segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Gnose é Plenitude


“A Gnose é a plenitude do conhecimento, na qual culminam a Fé e a Filosofia. Querer chegar à Gnose sem Filosofia, sem dialética e sem o estudo da natureza é pretender colher as uvas sem cultivar a vinha. Para chegar até ela há que ascender, mediante a Fé, penetrar os segredos das Escrituras encobertas debaixo do véu das alegorias e conhecer os ensinamentos secretos do Senhor, transmitidos pela Tradição aos Apóstolos, especialmente a Pedro, Santiago, João e Paulo, e, destes aos demais.

Seu objeto é o conhecimento de Deus, que é a causa mais além de todas as causas, e do Logos que é a verdade por essência. É um conhecimento eminente, esotérico, reservado a uma minoria muito seleta, contraposto ao conhecimento exotérico que está destinado ao comum dos fiéis. É uma iluminação, uma compreensão, um estado habitual de contemplação, conhecimento intuitivo e afetivo da causa suprema de todas as coisas, que produz uma certeza absoluta. É a perfeição da caridade, própria do Novo Testamento.

Para se chegar a esta contemplação é necessário uma dupla preparação. Uma purificação moral, mediante a prática das virtudes, e uma preparação intelectual semelhante à uma iluminação. Depois vem os ‘pequenos mistérios’ com seus ensinamentos próprios e finalmente ‘os grandes mistérios’, nos quais se contempla o Logos. Quando se chega a este grau, a alma gnóstica é uma imagem do Logos, e intui a Deus face a face, ainda que a contemplação perfeita só se consiga depois da morte.

Gnóstico é o que vive unido a Deus pela Caridade e pelo Conhecimento, e que dominou suas paixões conseguindo um equilíbrio e uma imperturbabilidade absolutos. Assim se chega a apatia, que consiste na imunidade de toda paixão que possa perturbar a paz e tranqüilidade da alma.

O gnóstico compreende o que aos demais parece incompreensível. Não há nada obscuro para ele. Tudo sabe, e por isso pode também ensinar. Muitos escutam a palavra divina, que é a refeição da alma, mas nem todos compreendem a grandeza da Gnose, e menos ainda são os que obram segundo a vontade do Senhor, que é a água da vida gnóstica. O gnóstico contempla a luz e a verdade. Quanto mais simples são seus desejos, tanto maior é sua união com Deus. O gnóstico imita a Deus e serve seus próximos com caridade.

As características do gnóstico são três: conhecer o Logos; agir segundo o Logos; e ensinar os demais as coisas ocultas acerca da verdade. ”

Autor: Clemente de Alexandria
Ex Stromata. Op. Cit. Guillermo Fraile, O. P. Historia de la Filosofia Cristiana.

As Festas Gnósticas: EPIFANIA


As grandes tradições religiosas possuem cada qual um calendário de comemorações anuais nas quais celebram a memória de fatos notáveis ou ilustres personalidades. Na tradição Gnóstica Moderna, expressada neste plano pela instituição da Santa Igreja Gnóstica, não é diferente, exceto pelo fato de que, em nossa Igreja, celebramos não os fatos externos em si, mas sim, por meio destes, os significados internos de cada comemoração.

Não desprezamos a importância histórica de determinados acontecimentos, pelo contrário, reconhecemos a grandiosa realidade daqueles momentos que marcaram a história de nossa humanidade, alimentando nossa fé na certeza de que os gloriosos símbolos da presença Divina no mundo tornam-se carne viva nos preciosos e recorrentes momentos que celebramos em nosso calendário litúrgico. Contudo, cada momento histórico, sabemos, é a manifestação de realidades internas que podem ser alcançadas por todos aqueles que se lançam no caminho da verdadeira Fé, de acordo com a vontade do Pai e as graças da Mãe, independentemente de confissão religiosa.

Em acréscimo, nossas celebrações, por manifestarem a alegria pela encarnação de símbolos eternos, prestam culto não somente a fatos passados, mas prenunciam, educam e nos preparam para novos adventos de tais realidades nos tempos vindouros – realidades para as quais nos preparamos, mediante a disciplina iniciática, para encarnar.

A Santa Igreja Gnóstica, reestabelecida neste plano físico por homens que, desta forma, encarnaram em si a realidade última de cada uma das festas que celebramos, reconhece a grandiosidade de todas as grandes datas litúrgicas dos tradicionais calendários religiosos de nossa humanidade, pois estas ocultam verdades únicas a todas as religiões. Sabemos que a religião do futuro será uma religião holística, síntese das grandes correntes que alimentam a fé da humanidade; mais propriamente, sabemos que a religião do futuro será baseada especialmente na essência daquilo que hoje chamamos de Budismo e daquilo que hoje chamamos de Cristianismo. É importante alertar, contudo, que as igrejas e instituições populares que hoje adotam tais designações encontram-se, nestes tempos tenebrosos, bem longe do que são, em essência, os ensinamentos destas duas correntes cujas raízes verdadeiras avançam para muito além das vidas do Bendito Buddha Siddharta e do Venerável Mestre Jesus.

Em nossa Igreja Gnóstica celebramos as vidas destes e de muitos outros gloriosos Cristos, Mestres, Buddhas, Santos, Avatares e Missionários. Fixamo-nos, contudo, na lembrança destes Benditos Seres, de seus exemplos e de seus ensinamentos, e não em um culto vazio às suas personalidades. Para além disto reconhecemos as verdades ocultas nos símbolos encarnados nas passagens históricas das vidas destes, também manifestados na carne da experiência de cada Iniciado, célebre ou não para a história comum.

Podemos dizer, de outra forma, que a Santa Igreja Gnóstica celebra, acima de tudo, a realidade do Cristo vivo, universal e não sectário. Seus fiéis comungam em sua memória, em honra ao Verbo que a tudo sustenta e faz crescer. São os símbolos do Cristo vivo que adquirem carne na história e que celebramos em cada data de nosso calendário litúrgico.

Imbuídos deste espírito e cientes de tais realidades é que nós gnósticos celebramos a data da Epifania.

O termo “epifania” deriva da palavra grega ephifaneia, que significa “manifestação”, “aparição” (EDUCACIONAL; LIMA, Luciano José et alli). Era uma expressão utilizada pelos antigos para designar a chegada de um rei ou imperador. Com o advento do Cristo Jesus o termo passa a assumir a conotação de manifestação do divino ao mundo, de maneira semelhante ao termo “teofania”, utilizado nas antigas escrituras.

Diz-nos o Venerável Mestre Samael Aun Weor, patriarca da Santa Igreja Gnóstica, que a “Epifania” é a “ascensão das forças crísticas no homem” (SAMAEL AUN WEOR, in Apuntes Secretos de un Gurú). Desvela-nos, desta forma, a realidade interna deste antigo símbolo cristão.

Nas confissões cristãs populares a Epifania do Senhor era uma festa que se celebrava no dia 6 de janeiro, ou seja, doze dias após a celebração do Natal (WIKIPEDIA, “Ciclo do Natal”). Este antigo ciclo de doze dias (Christmatide) é significativo: dizem as tradições ocultas que tudo aquilo que é criado pelo Três é organizado pelo Sete e se mantém em manifestação pelo Doze. O número doze é sagrado e profundamente significativo, pois representa a manifestação do Interno neste mundo pelas forças que sustentam e operam tudo aquilo que vemos. Doze são as tribos de Israel, doze são os apóstolos e doze são os cavaleiros da távola redonda. Também no Sagrado Tarot o número doze nos revela a manifestação, pois o sacrifício se dá na cruz do mundo manifesto, e o apostolado, o “sacro-ofício”, se materializa através da operação destas mesmas forças. Doze ao redor de Um é um esquema cósmico necessário à ação, que se repete em todas as estruturas manifestas, através do qual algo oculto se revela e atua neste mundo, como o Sol oculto por meio de doze signos zodiacais, que possuem também seus correspondentes internos no corpo humano.

Contudo, quando as instituições populares se afastam do espírito do ensinamento resta a letra morta, que não consegue resistir ao “pragmatismo” da liturgia externa: desde recente reforma de seu calendário litúrgico a igreja de Roma celebra a Epifania no segundo domingo após o Natal (WIKIPEDIA, “Epifania”), e não mais no dia 6 de janeiro, uma vez que em muitos países esta data não é considerada feriado nacional. A celebração no dia 6 persiste, contudo, em confissões cristãs ortodoxas e gnósticas modernas.

Neste ponto, cabe aprofundarmos mais a questão e rememorarmos as origens históricas desta efeméride, ligadas a comemorações pagãs e cristãs primitivas, presentes especialmente nas comunidades do cristianismo oriental e gnóstico antigos. Ao explorarmos tais origens recuperaremos seu sentido oculto, guiados pelas chaves reveladas por nosso Venerável Patriarca Samael Aun Weor.

