terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

A Conquista da Pedra Filosofal


"O homem é atraído à perfeita luz por quatro cavalos brancos, que são a Vontade, a Fé, a Ajuda e o Amor. O que o homem tem Vontade de fazer, o faz, tem o poder de fazê-lo. Um conhecimento desse poder é a Fé, e quando a Fé se move, a alma começa a voar. A fé egoísta não nos conduz à luz. O peregrino não está solitário no caminho à luz. O homem nunca escala as alturas, mas ajuda outro a alcançar as alturas. E o cavalo que toma a dianteira no caminho para a vida espiritual é o Amor, o amor livre de egoísmos".
APOLO 

Na Alquimia, o praticante e sua obra, ou objetivo, formam desde o início até o final um único corpo, já que só deste modo é possível viver tal magistério. O Magistério nos leva por consonância rítmica aos vocábulos: Magis e Magister, tomados pelos especialistas em Hermetismo como: Magia e Mestre. Qual é a mais elevada das Magias? A Alquimia! Podemos responder... E qual é o mais elevado Mestre? Aquele que conhece os segredos mais profundos de sua Pedra magna.

Alquimia, Pedra e Artifício, ARTE MARAVILHOSA que a envolve são, portanto, um trinômio igualmente inseparável. Tudo procede da PEDRA e há de regressar à Pedra, diziam os filósofos alquímicos. Tal Pedra, querido leitor, é o mar inextinguível de onde emanam você e a criação. A Pedra de todo esplendor, tão zelosamente nomeada com milhares de vocábulos alegóricos, primeiro é líquida, mais tarde gasosa, depois se torna sólida e finalmente assume caráter ESPIRITUAL.

Conhecer, cognoscitivamente, esta Arte Régia, durante milênios, foi o objetivo primordial de muitas pessoas que consagraram a totalidade de suas vidas e até investiram toda sua fortuna em tal busca, com a ideia única de se converterem em IMORTAIS e serem imunes a toda doença, ciclo social, influências cósmicas, etc., etc., etc. Lamentavelmente, às vezes porque os grupos humanos não estiveram à altura das circunstâncias, outras porque a elite de Irmãos Maiores não concedeu permissão e em muitas ocasiões porque a Igreja fracassada perseguia a Alquimia por considerá-la heresia, não foi possível que muitos anelantes vissem cristalizados seus sonhos de conhecer o Secreto Secretorum e seu Magistério ou Modus Operandis. Deste modo, apenas um reduzido grupo humano é mencionado nas páginas do esoterismo alquímico, como possuidores da GEMA PRECIOSA ou realizadores do MAGNUS OPUS.l MAGNUS OPUS.

Pelas circunstâncias anteriormente descritas, a Alquimia certamente saturou-se e rodeou-se de símbolos, lendas, ritos, adivinhações e um sem-fim de véus a mais, tudo o qual contribuiu para que fosse considerada como uma quimera ou tarefa de "loucos", "utopistas", "fantasiosos", "folgazões" e, no melhor dos casos, "ignorantes supersticiosos"......

Contudo, acima dos que não aceitam a realidade da Alquimia e a negam rotundamente, existem documentos verazes que testemunham abundância de conquistas transcendentais em relação à Arte que faz do homem comum e corrente um autêntico MUTANTE, capaz de transformar os elementos naturais, transformar um metal em outro e o que é ainda mais interessante: “COAGULAR a divindade em suas humanas pessoas”. Vejamos:

"Depois do nome célebre de Artefio (por volta de 1130), a reputação de Mestres que lhe sucedem consagra a realidade hermética e estimula o ardor dos aspirantes ao Adeptado. No século XIII, vive o ilustre monge inglês Roger Bacon, chamado por seus discípulos “Doutor Admirabilis” (1214-1292) e cuja enorme reputação se torna universal. A seguir, vem a França com Alain de L'Isle, doutor por Paris e monge de Cister (morto por volta de 1298); Cristóvão, o Parisiense (cerca de 1260) e Arnaldo de Vilanova (1245-1310), enquanto na Itália brilham Tomas de Aquino, Doutor Angelicus (1225) e o monge Ferrari (1280)".

