Para Heródoto (II Livro de História, cap. CIX), é grega a origem da palavra geometria, composta de gê, “terra”, e metron, “medida”, portanto, a “medida da terra”, donde geómetra significar agrimensor ou “aquele que mede a terra”.
Através da relação com os símbolos geométricos, o geómetra, que em princípio será também matemático, contempla o Magnum Misterium que é o Grande Projecto do Universo, apreende as suas leis, princípios e inter-relacionamento das formas. As formas universais são sistematizadas num complexo geométrico onde cada figura tem a sua interpretação matemática e filosófica, sendo assim aplicadas nos projectos de Arquitectura Sagrada e Arte Sacra, sempre com as “divinas” proporções para que o Homem reflicta o Universo, e vice-versa. Geralmente aceita-se que a Geometria Sagrada e as suas relações matemáticas, harmónicas e proporcionais, também podem ser encontradas na Música, na Luz e na Cosmologia. Esse sistema de valores foi encontrado até mesmo entre os seres humanos da Pré-História, nas culturas megalítica e neolítica, donde alguns consideram-no como uma cultura ancestral da condição humana.
A Geometria Sagrada é a ciência indispensável presente na edificação de imóveis com fins sagrados, destinados a interrelacionar o visível e o invisível, o Terreno e o Divino, como sinagogas, igrejas e mesquitas e pagodes, intervindo igualmente na construção interior desses espaços, sobretudo nos altares e tabernáculos. Herança da cultura greco-egípcia exportada para a antiga Roma, daí prosseguindo até à Idade Média europeia (séculos V-XV), durante essa inspirou a criação das arquitecturas românica (domínio do cúbico, fixação, arte de fraborum) e gótica (domínio do triangular, assunção, arte de argot) das catedrais, geometrias essas incorporadas ao simbolismo condizente com a mentalidade sagrada do tempo em que surgiram: para o românico, a meditação no aqui e agora, clausural; para o gótico, a contemplação no será e porvir, claustral.
Diz-se ter sido Pitágoras (Samos, c. 570 a.C. – Metaponto, c. 497 a.C.) o fundador do sistema de Geometria Sagrada na Grécia, na sua Escola de Crotona. Este filósofo e matemático grego terá ido buscar esses conhecimentos ao Egipto e à Índia, levando-os para a Grécia. Foi a partir do valor 1.618, Número de Ouro da Proporção Áurea, aplicado às formas geométricas dos cinco sólidos básicos, que Pitágoras criou o método matemático universalmente conhecido como Geometria Pitagórica.
Com efeito, o Teorema de Pitágoras evoca de imediato o Número de Ouro, antes, Número Perfeito, resumido no Três, este que, como reza a sabedoria popular, “é o valor com que Deus se fez”. É Número de Ouro no sentido exclusivamente místico, simbólico na tripartição da doutrina pitagórica em Nous – Nómeno – Fenómeno, no que Três designa a Sabedoria, a Manifestação e a Realização. Por isso, Pitágoras chamou o Três de Número de Ouro, por “reinar em toda a parte”, sendo o Um o seu princípio. Para consolidar esse axioma da sua filosofia, apresentou o Nous, a Mente Universal, o Nómeno como a essência da Mente que se manifesta no Fenómeno, e este, o Fenómeno, como o aspecto sensível e visível, mas também ilusório, da Realidade – Nous.
O número três é universalmente aceite como fundamental no desfecho da manifestação universal da substância, da consciência e da vida. Motivo de em todas as tradições espirituais e religiosas, e até nos hodiernos conceitos científicos como teoria – tese – antítese, estar presente o simbolismo desse algarismo, pelo que em todas as doutrinas e filosofias se reflecte nas tríades correspondentes às forças primordiais expressivas das Hipóstases do Deus ou Consciência Suprema – Nous. Desta maneira, o Três é Número de Ouro no campo místico, sagrado, mesmo obviamente não o sendo no plano nos planos da matemática e geometria, contudo continuando a ser a base da Proporção Dourada ou Regra d´Ouro [1].
Chama-se Número de Ouro, Secção de Ouro ou Proporção Dourada a uma relação particular de modo que a parte menor esteja em relação à maior, assim como a maior em relação ao todo. A isto a Geometria chama de “divisão de uma recta em média e extrema razão”.
Na prática, não se usa o valor numérico do Número de Ouro. O traçado geométrico é mais preciso, ele evita o erro que sempre resulta de uma relação de medidas. A recta AB da Proporção Dourada a ser dividida constitui o “todo”; o comprimento AC a “maior” (parte) e o comprimento CB a “menor” (parte). Pode-se, portanto, considerar três casos:
1.º Determinar a maior e a menor conhecendo o todo.
2.º Determinar a menor conhecendo a maior.
3.º Determinar a maior conhecendo a menor.
Eis porque sem 3 não haveria Teorema Pitagórico nem Proporção Dourada, ademais sendo 7 (número de iniciação ao acto de criar) a soma do duplo 3 (3+3 = 6) unido (1) pela Mónada pitagórica, Nous, assinalada no f algébrico. Isto não esquecendo o valor 137 como o número cabalístico da própria Divindade, o Logos que sendo 1 manifesta-se como 3 Hipóstases através de 7 estados de consciência.
