quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Kenneth Grant - A Luz que Não é

 

De acordo com o conhecimento oculto Consciência Cósmica manifesta-se na humanidade como sentiência que concentra a si mesmo em um centro individualizado de vigília, e divide-o em sujeito e objeto. Sujeito identifica a si mesmo com o princípio cósmico como ego, e objeto é o mecanismo de vigília. Esta identificação da consciência com o ego é ilusória e portanto o Princípio de Consciência é velado. (n.t. nota de rodapé, isto é descrito no Liber LXV como o “Erro do começo”. Isto é a falha essencial anotada pelos Árabes, a ‘Queda’ original) O ego imagina a si mesmo como uma entidade diferente dos objetos que ele sente (n.t. 5 sentidos), e, invés de puro sentir, ouvir, ver, saborear e saber, está a falsa assunção que ‘Eu sinto’, ‘Eu ouço’, ‘Eu vejo’, ‘Eu gosto’, ‘Eu sei’. É então que o mundo fenomenal (o mundo das aparências) é representado a nós como Malkuth. O processo inteiro, de Kether a Malkuth, é um sucessivo velar acompanhado da gradual aumento de vigília do Princípio de Consciência, o propósito global da encarnação sendo a ‘redenção’ e reintegração do Princípio perdido.

Budistas e Adventistas referem a estes véus como completamente ilusórios, enquanto outros referem a eles como modificações do Princípio original. Em qualquer uma das visões o problema permanece inalterado: como resolver o perpétuo jogo de pique-esconde que Kether joga através dos véus primários de sujeito e objeto (Chokmah e Binah), o nexo de qual é localizado em Daath. A causa do mistério, glamour, ou ignorância como os Budistas o chamam, é a errônea identificação inicial do Sujeito com seus objetos. Isto é principalmente causado pelo fato de que, como os Cabalistas clamam, ‘Kether está em Malkuth e Malkuth em Keter, mas de uma maneira diferente’. A presença de Kether em Malkuth (n.t. rodapé Consciência ou Sujeito em todos objetos) cria uma ilusão de realidade em todos os objetos. Este glamour engendra sentiência que confunde e sufoca o ego em engano. Sri Ramakrishna compôs e cantou muitos hinos de surpreendente beleza para este “enfentiçante mundo Ilusório (nt.Maya)’, ou jogo mágico de glamour e ilusão gerado nos sensos da humanidade pela confusão do irreal com o Real.

Kether é o foco da Consciência Cósmica, e sua primeira manifestação é Luz. O ‘Ain’, que é sua fonte, não é escuridão mas ausência de luz, e portanto a verdadeira essência da Luz. Kether é o infinitesimal ponto no espaço tempo na qual a Ausência da Luz torna-se Presença pela sintonia do Vácuo(Ain) de dentro para fora. Kether, e a resultante Árvore da Vida, podem então serem concebidas como o interior do Vácuo manifestando em Espaço, que é o ‘menstruum’ (n.t. meio) da Luz.

No microcosmo esta Luz manifesta-se como lua da consciência que ilumina a forma. Esta é a Luz pela qual, e em qual, um pensamento pode ser visualizado na escuridão da mente; como sonhos aparecem nas escuridão do sonho. Na esfera celestial, consciência manifesta-se como luz física, o Sol. No reino mineral se manifesta como ouro. Biologicamente considerando, é o falo que perpetua a semente da luz (consciência) no reino animal. Estão luzes são Uma Luz (Kether) e elas procedem da infinita ausência de luz (Ain). Enquanto derrama através de Kether ela separa-se em três raios que formam os três ramos da Árvore. Estes tem três pilares: Chokmah, Daath e Binah, concentranto então 16 kalas (2 para Chokmah, 11 para Daath e 3 para Binah), que, em seus reflexos no mundo da anti-matéria (Ain) constituem os 32 Caminhos ou Kalas da Árvore da Vida.

Escuridão é ausência da luz, e ausência que possibilita a presença de tudo que ‘aparece ser’. Não-ser, cujo símbolo é escuridão, é a fonte de Ser, e entre estes dois terminais existe uma ‘solução de continuidade’ representada pelo Abismo que separa o nomenal mundo de Kether, com seus terminais gêmeos (Chokman-sujeito e Binah-objeto), do mundo fenomenal de Malkuth. O ponto preciso de descontinuidade é marcado pelo pilão de Daath no meio do Abismo. Daath é o conhecimento do mundo fonomenal refletido para baixo através dos túneis de Set na parte de trás da Árvore. Este conhecimento, ou Daath, é a morte do Self.
Representa o estágio primário nos quais os cerementos são trançados sobre a múmia que entra Amenta nos Desertos de Set. Aparece na parte de frente da Árvore como o aparentemente vivo semblante do ego, o qual identifica a sim mesmo na sua gradual descida na matéria (Malkuth). Seu despertar para a consciência mundana é em realidade um sono e a morte de qual o Principio de Consciência pode ser salvado unicamente viajando pelos caminhos de Amenta ‘no reverso’. Esta jornada reversa através dos Túneis de Set começa em Tuat, a passagem preliminar or 32o. caminho que leva de volta de Malkuth (consciência mundana) para as esferas astrais de Yesod.

Tradições orientais têm tipicicado esta descida da Consciência em termos dos três estados de consciência sushupti (dormindo), svapna (sonhando) e jagrat (acordado), e sua reintegração em um quarto estado – turiya – que não é realmente um estado, mas um substrato dos outros três, ‘ e o único real elemento nos outros três’. Turiya iguala com Kether (Consciência Indiferenciada), Sushupti iguala com Daath, Svapna com Yesod, Jagrat com Malkuth. Este esquema iguala-se a doutrina cabalista: "o estado de profundo sono sem senho (sushupti) é o estado em qual a mente nào está consciente do universo fenomenal ou objetivo. Ele é vazio no senso que ele é vazio de pensamentos (imagens), e escuro no sentido que dentro sua luz é ausente. Sushupti combina com Svapna, o estado de objetividade subjetiva, ou sonhos, porque Kether cria no vazio de Sushupti um stress que manifesta como vibração. Este stress refletido no mundo dos sonhos (Yesod) como sentiência latente nas microcósmicas zonas de poder (chacras) na qual assume a forma elemental de ether, fogo, ar, agua e terra. Em outras palavras, esta vibração manifesta como os seis sentidos, que a seu tempo, são projetados como fenômenos objetivos no estado acordado (jagrat, Malkuth). Desta maneira um estado ou mundo de consciência junta-se no outro. Similarmente, um estado ou nível de Consciência Cósmica desenvolve e envolve em outro enquanto o original Princípio de Consciência é objetivado com densidade crescente. Desta maneira o mundo de ‘nome e forma’ aparece ao ego (o pseudo-sujeito) como ‘realidade’, enquanto em fatos atuais Realidade retira-se como o Princípio de Consciência retrocede, e retorna para o ponto de sua original ausência.

Daath como o ego é a sombra-‘shakti’ ou poder velado de Kether no momento relampejante de sua bifurcação em Chokmah(sujeito) e Binah(objeto).

O ego é a sombra, mas é a sombra da realidade. É impossível expressar este conceito em linguagem de dualidade. Realidade é Não-Ser, e o ego é o reflexo ou reverso da Realidade nas aguas do Abismo; mas não somente a imagem é revertida, ela também é invertida. Em termos da Tradição Draconiana o ego é a miragem que aparece nos Desertos de Set.

A exaltação do ego em Daath e seu clamor de ser a Coroa (Kether) é ‘A’ blasfêmia contra a cabeça de Deus, e aqueles que criaram este falso ídolo tem sido chamados Irmãos Negros. Por este ato eles banem a si mesmos para o Deserto de Set pela duração de um aeon; ou, se profundamente comprometido com a hierarquia aversa, eles podem manter esta sobrevivência-sombra por ‘um aeon e um aeon e um aeon’, um ‘kalpa’ inteiro ou Grande Círculo do Tempo. O falso rei dura até o ‘kalpa’ ser terminado por um ‘Mahapralaya’. Tais Irmãos Negros não devem, entretanto, serem confundidos com aqueles Black Brothers cujo ídolo é uma certa Cabeça secreta de uma verdadeira hierarquia aversa que resume todos os 777 caminhos atrás da Árvore. Eliphas Lévi falou desta hierarquia em termos de ‘magia negra’ e da Cabeça Bafomética acesa com o enxofre dos infernos adorada pelos Templários. Outro Adepto que vislumbrou esta Hierarquia Negativa foi H.P.Blavatsky, ainda que sua enorme luta de rascunhar através do véu alguns de seus mistérios terminou um uma massiva confusão de suas duas monumentais obras. Talvez a Isis que ela buscava desvelar não fosse a Isis da natureza manifesta em matéria, mas a Nova Isis do Inatural, da antimatéria, com seus vazios sendo os buracos negros do espaço. Antes de explorar os túneis de Set, nós temos que estabelecer o fato que os mistérios do Não-Ser, embora não interpretado nos tempos antigos da mesma forma que os interpretamos hoje, eram guardados com a significância que eram tanto vital e ameaçador. Isto é surpresa ainda maior desde que só nos últimos cinquenta anos estas questões obscuras estão sendo iluminadas por estonteantes descobertas nos campos da física nuclear e sub-nuclear, e da psicologia, nenhuma das quais tinha sido demostrada cientificamente quanto a doutrina cabalística estava sendo desenvolvida.

