Gnose ou Gnosis (do Γνωσις gnosis: 'conhecimento superior, 'conhecimento interno') é um estado mental específico, que permite o contato com outros planos não físicos, como o plano etérico e o plano astral (ou espiritual), que pode ser alcançado por métodos de transe, assim como meditação ou privação de sentidos, além de métodos de hiper-excitação, que pode ser utilizado para realizar reflexões filosóficas, ou rituais mágicos e religiosos.
Segundo o Gnosticismo cristão (de Γνωσις gnostikos: aquele que tem o conhecimento), a Gnose tem um sentido mais epistemológico, e este sistema a evoca como o conhecimento verdadeiro e primordial, o mais profundo dos conhecimentos humanos.
“Gnose, ou Gnosis, é o substantivo do verbo gignósko, que significa conhecer. Gnose é conhecimento superior, interno, espiritual, iniciático. No grego clássico e no grego popular, koiné, seu significado é semelhante ao da palavra epistéme. Em filosofia, epistéme significa “conhecimento científico” em oposição a “opinião”, enquanto gnôsis significa conhecimento em oposição a “ignorância”, chamada de ágnoia. A gnose é um conhecimento que brota do coração de forma misteriosa e intuitiva. É a busca do conhecimento, não o conhecimento intelectual, mas aquele conhecimento que dá sentido à vida humana, que a torna plena de significado porque permite o encontro do homem com sua Essência Eterna e maravilhosa”.
Gnose vem da palavra grega gnosis (γνῶσις) “conhecimento” significando o conhecimento direto sobre o divino que por si só provê a salvação (assim conquistando o codinome de “Alta Teologia”). Para os gnósticos antigos, a gnosis existia no âmbito da cosmologia, do mito, da antropologia e da prática usada dentro de seus grupos. Assim, a gnose não era apenas a iluminação, mas também viria acompanhada por uma compreensão — como expressado nos Resumos de Teódoto de Bizâncio — sobre quem somos, o que nos tornamos, onde estamos, para onde fomos lançados, para onde estamos indo, do que estamos nos libertando, o que é o nascimento e o que é o renascimento.
A Gnose tem vários conceitos e interpretações ao longo da História, mas no Caoísmo tomou o sentido de um estado de consciência que gera ligação direta entre a imensidão do inconsciente e os fios que tecem o destino do universo. Mesmo assim, seu termo é muito mais reconhecido como o substantivo do Gnosticismo, que é uma interpretação cósmica do cristianismo e uma reinterpretação de seus termos em uma visão que sincretiza tradições e transforma eventos e elementos em símbolos de significação oculta. A gnose, portanto, se diferencia profundamente do estado natural de pensamento. Neste estado, a mente não é influenciada pelas preocupações ordinárias, e surgem, além de sensações indescritíveis, insights e percepções totalmente originais e despidas da censura do senso de sobriedade.
Auto Penitência
Como diz Peter J. Carroll, este é “o velho método monástico”. Seria, em sua classificação dual, um método inibitório, onde desejos são suprimidos para gerar um estado de máxima ‘pureza’ mental e espiritual. Mas também pode ser entendido como um método excitatório, quando a privação gera muito mais desconforto do que conforto. A autopenitência pode ser tanto flagelo infligido a si como uma espécie de sacrifício ou teste, quanto como uma punição. Pode ser jejum ou exclusão, solidão voluntária e voto de silêncio.
Apesar de um método dispendioso, ele pode gerar estados de gnose lendários, como as míticas visões alcançadas por beatas e sacerdotes católicos, experiências de sadhus indianos em contato com deuses e entidades, insights e percepções geniais como as concepções do virgem e casto Isaac Newton. Miyamoto Musashi, samurai mais lendário da história do Japão, vivenciou uma jornada invencível, mas só reconheceu a gnose e a percepção plenas quando se isolou numa caverna, trazendo de volta o livro do cinco anéis, até hoje referência em estratégia e ações efetivas. A auto penitência pode ser muito útil quando os recursos são escassos e até mesmo quando a pessoa tende a um comportamento mais auto-crítico e pessimista. É um tipo muito eficiente de técnica para domínio próprio e mudança de padrões, embora não combine muito com os métodos mágicos contemporâneos.
Psicotrópicos ou Quimiognose
Segundo Peter J. Carroll, um dos métodos mais eficientes para o alcance da gnose, sem dúvidas, é o uso de psicoativos. Existe um sem número delas, e cada uma causa um tipo diferente de efeito que pode ou não estimular o usuário no alcance do seu estado de gnose. Existem enteogenos com características mais inibitórias, como a cannabis, ao gerar torpores, ou mais excitantes, como enteógenos, gerando explosões sinápticas e visões lancinantes, e como a cocaína e a ayahuasca, que geram uma descarga de serotonina e outras substâncias.