É igualmente da autoria de Pitágoras a conclusão sobre a “charada” geométrica da Quadratura do Círculo, este como “Espírito” inscrevendo-se no interior do quadrado da “Matéria” onde incarna, podendo processar-se o inverso como Circulatura do Quadrado, figuração do “Espírito” animando e accionando a “Matéria”. É também da sua autoria o Teorema Trigonométrico, descrito imprecisamente como “Quadragésima sétima Proposição de Euclides”, ou seja, “o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos”.
Em números, o Teorema Trigonométrico é assim traduzido:
32 + 42 = 52 ou 9 + 16 = 25.
Segundo os antigos alquimistas, essa Proposição servia-lhes de base para a proporção correcta dos três elementos fundamentais – Sal ou Nitro, Mercúrio ou Azougue e Enxofre ou Sulfur, simbólicos, respectivamente, do Corpo, Alma e Espírito da Mater Natura – entrando na formação da Pedra Filosofal, equivalente da Iluminação Filosófica. Plutarco escreveu que após essa Proposição, poderia dizer-se: “A Natureza Universal na sua mais profunda e perfeita concepção, pode ser considerada como feita de três coisas: de Inteligência, de Matéria e do que resulta dessas duas, que na língua grega é chamada Cosmos”.
A partir dessa concepção geométrica e da métrica dos Versos Áureos, Pitágoras contribuiu para se propalar a explicação cosmológica segundo a convergência dos opostos: o limitado ou material (Prakriti, que não se opõe à divisão por dois, ordem par de natureza imperfeita) e o ilimitado ou espiritual (Purusha, que se opõe à divisão por dois, ordem ímpar de natureza perfeita), completam-se reciprocamente[2]. Daí porque da oposição entre os contrários, entre o finito e o infinito, entre a unidade e a multiplicidade, resulta a polaridade inerente a todas as manifestações fenoménicas.
Dando formas às manifestações fenoménicas, Pitágoras serviu-se de cinco sólidos (tetraedro, hexaedro, octaedro, dodecaedro, icosaedro), sobre os quais Platão veio depois a filosofar, passando a chamar-se cinco sólidos platónicos [3]. Pitágoras terá se inspirado no mito grego dos brinquedos do Menino-Deus Dionísio, ou sejam, a cesta, os dados, o pião, a bola e o espelho. Transpondo esses para o plano cosmológico, tem-se: a cesta representa o Universo; os dados os cinco sólidos platónicos expressivos dos elementos naturais (éter, ar, fogo, água, terra); o pião o átomo primordial da Matéria; a bola o Globo da Terra; finalmente, o espelho que reflecte a toda a Obra da Criação do Supremo Geómetra (Dionísio), a manifestação universal da Vida e da Consciência, de Deus ao Homem e vice-versa.
Cada um dos cinco sólidos platónicos também representa uma energia planetária que se encadeia através da forma num elemento natural. Assim, o dodecaedro é tradicionalmente relacionado a Vénus e à quintessência natural, o éter, expresso no zimbório do templo; o octaedro a Saturno e ao ar, representado no cruzeiro do templo; o tetraedro a Marte e ao fogo, assinalado nas aberturas do templo, por onde jorra a luz; o icosaedro à Lua e à água, que estabelece a harmonia das formas no esquisso do templo, ordenando as linhas de ligação entre altares e colunas; o hexaedro fixa o Sol no solo, representa o elemento terra, consequentemente, delineia o traçado da base ou chão do templo.
Esse é o propósito principal da Geometria Sagrada: o de expor por formas perfeitas e cálculos matemáticos justos a Perfeição Universal, e através da Arquitectura Sagrada ir encadear, acasalar ou unir a Multiplicidade com a Unidade no espaço geometricamente consagrado para o efeito. Por isso se diz, por fim, que o Templo é a expressão estática do Corpo dinâmico de Deus, o Supremo Geómetra.
PRINCÍPIOS DA ARQUITECTURA SAGRADA
(DECUMANO, CARDO, EIXO)
Um burguês da Idade Média passeava por uma pedreira e encontrou um grupo de três trabalhadores, dirigiu-se a eles e perguntou o que faziam. “Ganho a vida”, respondeu o aprendiz. “Talho uma pedra”, respondeu o companheiro servente. O terceiro, mestre de ofício, fitou com desdém o estranho e afirmou: “Construo uma catedral”.
Possuídos do nócio hermético, metafísico da Geometria aplicada à Arquitectura com isso revestindo-a de noção transcendente indo dispô-la no plano do Sagrado, os monges construtores medievais – herdeiros dos conhecimentos operáticos dos Colegia Fabrorum latinos – constitutivos da primitiva Maçonaria Operativa, construtora dos principais monumentos românicos e góticos da Europa, principalmente as grandes catedrais, fizeram estas de maneira a reproduzirem o próprio Universo, de forma ao que está em cima (no Céu) ser igual ao que está em baixo (na Terra), e vice-versa. Se os templos são formas estáticas do movimento celeste, ainda assim são animados pela presença dos fiéis, tal como os seus símbolos são vivificados na liturgia. O plano do solo do templo é uma projecção horizontal ordenada do Universo. Na razão da orientação solar, cada ponto cardinal indica uma posição extrema do ciclo sazonal e diário, pondo o Tempo em movimento harmónico com o Espaço. O percurso no templo reproduz o ano solar ritmado pelas fachadas, no que é o caminho conduzindo das trevas à luz.