Quando nos ocupamos de suas origens descobrimos, desta maneira, que a celebração da Manifestação do Senhor surgiu logo nos primeiros séculos da era Cristã, nas igrejas do oriente, com raízes pagãs e gnósticas. Um dos primeiros registros de uma festa Cristã de Epifania é o da comemoração do ano de 361, feito pelo historiador romano Amiano Marcelino (c. 325/330 – c. 391) (WIKIPEDIA, “Epiphany”). Mas a data já era conhecida, e comemorada, desde muito antes. Para os pagãos as festas de comemoração do solstício do inverno no hemisfério norte incluíam a celebração do aumento gradual da jornada solar (ACIDIGITAL, “Epifania”, cit. EPIFANIO DE SALAMINA), e culminavam, em regiões como a do Egito e a da Arábia, no dia 6 de janeiro do calendário gregoriano. Vemos aqui o como um mesmo mistério subjaz às festas do Natal e da Epifania, desde os seus primórdios. Foram estas, portanto, as festas cristianizadas pelos cristãos primitivos logo nos primeiros anos da nova fé, razão pela qual uma das denominações desta festa no oriente é Hagia Phota (Santa Luz) (ACIDIGITAL, “Epifania”).

Estes cristãos primitivos incluíam todos aqueles grupos que vieram a dar origem às modernas confissões cristãs, bem como todos aqueles grupos que com o passar dos séculos deixaram de existir publicamente, e que hoje denominamos genericamente de “gnósticos” (ou “gnósticos históricos”, para diferenciá-los dos modernos gnósticos). Em um destes grupos, o dos seguidores do Mestre Gnóstico Basilides (séc. II d.C.), já entre os anos de 120 e 140 celebrava-se esta data sagrada da Epifania, associando-a ao Batismo de Jesus. Clemente de Alexandria (?-215) em seu Stromata (Livro I, cap. 21) observa que estes seguidores de Basilides festejavam o Batismo do Senhor, comemorando-o com a leitura de textos na noite de sua véspera. Registra também que alguns destes diziam que tal data caía no 15º dia do mês de Tubi do 15º ano de Tiberius Caesar, e que outros diziam que caía no 11º dia (respectivamente 10 e 6 de janeiro do calendário gregoriano). É inegável, portanto, a realidade histórica da conexão entre a festividade da Epifania e a celebração do Batismo de Jesus. Mais além, a persistência de diversas tradições populares que relacionam a Epifania ao Batismo, especialmente nas igrejas do oriente, nos revela que esta é a principal associação histórica feita a esta data.

A principal, mas não a única.

Veremos que a comemoração da Epifania reúne em si a memória de diversos fatos, amarrados por uma única verdade, que é a da ascensão das forças crísticas no homem, segundo nos revela o Mestre Samael Aun Weor. O primeiro destes fatos, vimos, nos é revelado por meio dos ensinamentos do gnosticismo basilidiano e das tradições da antiga igreja, que é o da Manifestação da Divindade do Mestre Jesus quando de seu batismo no Rio Jordão pelo Bendito Avatar João Batista. Este momento, que marca o início da missão pública do Venerável Mestre Jesus, é de profunda significação oculta, e relaciona-se claramente ao conceito de manifestação da divindade na humanidade. Resta-nos compreender no entanto qual o verdadeiro significado oculto do Batismo, e para tanto resgataremos antes um segundo momento que a festa da Epifania nos faz recordar, o das Bodas de Caná.

Registra Epifanio de Salamina (c.315-403) em seu Panarion, que a data de 6 de janeiro corresponderia à hemera genethlion toutestin epiphanion (“O aniversário de Cristo; isto é, Sua Epifania”) (WIKIPEDIA, “Epiphany”). De fato, a data de 6 de janeiro é também uma comemoração do nascimento de Cristo para muitas tradições cristãs, uma vez que, como vimos acima, as festividades do Natal e da Epifania possuem raízes comuns (a data de 25 de dezembro, também comemorada como a do nascimento de Jesus, só é fixada tardiamente pela igreja de Roma, que separa desta a comemoração de Seu Batismo). Entretanto, e este é o fato que mais nos interessa, o mesmo Epifanio registra que o milagre em Caná teria ocorrido nesta mesma data, isto é, em 6 de janeiro do atual calendário gregoriano.

Uma mesma data para celebrar um nascimento, um batismo e um matrimônio. Mais uma vez é nosso Venerável Patriarca que nos aponta a chave oculta deste fato:

“Na Igreja do Oriente, o Batismo no dia da Epifania está associado às Bodas de Caná. Na Igreja Ocidental, considerando a Epifania, associa-se o Batismo ao Matrimônio de Jesús com a Igreja. De maneira que tanto no Oriente o Batismo está associado ao Sexo, como no Ocidente; em ambos os casos relaciona-se com o Matrimônio”.

(SAMAEL AUN WEOR, in La Piedra Filosofal o El secreto de los Alquimistas).

No segundo capítulo do Evangelho de João encontra-se o relato deste matrimônio ocorrido na cidade de Caná da Galiléia, onde o Mestre Jesus realiza o milagre de transmutar água em vinho. Segundo a tradição este teria sido o primeiro dos milagres em seu ministério público: “Foi assim, em Caná da Galiléia, que Jesus começou seus sinais. Ele manifestou a sua glória, e seus discípulos acreditaram nele” (João II, 11).

Profundamente significativo é este momento. Ocorrido em um casamento onde estavam presentes seus discípulos e, a pedido de sua Mãe, o abençoado Mestre transmuta as águas, símbolo universal das forças criadoras, em vinho, símbolo destas mesmas forças transformadas pela vontade e pela santa castidade. O suco de uva também, como o vinho, representa e armazena as forças solares contidas na uva, e é utilizado na Santa Unção Gnóstica. Diz o Venerável Mestre Samael Aun Weor acerca disto:

“Dado o grão o restante morre. Dentro deste poder do trigo encontra-se toda a substância Cristo, a qual vem dar a vida a todo o nosso organismo, pois se não fosse por essa substância Crística em nós, seria impossível viver. O Sol é a base de tudo.

“O mesmo acontece com o vinho, uma vez que na uva está encerrada a vida do Cristo-Sol, que trazemos ao nosso corpo com a Santa Unção.

“’Epifania’ significa a manifestação ou revelação, ou a ascensão de Cristo em nós. Isto alcançamos com a Santa Unção e com a Magia Sexual”.

(SAMAEL AUN WEOR, in El Matrimonio Perfecto o La puerta de entrada a la Iniciación).

Compreendemos desta maneira o profundo significado alquímico das Bodas de Caná, e sua relação com as mesmas águas batismais, que nos mistérios sexuais simbolizam as forças criadoras e a promessa do trabalho nas águas da vida, prenúncio de um Matrimônio Perfeito e do ofício no Sagrado Arcano AZF.

Cumpre alertar, neste ponto, que a promessa do Batismo só possue valor se é concretizada pelo sacramento do Matrimônio:

“É necessário compreender o que é o BATISMO em si mesmo. Obviamente, o  Batismo é um PACTO DE MAGIA SEXUAL. Vamos batizar um menino, com muito gosto! Se ele cumpre com este pacto mais tarde, o batismo terá lhe servido; se não cumpre com esse pacto, então, de que serve? Na Igreja do Oriente o Batismo (no dia da Epifania) está associado às Bodas de Caná. Na Igreja Ocidental (considerando a Epifania) se associa o Batismo ao matrimônio de Jesus com sua Igreja. De forma que tanto no Oriente como no Ocidente o Batismo está associado ao sexo; em ambos os casos se relaciona com o Matrimônio. É portanto o Batismo um pacto de Magia Sexual. Se é cumprido, o Batismo serve para algo, se não se cumpre o Batismo, então não serve para nada. Essa é a crua realidade dos fatos! … Esclareço-vos sobre tudo isto para que compreendam a transcendência esotérica do Batismo. A PIA BATISMAL, por exemplo, nas Igrejas Cristãs, representa precisamente a PEDRA FILOSOFAL, ou os órgãos criadores. Enquanto que as ÁGUAS MAGNETIZADAS ou ÁGUAS LUSTRAIS contidas na Pedra representam, indubitavelmente, o ESPERMA SAGRADO. De outra maneira diríamos que a água é o Mercúrio da Filosofia Secreta e que o fogo das velas representa o ENXOFRE da Alquimia; somente mediante o Mercúrio (ou seja, a entidade do Sêmen) e o Enxofre (ou seja, a entidade do Fogo), é possível alcançar o Segundo Nascimento”.

(SAMAEL AUN WEOR, in “Implicaciones Sexuales del Bautismo”, El quinto Evangelio – Vol. 5: Tratados de Alquimia y Sexologia).

Na Epifania celebramos portanto este mistério da manifestação da Divindade em nós, por meio do trabalho com as águas sagradas. Esta é a promessa do Batismo que se concretiza por meio do Matrimônio Sagrado e o trabalho no Grande Arcano. Somente desta maneira poderemos fazer nascer, em nós, o Cristo. Preparamo-nos para tanto mediante uma vida de santidade, castidade e mística, e reunimos forças para este trabalho na Santa Unção Gnóstica, celebrada em memória do Cristo Adorado, onde realizamos em nós o prenúncio deste mistério.

