quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Yod-He-Shin-Vav-He e Maria Madalena


Como vimos no artigo anterior, Yeshua nunca foi o pobrezinho coitadinho nascido de uma virgem e de um carpinteiro que a Igreja Católica fez as pessoas acreditarem durante a Idade Média, nem nasceu em uma manjedoura porque não havia vagas nos hotéis de Belém por causa do recenseamento, e muito menos três reis perdidos no deserto entregavam presentes para qualquer moleque nascido em estábulos que encontrassem pela frente.


Paramos a narrativa quando Yeshua é levado por seus pais para ser educado no Egito; mais precisamente nas Pirâmides do Cairo, e lá permanece estudando. A Bíblia nos dá um hiato de quase 30 anos…


O que aconteceu neste período?


Antes de continuarmos, precisamos explicar algumas coisas que os leitores estavam confundindo:


A primeira é “Se Yeshua é tão fodão quanto os ocultistas falam, porque ele não soltou bolas de fogo pelos olhos e raios elétricos pelo traseiro e matou todos os romanos?”.


A resposta para isso é obvia. Yeshua é um humano como qualquer outro. Ele come, dorme, vai no banheiro e solta puns como eu ou você. Seu “poder” vem de sua iluminação e de seu conhecimento e do “ser Crístico” que foi despertado nele, assim como Buda, Krishna, Salomão, Davi, Moisés ou os Faraós. Claro que os conhecimentos alquímicos, astrológicos e místicos que possuía fazem com que Jesus fosse um ser humano muito superior aos demais, tanto física quanto mentalmente… Um Mestre de bondade, caridade e iluminação, mas não o torna um super-homem. Cinco soldados com espadas dariam cabo dele com a mesma facilidade com que dariam cabo do Dalai Lama.


Quando Yeshua nasceu, os romanos já dominavam Jerusalém desde 63 a.C., e Herodes já estava no poder desde 37 a.C.


Quando os romanos substituíram os selêucidas no papel de grande potência regional, eles concederam ao rei Hasmoneu Hircano II autoridade limitada, sob o controle do governador romano sediado em Damasco. Os judeus eram hostis ao novo regime e os anos seguintes testemunharam muitas insurreições. Uma última tentativa de reconquistar a antiga glória da dinastia dos Hasmoneus foi feita por Matatias Antígono, cuja derrota e morte trouxe fim ao governo dos Hasmoneus (40 a.C.); o país tornou-se, então, uma província do Império Romano.


Em 37 a.C., Herodes, genro de Hircano II, foi nomeado Rei da Judéia pelos romanos. Foi-lhe concedida autonomia quase ilimitada nos assuntos internos do país, e ele se tornou um dos mais poderosos monarcas da região oriental do Império Romano. Grande admirador da cultura greco-romana, Herodes lançou-se a um audacioso programa de construções, que incluía as cidades de Cesaréia e Sebástia e as fortalezas em Heródio e Masada.


Dez anos após a morte de Herodes (4 a.C.), a Judéia caiu sob a administração romana direta. À proporção que aumentava a opressão romana à vida judaica, crescia a insatisfação, que se manifestava por violência esporádica, até que rompeu uma revolta total em 66 d.C. As forças romanas, lideradas por Tito, superiores em número e armamento, arrasaram finalmente Jerusalém (70 d.C.) e posteriormente derrotaram o último baluarte judeu em Massada (73 d.C.), mas falarei sobre isso mais para a frente.


Portanto, estas Ordens das quais estamos discutindo (Pitagóricas, Essênias, etc.), das quais Yossef e Maria faziam parte, já precisavam se manter “secretas” desde o Tempo de Pitágoras.


A conexão de Yeshua com a Ordem Pitagórica e com os ensinamentos orientais é simples de ser demonstrada. O nome Yeshua representa “Aquele que vem do fogo de Deus” ou, como mais tarde a Igreja colocou, “O Filho de Deus”, representando um sacerdote solar.


Cabalisticamente, Deus é representado pelas letras hebraicas Yod- Heh-Vav-Heh ou o tetragrama YHVH que simbolizam os 4 elementos e toda a Árvore da Vida. Estas letras são dispostas em um quadrado ou uma cruz. O alfabeto hebraico não possui vogais, e o nome de Deus precisava ser passado apenas oralmente de Iniciado para Iniciado. Quando surgia nos textos, os sacerdotes precisavam oculta-lo e usavam outras palavras para designá-lo. Eis o verdadeiro significado do mandamento “Não tomarás o nome de Deus em vão”.


A letra SHIN representa o espírito purificador. O fogo celestial que remove o Impuro (tanto que, como veremos mais adiante, ela representa o Arcano do Julgamento no tarot). Da evolução do quatro vem o número cinco, o pentagrama sagrado dos Pitagóricos, representado pela união dos 4 elementos mais o espírito (SHIN). Note que são os MESMOS elementos utilizados na bruxaria, no xamanismo, nas Ordens Egípcias, na wicca e na magia celta.


O pentagrama será, então, representado pelas letras Yod-Heh-Shin- Vav-Heh, ou YHSVH ou Yeshua. Este título já havia sido usado por


Rama, Krishna, Hermes, Orfeu, Buda e outros líderes iluminados do passado.


A Infância de Jesus

De sua infância até seus 30 anos, Jesus viajou por muitos lugares, conhecendo a Índia, a Bretanha e boa parte da África. Sabia falar várias línguas, incluindo o grego, aramaico e o latim. Conhecia astrologia, alquimia, matemática, medicina, tantra, kabbalah e geometria sagrada, além das leis e políticas tanto dos judeus quanto dos gentios.


De toda a sua infância, a Igreja deixou escapar apenas um episódio ocorrido aos 12 anos, quando Jesus discute leis com os sábios e rabinos mais inteligentes de Jerusalém (Lucas 2:42-50). Todo o restante foi destruído, já que seria embaraçoso para a Igreja ter de explicar onde o Avatar estava aprendendo tudo o que sabia. A versão oficial é que foi a “inteligência divina”, mas a verdade é muito mais óbvia e simples: Yeshua sabia tudo aquilo porque estudou. Conhecimento não vem de “graças dos céus”, mas de estudo e trabalho.


Jesus e Maria Madalena

Depois da febre Dan Brown, na qual a Opus Dei e todas as facções possíveis e imaginárias da Igreja tentaram abafar, criticar ou ridicularizar, sem sucesso, o mundo inteiro ficou sabendo do casamento de Jesus e Maria de Magdala. Foi um belo chute no saco da hipocrisia clerical e muita gente se sentiu finalmente vingada vendo os bispos e pastores desesperados pensando em como varrer tudo isso para debaixo do tapete sem a ajuda das fogueiras da Inquisição.


Para entender como este casamento aconteceu, precisamos passar por algumas explicações. A primeira é o fato de Jesus ser chamado de Rabbi (Rabino, ou Mestre) por todo o Novo Testamento. O titulo de Rabbi é passado de iniciado para iniciado desde Moisés, através de um ritual chamado Semicha (“ordenamento”). No período do Antigo


Testamento, de acordo com o Judaísmo, para se tornar Rabbi, uma pessoa precisa obrigatoriamente preencher três requisitos:


– Ser um homem;

– Ter conhecimento profundo da Torah e das Leis judaicas; 3 – Ser

Com isso, sabemos que Yeshua, por ser um líder religioso considerado um Rabbi por seus discípulos, era obrigatoriamente CASADO (não importando com quem) ou NUNCA poderia ter recebido este título. Além disso, naqueles tempos, qualquer líder religioso que estivesse na casa dos 30 anos e ainda fosse solteiro certamente seria considerado algo completamente fora dos padrões e digno de nota.


Sabemos, então, que Yeshua era casado… Mas com quem? Que mulher poderia ser digna do Mestre Carpinteiro?


A resposta é uma sacerdotisa vestal chamada Maria de Magdala, irmã de Lázaro e Marta. Assim como Yeshua, ela foi educada e preparada desde criança para ser a companheira do Avatar. Tinha grandes conhecimentos das artes lunares, divinatórias, dança e magia sexual, além de conhecimentos de astrologia, geometria, medicina e matemática. Assim como Maria, mãe de Yeshua, Maria de Magdala também era considerada uma “virgem”.