Kenneth Grant, Nightside of Eden. 

Os 32 Caminhos Da Sabedoria Por Papus


O primeiro caminho é chamado Inteligência admirável, coroa suprema. É a luz que faz compreender o princípio sem princípio e esta é a glória primeira; nenhuma criatura pode atingir sua essência.


O segundo caminho é a Inteligência que ilumina, é a coroa da Criação e o esplendor da Unidade suprema da qual se aproxima mais. Ela é exaltada além da inteligência e chamada pelos cabalistas de Glória Segunda.


O terceiro caminho é chamado Inteligência santificante e é a base da sabedoria primordial, chamada criadora da Fé. Ele é, efetivamente, o antepassado da fé, do qual esta emana.


O quarto é chamado Inteligência parada ou receptora, porque se levanta como um marco para receber as emanações das inteligências superiores que lhe são enviadas. E dele que emanam todas as virtudes espirituais pela sutileza. Ele emana da coroa suprema.


O quinto caminho é chamado Inteligência radicular, porque, mais semelhante do que qualquer outra à suprema unidade, ele ema na das profundezas da sabedoria primordial.


O sexto caminho é chamado Inteligência de influência média, porque é nele que se multiplica o fluxo das emanações. Ele faz influir esta própria afluência sobre os homens abençoados que ali se unem.


O sétimo é chamado Inteligência oculta, porque faz brotar um esplendor resplandecente sobre todas as virtudes intelectuais contem pladas pelos olhos do espírito e pelo êxtase da fé.


O oitavo é chamado Inteligência perfeita e absoluta. E dele que emana a preparação dos princípios. Não tem raízes para aderir, excetuando as profundezas da Esfera Magnificente da substância própria da qual emana.


O nono caminho é chamado inteligência purificada. Purifica as Numerações, impede e retém a quebra de suas imagens, porquanto institui sua unificação o fim de preservá-las, por sua união com elas, da destruição e da divisão.


O décimo é chamado Inteligência resplandecente, porque é exaltado além do inteligível e tem sua sede em Binah; ilumina o fogo de todos os luminares e faz emanar a formo do princípio das formas.


O décimo primeiro é chamado Inteligência do fogo. E o véu colocado frente às disposições e à ordem das semontes superiores e inferiores. Aquele que domina este caminho goza de grande dignidade, a de estar diante da causo das causas.


O décimo segundo é chamado inteligência da Luz, porque é a imagem da magnificência; dizem que é o lugar de onde vêm as visões dos que vêem aparições.


O décimo terceiro é chamado Inteligência indutiva da Unidade. É a substância da Glória; faz cada um dos espíritos conhecer a verdade.


O décimo quarto é chamado Inteligência que ilumina, é o instituidor dos arcanos, o fundamento do Santidade.


O décimo quinto é chamado Inteligência construtiva, porque constitui a criação no calor do mundo Ele próprio é, segundo os Filósofos, o calor do qual a Escritura fala (Jó. 38), o calor e seu invólucro.


O décimo sexto é chamado Inteligência triunfante e eterna, volúpia da Glória; paraíso de volúpia preparado para os justos.


O décimo sétimo é chamado inteligência da predisposição. Pré-dispõe os piedosos à Fidelidade e por ela torna-os aptos a receber o Espírito Santo.


O décimo oitavo caminho é chamado Inteligência ou Morada da afluência. E daí que saem os arcanos e o sentido oculto que está adormecido em sua sombra.


O décimo nono é chamado Inteligência do oculto ou de todas as atividades espirituais. A afluência que recebe vem da Bênção sublime e da glória suprema.


O vigésimo é chamado Inteligência da Vontade. Prepara todas as criaturas e cada uma delas em particular para a demonstração da existência da Sabedoria primordial.


O vigésimo primeiro caminho é chamado inteligência que agra da àquele que busca. Recebe a influência divina e influi por sua bênção sobre todos as existências.


O vigésimo segundo é chamado Inteligência fiel, porque nele estão depositadas as virtudes espirituais que ali aumentam até que se dirijam para unto dos que habitam sob sua sombra.


O vigésimo terceiro é chamado Inteligência estável. E a causa da solidez de todas as numerações (Sefirotes)


O vigésimo quarto é chamado Inteligência imaginativa. Dá a semelhança a todos os seres semelhantes que segundo seus aspectos e sua conveniência são criados.


O vigésimo quinto é chamado Inteligência de tentação ou de prova, porque é a primeira tentação com que Deus prova os piedosos.


O vigésimo sexto caminho é chamado Inteligência que renova, porque é por ele que DEUS (bendito seja) renova tudo o que pode ser renovado na criação do mundo.


O vigésimo sétimo é chamado inteligência que agita, Com efeito, é dele que é criado o Espírito de toda criatura do Orbe supremo e a agitação, isto é. o movimento ao qual estão sujeitos.


O vigésimo oitavo caminho é chamado inteligência natural, por ele que é concluída e aperfeiçoada a natureza de tudo o que existe no Orbe do Sol.


O vigésimo nono é chamado Inteligência corpórea. Forma todo corpo que está corporificado sob todos os orbes e seu crescimento.


O trigésimo é chamado inteligência coletiva, porque é dele que os Astrólogos extraem, pela análise das estrelas e dos signos celestes, suas especulações e o aperfeiçoamento de sua ciência segundo o movimento dos astros.


O trigésimo primeiro caminho é chamado Inteligência perpétua, porque regula o movimento do Sol e da Lua segundo sua constituição e os faz gravitar um e outro em seu respectivo orbe.


O trigésimo segundo é chamado Inteligência auxiliar, porque dirige todas as operações dos sete planetas e suas divisões e concorre para elas.

A Cabala e os Anjos

 


O povo judeu, ao longo de sua existência, sofreu continuas perseguições e exílios. Desde o período bíblico, com os cativeiros no Egito e na Babilônia até sua execução em massa na Alemanha nazista, sua expulsão da Espanha e da Inglaterra, entre tantos outros acontecimentos, sempre se mantiveram unidos como um povo, mantendo intactas sua cultura e sua língua. Para isso, valiam-se da Cabala, que condensa seus ensinamentos religiosos e, ao mesmo tempo, protege-os da extinção, pois é tão complexa e de difícil interpretação que poucos a ela têm acesso.

A palavra Cabala vem de uma raiz hebraica KBL, ou receber e, segundo consta, surgiu no primeiro século depois de Cristo. Seus livros mais importantes são o Zohar, ou Livro do Esplendor, o Livro da Criação e o Livro da Imagem.

A correta interpretação desses textos revelaria o mapa a ser trilhado pelas almas para percorrer esse caminho de volta ao seu Criador.

Através da numerologia, que se vale dos algarismos de 1 a 9, muitas revelações vão surgindo aos olhos do iniciado e dos poucos que tem o privilégio de compreenderem suas mensagens ocultas.

De qualquer forma, preciosas informações já foram assimiladas pelos estudiosos do assunto, fornecendo regras para o entendimento, ainda que precário, da relação dos homens com os Anjos e de como ter acesso a estes. Angelólogos se debruçaram sobre isso ao longo dos séculos, chegando às informações que, hoje, já se encontram consolidadas e à disposição de quem delas queira fazer uso.

