sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Ecclesia Gnostica Aeternae Lucis

 

O nome Ecclesia Gnostica Aeternae Lucis, E.G.A.L., alude a um veículo físico, religioso e iniciático que perpetua (i) a memória da Tradição Cristã Prístina em seu molde místico-gnóstico otimista e (ii) o ministério sacerdotal, em conformidade com a Ordem de Melquisedeque, dos Sacramentos da Sacrossanta Gnose e das Liturgias Esotéricas.

Catecismo Gnóstico E.G.A.L./E.GRAAL 01 – Tradição
TRADIÇÃO

O que é a Igreja Gnóstica da Luz Eterna?
Segundo sua Epistola Fundationis, o nome Ecclesia Gnostica Aeternae Lucis, E.G.A.L., alude a um veículo físico, religioso e iniciático que perpetua (i) a memória da Tradição Cristã Prístina em seu molde místico-gnóstico otimista e (ii) o ministério sacerdotal, em conformidade com a Ordem de Melquisedeque, dos Sacramentos da Sacrossanta Gnose e das Liturgias Esotéricas.

2. Qual a origem da Igreja?

Herdeira de múltiplas afiliações e linhagens espirituais e apostólicas, a Igreja dos Iniciados mantém especial sintonia com as tradições cavaleiresca e rosacruciana, bem como com diferentes frutificações da Filosofia Hermética. A E.G.A.L. é um veículo independente e soberano que se insere dentro da tradição das Igrejas Autocéfalas e dos Bispos Vagantes (Episcopus Vagans).

Apesar de sua rica herança, a E.G.A.L. se apresenta abertamente tão somente como herdeira da linhagem espiritual da Igreja Gnóstica Francesa e da Sucessão Apostólica Síria-Jacobita, que nela foi introduzida por Sua Beatitude Tau Jean II. Trabalhamos com máxima discrição e isso nos preserva das más intenções de indivíduos que não mantém pureza nos propósitos da busca espiritual.

3. O que se quer dizer por “Igreja dos Iniciados”?

Por um lado, os portais da E.G.A.L. estão abertos, sempre sob convite, àqueles que estão introduzidos na Senda da Iniciação. Por outro, a E.G.A.L. concilia em seu seio a religiosidade e a iniciação.

4. Qual a natureza da Iniciação dentro da Ecclesia?

A Iniciação na Ecclesia é a Iniciação nos Mistérios do Logos – nos Mistérios do Cristo e da Sabedoria. A Tradição ensina que a Iniciação do Logos pode ser realizada por vias bastante diferentes. Por influência do conhecimento Arcano contido nas representações simbólicas do Tarô, as diferentes vias são simbolizadas por diferentes espadas, utilizadas para assinalar o tipo de relacionamento sustentado entre o Iniciado e o Logos.

5. O que mais pode ser dito a respeito destas diferentes vias da Iniciação nos Mistérios do Logos?

A primeira via é chamada de “caminho dos fortes”. Nela, o Iniciado aponta sua espada contra o Logos e o desafia. Esse é um duro caminho de desidentificação com o mundo e com a divindade nele presente, um caminho sobremaneira marcado por um doloroso despojamento.

Na segunda via, a ponta da espada segue para a direção oposta e se volta contra o próprio Iniciado. Trata-se de um caminho mais próximo do ascetismo e, apesar desse método não ser restrito a essa via, esse caminho muitas vezes se aproxima do método negativo. O método negativo é aquele no qual não se procura conhecer o que o Logos é, mas somente o que Ele não é, de forma que a União se processe na mais absoluta sustentação da ignorância.

Enfim, na terceira via, o Iniciado segura a espada com sua ponta orientada para baixo e é precisamente com essa a via com a qual a Tradição da E.G.A.L. mais se afina. Nesse caso, a espada será iluminada pelo Logos, de sorte que a sua sombra projete uma cruz no peito do Iniciado e que o Iniciado se torne o Graal receptivo ao Divino Sangue. Esse é o caminho do Serviço, que muitas vezes se manifesta dentro do sacerdócio e do ofício da ordem de cavalaria, mas que também deve se expressar indistintamente nas ações de todos os membros da Ecclesia dos Iniciados.

As diferentes vias são adotadas pelos INICIADOS, que deliberadamente tomaram a decisão de se entregar ao Caminho, no processo de Iniciação aos Mistérios do Logos. Apenas um Iniciado nos Mistérios Menores é capaz de sustentar a espada, não importando a direção para a qual ela será apontada. O desfecho que aqui se almeja é justamente a entrada nos Mistérios Maiores.

6. Qual a natureza do método iniciático empregado na terceira via da Iniciação nos Mistérios do Logos?

A natureza é a do ensinar um modo pelo qual podemos aprender e, a partir do que aprendemos, desenvolver um tipo de sabedoria prática necessária para que possa haver verdadeira consecução espiritual.

7. No seio da E.G.A.L., qual o nome empregado para se referir a esse método?

Dez Reconhecimentos do Discípulo.

8. O que compõe os Dez Reconhecimentos?

Cinco Artes e cinco Disciplinas.

9. O que é necessário para se fluir na corrente da Iniciação?

Confiança e constância. Uma vez que o caminho é escolhido, a menos que se assuma a desistência de percorrê-lo, é imprescindível que cada um se certifique de verdadeiramente o estar percorrendo.

10. Como a Iniciação se relaciona com a Vocação?

“Vocação”, de “vocare” (chamar), é o termo que é empregado nos Santuários da Gnose para fazer referência ao chamado que coloca homem no Caminho que o aproxima da Iniciação Real. A Vocação nem sempre aproxima os impetrantes do sacerdócio religioso, mas impulsiona na necessária decisão a respeito de percorrer a senda que os colocará em contato direto com a Alta Invisibilidade. O Iniciado é justamente aquele que escutou o chamado e se engajou na Demanda.

11. O que é a Grande Demanda?

“Grande Demanda” é um termo que a E.G.A.L. herdou dos Irmãos do Oriente e denota o “objetivo”, também referido por Reintegração dos Seres, Idade do Espírito Santo, etc. “Demanda” possui significação dupla: refere-se tanto a uma busca, uma diligência, quanto à manifestação de um desejo, de uma solicitação. O “Fato Místico” atesta a origem divina da Grande Demanda que, então, caracteriza-se pelo entendimento e pelo comprometimento com o que é percebido como uma necessidade. A E.G.A.L. compreende a Mística como um início e a Gnose como um meio para a consecução do objetivo – a transformação do mundo.

12. O que é a Tradição Prístina?      

Por Cristianismo Prístino, os escritos da E.G.A.L. indicam a Tradição Cristã Arcana que é anterior à institucionalização e, algumas vezes, à própria distorção do dogma. Essa Tradição está, ela mesma, ancorada em veias ainda mais antigas, que se confundem com a própria Tradição Primordial. Ao se afirmar herético-esotérica, a E.G.A.L. explicita sua formação identitária enquanto uma forma de resistência ao esquecimento e à perda dos princípios essenciais da Tradição Prístina. Sob esse aspecto, o sentido exato da palavra episcopus, do grego episkopos, guardião, reflete perfeitamente a ideia de que os guardiões de uma Tradição precisam lembrá-la incansavelmente, resistindo a que o passar do tempo e a decadência espiritual levem-na a perder-se irremediavelmente.

13. O que é a experiência mística, cujo processo muitas vezes é referido pelo vocábulo Misticismo?

A palavra Misticismo é empregada para fazer referência à via do movimento ordenado, muitas vezes caracterizado por etapas, que propicia o acesso consciente ao Logos ou aos diferentes “mundos espirituais” (o “paraíso” sempre denotou simultaneamente um lugar e um estado de alma).

A Igreja Gnóstica propõe uma via pela qual a compreensão espiritual acontece por uma via consciente e direta. Esse processo, não sem o enfrentamento de enormes dificuldades inerentes à limitação humana, pode ser ensinado. Nesse caminho, o processo é a ação que cria o objetivo. Nele, a pureza é essencial e a direção clara é uma necessidade.

A via direta que determina a experiência mística, que já foi chamada de Teosofia Cristã e de Iluminismo Cristão, também é conhecida como Santa Ontologia do Ser. Nos Mistérios Cristãos, o Ser é o Logos e a Santa Ontologia do Ser equivale à própria ontologia do ser.

14. O que é a experiência da Gnose?

A palavra grega para conhecimento (Γνωσις, gnosis) cunhou o termo gnosticismo (Γνωστικισμóς, transliterado gnostikismós). A Gnose, entretanto, não se refere a um tipo de saber racional de natureza científica, ou mesmo a um saber filosófico da verdade, mas a um conhecimento que brota no coração de forma misteriosa e intuitiva (aqui, por intuitivo, aludimos ao Intelecto na sua acepção neoplatônica). É por essa exata razão que, no Evangelho da Verdade, esse tipo de conhecimento é chamado de Gnosis Kardias – o conhecimento do coração. A Gnose é encontrada, simultaneamente, no interior do ser e no exterior – na lumen naturae, a Luz que se aproximou da matéria. Por essa razão, a maioria dos antigos mitos gnósticos credita à Eterna Sabedoria ter inserido no homem, tal como no quadro universal da criação, a possibilidade da experimentação desse tipo especial de conhecimento. A correta compreensão desta preposição transfere o foco do trabalho espiritual para o âmbito da percepção.

15. Qual o grande efeito oriundo da experiência gnóstica?

A GNOSE É LIBERTADORA. Conforme Felipe, “a ignorância é escravidão, a Gnose é Liberdade”.

16. O que a E.G.A.L. pretende ao se apresentar como afinada com a perspectiva otimista do molde místico-gnóstico da Tradição Cristã Prístina?

Tal afirmação simplesmente significa que a E.G.A.L. conserva uma forma particular de compreender o Demiurgo e a relação dele com o Inefável e que, em decorrência disso, não condena a matéria, tampouco o corpo. A E.G.A.L. não se afina com o comportamento que procura deslocar a espiritualidade do mundo e encontra na Anima Mundi uma possível imagem para a Grande Redentora que habita dentro do ser e em seu entorno. Em termos gerais, podemos dizer que a noção que a E.G.A.L. tem do Demiurgo assemelha-se àquela ensinada por Platão no Timeu.

17. Como as experiências mística e gnóstica se relacionam com a Filosofia Hermética?

A experimentação do Fato Místico equivale a tatear o mundo espiritual. Por sua vez, a experimentação gnóstica é associada ao sentido da audição. Nesse caso, a audição é uma consequência direta daquilo que foi tateado. Isso significa dizer que a Gnose é um fruto daquilo que é diretamente experimentado. Por sua vez, as diferentes veias da Filosofia Hermética são propostas como desdobramentos da experiência gnóstica, tal como o Hermetismo Ético é proposto como sendo alimentado tanto pela experiência mística, quanto pela gnóstica.

18. O que a Tradição chama de Antigas Observâncias?

Nas Antigas Observâncias, depois do chamado, os Iniciados constroem determinada relação com as realidades espirituais de maneira a poderem dialogar e exercer influência sobre seus habitantes sem deles se tornarem presas. Os transes que possibilitavam o voo mágico são comuns, bem como a ascensão aos céus, o mergulho nos mundos inferiores, o conhecimento sobre o poder das plantas, a maestria sobre o fogo e os demais elementos e a capacidade de viajar pelos mundos para localizar as almas perdidas e, em seguida, com elas retornar para a terra da vida. As Antigas Observâncias são encontradas nas Tradições Judaica e Cristã, por exemplo, quando Moisés foi diretamente guiado pelo mais alto dos anjos, o Príncipe da Presença, tendo aprendido a arte da cura com Yahweh, e quando Yeshu (Jesus) caminhou no Céu e no Inferno antes de ascender tal como havia acontecido com Elias e Enoque. Importantes Profetas, presentes tanto no judaísmo, quanto no cristianismo, lado a lado com os sacerdotes, também vivenciaram semelhante vocação, sendo diretamente chamados por Deus para a proteção das tribos das ações dos espíritos adversos. Algo semelhante também é observado na Merkavah, ou tradição Hekhalot, em que, pelo poder dos nomes divinos e de palavras de poder inteligíveis, a conversação com os anjos por meio da ascensão por diferentes palácios e a maestria da Torah por meio da Santa Teurgia são alcançados. Em alguns pontos, torna-se difícil distinguir essa tradição daquela dos pais primevos da Gnose dos primeiros séculos que ascendiam pelos diferentes Éons, pelas diferentes Hostes, e se aproximavam da Sacrossanta Gnose pela Obra Divina.

19. Como as Antigas Observâncias e o Sacerdócio se relacionam?

Os sacerdotes sempre foram membros da elite governante em grande parte das culturas e sua posição muitas vezes era determinada mais por questões próprias da descendência sanguínea do que pela contraparte da via religiosa do Chamado da Iniciação. Ademais, encontraríamos pouca diferença entre a corte real e o sacerdócio. Muitos reis foram, eles mesmos, os altos sacerdotes das religiões locais. Aqui, há um mistério cujo véu poderá ser levantado noutra ocasião: a função dupla de rei e sacerdote, ancoradas e prefiguradas em Melquisedeque, foi posteriormente dividida, dando margem a toda sorte de erros.

Em diferentes momentos e em grande parte das culturas, muitas vezes por motivos políticos, a Antiga Observância passou a ser substituída por aquela dos sacerdotes que serviam a um deus, que conclamavam sua influência para o mundo e que cuidavam de seu relacionamento para com a população. Nesse processo, o trabalho dos que ouviam o chamado, outrora realizado em conjunto com os seres do mundo espiritual que estavam sob sua influência, passou a dar lugar a um tipo de ofício especialmente orientado para a deidade local. Temos que a obra de um sacerdote, grande parte das vezes, se orienta mais proximamente da arte da ritualização, do exorcismo e da invocação da influência divina do que do conhecer e do andar nos outros mundos na companhia de outros seres. Ele trabalha para resgatar a alma perdida de um indivíduo doente, mas, geralmente o faz sem penetrar em outros reinos pelo voo da ascensão ou pelo mergulho do descenso. O sacerdote é o mestre e os espíritos são tal como servos, uma vez que ele age sob a autoridade de seu deus, que é reconhecida pelos demais. De todo modo, tal como nas antigas observâncias, sua principal função continuou sendo a de agir como o representante de sua comunidade nas relações com o sagrado. O sacerdote é o servo do Altar, o melhor conhecedor do ritual e o mestre permitido para o sacrifício. Ele dirige a devoção da comunidade que o cerca, se torna um líder social e um pilar de força, guiando-a em situações emocionais que não estão sob o controle humano e tendo especial participação em importantes passagens cíclicas da vida de um indivíduo (nascimento, puberdade, casamento, morte, etc.).

No que tange ao Sacerdócio dentro de uma organização tradicional e iniciática como a E.G.A.L., elementos das Antigas Observâncias são preservados, perpetuados e ganham grande relevância.

20. O que é o Direito de Sucessão?

No Direito de Sucessão, uma cadeia sucessória cronológica é identificável. Em uma ponta da cadeia, encontramos um Homem-Deus, um Hierofante dos Mistérios ou um Grande Iniciado – aqueles que souberam receber a Luz do Invisível. Na outra, encontramos os elos mais novos, ainda vivos. No caso do sacerdócio, o Direito de Sucessão decorre de os sacerdotes guardarem a sabedoria secreta de seu Deus e deverem se assegurar de que os Mistérios serão perpetuados para as futuras gerações de Iniciados.

Se, por um lado, cada sacerdote se compromete com a transmissão da tradição, por outro, ele também possui determinado tipo de poder, a essência da autoridade divina que é reconhecida pelas outras forças, que de igual modo deve preservar e transmitir aos herdeiros escolhidos. Na Arte do Sacerdócio, o primeiro passo é justamente aquele em que essa autoridade, muitas vezes codificada tal como na hierarquia real, é recebida e isso usualmente ocorre por meio de um tipo de casamento espiritual entre o humano e seu deus.

21. O que é a Ordem de Melquisedeque?

… tu es sacerdos in æternum secundum ordinem Melchisedech…

Oriunda dos Salmos, há séculos essa frase ecoa em um momento tão solene quanto santo, em diferentes Santuários espalhados pelo globo, quando alguém devidamente vocacionado e preparado é elevado, segundo o modelo de Melquisedeque, à condição de Soberano e Pontífice, Rei e Sacerdote.

A Liturgia Gnóstica da Luz Eterna aproxima o Sacerdos Primordialis do Grande Metatron. No Gênesis, o encontraremos como aquele que pediu o pão e o vinho para abençoar Abrão. Nos demais textos bíblicos, mais especificamente na Epístola aos Hebreus, uma analogia também é claramente estabelecida entre o Rei de Salém e o próprio Cristo, o Sumo Sacerdote da Ordem de Melquisedeque. No sentido esotérico da Augusta Ordem, há importante reflexão acerca do motivo de Meleki Tsedeq, o “Rei de Justiça”, governar sobre Salém, o “Reino da Paz”.

Da perspectiva rosacruciana tradicional, o Reino da Paz é localizado no exato ponto de equilíbrio dos triângulos primordiais dos Anjos e dos Homens, da Água e do Fogo e, desse conhecimento, depreende-se a razão profunda para o casamento da Realeza com o Sacerdócio. Desse local, a Tradição Primordial e a Luz da Sacrossanta Gnose são dispensadas para o mundo e para os homens que souberem recebê-las. O locus da Tradição Primordial, onde os Desígnios do Logos são conhecidos, já foi referido por muitos nomes.

Alguns dos Patriarcas Gnósticos anteriores encontraram no texto do Pistis Sophia o coração de seu ministério. Apesar de não o ter em máxima centralidade, a E.G.A.L. guarda pelo Pistis um grande apreço. Tanto é assim que é justamente nele, e justamente em passagens que se referem a Melquisedeque, que indícios a respeito da tradicional origem de sua denominação podem ser encontrados. No Pistis Sophia, Melquisedeque é apresentado como o Grande RECEBEDOR da Aeterna Lux. Por ele e do lugar por ele habitado, a Luz Eterna é recebida e distribuída para o mundo. “Melquisedeque é o mensageiro de todas as luzes que são purificadas nos regentes, conduzindo-as para o Tesouro de Luz”, testemunha o Pistis.

22. O que é a Sucessão Apostólica?

Na Igreja nascente, Yeshu é designado Sumo Sacerdote da Ordem de Melquisedeque e é todo o povo crestão que participa deste sacerdócio do Cristo. Nesse momento, os Apóstolos e aqueles por eles nomeados são aqueles que presidem a liturgia do pão e do vinho nas reuniões das assembleias. Yeshu havia dito a eles: “o Espírito Santo descerá sobre vocês e dele receberão força para serem minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”. E, de fato, o testemunho passou a se alastrar até os extremos do mundo então conhecido.

Do ponto de vista da histórica eclesiástica, já no primeiro século, encontra-se nos primórdios da Igreja a consciência de uma função sacerdotal que, justamente, encontrou no rito do pão e do vinho da antiga Ordem de Melquisedeque o eixo mais fundamental. A função sacerdotal surge por força da celebração eucarística entendida como sacrifício não-cruento e graças à ideia de que quem a preside exerce uma função sacerdotal. Os ministros da Igreja, que segundo Clemente eram constituídos de guias (hegoumenoi), vigilantes (episcopoi) e anciãos (presbiteroi), agiam como chefes do povo de Deus, conduzindo-o ao culto agradável aos olhos do Altíssimo.

Para se compreender o modo como o Direito de Sucessão se processou e se desenvolveu na Sucessão Apostólica, deve-se ter em conta a questão da presidência da eucaristia. Os Bispos e Presbíteros ligaram-se aos Apóstolos em conformidade com laços hierarquizados e, então, a Igreja é considerada como apostólica. Olhando-se para a questão desde uma perspectiva tradicionalista, os Bispos sucedem diretamente aos Apóstolos (“enviados”) no que concerne ao exercício da função apostólica, sobretudo a de ser sinal de unidade eclesial em Cristo. Eles detêm, portanto, direito sobre a Sucessão Apostólica. 

Pela sucessão dos Bispos a partir dos Apóstolos, a ortodoxia cristã procurará se assegurar da fidelidade ao Cristo por meio da ininterrupta transmissão da doutrina que é compreendida como verdadeira. Desde a perspectiva esotérica da Igreja dos Iniciados, a boa nova da amálgama entre o Direito de Sucessão dos Bispos do Christos e a sagrada herança legada pelos Apóstolos alimenta a Igreja, fazendo dela não apenas legítima herdeira dos Altos Mistérios, mas também uma extensão visível ligada ao Centro invisível aludido pela Ordem de Melquisedeque.

23. Quem são os Bispos Vagantes, ora referidos como aqueles que compõem o Movimento Sacramental Independente?

A tradução em português para a expressão latina “Episcopi Vagantes” (plural do singular episcopus vagans) é bastante complicada. Na maioria das vezes, os Bispos Vagantes são simplesmente compreendidos como “perdidos”, heréticos, desgarrados, aqueles que foram consagrados de forma clandestina, que foram excomungados e não mais atuam em comunhão com nenhuma diocese. Ainda que palavras como “errantes” ou “perdidos” sejam costumeiramente adotadas para a tradução de “vagans”, procurando velar pela compreensão esotérica mais profunda acerca desse tema, a E.G.A.L. insiste na escolha da palavra “vagante” ou, alternativamente, “caminhante”. Desse modo, honrando os ensinamentos que nos foram transmitidos pelo Eques AAF, a Igreja dos Iniciados vela pelo entendimento que, em última análise, é um importante alicerce da própria práxis iniciática herdada.

Os Bispos são a fundação dos mistérios e dos Sacramentos e assumem a missão da transmissão da Graça de Deus dentro da Igreja. A Igreja entende o sacerdócio como uma vocação – ou seja, os homens e as mulheres escolhidos para o sacerdócio são chamados pelo Espírito Santo.

Cipriano enfatizou que os Bispos são os sucessores dos Apóstolos e legítimos intérpretes da Tradição Apostólica. Conforme esse pensamento, se um Bispo discorda da Tradição ou de seus companheiros Bispos, então ele não conserva unidade com a Igreja e remove a si mesmo da Graça. Ou seja, um Bispo somente é Bispo enquanto em comunhão com os demais Bispos, enquanto ensinar a fé apostólica, de forma que, se não conservar a unidade com a Igreja, ele perde a autoridade de agir como Bispo.  A concepção de Cipriano ainda hoje é observada nas Igrejas do Oriente.

Quanto ao Ocidente, aproximadamente 150 anos depois de Cipriano, Santo Agostinho tornou-se a grande referência e autoridade acerca do tema da transmissão válida da sucessão apostólica no ministério episcopal. Para ele, o caráter de uma consagração deve ser avaliado, a fim de se determinar a VALIDADE da transmissão. São quatro os critérios observados: 1. Forma (a consagração deve ser pública para ser considerada válida); 2. Matéria (a consagração deve observar a aposição de mãos para ser considerada válida); 3. Ministro (o Bispo consagrador deve ter sido anteriormente consagrado de maneira válida dentro da Sucessão Apostólica); e 4. Intenção (a intenção da aposição de mãos deve ser consagrar na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica e ambos os Bispos, consagrador e consagrado, devem comungar da intenção de ensinar o que a Igreja tem sempre ensinado). Para essa perspectiva, o episcopado assemelha-se a uma possessão pessoal e, uma vez Bispo, sempre Bispo – independentemente de se permanecer em comunhão com a Igreja ou não. Aqui, uma distinção é traçada entre autoridade (relacionada a uma jurisdição) e habilidade (a recepção do Sacramento da Ordem): o Sacramento da Ordem dá ao Bispo a habilidade de ser Bispo – por via da ação do Espírito Santo, fornece a habilidade de levar a assembleia ao Corpo de Cristo, mas, em contrapartida, somente a Tradição, por meio de seu Sínodo de Bispos, pode garantir ao Bispo a autoridade de liderar uma jurisdição.

