nas mais secretas cavidades da terra que acabou assumindo maior importância no culto vulvo-ctônico. A fertilidade da terra depende que a mesma seja lavrada, isso fez da cobra o símbolo fálico da criação por ela escavar e infiltrar-se na terra. Analogamente os povos antigos entenderam que a mulher precisava manipular a virilidade do homem até como forma de manter sua produtividade como geradora de filhos – o ato mais sagrado do período matriarcal junto com os ritos de sepultamento. Por isso as atividades agrícolas  ainda hoje carregam inúmeras conotações relacionadas ao sexo/procriação onde vigora a imagem da víbora e da mulher.

O Triangulo da Manifestação

A vulva foi a figura fundamental nos primeiros cultos do homem e tivera larga representação simbólica. A vesica piscis, o oval com duas pontas, a taça e o triângulo – sendo esse último reconhecido como o principal símbolo de Nehemoth- são algumas das representações mais comuns da vulva. No Egito, o triângulo era a letra na escrita hieroglífica para ‘mulher’ e também uma representação de Abtu, o peixe que acompanha a barca de Rá avisando quando está vindo a tormenta e que devorou o falo de Osíris quando esse foi lançado nas águas. Também encontramos o triângulo na letra grega delta como forma representativa da porta do templo sagrado da deusa terrena Deméter e nos yantras das deidades femininas do tantra. O Triângulo é a soma das três faces de Hekate, a guardiã do submundo, e corresponde as fases da lua. A fase nova/crescente é a face Virgem criadora, a fase de plenilúnio é a face Mãe nutridora e a fase minguante é a face Anciã destruidora, sendo que a mulher no período de menstruação manifesta essas três pontas juntas no derrame do sangue. A lua, ao contrário do sol que morre e renasce todos os dias, uma vez por mês realiza seu ciclo completo de morte e renascimento, mas diferente do sol que ressuscita das trevas, a lua renasce do sangue, e esse é o grande arcano do triângulo que tem manifestado as forças sinistras de Nehemoth no mundo. O sangue uterino forma o Tyet de Isis, o símbolo da vulva que antecede o Ankh nos cultos egípcios e que é conhecido como Sangue de Isis.

As deusas ligadas ao mistério do sangue, como Hekate, Isis e Babalon convincentemente mostram que a mulher é a encarnação da ilegalidade que lutará por liberdade onde quer que tenha prisão.  Essas deusas são os arquétipos da mulher como pedra angular da transgressão. Como Babalon -a puta escarlate- a mulher está fora do patriarcado pois não tem um marido a quem “obedecer” e o sexo para ela é mais do que um ato de satisfação da demanda política de procriar trabalhadores. Ela também é a ilegalidade nas religiões patriarcais manifestando o pecado e a luxúria. A mulher, sobretudo, é quem finalmente levará a sociedade á danação e por isso é retratada em vários mitos como a destruidora da humanidade – a taça de Babalon, i.e, a mulher, é a própria terra aberta para receber o sangue de todas as criaturas e quando o seu útero se fechar engolindo a última gota, o Ankh de Osiris será substituido novamente pelo Tyet da morte, a vulva escarlate de Isis.


Atribuições Cabalísticas


Nome: Nahemoth/Lilith

Regente: Naamah

Alquimia: Calcinatio

Metal: Chumbo

Mundo: Assiah

Chakra: Muladhara

Túnel: Thantifaxath

Canto: Marag Ama Lilith Rimok Samalo Naamah

A Qlipha Nahemoth é governada por uma demonesa conhecida como Naamah. Ela é a irmã de Lilith, possuindo muitos dos aspectos dessa Rainha Vampira. Naamah é contatada em rituais de influência material e tem controle sobre as energias instintivas do chakra Muladhara. Na alquimia a demonesa comanda a serpente Naas ou os metais do submundo. Ela está oculta como a serpente/dragão no interior do homem e seu despertar é violento e caótico. Essa qliphá manifesta os aspectos selvagens do mundo antes da manifestação da luz, portanto é o alicerce da feitiçaria. Na cabala, a demonsesa Naamah é um  dos quatro Anjos da Prostituição, isto é, uma das quatro regentes dos Qliphoth. Assim como Malkuth é o resultado de todas as Sephiroth, em Nahemoth se encontra um pouco de cada concha.

(Fonte: Naga Magick: The Wisdom of the Serpent Lords-Dennis Sargent)

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