"O século XIV vê surgir toda uma plêiade de artistas. Raimundo Lulio “Doutor Iluminatis”, franciscano espanhol (1235-1315); Juan Daustin, filósofo inglês; Juan Cremer, abade de Westminster; Ricardo, chamado Roberto, o inglês, autor de Correctum Alchymiae (para 1330); O italiano Pedro Bon da Lombardia; O Papa francês Juan XXII (1244-1317); Guillermo de Paris, patrocinador dos baixos-relevos herméticos do Átrio de Notre-Dame; Jehan de Meun, chamado Clopinel, um dos autores do Roman da Rose (1280-1364); Grasseo, chamado “Hortulano”, comentarista da Tábua de Esmeralda (1358) e, finalmente, o mais famoso e popular dos filósofos franceses, o alquimista Nicolas Flamel (1330-1417)”..

"O século XV marcou o período glorioso da ciência e La Alquimia Sexual-El Secreto Secretorum ainda supera os precedentes, tanto pelo valor intrínseco como pelo número de Mestres que o ilustraram. Entre estes convém citar, em primeiro lugar, Basílio Valentin, monge beneditino da Abadia de São Pedro, em Erfurt, eleitorado de Mogúncia (por volta de 1413), talvez o artista mais notável que a Arte Hermética produziu; seu compatriota o abade Tritemo; Isaac, o holandês (1408); os dois ingleses Thomas Norton e George Ripley; Lambsprinck; Jorge Aurach, de Estrasburgo (1415); o monge calabrês Lacini (1459); e o nobre Bernardo Trevisan (1406-1490), que empregou cinquenta e seis anos de sua vida ao prosseguimento da Obra e cujo nome ficará na história alquímica como um símbolo de afinco, de constância e de irredutível perseverança."

"A partir deste momento, o hermetismo cai em descrédito. Seus próprios partidários, amargurados pela falta de êxito, se voltam contra ele. Atacado por todas as partes, seu prestígio desaparece, o entusiasmo decresce e a opinião muda. Operações práticas, recolhidas, reunidas, e logo reveladas e ensinadas, permitem aos dissidentes sustentar a tese do nada alquímico e arruinar a filosofia, derrubando as bases da nossa química. Seton, Wenceslao Lavinio de Moravia, Zacarias e Paracelso são, no século XVI, os únicos herdeiros conhecidos do esoterismo egípcio, daquilo que o Renascimento renegou depois de havê-lo corrompido. Rendamos, brevemente, uma suprema homenagem ao ardente defensor das verdades antigas, que foi Paracelso. O grande tribuno merece de nossa parte um eterno reconhecimento por sua última e valente intervenção que, ainda que vã, nem por isso deixa de constituir uma de suas melhores ressonâncias de glória. A Arte hermética prolonga sua agonia até o século XVII e, por fim, extingue-se, não sem ter conseguido dar ao mundo ocidental três ramos de grande envergadura: Láscaris, o presidente d'Espagnet e o misterioso Ireneo Filaleteo, enigma vivo cuja personalidade jamais pôde ser descoberta."

Depois desta descrição necessária destes valores humanos que sulcaram o céu alquímico encontrando sua amálgama preciosa e dando mostras dos dons que esta outorga, inserimos para nosso leitor, pressentindo que talvez não tenha muitas noções desta Arte Laboriosa e Magna, as palavras do grande Mestre Fulcanelli, que nos falam a respeito de como apareceu em nosso mundo ocidental esta nobre “Ciência das Transmutações”:

"Nascida no Oriente, pátria do mistério e do maravilhoso, a Ciência Alquímica se expandiu pelo Ocidente através de três grandes vias de penetração: bizantina, mediterrânea e hispânica. Foi, sobretudo, o resultado das conquistas árabes. Este povo curioso, estudioso, ávido de filosofia e de cultura, povo civilizador por excelência, constitui o vínculo de união, a corrente que relaciona a antiguidade oriental com a Idade Média ocidental. Desempenha, efetivamente, na história do progresso humano, um papel comparável ao que correspondeu aos fenícios, mercadores entre o Egito e a Assíria. Os árabes, discípulos dos gregos e dos persas, transmitiram à Europa, a ciência do Egito e da Babilônia, aumentada por suas próprias aquisições, através do continente europeu (via bizantina), e até o século VIII de nossa Era. Por outra parte, a influência árabe exerceu-se em nossos países com a volta das expedições da Palestina (via mediterrânea), e são os cruzados do século XII os que importam a maior parte dos conhecimentos antigos. Finalmente, mais próximo de nós, na aurora do século XIII, novos elementos de civilização, de ciência e de arte, surgidos por volta do século VIII da África setentrional, estendem-se pela Espanha (via hispânica) e vêm a acrescentar as primeiras contribuições do foco Greco-bizantino"..