Para ambos, Cipriano e Agostinho, um Bispo é feito somente na Igreja e para a Igreja e é o Espírito Santo que faz o novo Bispo durante a administração do Sacramento. Para além da questão da validade, para os Católicos Romanos, um Sacramento também pode ser avaliado sob os prismas da sua licitude e da sua regularidade. A consagração é considerada lícita se ela segue as regras gerais da Igreja para a condução do Sacramento e é considerada regular se o impetrante for elegível para a recepção do Sacramento de acordo com as regras da Igreja. Dessa maneira, um Sacramento, por exemplo, pode ser válido, mas ilícito e irregular.

Os pormenores aparentemente desinteressantes do direito canônico são importantes não apenas para a compreensão da tradição dos Bispos Vagantes, mas também por esclarecerem de maneira incontestável a inserção da comunidade da E.G.A.L. – fundada, simultaneamente, com a benção de um Patriarcado e com a permissão de um Sínodo de Bispos regulares – dentro do esquema geral das sucessões apostólicas. 

Os Bispos Vagantes possuem a habilidade, mas não uma jurisdição que limite seu campo de atuação – uma dinâmica muito especial criada por Santo Agostinho. Contemporaneamente, contudo, a compreensão de Agostinho foi desenvolvida quanto à questão de troca de sucessões e algumas outras questões. As regras para a consagração episcopal são as seguintes:

A comunidade determina a validade de seus sacramentos;
Uma pessoa se torna Bispo na primeira consagração válida;
Todo Bispo que apõe as mãos está ordenando o novo Bispo;
O Bispo Pai transmite todas as suas linhagens para o novo Bispo;
Bispos que trocam linhagens entre si transmitem todas as suas linhagens um ao outro.
O Colégio Pontifical da E.G.A.L.//E.GRAAL afirma-se em completa comunhão com essas regras, bem como com os costumes agostinianos e com a ênfase cipriniana acerca da importância do reconhecimento da comunidade para que o Sacramento da Ordem possa ser considerado regular em termos de jurisdição. Do mesmo modo como na Igreja Primitiva, na qual cada Bispo era “vagante”, também cada comunidade poderia ser verdadeiramente considerada como autocéfala.

24. Como as ideias de “vagância” e de “caminhância” relacionam-se com a práxis iniciática herdada pela E.G.A.L.?

A Igreja Gnóstica da Luz Eterna perpetua a Tradição Cristã Prístina, em seu molde místico-gnóstico otimista, bem como o ministério sacerdotal em conformidade com a Ordem de Melquisedeque. Tal perpetuação ocorre por meio de dois métodos distintos.

O primeiro dos mencionados métodos é chamado de Método Exterior. Ele está mais proximamente conectado ao ministério sacerdotal e, nesse campo, são encontrados todas as práticas e exercícios relacionados ao ministério dos Sacramentos, das liturgias, da prece e da teurgia. É chamado de Exterior, uma vez que é mais facilmente perceptível quando comparado com o segundo método.

Por sua vez, o segundo método é chamado de Interior e é justamente ele que justifica o preciosismo quanto à tradução do termo latino Episcopus Vagans. A “vagância”, talvez mais bem descrita como “caminhância”,[1] está especialmente afinada com a Tradição Prístina. Assim como o “paraíso” é compreendido tanto como um lugar, quanto como um estado, o mesmo é válido com relação a todos os Éons que formam a completude do Pleroma e se manifestam por meio do Logos. Se o intento é a Liberdade e a escolha que dela deriva, se é a verdadeira iluminação, os Iniciados devem realmente ser proficientes na arte de caminhar pelas diferentes realidades dos Éons. A Iluminação é bastante difícil de ser alcançada por um meio diferente deste. Essa é a “caminhância” sobre a qual se alicerça a verdadeira hierofania, uma herança das Antigas Observância. O Hierofante, ou Pontifex, segundo a nomenclatura de nossa Igreja, é aquele que CAMINHA no CAMINHO, é o CHRESTÃO, o viajante, de CHRISTOS, o Caminho, que é, por SI-MESMO, o objetivo de toda a Obra – é aquele que compreende a realidade dos Éons e consegue visitá-las e manifestá-las por meio de sua hierofania, que torna sua compreensão possível por meio da autêntica Filosofia Hermética. O Método Interno é aquele que permite caminhar com e nos Éons.

O Método Interior é assim chamado porque é percebido de maneira mais sutil quando comparado com o primeiro. É considerado como o aspecto mais frágil da Tradição e é preservado com muito cuidado para que seja corretamente compreendido. O Método Interior é “alimentado” pelo Exterior, de sorte que o segundo torna-se imprescindível para que o primeiro possa ser desenvolvido. Não há nenhum tipo de hierarquização no emprego dos termos Interior e Exterior; um e outro são totalmente complementares e necessários para a consecução espiritual pela vereda da teosofia da Sacrossanta Gnose. O segredo protege o Método Interior e ele é reservado apenas àqueles que receberam o chamado.

25. O que é a autocefalia?

A autocefalia diz respeito a questões hierárquicas. Uma Igreja ou comunidade autocéfala não se reporta a nenhuma autoridade superior à própria hierarquia estabelecida em seu seio. A E.G.A.L. herdou essa forma de organização das igrejas ortodoxas orientais.

Nos primeiros séculos, a condição de autocefalia de uma igreja foi promulgada por cânones dos concílios ecumênicos. Isso se refere ao desenvolvimento do modelo de pentarquia, no qual a organização eclesiástica deveria ser governada por cinco patriarcas, cada qual vinculado a uma vereda da tradição episcopal existente no Império Romano: Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. Posteriormente, em 685, a Igreja do Líbano, depositária de interessante tradição que diretamente influenciou ramos específicos da Igreja Gnóstica, também recebeu a autocefalia. Ela constituía parte da Igreja de Antioquia, da mesma forma que a Igreja de Chipre, que também recebeu a autocefalia. Destaca-se que um passo a menos da autocefalia é a autonomia. Nesse último caso, o Bispo de mais alto escalão de uma Igreja, ainda que conserve a auto-governança de sua Igreja, é aprovado e ordenado pelo primaz da Igreja-mãe.

A respeito de sua organização, a E.G.A.L. é autocéfala. Destaca-se que a Igreja Apostólica da Luz Eterna, bem como a sua Igreja Interior, ou Igreja do Graal, também conhecida como Igreja Gnóstica Rosacruciana Apostólica da Luz Eterna, ganharam sua autocefalia de um patriarcado gnóstico tradicional e bem estabelecido.  Por sua vez, cada Soberano Santuário da Gnose é autônomo (não autocéfalo). O Soberano Santuário de Elias é o Santuário Primaz da E.G.A.L. e é dirigido pelo Pontifex Primus. Tratando-se do Santuário Primaz, ele jamais é dissolvido, sendo herdado pelo Pontifex Primus Adjutor no momento da morte do Pontifex Primus que o antecedeu. O Soberano Santuário de Elias, contudo, não é o único Soberano Santuário. Atualmente, existem dois Soberanos Santuários ativos na América do Sul, um na América do Norte e um na Europa. Seus respectivos Pontífices formam o Colégio Pontifical e, com exceção do Santuário Primaz, os Soberanos Santuários permanecem ativos apenas enquanto seus respectivos Pontífices permanecem vivos. Quando um Pontifex morre, seu Soberano Santuário é diluído, cabendo aos Pontifex Primus ou ao Pontifex Primus Adjutor a prerrogativa de instaurar novos Soberanos Santuários. Torna-se evidente, portanto, a razão de serem considerados autônomos, e não autocéfalos.

26. Onde as doutrinas da Igreja são descritas?

A doutrina é descrita em dois livros. O primeiro deles é o Liber In, onde encontramos o registro dos Dez Reconhecimentos do Discípulo, e é principalmente a partir dele que as instruções aqui presentes foram selecionadas. Todo membro da Igreja conserva um diário pessoal, também chamado como Liber In. Entende-se que o Liber In pessoal é uma manifestação celular do Liber In central, que ganha, dessa maneira, também o valor de uma importante alegoria.O segundo, Liber Ri, conserva não apenas aspectos da doutrina, mas também todo o corpo litúrgico e os ritos da Tradição. Os Libri são chaves necessárias para a recepção entre os Perfecti da Igreja do Graal.

27. Encontramos, em algum momento da história, algo como uma Religião Gnóstica Unificada?

Nunca houve e nunca haverá. O movimento histórico deve ser compreendido como “gnosticismos”, no plural, uma vez que se refere às heresias dos primeiros quatro séculos, algumas mais próximas da mística judaica, outras mais próximas da mística cristã, mas que, sob a influência dos registros deixados por Irineu de Lyon, foram posteriormente agrupadas e popularizadas sob a denominação “gnosticismo”. Heresias, também no plural, uma vez que o movimento compreendeu agrupamentos com formações mitológicas e filosófico-religiosas sincréticas – com corpos doutrinários distintos – que acabaram sendo marginalizados e, via de regra, combatidos pela ortodoxia que passou a predominar. Grande parte das informações propagadas a respeito dos agrupamentos que compuseram o movimento foi registrada pela pena de seus detratores, exatamente como sucedeu com os primeiros cristãos, cujas narrativas dos seus opositores acusavam-nos, injustamente, de toda a sorte de práticas hediondas.

28. O que narra a Tradição a respeito dos primórdios do cristianismo?

Em um dos registros tradicionais da E.G.A.L. tem-se que o agrupamento essênio foi uma ramificação dos Mistérios Egípcios originada no momento em que Ahmasis levou os Templos sagrados à ruína e os Hierofantes e seus Iniciados procuraram proteção no Templo de Basra. Tem-se também que Yeshu, sobrinho da Rainha Salomé, viajou ao Egito e se tornou um Hierofante dos Mistérios antes de retomar à comunidade essênia. Embora os essênios tenham sido referidos como “Judeus Gnósticos”, isto não seria estritamente correto, uma vez que haviam sido influenciados pelos Mistérios de Adonis da Síria, Serapis do Egito, Dionísio e Baco da Grécia e Roma e também pelos Mistérios de Mithra. Alguns registros dos tempos de Tibério, Calígula e Cláudio, mas também posteriores, do reinado de Adriano, mencionam os Iniciados em Mistérios deste período como “Chrestes” (Viajantes) e os Hierofantes como “Bispos de Serapis e Christos”, sendo “Christos” a palavra empregada nos Mistérios de Serapis para denotar a parte divina da Alma. É bastante evidente que os essênios se relacionavam com os Terapeutas do Egito que floresceram em Alexandria, o berço de nascimento dos gnosticismos cristãos, e provavelmente também com os Ofitas do Egito. Nesse mesmo cenário, encontram-se os Sabeanos, popularizados como Nazarenos, que seguiam Sébio nos arredores da Galileia. Os Ebionitas se ligavam a eles e, dentre eles, encontramos Paulo. Foi justamente Paulo quem atingiu a hierofania e continuou o que Yeshu havia começado depois de sua morte. De Paulo, vieram os cristãos gnósticos, tal como nos evidenciaram Marcião (136 d.C.) e Pródico (120 d.C.). Ele foi seguido por Valentim e Basílides aproximadamente em 130 d.C, e também por Simão o Mago, Menandro, Cerinto, Dosétio e, então, por Satunino da Antióquia. Também encontramos Clemente de Alexandria, discípulo de Amônio Sacas, ele mesmo sendo um Iniciado dos Mistérios de Serapis e Ísis. Ele transmitiu sua gnose para Orígenes, que procurou sincretizar as tradições judaicas e egípcias. Por estes caminho e estudo, diante de toda a diversidade que encontramos, torna-se evidente como cada qual contribuiu para a disseminação da Tradição Prístina pelo que dela pôde traduzir por meio de suas próprias percepções das experiências mística e gnóstica.

29. A partir de qual momento o cristianismo passou a se afastar da Tradição Prístina?

O primeiro Concílio de Niceia, que aconteceu em 325 d.C. e tinha por objetivo reunir todos os bispos da Igreja, foi considerado o primeiro concílio verdadeiramente ecumênico e tornou-se um marco divisor, sendo todos os concílios que o antecederam considerados “pré-nicenos”. Nele, procurou-se reunir a cristandade com o objetivo de condenar o arianismo, heresia difundida por Arius, que, muito influenciado pelas escolas gregas, defendia a distinção de Pai (Monas) e Filho (Duas). Nesse primeiro concílio ecumênico, proclamou-se a igualdade e a equivalência das naturezas do Pai e do Filho, e foi nesse espírito que se redigiu o Símbolo Apostólico, credo religioso muito próximo do que hoje é pronunciado na liturgia da Santa Missa pela Igreja Romana e outras. Do ponto de vista do desenvolvimento da teologia e do dogma, a partir do ano de 325, passou-se a considerar que a divindade comporta três diferentes hipóstases, sendo cada uma delas uma persona divina. A palavra “hipóstase”, de origem grega, é usada para denotar a natureza de algo ou alguma instância especial dessa natureza. No caso do entendimento ortodoxo do dogma da Trindade, uma pessoa da Divindade. Tal como os concílios ecumênicos acabaram por prescrever, Pai, Filho e Espírito Santo são três diferentes hipóstases que formam uma mesma e única divindade – três hipóstases que partilham de uma mesma ousia (substância ou essência). A conceituação de ousia, bem como a sua distinção formal do que fora referido como hipóstases foi um problema a ser lentamente resolvido pelos pais da Igreja… De todo modo, uma questão discutida no Concílio de Niceia foi justamente a distinção existente entre o conceito de homoousios (mesma substância), que foi o preservado pela Igreja em prejuízo do arianismo e de outras heresias, daquele de homoiousios (de substância similar).

Mas, por que, então, se fala em distanciamento da Tradição Prístina? Porque o enrijecimento dogmático da Tradição fere-a de morte. O problema não é a existência de ideias e visão diferentes, vez que, sendo impossível à mente humana apreender os princípios metafísicos em sua completude, ela sempre formará, a seu respeito, uma imagem rudimentar e incompleta. O equívoco, aqui, é querer eleger uma dessas imagens humanamente formuladas como a única correta, ou, pior ainda, como “A Verdade”. Um mistério, ao se tornar dogma rígido, deixa de ser mistério e passar a ser pura ideologia humana.

30. Como o conhecimento arcano da antiga doutrina foi perpetuado?

Não apenas pela Sucessão Apostólica que, por meio do Pacto, preservou aspectos relevantes da Tradição Prístina, mas também por meio organizações iniciáticas tradicionais que preservaram o Secretum Templi, tais como a própria Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo, os Irmãos do Oriente e o movimento rosacruciano.

31. Quantas e quais são as Eras da Igreja Gnóstica Moderna?

São cinco as Eras consideradas pela E.G.A.L.

A primeira Era da Igreja Gnóstica Francesa é chamada de Era de Doinel e é referida como o momento do revivescimento neo-cátaro e neo-valentiniano pela experimentação espírita. Foi Jules Doinel quem, orientado pelos espíritos cátaros, proclama a Era da Restauração da Gnose e a participação de Lady Caithness nesse período é sobremaneira importante. Desse primeiro empreendimento, tem-se a origem da linhagem espiritual que subjaz a toda a existência da Igreja Gnóstica. A Assembleia da Igreja de Doinel era composta pelos Perfeitos e o clero era composto pelo Patriarca, pelos Bispos e Sophias e pelos Diáconos e Diaconisas. Desde o começo, homens e mulheres ocupam posições, no seio da Igreja, em pé de igualdade. A “Santa Ordem dos Cavaleiros Fayditas da Pomba do Paráclito”, ou, simplesmente, “Ordem da Pomba do Paráclito”, também foi fundada nessa primeira Era.

A teologia da primeira Era foi largamente baseada naquilo que era conhecido sobre os gnósticos dos primeiros quatro séculos, mas, principalmente, das perspectivas de Simão, o Mago, e de Valentin. Doinel se afinava com a divisão de Velentin da humanidade em três classes (seres hílicos, psíquicos e pneumáticos), e, a respeito do credo estabelecido para a Igreja, ele dizia respeito apenas às “Duas Doutrinas Fundamentais da Sacrossanta Gnose”, tendo sido sintetizado da seguinte maneira: “eu acredito na salvação através da Gnosis e na doutrina da Emanação”. Para Doinel, a Gnose era sincrética em natureza e constituía a verdadeira essência do Cristianismo. Sua perspectiva teológica era trinitária e bastante centrada na adoração do Divino Feminino. Os sacramentos, conforme praticados nessa Era, eram quatro e inspirados na Igreja Cátara: Consolamentum, Appareillamentum, “Consagração dos Bispos” e “Fração do Pão”.

A segunda Era da Igreja Gnóstica é aquela de Léonce Fabre des Essarts e de Louis Sophrone Fugairon. É nesse período que o “Batismo da Água” (em substituição ao Consolamentum) e a “Divina Unção” aparecem na Igreja e que a “Fração do Pão” e a “Consagração dos Bispos” passam a ser chamadas, respectivamente, de “Divino Mistério” e “Sacramento das Sete Vozes e dos Quarenta e Nove Poderes”. O Appareillamentum deixa de ser ministrado nesse período e a Igreja Gnóstica, agora conhecida como “Igreja Gnóstica Universal (Católica)”, se afasta da coloração valentiniana-cátara e, se aproximando de uma concepção esotérica sintética, ganha um contorno muito parecido com o de uma organização iniciática. Estruturalmente, em uma procura por imitar a ascensão pelos Eons, a Igreja passa a ser composta por membros distribuídos em graus esotéricos, transmitidos iniciaticamente, por sacramentos e por ordenações. Os nomes dos “Sete Graus da Sacrossanta Gnose” (de Borborianista a Barbelita) surgem pela primeira vez nesse momento.

O Credo da Igreja se tornou mais complexo na segunda Era, assumindo posições teológicas como a do Deus Bom, do Universalismo (a salvação é universal, todos retornarão a Deus), do Unitarismo (Deus é uma entidade, em oposição à teologia trinitária ortodoxa), da Adoção Mitigada (teologia não trinitária que sustenta que Jesus foi adotado como Filho de Deus em seu batismo), do Dualismo Mitigado (a matéria é má, mas subordinada ao espiritual e bom), da Salvação Feminina (superados o trabalho do Pai e do Filho, a determinação da salvação da humanidade depende do Espírito, que é o feminino na Divindade), etc.

A terceira Era da Igreja Gnóstica da França é a de Jean Bricaud e demarca o momento em que a Igreja se torna detentora de Sucessões Apostólicas. O sincretismo esotérico anteriormente desenvolvido é mantido, ainda que com novos contornos. A transmissão dos cinco sacramentos é mantida (a confissão e o casamento ainda não são compreendidos como sacramentos). Também é nesse momento que nos deparamos, pela primeira vez, com a figura do Padre dentro da Igreja Gnóstica.

O sistema de graus da Igreja torna-se mais simples (Aprendiz/Estudante, Companheiro/Discípulo, Mestre/Perfeito e Mestre Eleito/Clero). A Doutrina foi dividida em uma seção exotérica e uma esotérica, sendo que a primeira seção se baseava nos três Evangelhos e ensinava os dogmas da existência de Deus, da existência de mundos espirituais, da imortalidade da alma, do estabelecimento do Reino de Deus na Terra e da finalidade da Caridade como a base da moralidade. Por sua vez, a segunda se orientava pelo Evangelho de João e velava pelos dogmas da natureza de Cristo, da dispersão, da liberação, da Parousia e dos mistérios da purificação por meio dos sacramentos.

Na quarta Era da Igreja Gnóstica, chamada de “Era de Ambelain”, o que era uma Igreja Iniciática tornou-se uma Igreja para aqueles que já eram iniciados. Agora conhecida como “Igreja Gnóstica Apostólica”, ela passa a não realizar nenhum ofício público e toma como dupla missão manter o cristianismo tradicional e gnóstico dentro do contexto das sociedades secretas com caráter iluminista (Martinismo, Maçonaria, etc.) e lutar contra a ação demoníaca em suas diferentes formas. Robert Ambelain tinha o olhar direcionado pela teologia da Igreja Romana e introduziu o culto aos Santos Católicos Romanos dentro da comunidade gnóstica. Nesse momento, o credo da Igreja Gnóstica, uma adaptação do credo niceno, passou a não conter nenhum elemento particularmente gnóstico. Em relação aos mistérios do Divino Feminino, as liturgias da Igreja passam a não conter nada que não estivesse em linha com o dogma Católico Romano. Sob o patriarcado de Ambelain, a Igreja não teve um número de quatro sacramentos, como na época de Doinel, ou de cinco sacramentos, como na época de Essarts e Bricaud, mas de sete, tal como a perspectiva ortodoxa. O Sacramento da Ordem também passou a contar com a divisão entre Ordens Menores (Clérigo, Porteiro, Leitor, Exorcista, Acólito e Subdiácono) e Maiores (Diáconos, Padres e Bispos).

A perspectiva da E.G.A.L. é a de que a contemporaneidade experimenta uma quinta Era, sendo ela fruto das influências advindas de cada uma das Eras anteriores, somadas com a influência exercida por determinados caminhos da Tradição Esotérica Ocidental a respeito da Igreja. A E.G.A.L. herda determinados elementos de cada uma das Eras anteriores, bem como preserva uma Tradição Iniciática importante em seu seio.

32. Quais os pontos de convergência entre as diferentes Eras?

As duas Doutrinas Fundamentais da Sacrossanta Gnose.

33. Quais são as Doutrinas Fundamentais?

As doutrinas fundamentais são:

1- Doutrina da Emanação

2- Doutrina da Salvação pelo Conhecimento (S.G.)

34. Qual a importância das Doutrinas Fundamentais?

Dada a universalidade da Ecclesia, a dupla doutrina demarca as expressões da Ecclesia que são esotéricas em compreensão e gnósticas em natureza. As duas Doutrinas Fundamentais são como uma impressão digital ou, simplesmente, a principal marca identitária das Igrejas Gnósticas. Apesar de diferentes Igrejas Gnósticas possuírem diferentes doutrinas e credos, essas doutrinas e credos não deixam de ser desenvolvimentos das duas Doutrinas Fundamentais. Qualquer elucubração teológica gnóstica é um desenvolvimento, quer seja lógico-intelectual, quer seja vivencial-experimental, desses dois pressupostos doutrinários. Esses pressupostos delimitam um espaço, um contorno que, ainda assim, permite que diferentes Igrejas sejam coloridas com diferentes tonalidades teológicas doutrinárias, de acordo com a Assembleia que as compõe e daqueles que as presidem. Nesse sentido, existem Igrejas afinadas com tradições gnósticas mais otimistas, mais pessimistas, mais cátaras, mais arianas, mais valentinianas, mais sethianas, mais joanitas, mais cavaleirescas, mais platônicas, mais pagãs, mais…, mais…

Quanto à E.G.A.L., ela perpetua a memória da Tradição Cristã Prístina em seu molde místico-gnóstico otimista e o ministério sacerdotal, em conformidade com a Ordem de Melquisedeque, dos Sacramentos da Sacrossanta Gnose e das Liturgias Esotéricas. Desse modo, demarca-se o lugar e a forma a partir dos quais a Tradição da Igreja Gnóstica manifesta-se no seio da Assembleia. Há uma influência fundamental que permeia todo o modo da E.G.A.L. lidar com as matérias religiosas e espirituais: o rosacrucianismo. Referenciada como a Igreja dos Iniciados, a E.G.A.L. é legítima herdeira de uma fórmula iniciática rosacruciana bastante especial e conserva uma postura que é contaminada com esse “vírus” libertador. Outras influências relevantes podem ser encontradas nas Antigas Observâncias, na Teurgia Cristã, na teologia gnóstica Sethiana e Ofita, na estrutura da igreja cátara, na concepção Joanita da Tradição Cristã das Ordens de Cavalaria heréticas, na alquimia rosacruciana, na tradição hermética renascentista, na sucessão velho-católica e do catolicismo liberal e no desenvolvimento da historicidade do movimento gnóstico no geral e da Igreja Gnóstica Francesa em particular.

