terça-feira, 13 de março de 2018

A Vida de Aleister Crowley


"Uma rosa vermelha absorve todas as cores, menos a vermelha; 
Vermelha, portanto, é a única cor que ela nao é.
Essa Lei, Razão, Tempo e Espaço, 
toda Limitação, cega-nos à Verdade. 
Tudo o que sabemos sobre o Homem,
Natureza, Deus,é apenas aquilo que eles não são; 
é aquilo que rejeitam como repugnante."

(Aleister Crowley, Liber CCCXXXIII, Cap. 40)

Na última hora do dia 12 de outubro de 1875, em 
Leamington Spa, Warwickshire, Inglaterra, nascia Edward 
Alexander Crowley.

Sua infância esteve marcada por rígidos padrões de 
comportamento impostos por seus pais, Edward Crowley e 
Emily Bishop, ativos membros de uma extremada seita 
Cristã chamada Irmandade de Plymonth (fundada por John N. 
Darby). Seu pai, um rico cervejeiro aposentado, e 
fanático Irmão de Plymonth, fez com que Crowley, ainda 
criança, freqüentasse a sua seita, forçando-o a diversas 
leituras da Bíblia Cristã e acostumando-o à vida 
religiosa da Irmandade. Este fato, muito embora viesse 
ser de grande valia bem mais tarde, quando da compreensão 
dos Mistérios com os quais esteve em contato, naquele 
momento apenas fez nascer na criança que se formava, uma 
intensa repulsa quanto a dogmas, em espécie aqueles de 
natureza "cristã". Outro fator que, certamente, muito 
contribuiu para a formação moral de Crowley, não só em 
sua infância como também na juventude, teria sido aquele 
bem conhecido e tradicional jeito de vida inglês da época 
vitoriana.

Em 1886, com o falecimento de seu pai, Crowley fica sob 
os cuidados de seu tio e tutor Tom Bishop. Tamanha era a 
crueldade de seu tio, que Crowley referiu-se a este 
período de sua vida como "A Infância no Inferno".

Em sua adolescência, a busca por aventuras o conduziu ao 
alpinismo. Praticou com afinco esse esporte, chegando a 
destacar-se no mesmo. Sua carreira de alpinista chegou ao 
ápice nos anos de 1902 e 1905, quando participou das 
primeiras tentativas de escalar o Chogo Ri (K2) e o 
Kanchenchunga, duas das maiores montanhas do mundo, 
situadas no Himalaia.

Estudou, destacando-se em todas as disciplinas, em 
Trinity College, Cambridge, onde ficou no período de 1895 
a 1898. Nesta época, Crowley, leitor voraz, estudou 
intensamente, incluindo tudo de importante que havia da 
literatura inglesa, francesa, além de diversas outras 
obras em Latim e Grego clássicos, inclusive filosofia e 
alquimia; se dedicou a canoagem, ciclismo, montanhismo e 
xadrez, atividade esta em que ganhou notoriedade e que 
exerceu por toda sua vida. Praticando o montanhismo, 
Crowley viria a conhecer um homem o qual passou a admirar 
profundamente: Oscar Eckenstein. Eckenstein, que, segundo 
Crowley, era um singular exemplo, sem igual em dignidade 
e nobreza, ensinou-lhe (por hora) o alpinismo. Alguns 
anos depois, Eckenstein demonstraria que seu conhecimento 
não se limitava apenas à conquista de elevadas montanhas.

Em Cambridge, seu espírito, como era bem próprio à 
natureza da Besta, ansiando por um volume maior de 
conhecimento e aventuras, encontrava-se perturbado com a 
insubstancial perspectiva futura. Em 1898, antes de sua 
graduação, Crowley abandona os estudos para se dedicar a 
algo não comum e de maior profundidade do que o oferecido 
por uma promissora carreira acadêmica.

Mas o que exatamente seria este algo mais profundo? 
Por volta de 1896, Crowley havia iniciado a leitura de 
alguns livros sobre magia e misticismo. Algo começava a 
tomar forma dentro de seu inquieto ser; porém a leitura 
de Nuvem sobre o Santuário , obra lhe recomendada por 
Waite, é que faz com que Crowley decida dedicar sua vida 
ao estudo do Ocultismo e da Magia, e empenhar-se com 
afinco no sentido de encontrar a Grande Fraternidade 
Branca mencionada no inspirador livro de Eckhartshausen.

E aqui começa a carreira mágica de Aleister Crowley.

Em 1898, através de dois amigos, Julian Baker e George 
Cecil Jones (respectivamente Frati D.A. e Volo Noscere, 
ambos membros da G.'.D.'.), Crowley é apresentado a 
Samuel Liddell "MacGregor" Mathers (1854-1918), Frater 
D.D.C.F. (Deo Duce Comite Ferro), um dos lideres da Ordem 
Hermética da Aurora Dourada (The Hermetic Order of the 
Golden Dawn, mais conhecida pela sigla G.'.D.'.), uma das 
mais influentes Ordens do final do século passado, que 
proporcionou a Crowley sua primeva Iniciação e o contato 
com os primeiros mistérios mágicos que tanto procurava.

A G.'.D.'. fora fundada pelo próprio Mathers, junto com 
William Winn Westcott (1848-1925), Frater Non Omnis 
Moriar, e William Robert Woodman (1828-1891), Frater 
Vincit Omnia Veritas, em 1887. Segundo seus fundadores, a 
existência da G.'.D.'. era devida à orientação e à ordem 
de uma alta iniciada alemã chamada Anna Sprengel (Soror 
S.D.A., Sapiens Donabitur Astris), que autorizara a 
abertura de uma Loja na Inglaterra que representasse a 
suposta Ordem ancestral a qual pertencia. Diga-se de 
passagem que, a G.'.D.'., mesmo levando em conta o 
possível conciliábulo de sua criação, constitui uma das 
mais importantes Ordens jamais inventadas pelo espírito 
humano, conseguindo reunir em seu corpo de iniciados a 
nata da intelectualidade inglesa e européia da época.

Nomes como o prêmio Nobel de Literatura em 1923, Willian 
Butler Yeats, além de Gustav Meyrink, Florence Farr, A. 
E.. Waite, Sax Homer, Bram Stocker, F. L. Gardner, Arthur 
Machen, o próprio Crowley e tantos outros, pertenceram a 
esta notável organização.

Crowley, iniciado por Mathers em 18 de novembro de 1898, 
ao Grau de Neophytus (0o=0), tomava, como Mote Mágico, o 
nome de Perdurabo (eu perdurarei até o fim), iniciando, 
assim, seus estudos na G.'.D.'., tendo como primeiro 
Instrutor Frater Volo Noscere (Jones). Em dezembro do 
mesmo ano, Crowley atinge o Grau de Zelator (1o=10). 
Sua capacidade de assimilação de conhecimento e sua 
dedicação ao estudo e a prática do Ocultismo o 
conduziram, agora sob a instrução de Frater Iehi Aour 
(Allan Bennett), a ascender rapidamente aos Graus 
subsequentes da G.'.D.'.; assim, respectivamente em 
janeiro, fevereiro e maio do ano seguinte, em 1899, 
Crowley conquistou os Graus de Theoricus (2o=9), 
Practicus (3o=8) e Philosophus (4o=7). Bennett, 
considerado por Crowley um autêntico Guru, o ensinou 
várias técnicas mágicas oferecidas pela G.'.D.'., 
técnicas como Cabala e Magia Cerimonial, consagração de 
Talismãs, evocação de Espíritos, etc.

Este período de sua vida foi fortemente marcado por duas 
atividades principais.. Quando Frater Perdurabo não estava 
estudando ou praticando, Crowley, sob o pseudônimo de 
Conde Vladmir Svareff ou Aleister MacGregor, custeava as 
edições de seus escritos (normalmente algum tipo de 
pornografia ou poesia), além de cultivar uma intensa vida 
sexual, a qual escandalizou alguns membros da G.'.D.'..

Sua grande atividade e principal preocupação, no entanto, 
continuava a ser a Magia.