Na concepção teológica judaico-cristã, o Outono ou Crepúsculo está a Oeste; o Inverno ou Meia-Noite está a Norte; o Amanhecer ou Alva da Primavera, a Este; finalmente o Verão ou Meio-Dia, a Sul. Esta dinâmica do espaço é utilizada no calendário litúrgico pelo que, em função do momento do ano ritual, certas portas são abertas enquanto outras são fechadas, em referência ao tema “portas santas”. O Norte é o lugar menos iluminado do templo, pois expressa o frio, as trevas, o mundo invisível representado pelo mundo subterrâneo ou a cripta. Todo o simbolismo do portal norte é consagrado às origens estelares, à Estrela Polar.
O Este indica o início do Mundo. É aí que, pela primeira vez, o Sol se levanta indo o seu raio de vida incidir sobre o altar-mor. Igualmente aponta a direcção de Jerusalém, mais que tudo da “Nova Jerusalém” expressiva do Paraíso Celeste, altar maior que ao concentrar nele a potência do Sol Nascente expande-a como Espírito de Vida por todo o templo. O Sul marca o zénite solar, o apogeu da Criação e a sua frutificação. Por isso, é o lugar do púlpito, do Evangelho como Verbo Divino manifestado. O Oeste é a região do recolhimento, da Morte, do ponto de contacto entre o profano e o sagrado, e por esta razão a principal porta de entrada está a Oeste para que o mortal encare a condição imortal expressa pelo altar-mor, a Este. O Oeste marca o Outono, o Fim dos Tempos de um ciclo planetário marcado pelo Zodíaco que, aqui, é representado ao centro pelo Padre Eterno (configurando o Sol Central), ou então pelo Filho cercado pelos 12 Apóstolos figurativos dos signos.
De acordo com o decumano (sentido Este-Oeste) e o cardo (sentido Norte-Sul), há duas entradas no templo: a principal é chamada Porta do Tempo, por indicar o percurso do Sol na nave de Este a Oeste, pondo em movimento o Tempo no Espaço sagrado. O decumano determina o eixo Humano do edifício, que vai do nascimento à morte, ou seja, do Este ao Oeste. A entrada pela porta Oeste permite levar o Tempo da morte à vida, ou seja, do neófito, do que vem de fora do templo, ao iniciado, do que participa da Origem Primordial assinalada pelo altar-mor a Este.
Há também a entrada lateral chamada Porta da Eternidade, tendo a ver com o cardo, ou sentido Norte-Sul. O cardo representa o eixo da Eternidade e cruza-se com o decumano expressivo do Tempo, logo, o Tempo da Eternidade, sob o fecho da abóbada, esse que é a pedra angular, filosófica, de todo o templo.
O fecho de abóbada adiante do arco triunfal que separa o altar-mor da assembleia dos fiéis, marca o áxis mundi ou eixo do mundo (também chamado eixo cósmico, centro do mundo, pilar do mundo ou coluna cerului). A sua imagem, reflectora do macrocosmos no microcosmos, exprime o ponto central de conexão entre o Céu e a Terrado qual irradiam as quatro direcções cardinais, pelo que funciona como omphalo (umbigo) ou “centro primordial” do templo (assim como dum espaço urbano), como pólo irradiador e ponto de encontro das direcções Norte-Sul (cardus) e Leste-Oeste (decumanus) que aí se cruzam. É o ponto zero do templo, como igualmente é o marco zero numa civitas [4].
Sendo o templo a expressão estática do Corpo de Deus, o seu esquisso ou planta cruciforme representa o corpo humano de braços abertos ou descaídos, o próprio Homem Cósmico Adam-Kadmon, figurativo do Logos Planetário. Cada parte do templo possui qualidades comparáveis às partes do corpo. O círculo da abside de cabeceira representa a cabeça, enquanto o cruzeiro da nave e do transepto expressa o coração, isto é, a vida que pulsa em todo o templo. Quanto à fachada oeste, representa os pés do Corpo de Deus, razão porque reproduz e resume os princípios e funções de toda a construção. Pela leitura da fachada oeste, o neófito é informado do conteúdo espiritual que deverá realizar no templo. Os “pés” de Deus evocam também os do fiel entrando na Sua Casa a fim de se realizar plenamente na Graça do Espírito de Santidade.
Toda essa disposição de “linhas de forças” geocelestes, conhecidas como leys na Idade Média e Renascença, cria estado de correspondência ou “simpatia vibratória” entre o Homem e o Cosmos. A entrada no templo corresponde à entrada no corpo humano, ou seja, à introspecção, no que o silêncio é exigido. Trata-se, realmente, da execução do princípio judaico-cristão, na realidade antigo axioma hermético greco-egípcio, de “conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses”.