Lázaro, o irmão de Maria Madalena, é o sacerdote iniciado pelo próprio Yeshua. A bíblia cita isso como a “Ressurreição de Lázaro”, mas claramente percebemos que se trata de uma Iniciação Egípcia, lidando com a morte e renascimento do Sol. Lázaro era um iniciado muito importante em sua época, membro de uma das famílias mais ricas da Betânia, assim como os outros apóstolos também eram pessoas influentes. Passou três dias confinados em uma caverna (o templo religioso mais importante para os Essênios), sendo resgatado do Reino dos Mortos simbólico no terceiro dia por Yeshua.


Vamos ver o que a Bíblia fala de Maria Madalena…

Segundo o Novo Testamento, Jesus de Nazaré expulsou dela sete demônios, argumento bastante para ela pôr fé nele como o predito Messias  (Cristo).  (Lucas  8:2;  11:26;  Marcos  16:9).  Esteve  presente  na crucificação, juntamente com Maria, mãe de Jesus, e outras mulheres (Mateus 27:56; Marcos 15:40; Lucas 23:49; João 19.25); e do funeral (Mateus 27:61; Marcos 15.47; Lucas 23:55).


Do Calvário, voltou a Jerusalém para comprar e preparar, com outros crentes, certos perfumes, a fim de poder preparar o corpo de Jesus como era costume funerário, quando o dia de Sábado tivesse passado. Todo o dia de Sábado ela se conservou na cidade – e no dia seguinte, de manhã muito cedo “quando ainda estava escuro”, indo ao sepulcro, achou-o vazio, e recebeu de um anjo a notícia de que Jesus Nazareno tinha ressuscitado e devia informar disso aos apóstolos (Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-5,10,11; Lucas 24:1-10; João 20:1,2;compare com João 20:11-18).


Maria Madalena foi a primeira testemunha ocular da sua ressurreição e foi quem foi usada para anunciar aos apóstolos a ressurreição de Cristo (Mateus 27:55-56; Marcos 15:40-41; Lucas 23:49;João 19:25).


Ela também aparece como a pecadora que ungiu os pés de Jesus (Lucas 7:36-39) e como a mulher que derrama óleo perfumado sobre sua cabeça (Mateus 26:6-7), mas a “versão oficial” em nenhum momento afirma que essas mulheres eram a Madalena. Para a Igreja Católica, eram 3 mulheres distintas.


Agora vamos explicar cada uma destas passagens:


Bodas de Caná


Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, e estava ali a mãe de Jesus; e foi também convidado Jesus com seus discípulos para o casamento.


E, tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm vinho.


Respondeu-lhes Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora.


Disse então sua mãe aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.


Ora, estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam duas ou três metretas.


Ordenou-lhe Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima.


Então lhes disse: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E eles o fizeram.


Quando o mestre-sala provou a água tornada em vinho, não sabendo donde era, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água, chamou o mestre-sala ao noivo e lhe disse: Todo homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.


Assim deu Jesus início aos seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.


– João 2: 1,11


 As Bodas de Caná é a passagem do Novo Testamento que narra o Casamento de Jesus com Maria Madalena (e não a Santa Ceia, como Dan Brown afirma).


A versão “oficial” não fala de quem é o casamento; mas, pelo bom senso, veremos que não faz muito sentido a versão do papa:


Imagine que você convidou Jesus e seus amigos para sua festa de casamento e, de repente, a mãe dele começa a dar ordens e palpites para os seus serviçais… Não tem muita lógica, não é mesmo? E, se é Jesus quem transforma água em vinho, porque o mestre-sala vai agradecer ao noivo? A resposta é óbvia.


Basta conhecer um pouco de cultura judaica para saber que, em um casamento judeu, e mais especificamente o casamento dinástico, a ÚNICA pessoa que pode dar ordens para os serviçais é a mãe do noivo, que é a pessoa responsável pela organização da festa… E tudo faz muito mais sentido agora. Já transformar água em vinho certamente não seria uma grande dificuldade para um Avatar.


O Ritual Sagrado da Unção com Nardo

Como já vimos, as regras do matrimônio dinástico não eram banais. Parâmetros explicitamente definidos ditavam um estilo de vida celibatário, exceto para a procriação em intervalos regulares.


Um período extenso de noivado era seguido por um Primeiro Casamento em setembro, depois do qual a relação física era permitida em dezembro. Se ocorresse a concepção, havia então uma cerimônia do Segundo Casamento em março para legalizar o matrimônio.


Durante esse período de espera, e até o Segundo Casamento, com ou sem gravidez, a noiva era considerada, segundo a lei, uma almah (“jovem mulher” ou, como erroneamente citada, “virgem”).


Entre os livros mais pitorescos da bíblia está o Cântico dos Cânticos


– uma série de cantigas de amor entre uma noiva soberana e seu noivo. O Cântico identifica a poção simbólica dos esponsais com o unguento aromático chamado nardo. Era o mesmo bálsamo caro que foi usado por Maria de Betânia para ungir a cabeça de Jesus na casa de Lázaro (Simão Zelote) e um incidente semelhante (narrado em Lucas 7:37-38) havia ocorrido algum tempo antes, quando uma mulher ungiu os pés de Jesus com unguento, limpando-os depois com os próprios cabelos.


João 11:1-2 também menciona esse evento anterior, explicando depois como o ritual de ungir os pés de Jesus foi realizado novamente pela mesma mulher, em Betânia. Quando Jesus estava sentado à mesa, Maria pegou “uma libra de bálsamo puro de nardo, mui precioso, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se toda a casa com o perfume do bálsamo” (João 12:3).


No Cântico dos Cânticos (1:12) há o refrão nupcial: “Enquanto o rei está assentado à sua mesa, o meu nardo exala o seu perfume”. Maria não só ungiu a cabeça de Jesus na casa de Simão (Mateus 26:6-7 e Marcos 14:3), mas também ungiu-lhe os pés e os enxugou depois com os cabelos em março de 33 d.C. Dois anos e meio antes, em setembro de 30 d.C., ela tinha realizado o mesmo ritual três meses depois das bodas de Caná.


Em ambas as ocasiões, a unção foi feita enquanto Jesus se sentava à mesa (como define o Cântico dos Cânticos). Era uma alusão ao antigo rito no qual uma noiva real preparava a mesa para o seu noivo. Realizar o rito com nardo era maneira de expressar privilégio de uma noiva messiânica, e tal rito só se realizava nas cerimônias do Primeiro e do Segundo Casamento. Somente como esposa de Jesus e sacerdotisa com direitos próprios, Maria poderia ter ungido-lhe a cabeça e os pés com unguento sagrado.


Então, cheque mate, papa.


Este rito também é narrado no Salmo 23, um dos meus favoritos (só perde para o Salmo 133):


O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.


Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me mansamente a águas tranquilas.


Refrigera a minha alma; guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome.


Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.


Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos; unges com óleo a minha cabeça, o meu cálice transborda.


Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias.


O Salmo 23 descreve Deus, na imagem masculina/feminina da época, como pastor e noiva. Da noiva, o salmo diz “Prepara-me uma mesa… Unge-me a cabeça com óleo”.


De acordo com o rito do Hieros Gamos da antiga Mesopotâmia (a terra de Noé e Abraão), a grande deusa, Inana, tomou como noivo o pastor Dumuzi (ou Tammuz), e foi a partir dessa união que o conceito da Sekiná e YHVH evoluiu em Caná por meio das divindades intermediárias Asera e El Eloim.


No Egito, a unção do rei era o dever privilegiado das irmãs/noivas semidivinas dos faraós. Gordura de crocodilo era a substância usada na unção, pois era associada à destreza sexual, e o crocodilo sagrado dos egípcios era o Messeh (que corresponde ao termo hebraico Messias: “Ungido”). Na antiga Mesopotâmia, o intrépido animal real (um dragão de quatro pernas) era chamado de MushUs.


Era preferível que os faraós desposassem suas irmãs (especialmente suas meio irmãs maternas com outros pais) porque a verdadeira herança dinástica era passada pela linha feminina.


Alternativamente, primeiros de primeiro grau maternos também eram considerados. Os reis de Judá não adotavam essa medida como prática geral, mas consideram a linha feminina um meio de transferir realeza e outras posições hereditárias de influência (mesmo hoje, o judeu verdadeiro é aquele nascido de mãe judia). Davi obteve sua realeza, por exemplo, casando-se com Micol, filha do rei Saul. Muito tempo depois, Herodes, o Grande, ganhou seu status real desposando Mariane da casa real sacerdotal.