Para descobrirem os nomes dos Príncipes e dos Anjos de cada uma das falanges, os cabalistas partiram de um número inicial, o 72, que nada mais é que o resultado da inscrição do nome de Deus, Ieve ou Jehovah, dentro de um triângulo considerado sagrado e chamado de Tetragramaton, com a seguinte configuração:

I
I E
I E V
I E V E

Nesse triângulo, o I equivale a 10, porque corresponde a YOD, décimo caractere do alfabeto hebraico, que simboliza tempo, espaço, ciclos de existência, tudo que nasce, cresce, se reproduz e desaparece. O E equivale a HE, equivalente a 5, significando a dualidade do ser diante da natureza e do universo. O V corresponde a VAU, equivalente a 6, simbolizando a presença do espírito. Aplicando isso às letras do Tetragramaton, temos:

10
10 + 5
10 + 5 + 6
l0 + 5 + 6 + 5

Efetuando-se essa soma, obtém-se o 72, que foi a base inicial para a descoberta dos nomes dos Anjos. Esse número aparece, também, em outras passagens bíblicas. 72 nações e línguas se originaram da intervenção de Deus na Torre de Babel. Em todas essas línguas, o nome de Deus sempre foi escrito com 4 letras. Eram 72 os anciãos das sinagogas e são 72 também o número de quinários, graus ou dias, do ano cabalístico, que se inicia em 20 de março, no signo de Áries.

A partir desse número, os cabalistas descobriram que os versículos 19, 20 e 21 do Capítulo 14 do Êxodo, tinha cada um deles 72 caracteres hebraicos. Na tradução de João Ferreira de Almeida, são os esses os versículos citados:

(Ex 14:19)
“E o anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel, se retirou e ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles e se pôs atrás deles.”

(Ex 14:20)
“E ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel; e a nuvem era escuridade para aqueles e para estes esclarecia a noite; de maneira que em toda a noite não chegou um ao outro.”

(Ex 14:21)
“Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se seco e as águas foram partidas.”

Para chegar a esses nomes, os versículos foram dispostos paralelamente e os primeiros caracteres da esquerda dos versículos 19 e 21 foram ligadas ao primeiro letra da direita do versículo 20. Aos três caracteres resultantes foram acrescentados a terminação HE ou VAU, extraídas do sagrado nome de Deus. Feito isso, o processo é repetido com os segundos caracteres, até completar todos os setenta e dois.

Reduzindo-se numerológica e cabalisticamente o número 72, temos 7 +2= 9. Nove foram, portanto, as falanges, cada qual com 8 Anjos, mais um Príncipe comandante, assim como nove eram os planetas do ano cabalístico. Desse conhecimento surgiram os nomes dos Príncipes, totalizando 81 Anjos, cuja redução numerológica e cabalística também resulta em 9, como toda a hierarquia angelical, diga-se de passagem.


Liber Sephiroth

 


O – A possibilidade do espaço, o zero [círculo] representa a possibilidade da formação do corpo de Baphomet, onde tudo, o espaço e o tempo em si se materializarão.

1 – O ponto. A manifestação da Vontade, que ainda não possui forma ou foco, a coroa ardente.

2 – A reta. A vontade segue uma direção, já possui seu foco.

3 – Forma-se uma superfície. Agora existe a primeira noção de relação entre os pontos, podemos traçar a relação que tem entre si, qual está mais próximo ou mais afastado. Surge a forma.

4 – A cristalização, surge a primeira manifestação tridimensional, aqui a ideia passa a existir, a forma cria volume.

5 – Equilíbrio, os pólos opostos se formam, o objeto está finalizado.

6 – O movimento, o objeto, com um propósito passa a agir, ter consciência de si mesmo. É a forma mais sublime e perfeita. O ser consciente seguido sua Vontade.

7 – O caminho, a experiência. Este não é o objetivo da jornada, mas a jornada em si.

8 – A Sabedoria, o 8 remedia as consequências que os atos causados pela falta de vivência.

9 – A Maturidade. A manifestação em seu estado mais sublime.

10 – O objetivo alcançado. A porta atravessada. A iniciação, o esconderijo do devorador de almas. A morte.

11 – A ilusão.

Assim se completa esta faceta da G’O’


Apêndice I – Considerações de Ratz Tnb.
Ratz Tnb.


Que Satã, a Grande Mãe Negra, inunde com seu amor este seu servo!

Apenas como ilustração e não como forma de diminuir este excelente texto do Tenebrae Petrus, que o amor Dela o nutra sempre, coloco abaixo uma analogia que usei para instruir uma colega nesta Via Sombria. Não passa de apenas um véu mais mundano, mas que serviu para mostrar os contornos da Grande Sabedoria aqui contida.

Na tentativa de tornar o Subjetivo algo mais palpável criei esta parábola, que como todos sabemos é o artifício preferido de todos que A servem desde os tempos em que o povo que se dizia escolhido perambulou pela terra do calor e do pó.

Imagine que um belo dia você se apercebe de algo que não exatamente te incomoda, mas que está se revirando dentro de você. Tem dias que esse algo passa desapercebido, em outros momentos é como tentar se lembrar de um nome que está na ponta na língua mas não se revela, algo enlouquecedor? Isto é como o 0 (zero). Você não sabe o que é, mas é algo que está ai, não existe ainda, mas está se formando, é como olhar para a terra e imaginar a semente que virará a árvore e então a maçã, é algo que vai ser um desejo, mas ainda não é.

Um belo dia você está andando e vê um Porsche e então cai a ficha, você quer o carro. Surge ai o número 1. A primeira manifestação deste algo, mas como um ponto a coisa não tem forma nem direção, “quero um carro!”, e ai percebe outra coisa: você tem pernas para te levar para cima e para baixo, tem transporte público, tem uma bicicleta, mas isso não interessa você quer o carro. É para chegar mais rápido nos lugares? É para conseguir possuir um carro? Para impressionar pessoas e conseguir mais sexo? Não interessa é um impulso.

Você vai a uma consecionária e procura vários carros e chega um novo momento: nenhum carro te satisfaz, você tem aquilo que te impulsiona, que é o solo/local/espaço onde a vontade se manifesta (zero), sabe que a vontade é de ter um carro (1), mas essa vontade não está manifesta ainda, ter um carro é vago. Você volta para casa e vai pensando, acha aqueles carros sem graça, ou eles não tem a ver com você, seja porque são pequenos, feios, amarelos… Isso já dá uma direção para o seu desejo, sabe o que não quer, é como formar uma reta, por exclusão sabe para que lado não ir, tem o seu caminho. Você pára para pensar então o que foi que te mostrou que a sua vontade era ter um carro, e ai se lembra do Porsche.

Surge o número 3, você quer um carro, e ele tem que ser um porshe, seu desejo de um carro tomou uma forma definitiva, sua idéia tem uma cara. Você pode desenhar o que você quer no papel. Mas um desenho tem apenas duas dimensões, não é um Porsche de fato.

E ai você descobre os meios de conseguir seu Porsche. Chega em casa do trabalho e está na sua garagem o seu Porche 911 Turbo, negro como nossa Mãe, estofado de couro, cheiro de carro novo que obviamente alguém levou anos para desenvolver em um laboratório. O número 4 se manifestou na sua frente. A cristalização do seu desejo. A idéia passa da mente para o papel para o “mundo real”.

Mas o problema do “mundo real” é que não podemos simplesmente nos sentar atrás de um volante e sair por ai curtindo o carro. Então você tira vai a uma auto escola, tira carta de motorista, enquanto isso registra o carro, arranja o seguro dele, deixa tudo em ordem. Isto é o 5, é o equilíbrio, para se ter um carro de forma legal não adianta apenas o lado do “ter o carro” estar em ordem o resto é necessário, quando esses dois lados da moeda forem resolvidos chegamos ao número 6.

Você está na fissura do seu Porsche novo, entra nele, sai guiando, não quer nem saber. Enche a cara, vai pra balada, cavalos de pau, descobre até onde o ponteiro do velocímetro chega, arrasa. Curte o Porsche como um prêmio bem merecido. E de fato ele é.

E ai o inevitável acontece, e você, depois de bater em outro carro, afinal estava curtindo a vida adoidada, capota algumas vezes e uma das suas portas ganha o decalque de um poste. O 7 é o que acontece quando você está em movimento tempo o suficiente. Quem não arrisca não petisca, dificilmente você petisca muito sem se estrepar em alguma coisa. Já disseram que você pode equilibrar três pratos no fim de varetas por horas e dias, mas uma hora esse equilíbrio, esse movimento, termina com um prato quebrado no chão.