35. O que pretende a Doutrina da Emanação?

A Doutrina da Emanação insere as Igrejas Gnósticas dentro da milenar Tradição do Cristianismo Prístino Herético-Esotérico. Junto dela, sempre presente nos diferentes momentos históricos através de diversos de movimentos Místicos, Heréticos e Esotéricos, encontramos a Cadeia Dourada de Instrutores que ligam a Tradição à expressão Prístina do Cristianismo e, conforme a tradição arcana, também anterior ao próprio Cristianismo.

Desde uma perspectiva criacionista, a criação da Terra é engendrada por um Criador que, para tanto, faz uso da matéria disponível por ele também criada para gerar algo fora de Si-Mesmo. Desse modo, nesse modelo de cosmovisão, há determinada descontinuidade entre Criador e criatura. Na perspectiva do emanacionismo, a essência ou a luz da entidade que deseja se manifestar em um plano inferior é projetada para esse plano. Em decorrência desse processo, sendo envolvida pela natureza do plano inferior, a parte projetada ganha individualidade, muitas vezes uma forma nova de consciência, ainda que mantenha a essência da Entidade-Fonte. Desse modo, concretiza-se o grande mistério que é a Unidade essencial que perfaz a existência dos mais diferentes seres.

36. O que pretende a Doutrina da Salvação pelo Conhecimento?

Por sua vez, a segunda das doutrinas, a “Doutrina da S.G.”, relaciona-se com a possibilidade da compreensão espiritual profunda por uma via Mística direta. Ela insere as Igrejas Gnósticas dentro da Tradição, também milenar, da possibilidade da iluminação através da experimentação direta do próprio Logos.

A E.G.A.L. não se posiciona contrariamente às diferentes expressões da fé. Entretanto, a fé reconhecida como válida para o movimento gnóstico se afina mais com a fé na própria experiência, um tipo de lealdade duradoura sentida em relação à experiência de conhecimento interior própria. Essa é uma das razões da experiência gnóstica ser considerada libertadora. Ainda que a Doutrina Fundamental diga respeito à salvação, tenhamos em mente que a salvação gnóstica muito mais se aproxima da concepção que hoje temos acerca de um processo de libertação. A salvação não é pensada como um processo necessário à condição do pecado original, mas necessário à ignorância em relação à qual o pecado e o mal são consequência.

É importante, contudo, não se entender “Conhecimento” como uma apreensão meramente racional, mas sim conferir a essa palavra seu verdadeiro sentido metafísico, isto é, a de uma apreensão intelectual (no sentido neoplatônico) ou intuitiva das Verdades Eternas. De igual maneira, mostra-se igualmente relevante não se entender “experiência” como algo puramente emocional, concernente às vagas astrais às quais os seres humanos estão sujeitos, mas à experiência noética ou intelectual, na sua acepção neoplatônica. Essa mesma experiência pode ser considerada como advinda do “intelecto intuitivo”, mas, aqui, também é importante não se confundir intuição com a impressão vaga e puramente emocional (astral) que usualmente se atribui a essa palavra. Enfim, não se trata de uma experiência de cunho sentimental, mas legitimamente “gnóstica”.

37. Qual a diferença entre Ecclesia e Igrejas?

A Ecclesia é uma emanação, um Éon e um estado de comunhão de corações afins. A principal característica da Ecclesia sempre foi a de ser Católica, ou seja, Universal. Sendo composta por todos aqueles, visíveis ou não, que receberam o Sacramento do Batismo, a Ecclesia se manifesta universalmente por meio de diferentes células e corpos.

Embora muitas dessas células e corpos declarem não possuir um conhecimento de orientação esotérica e não explicitem a existência dessa possibilidade de conhecimento e experimentação religiosa, uma vez que ministram os Sacramentos, as diferentes Igrejas são sempre mágicas (ou melhor, teúrgicas) no modo como atuam.

A Ecclesia não é composta apenas pelos visíveis, mas também pela atuação da Comunhão dos Santos e de toda uma corte angélica, eônica e de outras potências espirituais.

38. Existe alguma outra doutrina típica das Igrejas Gnósticas que seja meritória de ser considerada?

Sim, a da centralidade do culto ao divino feminino.

39. Qual o Símbolo Religioso (Credo) da E.G.A.L.?

Creio em um só Deus Inefável e em Seu Sacramento-Fonte, o Logos, Cristo e Sophia, Flor do Pleroma e Alma do Mundo.

Creio na Ecclesia, Una, Santa, Católica e Indivisível, em sua antiguidade e na Fraternidade entre os homens.

Creio na Teurgia dos Sacramentos e nas duas Doutrinas Fundamentais da S.G.

(Libri I.N. e R.I.)

40. Como uma Igreja Gnóstica pode arrogar-se possuidora de um Símbolo Religioso? Tal característica não contradiz as premissas fundamentais da experiência gnóstica?

A experiência gnóstica pode produzir compreensões espirituais profundas, mas ela pressupõe a liberdade da experiência mística amadurecida. Dito de outra maneira, a experiência gnóstica independe de qualquer dogma e de qualquer Símbolo. Ela é fruto da aproximação com o Divino e é muito maior do que se pode expressar de maneira racional (afinal, ela é fruto do Intelecto, de Nous, ou, numa expressão de uso mais corrente nos tempos atuais, do intelecto intuitivo). A Sabedoria é livre e não pode ser confinada pelas tradições. Ainda assim, a E.G.A.L. em particular e as Igrejas Gnósticas em geral possuem dois dogmas. Isso faz parte da herança que posiciona a tradição em uma linha dourada de continuidade tradicional. A E.G.A.L. pretende que sua Assembleia esteja de acordo com esses dogmas sem que se preocupe em pregá-los. A Assembleia deve ser composta por pessoas que encontraram, em seus próprios corações e vivências, a validação interior necessária acerca desses temas. Ademais, como não poderia deixar de ser, a E.G.A.L. detém um Magistério Pastoral, emanado da Tradição Prístina. Em outras palavras, uma vez que é preciso haver ensinantes ou docentes dos mistérios, cabe aos seus Sacerdos a tarefa magisterial de guiar aqueles desejosos de aprender nos caminhos da Sacrossanta Gnose.

[1] Caminhância é um neologismo empregado no seio da Igreja na falta de uma palavra que expresse essa mesma noção no léxico da Língua Portuguesa.

Catecismo Gnóstico E.G.A.L./E.GRAAL 02 – Cosmovisão
COSMOVISÃO

41. Da perspectiva da E.G.A.L., qual a origem do mal?

O molde místico-gnóstico otimista que orienta a perspectiva teológica da E.G.A.L. não compreende o mal como estando intrinsecamente ligado a matéria. Desse modo, tanto o corpo quanto a matéria não são condenados. Aliás, mesmo o cristianismo tradicional (isto é, não gnóstico) tem essa mesmíssima visão, como o atestam as epístolas de Paulo, de sorte que qualquer atribuição de um caráter maligno, diabólico ou completa e irremediavelmente maculado à matéria é uma distorção da mensagem cristã original.

Em suma, para a Tradição, a ignorância é a fonte do mal.

42. E qual a raiz da ignorância?

A fonte da Ignorância é a ausência da Gnose.

43. Qual o papel da Regra dentro de um caminho caracterizado pela Liberdade?

Conforme a compreensão da E.G.A.L. a respeito do Caminho, ele é primeiramente caracterizado pela liberdade. Em segundo lugar, pela iluminação. Entre uma característica e outra, a escolha. Sem regra, contudo, não há cooperação e, sem a cooperação entre seus diferentes órgãos e células, a Ecclesia não se manifesta. Por isso, a Assembleia se submete à regra, sempre de maneira reflexiva e livre. “A letra mata, mas o Espírito vivifica” (2 Cor 3:6).  Também é por esse motivo que pessoas que não estejam completamente cientes da escolha que estão fazendo não são trazidas para a Igreja.

44. Como a Liberdade se relaciona com a Gnose?

Muitas vezes, a natureza serviu à humanidade como uma importante fornecedora das respostas necessárias à sobrevivência. Isso se refere às propensões instintivas que, diante das mais diversas necessidades, fornecem ao homem um repertório comportamental eficiente para o enfrentamento das mais diversas situações e adversidades. Contudo, a consciência humana se consolidou quando o homem se afastou e se opôs aos instintos, ou seja, se afastou e se opôs à natureza e à perpetuação das respostas-prontas que eram por ela fornecidas. O afastamento do homem da esfera do instintual produziu incertezas na justa medida em que produziu a possibilidade de que caminhos divergentes pudessem ser percorridos. A consciência, então, foi investida da pesada obrigação de proporcionar o que a natureza até então concedia a seus filhos: decisões seguras, inquestionáveis e inequívocas. Quando a consciência emerge, o homem tenta e opera contra a natureza, comete o pecado original e passa a não mais estar preso aos ditames naturais. Isso não significa, entretanto, que o homem se apartou definitivamente da natureza, mas que, possuindo o conhecimento dos deuses, conscientia peccati, o homem passa a ser responsável por suas próprias escolhas e a precisar lidar com a possibilidade do erro – coisa para a qual ainda não estava preparado e na qual, ainda hoje, engatinha. Não tardou muito para que a humanidade procurasse se abrigar em diferentes culturas e, consequentemente, em diferentes mores, com o intento de nelas encontrar respostas-prontas que pudessem se substituir àquelas que eram provenientes da natureza. Desgarrar-se da confortável adesão à mentalidade coletiva é um exercício necessário que muitas vezes confunde por sua semelhança com “atentados” contra a comunidade. Contudo, agindo dessa maneira, o homem obriga-se a novamente estar aberto à possibilidade de errar e, apesar de toda a incerteza, torna-se capaz de sentir a solidez do que existe e a continuidade de seu Ser, tal como ele é. Da perspectiva iniciática e gnóstica, os homens são questões colocadas ao mundo e devem fornecer suas próprias respostas, afinal, caso contrário, estariam reduzidos às respostas que o mundo lhes der.

45. Qual a origem da Liberdade?

Na teologia da Igreja do Graal, a Verdade e a Liberdade são apresentadas como provenientes da LUZ que, por sua vez, também possui uma conotação bastante especial.

46. Qual, então, a origem da Luz?

A Luz é produzida a partir do encontro, em um mesmo Logos, do CRISTO e da SABEDORIA – do AMOR e da VIDA. É por essa razão que um ditame tradicional rememora de que, na Ecclesia, encontra-se tanto a Verdade do Amor, aquilo que une a Assembleia, quanto a Liberdade, que é provida pela Sabedoria da Vida Eterna.

47. O que pode ser dito a respeito do arcano da presença da Luz no quadro geral do cosmos?

O encontro de Cristo, o grande agente ígneo cujas amorosas chamas unem e ordenam em um todo harmonioso todos os elementos do universo, com Sophia, a vida universal ou a Anima Mundi, que penetra e anima todos os elementos desse mesmo universo, demarca a formação da LUZ DO MUNDO, a manifestação do Logos no Reino outrora simbolizada pela Estrela da Manhã.

48. E o que pode ser dito a respeito do arcano da presença da Luz no quadro particular do homem?

Por sua vez, no quadro particular do homem, o encontro do Amor com a Vida também pode manifestar Luz – desta vez, é claro, trata-se da LUZ DA SACROSANTA GNOSE, justamente a Luz cujo (re)conhecimento exige que o homem experimente e assimile aquilo que está “diante de sua face”, como dito em Tomé: “Conheça o que está diante de sua face, e o que está oculto para você ser-lhe-á revelado. Pois nada há oculto que não seja revelado”. Acresça-se que essa mesma mensagem também se encontra nos Evangelhos canônicos ou “não apócrifos”: Mt 10:26; Mc 4:22 e Lc 8:17.

49. Como se relacionam o tema do quadro particular do homem com o da natureza do mal?

A ausência da Luz da Gnose refere-se à ignorância – a fonte do Mal. Em grande parte dos mitos gnósticos, a atitude de “escondê-la no fundo do ser” (esquecê-la?), ou seja, de evitar o (re)conhecimento da existência da Alta Invisibilidade, é justamente a atitude tipificada como sendo a do tolo Demiurgo. Destaque-se a sutileza: a Luz jamais poderia deixar de estar presente no quadro geral do cosmos sob pena da dissolução da harmonia universal que sustenta o Reino; o “problema” da ausência da Luz, ou o “problema” da existência da ignorância, é um “problema” somente a ser resolvido no quadro particular do homem. Nos Evangelhos canônicos, a fonte do Mal é referenciada de maneira velada na Parábola da Luz do Mundo, na qual Yeshu adverte para que não se esconda a candeia debaixo do alqueire (Mt 5:13-16; Mc 4:21-25 e Lc 8:16-17).

50. Há semelhança entre a concepção do mal como a ausência da Luz da Gnose e a doutrina ortodoxa do mal como a ausência do bem?

De forma alguma. A doutrina da privatio boni propõe que a origem do mal é encontrada na ausência do Bem que, por sua vez, é supremo (Summum Bonum). Também não há ponte alguma a ser estabelecida entre a concepção do Mal como a ausência da Luz da Gnose e as doutrinas dualistas do maniqueísmo.

51. Mas não se poderia considerar que a ausência do bem e a ausência da Luz da Gnose seria duas maneiras diferentes de explicitar a mesma ideia?

Não. A doutrina ortodoxa vê o mal como algo externo à criação, um acidente em nada relacionado a Deus. Já o Gnosticismo vê o mal como um elemento intrínseco à criação fenomênica, sempre alicerçada em dualidades contrastantes, sendo a dualidade primordial aquela do bem e do mal. Contudo, ela se diferencia do maniqueísmo em virtude da sua visão monista da Realidade, isto é, enxerga na Realidade numênica, absoluta e incognoscível a pura unidade onde não há espaço para a dualidade. Desse modo, em certo sentido, a visão gnóstica assemelha-se ao Advaita Vedanta, filosofia hindu que vê, nas dualidades fenomênicas, tão somente uma ilusão cósmica ou Maya.

52. Como se acessa a Luz da Sacrossanta Gnose?

A Luz da Gnose é proveniente do relacionamento íntimo do homem com o Logos presente tanto no universo que o circunda quanto em seu interior. O Logos é o pórtico de entrada para os demais Éons que, como diriam os hermetistas, são acessíveis somente àqueles que alcançaram a Sabedoria do Oitavo Céu. De uma maneira bastante simplificada, a E.G.A.L. questiona a sua Assembleia: o Logos está aqui, nós estamos aqui, o que mais poderia ser necessário?

53. A E.G.A.L. enfatiza alguma perspectiva a respeito das diferenças entre os homens, tal como no gnosticismo histórico e em diferentes expressões contemporâneas da Igreja Gnóstica?

A E.G.A.L. considera a diferenciação da humanidade em seres hílicos, psíquicos e pneumáticos. Ela se distancia, entretanto, da estreita e escravizadora concepção que encontra nessa mesma divisão uma separação fatalista regida pelo destino e que a utiliza para sobrepor o poder de alguns em detrimento dos demais. Desse modo, sustenta que os homens hílicos são aqueles indivíduos que não despertaram para o Caminho e, da perspectiva tradicional, cujas vidas são sobremaneira regidas pelas redes poderosas dos Arcontes. Os homens psíquicos, por sua vez, são aqueles que despertaram e estão no Caminho. A respeito dos pneumáticos, os homens que diretamente experimentam a regência e a vida dos Éons,eles não estão mais no Caminho como os psíquicos, mas se tornaram o Caminho. Essa transposição, talvez o maior Mistério da Iniciação, demarca a importante passagem do estado de Chrestes (viajante) para o de Christos (caminho), a passagem do Saber para o Ser.

54. O que é o Logos?

A Tradição Arcana tem para si que todos os Éons foram emanados de uma mesma origem, que constitui, por si mesma, o Logos-Verbo-Criador de todo o universo manifesto. O tradicional nome IAO ABRAXAS é empregado para se referir ao Logos como o conjunto de suas diferentes expressões-emanações.

A E.G.A.L. é portadora de um importante arcano e sustenta que o Logos pode ser experimentado como um Ser e como um estado de Ser, bem como que pode ser penetrado no sentido de ser vivenciado como um Lugar – o próprio Pleroma. O Logos manifesta-se por meio de diferentes emanações, consideradas simultaneamente como Éons-Seres e Éons-Lugares e que, experimentados por meio da “caminhância”, aproximam o homem da Fonte. Cristo, sempre em conjunção com sua Sizygia, Sophia, é chamado de a “Flor do Pleroma”. Quer seja pela aproximação com o princípio-fonte, quer seja pela aproximação com o desenvolvimento último do processo emanatório, a Flor do Pleroma, o destino final da humanidade é sempre o mesmo. O Logos é Alpha & Ômega, o princípio e o fim, e também todo o caminho que flui de um desses pontos ao outro, de maneira a não mais existir diferença entre um e outro. É nesse sentido que, nos Santuários, realiza-se a Invocatio Lucis (Invocação da Luz) referindo-se a IAO, Kyrie Sabaoth, Abraxas, Sar-Ha-Olam, Chistos, L-Sophia, Alpha et Ômega… A humanidade precisa retornar à condição e ao lugar de origem.

Quando se menciona o Logos como Criador, há uma aproximação com a ideia de que a organização do mundo se deve a um Artífice distinto do Deus Inefável, mas Dele emanado. Sendo uma Mônada indivisível e possuidora de atributos incomunicáveis, Deus é o UM INEFÁVEL. A Criação, por conseguinte, não poderia vir diretamente Dele, mas somente seria possível a partir de uma primeira emanação que a filosofia platônica chamou de Duas. O Filho é o Instrumento-Demiurgo da criação, sendo a Fonte dos mundos e dos seres e ocupando um lugar intermediário entre o Inefável e a Criação. O Logos relaciona-se com o princípio primordial por detrás de toda a manifestação, sendo que o significado esotérico da palavra Logos é a representação em expressão objetiva, como em uma fotografia, do pensamento oculto. Assim, o Logos é o espelho refletindo a Mente Divina, e o Universo é o espelho do Logos, embora este último seja o “esse” [ser] daquele Universo.

No Apócrifo de João, narra-se que o Espírito, o Deus Inefável, bebeu da água-luz do poder da vida e, pelo poder do pensamento, emanou Barbelo, sua contraparte feminina. Entre o Espírito e Barbelo irradiou-se pura luz e, dela, uma faísca denominada Autogenes, o Cristo. Autogenes preserva a androgenia e, de si, emana quatro ajudantes chamados Luminárias: Harmozel, Oroiael, Daveithai e Eleleth. Por sua vez, cada uma das quatro Luminárias emanou quatro novos seres, sendo a Sabedoria a última emanação de Eleleth. O mito narra como Sophia emanou de si uma criatura imperfeita e feia, com corpo de serpente, cara de leão e olhos de fogo: Ialdabaoth, o Demiurgo. Depois de emanado, Ialdabaoth é lançado para fora do Pleroma e escondido por uma espessa nuvem que, logo, é superada e rompida. Nesse processo, doze Arcontes são por ele emanados, bem como o reino material emerge. Em um determinado momento, Ialdabaoth vê a imagem do Espírito refletida nas águas materiais e, com o que compreendera em sua ignorância, engendrou a forma humana. Por sua vez, compadecida pela criatura sem vida recém-engendrada, bem como seguindo as orientações do Espírito e de Barbelo, Sophia sopra em Adão, dando-lhe o espírito de vida. Ennoia, uma das quatro emanações de Deveithai, é então enviada para auxiliar a humanidade, que, tendo superado Ialdabaoth em sabedoria, mas não em poder, já não tinha mais lugar junto ao pretensamente paradisíaco Éden.

Olhando para essa narrativa, no Espírito e em Barbelo encontra-se o Monas Inefável. Autogenes é, por sua vez, o Logos-Fonte a partir do qual as Luminárias e todos os demais Éons foram emanados. Do último dos Éons, Sophia, é emanado Ialdabaoth, bem como a espessa nuvem que dará origem aos Arcontes que regem a materialidade e a própria substância material. Uma vez que a matéria é reorganizada pelo Demiurgo, Sophia se insere na criação fornecendo a Vida.

A E.G.A.L. propõe o entendimento de Ialdabaoth como um instrumento do próprio Logos e, dessa maneira, se preserva de ser aprisionada na perspectiva pessimista condenatória que vê a humanidade presa na materialidade.  Essa via mais otimista, bem como a ideia central do casamento da Sabedoria-Vida com o Cristo-Amor, dá sentido à afirmativa de que a Luz da Sacrossanta Gnose se manifesta, no mundo, como a Luz do Mundo. Ennoia, o Éon do Pensamento Iluminado, se aproximou em auxílio da humanidade.

O Livro da Sabedoria esclarece que Sophia é um “eflúvio do poder de Deus, uma emanação puríssima da glória do Onipotente (…). Pois ela é um reflexo da LUZ ETERNA, um espelho nítido da atividade de Deus, uma imagem de Sua bondade. Sendo uma só, tudo pode; sem nada mudar, tudo renova e, entrando nas almas boas de cada geração, prepara os amigos de Deus e os profetas; pois Deus ama só quem habita com a L-Sabedoria” (7:25-28). Enquanto Anima Mundi, Sophia envolve o corpo do mundo e constitui toda a abóboda celeste.

No século XVII, Heinrich Khunrath apresentou Sophia como a mediadora do casamento alquímico que deve acontecer entre o Cristo e o homem. Mais tarde, Jacob Boheme viu nela a Luz que jorra das sombras no momento em que Deus se revela (embora a entendesse como o próprio Cristo). Virgem Celeste, ela aparece no primeiro instante da Criação e constitui o espelho no qual a Divindade se contempla. Louis-Claude de Saint-Martin considerou que Sophia participa da unidade divina, integrando as leis da criação e constituindo o espelho no qual a imaginação de Deus se reflete e se expande. Para o Filósofo Desconhecido, retomando o pensamento de Jacob Boheme, Cristo se revestiu primeiramente de um corpo glorioso para se projetar no espelho da Eterna Sabedoria, depois se fez carne no seio de Maria que, em virtude da virgindade de alma, era, de certa forma, equivalente a Sophia, ou seja, seu similar humano.

Um arcano importante é a apresentação de Sophia como redentora. Cristo, então, torna-se o redentor da redentora. Seja como for, a importância de Sophia é tamanha dentro da Tradição que ela é pensada como uma terceira doutrina fundamental da Igreja Gnóstica. Não há Igreja Gnóstica sem a sacrossanta presença do culto ao feminino divino.

Note-se, aliás, que esse mistério, embora não revelado explicitamente como aqui, encontra-se oculto na difundida compreensão de Maria como corredentora, a qual ainda não recebeu o status de dogma, mas conta com a aprovação de praticamente todos os doutores e santos antigos e modernos da Igreja de Roma.