Por fim, também celebramos na Epifania a própria revelação desta Boa Nova – o advento do Cristo, que é revelada a todos os homens por meio do sacrifício de nosso Adorável Salvador. Popularmente dizemos que o Cristo se manifesta ao seu povo quando os pastores das cercanias vêm adorá-Lo à manjedoura e dizemos que Ele se revela ao mundo quando três reis magos vêm saudá-lo. O dia 6 de janeiro é também popularmente conhecido como “Dia de Reis”, pois nele celebramos, também, a visita dos sábios Gaspar, Melquior e Baltazar, símbolos deste mistério revelado e da expectativa de sua concretização dentro de cada um de nós:

“Melchor, o rei da luz (de Melech, rei, e de aour, luz), que oferece ouro; Baltasar, o grande pontífice, cujo nome em sírio quer dizer ‘guardião do tesouro’, e em hebraico ‘paz profunda’, que oferece incenso e, por último, Gaspar ou Gasphar, o crente, homem do povo, o pecador reabilitado, o filho de Cam reconciliado, o etíope negro que oferece mirra, remédio para a corrupção, emblema da penitência e perfume da morte”.

(ELIPHAS LEVI, in Curso de Filosofia Oculta).

Estes três magos do Oriente, que exotericamente representam os povos do mundo, vêm para adorar o Cristo infante, guiados por uma estrela de brilho imenso. Esta estrela é aquela que sempre resplandesce em todo novo Iniciado, e que, como diz o sábio Eliphas Levi, “é a estrela do Absoluto e da síntese universal” (ELIPHAS LEVI, in Curso de Filosofia Oculta). Ainda segundo Levi, esta estrela da Epifania não é outra que não o Pentagrama, e a Epifania é, em síntese, a manifestação da luz: Lumen ad revelationem gentium.

Na celebração gnóstica da Epifania são estes os mistérios que comemoramos, e é por sua transcendência que o Venerável Mestre Samael Aun Weor estabeleceu a comemoração desta data em nossa liturgia:

“… Por todos estes motivos, vamos estabelecer, em nossos R[itos] Gnósticos, o dia da Epifania. Constará da L[iturgia], porque é profundamente Alquimista. EPIFANIA é a ASCENSÃO DO CHRESTOS CÓSMICO em nós, por isso é formidável a Epifania. Mas não poderia o Chrestos ascender em nós se realmente não cumprirmos com os Sacramentos do Batismo e do Matrimônio Gnóstico. […] Todos nós, em realidade, estamos cheios de múltiplos ‘elementos indesejáveis’, que lamentavelmente carregamos em nossa Psique. Somos espantosamente débeis, por isso necessitamos obrigatoriamente da ASSISTÊNCIA CRÍSTICA. […] A CARNE do Cristo é o MERCÚRIO dos Sábios e o SANGUE, repito, é o VINHO, o ENXOFRE. O sangue do Cordeiro Imolado que limpa os pecados do mundo, é o Fogo, é o Enxofre que arde dentro das entranhas da Terra…”.

(SAMAEL AUN WEOR, in “Implicaciones Sexuales del Bautismo”, El quinto Evangelio – Vol. 5: Tratados de Alquimia y Sexologia).
Que esta Luz possa se manifestar em cada um de nós.
Paz Inverencial.
Autor: Monsenhor Ricardo Bianca de Mello

Gnose:A Natureza do Cristo


Infelizmente, até hoje poucos compreendem o que é o Cristo. Muitos supõem que o Cristo foi ou é exclusivamente Jesus de Nazaré. Jesus de Nazaré, como homem – ou melhor dizendo, Jeshuá ben Pandirá – recebeu, como homem, a Iniciação Venusta, encarnou o Cristo, mas ele não é o único a ter recebido tal Iniciação. Hermes Trismegisto, o três vezes grande Deus Íbis de Thot, também O encarnou. João Batista, a quem muitos consideravam como o Christus, o Ungido, igualmente recebeu a Iniciação Venusta e também encarnou o Cristo Cósmico. Os Gnósticos Batistas asseguravam, na Terra Santa, que o verdadeiro Messias era João, e que Jesus era somente um Iniciado que havia querido seguir João. Naquela época havia disputas entre Batistas, Gnósticos Essênios e outros.

Precisamos entender a natureza do Cristo tal qual é; não como pessoa, não como indivíduo, mas como Poder Cósmico. O Cristo está além da Personalidade, do Ego e da Individualidade. Cristo, em esoterismo autêntico, é o Logos, o Logos Solar, o Demiurgo Creador, representado pelo Sol. Por isso, todos os povos antigos adoravam o sol, e os ignorantes de hoje dizem que eles eram idólatras ou iconoclastas que nada sabiam.

No mundo do Cristo Cósmico não existe individualidade. No universo do Cristo todos somos Um. Por isso se diz que o Cristo é a Unidade Múltipla, a Voz, o Verbo. O Logos é uma energia, um poder, uma força, uma realidade que se move e palpita em toda a Criação, que subjaz em cada átomo, em cada elétron, em cada próton e que pode encarnar e se expressar através de qualquer homem devidamente preparado para tal pelas Iniciações.

Bem, fiz este esclarecimento, em síntese, com o objetivo de especificar melhor o acontecimento de Belém. Inutilmente teria nascido Jesus em Belém se não nascesse em nosso coração também. Inutilmente teria morrido e ressuscitado na Terra Santa, se não morrer e ressuscitar em nós também. Esta é a natureza do “Salvator Salvandus”. O Cristo Íntimo deve salvar-nos, mas salvar-nos de dentro de nós. A fé morta dos crentes e seguidores comuns das religiões confessionais jamais encarnarão o Cristo, portanto, nunca obterão a salvação. Isso é algo terrível de se dizer, porém, é a mais crua das realidades.

Aqueles que aguardam a vinda de Jesus de Nazaré para um futuro remoto ou para os tempos finais estão equivocados. O Cristo virá de dentro de nós, jamais sobre as nuvens de nosso planeta como esperam os seguidores de algumas seitas cristãs, porque a segunda vinda do Senhor é de dentro, do próprio fundo de nossa Consciência. Por isto está escrito o que Ele disse: “Se ouvirdes alguém dizendo em praça pública que é o Cristo, não o creiais; e se disserem: Ele está ali no Templo predicando, não o creiais”. É que o Senhor desta vez não virá de fora, mas de dentro; virá do próprio fundo de nosso coração se nós nos prepararmos.

Paulo nos esclarece dizendo: “De sua virtude tomamos todos, graça por graça”. Então, está documentado; se estudarmos cuidadosamente Paulo de Tarso, veremos que raramente ele alude ao Cristo histórico; cada vez que Paulo de Tarso fala sobre Jesus Cristo, refere-se ao Cristo Interior, ao Jesus Cristo Íntimo que deve surgir do fundo de nosso Espírito, de nossa Alma mediante uma disciplina e uma práxis especial, chamada Iniciação.

Autor: Monsenhor Karl Bunn

Gnose:A Fé que não Salva


Desde os primeiros séculos do cristianismo, quando o texto grego do Evangelho foi traduzido para o latim, principiou a funesta associação de crer com fé. A palavra grega para fé é pistis, cujo verbo é pisteuein.

Infelizmente, o substantivo latino fides, correspondente a pistis, não tem verbo e, assim, os tradutores latinos viram-se obrigados a recorrer a um verbo de outro radical para exprimir o grego pisteuein: credere, que em português deu crer.

Nenhuma das cinco línguas neo-latinas português, espanhol, italiano, francês, romeno – possui verbo derivado do substantivo fides, fé; todas essas línguas são obrigadas a recorrer a um verbo derivado de credere.

Ora, a palavra pistis ou fides significa, originalmente, harmonia, sintonia, consonância. Portanto, ter fé é estabelecer ou ter sintonia e harmonia entre o espírito humano e o espírito divino.

Nos tempos modernos, é fácil estabelecer o seguinte paralelo ilustrativo: um receptor de rádio só recebe a onda eletrônica emitida pela estação emissora, quando o receptor está sintonizado ou afinado perfeitamente com a freqüência da emissora; se a emissora, por exemplo, emite uma onda de freqüência 100, o meu receptor só reage a essa onda e recebe-a quando está sintonizado com a freqüência 100; só neste caso, o meu receptor tem fé,
fidelidade, harmonia ou está em consonância com a emissora.

Se o espírito humano não está sintonizado com o espírito de Deus, ele não tem fé, embora talvez creia. Esse homem pode, em teoria, aceitar que Deus existe, e apesar disso, não ter fé. Ter fé é estar em sintonia com Deus, tanto pela consciência como também pela vivência, ao passo que um homem sem sintonia com Deus pela consciência e pela vivência, pela mística e pela ética, pode crer vagamente em Deus.