Assim como os homens que eram designados para várias posições patriarcais assumiam nomes que representavam seus ancestrais – como Isaac, Jacó e José – também as mulheres seguiam sua genealogia e escalão. Seus títulos nominais incluíam Raquel, Rebeca e Sara. As esposas das linhas masculinas de Zadoque e Davi tinham o posto de Elisheba (Elizabeth, ou Isabel) e Miriam (Maria), respectivamente. Por isso a mãe de João Batista é chamada de Isabel e a de Jesus, Maria, nos Evangelhos. Essas mulheres passaram pela cerimônia de seu Segundo Casamento só quando estavam com três meses de gravidez, quando a noiva deixava de ser uma almah e se tomava uma mãe designada.


Ou seja: Através destas passagens bíblicas, sabemos que, além de casada com Jesus, Maria Madalena teve filhos com ele.


Os Sete Demônios

“Expulsou sete demônios” é uma expressão simbólica esotérica e representa que Jesus e Maria Madalena realizaram os rituais sagrados de magia sexual (os sete demônios representam os sete chakras despertos nos rituais sexuais, como eu já havia explicado em colunas anteriores). Estas alegorias são descritas várias vezes na Bíblia, especialmente no Apocalipse, quando se fala de “Sete Igrejas” e “Sete Selos” que precisam ser “rompidos”. Isto nada mais é do que o ser humano desenvolvendo sua energia kundalini e explorando todo o seu potencial divino, aflorando e abrindo os sete chakras.


Maria Madalena foi a principal discípula de Jesus e sua grande companheira. Em lugar algum da Bíblia ela é referida como uma “prostituta” embora eu já tenha conversado com vocês a respeito de como a Igreja Católica (e evangélica) trata as sacerdotisas das outras religiões.


A primeira citação oficial da Igreja a respeito da “prostituta Maria Madalena” foi feita pelo papa Gregório I em 591 d.C., para coibir o culto a Maria Madalena (Notre Damme) no Sul da França (falarei sobre o herege “Culto à Virgem Negra” mais tarde).


Maria Madalena é a figura feminina mais sagrada para os Templários e todas as catedrais chamadas de “Notre Damme” na França construídas pelos Templários foram dedicadas a ela (inclusive a Notre Damme de Paris, que mereceria um artigo só para ela de tanto simbolismo oculto que possui).


Santa Maria Madalena, a prostituta arrependida, foi canonizada em 886 e transformada em Santa pela Igreja Ortodoxa, que dizia que suas relíquias estavam em Constantinopla. De acordo com a versão oficial, Madalena e Maria (mãe de Jesus) foram até o Éfeso onde passaram o restante de suas vidas e seus ossos foram levados para Constantinopla após sua morte… Mas a inconveniente tradição francesa insistia que Maria Madalena, sua filha Sara (Santa Sara Kali), Lázaro e outros companheiros aportaram em Marseille, vindos do Egito, e se juntaram aos nobres que ali viviam, continuando uma dinastia de reis-pescadores que mais tarde daria origem aos Merovíngios.

Comentários Rosacruzes sobre o Batismo de Jesus


Evangelho Segundo Marcos 9-11 : O Batismo de Jesus – o Véu de Nephesch

O batismo, a purificação da matéria, nos revela um novo cenário, uma nova perspectiva da vida. Ao mesmo tempo em que o batismo é um início, ele também é um término, é a morte do nosso antigo eu. Aquele “eu” que veio da matéria, percebeu a existência para além da própria matéria e aceitou de bom grado a sua morte, pois sabia que existia um recomeço. E, ao recomeçar para além do Véu de Nephesch, demonstra o seu luto para quem foi, pois, apesar da sua aparente inferioridade, foi o responsável pelo nascimento deste novo ramo, deste novo “eu”.


Assim, entendemos que todo nascimento é, também, uma morte. A morte do antigo, que não deve ser esquecida, mas que também não deve ser revivida. A lembrança proveniente deste luto, é a fixação, em nossa mente, de maneira indelével do caminho que trilhamos. Não há tristeza pelo que foi, mas a felicidade pelo o que se é, pois o Filho é o herdeiro que deve continuar a obra do Pai.


(9) Aconteceu, naqueles dias, que Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no rio Jordão.


Diferentemente do Evangelho segundo Mateus, que diz de maneira geral que Jesus estava vindo da região da Galileia[1]; e de Lucas, que não faz menção a isso; encontramos uma localização geográfica específica neste versículo indicando de onde Jesus estava vindo para ser batizado por João, de Nazaré na Galileia.


A região da Galileia fica ao norte das terras do Reino de Israel e, mesmo na época da formação do Reino, a região continuou contando com a presença de outras nações (goyim –  גוײם)[2] e o próprio Salomão doou 20 (vinte) cidades a Hiram, de Tiro[3]. Posteriormente, a região ainda foi conquistada pelos Assírios[4]. E, com a conquista Romana, muitos judeus voltaram à região. Contudo, a Galileia aqui representa uma região de muitas nações e as terras do norte.


Jeremias 1 : 14


“E Yahweh me disse: Do Norte derramar-se-á a desgraça sobre todos os habitantes da terra”.


Jeremias 1 : 16-17


“Pronunciarei contra eles os meus julgamentos, por toda a sua maldade: porque eles me abandonaram, queimaram incenso a deuses estrangeiros e prostraram-se diante da obra de suas mãos. Mas tu cingirás tua cintura, levantar-te-ás e lhes dirás tudo o que eu te ordenar. Não tenhas medo deles, para que eu não te faça ter medo deles.”


As passagens do Livro de Jeremias nos apontam a referência simbólica do norte, local de muitas nações e de adoradores de deuses que não são Yahweh. Eles são muitos e levam suas vidas afastadas dos mandamentos de Yahweh, por isso, representam a vida na matéria[5], identificada com a poeira que recobre a superfície do Abismo. Uma vida controlada por Nephesch (נפש). Sabedor disso, Yahweh ordena que o profeta Jeremias circunde o seu ventre, tanto simbolizando a sua aliança com Yahweh, quanto fazendo com que os desígnios baixos sejam comprimidos e não consigam dominar o ventre, região representada pela letra [mãe] Mem (מ). Também nos cabe destacar que a presença da letra Mem iniciando e terminando a palavra hebraica Maim (מים), que significa água[6].


Desta forma, a região da Galileia representa o local de nossos eus inferiores, de comportamento animalizado, contrários ao cumprimento dos mandamentos, de identificação com a matéria bruta. Porém, nesta região, existe uma pequena cidade, Nazaré, de onde o versículo aponta como sendo de onde Jesus vinha para o batismo.


Ao observarmos o nome da cidade em hebraico, encontramos a raiz netser (נצר)[7] que significa “broto”, “renovo”[8]. Ou seja, a cidade de Nazaré simboliza, dentro da região da Galileia, o local do surgimento de algo novo, algo diferente do que é a normalidade na conduta da região. Este local simbólico é o “broto”, o “novo ramo” indicado pelo profeta Isaías, de onde o Ungido surgirá:


Isaías 11 : 1


“Um ramo sairá do tronco de Jessé[9], um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o espírito de Yahweh, espírito de sabedoria e inteligência, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor de Yahweh: no temor de Yahweh estará a sua inspiração. Ele não julgará segundo a aparência. Ele não dará sentença apenas por ouvir dizer. Antes, julgará os fracos com justiça, com equidade pronunciará sentença em favor dos pobres da terra. Ele ferirá a terra com o bastão da sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará o ímpio. A justiça será o cinto dos seus lombos e a fidelidade, o cinto de sua cintura[10].


Ou seja, da experiência na matéria, surgirá aquele que possui a compreensão do que é o Bem[11] e, por isso, realizará a obra de Yahweh. Este ensinamento também é encontrado em uma das cartas de Paulo:


Gálatas 4 : 1-5


“Ora, eu digo: enquanto o herdeiro é menor, embora dono de tudo, em nada difere de escravo. Ele fica debaixo de tutores e curadores até a data estabelecida pelo pai. Assim também nós quando éramos menores estávamos reduzidos à condição de escravos, debaixo dos elementos do mundo. Quando, porém, chegou à plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial.”


