A Cristologia Gnóstica diz que o Sol visível é o mediador do Sol Central ou Sol Oculto. E o Crestos Cósmico é o meio astral que liga o homem ao Pai Solar. A força de Cristo pode manifesta-se de diferentes modos, seja como Baphomet, Abraxas ou Thelema, porém, todas derivadas da força espiritual da Luz do Sol Oculto. Podemos inferir, assim, que Thelema é Cristo. Ou que a Vontade do Crestos é Thelema.
Como símbolo, Cristo se liga aos deuses solares, Mitra, Abraxas e Dionísio. Mas também é um fato histórico, na pessoa de Jesus. O corpo de Jesus de Nazaré foi utilizado para que a entidade divina do Cristo, no momento do batismo, pudesse tomar a forma que lhe era necessária para, daí em diante, estar em comunhão com as almas humanas. Os acontecimentos na Palestina foram necessários para o nascimento da vida terrena do Cristo que aconteceu a partir do Mistério do Gólgota, esse acontecimento é denominado por Rudolf Steiner (1861-1925) de “Impulso do Cristo”.
Para os Gnósticos há uma diferença sensível entre os as personalidades de Buda, Zoroastro, Confucio, Maomé e a divindade do Cristo. Os primeiros foram certamente grandes filósofos e grandes Iniciados a quem lhes foi dada a incumbência de a pregar e instalar uma região em sua época. No entanto, Cristo tem uma personalidade diferente. Ele é Deus, é o Logos Solar ou a Essência Solar, a força do Espírito que está fundida no Sol.
O Dr. Krumm-Heller diz que a Força Cristônica de Jesus, se propagou pelo mundo (Impulso do Cristo) e transformou seu ambiente, perpetuando-se até nossos dias. Para vida terrestre, o Sol possui grande importância para nosso planeta, por sua vez, o Sol físico depende de outro Sol espiritual. O Sol espiritual é algo prático e real, como também é o Logos. Cristo é a Luz do Sol física e espiritual.
O Dr. Krumm-Heller reúne na figura do Cristo uma força consciencial e uma substância material. Isso pode parecer estranho, mas nas próprias palavras do Dr. Krumm-Heller, a realidade é formada pelo trio de matéria, energia (força) e consciência. Deste modo, o Crestos Cósmico é uma substância, uma força, uma consciência atuante. Os gnósticos aprendem a manejar Crestos e sua força mediadora.
CRISTO EM SUBSTÂNCIA
O Dr. Krumm-Heller associa Cristo a outros conceitos, o que pode causar uma certa confusão, mas ele mesmo, didaticamente divide essa força em duas: o Cristo Real ou Substancial e o Cristo Ético ou Consciencial. Em sua oração ao Logos Solar, ele invoca essas forças da seguinte maneira:
“Tu, Logos Solar, emanação ígnea, Cristo em substância e em consciência, vida potente pela qual tudo avança, vem até mim e penetra-me, banha-me, transpassa-me e desperta em meu SER todas essas substâncias inefáveis que tanto são parte de ti como de mim mesmo.”
Primeiro, vamos entender o que seria o Cristo Substancial e como ele se relaciona com a Thelema. Como já dito sobre a Cristologia Gnóstica, Cristo é uma substância material, na qual possui Vontade. Essa Vontade atuante na Luz é chamada de Thelema, conceito muito similar da Telesma apresentado por Hermes Trimegisto na Tábua Esmeralda:
(1) É verdade, certo e muito verdadeiro:
(2) O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.
(3) E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.
(4) O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua alma;
(5) O Pai de toda Telesma (Thelema) do mundo está nisto.
(6) Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.
(7) Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.
(8) Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores.
(9) Desse modo obterás a glória do mundo.
(10) E se afastarão de ti todas as trevas.
(11) Nisso consiste o poder poderoso de todo poder: Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.
(12) Assim o mundo foi criado.
(13) Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.
(14) Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegisto, pois possuo as três partes da filosofia universal.
(15) O que eu disse da Obra Solar foi cumprido.
Recorremos ao Dr. Gerald Encausse (1865-1916) – Papus – que cita Eliphas Levi (1810-1875) para explicar que Telesma é um agente universal, um fluído e uma força que permeia a tudo e a todos. Uma Thelema substancial que pode ser manejada e modificada. Ele escreve:
“Esse agente universal das obras da natureza é o OD dos hebreus e de Reichembach, é a luz astral dos martinistas. A existência e o uso possível dessa força constituem o grande arcano da magia prática. (...) Essa substância é a que Hermes Trimegisto chama “o grande Telesma”. Quando ela produz seu esplendor, ela se chama luz. (...) O grande agente mágico se manifesta por quatro tipos de fenômenos: calor, luz, eletricidade e magnetismo. O grande agente mágico é a quarta emanação da vida princípio, da qual o Sol é a terceira forma. (...) Quando a luz universal forma os metais, ela é chamada de azoto, quando dá vida aos animais é chamada magnetismo”.
No texto, Levi traz outros nomes para essa substância: Luz Astral e Força Odica. Como ele, associamos essa força com outras diversas substâncias espirituais, cada uma com um nome cultural próprio: Prana para os hindu, Ki para os japoneses, Chi para os chineses ou, como denominam os espíritas, Fluído Vital.
As Doutrinas Vitalistas ensinam que a força vital permeia os seres orgânicos e dá vida a eles. Essa força vital interpenetra e nutre todas as coisas do universo. Antes de ser absorvida pelos seres orgânicos é chamada de Energia Cósmica ou, nas palavras de Hermes, Telesma. Esse agente universal, como é dito no texto, pode ser manipulado. Como dito por Levi, o Magnetismo Animal é a faculdade de transformar o fluído cósmico em fluído magnético ou fluído vital. É também chamado de Mesmerismo, por conta de Franz Anton Mesmer (1734-1815) um dos primeiros a teorizar sobre o estudo do magnetismo. Nesse ponto, Telesma acaba por se tornar o fluído universal.