Crer é um ato de boa vontade; ter fé é uma atitude de consciência e de vivência. A conhecida frase “quem crer será salvo, quem não crer será condenado”, é absurda e blasfema no sentido em que ela é geralmente usada pelos teólogos. Mas, se lhe dermos o sentido verdadeiro, ela está certa, porque a salvação não é outra coisa senão a harmonia da consciência e da vivência com Deus.

A substituição de “ter fé” por “crer” há quase dois mil anos desviou a teologia e deturpou profundamente a mensagem do Cristo.

Autor: Huberto Rohden
Este texto é parte de uma nota escrita por Huberto Rohden em seu livro “A Mensagem Viva do Cristo”, pág. 90 ed. Alvorada, sétima edição.

Os Rituais da Igreja Gnóstica



Os Rituais da Igreja Gnóstica são tão antigos quanto o mundo; constituem o esoterismo mágico do antigo Egito, o tantrismo oculto no próprio fundo da Arca da Ciência, a Magia Crística transcendental e divina; são invocações litúrgicas de divindades egípcias, cuja realidade fundamenta-se nos mesmíssimos tesouros das terras sagradas do Nilo; é o Verbo de Rá condensado cientificamente em cada mantra, prece e invocação esotérica profunda.

Os Mistérios de Ísis, Osiris e Hórus são provenientes de um Período Netuniano-Amentino que se perde na noite aterradora das Idades. Nos Mistérios Egípcios vibra Rá, o Logos, a Potência que jaz imanente em cada partícula atômica do universo.

As cerimônias mágicas egípcias operam extraordinariamente, manejando forças que se propagam, em seguida, na atmosfera deste mundo para o bem de muitos aspirantes da Luz. Os Deuses invocados acorrem pressurosamente; Eles têm autêntica realidade; sempre existiram e sempre existirão. Em vão os profanos e profanadores tentarão zombar dos Deuses Santos. Na verdade, essas Deidades não só governaram o mundo em tempos mais ditosos como também se manifestam liturgicamente para o bem de nossos neófitos nesta hora de crise mundial e de ruína dos princípios éticos.

Quando a humanidade abandonou o culto aos Deuses Santos caiu no materialismo grosseiro desta espantosa época de Kali-Yuga. Num futuro próximo, os Deuses farão sentir, cada vez mais, sua influência sobre a espécie humana. Nós nos adiantamos no tempo ao invocar esses Seres Inefáveis durante os trabalhos litúrgicos-mágicos-esotéricos — tão importantes que são para nossa cristificação.

Sem dúvida, os Guardiões da Esfinge Elemental do Deserto nos vigiam nesses momentos quando, com tanto amor, ritualizando, condensamos a sabedoria dos antigos tempos. Não há dúvida que Deus se encontra na Liturgia, no caminho místico litúrgico, no caminho estreito, apertado e difícil que sempre enfatiza a Liturgia Gnóstica.

Cada ritual da Igreja Gnóstica é uma aula para a Consciência; compreende, agora, o estudante o porquê da linguagem alegórica, simbólica e mística da Liturgia Gnóstica. É óbvio que a Consciência transcende a mera intelectualização; jamais se poderia empregar com a Consciência a mesma linguagem que para o intelecto.

É preciso fazer distinção entre intelecto e Consciência. O intelecto é educado intelectualmente; a Consciência, com a dialética da Consciência. No fundo, o sistema ritualístico é dialético e ritualístico. Trata-se de uma didática transcendental, baseada na Lógica Superior.

A Lógica Superior não é conhecida pelos adeptos da lógica aristotélica. Todavia, diremos que a Lógica Superior transcende as fórmulas intelectuais da dialética e da lógica formal, ficando, em última análise, reduzidas a simples palavras vazias e superficiais.

Os rituais condensados no Livro de Liturgia da Igreja Gnóstica possuem fundamentos lógicos transcendentais que, sem dúvida, representam um avanço em direção aos princípios psicológicos ritualísticos. A Unção, em si mesma e por si mesma, é algo extraordinário. É evidente que, mediante o ritual, átomos crísticos de altíssima voltagem descem do mundo do Logos para impregnarem o pão e o vinho da transubstanciação.

Ao comer o pão e beber o vinho os neófitos levam para o interior de seu corpo esses átomos de extraordinário e crístico esplendor. Como o caminho costuma ser difícil e árduo, e nós nos encontramos num estado verdadeiramente caótico e grosseiro, é óbvio que precisamos de ajuda eficaz. Os átomos crísticos nos auxiliam, nos instruem, nos iluminam, e assim, podemos caminhar para a auto-realização íntima do Ser.

Autor: V. M.  Samael Aun Weor
* Prólogo do Manual de Liturgia da Igreja Gnóstica.

Gnosticismo: Heresia ou Ortodoxia?



“Sou a voz do despertar na noite eterna” [Hino gnóstico]

O Gnosticismo, doutrina filosófico-religiosa dos gnósticos, é o ensinamento baseado na gnosis, termo grego que significa literalmente conhecimento. Obviamente, neste caso, trata-se do conhecimento sagrado (ou Sophia).

Durante muito tempo, foi encarado como uma heresia, uma simples seita do Cristianismo: primeiro teria existido o Cristianismo, com a sua teologia, e só depois teria surgido a heresia gnóstica. Von Hartman, um historiador alemão dos finais do séc. XIX, ainda considerava que os gnósticos, interpretando a doutrina cristã à luz da filosofia grega, distorceram aquela mensagem e propagandearam formas falsas do ensinamento cristão.

Com o desenvolvimento do estudo da História das Religiões, esta perspectiva foi abandonada, passando a ficar clara e assente a idéia de que o gnosticismo é um fenómeno basicamente pré-cristão e um movimento religioso independente. No início do século XX, Wilhelm Bousset declarou que “o gnosticismo é antes de mais nada um movimento pré-cristão com raízes em si mesmo. Deverá pois ser entendido (…) nos seus próprios termos e não como um rebento ou derivado da religião cristã“. [1].

Walter Bauer publicou em 1934 uma obra que reconhecia que “originalmente, certas manifestações da vida cristã que os autores da igreja denunciam como heresias, não tenham sido nada do género, sendo sim as únicas formas da nova religião; isto é, nessas regiões, elas eram simplesmente o cristianismo”. [2]

As descobertas em Nag-Hammadi – uma nova perspectiva 

Em 1945, um camponês encontrou, em Nag-Hammadi, uma pequena localidade no Alto Egipto, um grande pote de cerâmica contendo 13 livros de papiro encadernados em couro. No total foram descobertos 52 textos. Após longas investigações, os estudiosos chegaram à conclusão de que os papiros tinham cerca de 1500 anos e eram traduções em copta de manuscritos ainda mais antigos. As datas dos textos originais estão estimadas entre os anos 50 e 180 da nossa Era. Pensa-se que os manuscritos foram enterrados por volta do século IV, quando, na época da conversão do Imperador Constantino, os bispos católicos passaram ao poder e desencadearam uma campanha, por vezes muito violenta e inescrupulosa, contra as chamadas heresias. [3]

A descoberta destes textos iniciou uma era de pesquisa completamente nova, iluminando as raízes e os primórdios do Cristianismo, que diferem da versão que o poder vigente quis fazer vingar. A maior parte desta literatura é distintamente cristã; porém, alguns textos aproximam-se da tradição judaica e outros das tradições hindu e budista. No conjunto, tais escrituras apontam para a idéia de que os gnósticos foram dos primeiros e dos verdadeiros cristãos, encontrando-se entre aqueles que melhor compreenderam a mensagem mais profunda do Senhor. Tendo em conta a importância dos Essénios e grupos semelhantes na formação do Cristianismo Primitivo, importa referir que Helena Blavatsky, no Vol. III da sua obra “Ísis sem Véu”, sugere que os gnósticos seriam os essénios: quando estes últimos desapareceram, os gnósticos surgiram e afirmaram a sua doutrina.

Assim, o Gnosticismo deverá ser entendido como um penetrar na face oculta do Cristianismo, compreendendo, não só mas também, os ensinamentos destinados àqueles espiritualmente amadurecidos e capazes de penetrarem nos Mistérios. Num dos seus mais maravilhosos livros, o “Cristianismo Esotérico”, Annie Besant declara que, tal como todas as tradições religiosas, o Cristianismo tem um lado secreto destinado apenas a alguns, pois “as religiões são dadas ao mundo por homens mais sábios que as massas que as recebem. São destinadas a acelerar a evolução humana, e a sua acção, para ser efectiva, deve atingir e influenciar individualmente os homens. Ora, nem todos os homens alcançaram o mesmo grau de evolução (…). É, portanto, inútil querer dar a todos o mesmo ensinamento religioso(…). A religião deve ser graduada como a própria evolução, senão jamais atingirá o seu fim”.

