quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Como o ego seleciona (Annie Besant)


Características individuais desenvolvidas numa vida podem levar seu dono, em outra vida, para uma nação que lhe ofereça facilidades peculiares para exercê-las. 
Assim, um homem que desenvolveu uma mente forte, prática, apta para o comércio, nascido, digamos, na casta Vaishya – a dos comerciantes – da Índia, pode ser levado para os Estados Unidos e ali tornar-se um Rockefeller. 
Em sua nova personalidade ele verá que uma grande fortuna só é tolerável quando usada para propósitos nacionais, e levará para a América o ideal Vaishya, que diz que um homem, reunindo uma grande fortuna, torna-se como que o administrador de um lar nacional e deve distribuir sensatamente, para benefício geral, os estoques que acumulou como posses pessoais. Assim, o velho ideal será plantado no meio de uma nova civilização e irá espalhar-se para o exterior, através de outros povos. 

A Revolução Francesa (Annie Besant)


O egoísmo e a indiferença coletiva dos abastados para com os pobres e os miseráveis, deixando que se corrompam em antros superlotados, num ambiente estimulador do mal, traz para eles próprios perturbações sociais, intranquilidade trabalhista, combinações ameaçadoras. Levado ao excesso na França, durante os reinados de Luís XIV e de Luís XV, esse mesmo egoísmo e essa mesma indiferença foram as causas diretas da Revolução Francesa e da destruição da Coroa e da nobreza. 
Ensinados pela Teosofia a ver a ação da lei kármica na história das nações, bem como na dos indiví duos, devemos ser forças para promover o bem-estar e a prosperidade nacional. A mais forte causa kármica é o poder do pensamento, e isso tanto é verdade para as nações como para os indivíduos. 

Um nobre ideal nacional (Annie Besant)


Manter um nobre ideal nacional é pôr em movimento a mais poderosa força kármica, porque para esse ideal estão sempre fluindo os pensamentos de muitos e ele se torna mais forte por esse influxo diário. A opinião pública modifica constantemente o teor da sua influência e reproduz o que é constantemente exibido para a sua admiração. A força do pensamento é acumulada, até que se torna irresistível e ergue toda a nação até um nível superior. 
Os conhecedores do karma podem trabalhar deliberada e conscienciosamente, seguros do seu terreno, seguros dos seus métodos, confiando na Boa Lei. Assim, eles se tornam cooperadores conscientes da Vontade Divina que trabalha pela evolução, e ficam repletos de profunda paz e de alegria infinita. 

O karma da Inglaterra (Annie Besant)


Uma nação colonizadora, como a Inglaterra, muitas vezes se torna culpada de muita crueldade ao se apoderar de terras pertencentes a tribos selvagens, que os colonizadores expulsam. Milhares morrem prematuramente durante a conquista e subsequente instalação. Esses povos têm uma reivindicação kármica a fazer contra a Inglaterra, coletivamente, bem como contra as dívidas dos atuais ocupantes de seu território. Essas pessoas são levadas para a Inglaterra, nascem em seus bairros miseráveis, formando uma população de criminosos congênitos, gente sem moral e de mentalidade fraca. 
O que lhes é devido pela consumação sumária de suas existências anteriores deveria ser pago com educação e treinamento, acelerando, assim, sua evolução, e retirando-os do nível de natural selvageria em que se encontram. 

Um par de tríades (Annie Besant)


Assim, temos três fatores no espírito para a criação do karma e três qualidades correlativas na matéria. Precisamos estudá-los a fim de fazer do nosso karma o que queremos que ele seja. Podemos estudálos em qualquer ordem, mas, por diversas razões, é conveniente tratar do fator cognitivo em primeiro lugar, porque nele está o poder de conhecimento e de escolha. Podemos mudar nossos desejos usando o pensamento; não podemos mudar nosso pensamento, embora possamos colori-lo, usando o desejo; assim, em última análise, a ação é posta em movimento pelo pensamento. 
No mais recuado estágio de primitivismo, tal como o da criança recém-nascida, a ação é causada pela atração e pela repulsão. Porém, quase imediatamente, a memória interfere: a lembrança de uma atração provoca o desejo de senti-la, e a lembrança de uma repulsa, o desejo de evitá-la. Uma coisa deu prazer e é lembrada, isto é, pensada; é desejada, e segue-se a ação para obtê-la. Essas três coisas realmente não podem ser separadas, porque não há ação que não seja precedida pelo pensamento e pelo desejo, e que não os ponha em movimento outra vez, depois de executada. A ação é o sinal exterior do pensamento invisível e do desejo invisível, e sua própria realização dá nascimento a um novo pensamento e a um novo desejo. Os três formam um círculo, perpetuamente retraçado. 