SIMBOLISMO DO PENTAGRAMA
Vale ou saúdo tinha o valor de pentagrama, às vezes só inscrevendo este, nas cartas e/ou monumentos dos autores antigos. Um pentagrama esculpido à entrada ou/e na cabeceira de uma igreja, possuía o sentido de saudar, sem escusa do seu significado mágico de exorcizar o mal visível e invisível, além de no nível moral expressar a Perfeição Divina no Plano Humano.
O pentagrama, termo grego, pentagrammon,é a estrela composta por cinco linhas rectas que possui cinco pontas. Na língua portuguesa, pentagrama significa uma palavra com cinco letras. Na música, indica as cinco linhas paralelas que compõem a partitura.
Originalmente, era o símbolo da deusa romana Vénus, e assim é associado a este planeta cuja órbita circular com grau de excentricidade, vista da Terra, descreve aparentemente uma estrela de cinco pontas, como já informava a astronomia ptolomaica, desenvolvida por Copérnico e Galileu. Na Natureza, o pentagrama é o signo do quinto elemento (ou quintessência, posto ser as essências e não os seus metais que os antigos hermetistas designavam pelos nomes dos elementos naturais), o Éter, assinalado na sua ponta superior, enquanto nas demais pontas inferiores se assinalam os restantes quatro elementos: Ar, Fogo, Água, Terra. O pentagrama (ou pentalfa) é igualmente símbolo do Infinito: dentro do pentágono no centro do pentagrama é possível fazer outro pentagrama menor, e assim sucessivamente.
Possui simbologia múltipla, sempre fundamentada no número 5 que representa o casamento ou união do masculino (o 3, ímpar, macho) e o feminino (o 2, par, fêmea), dessa forma simbolizando a união dos contrários necessária à realização espiritual corporizada no filho, neste caso, o Cristo resultando no valor 5, e também por outra parte, relativa aos valores 2 e 3, a Lei da Polaridade na Manifestação Física sobreposta pela Lei da Unidade da Presença Espiritual.
Por essa razão, na matemática, com origem na Escola Pitagórica, o pentagrama (símbolo dessa instituição grega) anda ligado ao Número de Ouro (1.618): composto pelas diagonais de um pentágono regular e cinco triângulos isósceles, a razão entre o lado do triângulo e a sua base (lado do pentágono) é igual ao valor do Número de Ouro.
A Cabala judaica, através dos seus rabinos mais eruditos, considera o pentagrama simbólico da Vontade de Deus e da Protecção Divina. No Cristianismo é a Estrela do Natal, a do Nascimento de Cristo, no que preanuncia tanto o Espírito no Corpo (Nascimento), como o Corpo no Espírito (Ressurreição). Na Maçonaria é a Estrela Flamejante da Iniciação, plantada no Oriente da Loja, igualmente expressando a Ressurreição, no caso, após a morte simbólica do Companheiro para ressurgir como Mestre.
Quando o pentagrama se apresenta invertido (o chamado “pentalfa trevoso”), geralmente assumido símbolo do Mal contrário ao do Bem que é o pentagrama ao alto (dito “pentalfa luminoso”), quer dizer que o Espírito mergulhou na cegueira da matéria e nos padecimentos carnais da Alma humana. O pentalfa invertido é o da encarnação ou mergulho do Espírito na Matéria dentro do pentágono central do pentalfa maior, o da assunção triunfante do Espírito sobre a Matéria. Também nisto, como se observa em muitos monumentos religiosos e até lápides funerárias ostentando pentagramas invertidos, bem e mal vêm a ser relativos ou condicionados à proporção geométrica da medida áurea[5]. É preciso considerar a posição e o por que dos símbolos antes de catalogá-los a priori como “benéficos” ou “maléficos”, ainda que hajam os exclusivamente dessas naturezas.
No pentagrama invertido (assim como no triângulo invertido, yoni, em oposição ao vertido, ctéis) apresenta-se o sentido último do Eterno Feminino, expressando o derradeiro abraço mortal a Maria sinalética da Mãe-Terra, Mater-Rhea ou Matéria. Donde o símbolo esculpido em pedras de cabeceira tumulares medievais, inclusive templárias, indicando que o Espírito se libertou e desceu, volveu ao seio da Mãe-Terra. Indica também a manifestação ou incarnação da Mónada por via do seu eleamento aos quatro elementos naturais, dos quais se liberta por ocasião da morte corporal volvendo à Essência Divina do Mundo – Anima-Mundi, Sophia, Shekinah, Maria, Allatah, Saravasti, etc., por regra tradicional tendo a melhor expressão na Virgem Negra. Em resumo, pentagrama vertido = inicío da Iniciação Dominical (Sacerdotal); pentagrama invertido = final da Iniciação Senhorial (Cavaleiresca). Enfim, consuma-se o das trevas à luz, da morte à imortalidade…
Os freires eruditos da antiga Ordem do Templo (séculos XII-XIV), além do citado propósito fúnebre, igualmente inscreviam o pentagrama invertido dentro do espaço geométrico do pentágono, deixando sempre, inclusive no fúnebre, o subentendido de ser parte de pentagrama maior inscrito na medida áurea resultante da equação dos valores da raiz quadrada de cinco. Essa medida é a mesmíssima presente nos imóveis de maior relevo e importância do Templo, em conformidade ao sentido pitagórico de Logos (Razão), 1.618, e de Pathos (Sentimento), 0.618, este presente no pentagrama invertido e aquele no vertido.
