sábado, 14 de dezembro de 2019

Thelema vs FRA


No início do século XX, a Lei da Thelema, sistema de filosofia e magia desenvolvido por Aleister Crowley (1875-1947) – To Mega Therion – teve grande influência filosófica na cultura esotérica, na cultura pop e também foi precursora do pensamento pós-moderno. No meio esotérico, a Lei da Thelema também influenciou outras ordens que não estavam ligadas diretamente a Crowley, ordens ligadas pelo fenômeno da O.T.O. (Ordo Templi Orientis), como a FRA (Fraternitas Rosicruciana Antiqua) do Dr. Krumm-Heller (1876-1949) – Mestre Huiracocha – foco do nosso estudo. Muitos argumentam que os ensinamentos do Dr. Krumm-Heller eram antagônicos com do Aleister Crowley, e que não possuíam nenhuma ligação esotérica, principalmente na questão da magia sexual. Mestre Huiracocha revela em seu livro, Logos Mantram Magia, ele afirma: “declaro que, para mim, a vocalização, o uso dos mantras e a oração, mediante o despertar das secreções sexuais, é o único caminho de chegar a meta, e o resto é, infelizmente, uma perda de tempo”.

Diante disso, Peter Koenig, classifica o ensinamento do Dr. Krumm-Heller como Gnosticismo Homeopático, já que há uma ideia de retenção inclusa; e classifica de Gnosticismo Libertino do Crowley, na qual não há nenhuma restrição quanto ao sexo.

Aparentemente, essas duas ordens não parecem ter muitos pontos em comum. No entanto, Crowley recomenda o estudo da Fórmula da Rosa-Cruz. O que leva muitos a considerar uma alegoria somente à magia sexual. Como ele mesmo escreve: “não precisamos nos sentir surpresos se a Unidade do Sujeito com o Objeto na Consciência é Samadhi, que é a unificação da Noiva e do Carneiro é o Céu (…), a união do Lingam e da Yoni, a da Cruz com a Rosa”. No entanto, James Eshelman escreve, que isso, na verdade, seria o trabalho mágico da união dos opostos em sua Natureza, que muitos místicos cristãos descrevem como no aniquilamento de si mesmo no Amado.

O Dr. Krumm-Heller foi membro da O.T.O., apesar de que recebeu seu grau, em 1908, de Theodor Reuss, antes da reformulação da ordem por Crowley. Mas após 1930, o Dr. Krumm-Heller e Crowley se encontram pessoalmente em Berlim onde Huiracocha foi presenteado com uma edição de Liber Aleph assinada pelo inglês, e trocaram uma extensa correspondência. O Mestre Huiracocha não foi discípulo do Mestre Therion, na verdade, Crowley em uma correspondência, considera o Dr. Krumm-Heller um maçom igual a ele, na qual tinha muito a ver com a realização da “Grande Obra”, e a divulgação da Lei da Thelema. E o Dr. Krumm-Heller escreve:

“Meus mestres foram Eliphas Levi e Papus, e graças a eles eu poderia decifrar os segredos da Magia. Dr. Hartman tem nos ensinado na Alemanha, a parte esotérica da Bíblia e da Igreja Cristã. Outro mestre que teve maior influência sobre mim foi o Mestre Therion, ele me deu a sua obra “Liber Aleph Vel CXI (O Livro da Sabedoria ou da Tolice)”.

E após esse encontro, o Dr. Krumm-Heller aceitou a Lei da Thelema, sendo que nos rituais de congregação da FRA é dito: “A nossa divisa é Thelema”. Apesar das muitas influências, o Dr. Krumm-Heller diz também em seu Logos Matram e Magia ter alçado aos últimos graus da Astrum Argentum (ordem esotérica desenvolvida por Aleister Crowley e George Cecil Jones), mas não ha documentação a respeito e nem há algum estudo aprofundado da doutrina thelêmica no currículo da FRA.

Diante disso, surge uma questão, como a Lei da Thelema se adequou ao ensinamento das ordens, como a FRA – uma ordem de tradição gnóstica rosacruciana.