Você, não morreu, e tinha seguro no carro. Fica mais experiente, e já queimou muito da animação dirigindo o carro, dar cavalos de pau já não tem a mesma graça e o seguro bancou todos os consertos, mas disseram: nós vimos o que você fez, tome seu carro consertado, mas não vamos renovar o seguro, qualquer outro erro será responsabilidade sua, está sozinha agora, por conta própria. E você se sente como se tivessem te tirado o bilhete de passagem livre pela prisão no meio da partida de Banco Imobiliário. O 8 é a maneira com que a realidade lida com a bagunça causada pelo 7, ele é o remédio que aparece porque você ficou doente de cama.

Então você tem as suas cicatrizes, suas fraturas foram consertadas, seu Porsche chegou novinho da oficina, não tem mais aquele cheiro de carro novo, mas tem aquele cheiro de lugar familiar que faz você se sentir bem. Está mais sábia com as experiências, não tem mais aquele fogo da inconseuqência, está muito mais madura, e tem o Porsche ainda. Tudo está da melhor forma possível. Teve suas experiências, tem tudo o que deseja e tem a vida pela frente. Você está neste momento no 9. Repare que qualquer número multiplicado por 9 tem como resultado final da soma de seus algarismo o 9 novamente (9-mente, again and again and again?)?

9 x 1 = 9

9 x 4 = 36 ~ 3 + 6 = 9

9 x 93 = 837 ~ 8 + 3 + 7 = 18 ~ 1 + 8 = 9

9 x 3427 = 30.843 ~ 3 + 0 + 8 + 4 + 3 = 18 ~1 + 8 = 9

9 x 0,008273 = 0,074457 ~ 0 + 0 + 7 + 4 + 4 + 5 + 7 = 27 ~ 2 + 7 = 9

Note também que quanto somamos qualque número com 9 ao somarmos os algarismos temos o número orginal:

9 + 1 = 10 ~ 1 + 0 = 1

9 + 15 = 24 ~ 1 + 5 = 6 = 2 + 4

9 + 371 = 380 ~ 3 + 7 + 1 = 11 = 3 + 8 + 0 ~ 1 + 1 = 2

É só brincar, o 9 então é a realização plena da sua vontade com o que você gosta com o mundo real.

Chega o momento do cuidado supremo então. Um belo dia você vai até sua garagem, olha para o seu carro e pensa: e agora? Tudo o que eu queria era um Porche e eu consegui. Fiz de tudo com ele. O que eu faço da vida agora?

É aqui que você tem dois caminhos na sua frente: por um lado, se acomodar e pensar que a vida é boa e você chegou onde queria, por outro pensar “so far, so good, so what?” O Porsche era apenas uma coisa, mas não é a minha vida, agora que cheguei aqui vou ver pra que lado vou. Ver se se forma em você um novo incômodo como aquele que se tranformou no Porsche na sua frente.

O primeiro caminho leva à estagnação, ao falso conforto. Quem somos nós para julgar o que é conforto real ou auto ilusão, mas o objetivo de uma jornada não é o tesouro no final, e sim fazer o heroi crescer a cada decisão que tem que tomar. Se você se aconchega deixa de ser o herói, e na prática isso pode ser ruim, você pode ficar ultrapassada, nostalgica e se descobrir sem propósito.

O segundo caminho não leva a um lugar novo, simplesmente é a continuação do caminho que você está seguindo, sem parada, sem descanso, apenas o seu desenvolvimento que continua. Aqui morrem os seus dogmas e eles se transformam em adubo para a sua crença que mudou. Pense assim. Se você luta para chegar no seu primeiro milhão de dólares, quando junta a grana pode empilhar ele na mesa na sua frente e deixar ela desvalorizar e juntar pó, ou pode reinvestir ela e fazer a soma chegar a dez milhões de novo.

O 10 é traiçoeiro, tem que tomar cuidado com o que parece a recompensa merecida e com a areia movediça.

O 11 fica como exercício para você, consegue imaginar de porque ser A Ilusão? Se você consegue é porque se enganou, olhe par ao outro lado.

Que a Mãe Negra sorria sempre para Eu & Eu.


Apêndice II- Anotações pessoais do Rev. Obito
Rev. Obito, Sacerdote do Templo de Satã


Este texto pode ser lido como base e até mesmo como uma correção para muitos textos que se baseiam na numerologia, inclusive na numerologia proposta por Crowley, e por conseguinte por quase todos estudiosos e pseudo-estudiosos de Thelema.

Pontos que acho importante levantar:

I – A relação entre o 1 e o O

Muitos tratam o O como negativo, a oposição ao 1. Isso é falho. A real oposição ao 1 é o -1, o mesmo valor, volume e espaço só que negativado. O Zero não se qualifica sequer como numeral. Ele é uma possibilidade de algo a vir se tornar. O Zero é o vazio apenas no sentido de o vazio ser na realidade não a ausência de algo, mas a possibilidade de algo vir a surgir. Enquanto o vazio como ausência é estagnação ele como possibilidade é dinânico em si mesmo, como a realidade.


II – Relações dos números com a Geometria de Crowley

Crowley em seu An Essay Upon Number, publicado no 777 faz a seguinte comparação:


0-     ponto

1-     linha

2-     superfície

3-     sólido

4-     o sólido existindo no tempo

5-     o sólido em movimento

6-     mente

7-     desejo


Acho que esta definição se esquece de que o ponto apenas existe em um espaço, e que não existe diferença entre espaço e tempo a não ser na física newtoniana, e a realidade iniciática não condiz com a proposta por Newton. Não podemos ignorar que o espaço/tempo também precisa existir para que a equação seja plena.

Temos um ponto, um ponto não possui massa, ele é apenas uma localização no espaço, uma coordenada, num espaço bidimensional precismos de duas coordenadas para ter um ponto X e Y. Num espaco tridimensional precisamos de três coordenadas, X,Y e Z, num espaço quadridimensional quatro coordenadas e assim em diante.

Com dois pontos temos a informação para traçar uma reta, são apenas com três pontos que temos uma superfície. O primeiro geométrico surge com quatro pontos, passamos de duas dimensões para três. Nosso universo palpável possui três dimensões, o tetrahedro é a forma geométrica mais simples, não vou falar da esfera no momento.

Veja que com o quinto ponto surge a simetria. O sexto coloca o objeto simétrico em movimento. O sétimo ponto pode ser comparado com desejo, mas o que Crowley parece não ter levado em mente é que para o ponto existir tem que haver um espaço seja como for a nossa noção de espaço. O Zero é a folha, a tela, a representação deste espaço necessário. Querer separar espaço de tempo cria a necessidade de localizar o objeto manifesto em 2 momentos diferentes que não é real, como algo pode de fato existir no tempo sem estar localizado no espaço?


III – Relações com o Taro e com a Árvore da Sabedoria

Utilizando o modelo proposto por Petrus temos uma aproximação muito maior tanto do Taro quanto do modelo satânico da Árvore da Sabedoria.

Sobre o Taro

1 = Ás

O Ás aqui é usado tanto na sua forma de arcano menor (Ás,2,3,4,5,6,7,8,9 e10) quanto na sua forma de carta da corte (Ás, Princesa, Príncipe, Rainha, Cavaleiro – que erroneamente é chamado de Rei, na cosmologia do Tarô; o rei seria representado pelo elemento que dá origem ao Ás).

Nesta comparação o 1 (ponto) surge tanto como numeral quanto como elemento, isso ficará claro quando o aplicarmos à Árvore da Sabedoria.

Quando nos atemos aos significados numéricos dos arcanos menores, sem levar em conta o seu elemento/naipe, o modelo proposto no Liber Sephiroth se encaixa com perfeição, a carta 2 sendo a manifestação da idéia mas ainda sem forma, o 3 sendo a forma da idéia mas ainda não cristalizada e o 4 a cristalização final da idéia (ou do elemento representado pelo naipe). O 5 é a idéia cristalizada se desenvolvendo (sendo posta em movimento).

Da mesma forma que o Ás, quando aliado às cartas da corte representa a forma mais pura e essencial do elemento administrado pelas cartas da corte.


Sobre a Árvora da Sabedoria

O 1 surge aqui como a emanação Coroa. É o elemento que representa a essência da árvore. Quando montamos o esquema da Árvore da Sabedoria  refletida pelos Naipes do Tarô cada  Ás representa a coroa de determinado elemento (Paus = fogo = Satã, Espadas = Ar = Lúcifer, Copas = Água = Leviatã e Discos ou Ouros = Terra = Belial). O O é o estado/local de onde as emanações surgem, a possibilidade a que chamamos Baphomet.