As próprias palavras do Mestre são claras e explícitas: “E quando se achou só, os que estavam junto dele com os doze apóstolos o interrogaram acerca do sentido desta parábola. Ele disse-lhes: “A vós é dado a conhecer os mistérios do reino de Deus mas, para os que estão de fora, todas estas coisas se dizem por parábolas”. “Assim, lhes anunciava a palavra por muitas parábolas semelhantes, conforme os que eram capazes de ouvir. Ele não lhes falava senão por parábolas, mas quando estava em particular, explicava tudo aos seus discípulos”. [4]

Alguns dos próprios padres da Igreja haviam eles mesmo reconhecido a existência de uma doutrina oculta. São Clemente de Alexandria escreveu que “o Senhor permitiu que participassem desses Mistérios divinos os que fossem capazes de recebê-los. Certamente Ele não revelou aos muitos o que aos muitos não pertencia, mas sim aos poucos a quem sabia que pertenciam, os que eram capazes de recebê-los e de serem moldados de acordo com eles“. [5]

Assim, enquanto os ortodoxos dependiam exclusivamente dos ensinamentos públicos e exotéricos que Cristo e os Apóstolos proporcionavam a muitos, a maior parte dos cristãos gnósticos possuíam o seu conhecimento secreto, conhecido somente por poucos. Note-se que os gnósticos aqui retratados não se referem a nenhum dos modernos movimentos autodenominados gnósticos mas, sim, a homens profundamente sábios como Valentim, Basílides, Marcion e Simão, o Mago, entre outros.

Gnosis – autoconhecimento como conhecimento do Divino 

A gnosis é o conhecimento espiritual e sagrado, correspondente à Gupta-vidyâ dos hindus, a visão com os olhos da alma ou percepção espiritual, e só pode ser alcançado através da Iniciação nos Mistérios Espirituais. [6] Para os gnósticos, a gnosis é (era) essencialmente um processo de autoconhecimento como conhecimento de Deus. Abandonai a busca de Deus e da criação e demais questões de índole semelhante. Procurai-O tomando-vos a vós próprios como ponto de partida. Aprendei quem é que, dentro de vós, faz seu tudo quanto há e diz: “Meu Deus, minha razão, meu pensamento, minha alma, meu corpo”. Aprendei as fontes da tristeza, da alegria, do amor, do ódio (…) Se investigardes cuidadosamente estas questões, descobrireis Deus em vós próprios. [7]

O homem que se conhece a si próprio, ao mais profundo nível, conhece simultaneamente Deus e, para o fazer, “Batei à porta que sois e caminhai sobre a estrada recta que sois. Pois se caminhardes pela estrada, impossível será que vos extravieis (…) Abri a porta por vós mesmos, de forma a poderdes ficar a conhecê-la (…) Tudo aquilo que abrirdes por vós próprios, abrireis efectivamente”. [8]

Entretanto, a idéia, explicitada por Annie Besant na “Sabedoria dos Upanishads”, de que a Natureza do Espírito Universal também se encontra em nós mesmos, de que o Atman ou Eu mais interno, que é (uno com) Brahman conhece a manifestação externa de Brahman, contribui para a compreensão do Reino de Deus referido no Evangelho de Tomé. Tal como o Espírito Universal se encontra em nós e fora de nós, é possível conhecer o Reino de Deus dentro de nós, através do autoconhecimento, e fora de nós, através do conhecimento das leis que regem o Cosmos, sendo estas o Pensamento Divino encarnado. (…) De facto, o reino encontra-se dentro de vós, e ele encontra-se fora de vós. Quando chegardes a conhecer-vos, sereis então conhecidos, e percebereis que sois os filhos do Pai vivo. [9]

Nesta viagem de autodescoberta a mente é o nosso guia fiel e a razão o nosso mestre: (…) trazei o vosso guia e o vosso mestre. A mente é o guia, mas o mestre é a razão. Vivei de acordo com a vossa mente (…) Adquiri força, pois a mente é forte (…) Iluminai a vossa mente (…) Acendei a lâmpada que tendes dentro de vós. [10]

A Ressurreição como Iniciação 

A Ressurreição de Cristo não era interpretada de uma forma literal mas sim simbólica. Ela simbolizava a forma como era possível experimentar a presença de Cristo a um nível espiritual; ela é o momento da iluminação, o momento em que se alcança a gnosis. Sobre este assunto, o Tratado sobre a Ressurreição, diz: Não suponham que a ressurreição é uma aparição. (…) Em vez disso deveríamos era sustentar que é o mundo que constitui uma aparição e não a ressurreição. Ela é a revelação daquilo que em verdade existe e uma migração para a novidade. [11]

O autor deste texto considera a existência humana normal como morte espiritual e que, através da Ressurreição, o homem se torna espiritualmente vivo. No “Evangelho de Filipe” encontramos presente a mesma ideia: Tu viste o Espírito, tu tornaste-te Espírito. Tu viste Cristo, tu tornaste-te Cristo. Tu viste o Pai, tu tornas-te-ás Pai… [12]

“Para os cristãos dos primeiros séculos, Cristo era o símbolo vivo da própria divindade neles, o fruto glorioso do gérmen que eles traziam no próprio coração. A doutrina do Cristianismo Esotérico não era a salvação por um Cristo exterior, mas a glorificação e a perfeição de todos no Cristo interior”. [13]

O Cosmo 

Tal como a tradição hindu, a filosofia gnóstica assenta na concepção de um Deus Absoluto, a Divindade Suprema, Transcendente a todo o universo manifestado. Este Deus é: O único Senhor e Deus (…) Pois ele não foi gerado (…) Por conseguinte, na devida acepção, o único Pai e Deus é aquele que não foi gerado por ninguém. [14]

A Raiz do Todo, o Inefável que reside na Mónada. Ele reside sozinho em silêncio (…) visto que, afinal, ele era uma Mónada, e ninguém existiu antes dele. [15]

No “Livro de Melquisedec”, do Evangelho do Mar Morto, é-nos dada uma magnífica descrição do Deus Imanifestado: Antes que existisse uma estrela a brilhar, antes que houvesse anjos a cantar, já havia um céu, o lar do Eterno, o único Deus. Perfeito em Sabedoria, Amor e Glória, viveu o Eterno uma eternidade, antes de concretizar o Seu lindo sonho, a criação do Universo. Os incontáveis seres que compõem a criação foram, todos, idealizados com muito carinho. Desde o íntimo átomo às gigantescas galáxias, tudo mereceu a Sua suprema atenção.

Valentim, um dos mais sábios entre os gnósticos, começa a sua exposição filosófica com a premissa de que Deus é essencialmente indescritível: nada pode ser dito acerca da Seidade pois o próprio conceito está muito para além da nossa compreensão. No entanto, ele sugere que o Divino pode ser considerado como uma díade “consistindo, por um lado, no Inefável, a Profundeza, o Pai Primordial; e, por outro lado, na Graça, o Silêncio, o Ventre e Mãe-de-Tudo”. A mesma ideia pode ser encontrada num dos textos mais recentemente encontrados, “O Protenóia Trimórfico” (literalmente, o “Pensamento Primordial Triplamente Formado”): Eu sou Protenóia, o Pensamento que reside na Luz (…) Ela que existe antes do Todo. (…) Eu sou percepção e conhecimento, e profiro uma Voz através do Pensamento. [16] Eu sou andrógino. Eu sou tanto Mãe como Pai, já que copulo comigo mesmo (…) Eu sou o Ventre que dá forma ao Todo. [17]

Na Grande Anunciação, a origem do Universo é explicada da seguinte forma: Do poder do Silêncio surgiu um grande poder, a mente do Universo, que gere todas as coisas, e é um macho (…) o outro é uma grande Inteligência (…) é uma fêmea que produz todas as coisas. [18]

Helena Blavatsky, descrevendo a filosofia de Basílides, outro grande sábio gnóstico, diz-nos que ele afirmava que o “Pai desconhecido, Eterno e Incriado, deu nascimento em primeiro lugar ao Nous, à Mente. Esta emanou de si mesma o Logos. O Logos ( o “Verbo” de João) emanou por sua vez as Phronêsis, as Inteligências. Das Phronêsis nasceu Sophia, a sabedoria feminina, e Dynamis, a força. Tais foram os atributos personificados da misteriosa Divindade, o quintérnio gnóstico, que simboliza as cinco substâncias espirituais, mas intelígiveis, as virtudes pessoais ou os seres exteriores da Divindade desconhecida. Essa é uma idéia eminentemente cabalística; ela é ainda mais budista”. [19]

Através do estudo e da análise comparativa de todas as grandes tradições religiosas chegamos, necessariamente, à conclusão de que elas não são mais do que as vestes externas daquela que é a Religião Universal, a Sabedoria de “todos os tempos e lugares”. Mesmo neste artigo, tratando-se de uma pequena introdução, podemos verificar que as semelhanças do sistema filosófico-religioso gnóstico com as tradições hindu, budista e judaica são evidentes. Importa, então, mostrar ao mundo, doente e ferido pela sua própria ignorância, que a unidade de todas as religiões é um facto e que é possível que todas as nações da Terra (se) respeitem e vivam sob a mesma bandeira, a bandeira da Eterna Sabedoria.