55. O que é a Ecclesia? Como a Ecclesia se relaciona com o Logos?

A Ecclesia é teologicamente proposta como o Corpo Místico de Cristo, como sua Esposa ou Sizygia, bem como uma forma de Theotokos. Como Esposa e Sizyagia de Cristo, na Ecclesia encontra-se a presença concentrada de Sophia. Isso não significa que Sophia também não esteja presente fora da Ecclesia; mas que, mesmo Sophia sendo imanente à Criação, sua presença é concentrada na Ecclesia. Isso é importante, uma vez que representa uma grande abertura no que se refere às possibilidades vivenciais dentro da Ecclesia que, ao mesmo tempo, não ignora a possibilidade de que tais vivências possam ocorrer também fora da Ecclesia. Outra ponta deste mistério encontra-se no papel atribuído a Maria pelo cristianismo “não gnóstico”, visto que ela é também igualada à própria Ecclesia (Apoc 12) e à Arca da Aliança do Antigo Testamento (2Sm 6:2 c/c Lc 1:39).

Na mística hebraica, SHEKINAH é a Presença Divina em Malkuth (Reino). Shekinah, facilmente comparada à Sophia Achamoth (Sophia que decaiu/cindiu do Pleroma e está presente na materialidade), habita o Santuário dos Santuários do Templo, mas, não por isso, deixa de também se fazer imanente em todo o Reino.

Na Kabbalah, METATRON é o aspecto ativo de Shekinah e ocupa um lugar em relação a Shekinah que me remete ao conceito gnóstico de Sizygia. Dito de outra forma, alguns cabalistas consideram Metatron como a contraparte espiritual que complementar de Shekinah e, nesse sentido, Shekinah-Metatron formam uma Unidade. Existe pouco consenso acerca da origem do nome Metatron. Interessantemente, alguns afirmam ser uma derivação de Mithra. Ele também aparece como Anjo do Senhor e como Alma do Messiash – conceito semelhante ao do Espírito Recorrente Octonário, Hely. A ele, são atribuídos os títulos de SAR-HA-HOLAM, Príncipe do Mundo; SAR-HA-OAM, Anjo da Paz; KOHEN-HA-GADOL, Grande Sacerdote; SAR-HA-GADOL, Príncipe da Clemência ou da Cavalaria Celeste; e SAR-HO-PANIM, Príncipe das Faces. Como Príncipe do Mundo, foi assimilado com Samael, uma de suas Faces escuras. Como Príncipe da Cavalaria, foi assimilado com Mikael, uma de suas Faces claras. Como Grande Sacerdote, foi assimilado com Melquisedeque.

Metatron, principalmente devido à sua estreita ligação com o Livro de Enoque, também é muito associado ao Esoterismo, ao Cristianismo Oculto e às figuras angélicas que trouxeram a Luz do Conhecimento para a humanidade, que carecia em miséria. Torna-se claro como, tratando-se de Metatron, é bem acertado o título de Sar-Ho-Panim. Ainda cabe a consideração de que, quando Metatron é unido com Shekinah, sua contraparte mais próxima da materialidade, depara-se com a mesma ideia que perpassa a concepção do Duas – do Logos.

É no mínimo interessante a próxima correlação existente entre os pares de Shekinah com Metatron e Sophia com Cristo. Em ambos os pares, depara-se com seres essencialmente femininos que habitam imanentemente a criação material – a Natureza Visível e Invisível (Anima Mundi, ou Alma do Mundo). Também em ambos os pares, depara-se com seres essencialmente masculinos, um pouco mais afastados da criação material, que complementam suas contrapartes materiais. Da reunião dos pares, ou seja, da reunião da matéria visível-invisível com o espírito, em ambos os casos se tem a mesma FONTE-PRINCÍPIO, ou seja, o Logos.

Os Evangelhos estabeleceram fortes paralelos entre Cristo e Sofia: quando Cristo faz uso do pão e do vinho, ecoa o chamado de Sophia: “vinde comer do meu pão e do vinho que misturei” (Pr9,5), e na última ceia, em seu chamado para comerem de seu corpo e beberem de seu sangue, ecoa o chamado de Sophia em Sirácida (Eclesiástico): “vinde a mim, vós que me desejais, comei e saciai-vos da minha safra… aqueles que de mim comerem nunca mais terão fome, aqueles que de mim beberem, nunca mais terão sede (Eclo 24:19,21). O próprio Paulo equipara Cristo e Sophia, chamando Cristo de “a sabedoria de Deus” (1 Cor 24). Sophia, então, é o mesmo que Logos, o princípio de consciência, o “eu” transcendental que tem a experiencia do mundo em nós e por nosso intermédio. Esse paralelo era explícito nos primeiros anos do Cristianismo. O historiador da Igreja, Eusébio, do século IV, escreve: “na verdade, este é um Ser vivo, que existia antes do mundo, e assistia ao Pai e ao Deus do universo à imagem do qual tudo foi criado, ou seja, a Palavra e a Sabedoria de Deus”. Porém, mais tarde, a identificação do Logos com Sofia ficou oculta e praticamente se perdeu. O Logos passou a ser sempre mais identificado com o Jesus histórico que era do sexo masculino. Consequentemente, acreditava-se de que a Sophia feminina tinha que ser algo diferente – mas o que era exatamente se tornou cada vez menos claro, e Sophia acabou se tornando uma figura sombria.

Alguns mitos gnósticos unem explicitamente o consorte de Sophia a Cristo. Em outro texto, o Pistis Sophia, é o Cristo que possibilita a libertação de Sophia. Nesses contextos, as duas figuras míticas significam dois impulsos profundos na consciência. Sophia representa a parte propensa a imergir no mundo e a ser subjugada por ele, a parte que se rende indiscriminadamente à sua própria experiência; por essa razão, alguns gnósticos a chamaram Sophia Prunikos: Prostituta Sabedoria. Cristo, em contraposição, é a parte que permanece livre e possibilita a total libertação por meio da gnose. Nesse ponto, os gnósticos diferem da tradição esotérica convencional, que equipara Cristo ou o Logos a Sophia, e na qual o descenso de Cristo não é uma queda, mas um ato redentor. Mesmo assim, certos textos gnósticos representam o aspecto dual da consciência residindo na própria Sophia. No texto Nag Hammadi conhecido como The Thunder: Perfect Mind, uma figura sem nome, que evidentemente é Sophia, proclama: “eu sou o conhecimento e a ignorância”. Portanto, a consciência primordial contém, ao mesmo tempo, o impulso em direção à sua própria queda e à própria libertação. Seu movimento dual – interno, em direção a unidade, e externo, em direção a manifestação – fornece e impulsiona a essência do cosmo.

Retomando a consideração de que, na Ecclesia, encontramos a presença concentrada de Sophia, soma-se a seguinte afirmação doutrinária: quando duas ou mais pessoas se reúnem em nome de Cristo, Cristo faz-se presente – ou seja, Cristo manifesta-se quando a Assembleia se reúne na Ecclesia. Ou, partindo de outro ângulo, durante os Sacramentos e as celebrações litúrgicas, o Sacerdote perfaz o Ministério de Cristo – ou seja, durante os Sacramentos e Liturgias, o Sacerdote manifesta a presença de Cristo. Em ambos os casos, uma mesma constatação torna-se nítida: na Ecclesia, Cristo e Sophia fazem-se presentes.

56. Por qual razão a letra L as vezes é posta diante de alguns nomes na E.G.A.L.?

Na Tradição encarnada na E.G.A.L., em textos escritos, muitas vezes há a letra L antes dos nomes de Cristo e Sophia. O L demarca a compreensão típica da Doutrina Emanacionista de que L-Cristo e L-Sophia, assim como uma infinidade de outros Seres Espirituais que podem ser concebidos, acessados e vivenciados, são expressões distintas de uma mesma fonte-origem. Ainda que se escolha o L, esse mesmo conceito também poderia ser bem expresso através de nomenclaturas diferentes, dentre as quais o nome sagrado de IAO ABRAXAS. Abraxas, ora visto como o nome de Deus, como Demiurgo, como Arconte, como Eon ou como Governante das diferentes Emanações Pleromáticas, denota de maneira muito especial a unidade do Logos (L) presente na multiplicidade emanacionista dos Seres e das Realidades. Outras nomenclaturas, tal como a do Pleroma, dão ao Logos o sentido de ‘Lugar’ e de ‘estado de Ser’, e isso também deve ser observado.

57. O que é dito a respeito da importância do encontro das partes?

De acordo com a tradição da Igreja do Graal, a Luz da Sacrossanta Gnose, o hálito espiritual que nutre a nossa alma e a protege do mal da ignorância, refere-se ao produto do casamento divino do Amor ígneo de L-Cristo com a Vida aquosa de L-Sabedoria. Essas considerações são mais do que apenas elocubrações simbólico-mitológicas, mas, na realidade, velam por um arcano prático de nossa Tradição. Como um sinal externo desse processo, os membros da Igreja costumam ter, ao menos uma taça com água e uma chama acesa em seus santuários domésticos.

Catecismo Gnóstico E.G.A.L./E.GRAAL 03 – Sacramentos
SACRAMENTOS

58. O que são os Sacramentos?

Tal como para a perspectiva ortodoxa (“não gnóstica”), a E.G.A.L. sustenta a compreensão teológica de que os Sacramentos são sinais que tornam o invisível visível; sinais visíveis que tornam uma Graça possível ou, ainda, sinais visíveis da própria Graça.

59. O que é a Graça?

Graça é um dom universal, o socorro gratuito que Deus dá aos homens para que possam ser capazes de agir por amor d’Ele, de modo a satisfazer as necessidades, quer sejam espirituais ou materiais. Há determinada similaridade entre a ideia da ação divina por meio da Graça e a prática do Melhorament cátaro. É a Graça que permite ao homem ser participante da natureza divina, da Vida Eterna e, da mesma perspectiva ortodoxa, ela é dividida em quatro tipos. A Graça Santificante é aquela que foi legada pela Paixão de Cristo, é dada no Batismo e atua pelo aflorar dos Dons do Espírito Santo. A Graça Atual, ao seu tempo, é a intervenção divina na vida do homem, como na situação de uma verdadeira conversão religiosa por meio de uma experiência pessoal. A Graça Sacramental se reflete nos dons recebidos pelo cristão por meio dos Sacramentos para ajudar em sua salvação ou, na perspectiva gnóstica, em sua libertação. Por fim, a Graça Especial, também chamada de Carisma, é aquela que é dada ao homem pelo Espírito Santo para o serviço da Igreja. Nesse particular, embora haja uma só Graça Especial ou Carisma, ela se manifesta numa multiplicidade infinita de expressões, motivo pelo qual se fala em “diversidade de Carismas”. Cuida-se justamente da ideia que Paulo expressou quando disse que “há diversidade de carismas, mas o Espírito é o mesmo; diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos” (1 Cor 12:4-6).

60. Por que a Natureza é tida como o Sacramento da Alma do Mundo?

Uma vez que os Sacramentos são sinais que tornam o Invisível visível, ou sinais visíveis que tornam uma Graça possível, o alhar atento pode neles encontrar procedimentos essencialmente mágicos que estão fundamentados na utilização nem sempre consciente das Leis Universais da Criação (Leis de Logos). Nesse sentido, partindo do entendimento de que L-Sophia foi a grande Artesã do Universo, enxerga-se na Natureza (visível e invisível) o Seu maior Sacramento. Ou, ainda, enxerga-se nas diferentes manifestações da Graça presentes na Natureza os seus Sacramentos. A esse respeito, no evento da celebração da Missa, não estaria a Natureza muito bem representada no pão e no vinho? A teologia sacramental gnóstica propõe a Natureza e a VIDA, a qual nela subjaz como o Oitavo e, paradoxalmente, mais oculto Sacramento. Conforme a tradição hermética, a Sabedoria habita o Oitavo Céu.

61. O que é o Sacramento-Fonte?

L-Cristo é teologicamente o Sacramento-Fonte dos demais Sacramentos – sinais visíveis da Graça que, embora também tenham uma origem comum no Logos, complementam e buscam formar uma unidade com o Sacramento de L-Sophia – ou seja, com a Natureza e com as Graças naturalmente nela manifestas. As manifestações espirituais (sinais visíveis) que complementam as manifestações da Graça naturalmente visíveis na Natureza (Sacramentos de L-Sophia) são os Sacramentos de L-Cristo… Os Sacramentos por meio dos quais o seu AMOR por nós age sobre a nossa VIDA, de maneira que o homem se torne capaz de agir a partir do Amor de Deus.

62. Há uma compreensão particularmente gnóstica a respeito dos Sacramentos?

A teologia sacramental gnóstica não contradiz a ortodoxa, mas, em certo sentido, soma-se a ela e a aprofunda ao olhar para as mesmas questões ministeriais sob uma diferente cosmovisão. A E.G.A.L. associa a cada um dos Sacramentos, por exemplo, um EU SOU anunciado no Evangelho de João, com uma Igreja apresentada no Apocalipse de João e com um Planeta do Hermetismo. Compreende-se que tais associações são tão importantes que se tornou costume nomear os Sacramentos pelo nome de seu planeta correspondente. Convém notar que EU SOU não se resume apenas a uma afirmação ontológica, mas ao próprio nome do Deus dos hebreus revelado a Abraão: IHVH ou EU SOU O QUE SOU.

63. Quais são essas correspondências planetárias e joanitas?

BATISMO DA ÁGUA

SACRAMENTO LUNAR

EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA

COMUNHÃO

SACRAMENTO JUPTERIANO

EU SOU O PÃO DA VIDA

BATISMO DO FOGO E CONFIMAÇÃO

SACRAMENTO MERCURIAL

EU SOU A VIDEIRA VERDADEIRA

MELHORAMENTO E PREPARAÇÃO

SACRAMENTO MARCIANO

EU SOU O BOM PASTOR

MATRIMÔNIO E CÂMARA NUPCIAL

SACRAMENTO VENUSIANO

EU SOU A PORTA DAS OVELHAS.  

ORDEM

SACRAMENTO SOLAR

EU SOU A LUZ DO MUNDO

UNÇÃO PLEROMÁTICA E EXTREMA UNÇÃO

SACRAMENTO SATURNINO

EU SOU A RESSUREIÇÃO E A VIDA


64. O que é o Batismo?

O Batismo é o SACRAMENTO LUNAR e está proximamente relacionado a Gabriel, o “Anjo” da Anunciação. A Tradição Rosa+Cruz ensina que ele age de maneira muito importante no Corpo Lunar. Evidentemente, aqui se tangenciam os Mistérios Marianos, um reflexo, na Terra, dos Mistérios Sofiânicos. Maria, diante de Deus e da possibilidade da Sua Graça manifestar-se nas vidas dos homens, sempre foi tida pela Tradição Católica Joanita como a GRANDE MEDIADORA capaz de interceder por todos. O corpo sutil lunar também é referido sob o nome de corpo astral ou envoltório plástico.

A Arte do Sonho, também chamada de Arte do Desbravamento, é o primeiro dos Reconhecimentos do Discípulo. A humanidade está destinada a desbravar o mundo astral. Mesmo o Homem sendo originário do Mundo Celeste, hoje, caído, ele atua em uma realidade com a qual ainda não está habituado. Adão não se recorda mais de quem é, do seu lar original e desconhece o local que hoje habita. A materialidade é a expressão mais densa da própria realidade astral. No nascimento, o “eu”, o centro da percepção a respeito de quem somos e de onde estamos, passa a se formar, a ser constituído. A psicologia profunda, desde os seus primórdios, interessou-se muito por esse processo e, desde então, em muito progrediu nessa investigação. Um querido professor da E.G.A.L., Eq. AAF, expõe a perspectiva de que essa formação do “eu” simplesmente perfaz a necessidade de que um outro “eu” também seja formado – um “eu” capaz de habilmente transitar pelo Mundo dos Orbes. Por meio desse segundo “eu”, composto pelos Corpos Lunar e Mercurial, se pode contemplar e recordar o Verdadeiro Eu, aquele ainda mais profundo que habita o Mundo Celeste, em igualdade com os anjos, e que a Tradição denomina Eu Solar – o EU SOU, uma fagulha do próprio Logos.  Eq. AAF se refere ao “eu” do Corpo Terrestre como o lastro ou o peso cuja densidade é necessária para o desenvolvimento, “embaixo”, do mais sutil e etéreo Corpo Lunar-Mercurial que, por sua vez, está destinado a manifestar, quando do advento do Reino do Espírito Santo, o Corpo Solar de Glória em todo o divino esplendor. Não é sem razão, aliás, que alguns místicos igualam o Reino do Espírito Santo ao Reino de Maria descrito, no seio da Igreja de Roma, por São Luis Maria Grignion de Montfort.

Vê-se, assim, a importância da Graça que, por puro amor, é presenteada pelo Altíssimo no momento em que o homem é batizado. A E.G.A.L. tem os Sacramentos como procedimentos essencialmente mágico-teúrgicos fundamentados na utilização, nem sempre consciente, das Leis Universais da Criação (Leis do Logos). Pelo ministério sacerdotal dos Sacramentos, o Logos se manifesta na vida de seus Iniciados de modo a auxiliá-los no Caminho.

O Sacramento Lunar é o pórtico de entrada para a Ecclesia de Deus (Ecclesia Catholica – Una, Indivisível e Universal). Por meio dele, o Catechumenus é nomeado frente à comunidade, torna-se Neophitus [Nova Planta] e Ninfiusita (Banhista) e aproxima-se da Vida Eterna e da Sacrossanta Gnose. Desde uma perspectiva exotérica, o batizado nasce para a vida em L-Cristo e torna-se, por conseguinte, Cristão. Desde uma perspectiva prístina e esotérica, nasce para o Logos e para os Mistérios, agindo de modo muito especial sobre o Corpo Lunar do Neófito.

Os Irmãos e as Irmãs que já foram batizados de maneira regular em Igrejas depositárias de herança apostólica, não importando a sua denominação, são considerados validamente batizados pela E.G.A.L. e o Batismo da Água é-lhes dispensável. O Batismo é irrepetível. É o próprio Logos, e não seu Sacerdote (seu instrumento) que recebe o novo cristão no seio da Ecclesia (e não apenas no seio de uma Igreja em particular).

Em circunstâncias emergenciais, como no caso do risco de morte, considera-se perfeitamente possível, tal como na ortodoxia (isto é, nas comunidades cristãs “não gnósticas”), que qualquer batizado possa batizar de maneira válida conforme a fórmula apropriada (“eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo). Entretanto, assim que possível, o Catechumenus deve se submeter ao rito completo, dentro de um Santuário. O nome recebido pelo Catechumenus no transcurso de seu Batismo da Água é o seu nome profano, pelo qual a comunidade já o conhece. Na Tradição, o Nome Místico somente é recebido no Batismo do Fogo, quando o Neophitus torna-se Perfectus e passa a compor o Círculo Interior dos Perfeitos.

Os Santuários avaliam como Candidato ao Batismo todo Iniciado apresentado por um Padrinho ou Madrinha, preferencialmente um Perfectus da Assembleia. A partir de tal indicação, dá-se início à sua formação introdutória. Não há restrição de idade, exigindo-se, contudo, que o agora Aluno Secreto, que se submeteu à provação habitual do Silêncio, seja suficientemente maduro para conscientemente poder escolher solicitar ou não a sua recepção pela Igreja e na Igreja. Para apresentar um Iniciado, é costume que o Padrinho ou Madrinha enderece uma carta de apresentação redigida à mão ao Sacerdos responsável por seu Santuário. Ainda que seja possível a instrução por correspondência, por meio de cartas, alguns Santuários optam por ministrar o curso introdutório de maneira presencial. De todo modo, o Sacerdos somente aprovará a entrada do Aluno Secreto no Círculo Exterior dos Neófitos da E.G.A.L. se obtiver certeza a respeito das intenções do Iniciado. 

O rito próprio de Batismo da Água para Crianças deve ser utilizado pelo Sacerdos quando diante da demanda de batizar crianças que sejam filhos da Assembleia de seu Santuário. Se requerido de igual modo por uma pessoa distanciada da Senda da Iniciação, o Sacerdos pode administrar o Sacramento do Batismo da Água, segundo as fórmulas tradicionais do sacerdócio segundo a Ordem de Melquiseque, em nome da Ecclesia Catholica Apostolica Sancti Iohannes (Igreja Católica Apostólica Joanita – E.C.A. S+I+). A formação sacerdotal da E.G.A.L. exige que seu clero se dedique à formação sacerdotal da E.C.A. S+I+ para que, sempre que for necessária a atuação ministerial menos discreta do que as exigências da Igreja Gnóstica, isso possa ser realizado sob os auspícios da Tradição Joanita.

65. O que é a Transmissão do Pater?

Neófitos que já foram batizados são formalmente recebidos em nossa comunidade por meio da Transmissão do Pater que, embora englobe o ministério de um Sacramento (Sacramento do Melioramentum), não deve ser compreendido como um Sacramento no sentido Católico, mas como um serviço litúrgico ao Logos dentro do qual um Sacramento é ministrado. No caso de Irmãos e Irmãs que receberem o sacramento do Batismo da Água no seio da E.G.A.L./E.GRAAL, eles devem aguardar o mínimo de três lunações antes de receberem a transmissão do Pater.

A despeito de seu nome e da inspiração na Igreja Cátara, a Transmissão do Pater não revive a transmissão cátara da oração em sua literalidade. Em determinados aspectos, a Transmissão do Pater é considerada como preparatória para o Sacramento do Batismo do Fogo.

Durante a Transmissão, uma solene promessa é feita pelo impetrante no momento em que ele recebe o Pater:

Promete que, doravante, não mentirás, não matarás, que cuidarás de teu corpo e de tua alma, bem como que nunca caminharás sozinho quando for possível ter um companheiro e que nunca abandonarás tua fé por medo da água, do fogo ou de qualquer outro tipo de morte?

Quem recebe a Santa Oração, de Deus e da Igreja, possui o poder de dizê-la por toda a vida, dia e noite, sozinho ou em companhia, e se compromete a não se alimentar antes de recitá-la. A Transmissão do Pater é encerrada pela seguinte importante advertência:

Se queres entrar na Vida Eterna, guarda os mandamentos: amarás a teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com todo o teu espírito, e ao próximo como a ti mesmo.

66. O que é o Sacramento da Comunhão?

A missa é o ato litúrgico no qual se renova, de modo místico e incruento, o sacrifício cruento de L-Cristo na Cruz e no qual se administra aos fiéis, pela Eucaristia, o alimento espiritual para as suas almas. Na missa, portanto, celebra-se não somente um Sacramento, mas se renova também um sacrifício, o verdadeiro e perpétuo Sacrifício da Nova Aliança.

Quanto à celebração eucarística, a principal diferença de perspectiva entre as diversas denominações católicas (isto é, oriundas e emanadas da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica) e as igrejas reformistas é que, para estas últimas, a ceia eucarística é um mero memorial, uma encenação da Última Ceia para fins rememorativos, ao passo que, para as primeiras, a Eucaristia renova o REAL sacrifício do Cristo no calvário.

O sacrifício é uma oferta voluntária de uma coisa sensível que é destruída, se for um ser inanimado, ou imolada, se for um ser animado. Isso é feito por um ministro legítimo e deriva da compreensão de uma dupla obrigação do homem para com Deus: a dependência absoluta como criatura e a inimizade com Ele, como pecador. Alternativamente, podemos tornar a mencionada inimizade como uma forma de distanciamento produzida por nossa atual circunstância. De todo modo, a necessidade do sacrifício como reconhecimento de nossa dependência de Deus sempre existiu, mesmo no estado de inocência de nossos primeiros pais no paraíso terrestre, antes da queda: Adão e Eva, mesmo se não tivessem pecado, teriam de oferecer sacrifícios a Deus, em sinal de submissão e de gratidão. Ainda seguindo o pensamento ortodoxo, quando o pecado abriu um abismo entre Deus e o homem, o sacrifício assumiu uma segunda finalidade, tornando-se um meio de reconciliação. O sacrifício, enquanto expiação do pecado, tem o caráter de representação ou de substituição.