Compreendendo os aspectos simbólicos contidos no versículo, ratificamos entendimentos já apresentados em outros versículos no sentido de que Jesus ainda não era o Cristo até a época do batismo. Mas, uma partícula da criação que estava passando pelo seu processo de depuração no mundo material, pois, segundo o próprio texto evangélico, foi em Nazaré, na Galileia, que Jesus passou boa parte da sua jornada inicial.


Lucas 2 : 39-40


“Terminando de fazer tudo conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. E o menino crescia, tornava-se robusto, enchia-se de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.”


Lucas 4 : 16


“Ele foi a Nazara, onde fora criado, e, segundo seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para fazer a leitura.”


Desta forma, entendemos que, após período experimentando as questões associadas à matéria, um “renovo” surge em nós e nos conduz até a o “Véu de Nephesch“, guardado por João Batista, para que possamos atravessar o véu e descortinarmos a existência material, encontrando o que está oculto para olhos que não estão habituados a ver o que é real.


Jeremias 5 : 21


“Ouvi isto, povo insensato e sem coração[12]! Eles têm olhos mas não veem, têm ouvidos mas não ouvem.”


Assim, realizada a sua jornada em Nephesch, Jesus é submetido ao processo de batismo e se coloca apto a compreender que, para além de Nephesch, existe algo, Ruach.


(10) E, logo ao subir da água, ele viu os céus se rasgando e o Espírito, como uma pomba, descer até ele,


Enquanto no versículo anterior apenas temos a indicação de que Jesus foi submetido ao processo de purificação, por intermédio do batismo, no versículo em análise, apenas encontramos os eventos decorrentes do término do processo de batismo.


Essa ausência de informações não indica que o processo não seja conhecido, apenas denota que, para a finalidade do Evangelho segundo Marcos, esse momento pode ser ignorado, pois ele visa apresentar o Evangelho de Cristo. Em outras palavras, o processo de batismo é anterior ao período das ações de Cristo e, por isso, apenas é mencionado, brevemente, como indicativo da sua ocorrência, afastando a ideia de que Jesus nasceu pronto para manifestar o Cristo.


Finalizada a fase do batismo, o versículo nos apresenta simbolicamente o seu fenômeno. Ultrapassado o Véu de Nephesch, adentramos em um novo mundo. Deixando as águas [Mem (מ)], o mundo associado ao elemento ar [Aleph (א)] se revela, os Céus[13].


E, apesar de essa purificação ser um fenômeno que deve ser buscado, ela carrega em si uma morte. A morte do antigo, para que dê lugar ao novo. Quando o céu se rasga, entendemos isso, pois ele, para receber aquele que passou pelo Véu, coloca-se em luto.


No luto judaico, no momento no qual se tem conhecimento do falecimento de um parente próximo[14], há tradição da keriá, de se rasgar suas vestes no sentido vertical, do colarinho até a região do coração.


Gênesis 37 : 33-34


“Ele olhou e disse: ‘É a túnica de meu filho! Um animal feroz o devorou. José foi despedaçado!’ Jacó rasgou suas vestes, cingiu sua cintura com o pano de saco e fez luto por seu filho durante muito tempo.”


Na transcrita passagem, além de se verificar a prática da keriá, percebemos que Jacó (Israel) entra em estado de luto pela [aparente] morte de José. “Israel amava mais a José do que a todos os seus outros filhos, porque ele era o filho de sua velhice, e mandou fazer-lhe uma túnica adornada[15]” (Gênesis 37:3). O mesmo ato é praticado por Davi, quando toma conhecimento da morte de Saul (2 Samuel 1:11), e por Jó, quando sabe da morte de seus filhos (Jó 1:20). Inclusive, pelo fato de Jó ter realizado a keriá em pé, é que a sua prática deve ser realizada na mesma posição, o que nos remete ao processo de saída das águas. A keriá indica a morte do antigo Jesus e o seu renascimento como um novo Jesus, purificado das coisas da matéria.


Em função deste processo de morte e renascimento, o Espírito se manifesta. Apesar de, costumeiramente, ser traduzida como Espírito, a palavra utilizada no versículo é Pneuma, em grego, numa referência a palavra hebraica Ruach ou Ruah (רוח). Esta palavra está associada a uma série de atributos capazes de colocar a manifestação em movimento, ou seja, é o poder pelo qual Yahweh age.


Gênesis 6 : 3


“Yahweh disse: ‘meu Espírito[16] [Ruach] não permanecerá no homem, pois ele é carne; não viverá mais que cento e vinte anos”.


A transcrita passagem nos mostra que o próprio Espírito (Ruach) é limitado no tempo, pois, simbolicamente, dura 3 (três) ciclos de 40 (quarenta) anos, o que equivale ao período de 120 (cento e vinte) anos[17]. Importante destacar que o número 3 (três) é representado pela letra Gimel (ג), que carrega em si o significado de ser as portas do paraíso. Enquanto o número 40 (quarenta) é representado pela letra Mem (מ), que significa a Água e os seus caminhos, transparecendo a ideia de maturação. Assim, existem 3 (três) períodos de maturação e, após cada um deles, um portal (um véu) é atravessado e um novo mundo se revela. No final destes 3 (três) ciclos, há o Véu do Abismo para o Atziluth (Mundo Arquetípico), local para onde o Ruach (Espírito) não vai[18], posto que ele é uma expressão de Yahweh para se manifestar a partir do segundo mundo (Briah)[19].


Com o batismo, Jesus atravessou o primeiro véu. Por isso, Ruach (Espírito), simbolicamente, manifesta-se como uma pomba[20] visando conferir se as “águas” haviam secado em Jesus.


Gênesis 8:8-12


“[Noé] Soltou então a pomba que estava com ele, para ver se tinham diminuído as águas da superfície do solo. A pomba, não encontrando um lugar onde pousar as patas, voltou para ele na arca, porque havia água sobre a superfície da terra; ele estendeu a mão, pegou-a e a fez entrar para junto dele na arca. Ele esperou ainda outros sete dias e soltou de novo a pomba fora da arca. A pomba voltou para ele ao entardecer, e eis que ela trazia, no bico, um ramo novo de oliveira! Assim, Noé ficou sabendo que as águas tinham escoado da superfície da terra. Ele esperou ainda outros sete dias e soltou a pomba que não mais voltou para ele.”


A pomba, a presença de Ruach, desce até Jesus simbolizando que ele se encontra seco, livre das águas (מ).


(11) e uma voz veio dos céus: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo”.


Uma vez que foi constatado que Jesus se encontrava sem águas, pois conseguiu ultrapassar o primeiro véu, Yahweh reconhece nele a sua filiação, isto é, aquele que é digno de ser o herdeiro de sua obra e, consequentemente, aquele que deve continuá-la.


Gálatas 4 : 1-5


“Ora, eu digo: enquanto o herdeiro é menor, embora dono de tudo, em nada difere de escravo. Ele fica debaixo de tutores e curadores até a data estabelecida pelo pai. Assim também nós quando éramos menores estávamos reduzidos à condição de escravos, debaixo dos elementos do mundo. Quando, porém, chegou à plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial.”


Após reconhecer a potencialidade da adoção filial em Jesus, Yahweh indica mais um ato: “em ti me comprazo”.


A expressão comprazo, além de indicar satisfação, numa alusão ao Gênesis, no qual Yahweh experimentava a criação e via que era Boa, também significa a ação de ser condescendente e indulgente. Ou seja, Yahweh vê que Jesus está pronto para ser julgado e, consequentemente, habilitado a ter o seu trabalho apreciado.


Isaías 42:1


“Eis o meu servo que eu sustento, o meu eleito, em quem tenho prazer. Pus sobre ele o meu Espírito, ele trará o direito às nações.”


Neste ponto, há um forte indicativo de que Jesus está apto a se tornar o eleito de Yahweh[21], mas, para isso, deverá ser posto à prova, testado.


 


Notas


[1] Mateus 3:13 “Nesse tempo, veio Jesus da Galileia ao Jordão até João, a fim de ser batizado por ele”.


[2] Juízes 1:30-33 e Juízes 4:2.


[3] 1 Reis 9:11.


[4] 2 Reis 15:29.


[5] Marcos 5 : 9 : “E perguntou-lhe: ‘Qual é o teu nome?’ Respondeu: ‘Legião é meu nome, porque somos muitos’.”