Entretanto, e isto deveu-se menos aos escândalos 
promovidos por Frater Perdurabo do que ao ciúme e inveja 
de certos Adeptos londrinos, e mesmo Crowley tendo 
demonstrado capacidade e talento em magia, sua iniciação 
à Segunda Ordem fora negada, em fins de 1899, pelos 
chefes da seção inglesa da G.'.D.'.. Nesta época, 
Mathers, agora único líder da Ordem, residia em Paris. 
Mesmo contrariando a opinião dos líderes londrinos, em 16 
janeiro de 1900, em Paris, Mathers, fazendo valer sua 
autoridade dentro da Ordem, inicia Crowley ao Grau de 
Adeptus Minor (5o=6), sob o Mote Parzival. Talvez aqui 
tenha sido o inicio da ruína da G.'.D.'.. Pouco antes de 
sua iniciação, seu grande amigo e Instrutor, Allan 
Bennett, decide partir para Ceilão, e tornar-se monge 
Budista.

A insatisfação dos membros da G.'.D.'. com Mathers já era 
mais que um fato nessa época. Provavelmente o caso 
Crowley tenha servido como impulso e álibi necessários 
para o grupo londrino, liderado por Yeats, entre outros 
menos conhecidos, declarar-se independente de seu mentor 
e líder, MacGregor Mathers.

O que se seguiu após a rebeldia londrina resultou em 
histórias fantásticas de ataques mágicos envolvendo 
Crowley e uns demônios versus Yeats e, é claro, mais 
demônios. Depois o próprio Mathers teria entrado na 
briga, junto, evidentemente, com uma outra legião de 
encapetados amiguinhos. Mas essa estória não escapa nem a 
mais tola crítica. O fato é que Crowley e Mathers ficaram 
praticamente sozinhos, e a outrora grande G.'.D.'., agora 
conduzida pelos auto-proclamados novos chefes, ia 
progressivamente implodindo, ou se esfacelando, 
resultando num sem número de Ordens Cristianizadas, sem o 
élan da G.'.D.'. original.

Crowley, que abandonara um importante trabalho mágico 
para ajudar Mathers, vê-se só. Parte para Nova York e 
depois vai para o México.

A estadia no México constituiu um período bem produtivo a 
Crowley. Além de Tannhauser, escrito em ininterruptas 67 
horas, conseqüência de uma bem sucedida opera Sexualis, 
esse período na América Central representou uma decisiva 
conquista no magista que se formava.

Foi apresentado a Don Jesus Medina, um dos altos chefes 
da Maçonaria local, Rito Escocês, que, de tão 
impressionado por aquele singular figura, não tardou em 
convidar Crowley para iniciar-se em sua Loja. Como 
hábito, Crowley rapidamente galgaria os graus Maçônicos, 
alcançando, por graça, o mais alto Grau do Rito.

Mas a chegada de seu amigo e mentor, Oscar Eckenstein, é 
que daria novos rumos a seu aprendizado. Eckenstein, 
revelando-se, para a surpresa de seu pupilo, um grande 
instrutor, demonstrou que Crowley não tinha controle 
sobre seus próprios pensamentos, qualificando sua atitude 
para com a magia como apenas mera fascinação romântica. A 
partir daí, Crowley decide dar um tom científico a seus 
experimentos, estudando com Eckenstein, uma série de 
métodos de controle mental.

Após algum tempo de escaladas e treino mental, Crowley 
parte para o Oriente, para se encontrar com Bennett, seu 
antigo instrutor, no Ceilão. Antes, entretanto, combina, 
com Eckenstein, a escalada do K2, no Himalaia, aventura a 
se realizar na primavera de 1902.

Bennett, agora Bhikku Ananda Meteya, que aprendera Yoga e 
Budismo, instrui Crowley nestas disciplinas.

No outono de 1902, após a expedição ao K2, Crowley 
retorna a Paris. Seu novo encontro com Mathers o 
decepciona a tal ponto que só lhe restou a boêmia vida 
parisiense. Retorna a Boleskine em 1903 e então, 
procurando algo suficientemente prosaico para si, 
intitula-se Lorde Boleskine. Neste mesmo ano, casa-se com 
Rose Kelly.

Mas o ano seguinte revelaria a Crowley o mistério que o 
acompanharia até seu último momento: A Lei de Thelema. 
Casado com Rose Kelly, de acordo com Crowley, "uma da 
mais brilhantes e inteligentes mulheres do mundo", viaja 
pela Europa e Egito. E no Cairo, após uma série de 
Rituais e Invocações, um ser, identificando-se como 
Aiwass, transmite a Crowley, nos dias 8, 9 e 10 de abril, 
o Liber Al vel Legis ou, como passaria a ser conhecido, O 
Livro da Lei. Àqueles que conhecem todo esse processo, é 
significativo saber que esse extraordinário livro foi o 
primeiro escrito de Crowley, de cunho místico-mágico. 
Entre tantos significados, Liber Al vel Legis proclama o 
fim de uma era, ou Eon, marcada pelo sofrimento, pela 
intermediacão entre Deus e o homem, pelo deus 
sacrificado, etc. Em seu lugar, nascia a época do deus de 
alegria, onde o homem teria a liberdade de realização de 
sua própria vontade. A epígrafe "Faze o que tu queres 
deverá de ser o todo da Lei", contida em Liber Al e 
utilizada nos escritos de natureza thelêmica, sintetiza a 
própria regra de conduta a ser tomada como tônica do Eon 
nascido.

Essa experiência, levou Crowley a assumir o Grau de 
Adeptus Major, 6o=5 da G.'.D.'., sob o novo Mote de 
O.S.V...

De volta a Boleskine, Crowley imediatamente trata de 
expor sua experiência a Mathers, revelando ter, 
finalmente, feito contato com os Mestres Secretos que 
tanto havia procurado. Como costume, Mathers não aceita a 
revelação. Conseqüentemente, o mundo do esoterismo 
novamente, é palco para ataques mágicos de Mathers a 
Crowley e vice-versa. Mas o incontestável fato é que isso 
era o fim da convivência entre os dois magos. 
Em 1905, mais uma expedição ao Himalaia: desta vez o alvo 
era o Kanchenchunga.

Cansado de suas birras com a G.'.D.'., em 1907, Crowley 
funda a A.'.A.'.; a Argenteum Astrum, Ordem da Estrela de 
Prata, que - segundo Frater O.S.V. - substituirira a 
G.'.D.'., herdando sua estrutura de graduação. Entre 
tantos significados possíveis, particularmente um 
inspirou Crowley na escolha desse nome para a Ordem. 
Segundo ele, o dourado amanhecer (Golden Dawn) é o que 
precede a Estrela Dalva (Vênus, ou Lúcifer), a prateada 
estrela da manhã que "anuncia" o Sol. Crowley, em 1909, 
dá início ao primeiro período aberto a Probacionistas a 
sua A.'.A.'. e, com a publicação da série The 
Equinox, "destrói" magicamente a G.'.D.'..

No período de 1907-1911, Crowley, consagrando seu tempo 
ao estudo, a prática e a escrita, publicaria cerca de uma 
dúzia de livros de cunho poético-mágico (excluindo a 
série The Equinox). Neste período também, após a morte de 
sua filha em 1906, Crowley separa-se de sua esposa, Rose 
Kelly, em 1909. Nesse mesmo ano, Crowley assume o Grau 
Adeptus Exemptus 7o=4(, agora da A.'.A.'., com o Mote OU 
MH. Em 3 de dezembro de 1909, durante uma a Visão do 14o 
Aethyr, toma o Grau de Magister Templi, sob o Mote 
V.V.V.V.V., 8o=3 da Ordem da Estrela de Prata [19]. Em 
1911 Crowley escreve Liber CCCXXXIII, O Falsamente 
chamado Livro das Mentiras, que publicaria mais tarde, em 
1913.

Em 1912 porém, outro acontecimento daria novo rumo a sua 
vida.

Crowley, com o seu Livro das Mentiras, curiosamente, 
mesmo antes de sua publicação em 1913, chamaria a atenção 
de, nada mais nada menos, Theodor Reuss, membro do 
serviço secreto germânico, maçom e ocultista, Frater 
Merlin Peregrinus Xo, então O.H.O. da Ordo Templi 
Orientis (O.T.O.). Reuss, tendo lido Liber CCCXXXIII, 
para seu espanto, lá identificara o segredo central da 
O.T.O..