Na antiguidade, e ainda hoje, havia sacrifícios cruentos e sacrifícios incruentos (sangrentos e não sangrentos). Os primeiros consistiam na imolação, no derramamento do sangue de um ser escolhido no reino animal. Nos segundos, em que não se derramava sangue, as ofertas eram escolhidas no reino vegetal e podiam ser objetos sólidos ou líquidos. Tradicionalmente, os sólidos eram queimados e os líquidos derramados ao pé do altar. Muito comumente, oferece-se também o incenso. Na Nova Aliança, contudo, a perspectiva ortodoxa propõe que há apenas um só sacrifício: o sacrifício que Jesus Cristo instituiu na última ceia, consumou no dia seguinte sobre a cruz e que a missa renova todos os dias. Antigamente, o sacerdote era distinto da vítima sacrificial. Na Nova Aliança, o Sacerdote não é Sacerdote senão em dependência de Cristo e só age como seu representante. Ele celebra o Mistério da Eucaristia in persona Christi (isto é, na pessoa do Cristo).

Sobre a celebração da Missa nos tempos apostólicos, algumas informações são destacadas dos Atos dos Apóstolos e das Epístolas de São Paulo. Os cristãos de origem judaica continuaram durante determinado período a tomar parte no serviço religioso que se realizava no Templo de Jerusalém ou nas sinagogas. Seguia-se a sequência litúrgica da leitura da Torá, seguida de uma homilia sobre o texto lido, o canto dos Salmos e orações. Nessa influência, encontramos a origem da primeira parte da missa, conhecida como Liturgia dos Catecúmenos ou Liturgia da Palavra. A este serviço religioso da sinagoga foram sendo acrescentados elementos novos próprios da religião cristã como o ágape ou ceia fraternal que, de acordo com São Paulo, era tomado no início das reuniões; certas manifestações de carismas ou dons espirituais que acompanhavam a efusão do Espírito Santo, como o dom da profecia e das línguas, bem como a Ceia do Senhor, que se celebrava especialmente aos domingos e na qual se fazia a consagração do pão e do vinho seguida da comunhão. O ágape e a manifestação dos carismas desapareceram rapidamente da Igreja devido ao desvirtuamento de sua finalidade.

São Justino, que morreu em 165, deixou testemunho da sequência detalhada dos atos praticados nas assembleias e a maneira como a Eucaristia era celebrada em Roma e nos países onde viveu, a Palestina e o Egito. De acordo com ele, no dia dito do sol, reúnem-se em um mesmo lugar todos os cristãos, os que residem na cidade e os que residem no campo. O leitor lê trechos tirados das memórias dos Apóstolos e dos livros dos Profetas. Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para explicar aos presentes o que foi lido e exortá-los a pôr em prática tão belos ensinamentos. Em seguida, todos se levantam e dirigem a Deus orações e súplicas. Suspendendo as orações, todos se abraçam. Depois, levam àquele que preside a reunião dos Irmãos em Cristo o pão e um cálice contendo vinho misturado com água. O presidente toma o pão e o cálice, louva e glorifica o Pai do universo em nome de seu Filho e do Espírito Santo, dirige-lhe abundantes ações de graça por se ter dignado a dar os dons. Terminada essa oração, todos os presentes exclamam: Amém. Depois, os ministros, chamados de diáconos, distribuem a todos os presentes o pão da Eucaristia e o vinho misturado com água. Esses mesmos diáconos levam aos ausentes sua parte do pão e do vinho eucarísticos. Por fim, os ricos socorrem os indigentes.

Dos documentos disponíveis sobre as celebrações litúrgicas nos quatro primeiros séculos – a Didaqué (90dC), a Apologia de São Justino (150dC), as homilias de Orígenes (255dC) e as Constituições Apostólicas (410dC) –, conclui-se que, nas Igrejas de Roma, Alexandria, Antioquia e norte da África, ainda que o celebrante tivesse grande liberdade na composição litúrgica, havia grande uniformidade nas linhas gerais, isto é, a liturgia dos catecúmenos com leituras, homilia e oração, e a liturgia dos fiéis com o ósculo da paz, súplicas, anáfora ou ofertório, narração da última ceia, consagração, anamnese e comunhão. A grande causa da unificação dos ritos foi a influência das grandes metrópoles. As Igrejas de Antioquia, de Alexandria e de Roma empenhavam-se em propagar a fé cristã nas regiões vizinhas. As novas Igrejas adotavam os usos litúrgicos da Igreja-Mãe que a fundou. E, assim, os vários ritos foram conhecidos pelo nome da Grande Igreja que os usava: Rito Antioqueno, Rito Alexandrino, Rito Romano, Rito Bizantino (relativo a Bizâncio-Constantinopla).

No fim do século IV e começo do século V, encontram-se quase definitivamente constituídas três famílias litúrgicas, ou ritos, conhecidas pelos nomes das três grandes Igrejas patriarcais, a saber: Rito Romano, Rito Alexandrino e Rito Antiqueno. O primeiro e suas ramificações formam o que se convencionou chamar de ritos ocidentais e os dois últimos, ritos orientais. O Rito Ocidental ou Latino teve duas ramificações principais: Rito Romano e o Rito Galicano, que, posteriormente, nas Ilhas Britânicas, deu origem ao Rito Celta, mas que também originou o rito africano do norte, moçárabe e ambrosiano.  Ao Rito Alexandrino pertencem o Rito Copta, no Egito, e o Rito Etíope ou Abissínio. Do Rito Antioquino deriva a maioria dos ritos orientais atualmente em uso: o Siríaco, o Caldaíno, o Armênio, o Maronita e o Bizantino. Com relação ao Rito Bizantino, destaque-se que ele é composto por três liturgias distintas: a Liturgia dos Pré-santificados, a Liturgia de São Basílio e a Liturgia de São João Crisóstomo. A Liturgia de São João Crisóstomo, tal como a Tridentina, é considerada como uma Liturgia Oficial da Igreja Católica Apostólica Joanita.

Na Liturgia da Missa, o Sacramento da Comunhão (Jupteriano) é celebrado e o Sacerdote realiza o Mistério da Transubstanciação – um ato, por excelência, teúrgico em natureza. O fenômeno da transubstanciação tão somente pode ser bem compreendido se fizermos uso dos conceitos aristotélicos de “substância” e “acidente”. “Substância”, ousia em grego, significa o que faz uma coisa ser ela mesma, ou seja, sua essência. Tome-se um objeto qualquer, um lápis, por exemplo. Sua forma, cor, tamanho, aspereza ou qualquer outro detalhe sobre o lápis que seja perceptível ao sentido não é o próprio lápis. O lápis possui uma forma, cor etc., mas é um objeto distinto dessas aparências. As aparências, que são chamadas de “acidentes” dentro da filosofia aristotélica, são perceptíveis aos sentidos, mas a substância não o é. Essa discussão é importante pela compreensão teológica de que, na Eucaristia, a substância do pão é convertida na substância do Corpo e a substância do vinho é convertida na substância do Sangue. Desse modo, mesmo que as aparências, que são abertas aos sentidos, ou o acidente, aquelas do pão e do vinho, a substância ou essência não é mais a mesma. Dessa perspectiva teológica, por meio da Transubstanciação, Cristo está real, verdadeira e substancialmente presente sob as aparências remanescentes do pão e do vinho e a transformação permanece pelo tempo em que as aparências remanescerem, ou seja, durarem. Convém abrir breve parêntese para acrescentar que, desde a instituição da Eucaristia, na última Ceia, até os dias de hoje, vêm ocorrendo milagres eucarísticos em que o pão e ou o vinho tornam-se materialmente o Sangue e o Corpo do Cristo (isto é, transformam-se). Uma curiosidade impressionante é que, desde que a ciência moderna pôde analisar essas espécies, sempre se constatou que se trata de sangue AB, o mais comumente encontrado entre os judeus do Oriente Médio dos tempos evangélicos, e que a carne é um pedaço de miocárdio (músculo cardíaco ou coração) extraído de uma pessoa ainda viva!

Por consequência da Transubstanciação, o Logos unifica-se enquanto suas expressões como L-Sophia e L-Cristo e manifesta-se de modo íntegro na Ecclesia. Esse é o meio para a manifestação da Luz do Mundo, bem como para que a Luz da Sacrossanta Gnose possa brotar a partir de nossos corações. Quando conscientemente vivenciada, a Comunhão proporciona profundas experiências espirituais e gnósticas. Comungar é receber o próprio Logos que por nós se oferece. Quando tal afirmativa é compreendida em seu aspecto esotérico, a E.G.A.L. concorda com a perspectiva ortodoxa de que a Santa Missa é a renovação do sacrifício da Cruz e o ato central do culto cristão. Nela, oferecemos ao Inefável o que ele mesmo nos deu: o pão e o vinho (os dons da criação) que, pelo poder do Espírito Santo, se tornam o Corpo e o Sangue.

Na celebração da Missa, a Natureza se encontra muito bem representada no pão e no vinho que, quando transubstanciados em Corpo e Sangue de L-Cristo, pelo Mistério da Câmara Nupcial, permitem a Comunhão Logos em sua integralidade. Uma vez que o Logos é o Sacramento (em-potencial) do Inefável, por meio do Casamento de L-Sophia com L-Cristo, pela Comunhão com o Logos, o Sacramento Jupteriano, cria-se a possibilidade da experimentação da Sacrossanta Gnose. e daquilo que transcende o universo imediato e conhecido. No hermetismo clássico, Júpiter é um planeta de expansão. Pode-se estar a indagar onde entraria L-Sophia nesse Mistério Eucarístico e a resposta está exposta aos olhos de todos, mas velada aos olhares profanos: a gota d’água que o sacerdote acresce ao vinho conta com tripla interpretação no catolicismo “não gnóstico”: é a linfa de Yeshu, os sofrimentos de que padece toda a humanidade e as lágrimas de Maria, a corredentora. Eis, pois, nesta última interpretação simbólica, a participação mística de L-Sophia nesse Augusto Mistério.

O Mistério do pão e do vinho é anterior ao cristianismo. Isso precisa ser definitivamente reconhecido. Por meio desse Antigo Mistério, a presença viva do Logos torna-se acessível àqueles que habitam no Caminho. Sol Invictus! Os acontecimentos do calendário litúrgico cristão podem ser apreendidos ao menos sob duas perspectivas muito distintas: eles podem ser vistos como momentos de memórias acerca de acontecimentos históricos, ou, sob um prisma prístino, como celebrações de diferentes fases ou momentos que demarcam a relação do Deus Solar com a humanidade. Na Igreja Primitiva, por meio da participação nesse Mistério, o gnóstico era preparado para a experimentação do supremo Mistério da Câmara Nupcial.

A E.G.A.L. adota a Liturgia da Missa Gnóstica da Eterna Luz como oficial, mas possui liturgias complementares, tais como a Liturgia Gnóstica Doineliana, a Liturgia Gnóstica do Mistério Nupcial, a Liturgia Gnóstica Rosacruciana, a Liturgia Gnóstica Celta, a Liturgia Gnóstica Templária e, acessível aos Perfeitos da Igreja do Graal, a Liturgia Gnóstica da Sacrossanta Luz e a Liturgia Gnóstica Sofiânica. Todas essas liturgias, tamanha a sua riqueza mística e cultural, compõem uma indescritível herança iniciática honradas nas comunidades e que podem ser adotadas nas datas propícias, bem como quando o Sacerdos não contar com a estrutura de um Santuário para a realização dos Mistérios. Sob essa última circunstância, também é comum que nossos Sacerdotes ministrem a Eucaristia em conformidade com o Missal Tridentino, uma liturgia oficial da Igreja Católica Apostólica Joanita.

67. Por quais partes a Sacrossanta Missa é composta?

Quando a Liturgia da Missa da Eterna Luz é observada, o Sacerdote se prepara pela realização do Sanctus Mysterium Sacerdos, um importante rito teúrgico da Igreja do Graal que preparará seu corpo para o exercício sacramental. Já na Sacristia do Santuário, o Sacerdote é auxiliado pelos acólitos no rito de paramentação. Quando necessário, ele, então, faz a instalação do Altar do Sacrifício por meio das fórmulas tradicionais e, em seguida, procede com o rito do Incensamento do Santuário. O Incensamento é um rito obrigatório, que conta com a participação do Sacerdote e dos Diáconos. No transcurso do rito, a lamparina do Santuário é acesa, bem como o Levitikon é aberto e a importante Invocatio Lumine é realizada.

Depois do Incensamento, o Sacerdote deixa o Santuário e aguarda, na Sacristia, que a Assembleia tome seu lugar. A entrada é feita ne seguinte sequência: Neófitos, Perfeitos, Irmãos Menores, Diáconos, Sacerdotes, Bispos e Pontífices. Todos se movimentam de acordo com o sentido dos ponteiros do relógio. Com exceção dos Neófitos, todos os membros da Assembleia fazem uma Saudação em direção ao Altar da Cruz antes de se dirigirem aos seus lugares. A saudação, oralmente ensinada, segue o gestual específico do Sacramento do Melhoramentum.

A primeira parte da Missa, então, é iniciada. Comparando-se a Liturgia da E.G.A.L. e a Missa Tridentina, conclui-se que, ainda que a segunda parte da missa, que contém o sagrado cânon, se assemelhe em diversos pontos, suas respectivas primeiras partes conversam em pouquíssimos pontos (o que não implica divergência, mas apenas modos diversos de celebrar o mesmo Mistério). Nesse primeiro momento, são observados costumes gnósticos tradicionais oriundos das quatro Eras históricas da Igreja Gnóstica da França. Tudo se inicia quando o Sacerdote retorna ao Santuário e, ainda no Oeste, recita o Introibo. A Assembleia recebe o Sacerdote de pé. Ele, então, dirige-se ao Centro e entoa o Nomini, que é a invocação do Nome de Deus e, se julgar pertinente, também recita um Hino que confere um empoderamento muito particular. Ao alcançar sua Cátedra, o Sacerdote canta o Beati, que é acompanhado por toda a Assembleia. Aquele que participa dessa liturgia perceberá que apenas muito raramente o Beati não é recitado ou cantado no seu início e, por esse motivo, espera-se que os membros da Assembleia saibam-no de cor. Todos, então, sentam-se e meditam por alguns momentos. É nesse momento que os presentes fazem o exame da consciência, tomando consciência dos pontos a respeito dos quais precisam melhorar ou das suas enfermidades espirituais.

Depois de alguns instantes, o Sacerdote se levanta e a Assembleia o acompanha. Ele concede o Consoletur, que é uma poderosa benção gnóstica, com toda a força apostólica. As intenções da Assembleia são, então, recolhidas pelo Sacerdote por meio do Colligere, que costumeiramente pede luz e sabedoria para os Sacerdotes e os membros da Ecclesia, e o Septem Logoi et Quattuor Custodiae é realizado. Este último é a invocação da presença dos Sete Logoi e dos Quatro Espíritos Tutelares por meio da lenta e vibrante entoação de seus nomes. A cor correspondente a cada um deles é visualizada pela Assembleia no momento em que o Sacerdote procede com a respectiva invocação. O Gradus e o Evangelli Segundum Joannem, ou seja, a leitura do Evangelho de João, são executados nesse momento. Todos se sentam e as Sacrae Meditationis, com a leitura de um texto sagrado, e os Sermones, um brevíssimo sermão feito pelo Sacerdote, são executados. Desse modo, encerra-se a primeira parte da Liturgia da Missa da Luz Eterna.

A segunda parte da Liturgia começa com o Offertorium, que é o oferecimento do Sacrifício ao Altíssimo, e segue com o Incensationem, o segundo incensamento. O auxílio dos Diáconos e Subdiáconos é muito importante para o Sacerdote nesse momento. O Sacerdote e, em seguida, toda a Assembleia passa pelo Lavabo, buscando a purificação necessária para a correta participação no Mistério da Comunhão.

As partes da liturgia que ocorrem em seguida são muito parecidas com as da Liturgia Tridentina: Orate, Secreta, Sursum Corda, Prefatio, Epiclesi, Pro Ecclesia, Viventem, Memoriam Venerantes, Anamnesis et Consecratione, Quae Propitio, Defunctorum e Pater. Ainda que a Liturgia seja completamente realizada em latim, na parte da Consecratione há uma recitação em grego. Preserva-se, assim, um costume iniciado pelo Patriarca Jules Doinel.

A Communio é, então, realizada. O Sacerdote posiciona-se na frente do Altar do Sacrifício e a Assembleia, girando em círculo no sentido horário, passa à sua frente, parando brevemente para receber o Corpo e o Sangue. Durante todo esse movimento, o Cântico Sagrado é entoado por toda a Assembleia. Trata-se de um momento muito especial e muitos dos membros da nossa Igreja relatam sentir uma intensa ascensão enquanto a teurgia se realiza. O Cântico é composto pelas diferentes vogais, da seguinte forma: A O IO IEOUA. A sequência A O IO é uma forma de saudação invocatória aos diferentes aspectos do Logos. Encerrado o movimento circular, todos se sentam para meditar enquanto o Cântico é mantido por alguns minutos.

A Liturgia começa a encontrar seu desfecho quando o Sacerdote recita o Remedium Sempiternum, onde a Eucaristia é citada como o necessário remédio para a alma, a Oração Angélica, sempre presente no encerramento de nossas atividades, repete o Consoletur e declara o Missa est. Quão abençoados são os que podem tomar parte de tão sagrado momento!

68. O que é o Batismo do Fogo?

O Sacramento Mercurial é aquele que a ortodoxia chama de Confirmação. Na E.G.A.L., ele é conhecido como o Batismo do Fogo (Consolamentum) e considerado um rito de iniciação mística reservado a Neófitos selecionados que desejam ser inseridos em uma forma especial de Comunhão Espiritual. A despeito da inspiração albigense de seu nome, o Batismo do Fogo (Consolamentum) pouco se relaciona com o Consolamentum cátaro.

Na Igreja Primitiva, na Roma dos Concílios e na Ortodoxia, a Confirmação é adotada como forma do Sacramento Mercurial. Torna-se claro como um mesmo Sacramento pode manifestar-se de maneiras distintas, ou, buscando maior precisão, o modo como a mesma Graça manifesta-se por vias sacramentais distintas. Tanto a Confirmação, voltada a que o Impetrante receba o “selo do dom do Espírito Santo”, quanto o Batismo do Fogo atuam sobre o corpo mercurial do Neófito. No último, entretanto, aspectos dos Mistérios são preservados, de modo a garantir ao Neófito acesso ao Círculo Interior dos Perfeitos da E.G.A.L./E.GRAAL pela iniciação no Grau Gnóstico de Fibionista.

A lua cheia de Touroé especialmente propícia para a transmissão da graça do Sacramento Mercurial. Essa data, que coincide com a de um importante festival budista, é mencionada no Pistis Sophia como o dia em que, após subir o Monte das Oliveiras com os discípulos, Jesus acende aos céus e depois retorna envolto por três vestes de luz. Por meio do Batismo do Fogo, o Neophitus se aproxima ainda mais da Vida Eterna e da S.G. e, dessa maneira, torna-se um Perfectus da Ecclesia de Deus. Essa transição significa a vinculação definitiva com a manifestação Gnóstica da Ecclesia [Ecclesia Gnostica]. O correto e verdadeiro entendimento acerca das Valorizações e das Disciplinas que constituem os Reconhecimentos do Discípulo é necessário para que o Neófito meritoriamente se torne Perfeito. Durante o rito do Batismo do Fogo, o novo Perfectus recebe seu Nome Místico– nome pelo qual passará a ser conhecido entre os Irmãos do Santuário.

O ministro do Sacramento Mercurial deve ser um Episcopus e o rito é conduzido em um Grande Santuário da Gnose. Os Sacerdotes selecionam Candidatos em seus Santuários e, por meio de uma carta de recomendação, submetem seus nomes ao Episcopus responsável. Todo Episcopus tem a prerrogativa de aceitar e de recusar as indicações recebidas.

Neófitos são considerados aptos a serem indicados para receber o segundo Batismo quando são membros dedicados e atuantes de um Santuário por um mínimo de um ano, tenham recebido e observado as regras do Pater e forem proficientes no entendimento das disciplinas do esoterismo cristão e do gnosticismo cristão. Contudo, tão importante como critério de seleção quanto o saber intelectual é o saber vivencial. É por esse motivo que os Perfecti são tradicionalmente tidos como aqueles que deixaram de “crer” e passaram a “saber” – Perfeitos em Sabedoria. Desde uma perspectiva prístina e esotérica, é o próprio Neophitus que se torna um Perfectus e a Ecclesia nada mais faz do que confirmar, pela via sacramental, seus próprios méritos.

A entrada nos Círculos mais interiores da E.GRAAL é um passo muito importante e entende-se que quem se torna um Perfeito da Igreja é uma pessoa que se encontrou dentro do Caminho Gnóstico de tal forma que seu vínculo com a Tradição tornou-se pedra fundamental de sua própria vida. O preparo para a recepção do Batismo do Fogo é feito pelo emprego de uma Litania Sofiânica própria e, dessa vez, o Padrinho do Neófito é o próprio Sacerdos de seu Santuário. Ou seja, na E.G.A.L., a partir desse momento, passamos a ter dois Padrinhos ou Madrinhas – um na Igreja Exterior e um na Igreja Interior. Evidentemente, somente os Perfecti podem tomar parte do rito do Batismo do Fogo e não atender ao rito quando convocado por um Episcopus é considerado falta grave. Quando convocados, todos os Perfeitos se apresentam com suas alvas, cíngulos e devem estar munidos de seus Lumina. Trata-se de um momento muito aguardado por quem passará pelo Batismo. Outras situações, como a realização do Rito Íntimo, por meio do qual se acessa reinos mais sutis da manifestação, e a celebração da Missa Sofiânica também são atendidas apenas pelos Perfeitos da Igreja.

69. O que é o Melioramentum?

O Melioramentum (Melhoramento) é o Sacramento Marciano. Por ele, os Perfecti solicitam ao Logos a Graça de serem melhorados. No Melioramentum, o Perfectus saúda o Sacerdos em adoração ao Espírito Santo que nele reside. Por esse gesto, roga para ser melhorado, curado de suas enfermidades espirituais ou aperfeiçoado quanto a um problema que identificou e a respeito do qual esgotou todos os recursos disponíveis para superar. Evidentemente, o problema aqui referido deve constituir um entrave para o Caminho. Isso significa uma verdadeira ressureição espiritual. O Melioramentum deve ser ministrado somente depois do Perfectus ter procurado aconselhamento sacerdotal com um Sacerdos e de que todos os recursos disponíveis tenham sido utilizados.

Roma e a Ortodoxia adotam a confissão dos pecados ao Sacerdote e a penitência – Sacramento da Reconciliação – como forma de Sacramento Marciano. Tal costume, entretanto, não é usual dentro das manifestações gnósticas de Ecclesia. A fim de jamais violar os votos do serviço sacerdotal, o procedimento próprio para a penitência, segundo as fórmulas tradicionais do sacerdócio segundo a Ordem de Melquiseque, em nome da Ecclesia (Universal) ou da Igreja Joanita, pode ser utilizado pelo Sacerdos quando diante dessa demanda, desde que sincera. De igual modo, embora isso não seja muito usual, o Rito do Exorcismo segundo as fórmulas tradicionais do sacerdócio segundo a Ordem de Melquiseque, em nome da Ecclesia (Universal) ou da Igreja Joanita, pode ser utilizado pelo Sacerdos quando diante da necessidade de fazê-lo. A maldição e a excomunhão também se relacionam com os fundamentos marcianos.