[6] Enquanto a letra Mem (מ) transmite o simbolismo da água e os seus caminhos, a letra Yod (י), no centro da palavra, indica a “centelha divina”, que anima e dá forma à água. O valor numérico da palavra Maim é de 90 (noventa), que equivale ao valor da letra Tzaddi (צ), que significa “anzol”, algo que te fisga para cima e, por isso, é associada a ideia de ascensão ao plano superior. Ou seja, na água existe algo que pode te fisgar para um plano superior.


[7] Fazendo uso da guematria, percebemos com que cerne da palavra, composta pelas letras Num (נ) e Tsadi (צ), nos dá a informação de que algo atingiu uma meta, um desabrochar (desta ideia surge o atributo divino Netzach – נצח – costumeiramente traduzido como vitória), enquanto o Tsadi central transparece a ideia de uma capacidade, que está oculta e é vinculada à luz, capaz de direcionar a matéria em direção a um objetivo.


[8] A mesma raiz também é a base para a palavra Netzach (נצח), vitória, um dos atributos divinos.


[9] Jessé é o pai de Davi e representa a décima terceira geração desde Abraão (Mateus 1:1-6). Realizando a redução guemátrica (1 + 3 = 4), encontramos, dentre outras coisas, que Jessé é representado pela letra Dalet (ד), que é a chave para o portal. Enquanto Davi é representado pela letra He (ה), que é a passagem pelo portal.


[10] Mais uma vez encontramos a referência ao cinto na cintura como simbolismo da fidelidade aos desígnios de Yahweh.


[11] Importante destacar que, durante o processo criativo (cosmogenia) realizado por ELOHIM no Gênesis, este fenômeno da experimentação e compreensão ocorre rotineiramente. Ele sempre age e, depois, “vê que era bom”, ou seja, apenas por intermédio da experimentação, da ação, é que se pode constatar o que é bom e o que não é.


[12] Importante destacarmos que, enquanto, atualmente, o coração é a sede simbólica das emoções, dentro da cultura judaica antiga, o coração é a sede do pensamento, onde se cria o raciocínio. Enquanto a emoção está ligada à alma (Nephesch).


[13] Apesar de o versículo em análise não ter sido escrito em hebraico, é importante destacarmos que a expressão comumente traduzida como céus (השמים), em hebraico, significa tanto o firmamento celeste, quanto a ideia de um paraíso visível. Gênesis 1:1-8.


[14] Apesar de o luto ser um sentimento amplo e que podemos sentir pelas mais variadas pessoas e situações, dentro do judaísmo, existem obrigações litúrgicas decorrentes do falecimento de algumas pessoas, como no caso dos pais.


[15] A predileção de Jacó por José, como o próprio versículo indica, decorre do fato de que José é fruto da maturidade de Jacó. Não no sentido de idade cronológica, mas de maturidade espiritual. Ao longo da vida, Jacó teve vários frutos, todos de acordo com o estágio no qual se encontrava. Assim, quando José nasce, ele é o fruto de um momento de maior consciência por parte de Jacó.


[16] Em várias traduções para o português e para outros idiomas, encontramos a expressão “Sopro” no lugar de Espírito, para transmitir a ideia de algo que coloca a forma em movimento, o Aleph (א).


[17] 120 (cento e vinte) anos é a mesma idade simbólica alcançada por Moshé antes de sua morte.


[18] João 3:3 “Jesus lhe respondeu: ‘Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus”.


[19] Aqui cabe destacar que, dentro da Tradição, há o entendimento de que, para além do corpo material, o que costumeiramente se chama de alma humana tem 5 (cinco) níveis, que são, do mais “afastado para o mais próximo a Yahweh:


– Nephesch, que é a “alma animal”, associada à vida material, à vida no Quarto Mundo (Assiah);


– Ruach, que seria o vento, o Espírito, a “alma divina”, associada à vida no Terceiro (Yetzirah) e no Segundo Mundo (Briah), isto é, aos mundos entre o Véu de Nephesch e o Véu do Abismo;


– Neshamá, que literalmente é o “sopro divino”, é a Respiração, a “alma superior”;


– Chiah, que é a essência vivente; e


– Yechidah, a essência única, que é considerada, por alguns, como o ponto de contato entre a alma humana e a própria essência de Yahweh.


[20] Apesar de, atualmente, o pombo ser um animal associado à sujeira, o pombo e a pomba, assim como a rolinha, são aves que são Cashrut, posto que não se encontram na lista de aves que não podem ser consumidas na Torá (Levítico 11:13-19).


[21] Mateus 22:14 “Com efeito, muitos são chamados, mas poucos os escolhidos”. Esta passagem também nos remete ao simbolismo de João Batista, que se alimenta de gafanhotos e mel. Nossos eus inferiores são chamados, mas ao serem mastigados (ש), se tornam em um número menor e, consequentemente, se tornam aptos a serem eleitos.

Alfabeto de Ben Sira


Está escrito: “Quem faz grandes coisas sem limites e maravilhas sem número” (Jó 9:10). Venha e veja quão grandes são os feitos de Deus. Se a Escritura diz: “Quem faz grandes coisas sem limites”, por que acrescenta “e maravilhas sem número”? E se diz “e maravilhas sem número”, por que deve dizer “Quem faz grandes coisas sem limites”?


Como os sábios de memória abençoada explicaram isso? A frase “que faz grandes coisas sem limites” refere-se a todas as criações do mundo, enquanto “e maravilhas sem número” foi dito sobre aquelas três pessoas que nasceram sem que suas mães tivessem dormido com um homem.


Estes homens foram Ben Sira, Rav Pappa e Rabi Zera. Todos os três eram homens perfeitamente justos e grandes estudiosos da Torá. Diz-se sobre Rabi Zera e Rav Pappa que em toda a sua vida eles nunca se envolveram em conversas triviais. Eles nunca dormiam na casa de estudo – nem sono regular nem mesmo uma soneca. E ninguém chegou à casa de estudo antes deles. Eles nunca foram encontrados sentados em silêncio, mas estavam sempre ocupados no estudo, e nunca deixaram de realizar a santificação do dia de sábado. Eles nunca deram má fama a seus semelhantes, nem se honraram desonrando os outros. Eles nunca foram para a cama xingando seus colegas. Eles nunca olharam para o rosto de uma pessoa má, nem aceitaram presentes. E eles eram homens generosos, cumprindo assim o versículo “Eu dou bens aos que me amam; Eu encherei seus tesouros” (Provérbios 8:21).2


Como suas mães deram à luz Rabi Zera e Rav Pappa sem ter relações sexuais com seus maridos? Diz-se que uma vez elas foram à casa de banhos, o sêmen judaico entrou em suas vaginas, e elas conceberam e deram à luz. No entanto, nenhum dos sábios sabia quem eram seus pais.


Ben Sira, no entanto, sabia a identidade de seu pai e como sua mãe o havia dado à luz sem mentir com o marido.


Diz-se que a mãe de Ben Sira era filha de Jeremias. Um dia Jeremias foi à casa de banhos e encontrou homens perversos da tribo de Efraim que, ele viu, estavam todos se masturbando. Pois toda a tribo de Efraim daquela geração era perversa. Assim que os viu, Jeremias começou a admoestá-los. Eles imediatamente se levantaram contra ele dizendo: “Por que você nos adverte? ‘Como o caminho para Berseba vive (Amós 8:14), você não sairá deste lugar até se juntar a nós.”


“Deixem-me em paz”, gritou Jeremias. “Eu juro a você que nunca vou revelar isso.”


“Não viu Zedequias, Nabucodonosor comendo uma lebre”, eles responderam, “e jurou a ele, por decreto divino, que ele nunca revelaria isso! E, no entanto, ele quebrou seu juramento. Você fará o mesmo.

Se agora você se juntar a nós, tudo bem. Se não, vamos sodomizá-lo, assim como nossos ancestrais costumavam fazer em sua adoração de ídolos. Pois se eles fizeram isso com os ídolos, pode ter certeza que faremos com você.”


Com medo e pavor, Jeremias aquiesceu. Assim que ele saiu da casa de banhos, porém, ele amaldiçoou seu dia, como é dito: “Maldito o dia em que nasci” (Jeremias 20:14). Jeremias foi embora e jejuou por causa disso duzentos e quarenta e oito dias, o número de dias correspondente aos membros do corpo humano.


Quanto ao sêmen justo de Jeremias, a gota foi preservada até que a própria filha de Jeremias chegou ao balneário, e a gota entrou em sua vagina. Sete meses depois ela deu à luz um menino que nasceu com dentes e com poderes de fala totalmente desenvolvidos.