Uma das simplificações que Peter J. Carroll faz para identificação do estado de gnose é o não pensamento, que apesar de ser importado e subvertido da noção zen-budista de não pensamento, é facilmente percebido em um transe por drogas, já que muitas vezes a sensação física pode tomar por inteiro a experiência mental e eliminar o diálogo interno, deixando somente imagens, conceitos abstratos e emoções indescritíveis. O perigo da Quimiognose está em confundir a simples sensação e entusiasmo com a gnose em si, ignorando a natureza de elevação e de percepção consciencial, e também gerar vícios e overdoses. Apesar de todos estes riscos, como parte da experiência milenar humana, este é um meio de alcance deste estado alterado de consciência.
Segundo Terence Mckenna, um dos maiores estudiosos da experiência psicodélica no mundo, não há gnose mais poderosa do que a induzida por enteógenos[6], mas diferente de um transe forçado por dança e sons, que Carroll metaforiza como “passagem pela ponta da agulha”, é uma experiência semelhante a explodir a parede que separa o consciente do inconsciente, fazendo emergir um oceano de percepções, às vezes intensas demais para o neófito ou o desavisado.
Meditação
Talvez a mais antiga forma de entrar no estado de gnose, a meditação faz parte da natureza humana desde quando o primeiro de nós se concentrou em alguma coisa até que sua mente se ligasse de alguma forma com uma percepção superior à que estava habituado. A meditação engloba desde a reflexão natural, até os estados mais profundos de introspecção, onde a mente está mais acordada do que na vigília, e o corpo mais dormente que o sono REM.
A técnica, como é conhecida hoje, tem sua origem na milenar Yoga do Hinduísmo, que, juntando posturas físicas com respirações, é capaz de gerar os efeitos da meditação. Na Grécia Antiga a meditação tinha uma conotação de reflexão pura, um foco extremo na concentração sobre questões filosóficas, que geravam estados de gnose, materializando conceitos que norteiam até hoje a coluna vertebral da Filosofia clássica. Mas a meditação, sem dúvidas, mais emblemática, é a do budismo. Sidarta Gautama trouxe a tradição principal que forma o budismo raiz hoje, e ele se ramificou, após sua morte, em centenas de outras doutrinas, que se amalgamaram com as culturais locais onde foi propagada, como o budismo tibetano com elementos da cultura xamânica Bön do Tibete, ou o zen budismo com elementos do taoísmo e confucionismo no Japão. O budismo prega principalmente a libertação da ignorância e a apoteose consciencial pelo Samadhi e o Nirvana, saindo do ciclo de nascimento e morte, o Samsara. E isso se dá por meio da meditação e da compreensão da natureza da realidade.
Os 84 mil ensinamentos de passados por Buda, assim como as técnicas de Padsambava no Tibete (segundo a tradição tibetana, o monge, vindo da China, ao propagar o Dharma no país, ensinou cerca de 100 mil formas de iluminação por meio de meditações variadas), ou ainda de Bodhidharma (criador do zen budismo) no Japão, estão entre as fontes principais do que se conhece por meditação, tendo sido importadas para o Ocidente com uma roupagem terapêutica (mindfullness).
A meditação consiste basicamente em uma união de postura e respiração, sendo as mais tradicionais a lótus completa ou meia lótus, e a respiração diafragmática. No Zen Budismo, existe o Zazen, que é uma meditação sobre o vazio, que objetiva o máximo de domínio sobre a mente e o foco da atenção sobre um ponto de vazio conceitual que se expande até trazer um compreensão absoluta da natureza da realidade. A meditação tibetana tem característica Bön no sentido de unir posturas com mantras, orações e leituras de textos sagrados. A meditação moderna tem expoentes como Osho, que apesar das polêmicas, criou uma série de técnicas de meditação ativa que se assemelham muito com o xamanismo tradicional, e objetivam o mesmo domínio sobre a mente com técnicas de exaustão e euforia. Nas escolas Theravada (pequeno veículo e um dos dois ramos iniciais da cisão do budismo tradicional) existem técnicas de Tantra e canalizações energéticas para auxiliar na meditação. Na escola Maaiana (grande veículo), o foco principal é na meditação pura, Vipassana, aprendida e ensinada por Buda, que inclui diferenciações na postura mental como a estabilização (domínio da mente, afastamento da noção de pessoalidade e identificação com os pensamentos) ou a reflexão (focar os pensamentos em conceitos a serem compreendidos e assimilados no nível mais profundo, como a meditação sobre a morte, sobre a compaixão, etc).
A meditação mágica pode ter uma série de roupagens, desde mantralizações, respirações hiperventiladas, visualizações mentais para abertura de chakras ou para objetivos mágicos, como criação de campos de força, exteriorização energética, ataque ou defesa astral, etc. Pode também se dar mediante concentração em um símbolo ou conceito, ou concentração no vazio. O estado de Gnose alcançado com a meditação é um dos mais sólidos, por trazer consigo uma série de modificações profundas na psique e no comportamento.
Usos da Gnose
Como comentado, a técnica de Gnose, alcançada por qualquer meio, pode ser utilizada para variadas finalidades, onde é possível realizar projeções astrais mais facilmente, assim como visualização, oráculos, intuição, telepatia, ativação e carregamento de sigilos e servidores, simples apreensão de conhecimentos ou reflexão sobre conceitos.