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1. W. Bousset, Kyrios Christos; tradução inglesa, 1913
2. W. Bauer, Orthodoxy and Heresy in Earliest Christianity, 1971
3. Originalmente, uma heresia nada mais significava que um grupo; mas, gradualmente, o significado adicional prendeu-se à palavra e tornou-se o de um grupo que professava uma doutrina falsa.
4. S. Marc. IV, 10, 11, 33, 34; S. Mat. XIV, 11, 34, 36; S.Luc. VIII, 10
5. Stromata, Livro I, cap.28
6. H. Blavatsky, Glossário Teosófico
7. Hipólito, REF 8.15.1-2
8. Ensinamentos de Silvano 106.30-117.20, NHL
9. Evangelho de Tomé 32.19-33.5, NHL
10. Ensinamentos de Silvano , 85.24-106.14, NHL
11. Treatise on Resurrection 48.10-16, NHL
12. Evangelho de Filipe, 61.29-35, NHL
13. Annie Besant, O Cristianismo Esotérico
14. Tratado Tripartido, 51.24-25.6, NHL
15. Uma Exposição Valentina, 22.19-23, NHL
16. Protenóia Trimórfica 35.1-24, NHL
17. Protenóia Trimórfica 45.2-10, NHL
18. Hipólito, REF 6.18
19. Helena Blavatsky, Ísis sem Véu

Autor: Ana Isabel Neves
Publicado na revista Biosofia nº13 – Primavera 2002 – Portugal 

La búsqueda de la Nueva Isis, la Divina Sophia (Rudolf Steiner)


Conferencia dada el 24 de diciembre de 1920

El Festival de Navidad le da algo al Cristianismo que hace que los pensamientos de todos los círculos de gente Cristiana se dirijan derechos hacia las preguntas más profundas presentadas por la evolución de la humanidad sobre la tierra. Contemplad la evolución de la historia desde cualquier punto de vista que se os antoje, tomad en consideración los sucesos históricos para comprender la evolución humana, para penetrar el significado de la evolución humana sobre la tierra, y en toda la historia no encontraréis un pensamiento tan ampliamente comprensible o que tenga el suficiente poder para elevar el alma hacia este misterio de la evolución humana como el pensamiento del Misterio del Gólgota, como el pensamiento que está contenido en el Festival de Navidad.

Cuando miramos atrás hacia el comienzo de la evolución humana sobre la tierra, y la seguimos a través de los miles de años que precedieron el Misterio del Gólgota, encontramos que, aunque los logros de los pueblos en todas las diversas naciones fueron tan extraordinarios, sin embargo, en realidad, todos estos logros sólo constituyeron una especie de preparación: eran un paso preparatorio hacia lo que tuvo lugar por el bien de la humanidad en el Misterio del Gólgota. Además, vemos que sólo podemos comprender lo que ha sucedido desde el Misterio del Gólgota cuando recordamos que el Cristo que pasó por el Misterio del Gólgota ha jugado un papel activo en la evolución de la humanidad desde entonces.

Muchas cosas de la evolución humana pueden parecer a primera vista incomprensibles, y sin embargo, si las investigamos sin superstición estrecha de miras, por ejemplo el tipo de superstición que cree que dioses desconocidos deberían venir a ayudar a los seres humanos sin su participación activa, y que tal ayuda debería venir justo cuando los seres humanos la consideren necesaria, si dejamos a un lado tales puntos de vista, encontramos que incluso los sucesos más dolorosos en el curso de la historia del mundo pueden mostrarnos la trascendencia y el significado que la evolución de la tierra ha adquirido por medio del hecho de que Cristo pasó por el Misterio del Gólgota. Es apropiado para nosotros estudiar este Misterio del Gólgota –y el misterio de la Navidad entra en el ámbito de aquel– desde un punto de vista que puede revelar, como si dijéramos, el significado de todo sobre la humanidad terrestre. Sabemos cuán íntima es la conexión entre lo que tiene lugar en la esfera moral-espiritual de la evolución humana y lo que tiene lugar en la naturaleza. Y con una cierta comprensión de este vínculo entre la naturaleza y el orden moral del mundo podemos aproximarnos también a otra relación con la que hemos estado preocupados durante muchos años, es decir, la relación de Jesucristo con aquel ser cuyo reflejo externo aparece en el sol. Los seguidores y representantes del impulso Crístico no fueron siempre tan hostiles hacia el reconocimiento de esta conexión entre el misterio del sol y el misterio de Cristo como lo son ahora tan a menudo los decadentes representantes actuales del Cristianismo. Dionisio el Aeropagita, al que hemos mencionado a menudo, llama al sol el monumento de Dios, y en Agustín encontramos continuamente alusiones similares. Incluso en la Escolástica encontramos referencias al hecho de que las estrellas visibles externamente y sus movimientos son las imágenes de la existencia divino-espiritual del mundo.

No obstante, debemos comprender el misterio de la Navidad en un contexto mucho más amplio, si deseamos comprender qué debería preocuparnos por encima de todo a la vista de las importantes tareas de la era actual. Me gustaría recordaros algo que repetidamente he presentado de diversas maneras en el transcurso de muchos años. Os he dicho: miramos hacia atrás a la primera era post-Atlante, que estaba llena de actos y experiencias del antiguo pueblo Indio; miramos hacia atrás la antigua época Persa de la humanidad post-Atlante, la Egipto-Caldea y la Greco-Latina. Llegamos entonces a la quinta época de la humanidad post-Atlante, nuestra propia época. Nuestra época será seguida por la sexta y la séptima. Y he dirigido vuestra atención al hecho de que la época Greco-Latina, la cuarta época de la humanidad post-Atlante, está, como si dijéramos, en el medio, y que hay ciertas conexiones (podéis leer sobre esto en mi librito The Spiritual Guidance of the Individual and Humanity ( La Orientación Espiritual del Individuo y la Humanidad) entre la tercera y la quinta épocas, es decir, entre la época Egipto-Caldea y la nuestra. Además hay una cierta conexión entre la antigua época Persa y la sexta, y entre la antigua época India y la séptima época de la humanidad post-Atlante. Se repiten elementos específicos de una determinada manera en cada una de estas épocas de la vida.

Una vez señalé que el gran Kepler, el sucesor de Copérnico, tenía la sensación de que su sistema solar y planetario estaba repitiendo, por supuesto de una manera adecuada a la quinta época post-Atlante, lo que había sido la imagen del mundo detrás de los misterios de los sacerdotes Egipcios. Kepler mismo expresó esto en cierto modo muy radicalmente cuando dijo que había tomado prestados los barcos de los antiguos maestros Egipcios de la sabiduría para traerlos a la nueva era.

Hoy, sin embargo, consideraremos algo que permaneció, en cierto sentido, en el centro de la visión encontrada en los rituales de culto realizados por los sacerdotes en la religión de misterios egipcia; consideraremos el misterio de Isis. Para evocar en nuestras mentes la conexión espiritual entre el misterio de Isis y aquello que también vive en el Cristianismo, sólo necesitamos mirar con los ojos del alma la famosa pintura de Rafael de la Madonna Sistina. La Virgen tiene cogido al niño Jesús, y tras ella están las nubes, representando una multitud de niños. Podemos imaginar a la Virgen recibiendo al niño Jesús descendiendo a través de las nubes, a través de una condensación, como si dijéramos, de la fina sustancia de las nubes. Creado a partir de un espíritu enteramente Cristiano, esta pintura no es, después de todo, más que una especie de repetición de lo que los misterios Egipcios reverenciaban cuando representaron a Isis cogiendo en brazos al niño Horus. El motivo de aquella temprana pintura está en completa armonía con el de la pintura de Rafael. Por supuesto, este hecho no debe tentarnos a una interpretación superficial, común entre mucha gente desde el siglo XVIII y del XIX hasta nuestros días, es decir, ver la historia de Jesucristo y todo lo que pertenece a la misma como una mera metamorfosis, una transformación, de los antiguos misterios paganos. De mi libro Christianity as Mystical Fact (El Cristianismo como Hecho Místico) ya sabéis cómo se tienen que entender estas cosas. Sin embargo, en el sentido explicado en ese libro se nos permite destacar una congruencia espiritual entre lo que aparece en el Cristianismo y los antiguos misterios paganos.

El principal contenido del misterio de Isis es la muerte de Osiris y la búsqueda de Isis del cadaver de Osiris. Sabemos que Osiris, el representante del ser del sol, el representante del sol espiritual, es asesinado por Typhon, quien, expresado en términos egipcios, no es otro que Ahriman. Ahriman mata a Osiris, lo arroja al Nilo, y el Nilo se lleva el cuerpo. Isis, la esposa de Osiris, sale en su busca y le encuentra en Asia. Lo trae de vuelta a Egipto, donde Ahriman, el enemigo, corta su cuerpo en catorce partes. Isis entierra estas catorce partes en diversos lugares, para que pertenezcan a la tierra por siempre jamás.