Um último apontamento: o pentagrama invertido só é símbolo maléfico quando aliado a intenções goécias – magia negra – com técnicas coreográficas, pictóricas, gestuais e verbais afins. De outra maneira, não! Tanto como os maçons não adorarem qualquer bezerro ou bode de algum gado (G.A.D.U. é só a sigla do Grande Arquitecto do Universo em seu Terceiro Aspecto Criador). O tal bode sinistro – que o ocultista Eliphas Lévi publicitou no século XIX, na sua constante e aflitiva órbita entre cabala e catolicismo – jamais foi símbolo do mafarrico cornúpeto e sim do Caprino ou Cumara, o poderoso Arqueu ou Assura que como “Príncipe do Mundo”, antes, “Rei do Mundo”, vem a ser o próprio Planetário da Ronda na sua função de Melkitsedek ou Chakravarti, no que se torna sobremaneira transcendente que nem o mais apurado dos intelectos humanos conseguirá apreender o seu sentido mais que espiritual, divino. A Via Negra do Kadosh, “Consagrado”, e negra por conter toda a luz, nisso na realidade sendo púrpura, é efectivamente a Via do Cumara, na qual de vez para sempre o Maçom deixa de ser “Filho da Viúva” – Ísis sem Osíris, a Terra apartada do Sol (Maha-Sun, Maçonaria, em interpretação livre) – ao tornar-se ele próprio de Filho em Pai, isto é, Osíris ressuscitado em Hórus, um Ser Cristóforo. Deixo a sugestão aos mais intuídos, capazes de perceber que 2 e 2 não é igual a 2 mais 2, ou seja, capazes de aperceber além das aparências onde o símbolo estático se torna realidade viva e dinâmica.
OLHO DENTRO DO TRIÂNGULO
A tradição do Olho dentro do Triângulo, visto sobre o altar-mor da maioria dos templos cristãos, tem a sua origem nos primeiros padres apostólicos do Cristianismo que a recolheram em Alexandria, herança do Egipto faraónico, cujo Sol Central (Ra) resplandecente viria a ser substituído pelo Olho da Divina Providência envolto numa luminosa aura de glória, inclusive cobrindo o Triângulo Divino ou Delta Luminoso, conforme ficou registado nas escrituras persas[6].
Esta figura geométrica pode ser configurada como triângulo equilátero ou como triângulo isósceles, também chamado triângulo sublime, que é o que forma a ponta do pentagrama cujo ângulo, no ápice, tem 36º, e cujos ângulos da base possuem 72º cada um. A designação de “sublime” foi-lhe dada pelos geómetras pitagóricos da Antiguidade.
Se para os antigos egípcios o triângulo equilátero representava a Tríade Osiriana (Osíris – Hórus – Ísis), para os cristãos passou a assinalar aTrindade Divina (Pai – Filho – Espírito Santo) como um só Ser indivisível assinalado no “Olho Que Tudo Vê”, muitas vezes substituído pelo Nome de Deus, Jehovah, geralmente decomposto nas quatro letras hebraicas Iod-He-Vau-He que configuram o Tetragramaton pelo qual o Logos Eterno se manifesta pelas suas Três Prosapas ou Hipóstases: Poder da Vontade – Amor-Sabedoria – Actividade Inteligente.
A marca da Trindade e do triângulo está presente na maioria das religiões tradicionais. Na Trimurti (Trindade) Hindu aparece expressa em Brahma – Vishnu – Shiva, antropomorfização da anterior Trimurti Védica Prana – Vayu – Tejas, ainda assim sendo sobretudo no Antigo Egipto ele aparece nas várias fases da sua História, pelo que além da Tríade Osiriana havia a Tríade Menfita (Ptah – Nefertoum – Sekhmet; Pai – Mãe – Filho), e a Tríade Tebana (Amon – Khonsou – Mout), todos deuses primordiais do panteão do povo do Nilo. Na Pérsia, havia Aura Mazda – Vohu Manô – Asha Vahista, ou seja, o “Mestre Sábio”, o “Bom Pensamento”, a “Perfeita Justiça”, e foi por esta primitiva Trindade que os cristãos conceberam a sua.
No século XVIII, com o aparecimento da Maçonaria Especulativa (Londres, 24 de Junho de 1717), rapidamente os maçons adoptaram este símbolo apelidando-o de Delta Luminoso, com um Sol, um Olho ou só um G ao centro radiante, designando o Grande Arquitecto do Universo, a Divindade Criadora de tudo e de todos, o Geómetra Supremo.