Os números de 4 a 9 são o processo que teve início com a união do 2 e do 3 e que resultará na manifestação física do 10. Ele é “gerenciado” pelo príncipe – filho embrião da rainha, filha do rei, com o cavaleiro.

Dai o erro de igualar o O com o ponto, que é a unidade em sua forma mais simples e poderosa.

O O é um universo em sí de onde temos o Infinito em suas três facetas, o Vazio, o Vazio Sem Limites e o Vazio Transcendete, que não pode ser descrito ou sequer compreendido.

Existe mais um momento entre o número 3 e o 4 na Árvore da Sabedoria, ele não é um número ou uma emanação, é uma condição, chamada de Conhecimento ou Abismo, mas não cabe aqui entrar em detalhes sobre ele, por isso não aparece na imagem acima.


Os mistérios dos dez números

 


1. A Mônada  

“O Número Um existe e é concebido independentemente dos outros números. Tendo lhes vivificado através do curso dos dez números, ele os deixa para trás e retorna à unidade” (Dos Erros e da Verdade). “Todos os números são derivados da unidade como a sua emanação ou produto, enquanto que o princípio da unidade está nela mesma e é de si própria derivada. Na unidade, tudo é verdadeiro. Tudo que é eterno é a partir da unidade, perfeito, enquanto que tudo que é falso, está separado da unidade. A unidade multiplicada por si mesmo nunca dá mais do que um pois ele não pode proliferar a partir de si mesmo” (Os Números).  

“Se a unidade pudesse se gerar e se equiparar ao seu próprio poder, ela se destruiria, como a ação que se opera em cada raiz é finalizada por aquela operação. Para que a unidade produzisse uma verdade central essencial, teria de haver uma diferença entre a semente e o produto, a raiz e o poder. De acordo com a lei das sementes e do produto, ao produzirem seus poderes eles tornam-se inúteis. portanto, Deus não poderia reproduzir a Si mesmo sem padecer. Do princípio, Ele se tornaria o meio e então, se aniquilaria em seus termos. Mas como o princípio, o meio e o final não são Nele diferenciados, já que Ele é tudo isto de uma vez só, sem sucessão nas Suas ações ou diferenças em Seus atributos, esta unidade nunca pode produzir a si mesma e portanto, nunca foi gerada e nem extinta” (Os Números).  

“Entre as coisas visíveis, o Sol é o símbolo da unidade da ação divina, mas é uma unidade temporal e composta, que não tem os mesmos direitos que pertencem ao seu protótipo” (Obras Póstumas). Da mesma forma, a sucessão contínua de gerações físicas formam uma unidade temporal, que é um signo desfigurado da simples, eterna e divina unidade. Estas imagens não devem ser negligenciadas, pois elas refletem o seu modelo distante.
“Os extremos se tocam sem se parecerem; portanto, os seres puros vivem vidas simples; aqueles que estão em expiação tem uma vida composta, ou vida mesclada à morte; seres soberanamente criminosos e aqueles que a eles se assemelham, vivem e viverão, simplesmente na morte, ou na unidade do mal” (Os Números).  

Ao contemplarmos uma verdade importante, como o poder universal do Criador, Sua majestuosidade, Seu amor, Sua profunda luz ou Seus outros atributos, nós nos elevamos com todo nosso ser em direção do modelo supremo de todas as coisas; todas as nossas faculdades são suspensas para que possamos ser preenchidos com a Sua presença, com Quem na verdade nos tornamos um. Ele é a imagem viva da unidade e o Número Um é a expressão desta unidade ou união indivisível, que existindo intimamente entre todos os atributos da união de forças que Ele é, deveria existir igualmente entre Ele e todas as suas criaturas e produtos.  

“Mas depois de exaltarmos a nossa contemplação em direção a esta fonte universal, se trouxermos nossos olhos de volta para nós mesmos e nos preenchermos com a nossa própria contemplação, para que possamos nos ver como a fonte daquelas luzes ou daquela satisfação interior que derivamos de nossa fonte superior, estabelecemos assim dois centros de contemplação, dois princípios separados e rivais, duas bases dissociadas – ou, resumindo, duas unidades, das quais uma é real e a outra é aparente e ilusória” (Os Números).  

2.  A Díada  

“O número dois tem princípio nele mesmo, mas não se origina de si mesmo” (Os Números). É impossível se produzir dois de um e se algo se separa dele pela violência, só pode ser ilegítimo e uma diminuição de si mesmo. Mas esta diminuição é aquela do âmago do ser, pois de outra forma, este seria apenas um. A diminuição feita no âmago é realizado no meio do ser, pois dividir qualquer coisa ao meio é cortá-la em duas partes. Esta é a verdadeira origem do binário ilegítimo.  

“Mas a diminuição em questão não torna a unidade menos completa, pois esta não é suscetível a nenhuma alteração; a perda recai sobre o ser que procura atacar a unidade. Portanto, o mal é estranho à unidade. Mas o centro, sem sair de seu valor, é removido para corrigi-lo por que há algo de si mesmo no ser diminuído. Desta forma, podemos entender não só a origem do mal, mas também que ele não é um poder hipotético, já que todos nós o tornamos real em quase todos os momentos de nossa existência” (Os Números).  

A díade é portanto, o poder perverso que serve como receptáculo de todos os flagelos da justiça divina, que são ligados às coisas materiais e perceptíveis para o castigo de seu líder e de seus seguidores, que voluntariamente abandonaram o âmago divino do seu correspondente espiritual. Sendo assim condenados ao exílio e a atravessarem todo o horror de viver a separação da fonte da vida.  

“As virtudes inatas das formas corpóreas foram projetadas para conter este poder perverso e quando o homem permite que as virtudes que existem em seu corpo sejam enfraquecidas por esta vontade vil e criminosa, os poderes perversos assumem o controle e atuam na destruição daquele corpo” (Obras Póstumas).  

A díade também é, de acordo com Saint-Martin, o verdadeiro número da água.  

3. A Tríade  

“O Número Três não deriva seu princípio de si próprio e nem mesmo tem um princípio” (Os Números). As observações a respeito deste número são dispersas e obscuras, incluindo referências vagas a uma lei temporal da trindade, da qual a lei temporal da dualidade depende completamente. “Na ordem divina, 3 é a Santíssima Trindade, como 4 é o ato de sua explosão e o 7, o produto universal e a imensidão infinitas que resultaram das maravilhas desta explosão” (Corresp. Teosófica, carta LXXVI).  

“O número três nos é revelado só através dos 12 unificados, como o 4 é por nós conhecido apenas pela sua explosão ou multiplicação por 7, que nos dá 16, e como 7, que é a soma deste 16 (1+6 = 7), descreve a nossa supremacia temporal (3) e espiritual (4), ou a imensidão de nosso destino, como humanos” (Corresp. Teosófica, carta LXXVI). O número três atua na direção das formas nas esferas celeste e terrestre; isto é, sendo ternário, em todos os corpos, o número dos princípios espirituais. “Todos os nomes e símbolos que recaírem neste número pertencem às formas, ou devem ter algum efeito sobre as formas” (Os Números). Acima do celeste, foi o pensamento da Divindade que concebeu o projeto de produzir este mundo, e assim o fez de forma ternária, porque esta era a lei das formas, inata ao pensamento divino.  

“Agora, os pensamentos de Deus são seres. A ação harmoniosa e unanime na Divina Trindade é representada pelos três padres quando eles conduzem juntos a Missa” (Os Números).  

O Três é, também, o número das essências ou elementos dos quais os corpos são universalmente compostos. Por este número, a lei que dirige a formação dos elementos é expressa e os elementos são resumidos a três, por Saint-Martin, baseado no fato de que há apenas três dimensões, três divisões possíveis de qualquer coisa sensória, três figuras geométricas originais, três faculdades inatas em qualquer ser, três mundos temporais, três níveis na Maçonaria, e como esta lei da tríade demonstra a si mesmo universalmente, de forma tão clara, é razoável supor que o três também está no número dos elementos que são a base de qualquer corpo.  

“Se o número três é imposto a tudo que é criado, é porque ele imperava em suas origens” (Obras Póstumas). “Se tivessem havido quatro, ao invés de três elementos, eles teriam sido indestrutíveis e o mundo eterno. Sendo três, eles são esvaziados da existência permanente, porque eles não têm unidade, como fica claro para aqueles que conhecem as verdadeiras leis dos números” (Dos Erros e da Verdade).  