THELEMA E O CRISTO

Para os seguidores de Crowley, a Lei da Thelema possui o objetivo de descobrir sua Verdadeira Vontade, através da Conversação com o Sagrado Anjo Guardião e, após isso, dedicar sua vida inteira ao seu cumprimento. A necessidade do cumprimento da Vontade se demonstra através daquele que é considerado o único mandamento em Thelema: “Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei. O amor é a lei, amor sob vontade”. A Lei da Thelema prega uma ética individual, na qual nenhuma regra externa pode interferir, ou seja, o cultivo e satisfação plena das próprias vontades. Mas qual é a
visão do Dr. Krumm-Heller acerca da Lei da Thelema.

Para entender essa visão, peguemos o artigo do Dr. Krumm-Heller: CHRISTO-ABRAXAS-BAPHOMET- THELEMA, na qual é dito que há quatro forças – Cristo, Abraxas, Bafomet e Thelema – são uma só coisa: LUZ. Para o Dr. Krumm-Heller, o cristianismo adotou a ideia gnóstica de que o Cristo simboliza o Sol, conforme a Cristologia Gnóstica. E a Luz Solar atua de diversos modos. Ela é o Cristo, aspecto derivado do Pai, como parte do Sol Central. Para os gnósticos seria Abraxas. Outro aspecto desta Luz seria Baphomet, um aspecto mais grosseiro, porque é a força astral. E por fim, outro aspecto desta Luz é Thelema que significa a Vontade atuante na Luz.

Todas essas diferentes variações da Luz são denominadas pelos Gnósticos como Força Cristônica.

“(…) Outro aspecto desta força é Thelema que significa a vontade atuante na Luz. O discípulo não deve esquecer que todos esses nomes e símbolos representam forças e nos Mistérios usavam-se símbolos para objetivar essas forças. (…) Assim, pois a força de Abraxas manifesta-se de modo distinto da força de Baphomet; porém, todas derivadas da força espiritual da Luz, que os Gnósticos chamam FORÇA CRISTÔNICA. O discípulo precisa aprender o manejo de todas essas forças”.

CRISTOLOGIA GNÓSTICA

A Cristologia Gnóstica diz que o Sol visível é o mediador do Sol Central. E o Crestos Cósmico é o meio astral que liga o homem ao Pai Solar. A força de Cristo pode manifesta-se de diferentes modos, seja como Baphomet, Abraxas ou Thelema, porém, todas derivadas da força espiritual da Luz do Sol Central. Podemos inferir, assim, que Thelema é Cristo. Ou que a Vontade do Crestos é Thelema.

Como símbolo, Cristo se liga aos deuses solares, Mitra, Abraxas e Dionísio. Mas também é um fato histórico, na pessoa de Jesus. O corpo de Jesus de Nazaré foi utilizado para que a entidade divina do Cristo, no momento do batismo, pudesse tomar a forma que lhe era necessária para, daí em diante, estar em comunhão com as almas humanas. Os acontecimentos na Palestina foram necessários para o nascimento da vida terrena do Cristo que aconteceu a partir do Mistério do Gólgota, esse acontecimento é denominado por Rudolf Steiner (1861-1925) de “Impulso do Cristo”.
Para os Gnósticos há uma diferença sensível entre os as personalidades de Buda, Zoroastro, Confúcio, Maomé e a divindade do Cristo. Os primeiros foram certamente grandes filósofos e grandes Iniciados a quem lhes foi dada a incumbência de pregar e instalar uma região em sua época. No entanto, Cristo tem uma personalidade diferente.

Ele é Deus, é o Logos Solar ou a Essência Solar, a força do Espírito que está fundida no Sol.

O Dr. Krumm-Heller diz que a Força Cristônica de Jesus, se propagou pelo mundo (Impulso do Cristo) e transformou seu ambiente, perpetuando-se até nossos dias. Para vida terrestre, o Sol possui grande importância para nosso planeta, por sua vez, o Sol físico depende de outro Sol espiritual. O Sol espiritual é algo prático e real, como também é o Logos. Cristo é a Luz do Sol física e espiritual.