Apesar de tudo que foi descrito anteriormente, temos de dizer ao leitor que a linguagem alquímica buscava um único fim: “AUTORREALIZAR O HOMEM COMUM, LIGÁ-LO COM A DIVINDADE QUE INTRINSECAMENTE E QUE LAMENTAVELMENTE IGNORA QUE POSSUI”. .. E para isso falaram os filósofos ou artistas alquímicos de três substâncias sacratíssimas com as quais isso era possível, ou seja, conseguir a PEDRA FILOSOFAL ou o que é o mesmo: “A LUZ ETERNA, DEUS DENTRO DE NÓS...”

Para ter acesso ao conhecimento de onde, como e de que estavam constituídos esses elementos (sal, enxofre e mercúrio), os aspirantes tiveram, em séculos passados, que dedicar toda a vida para encontrar um “Magister (Mestre)” que lhes revelasse "de lábios a ouvidos" o GRANDE ARCANO, que encerrava a explicação concreta de tais substâncias e o modo de operar com elas. Alguns desses aspirantes morreram sem conhecer este "Artifício" e outros, ainda que chegaram a conhecê-lo, não lhes foi possível operar com o mesmo dada a idade avançada em que se encontravam.


Mas a tudo isto há que acrescentar que se alguém conseguia descobrir as verdadeiras naturezas às quais os termos “Sal, Enxofre e Mercúrio” aludiam, teria, no entanto, que lutar muitíssimo para chegar a saber como operar com essas substâncias. Sobre o Secretorum da elaboração do Elixir que daria origem à Pedra Preciosa. Um dos alquimistas mais qualificados como "claros" nos diz o seguinte:

"Que os pesquisadores aprendam, antes de empreender novos gastos, o que diferencia o primeiro mercúrio do mercúrio filosofal. Quando se sabe bem o que se busca, torna-se mais cômodo orientar os passos. Que saibam que seu dissolvente ou mercúrio comum é o resultado do trabalho da natureza, enquanto o mercúrio dos sábios constitui uma produção da Arte. Na confecção deste, o artista, aplicando as leis naturais, conhece o que quer obter. Não acontece o mesmo com o mercúrio comum, pois Deus proibiu o homem de penetrar em seu mistério. Todos os filósofos ignoram, e muitos o confessam, como as matérias iniciais, postas em contato, reagem, se interpenetram e, por fim, se unem sob o véu de trevas que envolve, do começo ao fim, os intercâmbios íntimos desta singular procriação.  Dibujos Alquimicas 6 Isso explica porque os escritores se mostraram tão reservados com relação ao mercúrio filosófico cujas fases sucessivas o operador pode seguir, compreender e dirigir a seu gosto. Se a técnica reclama certo tempo e requer algum esforço, em contrapartida é de uma extremada simplicidade. Qualquer profano que saiba manter o fogo a executará tão bem como um alquimista experiente. Não requer perícia especial nem habilidade profissional, mas apenas o conhecimento de um curioso ARTIFÍCIO que constitui esse SECRETUM SECRETORUM que não foi revelado e, provavelmente, jamais será. A propósito desta operação, cujo sucesso assegura a posse do Rebis Filosofal, Jacques le Tesson citando Damasceno, escreve que este Adepto, no momento de empreender o trabalho, olhava todo o aposento a fim de certificar-se de que não haviam moscas ali dentro, querendo significar com isso que nunca é demais o segredo, dado o perigo que pode acarretar"..

"Não nos corresponde explicar em que consiste o artifício utilizado na produção do mercúrio filosófico. Sentindo muito por isso e apesar de toda solicitação dos filhos da ciência, devemos imitar o exemplo dos sábios, que julgaram prudente reservar esta insigne palavra. Limitar-nos-emos a dizer que esse mercúrio segundo ou matéria próxima à Obra é o resultado das reações de dois corpos, um fixo e o outro volátil. O primeiro, velado sob a denominação de ouro filosófico, não é em absoluto o ouro vulgar. O segundo é nossa água viva, anteriormente descrita sob o nome de mercúrio comum";.

Jacques Bergier - Melquisedeque

  Melquisedeque aparece pela primeira vez no livro Gênese, na Bíblia. Lá está escrito: “E Melquisedeque, rei de Salem, trouxe pão e vinho. E...