Podemos ver en esta historia cómo concebía la sabiduría Egipcia la conexión entre los poderes del cielo y los poderes de la tierra de una manera profundamente significativa. Por un lado, Osiris es el representante de los poderes del sol. Después de haber pasado por la muerte él es, en varios lugares y simultáneamente, la fuerza que madura todo lo que crece de la tierra. El antiguo sabio Egipcio imagina de una manera completamente espiritual cómo los poderes que brillan desde el sol, entran en la tierra y se hacen entonces parte de la misma, y cómo, como poderes del sol enterrados en la tierra, entregan entonces al ser humano lo que crece de la tierra. El mito Egipcio se funda en la historia de Osiris – cómo fue asesinado, cómo su esposa tuvo que salir en su búsqueda, cómo le trajo primero a Egipto y cómo se hizo activo entonces de otra manera, o sea, desde dentro de la tierra.

Una de las pirámides egipcias representa el suceso completo de una manera particularmente significativa.

Los egipcios no sólo registraron lo que conocían como la solución a los grandes secretos del universo en su propia escritura peculiar, también la expresaron en sus construcciones arquitectónicas. Construyeron una de estas pirámides con tal precisión matemática que la sombra del sol desaparecía en la base de la pirámide en el equinoccio de primavera y sólo reaparecía en el equinoccio de otoño. Los egipcios querían expresar en esta pirámide que las fuerzas de los rayos del sol enterradas desde la primavera hasta el otoño en la tierra, donde desarrollan las fuerzas de la tierra, de tal manera que la tierra pueda producir los frutos que la humanidad necesita.

Esta, entonces, es la idea que encontramos presente en las mentes y corazones de los antiguos egipcios. Por un lado, miran al sol, miran al sublime ser del sol y lo adoran. Al mismo tiempo, sin embargo, relatan cómo este ser del sol se perdió en Osiris, y fue buscado por Isis, y cómo fue encontrado de nuevo de tal forma que es entonces capaz de continuar trabajando de una manera diferente.

Muchas cosas que aparecieron en la sabiduría Egipcia deben ser repetidas de una forma diferente durante nuestra quinta época post-Atlante. La humanidad debe llegar gradualmente a entender desde un punto de vista científico-espiritual los misterios de los sacerdotes Egipcios de una manera apropiada a nuestra propia época, en un sentido Cristiano. Para los Egipcios, Osiris era una especie de representante del Cristo que no había llegado aún a la tierra. A su manera miraban a Osiris como el ser del sol, pero imaginaban que este ser del sol había estado perdido en un sentido, y debía ser encontrado de nuevo. No podemos imaginar que el ser de nuestro sol, el Cristo, que ha pasado por el Misterio del Gólgota pudiera estar perdido para la humanidad, ya que bajó de alturas espirituales, se unió con el hombre Jesús de Nazareth, y desde entonces permanece en la tierra. Está presente, existe, como proclama el villancico de Navidad cada año nuevo “Ha nacido el Salvador”. De ese modo expresa la naturaleza eterna, no transitoria, de este suceso. Jesus no sólo nació una vez en Belén, sino que está continuamente naciendo, en otras palabras, permanece con la vida de la tierra. Lo que Cristo es, y lo que significa para nosotros, no puede perderse.

Pero la leyenda de Isis debe mostrarse cumpliéndose de otra manera en nuestra época. No podemos perder al Cristo y lo que él, en una forma superior a Osiris, nos da; pero podemos perder, y hemos perdido, lo que es representado para nuestro entendimiento Cristiano permaneciendo al lado de Osiris – Isis – la madre del salvador, la divina sabiduría, Sophia. Si la leyenda de Isis ha de ser renovada, entonces no debe simplemente seguir la forma antigua, Osiris, asesinado por Typhon-Ahriman y llevado por las aguas del Nilo, debe ser encontrado de nuevo por Isis para que su cuerpo, despedazado por Typhon-Ahriman, pueda ser hundido en la tierra.

En cierto sentido, debemos encontrar la leyenda de nuevo, el contenido del misterio de Isis, pero debemos crearlo a partir de nuestra imaginación, adecuado a nuestros propios tiempos. Debe surgir de nuevo una comprensión de las verdades eternas cósmicas, y lo hará cuando aprendamos a pensar y componer imaginativamente, como hacían los Egipcios. Pero debemos encontrar la leyenda de Isis correcta.

Los Egipcios estaban impregnados de poderes Luciféricos, como lo estaban todos los seres humanos que vivían antes del Misterio del Gólgota. Si los poderes Luciféricos están dentro del ser humano y estimulan la vida interna, moviéndose y entretejiéndose con ella, el resultado será entonces que los poderes Ahrimanicos aparecerán como una fuerza activa fuera del ser humano. De este modo los Egipcios, que estaban impregnados por Lucifer, ven correctamente una imagen del mundo en la que Ahriman-Typhon está activo.

Ahora, debemos darnos cuenta de que la humanidad moderna está impregnada por Ahriman. Ahriman se mueve y crece dentro de los seres humanos, igual que Lucifer se movía y crecía en el mundo Egipcio. Sin embargo, cuando Ahriman trabaja por medio de Lucifer, entonces los seres humanos ven su imagen del mundo de forma Luciférica. ¿Cómo ve el ser humano esta imagen del mundo? Esta imagen Luciférica del mundo ha sido creada, está aquí. Se ha hecho cada vez más popular en los tiempos modernos y se ha apoderado de todos los círculos de personas que se quieren considerar progresistas e iluminadas.

Si queremos comprender el misterio de la Navidad, debemos tener en mente que Lucifer es el poder deseoso de retener la imagen del mundo de una época anterior. Lucifer es el poder que trata de traer a la concepción del mundo moderno aquello que existía en anteriores etapas del desarrollo humano. Quiere dar permanencia a lo que existía en períodos anteriores. Todo lo que era moral en etapas anteriores también existe hoy por supuesto. (La importancia de la moralidad siempre reside en el presente, donde, como semillas para el futuro, proporciona la base para la creación de mundos por venir). Pero Lucifer se esfuerza en separar la moralidad como tal, todas las fuerzas morales, de nuestra imagen del mundo. Él permite que sólo las leyes de la necesidad natural aparezcan en nuestra imagen del mundo externo. Así el empobrecido ser humano de los tiempos modernos es presentado con una sabiduría del mundo en la que las estrellas se mueven de acuerdo a la pura necesidad mecánica, en la que las estrellas están vacías de moralidad, de tal forma que el significado moral del orden mundial no puede encontrarse en sus movimientos. Esta, mis queridos amigos, es una imagen mundial puramente Luciférica.

Igual que los Egipcios miraban al mundo y veían a Ahriman-Typhon como el que les arrebata a Osiris, así también, debemos mirar nuestra imagen Luciférica del mundo, la imagen del mundo matemático-mecánica de la moderna astronomía y otras ramas de la ciencia natural, y darnos cuenta de que el elemento Luciférico domina en esta imagen del mundo, igual que el elemento Typhon-Ahrimánico dominó en la imagen del mundo Egipcio. Igual que los antiguos Egipcios vieron su imagen del mundo exterior bajo una luz Typhon-Ahrimánica, del mismo modo los seres humanos modernos, porque son Ahrimánicos, la ven con características Luciféricas. Lucifer está presente, está trabajando allí. Igual que los Egipcios imaginaron a Ahriman-Typhon trabajando en el viento y el tiempo atmosférico, en las tormentas de invierno, también los seres humanos, si desean comprender verdaderamente el mundo, deben imaginar que Lucifer se les aparece en el brillo del sol y en la luz de las estrellas, en los movimientos de los planetas y de la luna. La imagen del mundo de Copérnico, Galileo y Kepler es una construcción Luciférica. Precisamente porque surgió de y corresponde a nuestras fuerzas Ahrimánicas de conocimiento, su contenido – por favor, distinguid aquí entre método y contenido – es Luciférico.

Cuando el Misterio del Gólgota tuvo lugar,la Divina Sophia, la sabiduría que nos permite ver el mundo con comprensión, trabajó de una manera doble. La sabiduría divina, la sabiduría celestial trabajó en la revelación a los pobres pastores en los campos, y en la revelación a ellos a causa de nuestro nuevo conocimiento. No carecemos de Cristo, sino del conocimiento de Cristo, la Sophia de Cristo, el Isis de Cristo, nos falta.