O Dr. Krumm-Heller reúne na figura do Cristo uma força de consciência e uma substância material. Isso pode parecer estranho, mas nas próprias palavras do Dr. Krumm-Heller, a realidade é formada pelo trio de matéria, energia (força) e consciência. Deste modo, o Crestos Cósmico é uma substância, uma força, uma consciência atuante. Os gnósticos aprendem a manejar Crestos e sua força mediadora.

CRISTO EM CONSCIÊNCIA

Seguindo a linha de pensamento, na qual o Dr. Krumm-Heller entendia Cristo e Thelema como forças impessoais, inferimos, então que a Força Consciencial Cristônica também é impessoal. Podemos entender melhor esse conceito Vontade Universal estudando a obra “Uma Aventura entre os Rosacruzes”, de Franz Hartmann. A Vontade apresentada por Hartmann não é a Vontade individual, apesar de atuar no individuo, é um princípio universal, análogo a Divina Providência. Desta forma, podemos entender a Vontade como uma Força Impessoal, como é invocada na Missa

Gnóstica do Mestre Huiracocha: “Vem, Santo Querer, Divina Energia Volitiva. Transforma a minha vontade fazendo-a una com a Tua”. Assim, para o Dr. Krumm-Heller, Thelema é a Vontade Divina Universal, na qual atua sobre toda existência. Como escrito por ele mesmo, Thelema é a Vontade atuante na Luz. E a Luz é o Cristo. A Vontade provém do Crestos Cósmico, a fonte universal que
todos podem beber. A diferença entre Crowley e o Dr. Krumm-Heller é a origem dessa Vontade.

Para Crowley, a Thelema brota no próprio homem, mas em sua particular "alma imortal": “Todo homem e toda mulher é uma estrela” (AL I:3). Frater Achad escreveu o ensaio Passando do Velho ao Novo Aeon, no qual explica que a partir do momento em que o homem passar a se identificar com o Sol, ele passará a ser um Deus, pois será a fonte de luz:

“Você sabe o quão profundamente nós sempre ficamos impressionados com as ideias de Sol nascente e Sol poente, e como os nossos antigos irmãos, vendo o Sol desaparecer à noite e nascendo novamente na manhã seguinte, basearam as suas ideias religiosas neste conceito de um Deus Moribundo e Ressuscitado. Essa á a ideia central da religião do Velho Æon (…). O Sol não morre, como acreditavam os antigos, ele está sempre brilhando, sempre irradiando Luz e Vida. Pare por um momento e tenha uma clara concepção deste Sol, como Ele está brilhando já cedo pela manhã, brilhando ao meio-dia, brilhando à tarde e brilhando à noite. Você percebeu esta ideia claramente em sua mente? Você acabou de sair do Velho Æon e entrar no Novo. Agora consideremos o que aconteceu. O que você fez para obter essa imagem mental do Sol sempre brilhante? Você se identificou com o Sol. Você saiu da consciência deste planeta; e por um momento você teve que se considerar um Ser Solar”.

No novo Aeon de Hórus, a era thelêmica, da criança conquistadora, todo homem e toda mulher passam a serem deuses, co-criadores do Universo. E a Fraternitas Rosicruciana Antiqua é uma mediadora entre o antigo e o novo Aeon.

O Necronomicon


O Necronomicon (Livro de Nomes Mortos) também conhecido por Al Azif (Uivo dos Demônios Noturnos) foi escrito por Abdul Alhazred, em torno de 730 d.C, em Damasco. Ao contrário do que se pensa, não se trata somente de um compilado de rituais e encantos, e sim de uma narrativa dividida em sete volumes, numa linguagem obscura e abstrata. Alguns trechos isolados descrevem rituais e fórmulas mágicas, de forma que o leitor tenha uma idéia mais clara dos métodos de evocações utilizados. Além de abordar também as civilizações antediluvianas e mitologia antiga, tendo sua provável base no Gênese, no Apocalipse de São João e no apócrifo Livro de Enoch. Reúne um alfabeto de 21 letras, dezenove chaves (invocações) em linguagem enochiana, mais de 100 quadros mágicos compostos de até 240 caracteres, além de grande conhecimento oculto.