A O.T.O. era uma organização de cunho maçônico, místico e 
mágico, fundada por Karl Kellner, em 1902. Kellner, 
segundo a lenda, teria viajado pelo oriente onde havia 
sido iniciado por um faquir árabe, chamado Solimam ben 
Aifha, e pelos yoguis hindus Bhima Shen Pratap e Sri 
Mahatma Aganya Guru Paramahansa, recebendo os mistérios 
da Filosofia e do Yoga da Mão Esquerda, a Magia Sexual. 
A O.T.O., que reivindicara para si a detenção do 
conhecimento outrora pertencido aos lendários Cavaleiros 
do Templo, assim como ocorreu com a G.'.D.'.., reuniu 
entre seus Adeptos vários eminentes maçons e ocultistas 
da época, alguns dos quais, a partir dos fundamentes 
adquiridos nessa Ordem, ou fundaram ou em muito 
colaboraram em outros movimentos da época. A título de 
exemplo temos: Rudolf Steiner, fundador da Antroposofia; 
Franz Hartmann, um dos mais importantes colaboradores do 
movimento Teosófico; Krumm-Heller, responsável pela 
expansão da Fraternitas Rosacruciana Antiqua (F.R.A.); 
Gerald Gardner, considerado como o "pai" da Wicca; Karl 
Germer, sucessor de Crowley como líder da O.T.O.; Kenneth 
Grant, que depois lideraria um variação da Ordem na 
Inglaterra; H. Spencer Lewis, fundador de um bem 
conhecido movimento neo-rosacruciano denominado AMORC; 
além do próprio Crowley.

O bizarro encontro entre Reuss e Crowley, 
definitivamente, marcaria o destino da Ordem alemã. 
Crowley, após ter sido acusado de divulgar abertamente 
este segredo, expõe a Reuss que este teria sido aprendido 
por ele quando de sua viagem ao Oriente e que já o 
praticava há muito; sendo-lhe impossível saber ser este o 
mesmo Santo Segredo cultivado pela O.T.O.

O desenvolvimento da conversa entre os dois Iniciados 
deixou Reuss tão bem impressionado que este nomearia 
Crowley líder da O.T.O. para os países da língua Inglesa. 
Essa tarefa foi exercida por Crowley através do Mote 
Baphomet.

Crowley então, passaria a escrever (e também reescrever) 
os Rituais da O.T.O. sob a luz de seu Liber Legis. Em 
1914, acompanhado de Mary d'Esté Sturges (Soror Virakam), 
escreve seu famoso Book Four.

Em 12 de Outubro de 1915, em seu quadragéssimo 
aniversário, Aleister Crowley toma o Mote de TO MEGA 
THERION, 666, para o 9o=2, o Grau de Magus da A.'.A.'.. 
E, como 666, Crowley concebe uma das mais belas páginas 
da literatura esotérica, Liber Aleph, The Book of Wisdow 
or Folly, uma Epístola de 666 a seu Filho 777 (Frater 
Achad, Charles S. Jones). Em 1919, publica o primeiro 
número do terceiro volume do The Equinox.

Um dos mais curiosos feitos da Besta, teve lugar com a 
fundação, em 2 de abril de 1920, da Abadia de Thelema, em 
Cefalu, Sicília, Itália. Depois, Crowley, em secreto 
juramento, assume, em maio de 1921, o Grau de 10o=1 
A.'.A.'., Ipississimus. A Abadia funcionou até 1923, 
quando Crowley foi expulso da Itália por Mussolini. 
Mas, em 1925, com o falecimento de Theodor Reuss, Crowley 
é convocado para uma reunião internacional da O.T.O., 
onde os rumos dessa Ordem seriam traçados. Crowley é 
convidado a ser o Chefe Internacional da Ordo Templi 
Orientis. Aceita e toma o Santo Mote de Deus est Homo. 
Durante os anos seguintes, Crowley viveu alternadamente 
na França, Alemanha e Norte da África. Nesta época ele 
viria a conhecer duas pessoas que, além de serem 
discípulos e amigos, seriam depois importantes 
personagens dentro da história de Thelema: Karl Germer e 
Israel Regardie. Expulso da França em 1929 sob acusação 
de ser agente alemão, Crowley retorna à Inglaterra.

A publicação de suas Confissões, em 1930, proporcionou a 
Crowley um interessante encontro com um dos maiores 
gênios da literatura portuguesa. Estamos falando de 
Fernando Pessoa (1888-1935). Pessoa, que além de célebre 
poeta era um competente astrólogo, fascinado pelas 
ciências esotéricas, envia, neste mesmo ano, uma carta a 
Crowley, indicando erros em seu mapa natal.. Crowley, 
entusiasmado com o conhecimento do poeta lusitano, 
contesta sua carta, dando-lhe razão, e expressa seu 
desejo de conhecê-lo.

Pessoa, mesmo incomodado e receando tal encontro, recebe- 
o no porto de Lisboa. A lenda diz-nos que estranhos 
acontecimento tiveram vez naquela tarde, como um 
inexplicado nevoeiro que, descendo na cidade de Lisboa, 
atrasou o barco que conduzia a Besta ao encontro do 
criador de Álvaro de Campos. E tanto foi a admiração e 
fascínio de Pessoa para com o pior homem do mundo, que, 
no famoso caso da Boca do Inferno, onde Crowley simulou 
um trágico suicídio, Pessoa testemunhara, confirmando o 
que supostamente teria ocorrido a seu novo amigo.

Pessoa, que vira naquele estranho inglês um irmão nos 
Mistérios, a partir do encontro e da amizade com Crowley, 
em muito mudou o tom de sua poesia. Adentrou-se no estudo 
do simbolismo, publicando obras de notável valor, até sua 
prematura morte, aos 47 anos, em 1935.

Crowley segue e, entre casos amorosos, drogas, e causas 
judiciais, publica nos anos 30 uma série de ensaios e 
instruções que comporiam os números subseqüentes de The 
Equinox, iniciado em 1919. The Equinox of the Gods, 
relatando suas experiência no Cairo e a escritura de 
Liber Legis, é publicado em 1937.

Trabalhando com Lady Frieda Harris, Crowley, ao longo de 
cerca de cinco anos, concebe um Tarot de modo que a 
imagem do Eon fique registrada. O resultado final é o 
maravilhoso The Book of Thoth, onde a principal mensagem 
de sua obra está apresentada de forma sintética. Durante 
esse trabalho com Lady Harris, em 1942, na forma de um 
manifesto da O.T.O., Crowley publica Liber OZ, a Carta 
dos Deveres e Direitos dos homens e das mulheres. Algo 
muito parecido seria elaborado alguns anos depois pela 
ONU.

Seus últimos anos, a partir de 1945, são vividos em 
Hastings, onde uma série de novos discípulos continuam 
recebendo instruções. E, assim, Kenneth Grant, John 
Symonds, Grady McMurty, conhecem a Besta. Desta época, 
vem sua última obra, consistindo numa coletânea de cartas 
dirigidas a uma jovem discípula, que foram publicadas bem 
mais tarde, após a sua morte, como Magick Without Tears.

No primeiro dia de dezembro de 1947, aos 72 anos, 
Aleister Crowley, serenamente segundo alguns, exultante 
segundo outros, e ainda perplexo, segundo terceiros, 
falece, vítima de bronquite crônica e complicações 
cardíacas.

Quatro dias depois, no crematório de Brighton, assistido 
por um reduzido número de admiradores e discípulos, é 
realizada a cerimônia que ficou conhecida como "O Último 
Ritual", com a leitura de trechos da Missa Gnóstica, e de 
seu maravilhoso Hino a Pã.

Realizara-se, assim, a última vontade da Besta.

(Texto retirado da Revista Safira Estrela - Março de 1995)

Autor:  Carlos Raposo

A Infância de Aleister Crowley


Em Clarendom Square, número 36, na cidade de Leamington, condado de Warwickshire, na Inglaterra, às 22h 50m do décimo segundo dia de outubro do ano de mil oitocentos e setenta e cinco da era vulgar, nasceu a pessoa cuja história vai ser contada.

Seu pai chamava-se Edward Crowley; sua mãe, Emily Bertha, nascida Bishop. Edward Crowley era um Irmão Exclusivo da Irmandade Plymouth 1) o mais respeitado chefe daquela seita. Este ramo da família de Crowley se estabelecera na Inglaterra desde a época de Tudors, mas a sua origem é celta, pois Crowley é um clã de Kerry e de outros condados do sudoeste da Irlanda, do mesmo sangue que os “de Queroauille” ou “de Kerval” bretões, que deram uma Duquesa de Portsmouth à Inglaterra. Supõe-se que o ramo inglês – os ancestrais diretos de Edward Alexander Crowley – veio para a Inglaterra com o Duque de Richmond, e se estabeleceu em Bosworth.