Esto es lo que deberíamos grabar en nuestras almas como contenido del misterio de la Navidad. Debemos darnos cuenta de que desde el siglo XIX incluso la teología ha llegado a ver a Cristo simplemente como el hombre de Nazareth. Eso significa que la teología está completamente impregnada por Lucifer. Ya no ve dentro del trasfondo espiritual de la existencia. La ciencia natural externa es Luciférica; la teología es Luciférica. Por supuesto si estamos hablando del aspecto interno del ser humano como podéis ver de mis palabras previas podríamos también decir que en esta teología el ser humano es Ahrimánico. Entonces de la misma forma debemos decir de los Egipcios que eran Luciféricos, igual que decimos de ellos que su percepción del mundo externo era Ahrimánica. Los seres humanos modernos deben comprender el misterio de la Navidad de una forma nueva. Deben comprender que deben buscar lo primero de todo a Isis, para que Cristo pueda aparecérseles. La causa de nuestros infortunios y los problemas de la civilización moderna no es que hayamos perdido a Cristo, que permanece ante nosotros con mucha mayor gloria de lo que Osiris lo hacía a los ojos de los Egipcios. No es que le hayamos perdido y necesitemos partir en su busca, armados con la fuerza de Isis. No, lo que hemos perdido es el conocimiento de Jesucristo, el entendimiento de su ser. Esto es lo que debemos encontrar de nuevo con el poder de Jesucristo que está en nosotros.

Así es como debemos mirar sobre el contenido del festival de Navidad. Para mucha gente moderna la Navidad no es más que una fiesta donde dar y recibir regalos, algo que celebran cada año por hábito. Como tantas otras cosas en la vida moderna el Festival de Navidad se ha convertido en palabras vacías. Y es justo porque tantas cosas se han convertido en nada más que unas palabras, que la vida moderna está tan llena de calamidades y caos.

Esta es en verdad la razón más profunda para el caos en nuestra vida moderna. Si en esta nuestra comunidad, pudiéramos adquirir los sentimientos correctos por todo aquello que se ha convertido en meras frases en la época actual, y si estos sentimientos pudieran hacernos capaces de encontrar los impulsos necesarios para las renovaciones que son tan necesarias, entonces esta comunidad, que se llama a sí misma la comunidad antroposófica, sería merecedora de su existencia. Esta comunidad debería comprender la terrible importancia para nuestra época de que tales cosas como el festival de Navidad son transferidas como una mera frase. Deberíamos ser capaces de comprender que en el futuro esto no debe ser permitido, y que a estas cosas se les debe dar un nuevo contenido. Los viejos hábitos deben ser dejados atrás y nuevos entendimientos deben tomar su lugar. Si no podemos encontrar el coraje interno necesario para hacer esto, entonces participamos de la mentira que mantiene el festival anual de Navidad simplemente como una frase, celebrándolo sin que nuestras almas sientan el verdadero significado del evento. ¿Estamos realmente elevados hasta las más altas preocupaciones de la humanidad cuando damos y recibimos regalos cada año por hábito en este festival de Cristo? ¿Nos elevamos hasta las mayores preocupaciones de la humanidad cuando escuchamos las palabras – que también se han convertido en una frase – pronunciadas por los representantes de las diversas comunidades religiosas? Deberíamos prohibirnos continuar con esta vacuidad en nuestra celebración de la Navidad. Deberíamos tomar la decisión interna de dar a tal festividad un contenido que permita que los más dignos, elevados sentimientos pasen a través de nuestras almas. Una celebración del festival como esa elevaría a la humanidad hasta la comprensión del significado de su existencia.

¡Preguntaos a vosotros mismos si los sentimientos en vuestros corazones y almas cuando estáis delante del árbol de Navidad y abrís los regalos que son dados por hábito, y las tarjetas de Navidad conteniendo las frases habituales – preguntaos a vosotros mismos si los sentimientos que viven en vosotros pueden elevar a la humanidad a una comprensión del significado de su evolución en la tierra! Todos los problemas e infortunios de nuestra época se deben a esto – no podemos encontrar el coraje para elevarnos por encima de las frases huecas de nuestra época. Pero debe suceder, un nuevo contenido debe devenir contenido, que pueda darnos sentimientos completamente nuevos que nos estimulen poderosamente, igual que fueron estimuladas aquellas personas que eran verdaderos Cristianos en los primeros siglos del Cristianismo, y que sentían el Misterio del Gólgota y la aparición de Cristo como lo más elevado que la humanidad pueda experimentar sobre la tierra. Nuestras almas deben adquirir de nuevo algo de aquel espíritu.

Oh, el alma logrará sentimientos completamente nuevos si se siente comprometida a experimentar la nueva leyenda de Isis en la humanidad moderna. Lucifer mata a Isis y pone después su cuerpo en el infinito del espacio, que se ha convertido en la tumba de Isis, una abstracción matemática. Entonces viene la búsqueda de Isis, y su descubrimiento, hecho posible gracias a la fuerza interna del conocimiento espiritual. En lugar de cielos que han muerto, este conocimiento coloca lo que las estrellas y planetas revelan por medio de una vida interna, de tal forma que aparecen entonces como monumentos a los poderes espirituales que entretejen de poder el espacio. Somos capaces de mirar el pesebre hoy de la manera correcta sólo si experimentamos de una forma única lo que está entretejiéndose con poder espiritual por todo el espacio, y después miramos a ese ser que vino al mundo a través del niño. Sabemos que llevamos a este ser dentro de nosotros, pero debemos también comprenderle. Igual que los Egipcios miraban de Osiris a Isis, así debemos nosotros aprender a mirar de nuevo a la nueva Isis, la sagrada Sophia. Cristo aparecerá de nuevo en su forma espiritual durante el transcurso del siglo XX, no por medio de la llegada de sucesos externos sólo, sino porque los seres humanos encuentran el poder representado por la sagrada Sophia. La época moderna ha tenido la tendencia de perder este poder de Isis, este poder de María. Ha sido asesinado por todo lo que surgió con la consciencia moderna de la humanidad. Y las confesiones han exterminado en parte justo esta visión de María.

Este es el misterio de la humanidad moderna: fundamentalmente hablando, María-Isis ha sido asesinada, y debe ser buscada, igual que Osiris fue buscado por Isis en Asia. Pero debe ser buscada en los infinitos espacios del universo con el poder que Cristo puede despertar en nosotros si nos consagramos a él de la manera correcta.

Imaginémonos esto correctamente, sumerjámonos en esta nueva leyenda de Isis que debe ser experimentada, y dejemos que nuestras almas se llenen con ella. Entonces experimentaremos en un verdadero sentido lo que la humanidad en muchos de sus representantes cree, que esta nueva leyenda llena la sagrada Nochebuena, para llevarnos al día de Navidad, el día de Cristo. Esta comunidad antroposófica podría convertirse en una comunidad de seres humanos unidos en amor porque sienten la necesidad, común a todos ellos, de buscar. ¡Seamos conscientes de esta más que íntima tarea! Vayamos en espíritu al pesebre y llevemos al Niño nuestro sacrificio y nuestro regalo, que reside en el conocimiento de que algo completamente nuevo debe llenar nuestras almas, para que podamos cumplir las tareas que puedan dirigir a la humanidad fuera del barbarismo hacia una civilización verdaderamente nueva.

Para lograr esto, por supuesto, es absolutamente necesario que en nuestros círculos estemos preparados para ayudarnos los unos a los otros con amor, para que surja una nueva comunidad de almas en la que todas las formas de envidia y similares desaparezcan, y en la que no nos miremos simplemente unos a otros, sino que encaremos juntos la gran meta que tenemos en común. El misterio traído al mundo por el niño de la Navidad también contiene esto – que podemos encarar una meta común sin discordia porque la meta común significa unión en armonía. La luz de la Navidad debería realmente brillar como una luz de paz, como una luz que trae paz externa, únicamente porque primero trae una paz interior a los corazones de los seres humanos. Deberíamos aprender a decirnos a nosotros mismos: Si podemos lograr trabajar juntos con amor en las grandes tareas, entonces, y solo entonces, entendemos la Navidad. Si no podemos lograr esto, no comprendemos la Navidad.

Recordemos que cuando sembramos discordia, esta discordia nos entorpece en la comprensión de aquel que apareció entre los seres humanos la primera Navidad de la tierra. ¿No podemos verter este misterio de la Navidad en nuestras almas, como algo que une nuestros corazones en amor y armonía? Si no comprendemos correctamente lo que la ciencia espiritual es, entonces no seremos capaces de hacer esto. Nada surgirá de esta comunidad si simplemente la aportamos ideas e impulsos que hemos recogido de todas las esquinas del mundo, donde los clichés y la rutina dominan. Recordemos que nuestra comunidad está encarando un año difícil, que todas nuestras fuerzas deben ser reunidas, y celebremos la Navidad con este espíritu. Oh, me gustaría encontrar palabras que pudieran hablar profundamente al corazón de cada uno de vosotros esta noche. Entonces cada uno de vosotros sentiría que mis palabras contienen una felicitación que es al mismo tiempo es una súplica para prender la ciencia espiritual dentro de vuestros corazones, para que pueda convertirse en un poder que pueda ayudar a la humanidad que está viviendo bajo tan terrible opresión.

Comenzando con tales puntos de vista, he reunido los pensamientos que deseaba contaros. Estad seguros de que estaban pensados como una cálida felicitación de Navidad para cada uno de vosotros, como algo que puede llevaros al nuevo año de la mejor manera posible. Con este espíritu, aceptad mis palabras hoy como fueron pensadas, como una afectuosa felicitación de Navidad.