“A razão, qualquer que seja ela, parece conflitar com outra afirmação de que pode haver três em um, numa Trindade Divina, mas não um em três, porque aquilo que é um em três deve estar sujeito no fim, a morte” (Dos Erros e da Verdade). “O três não é só o número da essência e da lei que dirige todos os elementos, mas também, as suas incorporações” (Dos Erros e da Verdade). “Ele é, finalmente, um número mercurial terrestre que representa a parte sólida dos corpos, em correspondência simbólica com a alma (sêxtuplo) dos animais, do qual é o primeiro produto e o de todos os princípios intermediários de todas as classes” (Obras Póstumas). 

5. A Pentada  

No misticismo numérico de Saint-Martin, o quinário é o número do princípio maléfico. Portanto, seu pensamento difere, como já havíamos dito, daqueles sistemas ocultos de numeração que vêem no 5 uma forma especial do microcosmos ou do homem. Também é um aspecto do caráter fragmentário da doutrina Martinista dos números, pois ficamos sem detalhes a respeito das propriedades do quinário, ou da péntada. Aqui somos levados a imaginar que Saint-Martin reteve muitas informações a respeito deste número.  

“É dito que 2 se torna 3 pela sua diminuição, 3 se torna 4 pelo seu centro, 4 é falsificado pelo seu centro duplo, que perfaz 5; e 5 é restringido pelos números 6, 7, 8, 9, 10, que formam os corretores e retificadores da péntada maléfica” (Os Números). O número também se liga ao que Saint-Martin nos diz a respeito da aplicação dobrada de todos os números. Números verdadeiros sempre produzem, invariavelmente, a vida, a ordem e a harmonia. Portanto, eles sempre agem a favor e nunca são negativos, mesmo quando servem de açoites da justiça, castigando para reparar o mal.  

Ao passar pela mutação em seres livres, o caráter dos números é assim transformado, porque são outros números que tomam os seus lugares, enquanto que as suas prerrogativas originais permanecem sempre as mesmas em suas essências.  

Os números falsos, ao contrário, nada produzem. Podem imitar a verdade como macacos, mas nunca conseguem reproduzi-la. Eles se manifestam no desmembramento, nunca na criação, porque eles se tornaram falsos pela divisão e perderam a capacidade criativa. Uma prova disto é encontrada na lenda das cinco virgens tolas, que ficaram sem óleo (para se perfumar e ungir) porque sua conduta as havia separado das suas outras cinco companheiras e também de seus noivos.  

As virgens sábias concebiam apenas através de seus maridos e quando elas se uniam a eles, elas não eram mais 5, mas sim 10, já que cada uma se unia a um deles. Ou então, eram 6, se o marido for representado apenas por 1 (por uma idéia, um princípio). Portanto, as outras 5 virgens são tão limitadas e insignificantes nos seus verdadeiros números que, incapazes de renovar seu óleo, são forçadas a se refugiar na prudência e a acertar as contas com a caridade, que pode ser encontrada apenas nos números vivificadores, cuja força flui do núcleo do amor.  

Entretanto, devemos distinguir entre os números falsos quando são empregados para realizar a reintegração e quando estão perpetuando suas próprias injustiças. Neste caso, eles são totalmente entregues a si mesmos e separados da verdade. Mas ao serem usados como instrumentos de reintegração, seres verdadeiros assumem as suas formas e caráter para descender às suas regiões infectas.  

“Ao assumir as formas destes números falsos, estes outros Seres as corrigem, relacionando-as aos números legítimos, assim opondo o verdadeiro ao falso. Desta maneira, estes Seres também produzem a morte da morte” (Os Números).  

6. A Héxada  

Este Número é a forma pela qual cada operação se realiza. Não é um agente individual, mas possui uma afinidade com tudo aquilo que age e nenhum agente realiza qualquer ação sem passar por este número. O seis é a correspondência eterna da circunferência divina com Deus. Por este motivo, Deus que tudo cria, abarca e tudo circunda.  

A circunferência é composta por seis triângulos equiláteros. Os quais são produtos de dois triângulos que agem um sobre o outro. O seis é a expressão dos seis atos do pensamento divino, manifestados nos 6 dias da criação e destinados a realizar a sua reintegração. Portanto, este número é a forma através da qual tudo se gera, apesar de não ser nem seu princípio e nem seu agente. É na adição teosófica (adição teosófica é a soma dos algarismos unitários que compõe um número. Assim, a adição teosófica de 10 é igual a 1, por que 1 + 0 = 1) do número três que encontramos a prova da influência que o seis tem sobre a corporificação dos princípios. As Escrituras remontam o seis à origem das coisas e o levam para além das coisas. Tendo realizado o trabalho dos 6 dias, o seis põe, no Apocalipse, perante o trono do Eterno, 4 animais de 6 asas e 24 anciãos, que se prostram perante Deus. Com isto vemos que o seis é a maneira universal das coisas, porque tem o mesmo caráter na ordem universal e assim sendo, nossas faculdades trinas têm de seguí-lo para obterem a realização de suas ações: Pensamento, 1; Vontade, 2; Ação, 3 que é igual a 6.  

Os 24 anciãos do Apocalipse são iguais a 6, que é por assim dizer: 1, 3, 4, 7, 8, 10. Estes números somados formam 33, incluindo o zero – que é a imagem e evidência das aparições corpóreas. Mas eles somam 24 sem o zero. Portanto, estes seis números sozinhos são reais e imateriais, agiram e agirão eternamente. E isto é o mesmo que dizer que há eternamente dois poderes: aquele de Deus e aquele do Espírito.  

O seis foi ultrajado nas várias prevaricações que fizeram com que o Reparador descesse a esta Terra; foi necessário que ele viesse reparar aquela realidade. Por esta razão, ele transformou a água, contida nos 6 jarros no casamento de Canaã, em vinho.  

“Não é menos verdade que a héxada, sendo apenas a forma de atuação de todas as coisas, não pode ser vista, precisamente, como um número ativo e real, mas sim como uma lei eterna impressa em todos os números. Também sendo aquilo sobre o que o homem tinha o domínio, originalmente, e sobre o que ele irá governar novamente, depois da sua Reintegração” (Os Números).  

Finalmente, o número 2 opera na héxada de formas que são apenas uma adição passiva dos dois princípios (Deus e o Espírito). A raiz destes é dois e é também o agente de suas formas e sensações pela multiplicação de seus próprios elementos.  

7. A Hêptada  

“O Número do setenário espiritual significa o próprio Poder Divino” (Obras Póstumas).  

Este é o número das formas universais do Espírito; o seu fruto sendo encontrado nos seus múltiplos. O quadrado de 7, é 49, é portanto o 7 em desenvolvimento, enquanto que em sua raiz, é o 7 concentrado. Esta explicação se faz necessária antes de prosseguir, para chegar ao 8, que é o espelho temporal do invisível incalculável denário (série de dez). Enquanto passa de 7 à 8, através da grande unidade com a qual se reúne, ele também passa de 49 ao 50, através da mesma unificação com a unidade. E leva o elemento quaternário da alma humana à sua integração ao faze-lo transcender e abolir o caráter de 9 (novenário) das aparências, que é o nosso limite e a causa de nossas privações.  

“Isto demonstra que 5 é igual a 8 e que 8 é igual a 5, na grande maravilha que o Divino Reparador produziu para nós, para que possamos nos regenerar” (Corresp. Teosófica, carta XC). Obs.: Nesta carta, Saint-Martin afirma que esta revelação foi feita diretamente para sua inteligência; e que não se originou de nenhum homem .O sete é produto de uma única operação: 4 x 4 = 16 = 1+ 6 (redução teosófica) = 7.  

“A hêptada é ao mesmo tempo o número do Espírito, por que se origina do Divino e perfaz 28, na contagem de seu poder duplo contrário ao poder lunar. Deveria ser notado que o número 28 indica que a Palavra não se realizou, até a segunda prevaricação. Mas estas são simples palavras, porque 7 vindo de 76 não é raiz (redução teosófica), nem é o poder fundamental de 4, pois penetra na raiz apenas através da adição” (Os Números).  

“Independentemente da raiz numérica (Raiz Numérica: neste texto, o termo raiz numérica é empregado para designar o produto da redução teosófica) que expressa o poder setenário da alma, podemos descobri-la nos poderes sobre a trindade dos elementos e a dos princípios. Este poder sobre as duas trindades (dois triângulos) forma o eixo central humano. A alma é o centro destes dois triângulos. Se, ao invés deste centro, analisarmos o poder da alma sobre o que é celestial, encontraremos de forma mais clara o poder setenário da alma sobre o físico e o espiritual” (Os Números).  