Em 1882 Edward Crowley foi viver em “The Grange”, na cidade de Redhill, condado de Surrey. Em 1884, o menino, que até então fora educado por governantas e tutores, foi mandado para uma escola em St. Leonard, mantida por certos evangelistas 2) extremistas chamados Hebershon. Um ano mais tarde foi transferido para outra escola, esta em Cambridge e sob a responsabilidade de um Irmão de Plymouth chamado Champney 3).

Em 5 de Março de 1887 e.v., Edward Crowley morreu. Dois anos mais tarde o menino foi retirado da escola. Esses dois anos foram de incrível tortura, cujos detalhes foram mencionados no prefácio ao seu poema “A Tragédia do Mundo”. Esta tortura minou-lhe seriamente a saúde. Durante dois anos ele viajou com seus tutores, na maior parte por Gales e pela Escócia. Em 1890, tendo sua mãe se mudado para Streatham, a fim de estar mais próxima do irmão, Tom Bond Bishop, um evangelista de mente extremamente estreita, foi o menino mandado, por pouco tempo, para uma escola situada neste lugar, mantida por um homem chamado Yarrow. Isto preparou o adolescente para Malvern, onde ingressou no verão de 1891. Ali permaneceu durante um termo apenas, pois sua saúde ainda era delicada. No outono foi matriculado no Colégio de Tonbridge, mas adoeceu seriamente, e teve que ser removido. O ano de 1893 ele passou com seus tutores, principalmente em Gales, no norte da Escócia, e em Eastbourne. Em 1895 completou seus estudos de química em King’s College, London, e em outubro daquele ano entrou para Trinity College, Cambridge.

Com isto finda o primeiro período de sua vida. É apenas necessário declararmos que seu cérebro se desenvolveu cedo. Aos quatro anos de idade era capaz de ler a Bíblia em voz alta, demonstrando uma grande predileção pelas listas de longos nomes, a única parte da Bíblia não deturpada por teólogos 4). Também era ele um enxadrista suficientemente forte para derrotar o amador médio, e, se bem que jogasse continuamente, nunca perdeu um jogo até 1895 e.v. 5) O xadrez foi-lhe ensinado por um alfaiate que havia sido chamado a sua casa a fim de medir roupas para seu pai, e que foi tratado como um hóspede porque era também um “irmão Plymouth”. Derrotou seu professor invariavelmente após o primeiro jogo: deveria ter uns seis ou sete anos de idade na época.

Começou a escrever poesia em 1886, se não mais cedo. Veja “Oráculos”.

Após a morte de seu pai, que era um homem de grande bom-senso, e nunca permitiu que sua religião interferisse com sua afeição natural, o menino caiu nas mãos de gente de uma disposição totalmente diversa. Sua atitude mental logo se concentrou em ódio à religião que ensinavam, e sua vontade, em revolta contra as opressões dessa religião. Seu principal alívio era o alpinismo, que o deixava a sós com a natureza, longe dos tiranos.

Os anos compreendidos entre março de 1887, até sua entrada no Trinity College, Cambridge, em outubro de 1895, representaram uma luta contínua pela liberdade. Em Cambridge ele se sentiu seu próprio mestre, recusou-se a ir à Capela, aulas ou conferências, e seu tutor, o falecido Dr. A. W. Verrall, foi sábio o bastante para deixar que seu tutelado trabalhasse à sua maneira.

Devemos mencionar que possuía a habilidade intelectual em grau extraordinário. Sua faculdade de memória, principalmente de memória verbal, tinha uma espantosa perfeição.

Quando menino podia encontrar quase qualquer versículo da Bíblia em poucos minutos de busca. Em 1900 foi testado em seus conhecimentos das obras de Shakespeare, Shelly, Swinburne (1a Série de Poemas e Baladas), Browning, e da A Pedra da Lua, de Willcie Collins. Foi capaz de identificar a posição exata de qualquer frase em qualquer desses livros, e de recitar quase sempre o resto da passagem da qual a frase fazia parte.

Demonstrou notável habilidade para absorver os elementos do latim, grego antigo, francês, matemática e ciência. Aprendeu “little Roscoe” 6), quase que de cor, por iniciativa própria. Quando em Malvern, tirou o sexto lugar da escola no exame anual sobre Shakespeare, se bem que houvesse levado apenas dois dias a se preparar para a prova 7). Em certa ocasião, quando o professor de matemática quis dedicar uma aula a uma sabatina dos alunos mais avançados, e deu à classe uma série de equações do segundo grau para resolver, o rapaz se levantou ao fim de quarenta minutos para perguntar o que deveria fazer a seguir, entregando a série de 63 equações, todas com as soluções corretas.

Ele passou com honras em todos os exames, tanto nas escolas quanto na universidade, e bem que consistentemente se recusasse a se preparar para esses exames 8).

Por outro lado, não era possível persuadi-lo ou constrangê-lo a se aplicar a qualquer assunto que não lhe agradasse. Demonstrava intensa repugnância pela história, pela geografia e pela botânica, entre outras matérias, e nunca pode aprender a escrever latinos ou gregos, possivelmente porque as regras de metrificação nesses idiomas lhe pareciam arbitrárias e formais.

Também era-lhe impossível interessar-se por qualquer coisa desde o momento em que já tivesse absorvido os princípios de “como a coisa era ou podia ser feita”. Este traço o impedia de pôr retoques finais em tudo que encetava.

Por exemplo, ele se recusou a se apresentar para a segunda parte do exame final do diploma de Bacharel em Artes, simplesmente porque sabia que tinha o domínio absoluto da matéria 9)!

Esta característica se estendia aos seus prazeres físicos. Ele era de uma abjeta incompetência na prática fácil de escalar rochedos, porque sabia que podia fazê-lo. Parecia incrível aos alpinistas que excursionavam com ele que tal completo preguiçoso pudesse ser o mais ousado e o mais destro montanhista da sua geração, como demonstrava ser quando quer que o precipício fosse um que ninguém tivesse conseguido escalar antes 10). Da mesma forma, uma vez que tivesse elaborado teoricamente um método de escalar uma montanha, estava perfeitamente disposto a confiar a outros o segredo, e a deixar que eles se apropriassem da glória da descoberta para si mesmos. (A primeira ascensão do Dent de Géant, partindo de Montanvers, é um exemplo.) Pouco lhe importava que fosse ele a pessoa a fazer alguma coisa; o que lhe importava é que a coisa fosse feita.

Este altruísmo quase inumano não era incompatível com uma ambição pessoal consumidora e insaciável. A chave do enigma provavelmente era esta: ele queria ser alguma coisa que ninguém jamais tivesse ou pudesse ter sido antes dele. Perdeu interesse pelo xadrez tão logo que se provou, para sua própria satisfação (aos 22 anos de idade), mestre do jogo, tendo vencido os mais fortes amadores da Inglaterra e mesmo um ou dois “mestres” profissionais 11). Trocou a poesia pela pintura, quase por completo, tão logo tornou evidente ser o maior poeta de seu tempo. Mesmo em Magia, tendo se tornado a Palavra do Æon, e assim assumido seu lugar com os outros Sete Magi conhecidos pela história, inteiramente além da possibilidade de qualquer competição 12), começou a negligenciar o assunto. Só é capaz de se devotar à Magia como faz por haver eliminado toda ideia pessoal de sua Obra; ela se tornou tão automática quanto à respiração.

Devemos também registrar aqui seus extraordinários poderes em certas esferas pouco usuais. Ele pode rememorar o mínimo detalhe de uma escalada, após anos de ausência. Pode retraçar seu percurso em qualquer caminho que tenha algum dia atravessado, por pior que seja o tempo ou por mais escura que seja a noite. Pode adivinhar a única passagem possível através da geleira mais complexa e perigosa 13).