Depois que deu à luz, a filha de Jeremias ficou envergonhada, pois alguns diziam que ela havia concebido porque havia sido promíscua. Mas o menino abriu a boca e disse à mãe: “Por que você se envergonha do que as pessoas dizem? Eu sou Ben Sira, filho de Sira.”


“Sira, quem é ele?” ela perguntou.


“Jeremias”, respondeu a criança. “Ele é chamado de Sira porque é o oficial sobre todos os oficiais, e está destinado a dar nomes a todos os oficiais e reis. Se você os calcular, os valores numéricos das letras em Sira e em Jeremias são iguais.” Ela lhe disse: “Meu filho, se isso é verdade, você deveria ter dito, eu sou filho de Jeremias”.


“Eu queria”, ele respondeu, “mas teria sido impróprio sugerir que Jeremias coabitava com sua filha.” “Meu filho”, disse ela, “está escrito: ‘O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará;’ (Eclesiastes 1:9).


Mas quem já viu uma filha dar à luz pelo pai?” “Minha mãe”, a criança respondeu, “’não há nada de novo debaixo do sol (Eclesiastes 1:9)’. Pois assim como Ló era perfeitamente justo, meu pai também é perfeitamente justo. Assim como uma ocorrência semelhante aconteceu com Ló sob coação, também aconteceu com meu pai”.


“Você me surpreende”, disse ela.


“Como você sabe dessas coisas?” “Não se surpreenda com o que eu digo. Não há nada de novo sob o sol. Jeremias, meu pai, fez a mesma coisa. Quando sua mãe estava prestes a dar à luz, meu pai abriu a boca e gritou de sua barriga de mãe: ‘Não sairei até que você me diga meu nome.’


“Seu pai abriu a boca e disse: ‘Saia e você será chamado Abraão’.


“Meu pai respondeu: Esse não é meu nome.’


“Seu pai disse: ‘Você será chamado Isaac.’ E seu pai tentou o nome Jacó, e os nomes de todos os filhos de Jacó, os pais das doze tribos, e os nomes de todos os homens daquela geração. Mas cada vez meu pai dizia: ‘Esse não é meu nome’.


“Finalmente, Eliyahu, o profeta Elias de abençoada memória, apareceu e disse: ‘Você será chamado Yirmiyah, Jeremias, pois em seus dias Deus estabelecerá um inimigo que levantará [lyarim] sua mão sobre Jerusalém.’


“Meu pai disse: ‘Esse é o meu nome! E você, Eliyahu, porque me disse meu nome, também serei chamado pelo seu nome. Do seu nome, tomarei o final yahu, e serei chamado Yirmiyahu.


“Assim como Jeremias saiu do ventre com o poder da fala, eu emergi com o poder da fala. Assim como ele saiu com o poder da profecia – como é dito: ‘Antes que você saísse do ventre, eu te santifiquei; Eu te designei um profeta para a nação (Jeremias 1:5) – eu também emergi do ventre com o poder da profecia. Assim como ele deixou a barriga de sua mãe com seu nome, eu também; e como ele compôs um livro organizado em acrósticos alfabéticos, o Livro das Lamentações, eu também comporei um livro em alfabetos. Portanto, não se surpreenda com minhas palavras.”


“Meu filho”, disse sua mãe a Ben Sira, “não fale, pois o mau-olhado pode fixar seu poder sobre você.”


“O mau-olhado não tem autoridade sobre mim. Além disso, não tente falar comigo sobre fazer o que meu pai fez. A mim se aplica o provérbio: A ovelha segue a ovelha, e o filho segue os feitos do pai.’ ”


“Por que você me interrompe, meu filho?” sua mãe perguntou.


“Porque você sabe que estou com fome e não me dá nada para comer.”


“Aqui, pegue meus seios. Coma e beba”


“Eu não tenho desejo por seus seios. Vá e peneire a farinha em uma vasilha, amasse-a em pão fino, e pegue carne gordurosa e vinho envelhecido – e você pode comer comigo!”


“E com o que vou comprar essas coisas?”


“Faça algumas roupas e venda-as. Dessa forma, você cumprirá o versículo: ‘ela fez uma roupa de linho e a vendeu’ (Provérbios 31:24). E se você também me apoiar, você cumprirá o versículo: ‘Muitas filhas fizeram bravura, mas você as superou a todas (Provérbios 31:29)”.


A mãe de Ben Sira fazia roupas e as vendia e trazia para ele pão, carne gordurosa e vinho envelhecido, e assim o sustentou durante um ano.


O Alfabeto de Ben Sira

“O Alfabeto de Ben Sira”, é uma obra medieval anônima, que foi preservada em várias versões, que diferem em maiores e menores detalhes. O Alfabeto é um texto composto, seu núcleo é uma série de vinte e dois aforismos dispostos em ordem alfabética e organizados em uma narrativa grosseira. Na maioria das versões este alfabeto é precedido pela história fantástica e provocativa da concepção e nascimento de Ben Sira e sua educação inicial. A seção final da obra trata de Ben Sira na corte do rei Nabucodonosor e consiste em outra série de vinte e dois episódios. Estes compreendem as várias provações que Nabucodonosor estabelece para Ben Sira e as histórias, muitas delas fábulas de animais, que Ben Sira conta a Nabucodonosor em resposta a várias perguntas feitas pelo rei.


Com base em evidências internas, “O Alfabeto” foi composto em um dos países muçulmanos em algum momento durante o período geônico, possivelmente já no século VIII. O fato de esta obra ter se originado em um país não-cristão milita fortemente contra a teoria de que o relato do nascimento milagroso e da infância prodigiosa de Ben Sira pretendia ser uma paródia sobre a vida e a infância de Jesus como encontrada nos Evangelhos da Infância ou como encontrado em sua versão judaica, Toledot Yeshu. Os judeus de um país não cristão não tinham necessidade nem interesse em tal empreendimento. Portanto, devemos procurar sua fonte em outro lugar.


“O Alfabeto” é composto no estilo de um midrash agádico (o termo agádico designa a agadá, que é o compêndio de textos rabínicos que incorpora folclore, anedotas históricas, exortações morais e conselhos práticos em várias esferas, desde os negócios até a medicina) e trata vários personagens bíblicos e padrões rabínicos de forma irreverente, às vezes quase ao ponto da insanidade. Este fato levou alguns estudiosos a concluir que a obra foi composta como um tratado antirabínico destinado a menosprezar o gênero de agadá. De fato, algumas partes do “Alfabeto” claramente parodiam não apenas o gênero de agadá, mas passagens específicas do Talmude e do Midrash. De fato, “O Alfabeto” pode ser uma das primeiras paródias literárias da literatura hebraica, uma espécie de burlesco acadêmico – talvez até entretenimento para os próprios estudiosos rabínicos – que incluía vulgaridades, absurdos e o tratamento irreverente de reconhecidas personalidades espirituais judaicas.


“O Alfabeto” foi lido como entretenimento popular na maioria das comunidades rabínicas durante a Idade Média. Em alguns lugares, no entanto, gozava de uma respeitabilidade incomum. O famoso tosafista do século XIII Rabi Peretz de Corbeil, França, usou o relato da concepção de Ben Sira como fonte para demonstrar a permissibilidade haláchica de inseminar artificialmente uma mulher com o esperma de seu pai (como citado por Taz no Shulhan Arukh, Yoreh Deah 195:7). É certo que este caso foi excepcional. Via de regra, a obra era tratada nos altos círculos rabínicos com negligência depreciativa – mesmo que alguns estudiosos não tivessem objeções em saborear seu conteúdo.


A presente tradução é baseada na primeira versão publicada por M.

Steinschneider e reimpressa em Eisensteines Otsar Midrashim (1915; reimpressão, Israel: sem editor, 1969), 1:43-50. [Nota da edição: Desde que a tradução foi concluída, uma edição crítica de “O Alfabeto” foi publicada por Eli Yassif sob o título Sippurei Ben Sira (Jerusalém: Magnes, 1984).


A edição Yassis inclui duas recensões paralelas do texto.