Os três destinos (Annie Besant)


“Deus criou o homem à sua própria imagem”, diz uma Escritura Hebraica, e as Trindades das grandes religiões são os símbolos dos três aspectos da consciência divina refletida na triplicidade do ser humano. O Primeiro Logos dos teosofistas, o Mahadeva dos hindus, o Pai do Cristão, têm a Vontade como característica predominante, e ela faz sentir o poder da soberania, a Lei pela qual o universo é construído. O Segundo Logos, Vishnu, o Filho, é Sabedoria, poder que tudo sustenta e tudo permeia e pelo qual o universo é preservado. O Terceiro Logos, Brahman, o Espírito Santo, é o Agente, o poder criador, pelo qual o universo é levado à manifestação. Nada existe na consciência divina ou humana que não se encontre dentro de uma dessas formas de Autoexpressão. 
Repetindo: a matéria tem três qualidades fundamentais, que correspondem, separadamente, a cada uma dessas formas de consciência. Sem elas, a matéria não poderia se manifestar, assim como a consciência não poderia se expressar. Ela tem inércia (tamas), o fundamento de tudo, a estabilidade necessária à existência, a qualidade que corresponde à Vontade. Tem mobilidade (rajas), a capacidade de ser movida que corresponde à Atividade. Tem ritmo (sattva), o equalizador do movimento (sem o qual o movimento seria caótico, destrutivo), que corresponde à Cognição. O sistema Ioga, considerando tudo do ponto de vista da consciência, chama a essa qualidade rítmica “cognoscibilidade”, que leva essa matéria a ser conhecida como Espírito. 
Tudo isso está na nossa consciência, afetando o ambiente, e todo o ambiente afeta a nossa consciência, constrói o nosso mundo. A inter-relação entre a nossa consciência e o nosso ambiente é o nosso karma. Com essas três formas de consciência, tecemos nosso karma individual, a inter-relação universal entre o Eu superior e o Não Eu superior, especializada por nós nessa inter-relação individual. 
Quando nos erguemos acima da separatividade, o individual torna-se de novo a inter-relação universal, mas essa inter-relação universal não pode ser transcendente enquanto durar a manifestação. Essa especialização do universal e a posterior universalização do especial constroem os “eternos caminhos do mundo”: a Trilha do Atual, para ganhar experiência; a Trilha do Retorno, trazendo para casa feixes de experiências. Essa é a Grande Roda da Evolução, tão inflexível quando observada do ponto de vista da matéria e tão bela quando observada do ponto de vista do Espírito. “A vida não é um grito, é uma canção.” 

A compreensão da verdade (Annie Besant)