O Dr. Krumm-Heller também fala do Vitalismo. Ele diz que o Prana é uma força modeladora do Universo, que brota do Sol. Escreve que: “Prana é movimento, vibração, sensação de peso, luz, calor, eletricidade, magnetismo etc., especialmente em sua forma primordial. Prana é a vida do éter (...) Sem Prana não poderia haver nada vivo na Natureza”. Ao que parece, a explicação sobre o Prana é muito similar ao que Eliphas Levi fala sobre a Telesma e, por conseguinte, o Crestos Solar.
Então, Thelema na visão rosacruciana, do Dr. Krumm-Heller, inicialmente, é afastado o princípio filosófico da Thelema descrito por Crowley e se aproxima de uma explicação realista da formação do universo e da vida, como uma força que pode ser manipulada magicamente.
CRISTO EM CONSCIÊNCIA
Seguindo a linha de pensamento, na qual o Dr. Krumm-Heller entendia Cristo e Thelema como forças impessoais, inferimos, então que a Força Consciencial Cristônica também é impessoal. Podemos entender melhor esse conceito Vontade Universal lendo um trecho da obra “Uma Aventura entre os Rosacruzes”, de Franz Hartmann:
“- Tudo não passa de efeito deste poder primordial, único, chamado Vontade, pelo qual o mundo veio à existência - disse o Imperator dos Rosa-cruzes de Ouro. - Ela pode manifestar-se de muitos modos e nos sete distintos planos de atuação como força mecânica ou como influxo espiritual; porém, é simplesmente o mesmo poder divino e único da Vontade, movida pelo harmonioso conjunto instrumental do organismo humano, dirigido pela inteligência.
- Então, disse eu - intentar fortalecer a Vontade deve ser o fator mais imediato e necessário?
- Não - respondeu Imperator. - A Vontade é uma força universal que sustém entre si os mundos no espaço e causa as revoluções planetárias; existe em toda parte e a tudo penetra, não havendo necessidade de fortificá-la, porque ela é suficientemente poderosa para conseguir o que deseja. Vós não sois mais do que um instrumento, por meio do qual esta força universal pode agir e manifestar-se; podeis experimentar a plenitude do seu poderio se não tratardes de oferecer-lhe resistência. Porém, se imaginais possuir uma vontade vossa, na qual a ação difere da Vontade Universal, na realidade, não fazeis outra coisa do que subtrair dela um fragmento insignificante, opondo-a à grande força original. Se vós imaginais de posse de um vontade exclusiva e própria, no mesmo instante entrais em conflito com a potência energética do universo e sendo, como sois, uma partícula insignificante dele, sereis aniquilado, causando vossa própria ruína. Vossa vontade não pode usar o seu poderio senão quando se harmoniza com a vontade do Espirito Universal; ela será tanto mais forte, quanto menos a empregardes em benefício próprio e por isso deveis permanecer sempre obediente à lei. (...) Porém é lícito submeter a razão e a inteligência ao serviço e guia da força voluntária universal, já existente na Natureza para conduzi-la; assim podemos acelerar o ritmo da vida inconsciente de mais lento movimento, sem nosso auxílio ou intervenção”.
A Vontade apresentada por Hartmann não é a Vontade individual, apesar de atuar no individuo, é um princípio universal, análogo a Divina Providência. Como expresso por Paulo de Tarso: "Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20). Desta forma, podemos entender a Vontade como uma Força Impessoal, como é invocada na Missa Gnóstica do Mestre Huiracocha: “Vem, Santo Querer, Divina Energia Volitiva. Transforma a minha vontade fazendo-a una com a Tua”.
Assim, para o Dr. Krumm-Heller, Thelema é a Vontade Divina Universal, na qual atua sobre toda existência. Como escrito por ele mesmo, Thelema é a Vontade atuante na Luz. E a Luz é o Cristo. A Vontade provém do Crestos Cósmico, a fonte universal que todos podem beber. A diferença entre Crowley e o Dr. Krumm-Heller é a origem dessa Vontade.
Para Crowley, a Thelema brota no próprio homem, “Todo homem e toda mulher é uma estrela” (AL I:3). Frater Achad escreveu o ensaio Passando do Velho ao Novo Aeon , no qual explica que a partir do momento em que o homem passar a se identificar com o Sol, ele passará a ser um Deus, pois será a fonte de luz:
“Você sabe o quão profundamente nós sempre ficamos impressionados com as ideias de Sol nascente e Sol poente, e como os nossos antigos irmãos, vendo o Sol desaparecer à noite e nascendo novamente na manhã seguinte, basearam as suas ideias religiosas neste conceito de um Deus Moribundo e Ressuscitado. Essa á a ideia central da religião do Velho Æon (...). O Sol não morre, como acreditavam os antigos; ele está sempre brilhando, sempre irradiando Luz e Vida. Pare por um momento e tenha uma clara concepção deste Sol, como Ele está brilhando já cedo pela manhã, brilhando ao meio-dia, brilhando à tarde e brilhando à noite. Você percebeu esta ideia claramente em sua mente? Você acabou de sair do Velho Æon e entrar no Novo.
Agora consideremos o que aconteceu. O que você fez para obter essa imagem mental do Sol sempre brilhante? Você se identificou com o Sol. Você saiu da consciência deste planeta; e por um momento você teve que se considerar um Ser Solar”.
No novo Aeon de Hórus, a era thelêmica, da criança conquistadora, todo homem e toda mulher passam a ser deuses, co-criadores do Universo.