70. O que é o Appareillamentum?

O Appareillamentum (preparação) é uma variação especial do Sacramento Marciano ministrado por um Episcopi para a preparação dos Diaconi que receberão a ORDEM DO PRESBÍTERO. De inspiração cátara, tal como o Melioramentum, o Appareillamentum manifesta na E.G.A.L./E.GRAAL o Mistério da Redenção segundo a Igreja Primitiva. Na Redenção, o gnóstico se conscientiza e, por consequência, se torna livre de poderosas ligações com os regentes que se tornam nocivas a partir de um momento preciso da Senda.

71. O que é o Sacramento do Matrimônio?

O Sacramento do Matrimônio ou Sacramento Venusiano estabelece e santifica a união entre duas almas que, em laços de amor, fidelidade e constância, a partir de então, constituem uma nova família. A celebração do matrimônio cria um vínculo ou aliança que une os cônjuges em nome de Deus. Desde o ponto de vista esotérico, por meio deste Sacramento, um pacto de intimidade e companheirismo é formado entre dois indivíduos, não importando questões de gênero e de orientação sexual, que se desnudam diante do Logos. Tal pacto diz respeito ao empreendimento conjunto do Caminho, à Habitação da mesma Casa, de sorte que as duas almas possam se apoiar frente aos momentos de dificuldade. A Graça matrimonial é a força trazida pelo Logos ao novo casal. Não se trata, pois, da busca, no outro, da integralidade perdida. Trata-se, mais precisamente, da sacramentalização da confiança no apoio mútuo na busca pela própria integralidade – um Sacramento de comunhão de vida.

Esse Sacramento celebra a memória do supremo Mistério da Câmara Nupcial – às vezes chamado de Casamento Espiritual ou Mistério das Sizígias – que garante a associação perfeita entre corpo, alma e espírito e, por conseguinte, eleva o Iniciado ao Grau Gnóstico de Zacheita. Nesse momento, a plenitude do Pleroma passa a não mais ser desejada, pois a terra e o céu, o abaixo e o acima, tornam-se UM.

72. Qual a raiz da Tradição da Câmara Nupcial?

Trata-se do Evangelho de Felipe, da biblioteca de Nag Hammadi. Esse apócrifo apresenta uma compreensão do Pleroma formado por pares (Pai & Sofia Superior; Cristo & Espírito Santo; Salvador & Sofia Inferior) e apresenta a salvação como a união, já neste mundo, da alma-feminina com o anjo-masculino procedente do Pleroma. Tal união, chamada de “Câmara Nupcial”, é apresentada como um Sacramento que vem a ser a elevação máxima dos demais Sacramentos (Batismo, Unção, Eucaristia e Redenção). A Igreja Gnóstica ensina que aqueles que penetraram nesse mistério alcançaram o Grau Gnóstico de Zacheita, tornando-se Mestres do Real Segredo. No Evangelho de Felipe, o Sacramento da Câmara Nupcial, cuja imagem perfaz uma espécie de matrimônio, representa a aquisição da completude já neste mundo, sendo, paradoxalmente, a Câmara propriamente dita o próprio Mundo Celestial.

73. O que é o Sacramento da Ordem?

A Ordem é o Sacramento pelo qual se confere o poder de consagrar, administrar a Eucaristia e exercer outras funções eclesiásticas. Por meio do Sacramento Solar, o Irmão (ou Irmã( é admitido ao Círculo Interior dos Barbelitas da E.G.A.L./E.GRAAL. É por essa razão que, tal como os Sacramentos do Batismo da Água e do Fogo, o Sacramento Solar é tido como um importante Sacramento de Iniciação. Empregando as noções do catarismo, o Sacramento da Ordem forma a antiga Convenza (Acordo), isto é, o voto tradicional de se respeitar a Glèisa dels Bones Omes (Igreja dos Bons Homens).

Compete aos Episcopi, que possuem a plenitude da Ordem, a conferência deste Sacramento em um Grande Santuário da Gnose. O Sacramento da Ordem, dividido no que chamamos de Ordens Menores e Maiores, é conferido segundo as regras da vocação e da necessidade. Costumeiramente, os membros da Ecclesia que não são vocacionados ao Serviço Religioso encontram outra forma de exercer o Serviço no seio da Cavalaria. É preferível que o Impetrante do Sacramento Solar seja um Perfecti da Igreja, mas esta é uma obrigatoriedade somente para as Ordens Maiores (para Diaconi, Sacerdotes e Episcopi).

Membros das Ordens Menores são genericamente designados como Fratres Minores (Irmãos Menores). As Ordens Menores são as seguintes: Clérigo, Porteiro, Leitor, Exorcista, Acólito e Subdiácono. Os Irmãos Menores garantem, através das particularidades de seus ofícios, a existência de condições materiais e espirituais específicas que são necessárias para o funcionamento dos Santuários. O percurso proposto pelas Ordens Menores também constitui diferentes estágios formativos importantes para os Irmãos que buscam expressar sua vocação religiosa.

Em virtude da força sacramental apostólica, os Fratres Minores estão no primeiro estágio do sétimo grau gnóstico (Barbelitas – Filhos do Senhor; Ministros da Serpente de Bronze ou da Estrela). São, portanto, Arautos da Ecclesia.

74. O que é a Unção Pleromática?

O Sacramento Saturnino, conhecido na E.G.A.L. como Unção Pleromática, é dedicado aos enfermos e realizado com o óleo apropriado. Ele confere uma Graça especial para o enfrentamento das dificuldades próprias de uma doença grave ou da própria velhice.

Por Roma e pela Ortodoxia, o Sacramento Saturnino recebe o nome de Extrema Unção (e mais modernamente, de Unção dos Enfermos) e é conhecida também como o “sagra viático”, porque é o recurso e o “alívio” que auxilia o enfermo a suportar com fortaleza e em estado de graça um momento de trânsito, especialmente o trânsito da Grande Iniciação.

Embora o Sacramento Saturnino tenha sido originariamente administrado somente “in articulo mortis”, atualmente o é sempre que necessário, como em caso de doenças graves e de preparação para cirurgias, podendo ser administrado mais de uma vez.

As condições para a boa recepção do Sacramento da Unção Pleromática são: 1º – Estar em estado de graça, mantendo a atitude receptiva adequada; 2º – Ter grande confiança em Deus e; 3º – Abandonar-se com amor e resignação ao Desígnio Divino.

A E.G.A.L. também mantém um Serviço de Cura próprio que, em tempo de necessidade, quando não há acesso disponível a um Sacerdos, pode ser conduzido por um Perfectus. Ele está disponível para doenças consideradas menos graves e pode ser solicitado sempre que necessário.

75. Por qual razão a E.G.A.L. adotou determinadas formas da nomenclatura cátara para os Sacramentos?

Ainda que a nossa cosmovisão se distancie bastante daquela do pessimismo cátaro, a E.G.A.L., como uma forma de homenagear os grandes mártires, adotou para si determinada nomenclatura cuja origem pode ser encontrada na Igreja Cátara. Como mencionado antes, a E.G.A.L. entende que há diversas formas de se compreender o Mistério e, uma vez que jamais ele será compreendido em toda a sua plenitude pelas mentes humanas, tais diferenças, ao invés de separarem as diversas expressões da Ecclesia, unem-na, refletindo a sua Unidade.

76. O que é o Sanctus Mysterium Sacerdos?

O Sacerdote se prepara para o exercício de seu ministério pela realização do Sanctus Mysterium Sacerdos, um importante rito teúrgico da Igreja do Graal que preparará seu corpo para o exercício sacramental.

Catecismo Gnóstico E.G.A.L./E.GRAAL 04 – Estrutura
ESTRUTURA

77. Quais corpos compõem a Igreja?

A E.G.A.L. é estruturalmente composta por Soberanos Santuários da Gnose e Grandes Santuários da Gnose, que dirigem os Santuários da Gnose, seus Círculos Interiores de Perfeitos, as atividades da Ordem da Pomba do Paráclito e que respectivamente formam o Collegium Pontificum e o Synodus Magnus. A E.G.A.L. atua de maneira rizomática e em conformidade com a tradição da Igreja Invisível (para uma compreensão mais profunda desse mistério, recomenda-se a leitura de A Nuvem sobre o Santuário de Karl von Eckartshausen).

Cada Soberanos Santuários da Gnose é dirigido por um Pontifex ou por uma Sophia. Os Soberanos Santuários da Gnose portam-se como arquidioceses responsáveis por Grandes Santuários da Gnose que, por sua vez, portam-se como dioceses. Os Grandes Santuários são dirigidos pelos Episcopi (Bispos Gnósticos) e são responsáveis pelos Santuários da Gnose, cada qual dirigido por um Sacerdos (Sacerdote Gnóstico).

A Assembleia de Pontífices é denominada Collegium Pontificum. A Assembleia de Episcopi é denominada Synodus Magnus. Ambas são presididas pelo Pontifex Primus, que também gere o Soberano Santuário da Gnose de Elias, Santuário Primaz da Igreja. Para auxiliá-lo nas responsabilidades de seu ofício, o Pontifex Primus designa o Pontifex que exercerá o ofício de Pontifex Primus Adjutor, seu único representante e herdeiro. Os ofícios de Pontifex Primus e Pontifex Primus Adjutor, bem como a membresia do Collegium Pontificum, são reservados a Pais R+C da R+C Oculta.

78. São, então, quantos corpos?

A E.G.A.L. compreende quatro Círculos, sendo dois interiores e dois exteriores, um Summum Supremum Sanctuarium, uma Ordem de Cavalaria (Ordem da Pomba do Paráclito) e uma Ordem interior invisível (Ordem dos Irmãos Iluminados da Rosa+Cruz).

79. Por quantos e quais círculos a E.G.A.L. é formada?

São dois os Círculos da E.G.A.L.: Círculo Exterior dos Alunos e Círculo Exterior dos Discípulos.

80. Por quantos e quais círculos a E.GRAAL é formada?

Os Círculos Interiores pertencem à E.GRAAL, a Igreja Interior ou Igreja do Graal, e são chamados de Círculo dos Perfeitos e de Círculo dos Barbelitas. A entrada no primeiro é garantida pelo Batismo do Fogo e no segundo, pelo Sacramento Solar.

81. O que é o Círculo Exterior dos Alunos?

A Igreja Gnóstica, por um lado, tal como muitas outras organizações tradicionais, vela pela qualidade de seus membros e não pela sua quantidade. Por outro lado, a Igreja também se mantém vigilante para que, dentre seus membros, encontrem-se Iniciados esclarecidos que verdadeiramente estejam afinados com a Tradição e com os Objetivos da Igreja. O objetivo do Círculo Exterior de Alunos é justamente esse.

82. O que é necessário para se entrar o Círculo Exterior dos Alunos?

Sinceridade de propósito, apadrinhamento e comprometimento com a Provação do Silêncio.

83. Qual o objetivo de um Aluno Secreto?

A tarefa do Aluno Secreto é a de colocar-se num estado receptivo a um tipo de reflexão profunda de maneira a encontrar, em seu próprio coração, a confirmação do desejo manifesto de se unir à E.G.A.L.. A Fase do Aluno também é, sobremaneira, dedicada à provação.

84. Qual a diferença entre um Aluno Secreto e um Aluno Perfeito?

Tratam-se de dois Graus distintos da Fase de Aluno. O primeiro é o pórtico de entrada para a Igreja Exterior. O segundo, para a Igreja do Graal.

Enquanto o Aluno Secreto se prepara para ser admitido nos Círculos Exteriores, o Aluno Perfeito é aquele devidamente preparado para acessar os níveis interiores da Igreja.

85. Quais são os membros do Círculo Interior dos Barbelitas?

No Círculo Interior dos Barbelitas encontram-se os membros da Assembleia que, vocacionados, receberam o Sacramento Solar em um de seus graus. O Sacramento Solar é dividido da seguinte maneira:

A Tonsura, ou Prima Tonsura, é a cerimônia na qual o Episcopus confere ao Impetrante o primeiro grau de Ordem – ORDEM DO CLÉRIGO. Ela é preparatória e é condição para o recebimento de qualquer outra Ordem Menor.

Membros da ORDEM DO PORTEIRO, também conhecidos como OSTIÁRIOS, são os responsáveis pelas portas da Igreja e zelam pelo sino e suas badaladas. Eles zelam ainda pela proteção do cumprimento dos atos litúrgicos, mantendo o Santuário livre de qualquer pessoa que venha atrapalhar uma cerimônia. Nesse sentido, são guardiões dos Santuários da Gnose.

Membros da ORDEM DO LEITOR são os responsáveis por lecionarem as leituras na Santa Missa, zelando pela dicção e pelo entendimento de todos mediante uma leitura razoável e efetuada segundo as diretrizes litúrgicas. Um leitor se especializa na prática dos cânticos sagrados e assume, ao receber sua Ordem, o dever moral de ser um estudioso dedicado das escrituras tradicionais gnóstico-herméticas. Contudo, os leitores não devem se restringir em seus estudos, procurando sempre desempenhar o estudo sistemático de religiões comparadas.

Membros da ORDEM DO EXORCISTA eram tradicionalmente responsáveis pelo auxílio dos padres nos exorcismos, preparando os livros, objetos litúrgicos, espaço físico e as orações próprias. Contudo, exorcismos somente eram desempenhados por Presbíteros devidamente preparados. Na E.G.A.L./E.GRAAL, os Irmãos Menores Exorcistas são os responsáveis pelo auxílio dos padres nas bênçãos e em alguns serviços de cura e se especializam na bênção da água e do incenso. Ao receber a Ordem, um exorcista assume o dever moral de se dedicar ao estudo de sistemas de cura e da perspectiva gnóstica da natureza do mal.

Membros da ORDEM DO ACÓLITO são responsáveis pelo zelo do altar e pela garantia dos objetos litúrgicos necessários para as diferentes celebrações. Eles são incumbidos de manusear o turíbulo em ocasiões especiais e devem cuidar da manutenção destes. Na ortodoxia, são os responsáveis por organizar procissões e, por vezes, de ajudar os Sacerdotes e Bispos com suas vestimentas. De maneira sintética, são considerados guardiões das chamas sagradas dos Santuários. O significado de Acólito vem do verbo acolitar, que quer dizer acompanhar no caminho.

Membros da ORDEM DO SUBDIÁCONO pertencem à última das Ordens Menores da E.G.A.L./E.G.R.A.A.L. Cabe a eles o auxílio do Diácono nas disposições litúrgicas. Também cabe a eles coordenar todos os Irmãos Menores nos ofícios que desempenham dentro do Santuário para que as funções sejam cumpridas em harmonia plena. Os Subdiáconos aprofundam-se no estudo da formação do pensamento cristão, focando-se na teologia patrística e na história das heresias.

Membros da ORDEM DOS DIÁCONOS pertencem à primeira das Ordens Maiores da Ecclesia Gnostica. Os Diáconos auxiliam os Sacerdotes nos exercícios litúrgicos e, para tanto, se dedicam ao estudo das liturgias e dos costumes da Igreja. Eles são diretamente auxiliados pelos Subdiáconos e se submetem a uma rigorosa disciplina de treinamento e a um intenso ciclo de desenvolvimento de habilidades de percepção sutil. Uma vez que precede o Presbiterado, o Diaconato é considerado a principal etapa formativa para os egressos ao Sacramento da Ordem.

Em virtude da força sacramental apostólica, os Fratres Minores estão no primeiro estágio do sétimo grau gnóstico (Barbelitas – Filhos do Senhor; Ministros da Serpente de Bronze ou da Estrela). São, portanto, Arautos da Ecclesia. A numeração dos mencionados Graus não deve gerar confusões. Evidentemente, ainda que exista um Sétimo Grau, em termos de consecução espiritual, o Sexto Grau de Zacheita é o mais elevado dentre todos os Graus Gnósticos.

O Appareillamentum (Preparação) é uma variação especial do Sacramento Marciano ministrado por Episcopi em Grandes Santuários da Gnose que prepara aquele que receberá a ORDEM DO PRESBÍTERO. O Diaconus que o recebe é considerado PLENO e elegível para receber o Sacerdócio. Não se trata, contudo, de uma Ordem, mas de um importante Sacramento preparatório que perpetua uma antiga tradição.

Membros da ORDEM DO PRESBÍTERO são eternamente Sacerdotes de Cristo, cabendo a eles administrar Sacramentos aos fiéis (Batismo da água, Comunhão, Melhoramentum, Matrimônio e Unção Pleromática), abençoar, interceder pela convocação da Invisibilidade, administrar um Santuário da Gnose, etc. Sacerdotes também são autorizados a transmitirem o Pater e praticam o Sanctus Mysterium Sacerdos cotidianamente. Para a recepção deste sacramento são necessárias quatro disposições:

Vocação, isto é, ser chamado pela Sabedoria de Deus para o estado eclesiástico;
Vida exemplar e devota;
Suficiente clareza intelectual;
Suficiente clareza espiritual.
Desse modo, por seus próprios méritos, os futuros Sacerdotes devem ter alcançado o Grau Gnóstico de Codianista (Aluno Perfeito). O Divino Ofício e as Litanias próprias devem ser observados como ato preparatório para a ORDENAÇÃO.

Em virtude da força sacramental apostólica, os Sacerdotes estão no terceiro estágio do Sétimo Grau Gnóstico (Barbelitas – Filhos do Senhor; Ministros da Serpente de Bronze ou da Estrela). São, portanto, Veneráveis Mestres Eleitos da Ecclesia.

Por fim, membros da ORDEM DO EPISCOPE são aqueles que receberam a plenitude do Sacramento da Ordem. Administram os Grandes Santuários da Gnose que exercem função de dioceses gnósticas, englobando determinado número de Santuários. Atuam sintonizados com as decisões do Collegium Pontificum e do Synodus Magnus e se reportam aos Pontifex Primus e Pontifex Primus Adjutor. São os únicos autorizados a administrar os Sacramentos do Batismo do Fogo, do Appareillamentum e da Ordem e a autorizar Ritos de Armações. Imprimaturs são responsabilidade direta de membros dessa Ordem que foram eleitos como Pontífices em virtude de notoriedade no ministério.

Em virtude da força sacramental apostólica, os Episcopi estão no quarto e último estágio do Sétimo Grau Gnóstico (Barbelitas – Filhos do Senhor; Ministros da Serpente de Bronze ou da Estrela). São, portanto, Grão-Mestres da Chave da Ecclesia.

86. O que é a Ordem da Pomba do Paráclito?

A E.G.A.L. perpetua o legado tradicional da antiga Ordem Santa dos Cavaleiros Faiditas da Pomba do Paráclito (Ordre Saint des Chevaliers Faydits de la Colombe du Paraclet), ou, simplesmente, Ordem da Pomba do Paráclito (Ordo Columbae Paraclitus). A O.P.P. foi instituída por Jules Doinel para conectar a Restauração da Gnose ao albigensianismo cavaleiresco do século XII e foi estabelecida por bula patriarcal em 1893. Os estatutos foram desenvolvidos e aprovados por Sinésio em Paris, em maio de 1900. O objetivo de Doinel com o estabelecimento da Ordem foi o de agrupar em torno da Igreja um exército de honra, constituindo uma Ordem Terceira Gnóstica. A fórmula de armação, ainda hoje preservada, é composta pelos dizeres: “por São João e pelos Mártires, eu te faço Cavaleiro. Seja fiel, leal e puro”. A Ordem recompensava os membros da Igreja por serviços prestados por meio de dois graus: Cavaleiro Faidita da Pomba do Paráclito e Comandante de Cavaleiros.  Em virtude das características das sucessões gnósticas internamente perpetuadas, todo Episcopus da E.G.A.L./E.GRAAL é Comandante de Cavaleiros da O.P.P. Os Sacerdotes, por sua vez, podem professar os votos de Comandante a fim de regularmente sagrarem novos Cavaleiros em seus Santuários da Gnose.

Os mártires reverenciados pela O.P.P. são os Cavaleiros e Perfeitos, Perfeitas e Diaconisas da tradição albigense, imolados nos campos de batalha do sul da França ou condenados pela Inquisição. A martirologia da Ordem compreende nomes como Guilhavert de Castres, Pons d’Adhémar, Esclamonde de Foix, Roger de Foix, Raymond de Toulouse, Correti de Languedoc etc. Outros mártires, como os Templários e demais heréticos perseguidos pela Inquisição, foram paulatinamente sendo inseridos e homenageados pela Ordem. Os faiditas, em particular, foram senhores e cavaleiros do Languedoque que, acusados ou de heresia ou de acobertar a heresia, foram privados de seus feudos e terras, doados como recompensa aos participantes da Cruzada Albigense. Muitos deles opuseram forte resistência à ocupação da região pelas tropas do soberano francês.

O trabalho da O.P.P., relacionado ao reconhecimento, à memória e à proteção das antigas heresias, evidentemente é distinto do trabalho da Militia Sedes Sapientiae da Igreja Joanita. A O.P.P. e a M.S.S. reconhecem-se como legítimas Ordens de Cavalaria, mas, com relação a essa última, seu trabalho relaciona-se à cura e à entrega devocional ao sagrado feminino.

Na O.P.P., os Cavaleiros utilizam o manto branco com a cruz pateada, que pode ser vermelha ou roxa. Os Comandantes de Cavaleiros utilizam um colar com uma Cruz Cátara e os Cavaleiros das Quatro Rosas, para além do cíngulo dourado, utilizam um colar com uma joia em formato de pelicano.

87. O que é o Summum Supremum Sanctuarium?

O Summum Supremum Sanctuarium, que atua em comunhão com os Grandes Priorados Herméticos da Rosa+Cruz Dourada do Canadá e da América Latina (mas se mantém soberano e independente)e também com outra instância europeia, vela pela preservação e pela perpetuação de ritos iniciático esotéricos e herméticos da Tradição Esotérica Ocidental. Desse modo, chancela a formação de Lojas da Tradição Esotérica Ocidental e supervisiona seus trabalhos.

O Summum Supremum Sanctuarium é dirigido por um Concílio de Patriarcas Grandes Conservadores que responde ao Collegium Pontificum e que possui na figura do Grande Conservador Geral a Cabeça Externa da Ordem – porta-voz do Concílio.

88. O que é a Ordem dos Irmãos Iluminados da Rosa+Cruz?

A Ordem da Pomba do Paráclito é um dos pórticos de entrada possível para a Ordo Illuminati Rosae+Crucis. Dentro da Tradição, o Serviço à Luz e a aplicação da Sabedoria Arcana em prol da Grande Obra são indispensáveis e essas são as razões necessárias para o acesso à Ordo. A armação do primeiro grau da Ordo, Cavaleiro das Quatro Rosas, refere-se a transmissão de um complexo “nó iniciático”. A formação da Ordo contou com o patrocínio de diferentes linhas ou expressões tradicionais rosacrucianas e cavaleirescas.

O influxo espiritual rosacruciano encontra sua origem em diferentes legados da R+C, uma vez que foi primeiramente impulsionado por Iniciadores Regulares nas Tradições da R+C de Ouro do Antigo Sistema, da Ordre Kabbalistique de la Rose-Croix, da R+C Esotérica e Astral do Egito, da R+C d’Oriente, dos Irmãos Asiáticos, EASIA-EASIE, dos Irmãos da Luz, da R+C de Kilwinning, do Ritus Antiquus Aegypti, da F. R. Antiqua, dos Irmãos Antigos da R+C, da Cadeia S.C. e de outras linhas que, por características tradicionais, devem ser mantidas sob o manto do silêncio.