Por vezes os maçons substituem o triângulo por três pontos triangulados (. . .), significando o Passado, o Presente e o Futuro, enquanto o triângulo inteiro representa a Eternidade ou Essência Eterna como Substância Absoluta que na Manifestação triparte-se em Omnipotência (1.º Aspecto), Omnisciência (2.º Aspecto) e Omnipresença (3.º Aspecto). Os três ângulos expressam as três fases da revolução perpétua da existência: Nascimento – Vida – Morte… e Ressurreição, centralizada no Olho Providencial.
Em suma, o Olho no Triângulo resplandecente é o emblema da Divindade Una em Essência e Trina em Manifestação, unanimemente considerado representativo do Espírito Perfeito e do Iniciado verdadeiro unido à Essência Eterna que lhe confere a Iluminação.
NÓ DE SALOMÃO
O Nó de Salomão, assim chamado pelos artífices da Roma Antiga e da Grécia Clássica, que depois os mestres arquitectos da Idade Média continuariam a chamá-lo assim, possui qualidade mágica apotropaica, ou seja, que “pretende ter ou tem o poder de afastar o mal”.
Com efeito, na cultura tradicional onde o popular se mistura com o oculto, as amarrações ou “nós mágicos” têm a finalidade de prender os espíritos, tanto os bons como os maus. Como se crê que o Diabo leva consigo as almas perdidas, assim se supondo ter em seu poder alguma coisa que se perde, com isso amarram-no magicamente para evitar que escape e faça mal maior. As redes entrelaçadas do nó mágico tinham precisamente a função de apanhar, prender ou bloquear o mal. O Nó de Salomão é um nó eterno, as suas linhas não têm fim, não se consegue encontrar a ponta inicial ou final, e assim as forças do mal seguem linhas sem fim ficando presas na eternidade. Com isso, nasceu a tradição dos lugares amaldiçoados onde se acredita que o Demónio e os espíritos danados vivem amarrados por poder de magia maior que a sua, a de Deus.
Conhece-se a historia do Nó Górdio e a “delicada” solução para o mesmo feita por Alexandre, o Grande, rei da Frígia (Ásia Menor), e ter ficado conhecido pelos gregos e romanos como Nodus Herculaneus, um nó mágico conhecido na Kaballah judaico-cristã como Nó de Salomão, ao traduzir-se a palavra hebraica peka´im como significando “botão” ou “nó”, como se encontra na Bíblia em I Reis 6:18 e 7:24. No entanto, os exegetas modernos traduzem-no como “ornamento em forma de cabaça”.
Mas o Nó de Salomão, este Rei que trocou a riqueza pela sabedoria (I Reis 3:11-12), ou seja, sendo verdadeiro Iniciado nos saberes mais altos do Espírito, assim ficando para sempre como sinónimo de Rei Sábio nos Mistérios Maiores inacessíveis ao comum e vulgar, possui o significado primordial de união do Homem com a Esfera Divina (Sphera Dei). Com efeito, ao observar-se o símbolo identifica-se no nó circular duas redes que se entrelaçam diversas vezes numa geometria constante formando uma cruz absorvida sobre si mesma, sem princípio nem fim, como o Homem e o Divino espelhando um ao outro, recambiando para o sentido hermético de “o que está em cima é como o que está em baixo”, e vice-versa.
Assim é o Nó de Salomão em cruz, com os laços horizontal e vertical expressivos da Terra e do Mundo Divino, respectivamente, onde o tríplice nó é evocativo da Trindade Pai, Filho, Espírito Santo afins ao Espírito, Alma, Corpo, encadeados entre si na manifestação visível e tangível[7].
Os arquitectos medievais, à semelhança dos seus antecessores gregos e romanos, utilizavam o Nodus Salomonici para decorar tanto o pavimento como as paredes e colunas dos templos e palácios para neles encadear as forças geocelestes de maneira a possibilitarem a abertura da via de comunicação entre a Terra e o Céu, facto viabilizado no acto ritual da liturgia. Mas a crença popular extravasou o símbolo para a função apotropaica e gravou-o tanto à entrada como no interior das suas residências, como protector seguro contra as influência malignas, talvez memória semi-inconsciente do tempo de Moisés quando os hebreus pintaram com sangue de cordeiro os umbrais das portas de suas casas, para que as pragas da Ira de Deus não os atingisse.
Ao Nó de Salomão se associa a Swástika Clavígera que é a chave do esquisso de toda a catedral canónica, ou edificada segundo os cânones tradicionais da Arquitectura Sagrada, e até mesmo das rosetas hexapétalas vistas em alguns vitrais e gravadas em colunas e portais cujos contornos floridos configuram o hexalfa ou estrela de seis pontas, comumente chamada Estrela de David, simbólica da Alma Universal por os seus dois triângulos entrelaçados expressarem tanto a Terra como o Céu unidos.