Embora não tenha sido possível retraduzir “O Alfabeto” de nenhuma dessas recensões, a tradução original de Norman Bronznick foi revisada à luz da edição crítica, e as notas redesenhadas de acordo com anotações exaustivas de Yassis.]

terça-feira, 8 de outubro de 2024

A Tradição Espiritual do Ocidente – Parte 6


Na 5ª parte desta série de artigos, vimos como o Esoterismo Moderno tomou forma a partir do século 19, e se consolidou como uma tendência espiritual independente, delimitando um corpo teórico a partir de autores considerados “mestres espirituais” na modernidade (Eliphas Levi, Papus, Helena Blavatsky e Crowley).


A partir de agora, encerraremos esta série de artigos sobre a Tradição Espiritual Ocidental analisando como o Esoterismo Moderno ratificou de maneira definitiva seus “pressupostos filosóficos” a partir do século 20, e como ele tem sido vítima dos próprios valores iluministas que abraçou, sofrendo de um relativismo conceitual que o impede de chegar a qualquer conclusão sobre a Verdade (e o afastando da essência da espiritualidade do Ocidente).


O Esoterismo Moderno e suas infinitas correntes espirituais: para onde caminha a espiritualidade do homem contemporâneo?

O Esoterismo Moderno estimula a mistura, o sincretismo, a absorção desenfreada (e sem critérios) de conhecimentos muitas vezes incompatíveis, através da lógica moderna de que “de tudo se deve extrair um pouco”. Só que essa lógica cria estudantes incompletos e medíocres, que dominam superficialmente aspectos de muitas correntes e doutrinas diferentes, mas que não conseguem desempenhar um papel satisfatório em nenhuma delas.


Curiosamente, o Esoterismo Moderno parece ser vítima dos próprios ideais iluministas que abraçou (e dos quais construiu sua identidade). Assim, ao mesmo tempo em que prega uma “releitura da Tradição”, a espiritualidade moderna vê-se perdida em meio a uma diversidade quase infinita de tendências espirituais,Filosofias e correntes religiosas, sem que nenhuma delas possa ser classificada como “autêntica” ou “verdadeira”. Como o Esoterismo Moderno abraça “várias verdades”, a autenticidade de cada corrente filosófica que compõe a espiritualidade contemporânea vai depender sempre da interpretação pessoal de cada buscador (Subjetivismo). E é justamente aí que os estudantes de esoterismo da modernidade caem num verdadeiro “labirinto”.


Diferente da Tradição Espiritual Ocidental, que é respaldada em critérios definidos e possui uma base epistemológica sólida e comum em todas as culturas ocidentais nas quais se manifesta, o Esoterismo Moderno tem uma dificuldade enorme em estabelecer critérios práticos de análise da espiritualidade. Isso ocorre porque a modernidade parece caminhar sob um ideal fantasioso de “democracia” (outro fruto da influência iluminista), que quer dar a todos “vez e voz” na construção de identidade de qualquer coisa (incluindo a espiritualidade). Assim, o Esoterismo Moderno, amarrado aos ideais iluministas do Relativismo e do Subjetivismo, deixa à cargo de cada buscador interpretar como quiser os resultados que obtém de suas práticas espirituais, gerando uma verdadeiro festival de achismos e análises distorcidas de coisas que poderiam ser classificadas de maneira objetiva e concreta.


Ao leitor, deixo um pequeno “desafio”: pergunte a algum estudante de esoterismo da atualidade (ou algum conhecido seu, membro de alguma Ordem Iniciática moderna), quais resultados ele obteve de suas práticas espirituais (sejam elas quais forem). É bem provável que você receba respostas do tipo “tive resultados extraordinários”; “senti energias positivas a meu redor, durante minhas práticas”, ou mesmo respostas relativistas do tipo “o que são resultados pra você? Tudo pode ser considerado resultado”. Os estudantes de Esoterismo Moderno tem enorme dificuldade para sistematizar os resultados que obtém de suas práticas, justamente porque o próprio Esoterismo Moderno (através de grande parte de suas correntes filosóficas e espirituais) não estabelece critérios claros de análise de resultados, ou de interpretação de práticas espirituais.


É importante ressaltar que nesse “samba do crioulo doido”, alguns valores da Tradição Espiritual do Ocidente foram mantidos (e até fortalecidos!) no Esoterismo Moderno. Não porque esses valores são importantes para a modernidade, mas porque seu uso é estratégico aos objetivos da espiritualidade moderna (e ao marketing promovido pela modernidade em torno de si mesma). Estamos falando dos conceitos de “segredo” e da separação dos indivíduos entre “iniciados” e “não-iniciados”.


A importância do segredo e da separação da sociedade entre “iniciados” e “não-iniciados” (chamados na modernidade de “profanos”) está intimamente ligada ao nascimento e expansão das Ordens Iniciáticas modernas no século 19. Muitas dessas instituições espiritualistas se apresentaram como detentoras de algum tipo de “sucessão espiritual” (obviamente remontando aos primórdios da Tradição Ocidental). Assim, no Esoterismo Moderno nascido no século 19, apenas as Ordens Iniciáticas eram capazes de manter segredo sobre os “conhecimentos milenares” que possuíam: seus membros (iniciados) eram constantemente aconselhados a não se misturar com os “profanos” (não-iniciados). Isso criava uma sensação (presunçosa) de “superioridade espiritual” dos membros dessas Ordens, que se achavam “mais gabaritados” que os indivíduos que não fossem “iniciados” (o que obviamente, forçava os não-iniciados a procurarem a iniciação dentro das Ordens!). É justo ressaltarmos, no entanto, que esse tipo de raciocínio tem sido duramente combatido no seio da própria modernidade através do discurso conciliatório do movimento “New Age” (Nova Era) e da suposta “Era de Aquário” (que traria a verdade de qualquer assunto à tona).


Seja como for, é por essa razão que as Ordens Iniciáticas modernas fizeram uso desses aspectos (segredo e valorização da iniciação) tão caros à Tradição Espiritual Ocidental (e não por simplesmente considera-los “importantes” ou “autênticos”).


É necessário destacar também, que a interpretação dada pela espiritualidade moderna ao termo “iniciação” difere e muito da interpretação dada pela espiritualidade tradicional a esse termo. De uma forma geral, o Esoterismo Moderno parte da ideia de que seres humanos (iniciados) podem iniciar outros seres humanos em alguma vertente espiritual, e as Ordens Iniciáticas do século 19 se valeram desse raciocínio para divulgar fortemente o raciocínio de que a “Iniciação” só poderia ser obtida dentro de suas estruturas, por membros devidamente iniciados. Porém, essa interpretação dada pelas Ordens Iniciáticas modernas, considerava a iniciação como sinônimo de cerimônias que deviam ser realizadas na estrutura das Ordens, exclusivamente por seus membros ou aspirantes a membros (GUÉNON, 2017).


O pensamento da Tradição Ocidental a respeito do conceito de “Iniciação” é diferente: na verdade, a “Iniciação” (sob um ponto de vista tradicional) é um processo espiritual acarretado por meio da experiência direta (prática) do buscador, através do trabalho com o Trivium Hermético. Assim, a Iniciação não depende de outro ser humano (mesmo que ele seja “iniciado” em Ordens Iniciáticas modernas), mas sim do trabalho espiritual feito pelo buscador. De forma simplificada, dum ponto de vista tradicional, apenas Deus pode conceder uma “iniciação espiritual a alguém”, seja por meio de sua graça direta, seja através das hierarquias da Criação e dos seres que a compõem (anjos, arcanjos, demônios, elementais, espíritos desencarnados, etc.). Logo, o conceito tradicional de “Iniciação” não gira necessariamente em torno de um “iniciador humano” (o que impede que seres humanos tornem-se “reféns” de outros seres humanos em busca de uma”iniciação”, como ocorre frequentemente no Esoterismo Moderno).


Considerações Finais


A Tradição Espiritual Ocidental é um corpo de conhecimentos transmitido de geração à geração através dos séculos, pautado nas manifestações culturais de quatro grandes matrizes culturais ocidentais: a matriz pagã (representada especialmente pelo xamanismo celta e pelas religiões de matriz Africana), a matriz egípcia, a matriz greco-romana e a matriz judaico-cristã. É dessas quatro culturas (e das culturas diretamente influenciadas por elas) que se sustenta toda a base sócio-histórica da Tradição Espiritual do Ocidente.