Com relação à herança cavaleiresca, por um lado, ela encontra sua origem em uma transmissão perpetuada desde a noite dos tempos, século a século, de cavaleiro a cavaleiro, através da Ordem de São Miguel, da Ordem do Espírito Santo, da Ordem do Tosão de Ouro e da Ordem de São Lázaro e que atingiu e penetrou na Ordem Martinista pela ação direta de um conde. Por outro, na transmissão ininterrupta da linhagem do Barão de Hund, pela via que se inicia na Ordem do Templo e alcança a Ordre de Saint-André du Chardon de Robert Bruce e a Stricte Observance Templiere. A herança, por outras vias, fluiu por meio da Ordem de Rafael, da Ordem de São Marcos e da Irmandade da Cruz. Sua origem também remonta à Ordem Teutônica por meio da Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, às tradições rosacrucianas e maçônicas já citadas, bem como à Ordem do Templo, por meio da sucessão da Milicia Trium Crucium que reconhece o grau de Cavaleiro das Quatro Rosas como uma patente regular de Cavaleiro do Templo sob a denominação de Cavaleiro do Pelicano.

Essas expressões são as raízes tradicionais e históricas da Ordem dos Irmãos Iluminados da R+C – Ordo Illuminati, ancorada na R+C Oculta e invisivelmente perpetuada pela O.P.P., no seio da E.G.A.L./E.GRAAL.

89. Qual a natureza do trabalho do Collegium Pontificum?

A Tradição não perpetua a si mesma. É em razão dos esforços dos diferentes elos de nossas cadeias de sucessão que, hoje, encontramos no seio da comunidade de Iniciados um espaço privilegiado para a trabalho em prol da Iluminação e do Serviço altruístico pela humanidade. Respeitosamente, a E.G.A.L. se refere a esses elos como Mestres do Passado e neles reconhecemos a atuação de verdadeiros Veladores da Tradição.

Nem todos os Veladores trabalham de maneira aberta ou coletiva, estabelecendo Lojas ou Ordens e ganhando o merecido reconhecimento público de Mestres do Passado, mas que muitos deles, de acordo com o propósito do Trabalho com o qual se comprometeram, optam pelo serviço e pela perpetuação da Tradição no Silêncio. Nesse caso, os Veladores muitas vezes trabalham a partir de um selecionado e íntimo grupo e, em algumas circunstâncias, para que a Tradição seja preservada em tempos de adversidades políticas ou de guerras, seus discípulos sequer chegam a se conhecer. Uma vez que os Veladores são os responsáveis mais diretos pela preservação e pela perpetuação da Tradição, agem sob a inspiração e proteção dos Mestres do Tempo. São justamente eles que garantiram a perpetuação da Tradição do passado para o presente, bem como garantem sua sobrevivência do momento presente para o futuro. É também entre os Veladores que os Conhecedores (Iluminados) muitas vezes encontram o meio mais fértil para a frutificação das sementes espirituais que dispensam ao mundo. 

No que tange à atuação dos Conhecedores, tem-se que uma Sociedade ligada ao Invisível por meio de um ou mais de seus chefes e cujo princípio de existência pode ser encontrado em um plano supra-humano costuma ser considerada como uma Sociedade de Iluminados. Esse é um ponto de grande relevância, pois uma das formas pelas quais uma Sociedade de Iluminados pode se manifestar é justamente pelo trabalho de um Velador, que estabelece uma Loja ou Círculo, ou, em algumas situações raras, quando, pela influência de um Velador, diferentes Lojas são agrupadas na formação de uma Ordem. Para além das estratégias do Trabalho na Intimidade do Silêncio ou do Trabalho em prol da formação de verdadeiras Sociedades de Iluminados, em algumas situações específicas, Veladores também podem formar pequenas e discretas células, muitas vezes secretas, para melhor servirem ao propósito da preservação da Luz da Iniciação.

O Collegium Pontificum, em outros contextos denominado Rosa+Cruz Oculta, é uma dessas células. Ainda que raramente se refiram a si mesmos como tal, seus membros são Pais ou Patriarcas Rosa+Cruzes e, no momento em que foram recepcionados na célula, submeteram-se a uma importante investidura de empoderamento espiritual.

90. Qual a missão do Collegium Pontificum?

Quando são formadas, células como o Collegium Pontificum assumem a missão de concretização de propósitos bastante específicos. É bastante comum que as células se diluam a partir da realização dos propósitos por detrás da sua formação. Nesse caso, seus membros se espalham, aguardando o momento em que a necessidade os guiará para a formação de novas células. O propósito conhecido ao qual os Pontífices do Collegium se dedicam é triplo: 1 – A difusão, por meio de organizações emanadas ou irmanadas, do Conhecimento Arcano pelo ensino dos princípios fundamentais do Movimento Rosa+Cruz; 2 – A manifestação, para o mundo, do antigo Sacerdócio Iniciático conforme a tradição da Igreja Invisível; e 3 – O Serviço à Iniciação por meio da liberação, para o mundo, e da transmissão, para os Iniciados selecionados, de um poderoso influxo espiritual rosacruciano e cavalheiresco.

O segundo dos propósitos conhecidos relaciona-se com a razão de ser da E.G.A.L. Com relação à realização do primeiro e do último propósitos conhecidos, a Ordem dos Irmãos Iluminados da Rosa+Cruz (Ordo Illuminati Rosae+Crucis ou, simplesmente, Ordo) foi escolhida pelo Collegium para trabalhar como sua exteriorização mais visível. A Ordo é composta por dois círculos ou graus, sendo o primeiro transmitido por meio de uma cerimônia de armação, que confere ao impetrante a dignidade de Cavaleiro Rosa+Cruz, também conhecida como Cavaleiro do Pelicano ou Cavaleiro das Quatro Rosas. Os cavaleiros são instruídos em conformidade com a Tradição dos Irmãos do Oriente, velam pela prática da mais pura forma de hesicasmo e de alquimia espiritual. São selecionáveis para a armação aqueles Iniciados que demonstraram possuir verdadeiros méritos na aplicação do conhecimento arcano em favor da comunidade e do Serviço à Luz. A seleção é rigorosa. Por sua vez, o segundo grau da Ordo é o de Irmão Iluminado da Rosa+Cruz, é reservado a Sacerdotes da Igreja do Graal, e confere a dignidade de Mestre Iniciador. Em determinadas situações, os membros do Segundo Grau costumam convocar a presença dos membros do primeiro para a celebração da Liturgia do Collegium ad Spiritum Sanctum.

91. Fisicamente, como um Santuário da Gnose é organizado?

O Santuário é orientado para o Leste e as cadeiras são dispostas de maneira a formar o CÍRCULO DA ASSEMBLEIA. Os Santuários são circulares e os membros da Assembleia o circulam sempre no sentido horário. Uma exceção, contudo, pode ser destacada: os diáconos, em seus movimentos, perfazem linhas e ângulos perfeitos e não necessariamente obedecem o sentido horário em sua movimentação – são os responsáveis pela quadratura do círculo. O CENTRO do Santuário é o seu RECINTO SAGRADO – o Sanctum Sanctorum do Santuário da Gnose – e não deve ser cruzado em momentos não previstos pelas liturgias gnósticas. Seis membros da Igreja auxiliam o Sacerdote na liturgia. Totalizando o número sete, cada qual corresponde a um centro celeste, sendo que o oitavo céu é o próprio Centro, local a partir do qual importantes Sacramentos são realizados. O símbolo do pelicano bicando o próprio peito para alimentar sete filhotes é um emblema preciso do processo da manifestação de Logos pelos Sete Sacramentos planetários, constituindo uma representação ímpar para o Círculo da Assembleia de um Santuário. Nesse caso, o peito do pelicano é a representação do Centro do Santuário, ponto maior de concentração da Presença feminina de Shekinah – a Sabedoria Divina.

92. São dois os altares?

Sim. O ALTAR DA CRUZ é posicionado no leste do Santuário, fora do Círculo da Assembleia. Em sua porção central, uma Cruz, geralmente ladeada por seis castiçais, é disposta. Esse altar é belo, adornado com flores, geralmente rosas, lírios brancos ou estrelas de Belém, e com Ícones ou Imagens Sacras que são distribuídos sobre ele de maneira harmônica. O pão transubstanciado que não foi consumido durante a liturgia é guardado no Altar da Cruz em um Ostensório ou em um Cibório próprios. Os três Óleos Santos da Ecclesia, ou seja, os óleos do Crisma, dos Catecúmenos e dos Enfermos, também são discretamente guardados no Altar da Cruz. A Cruz do Altar e o Círculo da Assembleia, cuja abertura é encontrada no Oeste entre o Porteiro e o Leitor, perfazem a verdadeira Mônada Hieroglífica rosacruciana.

O ALTAR DO SACRIFÍFIO é posicionado ao leste, no Círculo da Assembleia. Ele é ladeado por dois Lumina e, em seu centro, uma LAMPARINA preserva a CHAMA-FONTE. O LEVITIKON é exposto sobre este Altar. Na liturgia da comunhão, sobre ele também são posicionados o GRAAL (Cálice) e a PATENA, sobre o CORPORAL BRANCO e cobertos pela PALA ROXA. Nos Santuários, é comum que a substituição da Pala por um VÉU ROXO seja adotada. A Cátedra é a cadeira do celebrante e é posicionada, no Círculo da Assembleia, entre o Altar da Cruz e o Altar do Sacrifício. O conjunto da Cátedra com o Altar do Sacrifício está no ponto de contato exato entre a Cruz do Altar e o Círculo da Assembleia. Cadeiras adicionais, na porção detrás do Altar do Sacrifício, são adicionadas quando são recebidos Pontífices e Episcopi que se dispensem da prerrogativa de conduzirem a liturgia.

93. O que são as credências?

O diácono e a diaconisa posicionam-se, no Círculo da Assembleia, respetivamente, à direita e à esquerda do Altar do Sacrifício. Eles contam com Credências (pequenas mesinhas) e são ladeados, respectivamente, por uma subdiaconisa e por um subdiácono. A CREDÊNCIA DA DIACONISA dispõe de água e sal bentos, bem como do Sanguinho utilizado para secar o Graal, da caldeirinha, do aspersório e da galheta de água. A CREDÊNCIA DO DIACONO dispõe de incenso e carvão bentos, bem como da naveta que porta o incenso, do manustérgio utilizado para secar as mãos do Celebrante no momento de purificação, e da galheta de vinho.

94. Em que o calendário litúrgico está ancorado?

A E.G.A.L., em consonância com a memória da Tradição Cristã Prístina, tem no SOL visível um emblema ou símbolo do LOGOS invisível. Seu Calendário Litúrgico rememora a história de NASCIMENTO, MORTE SACRIFICIAL (CRUCIFICAÇÃO) e RESSUREIÇÃO – IAO – do DEUS SOLAR, REX MUNDI que, em diferentes ramos dos Mistérios, nasce no solstício de inverno (hemisfério norte), no momento em que o signo da Virgem eleva-se no horizonte. Embora a data do nascimento seja fixa (posição solar fixa), o mesmo não ocorre com a data da sua morte (posição solar variável).

O Calendário Litúrgico da E.G.A.L./E.GRAAL, portanto, não se vincula diretamente a quaisquer narrativas históricas, mas aos movimentos cíclicos da LVX MUNDI e aos enredos míticos que os desenvolveram. Ele também prevê dias de celebração para Arcanjos, Santos e Mártires de relevância tradicional e os Santuários podem escolher festividades próprias, como a celebração do dia do Santo que nominalmente os apadrinha.

95. Quais as principais datas do calendário gnóstico?

O Solstício de INVERNO, a noite mais longa do ano, recorda as trevas nas quais a humanidade está imersa. A escuridão é necessária para que a renovação da Luz se manifeste. No dia 25 de dezembro, celebra-se o retorno da Luz na forma da Natividade da Criança Solar. Dia 27 é o dia de São João Evangelista, quando se reverencia o nascimento da Tradição Joanita da Igreja Interior. A Epifania (Dia de Reis) é fixada no dia 6 de janeiro. Trata-se da Celebração da Manifestação – da aparição e do reconhecimento, por parte dos Magos do Oriente, do nascimento da Luz. Preserva a memória dos dois nascimentos, uma vez que se refere ao nascimento físico e ao espiritual (epifania a João Batista no rio Jordão), bem como da realização espiritual (epifania aos discípulos, início do ministério). Na Tradição Gnóstica, é um dia de introspecção e recolhimento celebrativo.

A Candelária (Purificação da Virgem) é celebrada dia 2 de fevereiro, 40 dias depois da Natividade da Criança Solar. Tal período é o coração do Inverno e, na Candelária, os lumina da Igreja, que serão usados ao longo do ano, são abençoados em memória e celebração da iminente vitória da Luz. No dia 14 de fevereiro, nossas comunidades também celebram a memória de São Valentim, que viveu no segundo século, em Alexandria.

A Quarta-Feira de Cinzas, que é o início da Quaresmo, ocorre 40 dias antes da Páscoa. O período da QUARESMA sucede ao carnaval e rememora a necessidade da purificação interior. Recomenda-se que, especialmente nesse período, os Sacerdotes pratiquem diariamente o Sanctus Mysterium Sacerdos e que os Neófitos observem diligentemente o Pater e se foquem no Trabalho dos Dez Reconhecimentos. Como mencionado, a Quarta de Cinzas é o primeiro dia da Quaresma. Nesse dia, a Assembleia é marcada na fronte pelo sinal da cruz feito com cinzas. “Lembre-se, oh Alma, que o corpo é pó e ao pó deve voltar”. A marca é lavada somente depois do pôr do Sol.

O dia 16 de março reverencia a memória dos Albigenses. Trata-se de um dia de especial relevância para os Cavaleiros da Ordem da Pomba do Paráclito. O dia 24 de março celebra São Gabriel, o Arcanjo da Água e da Anunciação. O Equinócio da PRIMAVERA, Ano Novo Astrológico, é um momento de equilíbrio mágico e renovação da Vida pelo triunfo da Luz.

A Semana Santa começa 8 dias antes da Páscoa, com o Domingo de Ramos. Nesse dia, comemora-se a entrada triunfal em Jerusalém – o triunfo temporário da Luz que precede seu obscurecimento e renovação. O ramo da palmeira é um símbolo de realeza (seu movimento é uma saudação ao rei). A Quinta-Feira Santa, ou Quinta-Feira de Endoenças, que é a quinta-feira antes da Páscoa, comemora a perpetuação do Sacramento da Comunhão. Perpetua a tradição de se lavar os pés (húmus necessário à recepção da Gnose) e é o dia da consagração dos óleos santos pelos Bispos. Na Sexta Santa, os Mistérios da Cruz e do Sacrifício são rememorados – os Mistérios do Redentor da Redentora. No Sábado Santo, a Benção do Fogo é realizada fora do Santuário, onde o Círio Pascal é incensado. A Assembleia está em trevas, mas a Luz retornará. Neste dia, no período entre morte e ressurreição, os ramos da Ecclesia celebram a Liturgia do Cristo Negro. A Luz atinge o Mundo dos Mortos. Depois da descida aos Infernos, a Páscoa demarca a celebração da Ressurreição da Luz e sua data é fixada no domingo depois da lua cheia posterior ao equinócio.

Quarenta dias depois da Páscoa, na Ascensão, a Luz, a Flor do Pleroma, retorna aos céus. Nesta celebração, o Círio Pascal é extinto. A Festa de Pentecostes ocorre dez dias depois, ou seja, cinquenta dias depois da Páscoa. Depois da ascensão da Luz, a Pomba (Espírito Santo) realiza a promessa da Paz sobre os Apóstolos e sobre a Theotokos (Portadora de Deus). A Luz habita nos discípulos e na Mãe.

A lua cheia de maio é muito importante e nós a chamamos de Lua da Sabedoria. A ascensão da Luz não impede que os merecedores a encontrem. Esta data celebra a transmissão secreta da S.G. no Silêncio e no Isolamento e a realização espiritual dos eleitos. É uma data propícia para o Sacramento do Batismo do Fogo (Consolamentum).

Santo Uriel, o Arcanjo da Terra, é celebrado em conjunto ao Solstício de VERÃO. Para a Ecclesia Gnostica, esse dia demarca o início do tempo comum. A prática das fogueiras simboliza a Luz que, ainda resplandecente na consciência dos Iniciados, pode ser alcançada pelo povo nos Mistérios Menores. Os Perfeitos costumam se reunir nesse dia para a celebração da Liturgia da Missa da Luz.

No dia 24 de junho, comemora-se a memória de São João Batista, o “Homem da Luz”, que iniciava as pessoas nos Mistérios Menores. É um momento para o aprofundamento da consciência na Luz e nos motivos de protegê-la. Santo Elias, patrono de nosso Santuário Primaz, é celebrado no dia 20 de julho. Nesse dia, a Liturgia R+C é observada.

No dia 22 de julho, celebramos a memória de Santa Maria Madalena, a Codianista que recebeu a plenitude da S.G., e a assunção de Maria Sofiânica é por nós recordada no dia 15 de agosto. Essa data celebra a promessa da Restauração da Gnose – a Era do Espírito Santo – por meio dos símbolos da ascensão aos céus de Maria e Sofia. No dia da Natividade da Virgem, dia 8 de setembro, a Ecclesia Gnostica rememora a descida de Sofia. Esse dia é chamado de Natividade de Anima Mundi. Em nenhum momento a humanidade é abandonada nas trevas.

O Equinócio do OUTONO é um momento de equilíbrio mágico e de renovação interna por meio dos Mistérios da Câmara Nupcial. No dia 29 de setembro, celebra-se São Miguel, o Arcanjo do Fogo, Príncipe da Milícia Celeste. No dia 4 de outubro, celebra-se a memória de São Francisco. Nessa data, comemora-se a criação gloriosa em suas mais diversas criaturas e expressões. São Jacques de Molay é lembrado no dia 13 de outubro. Essa é a celebração do Mártir da Fidelidade e do martírio dos Cavaleiros da Ordem do Templo. Nesse dia, a Liturgia da Ceia de Emaus é observada.

No dia 1º de novembro, dia de “Todos os Santos”, todos os Santos Gnósticos são rememorados, bem como os Antigos. Pede-se para que, no devido tempo, a Assembleia possa se juntar aos líderes da Luz. Esse é o dia da fundação da nossa Igreja. O dia de Todas as Almas, 2 de novembro, é o dia do Requiem Geral. Ora-se pelos mortos e gratidão é expressa para com os antepassados.

No dia 30 de novembro, celebra-se a Memória do Apóstolo André. O Advento acontece quatro domingos antes da Natividade da Criança Solar. O Tempo do Advento é preparatório para a celebração da Natividade. É um tempo de trevas, de recolhimento e de silêncio, que precede o renascimento da Luz no e para o mundo. No dia 22 de dezembro, celebra-se São Rafael, o Arcanjo do Ar, a Cura de Deus que, durante o Tempo do Advento, regenera o mundo para o recebimento da Luz.

E com a chegada da Natividade, mais um ciclo é iniciado…

96. O ano litúrgico segue a distribuição de cores da Ortodoxia?

Essa atribuição não encontra nenhuma correspondência em nossa Tradição, que toma o roxo, o dourado, o prateado e o vermelho como suas cores. Por essa razão, as cores de nossas paramentas não variam durante o ano. O calendário da E.G.A.L. está ancorado em ritmos cósmicos muito específicos.

97. A E.G.A.L. mantém relação com outras igrejas?

De um ponto de vista tradicional, há uma só Ecclesia, santa, católica e apostólica, de forma que a E.G.A.L. considera-se irmanada em espírito com todas as igrejas católicas legítimas, sejam elas gnósticas ou não.

Particularmente, contudo, a E.G.A.L. mantém uma relação de estreita irmandade com a E.C.A. S+ I+, a Ecclesia Catholica Apostolica Sancti Iohannes, ou, simplesmente, Igreja Católica Joanita.

98. Por que é assim?

Porque o Pontifex Primus e o Pontifex Primus Adjutor da E.G.A.L. são, respectivamente, Patriarca Primus Adjutor e Arcebispo Primaz Adjunto e Patriarca Primus e Arcebispo Primaz da E.C.A. S+ I+. Isso quer dizer que ambas as igrejas foram por eles fundadas como expressões distintas, independentes e autônomas do seu ofício apostólico uno e indissociável.

99. Isso quer dizer que os fundadores de ambas as igrejas não as consideram completas em si mesmas como veículos aptos a transmitir os Mistérios Cristãos?

De forma alguma! Ambas, E.G.A.L. e E.C.A. S+ I+, são veículos eclesiais completos e autossuficientes da Ecclesia una, santa, católica e apostólica. Os fiéis da E.G.A.L. não são compelidos de forma alguma a se tornarem fiéis da E.C.A. S+ I+, não se lhes diz que isso seja necessário e tampouco há qualquer insinuação para que integrem, concomitantemente, esses dois veículos eclesiais, embora muitos participem ativamente de ambos. Tão somente àqueles que manifestam o desejo de receber o Sacramento da Ordem é que se exige que estudem os corpi doutrinários tanto da E.G.A.L., quanto da E.C.A. S+ I+, independentemente da sua intenção de serem ordenados apenas numa delas ou em ambas.

100. Mas por que optaram esses bispos por criar duas igrejas distintas? Não seria mais produtivo concentrarem seus esforços tão somente num único veículo eclesial?

Os bispos fundadores da E.G.A.L. e E.C.A. S+ I+ são depositários de um vastíssimo depósito tradicional cristão, alicerçado em inúmeras linhagens de sucessão apostólica tanto gnósticas, quanto ortodoxas (por exemplo, Igrejas Ortodoxas Orientais, Igreja Católica Romana, Igreja Velho-Católica e Igreja Católica Liberal). Assim, não lhes cabia optar por trabalhar com esta ou com aquela veia cristã, vez que foram feitos herdeiros, depositários e perpetuadores de todas elas. Não lhes era permitido, ainda, trabalhar todas essas sucessões apostólicas num único corpo eclesial, pois isso acarretaria um sincretismo de efeitos nocivos, pois as macularia enquanto expressões puras da mesma Tradição Prístina.

Optaram esses bispos, assim, por agrupar o corpus doutrinário cristão gnóstico no seio da E.G.A.L. e o corpus doutrinário cristão não gnóstico no seio da E.C.A. S+ I+. Assim, ao passo que a E.G.A.L. é herdeira, depositária e perpetuadora do Gnosticismo Cristão, a E.C.A. S+ I+ é herdeira, depositária e perpetuadora do Esoterismo Cristão (que não se confunde com o que alguns denominam cristianismo esotérico).

Catecismo Gnóstico E.G.A.L./E.GRAAL 05 – Graus
GRAUS

101. O que é a Iniciação e como ela é dividida?

A E.G.A.L. se insere na tradição da Igreja Invisível dos Iniciados e compreende a Iniciação como um processo espiritual de aceleramento da elevação da consciência às sublimes realidades eônicas. A Iniciação, entretanto, é compreendida apenas como um começo – initium. Na Iniciação, começa-se a percorrer a Senda da Iluminação. O aprendizado a respeito do fluir na corrente do Caminho, de ser Crestão (Viajor) em Cristo (Caminho), propicia a profunda e iluminadora união entre Iniciado e Caminho. Dentro dessa perspectiva, compreendemos os sacramentos da Sacrossanta Gnose como um ministério sacerdotal mágico-teúrgico por meio do qual o Logos se manifesta na vida de seus Iniciados de modo a auxiliá-los no Caminho. A Iniciação, que entendemos ocorrer em quatro fases e sete graus, ocorre a partir do centro interior de cada Iniciado (gnosis kardias) como resultado de seu próprio preparo e presteza.