Possui um senso de direção independente de qualquer método físico para identificarmos nossa posição em algum lugar; e este senso funciona tanto em cidades que lhe são estranhas quanto em montanhas ou desertos. Ele pode farejar a presença de água, de neve, e de outras substâncias supostamente inodoras. Sua resistência física é excepcional. Já escreveu durante 67 horas consecutivas: seu Tannhäuser foi redigido desta forma em 1900 e.v. Já percorreu mais de 160 quilômetros em dois dias e meio, no deserto, como ocorreu no inverno de 1910 e.v. Já fez estágios frequentes de mais de 36 horas em montanhas, sob as condições mais adversas. Retém o recorde mundial do maior número de dias passados sobre uma geleira – 65 dias no Baltoro em 1902 e.v.; também, o recorde para a mais rápida subida íngreme acima de 5000 metros de altitude: 1300 metros em 1h 23m, no Iztaccihuati em 1900 e.v.; o recorde do mais alto pico (primeira ascensão por um só alpinista) – o Nevado de Toluca em 1901 e.v.; e numerosos outros 14).

No entanto, sente-se completamente exausto à mera ideia de uma caminhada de algumas centenas de metros, se não lhe interessa, ou se não lhe excita a imaginação; e é só com o máximo esforço que ele pode escrever algumas linhas se, em vez de desejar escrevê-las, ele apenas sabe que elas devem ser escritas!

Este relato foi considerado necessário para explicar como é que um homem cujas excepcionais qualidades chegaram a torná-lo mundialmente famoso em tantas e tão diversas esferas de ação pode ser tão grotescamente incapaz de utilizar suas faculdades, ou mesmo suas consecuções, em qualquer dos campos usuais da atividade humana; incapaz de consolidar sua proeminência pessoal, ou mesmo de assegurar a sua posição do ponto de vista social e econômico.

Notas
1) N.T.: A Irmandade de Plymouth foi uma das mais puritanas seitas protestantes inglesas.
2) N.T.: Outra das mais fanáticas seitas protestantes inglesas.
3) As datas neste parágrafo possivelmente não são exatas. Não temos evidência documentária a nosso dispor no momento presente. – Ed.
4) Este traço curioso pode ser interpretador como evidência do senso poético dele, da sua paixão pelo bizarro e pelo misterioso, ou mesmo de sua aptidão para a Cabala Hebraica. Também pode ser interpretado como uma indicação da sua ancestralidade mágica.
5) O primeiro homem a derrotá-lo foi H.E. Atkins, campeão amador de xadrez da Inglaterra durante muitos anos.
6) N.T.: um compêndio popular nos colégios ingleses da época.
7) N.T.: Ele não menciona que esperava tirar primeiro lugar; se soubesse que tiraria sexto, teria se preparado durante uma semana…
8) N.T.: O aluno que tem que “se preparar” para um exame final não estudou durante o ano.
9) Similarmente, Swinburne recusou ser examinado nos clássicos em Oxford, declarando que sabia mais que os examinadores.
10) Também em xadrez tem derrotado muitos mestres internacionais, e no Continente é considerado um Mestre Menor. Mas não se pode ter certeza de que vencerá um jogador de segunda classe num torneio interno de clube.
11) N.T.: Seu último contato sério com o jogo foi quando se apresentou para competir num campeonato. A atmosfera de ânsia de resultado era tão patética entre os jogadores que ele se retirou e nunca mais se candidatou em tais competições.
12) N.T.: É impossível “destronar” um Mago. O máximo que se pode fazer é sucedê-lo – quando é tempo!
13) Exemplos, o Vulbez séraes em 1897 e.v.; o Mer de Glace, centro-direita, em 1899 e.v.
14) Isto foi escrito em 1920 e.v.; estes recordes podem não mais ser válidos.

Uma Paráfrase das Inscrições Sobre O Anverso da Estela da Revelação


Acima, o enfeitado azul
É de Nuit o esplendor nu;
 Curvado em prazer taful;
Hadit secreto é beijado.
 Céu de estrela e globo alado
 São meus, Ó Ankh-af-na-khonsu!
  Eu sou o Senhor de Tebas, e eu
O vate inspirado de Mentu.
  Para mim desvela o véu do céu,
O sacrificado Ankh-af-na-khonsu
  Cujo verbo é lei. Deixa que eu incite
Tua presença aqui, Ó Ra-Hoor-Khuit!

Ultimal Unidade demonstrada!
  Adoro Teu poder, Teu sopro forte,
Deus terrível, suprema flor do nada,
  Que fazes com que os deuses e que a morte
Tremam diante de Ti:
  Eu, Eu adoro a ti!

Aparece no trono de Ra!
  Abre os caminhos do Khu!
Ilumina os caminhos do Ka!
  Nas rotas do Khabs sê tu,
Para mover-me ou parar-me!
  Aum! enche meu carme!
É minha a luz; faz que eu me vá
  Com os seus raios. Sou o autor
De oculta porta ao Lar de Ra,
  E Tum, de Khephra e de Ahathoor.
Eu sou teu Tebano, Ó Mentu,
  O profeta Ankh-af-na-khonsu!
Por Bes-na-Maut bato no peito;
  E por Ta-Nech lanço o feitiço.
Brilha, Nuit, ó céu perfeito!
  Alada cobra, luz e viço,
Abre-me tua Casa, Hadit!
  Mora comigo, Ra-Hoor-Kuit!

Uma Paráfrase das 11 Linhas Sobre o Reverso da Estela

Diz Osíris, o Sacerdote de Mentu, Senhor de Tebas, Ankh-f- n-Khonsu, o Justificado: Meu coração de minha mãe, meu coração de minha existência sobre a terra, não fiques diante de mim contra mim como uma testemunha, não me repilas entre os Juízes Soberanos, nem inclines contra mim na presença do Grande Deus, o Senhor do Oeste, agora que eu estou unido à Terra no Grande Oeste, e não duro mais sobre a Terra. Diz Osíris, ele que está em Tebas, Ankh-f-n-Khonsu, o Justificado: “Oh Único, que brilhas como Lua; Osíris Ankh-f- n-Khonsu veio ao alto de entre estas tuas multidões. Ele que ajunta esses que estão na Luz, o Mundo Inferior é (também) aberto para ele: vê, Osíris Ankh-f-n-Khonsu vem de dia para fazer tudo que ele deseja sobre a terra entre os viventes.



Hino a Pã



Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além
Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!
Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,
Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul
No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!
Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!
Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,
Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,
Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
Ó Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra
Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado
Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.
Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,
Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!

sábado, 3 de março de 2018

As Sete Igrejas Interpretação Esotérica


O homem é um trio de Corpo, Alma e Espírito. Entre o Espírito e o Corpo existe um mediador, a Alma. Os Gnósticos sabem que a Alma está vestida com um traje maravilhoso chamado Corpo Astral. Já sabemos por nossos estudos Gnósticos que o Astral é um segundo organismo dotado de maravilhosos sentidos internos.

Os grandes clarividentes nos falam dos sete chacras e o Sr. Leadbeater os descreve com riqueza de detalhes. Estes Chacras são realmente os sentidos do Corpo Astral. Tais centros magnéticos se encontram em íntima correlação com as glândulas de secreção interna.
No laboratório do organismo humano existem sete ingredientes submetidos a um tríplice controle nervoso. Os nervos, como agentes da Lei do Triângulo, controlam o setenário glandular. Cada um dos três controles nervosos atua de forma diferente. Primeiro: o sistema nervoso Cérebro-Espinhal, agente das funções conscientes. Segundo: o sistema nervoso Grande Simpático, agente das funções subconscientes, inconscientes e instintivas. Terceiro: o sistema Parassimpático ou Vago, que colabora freando as funções instintivas, sob a direção da mente.

O sistema Cérebro-Espinhal é o Trono do Espírito Divino. O sistema Grande Simpático é o veículo do Astral. O Vago ou Para-Simpático obedece às ordens da Mente. Três raios e sete centros magnéticos são a base para qualquer Cosmos, tanto no infinitamente grande como no infinitamente pequeno. Assim como é em cima, é em baixo.

As sete glândulas mais importantes do organismo humano constituem os sete laboratórios controlados pela Lei do Triângulo. Cada uma das glândulas tem seu expoente em um chacra do organismo. Cada um dos sete chacras se encontra radicado no Corpo Astral. Os chacras se acham em íntima correlação com as sete Igrejas da medula espinhal. As sete Igrejas da espinha dorsal controlam os sete chacras do sistema nervoso Grande Simpático.

As sete Igrejas entram em intensa atividade com a subida do Kundalini ao longo do canal medular. O Kundalini mora nos elétrons, os sábios meditam nele, os devotos adoram-no e nos lares onde reina o Matrimônio Perfeito trabalha-se com ele praticamente.
O Kundalini é o fogo solar encerrado nos átomos seminais, substância eletrônica ardente do sol, que, quando é liberada, nos transforma em Deuses terrivelmente divinos.