Mas 7 x 7 = 49 x 7 = 343. O homem é elevado a este posto, ou melhor, emancipado desta forma, só quando seu poder é triplicado, formando o seu cubo. É nos elementos deste cubo que podemos enxergar claramente o destino deste homem primordial, já que ele foi posto entre o triângulo superior – do qual derivou tudo – e o triângulo inferior, o qual ele domina. Para conhecermos as verdadeiras propriedades de um ser, o seu poder tem de ser analisado de forma cúbica (elevado à terceira potência), pois somente assim todas as suas potencialidades são reveladas, ou desenvolvidas.  

O Número Sete também indica que a manifestação da justiça universal, ou temporalidade, deve ser enviada a todos os prevaricadores, apesar de ser o número Quatro o agente que executa esta justiça. Como este agente é o Espírito e o Espírito não pode aparecer no tempo sem uma embalagem corpórea, Este é feito perceptível pela seteneidade, que é o corpo do quaternário, como o seis é o corpo do setenário, assim como a trindade material é o corpo do seis que a executou. Concluindo, o quaternário é o corpo da unidade, que não pode ser manifestada neste mundo em sua forma absoluta, mas deve subdividir os poderes que foram colocados na criação, para que possamos entendê-la.  

8. A Ôctada  

É apenas depois do quadrado do Espírito se haver completado, que a ôctada pode ter lugar. Enquanto que o seu trabalho pode ser conhecido claramente apenas através do número 50, porque daí o número da injustiça e o número da matéria são dissipados pela influência vivificadora e regeneradora da Unidade que as substitui. Ao que tange a Unidade Absoluta, ou o Pai, ninguém nunca viu, ou O deverá ver neste mundo, exceto pelas oitavas e por meio da ôctada, as únicas formas de alcança-lo.  

“O número 50 desapareceu quando a Santíssima Oitava se aproximou, porque os dois não poderiam coexistir. A injustiça e as aparências não se sustentariam perante a unidade e o seu poder. Isto é a razão de ser da Divina Igreja, fora à qual, nenhum homem pode ser salvo e contra a qual os portais do inferno não devem prevalecer. Esta (a ôctada) é a chave que abre e ninguém fecha, ou que tranca e ninguém mais abre” (Os Números).  

Cristo é trino em seus elementos de atuação, assim como em seus fundamentos Seu número é 8, e sua extração mística nos mostra que em seu trabalho na Terra ele foi de uma vez só divino, corpóreo e perceptível. Apesar de ser, ao se considerar sua ordem eterna, divino em seus três elementos. Ele era o caminho, a verdade e a vida. Era necessário que ele compreendesse em si mesmo o divino, uma alma sensória e o corpóreo, para atuar aqui embaixo, na esfera perceptível.  

Toda a criação – porque mesmo o nosso pensamento não pode ser manifestado se não estiver associado ao nosso invólucro individual mais grosseiro – não pode ser manifestado sem a mediação de uma ligação material individual. Por isso, o Divino Reparador não poderia estar associado à sua Natureza corpórea (Cristo), senão através de uma alma sensória. Esta alma O investe do número 4, seu Ser Divino é representado pelo número 1 e seu corpo pelo número 3.  

Em nós, a alma divina é representada pelo número 4, o corpo pelo 9, enquanto que Saint-Martin afirmava que o número de nossa alma sensória era por ele desconhecido. Mas ele tinha razão ao pensar que fosse o mesmo do Salvador, porque em todos os outros elementos semelhantes aos nossos, que ele possuía, ele invariavelmente detinha números superiores.  

A chave do homem consiste nesta alma sensória; através desta é que ele é integrado à sua natureza sensória, ou animal e corporal. Mas como ele não é posto nesta prisão de livre e espontânea vontade, como Cristo o foi, não pode ser esperado do homem conhecer as chaves que o trancam. Saint-Martin pensava, no entanto, que este número correspondia ao seis. 

9. A Eneáda  

Nove é o número de todo limite espiritual, como a circunferência material é o limite dos princípios elementais que lá agem. Portanto, o nove representa o curso de todas as expiações infringidas à humanidade, pela justiça divina. O homem decaiu ao querer avançar do 4 ao 9 e apenas pode ser restaurado ao voltar do 9 ao 4.  

Esta lei é terrível, mas não é nada se comparada com aquela do número 56, que é assustador para quem o encara, já que eles não podem chegar aos 64, até terem atravessado todas as suas provações. A passagem do 4 ao 9 é a passagem do espírito para a matéria, que em dissolução, de acordo com os números, perfaz 9. A respeito da lei do 56, esta depende do conhecimento das propriedades e condições do número 8, que foram parte da luz obtida por Saint-Martin por meio de sua iniciação, não sendo explicadas em maiores detalhes. “Mas é sabido que os criminosos permaneceram no número 56, enquanto que os justos e purificados chegarão ao 64, ou à Unidade” (Corresp. Teosófica, carta XIII).  

Saint-Martin afirma que recebeu este conhecimento da escola de Martinez de Pasqually.
Quaisquer que sejam os poderes elevados ao número 9, ele sempre permanece sendo 9, porque, como 3 e 6, tem apenas um poder ternário, enquanto que 4, 7, 8 e 10 são poderes secundários e sendo, somente a unidade, o primeiro poder. Portanto a unidade, em todas as multiplicações possíveis resulta somente em um, porque, como já foi visto, ela não pode se separar e se reproduzir a si mesma. Ela (a Unidade) se manifesta fora de si por seus poderes secundários e ternários, eternamente ligados à Unidade.  

“Se soubéssemos o caminho através do qual a unidade afeta a manifestação de seus poderes, seríamos seus iguais. No entanto, sabemos que ela realiza suas expansões apenas nesta série de dez aqui apresentada. As expansões sozinhas operam apenas fora desta série. Há expansões espirituais e das formas que atuam por leis diferentes e produzem resultados distintos. Os poderes secundários estão ligados diretamente ao centro, mas os ternários se ligam ao centro só de forma mediadora (como meios para expressá-lo) assim produzindo formas, sem uma lei criativa ou geradora, pois esta característica é da Unidade e sem leis administrativas, pois estas são restritas aos poderes secundários” (Os Números).  

10. A Década  

Pela união do setenário espiritual e do ternário temporal, obtemos o tão famoso denário, que está sempre presente nos pensamentos de um Iniciado. Como uma imagem da Divindade em si mesmo, a década (ou série de dez), realiza a Reconciliação de todos seres ao fazê-los retornar à unidade.  

“O denário temporal é formada de dois números, o 3 e o 7, mas o seu caráter está diretamente relacionado à unidade e não está sujeito a qualquer divisão ou substração” (Obras Póstumas).  

“Quando os números são ligados à década, nenhum deles apresenta qualquer traço de corrupção ou deformidade; sendo que estas características se manifestam apenas em suas separações. Entre os números com estas características específicas alguns são totalmente maus, como 2 e 5, que sozinhos são capazes de dividir a série sagrada de dez. Outros, estão num processo ativo, de sofrimento ou cura, como acontece com o 4, o 7 e o 8. Outros ainda são dados apenas pela sua aparência, como o 3, o 6 e o 9. Mas nada disto é visto na série completa de dez, porque naquela ordem suprema não há deformações, ilusões, ou sofrimentos” (Os Números). 


Qabalah Fundamentum Magni

Introdução ao Estudo da Cabala Sinistra


Ao iniciar o estudo da cabala costumamos dividi-la basicamente em duas partes: uma teórica e outra prática. A cabala teórica primariamente investiga o conteúdo dos livros e dos manuscritos que compõem sua vasta tradição.

A cabala prática aplica determinados conhecimentos e operações ao conteúdo dos manuscritos, além de abarcar as práticas mágicas e místicas, o cerimonial mágico e a meditação criativa.

Em hebraico escreve-se qabalah קבלה, vocábulo que deriva da raiz primitiva qabal קבל, que significa receber, aceitar e demonstrar oposição.

Os dicionaristas modernos definem cabala como um sistema filosófico e religioso medieval de origem judaica, mas que integra elementos que remontam ao início da era cristã, compreendendo preceitos práticos, especulações de natureza mística e literalmente esotérica. As origens da cabala são amiúde reputadas ao judaísmo, embora nela encontremos elementos originais provenientes de outras culturas. Em Cabala, Qliphoth e Magia Goética, Thomas Karlsson observa com propriedade:

“Para o praticante de cabala as suas raízes históricas são de importância secundária. O que importa não é se ela é judaica, cristã, grega, hermética ou nórdica, e sim que é um sistema oculto que se provou adaptável à maioria das tradições espirituais.”