A Tradição manifesta-se de formas diferentes em cada uma dessas culturas, mantendo uma essência comum em cada um delas (e usando roupagens diferentes de acordo com a carga histórica e cultural de cada um dos povos nos quais essas matrizes se manifestam). Ainda assim, não podemos afirmar que os elementos comuns dessas matrizes são necessariamente “pontos convergentes”: trata-se na verdade de elementos similares que encontram uma congruência ao se manifestarem. Assim, não existem “várias tradições” no Ocidente: existe somente uma Tradição, que é perene (não dependente do tempo) e que se manifesta de formas aparentemente diferentes, mas similares em certos aspectos (através dos valores chamados “tradicionais”).


Quanto à sua forma de manifestação, a espiritualidade tradicional Ocidental manifestou-se nas quatro culturas (pagã, egípcia, greco-romana e judaico-cristã) através do chamado “Trivium Hermético”: a Astrologia Tradicional, a Alquimia Laboratorial e a Teurgia. Foi através dessas três artes herméticas (sempre presentes em maior ou menor grau), que a Tradição Espiritual do Ocidente manifestou sua base prática ao longo dos séculos.


Por outro lado, o Iluminismo (a partir do século 17) veio à tona na cultura ocidental como um rival da Tradição, e procurou (ainda procura!) enfraquecer a essência da Tradição através das correntes de pensamento que formam o pensamento iluminista (Relativismo, Liberalismo, Humanismo, Empirismo, Subjetivismo, Ceticismo, Materialismo, Progressismo, Pragmatismo, etc.). O Iluminismo atingiu diretamente a espiritualidade Ocidental a partir do século 18, gerando o que conhecemos atualmente como o “Esoterismo Moderno”: uma vertente espiritual autônoma, gerada a partir do corpo da Tradição Espiritual do Ocidente, mas manifestando valores e ideias completamente alheios à sua origem.


O pensamento iluminista está “entranhado” no Esoterismo Moderno “até os dentes”, e nada que seja considerado tradicional ou pertencente à Tradição Espiritual Ocidental escapa incólume à abordagem da espiritualidade contemporânea: “adaptar” é sua palavra de ordem, e “deturpar” é seu sobrenome (RIFFARD, 1990).


Com isso, não queremos dizer que o Esoterismo Moderno não tem um valor; ele certamente pode ter algum valor a seus adeptos, e não é nossa intenção “varrê-lo da existência” (como o Iluminismo procurou fazer com a essência da Tradição, no século 18). O problema aqui não é simplesmente o fato de o Esoterismo Moderno defender valores não-tradicionais: é comprovarmos o que ele tem feito em relação à Tradição ao longo de sua existência. E o que ele tem feito não é algo que possamos considerar “benéfico” ou “positivo” ao pensamento da espiritualidade ocidental: o Esoterismo Moderno simplesmente tem seguido à risca a cartilha iluminista de combate aos valores tradicionais e à essência da Tradição Espiritual do Ocidente (sua própria fonte de origem), porque sua própria essência é procurar modificar tudo que toca.


O fato de que o Esoterismo Moderno trabalha através de adaptações de conceitos considerados tradicionais, é comumente justificado pela modernidade com o argumento de que “o homem moderno não pode usar os mesmos métodos espirituais que os homens de outras eras usaram”.


Outro argumento comumente usado pelos sistemas esotéricos modernos para justificar a utilização (e mudança) de conceitos tradicionais, seria o de que “a modernidade é a evolução da Tradição”, e, portanto, “o Esoterismo Moderno corrige os erros cometidos pelo esoterismo Tradicional”. Esses argumentos são absolutamente incoerentes e não explicam ou justificam o empobrecimento que a espiritualidade moderna ocasiona nos conceitos tradicionais de que se apropria. O problema aqui não são as adaptações feitas pela modernidade sobre os conceitos da Tradição Espiritual Ocidental: é a falta de coerência dessas adaptações, que terminam por gerar aberrações filosóficas e espirituais sem nenhuma consistência, no seio da espiritualidade moderna.


Da mesma forma, fica-nos claro que a modernidade nunca “corrigiu” nenhum dos “erros” que alega haverem existido na manifestação da Tradição ao longo dos séculos…. pois se o tivesse feito, ela mesma não teria gerado falhas na espiritualidade do homem contemporâneo. Não estamos dizendo que a Tradição Espiritual Ocidental não tenha tido falhas ao longo da história humana; certamente ela o teve (visto que o conceito pleno de “perfeição” jamais pode ser manifestado neste mundo, e pertence apenas a Deus, que é Todo-Poderoso); porém, não foi o Esoterismo Moderno quem “corrigiu” essas “falhas”. Assim, a modernidade não consertou nada do que classifica como “errado” na Tradição; ao contrário: acrescentou novas falhas à espiritualidade ocidental, ao mesmo tempo em que alega estar tentando “corrigir” os erros do passado, para desviar a atenção de suas próprias imperfeições (COOMARASWAMY, 2017).


Esperamos que tenha ficado claro ao leitor o que significa a Tradição Espiritual do Ocidente, qual o conceito de “Tradição”, e quais as diferenças (abissais) entre a espiritualidade tradicional do Ocidente e o Esoterismo Moderno.


Aos caros leitores, fica a dica: nem tudo que se diz ser “tradicional”, bebe realmente dos valores da Tradição Ocidental. Não se deve comprar “gato por lebre”, nem “bananas por maçãs”: são duas frutas diferentes, com sabores diferentes (embora gostosas), mas que nem sempre devem (ou podem) ser consumidas juntas.


Cada ser humano tem liberdade para escolher o que quer seguir, e com qual vertente filosófica ou espiritual quer se alinhar. Todavia, é preciso se ter consciência do que se está seguindo, para se evitar decepções futuras. Não se pode usar o discurso de eterno buscador (“estou experimentando para saber o que escolho”), pois esse é um dos mantras modernos que tentam justificar a incapacidade dos buscadores espirituais da atualidade em fazer escolhas (mesmo as mais simples).


Escolher o Esoterismo Moderno como caminho espiritual é um direito que cabe a qualquer ser humano, e é algo comum na atualidade (muitos estudantes que optam por trilhar a espiritualidade tradicional Ocidental e seus valores, inclusive iniciam suas jornadas espirituais no Esoterismo Moderno). Todavia, não se pode escolher a espiritualidade moderna, achando que se está escolhendo algo “tradicional”…


A vida é feita de escolhas, e cada escolha deve ser feita com carinho, cuidado e atenção. Não se pode ter tudo na vida, ao mesmo tempo em que se deve ter noção mínima do que se quer obter numa senda espiritual. Como diriam certos “ditados populares”: “quem tudo quer, termina sem nada”; ou mesmo: “quem não sabe o que quer, não reconhece o que encontra”.


REFERÊNCIAS


COOMARASWAMY, Rama. Ensaios sobre a destruição da tradição cristã. Instituto René Guénon de estudos Tradicionais – IRGET. São Paulo: 2017.

GUÉNON, René. A crise do mundo moderno. Instituto René Guénon de estudos Tradicionais – IRGET. São Paulo: 2017.

RIFFARD, Pierre. O Esoterismo: antologia do esoterismo ocidental. Ed. Mandarim. São Paulo: 1996.


NOTAS


A Modernidade alega ter “corrigido” as falhas da Tradição, se dizendo uma “evolução do pensamento tradicional”. Porém, na prática, a Modernidade não conseguiu corrigir o que alegava estar “errado” no pensamento tradicional; ao contrário: criou novos erros, enquanto apontava para as falhas do pensamento tradicional como forma de desviar o foco de seu próprio fracasso.


A filosofia “New Age” (Nova Era) é uma forma de espiritualidade muito ativa no Esoterismo Moderno, pautada numa visão espiritual eclética, descentralizada, focada no bem-estar (Holismo) e no “progresso espiritual” do homem contemporâneo. Para os adeptos do pensamento “Nova Era”, nada pode permanecer oculto ou inacessível ao ser humano, pois a humanidade está vivendo um período de “renascimento espiritual” (a chamada “Era de Aquário”) onde todos os “segredos” serão “abolidos”.


O Esoterismo Moderno abraçou os ideais iluministas (especialmente o Relativismo) a tal ponto, que encontra-se praticamente num “beco sem saída”: há caminhos espirituais demais, e verdades de menos. Assim, o homem contemporâneo se vê numa verdadeira “selva de conceitos”, sem que nenhum lhe pareça confiável ou definitivo.




Invocações e Evocações: Vozes Entre os Véus

Desde as eras mais remotas da humanidade, o ser humano buscou estabelecer contato com o invisível. As fogueiras dos xamãs, os altares dos ma...