Os fogos do coração controlam o ascenso do Kundalini pelo canal medular. O Kundalini se desenvolve, evolui e progride de acordo com os méritos do coração. O Kundalini é a energia primordial encerrada na Igreja de Éfeso. Esta Igreja se encontra dois dedos acima do ânus e dois dedos abaixo dos órgãos genitais. A Divina Serpente de fogo dormita dentro de sua Igreja, enroscada três vezes e meia. Quando os átomos solares e lunares fazem contato no tribeni, próximo do cóccix, desperta o Kundalini, a Serpente Ígnea de nossos mágicos poderes. Conforme sobe pelo canal medular, a serpente põe em atividade cada uma das sete Igrejas.

Os chacras das gônadas (glândulas sexuais) são dirigidos por Urano e a glândula Pineal, situada na parte superior do cérebro, é controlada por Netuno. Entre este par de glândulas existe uma íntima correlação e o Kundalini deve conectá-las com o Fogo Sagrado para chegar à Realização a fundo.

A Igreja de Éfeso é um Loto com quatro pétalas esplendorosas, possuindo o brilho de dez milhões de sóis. A Terra Elemental dos Sábios é conquistada com o poder desta Igreja.

O ascenso do Kundalini à região da próstata põe em atividade as seis pétalas da Igreja de Esmirna. Esta Igreja nos confere o poder de dominar as Águas Elementais da Vida e a felicidade de criar.

Quando a Serpente Sagrada chega à região do umbigo, podemos dominar os vulcões, porque o Fogo Elemental dos Sábios corresponde à Igreja de Pérgamo, situada no plexo solar. Este centro controla o baço, o fígado, o pâncreas, etc. O centro de Pérgamo tem dez pétalas.

Com a subida do Kundalini à região do coração entra em atividade a Igreja de Tiátira, com suas doze pétalas maravilhosas. Esta Igreja nos confere poder sobre o Ar Elemental dos Sábios. O desenvolvimento desse centro cardíaco confere inspiração, pressentimento, intuição e poderes para sair conscientemente em corpo astral, assim como poderes para colocar o corpo em estado de Jinas.

O segundo capítulo do Apocalipse versa sobre as quatro Igrejas inferiores do nosso organismo. Estes são os quatro centros conhecidos como o fundamental ou básico, o prostático, o umbilical e o cardíaco. Estudaremos agora os três centros magnéticos superiores mencionados no 3° Capítulo do Apocalipse. Estas três Igrejas superiores são a Igreja de Sardis, a de Filadélfia e a de Laodicéia.

O ascenso do Kundalini à região da laringe criadora confere-nos o poder de ouvir as vozes dos seres que vivem nos Mundos Superiores. Este chacra está relacionado com o Akasha puro. O Akasha é o agente do som. O chacra laríngeo é a Igreja de Sardis. Quando o Kundalini abre a Igreja de Sardis, então floresce em nossos lábios fecundos feito verbo. O chacra laríngeo tem dezesseis belas pétalas.

O desenvolvimento completo deste centro akáshico permite-nos conservar o corpo vivo mesmo durante as noites profundas do Grande Pralaya. Torna-se impossível a encarnação do Grande Verbo sem que a Serpente Sagrada haja despertado. O Akasha é precisamente o agente do Verbo. O Akasha está para o Verbo assim como os fios condutores para a eletricidade. O Verbo necessita do Akasha para sua manifestação.
O Akasha é o agente do som. O Kundalini é o Akasha. O Akasha é sexual. O Kundalini é sexual. Normalmente, o centro magnético onde vive o Kundalini é absolutamente sexual, como demonstra sua localização, pois está situado dois dedos sobre o ânus e dois dedos sob os órgãos genitais. Só é possível despertar o Kundalini e desenvolvê-lo totalmente com a Magia Sexual. 
Isto é o que incomoda os infra-sexuais, pois sentem-se super-transcendidos e odeiam mortalmente a Magia Sexual. Em certa ocasião, depois de escutar uma conferência que fizemos sobre Magia Sexual, alguém protestou dizendo que era assim que os gnósticos corrompiam as mulheres. Este indivíduo era um infra-sexual. O homem protestou porque nós ensinamos a Ciência da Regeneração e, no entanto, não protestou contra o sexo intermediário, nem contra as prostitutas, nem contra o vício do onanismo, nem afirmou que essa gente fosse corrompida. Protestou contra a Doutrina da Regeneração, mas não protestou contra a doutrina da degeneração. Assim são os infra-sexuais. Sentem-se imensamente superiores a todas as pessoas de sexo normal. Protestam contra a regeneração, mas defendem a degeneração.
Os infra-sexuais jamais podem encarnar o Verbo. Eles cospem no interior sagrado do Santuário do Sexo e a Lei os castiga, lançando-os ao abismo para sempre. O sexo é o Santuário do Espírito Santo.

Quando o Kundalini chega à altura do entrecenho, abre-se a Igreja de Filadélfia. Este é o Olho da Sabedoria. Neste centro magnético mora o Pai que está em segredo. O chacra do entrecenho tem duas pétalas fundamentais e muitíssimas radiações esplendorosas. Este centro é o trono da mente. Nenhum verdadeiro clarividente diz que o é. Nenhum verdadeiro clarividente diz: “eu vi”. O clarividente Iniciado diz: “nós conceituamos".

Todo clarividente necessita de Iniciação. O clarividente sem Iniciação está exposto a cair em erros muito graves. O clarividente que vive contando suas visões a todo o mundo está exposto a perder sua faculdade. O clarividente falador pode também perder o equilíbrio mental. O clarividente deve ser calado, humilde e modesto. O clarividente deve ser como uma criança.

Quando o Kundalini chega à altura da glândula Pineal, abre-se a Igreja de Laodicéia. Essa flor de Loto tem mil pétalas resplandecentes. A glândula Pineal é influenciada por Netuno. Quando esta Igreja se abre, recebemos a polividência, a intuição, etc. A Pineal relaciona-se intimamente com os chacras das gônadas ou glândulas sexuais. Quanto maior o grau de potência sexual, tanto maior o grau de desenvolvimento da glândula Pineal; quanto menor o grau de potência sexual, tanto menor o grau de desenvolvimento da glândula Pineal. Urano nos órgãos sexuais e Netuno na glândula Pineal se unem para levar-nos à realização total.

As escolas de regeneração (tão mortalmente odiadas pelos infra-sexuais) ensinam-nos a trabalhar praticamente com a ciência de Urano e de Netuno.
O Caminho Tau inclui três caminhos, sendo este o quarto. Muita coisa se disse sobre os quatro caminhos. Nós, os gnósticos, percorremos o quarto caminho com plena consciência. Durante o ato sexual transmutamos os instintos brutais do corpo físico em vontade, as emoções passionais do astral em amor, os impulsos mentais em compreensão; e nós, como espíritos, realizamos a Grande Obra. Assim percorremos os quatro caminhos na prática. Não necessitamos tornar-nos faquires para percorrer o primeiro caminho, nem monges para o segundo, nem eruditos para o terceiro. A Senda do Matrimônio Perfeito nos permite percorrer os quatro caminhos durante o ato sexual.
Do versículo primeiro até o sétimo, o Apocalipse fala do centro coccígeo. Neste centro está a Igreja de Éfeso. Neste centro criador a Serpente Ígnea se acha enroscada três vezes e meia. Quem a despertar e a fizer subir por sua medula espinhal, receberá a Espada Flamígera e então entrará no Éden.

A redenção do homem se encontra na Serpente, porém devemos estar em guarda contra a astúcia da Serpente. Deve-se contemplar o fruto proibido e aspirar o seu aroma, mas recorda o que disse o Senhor Jeová: “se comeres deste fruto morrerás”. Devemos gozar a felicidade do amor e adorar a mulher. Um belo quadro nos arrebata, uma bela música nos leva ao êxtase, mas uma bela mulher adorável nos dá anseios de possuí-la, porque ela é a viva representação de Deus-Mãe. O ato sexual com a adorada tem suas delícias indiscutíveis. O gozo sexual é um direito legítimo do homem. Goza a felicidade do amor, mas não derrames o sêmen. Não cometas esse horrível sacrilégio. Não sejas fornicário. A castidade nos converte em deuses. A fornicação nos converte em demônios.