Na tradição cabalística sinistra subentende-se que o universo criado, manifesto e imanifesto, emana de duas fontes geradoras antagônicas cujos polos são Chavajoth e Jeová.

Jeová, o senhor dos rebanhos de reses, é o antipolo de Chavajoth e representa o criador do mundo da falsa luz, universo tirânico que condena eternamente a própria criação à ilusão obscurecedora e ao cativeiro espiritual. Chavajoth inflama o cerne de sua criação a quebrar as barreiras que obscurecem a visão e a destruir a ilusão do universo demiúrgico.


O Alfabeto Hebraico

Para o aproveitamento mínimo da disciplina cabalística, seja ela de orientação destra ou sinistra, é necessário obter algum conhecimento básico sobre os fundamentos do idioma hebraico ou sobre a cultura e/ou sistema sobre a qual a mesma será aplicada e desenvolvida.

A grafia no idioma hebraico é realizada da direita para a esquerda. As letras hebraicas possuem a função de numeração (cardinal, por exemplo), ou seja, o número 1 é representado em hebraico pela letra Aleph א, o número 2 pela letra Beth בe assim sucessivamente. Através dessa característica podemos atribuir valores numéricos às palavras.

O alfabeto hebraico é composto basicamente por vinte e duas letras consoantes e femininas, que por sua vez se dividem em três grupos: três letras mães (ou fundamentais), doze letras simples e sete letras duplas. Dentro da tradição cabalística as letras estão associadas a numerosas e diversas ideias e conceitos.

Podemos dizer que cada letra representa basicamente: um sinal gráfico (glifo), um número e incontáveis ideias.

As três letras mães são: Aleph א, Mem מe Shin שe representam o caráter trinitário dos opostos que se equilibram, representam a água, o fogo e o ar.

As sete letras duplas são: Beth ב, Gimel ג, Daleth ד, Kaph כ, Peh פ, Resh רe Tau ת. Representam os pares de opostos: Morte e Vida, Guerra e Paz, Conhecimento e Ignorância, Riqueza e Miséria, Graça e Abominação, Semente e Esterilidade, Dominação e Escravidão. Associam-se naturalmente aos dias da semana, aos sete astros principais da tradição oculta e às Sete Habitações Infernais.

As doze letras simples são: Heh ה, Vau ו, Zayin ז, Cheth ח, Teth ט, Yod י, Lamed ל, Nun נ, Samekh ס, Ayin ע, Tzaddi צe Qoph ק. Representam: a Visão, a Audição, o Olfato, a Voz, o Nutrimento, o Intercurso Sexual, a Ação, a Locomoção, a Ira, o Riso, a Meditação e o Sono.

A letra Yod י é uma letra simples, no entanto é conhecida como a formadora das demais letras, conceitualmente próxima ao ponto ou à semente das quais as outras letras figurativamente derivam.

As letras Kaph, Mem, Nun, Peh e Tzaddi possuem duas grafias: quando utilizadas como sufixo aparecem somente no final da palavra e são mudas. Essas cinco letras são chamadas letras sofit.

No alfabeto hebraico não há vogais, a formação vocálica se dá através da utilização de sinais diacríticos posicionados de acordo com a gramática do idioma. Para nossa exploração e utilização não será necessário abordar esse tema.


Gematria

A Gematria גמטריאé basicamente a operação cabalística através da qual obtemos os valores numéricos das palavras. O nome gematria é uma metátese3do vocábulo grego γραμματεια. Suas raízes históricas remontam o quinto século antes do início da era vulgar nas culturas sírias e fenícias e culminaram na gematria grega e hebraica.

Utilizamos a gematria como uma ferramenta de investigação cabalística para decifrar conhecimentos e ensinamentos esotéricos ocultos em determinados escritos. É utilizada largamente para descobrir os valores numéricos das palavras para relacioná-las a conceitos e ideias, sendo que palavras que possuem valores gematricos iguais compartilham de uma natureza comum e nos proporcionam caminhos diretos de compreensão e insights de natureza mística. Através da gematria empreendemos interpretação pela associação e uma particular compreensão do uso das palavras escritas na ritualística cerimonial e na composição dos símbolos de natureza mágica.

Por exemplo: tomemos a palavra Hayah (calamidade, destruição), היה, formada por Heh (5), Yod (10) e Heh (5): o valor gematrico é igual à soma dos valores correspondentes às letras, ou seja, 20. Tomemos agora a palavra Chazahחזה(predizer, profetizar), formada por Cheth (8), Zayin (7) e Heh (5), cujo valor gematrico é também igual a 20. Ambas as palavras possuem o mesmo valor, podemos dizer então que elas possuem afinidade, sintonia e características associativas, além de possuírem algo de natureza numérica comum.

Apreender os valores numéricos possibilita aprofundar a investigação da natureza mística dos textos e nos permite aplicar operações e conceitos matemáticos e geométricos à via de consecução mágica sinistra.


As Letras Hebraicas



Outra característica importante de se observar é que a largura de uma letra pode conferir a ela um fator de multiplicação por mil. Por exemplo, um Aleph escrito de maneira mais larga do que as demais letras apresentará valor gemátrico igual a 1000.

Os sinais diacríticos do idioma hebraico não alteram o valor numérico das letras e das palavras. Tomemos, por exemplo, a palavra Satã: em hebraico שָׂטָׂן(com os sinais diacríticos) ou שטן(sem os sinais diacríticos) possui valor gematrico igual a 359.

O método de gematria que apresentamos é o mais simples e é também o mais utilizado, porém não é o único. Existem diversos métodos de aplicação e cálculo de gematrias que não serão abordadas nesse trabalho introdutório e superficial.


Notariqon

O Notariqonנוטריקוןou notárico é basicamente um conjunto de operações cabalísticas utilizadas para criar ou apreender vocábulos acrônimosao longo dos manuscritos. A palavra notariqoné a derivação direta do vocábulo latino notarius, que por sua vez significa “o [indivíduo] que escreve por abreviatu-ras, estenógrafo, taquígrafo”.

Um método primário de Notariqon utiliza a primeira letra de um conjunto de palavras para gerar ou compreender um novo vocábulo, por exemplo: a palavra hebraica אביעé o notárico formado pela primeira letra de Atziluth אצילות, Briah בריאה, Yetzirah יצרהe Assiah עשיה. No contexto apropriado, a palavra אביעpode significar simultaneamente regozijo e ser uma alusão aos quatro mundos cabalísticos principais.

As palavras que originam os notáricos podem advir de uma frase ou oração, como no acrônimo VITRIOL que pode ser entendido como o notárico da sentença latina “Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem”. Outro exemplo clássico se encerra na palavra hebraica nimrezet נמרצתque é um notárico para adúltero נואף, moabita מואבי, assassino רוצח, opressor צוררe desprezado תועבה.

O procedimento reverso do método primário é considerado como uma segunda forma de notárico. Knorr Von Rosenrotho apresenta como a forma que compila as letras iniciais, finais ou medianas e, com elas, gera uma ou mais palavras. Por exemplo, se tomarmos as letras iniciais do termo Chokhmah Nesethrahחכמה נסתרה(sabedoria secreta) –uma denominação da cabala –poderemos gerar a palavra Chenחן(graça), que nesse contexto é um notárico de Chokhmah Nesethrah.


Temura

Temura תמורהsignifica permutação. Designa basicamente a operação cabalística que abrange numerosos métodos de substituição das letras de uma palavra no intuito de gerar um novo vocábulo com ortografia diferente, mantendo ou não o significado original da palavra. Através das regras peculiares de cada método transcreve-se uma palavra (ou texto) em código (cifra).

Os 24 métodos mais conhecidos de temura são apresentados na tábua de comutações de Tziruph צירוף. Para utilizar a tábua basta recorrer ao método e fazer a substituição conforme as 22 comutações possíveis. O nome de cada método de Tziruph temura deriva das 4 primeiras letras que o compõe.


A Tábua de Tziruph em Caracteres Hebraicos



A Tábua de Tziruph em Caracteres Latinos






Jacques Bergier - Melquisedeque

  Melquisedeque aparece pela primeira vez no livro Gênese, na Bíblia. Lá está escrito: “E Melquisedeque, rei de Salem, trouxe pão e vinho. E...