Isso parece óbvio. De onde, então, surge o instinto geral de que a bondade, na vida, deve ser seguida de sucesso? Podemos combater um erro com êxito apenasquando compreendemos a verdade que está no cerne desse erro, dando-lhe vitalidade e levando-o à sua expansão e persistência. A verdade, nesse caso, é que, colocando-se de acordo com a lei divina, o homem terá a felicidade, como resultado dessa harmonia. O erro está em identificar o sucesso mundano com a felicidade, pondo de lado o elemento tempo. Um homem que vai entrar no ramo dos negócios resolve ser honesto, resolve não procurar tirar vantagens injustas dos outros. Ele vê os que são desleais e inescrupulosos passarem à sua frente; se for fraco, sentir-se-á desencorajado e, talvez, se resolva a imitá-los. Se for forte, dirá: “Trabalharei em harmonia com a lei divina, não importa quais sejam os resultados terrenos.” Daí por diante, a paz interior e a felicidade estarão com ele, mas ele não terá sucesso. Apesar disso, com o correr do tempo, até isso pode acontecer com ele, porque o que ele perde em dinheiro ganha em confiança, entretanto o homem que trai uma vez, pode trair novamente a qualquer tempo, e ninguém mais confiará nele. Numa sociedade competitiva, a falta de escrúpulos traz sucesso imediato, enquanto numa sociedade cooperativa a consciência “valerá a pena”. Dar salários de fome aos trabalhadores forçados pela competição a aceitá-lo pode levar a um sucesso imediato sobre os rivais nos negócios, e o homem que paga salários decentes para os empregados pode ver-se ultrapassado na corrida para a riqueza, mas com o tempo terá melhor rendimento de trabalho e, no futuro, contará com uma colheita de felicidade, pois para isso lançou a semente. Temos de decidir sobre a nossa conduta e aceitar seus resultados, sem reconhecer nem o dinheiro, nem a injustiça como pagamento da bondade, enquanto a astúcia inescrupulosa obtém aquilo que busca. 
Uma história hindu, instrutiva, se não agradável, fala sobre um homem que tinha prejudicado a outro. O prejudicado foi pedir justiça ao rei. Quando lhe foi dito que ele próprio deveria escolher a punição a ser dada ao seu inimigo, o homem pediu ao rei que enriquecesse aquele que o prejudicara. Quando lhe perguntaram a razão do seu estranho comportamento, com um riso sardônico ele disse que a fortuna e a prosperidade terrena dariam àquele homem a oportunidade de fazer o mal, e assim acarretariam para ele amargo sofrimento na vida após a morte. O pior inimigo da virtude costuma ser uma situação material folgada, e essa situação, que é vista como um bom karma, muitas vezes é, ao contrário, um mau karma em seus resultados. Muitas pessoas que vivem razoavelmente na adversidade, desmandam-se na prosperidade, e se intoxicam com os deleites terrenos. 
Vamos considerar de que forma um homem afeta o seu ambiente, ou, para usar uma frase científica, de que forma um organismo atua no seu ambiente. 
O homem afeta o seu ambiente de inúmeras maneiras, que podem, todas, ser classificadas em três formas de autoexpressão: afeta-o pela Vontade, pelo Pensamento e pela Ação. 
O homem evoluído tem a possibilidade de reunir energias e de fundi-las numa única, pronta para destacar-se dele e causar ação. Essa concentração das suas energias numa força única, mantida em suspenso no seu interior, presa e pronta para extroverter-se, é a Vontade, que é uma concentração interior, uma forma da tríplice autoexpressão. Nos reinos subumanos e nas divisões mais inferiores do humano, os objetos que dão prazer e os que infligem dores em torno da criatura viva sugam suas energias, e chamamos essas energias multifárias, vindas à tona pelos objetos externos, de seus desejos, sejam de atração ou de repulsão. Só quando todas essas energias são atraídas, unidas e dirigem sua mira para um único fim é que podemos chamar essa energia, pronta para manifestar-se, de Vontade. Essa Vontade é a Autoexpressão, isto é, a expressão dirigida pelo Eu superior. 
O Eu superior determina a linha a ser tomada, baseando sua determinação na experiência própria. Nos mundos humanos, sejam subumanos, sejam inferiores, os desejos são fatores importantes do karma, dando nascimento aos resultados mais variados; no mundo superior, a Vontade é a causa kármica mais vigorosa e, à medida que o homem transforma desejos em Vontade, ele “governa as estrelas”. 
A forma de Autoexpressão chamada Pensamento pertence ao aspecto do Eu superior pelo qual o homem se torna ciente do mundo exterior, o aspecto da Cognição. Com ele, o homem obtém conhecimento, e a atuação do Eu superior sobre o conhecimento obtido e o Pensamento. Isso, repito, é um importante fator no karma, pois é criativo, e, como sabemos, constrói o caráter. 
A forma de Autoexpressão que afeta diretamente o ambiente, a energia que emana do Eu superior, é Atividade, a ação do Eu superior sobre o Não Eu superior. 
O poder de concentrar todas as energias numa só Vontade, o poder de se tornar ciente do mundo exterior é a Cognição; o poder de afetar o mundo exterior é a Atividade. Essa atividade, ou ação, é inevitavelmente seguida por uma reação vinda do mundo exterior – o karma. A causa interior da reação é a Vontade; a natureza da reação é devida à Cognição; o provocador imediato da reação é a Atividade. Essas três coisas tecem os fios da corrente kármica. 

Invocações e Evocações: Vozes Entre os Véus

Desde as eras mais remotas da humanidade, o ser humano buscou estabelecer contato com o invisível. As fogueiras dos xamãs, os altares dos ma...