Igualmente na Arte islâmica encontra-se o Nó de Salomão, e com tal profusão e beleza de traços que até hoje traz fascinados e confusos os historiadores de Arte. Para uns, dever-se-á ao facto da proibição religiosa de representações figurativas; para outros, à importância conferida pelos islâmicos e muçulmanos ao estudo da matemática e da ciência dos números; ainda para outros, os mais certos sem descuro dos anteriores, representa a indivisibilidade do Único (Allah), cuja explicação conservam no hermetismo dos códigos das suas confrarias iniciáticas, familiares do xiismo e do sufismo, impondo assim a influência do pensamento espiritual e religioso, místico, à mentalidade dos artistas que nas infinitas formas dos traços reflectiam a crença comum na unidade do Homem e Deus.
VESICA PISCIS, MANDORLA, FLOS VITAE
A designação latina Vesica Piscis, “bexiga de peixe”, surgiu no Cristianismo Primitivo entre os séculos I e III d.C., durante o período de intolerância e perseguição aos cristãos em Roma. Serviu-lhes de santo-e-senha, sinal secreto da fé partilhada ao desenharem na areia dois círculos entrelaçados, de modo que a parte central ou bexiga configurasse um peixe – afim ao Ciclo de Piscis aquando surgiu o Cristianismo – que em grego se escreve ichthus, adoptado como o anagrama Iesus Christos Theous Uios Soter, “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”.
Depois do Édito de Milão, declarado no ano 313 d.C., assinalando o acordo no qual o Império Romano se manteria neutro relativamente ao Cristianismo, indo passar o período de perigo, esse sinal de reconhecimento entre cristãos entrou em desuso, como relata Frédérick Tristan em Les premières images chrétiennes: Du symbole à l´icône (Editions Fayard, Paris, 1996).
Se a Vesica Piscis entrou em desuso como sinal de reconhecimento, o mesmo não lhe aconteceu na arte arquitectónica dos colegia fabrorum que lhe dariam aproveitamento e execução na Alta Idade Média através dos monges conscrutores beneditinos e depois os cistercienses. Foi assim que a Vesica Piscis entrou nas lojas e oficinas dos grémios medievais de arquitectos e construtores para designar a superfície compreendida entre dois arcos de círculo do mesmo raio, como se observa facilmente nos arcos geminados entrelaçados dos claustros de muitos mosteiros (Alcobaça, Jerónimos, etc.).
O próprio Albrecht Dürer (1471-1528), pintor, ilustrador, matemático e ensaísta alemão de Nuremberga, bebendo na tradição dos geómetras medievais foi buscar o termo fischblase, “bexiga de peixe”, para designar as figuras que resultam da intersecção de dois círculos. No seu tratado geométrico Underweysung der Messung, mit dem Zirckel und Richtscheyt (“Instruções para medições à régua e ao compasso”, 1525), Dürer utiliza palavras como “bexiga de peixe” para descrever a forma que queria expressar, como se nota na explicação da construção do eneágono no Livro II desse seu tratado, utilizando o termo fischblase: “O eneágono pode ser obtido a partir do triângulo. Desenha um grande círculo em redor de um centro a. Inscreve nele, com a ajuda de um compasso da mesma abertura, três bexigas de peixe”. Este tratado de Dürer vem a ser a prova escrita mais antiga conhecida do termo “bexiga de peixe” como figura geométrica[8].
Da Vesica Piscis deriva a Mandorla, consistindo no ponto de intersecção dos dois arcos que, como se disse, era primitivamente o santo-e-senha dos cristãos perseguidos que se reuniam em segredo nas catacumbas de Roma, com um desenhando um arco no solo e outro completando o símbolo com novo arco, assim se reconhecendo confrades partilhando da mesma fé.
A palavra mandorla provém do italiano e significa “amêndoa”. Por regra, na arte ocidental cristã da Idade Média a forma em amêndoa era utilizada para envolver a figura de Cristo na Assunção, ou da Virgem ou de algum outro santo destacado. Originalmente, a Mandorla representava a nuvem sobre a qual o Cristo ascendia, mas com o tempo passou a ser usada como “Aura de Glória” – Veste do Espírito Santo, o Augoeides – ou a Auréola emanando a Luz de um Ser Divino, que na classificação teosófica corresponde ao Corpo Causal. Por este motivo, foi representada para representar Cristo na Transfiguração, na Assunção e em Majestade no Trono de Deus.
Nisso fica bem o termo amendoeira, em hebraico shaquedh, “vigilante”, e como sinal de vigilância mal vem o Sol floresce, não espera pela Primavera, sendo assim sinal antecipador e anunciador de grandes novas, remetendo para o tempo de Parúsia ou Advento. Às suas flores brancas os antigos rabinos davam-nas como expressivas da Luz ocultada, o que representavam no fruto inviolável (prunus dulcis) dentro da casca da amêndoa, como grão ou semente do Fogo Divino destinado florescer, a incandescer o kadosh ou “consagrado” nos Mistérios de Arca da Aliança de Deus com o Homem, e vice-versa, tema remetendo para o sentido de inviolabilidade de Agharta, o Sanctum Sanctorum da Mãe-Terra[9].
Motivo porque na coluna de glória fincada no ponto de intersecção de dois arcos geminados se coluna no nicho, no pórtico de entrada na igreja, o santo da evocação desta, algumas vezes podendo ser alheio ao reconhecido oficial no santoral da Igreja, como vê, por exemplo em Lisboa, no pórtico sul do Mosteiro dos Jerónimos, apresentando o Infante Henrique de Sagres espadado, ou no pórtico dianteiro da igreja de Conceição-a-Velha, ostentando a Varina com espada e balança.
