Na Praça da Greve, em Paris, um belo dia aparece o seguinte manuscrito: “Nós, deputados do Colégio Principal dos Irmãos da Rosa-Cruz, fazemos estada visível e invisível nesta cidade pela graça do Altíssimo, para o qual se voltam os corações dos justos. Mostramos e ensinamos, sem livros nem marcas, a falar todas as línguas do país onde queremos estar, para tirar os homens, nossos semelhantes, do erro e da morte”.
Há quem faça uma aproximação com a Escola dos iluminados árabes, discípulos de Abd el Kadir Gilani, em Bagdá no séc. XII. Este personagem foi o fundador de uma Ordem que subsiste ainda, e convidava os seus adeptos a seguir a “via da rosa” (em árabe = sebir-el-uard). Curiosa coincidência: Sebil pode traduzir-se, em certos países orientais, por cruz. Os Alumbrados (Iluminados da Espanha), exterminados pela Inquisição, teriam, então, dado origem aos Rosa-Cruzes.
A Fraternidade Rosa-cruz, segundo a concepção de seus primevos criadores, funcionaria tendo os seguintes seis preceitos e regras básicas, a serem estritamente observados:
Estavam proibidos de exercer qualquer profissão, a exceção daquela que curaria os enfermos, e isso a título de caridade.
Não deveriam usar trajes que os distinguissem da população local, como acontecia com o clero e ordens religiosas, mas antes, deveriam passar como se fossem habitantes dos locais onde eles estivessem.
Todos tinham a obrigação de estar presentes em um dia previamente marcado, denominado de “Dia C”, para reunirem-se anualmente na sede do Templo do Espírito Santo. No caso de impossibilidade, explicar por escrito o motivo da ausência.
Cada Irmão Rosa-cruz deveria procurar e, no caso de encontrar, informar a existência de pelo menos uma pessoa de valor que pudesse sucedê-lo, quando necessário.
As Letras CR seriam o selo maior de reconhecimento.
A Confraria deveria permanecer oculta por pelo menos um século.
Todos os Irmão Rosacruzes daquela época juraram absoluta fidelidade a esses seis preceitos.
A Ordem Rosacruz pode ser compreendida, de um ponto de vista mais amplo, como parte da corrente de pensamento hermético-cristã. Nesse contexto, é clara a influência do Corpus Hermeticum que, após 1000 anos de esquecimento, foi traduzido por Marcílio Ficino, a figura central da Academia Platônica de Florença, em 1460, por encomenda de Cosimo de Médici. Nas “Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz”, é dito que “Hermes é a fonte primordial”.
A própria maçonaria adotou o título de “Cavaleiro Rosa-Cruz” homenagear seus irmãos maçons que eram rosacruzes, para 18º do Rito Escocês Antigo, para o 12º grau do Rito Adonhiramita e para o 7º grau do Rito Moderno ou Francês. Também na Franco-Maçonaria foi instituído o grau de “Cavaleiro Rosa-Cruz”, que tem como símbolos principais o Pelicano, a Rosa e a Cruz. Isto, porém, não significa vínculo jurídico; trata-se de mero relacionamento extrínseco ou de nome.
A partir de 1648 os Rosa-Cruzes, após um brilhante período de exteriorização, entram numa espécie de hibernação.
Por volta do final do século XIX, a tradição rosa-cruz experimentou um reflorescimento. Em 1888, o poeta e advogado francês Stanislas de Guaita (1861 – 1897), um ardente adepto do ocultismo, fundou uma irmandade rosa-cruz na França, com o romancista Joséphin Péladan (1859 – 1918). Pouco depois, no entanto, Péladan abandonou a irmandade, queixando-se de que seu perfil era demasiado anticatólico para seu gosto. Ele fundou outra organização, também sob o rótulo da rosa-cruz, dedicada ao amor fraternal e às atividades intelectuais e artísticas. Péladan abriu um salão rosa-cruz em uma galeria de arte em Paris, que acabou por se tornar um ponto de encontro muito frequentado e de grande influência, especialmente para as pessoas ligadas ao mundo das artes.