102. Os graus e fases devem ser compreendidos de maneira linear?

Para a Tradição, são sete os Graus da Iniciação, distribuídos em Quatro Fases. A Iniciação transcorre de maneira circular, não sendo possível compreendê-la de maneira linear. Ou seja: os Sete Graus NÃO devem ser tomados como sequenciais. 

103. O que é a Iluminação?

A E.G.A.L. compreende a Iluminação como essencialmente místico-gnóstica. Mística, uma vez que contempla a experimentação da sintonia com as realidades superiores (aeonic-locus) e da osmose espiritual pelo contato com diferentes expressões logóicas (éons). Gnóstica, uma vez que compreende que determinado tipo raro de sabedoria pode emergir de tal experimentação. Dessa forma, preconizamos a potencialidade da experimentação místico-gnóstica fomentar o desenvolvimento da Filosofia Hermética e da Magia Divina (Teurgia) a partir da gnosis kardias. Chama-se de Zacheita é aquele que realizou o mistério prístino da Câmara Nupcial, desabrochando a gnosis kardias, manifestando a completa unificação com o Logos.

104. Quais as associações da Fase do Aluno?

A FASE DO ALUNO está associada ao Inverno (ao trigo que é semeado), ao negro e ao Vestíbulo do Templo. Essa é a Fase da Provação e é composta por dois Graus.

105. Quais os graus que compõem a Fase do Aluno?

O Primeiro Grau é chamado BORBORIANISTA. Trata-se do Aluno Secreto, representado pelos símbolos da Caverna, da Esfinge e da Criança. A festa associada é a do Nascimento (25/12). O Borborianista é aquele que se inquieta, sai do pântano e vê a Luz brilhar nas trevas. Esta Luz é o Cristo que nasce na sua mente e no seu coração. Na EGAL, os Borborianistas são os membros do Círculo Exterior dos Alunos – aqueles que estão se aproximando da Igreja, informam-se a seu respeito, assumiram a Provação do Silêncio, mas, contudo, ainda não foram recebidos na Igreja.

O Segundo Grau é chamado CODIANISTA ou MENDIGO. Trata-se do Aluno Perfeito, representado pelo símbolo do Pórtico e das Duas Colunas ladeando o Livro Aberto. O Codianista é aquele que cresce em idade e sabedoria e sabe discutir o Mistério do Cristo e o Mistério do Reino (provação moral e intelectual). O Mistério do Reino é intelectivo – é o estudo, simbolizado pelo livro aberto. O Mistério do L-Cristo é moral, simbolizado pelas duas colunas – as duas cruzes que ladeiam a Cruz do Cristo. Esses dois Mistérios, na Tradição da E.G.A.L., devem ser alcançados pelo estudo e pela prática da primeira página do Liber IN (Os Dez Reconhecimentos). Um ponto importante é justamente o do último Reconhecimento – o derradeiro, síntese dos anteriores – que é justamente a Disciplina da Vida, o Mistério do Eon Zoe, a vivência de um valor ético na e pela Vida. A festa associada é a da Conversão com os Doutores (02/02). Na E.G.A.L., quando um Discípulo se informou suficientemente a respeito de nossa Tradição e garantiu o que chamamos de “Amizade da Sabedoria”, que é tal como um Carisma, ele tornou-se também um Aluno Perfeito, um Iniciado pronto para receber a Graça pelo Batismo do Fogo e, pela força do Espírito Santo, renascer como um Perfeito (Mestre) na Igreja do Graal. O tornar-se recipiente, aqui, relaciona-se com a pobreza de espírito e com o símbolo judaico do mendigo (Guimel e Daleth, a mão do rico e a mão do pobre, a mão que sabe dar e a mão que sabe receber). Mesmo cultivando o conhecimento, precisamos verdadeiramente nos esvaziar e cultivas esse vazio para que a Sabedoria habite conosco.

106. Quais as associações da Fase do Discípulo?

A FASE DO DISCÍPULO ou NEÓFITO está associada à Primavera (aos germes que brotam), ao branco e ao Templo. Essa é a Fase do Mistério do Reino e é composta por dois Graus.

107. Quais graus compõem a Fase do Discípulo?

O Terceiro Grau é chamado NINFIUSITA ou BANHISTA. Trata-se do Sublime Maçom Gnóstico, representado pelo rio e pelo batistério. O Ninfiusita é aquele que deve se livrar dos restos da lama para fazer resplandecer sua candura. A Festa associada é a do Batismo (25/03). Na E.G.A.L., os Ninfiusitas são os membros do Círculo Exterior dos Neófitos (“recém-plantados”), recebidos na Igreja por meio do Batismo da Água ou pela Transmissão do Pater.

O Quarto Grau é chamado STRATIOTITA ou SOLDADO. Trata-se do Cavaleiro da Espada, representado pelos símbolos da Espada, da Pedra Angular Branca e do Templo. Cavaleiro da Espada é aquele que trabalha pela construção da nova Jerusalém. Sua festa é a da Pregação e das Lutas, a festa da Lapidação (02/05). Na E.G.A.L., esse grau é contemplado dentro da Ordem da Pomba do Paráclito, por meio do caminho da Cavalaria Alquímica e Espiritual.

108. Quais as associações da Fase de Mestre?

A FASE DO MESTRE ou PERFEITO está associada ao Verão (época da colheita), ao vermelho e ao Santuário.  Essa é a Fase do Mistério do Cristo e é composta por dois Graus.

109. Quais graus compõem a Fase de Mestre?

O Quinto Grau é chamado FIBIONISTA ou POBRE DE ESPÍRITO. Trata-se do Mestre Adepto, representado pelo símbolo da Montanha e do Candelabro de Sete Braços sobre um Cubo de Safira e Duas Oliveiras. O Fibionista é aquele em que o Cristo está por ser completamente desvelado. A festa associada é a da Transfiguração (01/07). Na E.G.A.L., são os membros do Círculo Interior dos Perfeitos, que passaram pelo Batismo do Fogo e foram feitos membros da Igreja do Graal – E.GRAAL.

O Sexto Grau é chamado ZACHEITA. Trata-se do Mestre do Real Segredo e é o Grau mais elevado de consecução espiritual. O Irmão Iluminado é representado pelo Cenáculo, pela Real Arca, pela Mesa Sagrada e pelo Pelicano R+C. O Zacheita é Aquele que manifestou a completa unificação com Cristo. A Festa associada é a da Entrada Triunfal em Jerusalém e da Ceia (01/08).

110. Quais as associações da Fase do Mestre Eleito?

A FASE DO MESTRE ELEITO está associada ao Outono (época do armazenamento e da partilha), ao ouro e ao Tabernáculo.  Essa é a Fase do Mistério da Morte e é composta por um Grau dividido em Ordens Menores e Maiores.

111. Que grau compõe a Fase do Mestre Eleito? Como ele é subdividido?

O Sétimo Grau é chamado BARBELITA ou FILHO DO SENHOR – Ministro da Serpente de Bronze ou da Estrela. É simbolizado pelo Gólgota e pela Serpente enrolada em torno da Cruz, debaixo da Estrela Flamejante. Trata-se do iniciado que se dedicou ao sacerdócio, superou o umbral da dor e da morte e, como o Cristo, pode andar pelo reino dos mortos, voltar e ressuscitar.  A Festa associada é a da Morte e da Ressureição (25/09). O ministério sacerdotal, segundo a Ordem de Melquisedeque, é dividido em diferentes Ordens. O membro das Ordens Menores (Clérigo, Porteiro, Leitor, Acólito, Exorcista ou Subdiácono), genericamente chamado como Irmão Menor na EGAL, é chamado Arauto (Real Machado) na Tradição Gnóstica. Em relação aos Irmãos Maiores, os Diáconos são chamados Custódios do Tabernáculo, os Padres são os Veneráveis Irmãos e os Bispos são designados Grão-Mestres da Chave. Na E.G.A.L., o ápice da Hierarquia Ministerial (Hierarquia de Sacerdotes e Reis) é encontrado na figura dos Pontífices – Patriarcas Gnósticos que também velam por diferentes manifestações da Tradição Primordial.

Catecismo Gnóstico E.G.A.L./E.GRAAL 06 – Código
CÓDIGO

112. A E.G.A.L. possui um posicionamento político?

A Igreja Gnóstica não lida com assuntos políticos ou de Estado, mas recomenda a prática da moderação e da benevolência aos líderes em favor da realização da paz universal na humanidade. A Assembleia utiliza de todos os meios pacíficos para se opor a todas as formas de injustiça, sempre agindo em favor da equidade social e da assistência aos necessitados. Evidentemente, a E.G.A.L. se considera antagonista de todas as formas de intolerância e de preconceito religioso, de gênero, de raça e de orientação sexual. A violação desse princípio é inegociável e irrecorrível, sendo razão suficiente para o desligamento ex officio da comunidade.

113. Há uma característica ecumênica no seio da Igreja Gnóstica?

A Tradição de Sabedoria da E.G.A.L. é o Cristianismo. Alguns membros seguem as escrituras acerca de um Jesus histórico, outros buscam o Cristo Cósmico, outros ainda harmonizam esses Mistérios, vendo neles camadas de expressão e de compreensão. Cada um deve seguir os ditames da própria consciência. Nesse contexto, a E.G.A.L. não se fecha a outros saberes e Tradições de Sabedoria e procura criar diálogos profundos e férteis. O sentimento de ecumenismo, é claro, requer uma flexibilidade real e exige grande maturidade espiritual. Ecumenismo não é sinônimo de sincretismo. Nossa vocação causa em nós o sacrifício de nossas opiniões, ideias, vaidades e seguranças e, no lugar, expressamos valores mais profundos em nossas vidas: amor, verdade, compaixão, saúde do corpo, mente e espírito, beleza em todas as suas formas, quer seja na natureza, na cultura ou na vida espiritual. Cada Assembleia deve possuir uma atmosfera de aceitação, abertura e respeito e ser considerada como verdadeiro refúgio espiritual. Não há justificativa plausível quanto a seguir um direcionamento distinto desse.

Em essência, a unidade. Na interpretação, a liberdade. Em todas as coisas, a caridade. Em nossa diversidade encontramos nossa unidade. Essa é a grande teurgia da Ecclesia de Deus.

114. Qual a Promessa feita na Transmissão do Pater?

A Solene Promessa de que doravante não mentirei, não matarei, que cuidarei de meu corpo e de minha alma, bem como que nunca caminharei sozinho quando for possível ter um bom companheiro e que nunca abandonarei minha fé por medo da água, do fogo ou de qualquer outro tipo de morte.

115. O que foi recomendado à sua guarda no final da Transmissão do Pater?

Se eu quero entrar na Vida Eterna, devo guardar os mandamentos: amarás ao teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com todo o teu espírito, e ao próximo como a ti mesmo.

116. Qual o Código de Cavalaria adotado pela Ordem da Pomba do Paráclito?

Devemos amar a Deus sobre todas as coisas a ao próximo como a nós mesmos, encontrando, na Imitação de Cristo, uma importante chave para a elevação da alma;

Devemos manter atitude de serviço a Deus e à Divina Mãe, oferecendo a Ela todos os nossos méritos, conservando a humildade em todos os empreendimentos e rogando, diariamente, pelo apoio do Espírito Santo para o exercício do serviço em pobreza, castidade e obediência;

Devemos comparecer aos serviços religiosos e tomar parte dos sacramentos sempre que possível, auxiliando os Sacerdotes do Altíssimo em seu ministério e cooperando com a perpetuação dos antigos ritos e mistérios que nos aproximam do Incriado; 

Devemos estabelecer um ritmo diário de oração e de recolhimento meditativo, preservando a técnica arcana e valorizando a repetição e a disciplina como fundamentos necessários para o estabelecimento da liberdade espiritual;

Devemos dedicar-nos, diariamente, antes de nos entregarmos ao sono, a um minucioso exame de consciência e, com humildade (pobreza de espírito) e coragem (de nos autoenfrentarmos), repassar todo o nosso dia, analisando os aspectos virtuosos ou não de nossas ações, bem como as nossas reações às adversidades do cotidiano, propondo-nos, ao final, corrigir-nos naquilo em que nos distanciamos dos ideais da Cavalaria, rogando a Deus e à Mãe que nos auxiliem nesse propósito.

Devemos render graças por nosso alimento, material e espiritual, compartilhá-lo com quem tiver fome e sermos gratos para com a experiência da vida;

Devemos honrar a memória dos santos, mártires e heróis e sermos leais aos irmãos e irmãs que se esforçam para empreender o caminho da Divina Demanda;

Devemos dizer a verdade, tomando a Deus como onipresente testemunha, de maneira a reconhecer, preservar e perpetuar a sacralidade da palavra proferida por um Cavaleiro;

Devemos assumir responsabilidade por nossas ações, preservar a pureza de propósito em cada um de nossos atos, observar a prudência e nos conservar coerentes para com nossos votos e solenes compromissos;

Devemos cultivar a nobreza e a magnanimidade da alma, exercitando a cortesia e a benevolência em relação a todos os seres, humanos ou não, bem como reconhecendo a natureza como uma expressão sagrada, o sacramento da Divina Mãe, envidando todos os esforços necessários para protegê-la.

Devemos observar a justiça e manter atitude de abertura e não julgamento, a menos que a pessoa, por suas próprias ações e atitudes, demonstre não ser digna de confiança;

Devemos defender a liberdade, reconhecendo a fagulha divina presente em cada um dos seres, conservando a tolerância e a paciência, e promover a justiça para com os fracos e oprimidos;

Devemos prestar auxílio aos enfermos de corpo e de alma, exercitar a hospitalidade, a misericórdia e experimentar, na fraternidade entre os homens, uma forma de aproximação com o Cristo;

Devemos combater a ignorância e o mal que dela se origina, viabilizando o acesso ao conhecimento, incentivando o cultivo da sabedoria e fortalecendo o enfrentamento do obscurantismo, da alienação e da manipulação da mente fraca;

Devemos ser incansáveis guardiões da cultura, protegendo as distintas expressões religiosas, artísticas e científicas, reconhecendo as vias espirituais da beleza, da sabedoria e da caridade, e ser guardiões da paz, recorrendo à violência unicamente quando não houver alternativa e somente para a autodefesa ou para a defesa daquele incapaz de defender a si mesmo.

Devemos observar a temperança, sendo moderados e comedidos em todos os assuntos, evitando os excessos que prejudicam o corpo e a alma;

Devemos alimentar a fortaleza e nunca abandonar o Cultivo das Virtudes para que, por meio da fé, da esperança e da caridade, a Graça Divina se realizem em nosso coração;

Devemos seguir o código e nos comprometer com a diligência e a coragem necessárias para que que nos mantenhamos no caminho ao qual nos propusermos percorrer.

117. Quais os Valores Cavaleirescos da Teosofia Cristã?

Os Valores Cavaleirescos da Teosofia Cristã são a Nobreza, a Pureza de Propósito, a Liberdade, a Coragem, a Misericórdia, a Sabedoria e a Hospitalidade.

118. Qual o significado da Nobreza?

Todo ser possui uma Centelha do Divino e a consciência dessa fagulha interna que subjaz à criação, em todos os seus níveis, constitui o mais alto nível de autoconhecimento e de experiência mística. Tal ato de consciência, o objetivo da Teosofia Cristã, é libertador, transcendente e experiencial, e é chamado de Gnose. A “Gnose” – literalmente “Conhecimento”, mas, mais precisamente, a “percepção” – é a raiz da nobreza no sentido da magnanimidade, do “ser conhecido” e considerado em virtude da generosidade e da grandeza de caráter. Acessar a Gnose e assumir a visibilidade decorrente desse processo implica na obrigação da coerência e do serviço em prol dos demais peregrinos.

119. Qual o significado da Pureza de Propósito?

O Universo manifesto existe em relação de continuidade com a Fonte Incriada e Incognoscível. O Cavaleiro cultiva a Virtude da Prudência, que é uma contração da “providência”, isto é, pro-videre ou “para prever”. Ter consciência da direção que está sendo tomada, bem como do seu destino, obriga o Cavaleiro a assumir uma atitude ciente e responsável por suas próprias ações e a valorizar a conservação da pureza de propósito e sua motivação. Ademais, uma vez que a Pureza de Propósito é a antítese do orgulho, da vaidade e do medo, o Cavaleiro não deixará de olhar para o seu dragão interior, as sombras que ainda habitam a sua alma, a fim de torná-la cada vez mais límpida, cristalina e, desse modo, apta a refletir com perfeição cada vez maior a luz dessa Pureza que, em essência, ele já é.

120. Qual o significado da Liberdade?

São muitas as vias que levam à consecução espiritual por meio da experiência mística e gnóstica. A promoção da liberdade de pensamento na busca do Caminho interior em direção ao Pai-Mãe é indispensável. O Cavaleiro compromete-se com a busca por escapar dos grilhões da própria ignorância e, simultaneamente, obriga-se a defender a liberdade em todas as suas formas. 

121. Qual o significado da Coragem?

A experiência mística e a Gnose decorrentes do contato com a Alta Invisibilidade encorajam o coração do Cavaleiro. Abraçar a virtude da coragem e toda prática centrada no coração depreende-se da percepção de que o mundo foi ordenado como resultado da Fonte que continua se expressando e que todos os seres são partes integrantes desse processo. O sentimento de parentesco entre todos os seres nutre a compaixão do Cavaleiro, que reconhece e serve a Centelha do Divino existente nos demais seres como em si mesmo. A Coragem, ainda, capacita o Cavaleiro a vencer dragões, estando ele ciente de que, antes mesmo de enfrentar os dragões exteriores, precisará contar com essa virtude cultivada num grau máximo para confrontar seu próprio dragão interior.

122. Qual o significado da Misericórdia?

O exemplo do Cristo e o legado do Espírito Santo ensinam o Cavaleiro a defender a misericórdia e a benevolência como princípios fundamentais das suas ações. A ação misericordiosa é um exercício da melhoria do eu e o Cavaleiro a conserva por estar ciente de que seu exercício é transformador e prepara-o para os desafios da sua própria peregrinação.

123. Qual o significado da Sabedoria?

Por meio do estudo e da contemplação dos escritos sagrados que revelam a mensagem divina de amor e compaixão ao longo da história, o Cavaleiro convida a Sabedoria e a Ela se apega como um importante princípio ao longo de sua jornada. A Sabedoria é a herança e o propósito da imorredoura Tradição Arcana. Conforme se lê em Provérbios: “Não abandone a Sabedoria e Ela guardará você; ame-a e ela o protegerá” (Prov 4:6).

124. Qual o significado da Hospitalidade?

O reconhecimento da Centelha do Divino presente em todos os seres leva o Cavaleiro a manter as Casas abertas a toda a humanidade, sem discriminações de gênero, raça, religião, condição social ou orientação sexual. O Cavaleiro honra o antigo voto beneditino da hospitalidade e, na justiça sacramental, tal atitude significa oferecer a Eucaristia a todos os que têm fome.

125. Há um carisma monástico na E.G.A.L.?

Existe um ditado gnóstico que diz que instalamos mais altares do que construímos capelas. E como ele é verdadeiro! Cada membro da Igreja possui um Santuário em seu próprio lar, um centro sagrado e consagrado dedicado à devoção e à oração. Ainda que a Igreja seja um corpo eclesiástico, devemos entender que ela possui aspectos monásticos muito importantes e intensos. Somos uma comunidade clerical e iniciática, mas também um monastério sem muros e todos os nossos membros são considerados peregrinos na Grande Jornada. A natureza da nossa Igreja é a de servir os discípulos nos Mistérios, fornecendo a orientação e os meios necessários para um caminho iniciático completo de Vida para que o Amor possa verdadeiramente se manifestar.

126. O que é a Sagrada Quadratura?

São os quatro princípios éticos que sustentam não apenas o verdadeiro Santuário da Gnose, mas também as religiões e filosofias herméticas. São eles:

Amamos a Deus como Ele nos ama;
Amamos ao próximo como a nós mesmos;
Colhemos de acordo com o que semeamos;
Compartilhamos o que recebemos.
127. O que são os Votos? O que é uma vida votiva?

Os VOTOS são uma maneira pessoal de dar corpo ao nosso amor por Deus, pelo Verbo (Logos) e pela criação. Uma VIDA VOTIVA significa que o significado da vida religiosa e iniciática tornou-se uma questão central da própria Vida.

128.Quais os Votos aos quais os membros da E.G.A.L. aderem?

Os Votos são aqueles presentes nos quatro artigos da Sagrada Quadratura.

129. Qual o papel da Regra?

A REGRA auxilia com o cumprimento dos Votos na vida.

130. Qual a Regra dos Discípulos?

A Regra do Círculo dos Discípulos é apresentada da seguinte maneira:

ANONYMITAS: a personalidade mundana deve ser subjugada pela Divina e, nos diferentes aspectos de nossa vida religiosa e iniciática, permanecemos incógnitos;

INSOLITATIS: o principal enfoque é no trabalho interior e devemos, sempre, garantir a pureza de nosso coração. Evidentemente, tal enfoque implica em determinado modo de Isolamento e, por essa razão, determinada forma de estranhamento frente à comunidade exotérica é gerada.

CONIUNCTIONEM:  não devemos estar conectados apenas com os nossos irmãos na Ecclesia, mas também com a Tradição de nossa Igreja, velando para que ela possa se manifestar em toda a sua pureza e esplendor. Tenhamos sempre em mente que a reintegração é coletiva;

OBEDIENTIAM: a unidade com a Regra implica na corresponsabilidade pela Igreja. Não se trata de obediência absoluta, que somente devemos a Deus. Obediência: OB AUDIRE = OUVIR A. Precisamos ouvir atentamente e considerar as autoridades sacerdotais de nossa comunidade, mas também nossa autoridade interior, guiada pela razão, pela compaixão e pela constância de nosso estudo e reflexão. Quando encontramos a Verdade, devemos nos responsabilizar por integrá-la em nossas vidas.

VIRTUTIBUS: o cultivo das virtudes e a meditação nelas é uma de nossas responsabilidades mais importantes. São elas que norteiam a Regra. As Virtudes Cardinais são a Prudência (Terra), a Temperança (Água), a Justiça (Ar) e a Fortaleza (Fogo); as Virtudes Teologais são a Fé (Enxofre), a Esperança (Mercúrio), a Caridade (Sal); as Virtudes Cavaleirescas, compreendidas a partir da perspectiva iniciática, são a Pobreza (Corpo), a Castidade (Alma) e a Obediência (Espírito).

ORATIO: a Prece do Coração é um exercício diário, uma forma de oração, de expressão da nossa devoção e de dedicação de nosso dia e atividades ao Grande Mistério. Na prática hesicasta da Oração Contemplativa, temos nossa forma de Habitar com Deus.

REFUGIUM MEUM: anualmente, no dia que tradicionalmente chamamos de dia C, reunimo-nos em nosso retiro anual. Esse é um tempo reservado para a reflexão sobre nossas ações e sobre nosso comprometimento perante a Tradição, bem como para a elevação de nossa consciência para o Logos. Caso um membro da Igreja não possa se fazer presente no dia do refúgio, é seu dever justificar tal ausência, por escrito, para o Sacerdos de seu Santuário da Gnose. Este sexto artigo da Regra nos recorda dos seis artigos da Regra dos Rosa+Cruzes, conforme descrita no Fama Fraternitatis, e com a qual estamos em acordo.

THEURGICAM DISCIPLINAM: a observância dos Reconhecimentos do Discípulo e de determinados Ritos Arcanos, a participação nos Sacramentos do Logos, bem como o cultivo da proximidade de Sophia nos proporciona o movimento de ascensão da alma. Por outro lado, tais observâncias também proporcionam o descenso da Alta Invisibilidade. Os movimentos de ascensão e descenso, quando ocasionados pela operação teúrgica mais exata, proporcionam o encontro do humano com o Divino.