No século XII, a Escola Rabínica de Troyes, França, famosa pelos seus estudos cabalísticos, dirigida por Shlomo Yietzhaki, mais conhecido pelo acrónimo Rabi Rashi (1040-1105), autor do Perushe Rashi ´al ha-Torah, organizou o alfabeto hebraico desenvolvendo a sua interpretação geométrica a partir da Vesica Piscis. Sobrepôs sete círculos onde ao centro se uniam seis mandorlas figurando uma flor a que chamaram Flor da Vida, cedo repassada ao Cristianismo que a adoptaria como Flos Vitae, tanto indicativa do Filho como da Virgem, tendo os franciscanos a chamado de Flor do Paraíso, ligando-a ao sentido de Advento.
Esse último sentido está registado na Flor da Vida gravada sobre a entrada no pombal, altaneiro ao olivedo abaixo, dos freires capuchos, dentro da cerca do Conventinho de Loures. Tem-se nisso a recriação do Monte das Oliveiras onde Cristo se recolhia abrigado pela Ave do Espírito Santo, a Semente e Flor da Vida como Terceiro Logos Criador.
A imagem da Flor da Vida é formada por círculos distribuídos uniformemente com espaçamentos iguais, sendo que a partir do centro de cada um se pode criar novos seis círculos, induzindo o conceito de Vida Universal abarcando o tempo e o espaço em qualquer período passado, presente e futuro, por participar da própria Essência Divina irradiada do Coração do Logos assinalado na esfera radiante do Sol como astro-rei.
Durante a Renascença esta flor vital foi motivo de grande interesse por Leonardo da Vinci, tendo-a esquematizado em várias das suas obras fascinado com as suas propriedades matemáticas[10]. Certamente conheceria a sua origem cabalística e as várias formas e significados entrando na sua composição, como seja:
1. Semente da Vida, assinalada pelo círculo, marcando o nascimento ou irrompimento da Flor.
2. Ovo da Vida, assinalado pelos sete círculos, marcando os Dias ou Ciclos da Criação, indo formar a Flor e com isso representando o crescimento e a expansão.
3. Fruto da Vida, expressando a reprodução feita com treze círculos, onde por meio de setenta e oito linhas são ligados uns aos outros os centros dos mesmos, formando o cubo da matéria em que assenta a raiz da Flor elevada ao céu sinalético do espírito, no que entra o nome cabalístico Metraton, ou seja, “a medida (metra ou matra) perpendicular entre o Sol (Aton) e a Terra”.
4. Flor da Vida, a forma final, permitindo o surgimento de nova semente (bijã) e o início de um novo ciclo (yuga).
Última nota final necessária. As modernas modalidades alternativas do chamado neoespiritualismo, maioritariamente baseadas em experiências individuais de estímulos oníricos, pareidolias, etc., revestiram de sentimentalismo vácuo as figuras da Geometria Sagrada dando o resultado de alteração do significado original ou tradicional dos símbolos da mesma, colando-os a crenças aleatórias, vagas e imprecisas que preenchem o chamado universo “new age”. O que hoje se conhece nesse meio por “geometria sagrada” e afim significado, espécie de migalhas caídas da mesa de banquete das Escolas Iniciáticas da Antiguidade, seria para os antigos geómetras e hermetistas algo completamente anómalo onde de certeza se irreconheceriam. Necessita-se “separar as águas”, devolver os símbolos ao seu sentido original de Ciência Sagrada desvanecendo os equívocos, estes acaso podendo ser belos e atractivos na sua apresentação mas nem por isso deixando de ser equívocos, e para isso assentando o intento de repor a originalidade nestas notas.
NOTAS
[1] Jules Boucher, A Simbólica Maçónica. Editora Pensamento, São Paulo, 1984.
[2] C. R. Gomes, Pitágoras de Samos: seu mito e sua herança científico-cultural. Oficina de Livros, Scientiarum Historia III, Livro de Anais, Rio de Janeiro, 2010.
[3] C. R. Gomes, Platão – o “criador” de matemáticos. Editora da UFRJ, Scientiarum Historia IV, Livro de Anais, Rio de Janeiro, 2011.
[4] Paulo Pereira, Edifícios discretos. Academia.edu, Lisboa, 2014.
[5] Jules Boucher, ob. cit.
[6] René Guénon, Os Símbolos da Ciência Sagrada. Editora Pensamento, São Paulo, 1984.
[7] René Guénon, A Grande Tríade. Editora Pensamento, São Paulo, 1990.
[8] Filipe Alberto da Silva, A figura da Mandorla e da Vesica Pisces. As suas possibilidades de construção. Universidade de Lisboa – Faculdade de Belas-Artes, 2013.
[9] René Guénon, O Rei do Mundo. Espiral Editora, Lisboa, 2019.
[10] Nigel Pennick, Geometria Sagrada. Editora Pensamento, São Paulo, 1981.