Krumm Heller disse: “Os setianos adoravam a Grande Luz e diziam que o Sol, em suas emanações, era substância divina, a qual forma ninho em nós e constitui a Serpente”. Os Nazarenos disseram: “todos vós sereis deuses, se sairdes do Egito e passardes o Mar Vermelho”. Krumm Heller, em sua "Igreja Gnóstica", nos conta que essa seita gnóstica tinha como objeto sagrado um Cálice, no qual tomavam o Sêmen de Benjamim, que segundo Huiracocha era uma mistura de vinho e água. O grande Mestre Krumm Heller disse que sobre os altares dos Nazarenos jamais faltava o símbolo sagrado da serpente sexual. Realmente “a força, o poder que acompanhou Moisés foi a serpente sobre a vara que depois se converteu na própria vara. Foi ela a que devorou as outras serpentes e a que falou a Eva”.
O sábio Huiracocha, em outro parágrafo de sua obra imortal intitulada “A Igreja Gnóstica”, diz: “Moisés no deserto mostrou a seu povo a serpente sobre a vara e disse-lhes que quem se aproveitasse dessa serpente nada sofreria durante sua viagem”. Todo o poder maravilhoso de Moisés residia na Serpente Sagrada do Kundalini. Moisés praticou muitíssima Magia Sexual para levantar a Serpente sobre a vara. Moisés teve mulher.
Na noite aterradora dos séculos passados, os austeros e sublimes hierofantes dos Grandes Mistérios foram os zelosos vigilantes do Grande Arcano. Os Grandes Sacerdotes haviam jurado silêncio e a chave da Arca da Ciência se mantinha oculta aos olhos do povo. Só os Grandes Sacerdotes conheciam e praticavam a Magia Sexual. A Sabedoria da Serpente é a base dos Grandes Mistérios. Esta se cultivou nas Escolas de Mistérios do Egito, Grécia, Roma, Índia, Pérsia, Tróia, México Asteca, Peru Incaico, etc... 
Krumm Heller conta-nos que: “no Canto de Homero a Demeter, encontrado numa biblioteca russa, vê-se que tudo girava ao redor de um fato fisiológico-cósmico de grande transcendência”. Nesse arcaico canto daquele homem-deus, que cantou a velha Tróia e a cólera de Aquiles, vê-se claramente a Magia Sexual servindo de pedra angular do Grande Templo de Elêusis. O baile ao nu, a música deliciosa do Templo, o beijo que embriaga, o feitiço misterioso do ato secreto, faziam de Elêusis um paraíso de deuses e de deusas adoráveis. Então ninguém pensava em “porcarias”, mas sim em coisas santas e sublimes.
Ninguém sequer pensava em profanar o Templo. Os casais sabiam retirar-se a tempo para evitar o derramamento do Vinho Sagrado.

No Egito aparece Osíris, o princípio masculino, frente a Ísis, o eterno e adorável feminino. Neste país ensolarado de Kem, o Senhor de Toda Perfeição trabalhou também com o Grande Arcano A.Z.F., precisamente quando se encontrava em seu período de preparação iniciática, antes do começo de sua missão. Assim está escrito nas memórias da Natureza.

Na Fenícia, Hércules e Dagon se amam intensamente. Em Ática, Plutão e Perséfone também se unem pelo amor e, como diz o Dr. Krumm Heller, entre eles já se fala claramente do falo e do útero. Esse é o Lingam-Yoni dos Mistérios Gregos.
Os Grandes Sacerdotes do Egito, velhos herdeiros da sabedoria arcaica cultivada pelos Atlantes, representaram o Grande Deus Íbis de Thot com o membro viril em estado de ereção, e conta Krumm Heller que sobre este falo ereto de Íbis de Thot, escreveu-se a seguinte frase: “Dador da Razão”. Junto à inscrição resplandecia gloriosamente uma flor de lótus.
Os velhos sábios do Egito Sagrado gravaram em seus muros milenares o símbolo divino da cobra sexual.
O segredo da Magia Sexual era incomunicável. Esse é o Grande Arcano. Os infelizes que divulgavam o segredo indizível eram condenados à pena de morte. Eram levados a um pátio calçado de pedras e, diante de um muro milenar recoberto de peles de crocodilo e de hieróglifos indecifráveis, cortavam-lhes a cabeça, arrancavam-lhes o coração e suas cinzas malditas eram lançadas aos quatro ventos. 
Surge agora em nossa memória o grande poeta francês Cazotte, que morreu na guilhotina durante a Revolução Francesa. Este homem profetizou, em célebre banquete, sua própria morte e a sorte fatídica que aguardava certo grupo de nobres iniciados que projetavam a divulgação do Grande Arcano. A uns profetizou a guilhotina, a outros o punhal, o veneno, o cárcere ou o desterro. Suas profecias cumpriram-se com absoluta exatidão. Na Idade Média, todo aquele que divulgasse o Grande Arcano morria misteriosamente, ora pelas camisas de Neso, ora pelos sabonetes envenenados que chegavam à porta do condenado como presente de aniversário, ou por ramalhetes perfumados, ou pelo punhal.

O Grande Arcano é a chave de todos os poderes e a chave de todos os Impérios. Os poderes da Natureza desencadeiam-se contra os atrevidos que intentam dominá-la. Os grandes hierofantes escondem o seu segredo e os Reis Divinos não entregam a nenhum mortal a chave secreta de seu poder. Desgraçado, infeliz do mortal que, depois de receber o segredo da Magia Sexual, não sabe aproveitá-lo; a este mais valeria não haver nascido, melhor seria que pendurasse uma pedra de moinho no pescoço e se lançasse ao fundo do mar. A realização cósmica do homem não interessa à Natureza e é até contrária a seus interesses. Por isso a Natureza se opõe com todas as suas forças ao atrevido que quer dominá-la.

É oportuno recordar uma anedota curiosa. “Em certa ocasião passeava pela praia do mar um pobre guarda aduaneiro. De repente algo chamou a sua atenção - viu nas areias açoitadas pelas ondas embravecidas do Caribe um objeto de couro. O homem aproximou-se do objeto e com grande surpresa viu que se tratava de uma pequena valise de cor negra. Imediatamente dirigiu-se à Capitania do Porto e entregou aquele objeto ao seu superior. Cumprida a sua missão, foi-se para sua casa. Na manhã seguinte, quando veio para o trabalho, o oficial superior, cheio de grande ira, entregou-lhe uma moeda de vinte centavos e lhe disse: “Imbecil, isto é o que mereces, toma esta moeda para que te enforques, não mereces viver. Compra com esta moeda uma corda e enforca-te numa árvore. Veio-te a sorte e a desprezaste. A valise que me entregaste continha um milhão de dólares. Vai-te daqui! Fora daqui, imbecil. Não mereces viver”. Realmente, essa é a sorte fatal que aguarda aqueles que não sabem aproveitar o preciosíssimo tesouro do Grande Arcano. Esses não merecem viver. Jamais na vida se havia ensinado o Grande Arcano da Magia Sexual e agora o estamos divulgando. Infelizes daqueles que, depois de acharem em seu caminho o tesouro dos Reis, desprezam-no como o guarda do exemplo. O tesouro do Grande Arcano vale ainda mais que a fortuna encontrada pelo guarda. 

Desprezar isto é realmente coisa de imbecil.

Para despertar o Kundalini, se necessita da mulher. Porém, devemos advertir que o Iniciado deve praticar Magia Sexual apenas com uma só mulher. Aqueles que praticam Magia Sexual com diversas mulheres cometem o delito do adultério. Estes não progridem nesses estudos. Infelizmente, existem certos indivíduos que usam a Magia Sexual como um pretexto para seduzir mulheres. Estes são os profanadores do Templo. Semelhante classe de homens cai inevitavelmente na Magia Negra. 

Advertimos às mulheres que se cuidem muito desses perversos personagens da sexualidade.
Existem também muitas mulheres que, com o pretexto de realizar-se a fundo, se ajuntam com qualquer homem. Essas mulheres querem é saciar seus desejos passionais. O mundo é sempre o mundo, e desde que estamos divulgando o Grande Arcano têm aparecido, como era de se esperar, os porcos que atropelam a doutrina e morrem depois envenenados pelo pão da sabedoria. O culto da Magia Sexual só pode ser praticado entre marido e mulher. Esclarecemos isto para evitar seduções e raptos, banquetes carnais e santas luxúrias passionais.

A força sexual é uma arma terrível. Os cientistas não conseguiram descobrir a origem da eletricidade. Nós afirmamos que a causa da energia elétrica deve-se buscar na força sexual universal. Esta força não só reside nos órgãos da sexualidade como também em todos os átomos e elétrons do universo. A luz do sol é um produto da sexualidade. Um átomo de hidrogênio une-se sexualmente a um átomo de carbono para produzir luz solar. O hidrogênio é masculino e o carbono é feminino. Da união sexual de ambos resulta a luz solar. São muito interessantes os estudos sobre os processos do carbono. Estes processos são a gestação da luz.

A causa causorum da eletricidade deve ser buscada no fogo serpentino universal. Este fogo mora nos elétrons; os sábios meditam nele, os místicos adoram-no e aqueles que seguem a Senda do Matrimônio Perfeito trabalham praticamente com ele.

A força sexual em mãos de magos brancos e de magos negros é uma arma terrível. O pensamento atrai para a espinha dorsal o fluido sexual a fim de depositá-lo em sua bolsa respectiva. Com o derrame fatal desse fluido perdem-se bilhões de átomos solares. O movimento de contração sexual que se segue ao derramamento do sêmen recolhe dos infernos atômicos do homem bilhões de átomos satânicos, que substituem os átomos solares perdidos. É dessa maneira que formamos o diabo em nós. Quando refreamos o impulso sexual, fazemos o fluido maravilhoso regressar ao corpo astral, multiplicando seus esplendores inefáveis. É assim que formamos o Cristo em nós. Através da energia sexual podemos formar dentro de nós o Cristo ou o Diabo.

O Grande Mestre, em sua qualidade de Cristo Cósmico encarnado, disse: “Eu Sou o pão da vida, Eu Sou o pão vivo, se alguém comer esse pão viverá eternamente; o que comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna e eu o ressuscitarei; o que comer a minha carne e beber o meu sangue mora em mim e eu nele”.

Cristo é a Alma Solar, o espírito vivente do sol que, com sua vitalidade, faz crescer a espiga do trigo. É no grão, na semente que se acha encerrada toda a potência do Logos Solar. Em toda semente vegetal, animal ou humana se acha encerrada, como num estojo precioso, a substância cristônica do Logos Solar. Fazendo retornar a energia criadora para dentro e para cima, germina, nasce dentro de nós um menino maravilhoso. Um Corpo Astral Cristificado. Esse veículo nos confere a imortalidade. Esse é o nosso Crestos Mediador. Com esse veículo chegamos ao Pai que está em segredo. “Ninguém chega ao Pai a não ser por Mim”, disse o Senhor de toda perfeição.

O fantasma astral que os mortais possuem não é mais que um esboço de homem, nem sequer tem unidade. Esse fantasma de fachada é guarida de demônios e de toda ave suja e desprezível. No interior desse fantasma astral vive o Eu (o Diabo). Este é legião infernal. O Eu é legião. Assim como um corpo se compõe de muitos átomos, assim também o Eu se compõe de milhões de “eus”. Inteligências diabólicas, demônios repugnantes que brigam entre si. Quando uma pessoa morre, torna-se isso: Legião. A pessoa em si mesma se torna pó. Só continua existindo essa “Legião de Eus”. Os clarividentes costumam encontrar os desencarnados vestidos de maneira diferente e simultaneamente em lugares diferentes. A pessoa parece haver se tornado muitas pessoas. Isso é legião. 

No entanto, quando fazemos nascer em nós um Corpo Astral Crístico, continuamos depois da morte vivendo nesse corpo sideral. Então somos realmente imortais. Todos aqueles que possuem um Corpo Astral Cristificado se encontram depois da morte com a consciência desperta. Os desencarnados comuns e correntes vivem depois da morte com a consciência adormecida. A morte é na realidade o regresso à concepção fetal. A morte é o regresso à semente. Todo aquele que morre regressa novamente ao ventre materno, totalmente inconsciente, adormecido. As pessoas nem sequer têm a alma encarnada. A alma das pessoas está desencarnada.

As pessoas têm encarnado apenas um embrião de alma. Os malvados não têm nem sequer esse embrião de alma. Só possuindo um Corpo Astral Cristificado é que podemos encarnar a alma. As pessoas comuns e correntes são somente veículos do Eu. O nome de cada mortal é Legião.

Só com a Magia Sexual podemos fazer nascer em nós o Astral Crístico. A tentação é fogo. O triunfo sobre a tentação é Luz. O desejo refreado fará subir o líquido astral para cima, para a glândula Pineal, e assim nasce em nós o Adão-Cristo, o Super-Homem.

Pitágoras, o Mago dos Números


O Mundo da Intuição é o Mundo da Matemática. O Gnóstico que queira se elevar ao Mundo da Intuição deve ser Matemático ou pelo menos ter noções de Aritmética.

Pitágoras nasce no ano 580 A.C., na Grécia, na Ilha de Samos. Ainda muito jovem é atraído pela Religião Olímpica, em especial pelo culto a Apolo. Mas nem Homero com suas sagas nem os rituais da sua religião acalmam sua sede de conhecimentos.

Buscando a Sabedoria, interna-se na Ásia Menor visitando a Ferécides, um dos 7 Sábios da antiguidade, de quem recebe grandes conhecimentos. Conhece Orfeu e através dos ritos iniciais de Deméter e Dionísio vislumbra uma nova dimensão, que o conduz ao Divino com grande intensidade.

Continua sua busca pela Babilônia, onde conhece a Astronomia, na Pérsia conhece a Doutrina de Ahura Mazda, no País ensolarado de Kem (Egito), com os sacerdotes de Sais e de Heliópolis, assimila conhecimentos Esotéricos e Matemáticos e ao mesmo tempo se aprofunda bastante na Geometria, aumentando assim seu conhecimento e entendimento sobre a estrutura do Divinal, e na Índia estuda a Doutrina da Transmigração das Almas, a qual ele chamou: Metempsicose.

Fala sobre o Karma e declara de forma coerente a imortalidade da Alma: "O Homem leva em seu interior uma parte da Energia Primordial e Divina que sobrevive à morte do corpo no Mundo Astral, para que de acordo com o comportamento ético da sua vida anterior volte a reencarnar-se em outro corpo e viver outra existência, e assim sucessivamente até o retorno final ao Divino". Este pensamento revoluciona ao Paganismo e influi ao Cristianismo Primitivo.

A Psiche (psique), segundo Pitágoras "é o intermediário entre dois mundos: entre o Material e o Espiritual. A Energia Vital que se aloja e habita na matéria".

Defende a existência de Elementais e Gênios, de Divindades intermediárias como os Deuses Olímpicos, assim como uma Divindade Superior como princípio e fim de todas as coisas...

Esta concepção filosófica da Natureza e da Divindade, do homem e do Cosmos, era apresentada sempre desde o ponto de vista da Matemática, porque para Pitágoras tudo era explicável com uma equação.

Para Pitágoras, os números são princípios absolutos na Aritmética, princípios aplicados na Música, magnitudes em estado de repouso na Geometria, magnitudes em movimento na Astronomia, servindo simultaneamente como medidas que determinam a natureza das coisas e expoentes que as dão a conhecer. dizia Pitágoras; "No princípio era o Verbo", disse João, o vidente de Patmos.

A Doutrina da Música Geométrica tem como fundamento o postulado anterior e explica a geração dos intervalos e os nodos por meio da relação de distâncias harmônicas que existem entre as notas musicais e os planetas do Sistema Solar correspondendo o Do-Re à distância da Terra à Lua, Re-Mi, Lua-Vênus e assim sucessivamente. Sendo assim, o Sistema Solar (e em general todo o Universo) é um grande pentagrama musical, onde cada planeta emite sua nota particular com uma grande gama de sons. Isto é o que chamou Pitágoras, e que servia também como um processo iniciático dentro das Escolas Pitagóricas: "A Música das Esferas".

Enfim, os Ensinamentos de Pitágoras tiveram uma grande difusão e, ainda em nossos dias, seguem sendo básicos, ainda que muitos não tenham sido capazes de compreender esta Filosofia Pitagórica.

Invocações e Evocações: Vozes Entre os Véus

Desde as eras mais remotas da humanidade, o ser humano buscou estabelecer contato com o invisível. As fogueiras dos xamãs, os altares dos ma...