Segundo o Necronomicon, muitas espécies além do gênero humano habitaram a Terra. Estes seres denominados Antigos, vieram de outras esferas semelhantes ao Sistema Solar. São sobre-humanos detentores de poderes devastadores, e sua evocação só é possível através de rituais específicos descritos no Livro. Até mesmo a palavra árabe para designar antigo, é derivado do verbo hebreu cair. Portanto, seriam Anjos Caídos.

O autor do Necronomicon, Abdul Alhazred, nasceu em Sanna no Iêmen. Em busca de sabedoria, vagou de Alexandria ao Pundjab, passando muitos anos no deserto despovoado do sul da Arábia. Alhazred dominava vários idiomas e era um excelente tradutor. Possuía também habilidades como poeta, o que proporcionava um aspecto dispersivo em suas obras, incluindo o Necronomicon. Abdul Alhazred era familiarizado com a filosofia do grego Proclos, além de matemática, astronomia, metafísica e cultura de povos pré-cristãos, como os egípcios e os caldeus. Durante suas sessões de estudo, o sábio acendia um incenso que combinava várias ervas, entre elas o ópio e o haxixe.

Alhazred adaptou a interpretação de alguns neoplatonistas sobre o Necronomicon. Nesta versão, um grupo de anjos enviado para proteger a Terra tomou as mulheres humanas como suas esposas, procriando e gerando uma raça de gigantes que se pôs a pecar contra a natureza, caçando aves, peixes, répteis e todos os animais da Terra, consumindo a carne e o sangue uns dos outros. Os anjos caídos lhes ensinaram a confeccionar jóias, armas de guerra e cosméticos; além de ensinar encantos, astrologia e outros segredos.

Existe uma grande semelhança dos personagens e enredos das narrações do Necronomicon em diversas culturas. O mito escandinavo do apocalipse, chamado Ragnarok, é sugerido em certas passagens do Livro; além dos Djins Árabes e Anjos Hebraicos, que seriam versões dos deuses escandinavos citados. Este conceito também é análogo à tradição judaica dos Nephilins.

Uma tradução latina do Necronomicon foi feita em 1487 pelo padre alemão Olaus Wormius, que era secretário de Miguel Tomás de Torquemada, inquisidor-mor da Espanha. É provável que Wormius tenha obtido o manuscrito durante a perseguição aos mouros. O Necronomicon deve ter exercido grande fascínio sobre Wormius, para levá-lo a arriscar-se em traduzi-lo numa época e lugar tão perigosos. Uma cópia do livro foi enviada ao abade João Tritêmius, acompanhada de uma carta que continha uma versão blasfema de certas passagens do Gênese. Por sua ousadia, Wormius foi acusado de heresia e queimado juntamente com as cópias de sua tradução. Porém, especula-se que uma cópia teria sobrevivido à inquisição, conservada e guardada no Vaticano.

O percurso histórico do Necronomicon continua em 1586, quando o mago e erudito Jonh Dee anuncia a intenção de traduzi-lo para o idioma inglês, tendo como base a versão latina de Wormius. No entanto, o trabalho de Dee nunca foi impresso mas chegou até as mãos de Elias Ashmole (1617-1692), estudioso que os reescreveu para a biblioteca de Bodleian, em Oxford. Assim, os escritos de Ashmole ficaram esquecidos por aproximadamente 250 anos, quando o mago britânico Aleister Crowley (1875-1947), fundador do Thelema, os encontrou em Bodleian. O Thelema é regido pelo Livro da Lei, obra dividida em três capítulos na qual fica evidente o plagio da obra de Jonh Dee. No ano de 1918, Crowley conhece a modista Sônia Greene e passa alguns meses em sua companhia. Sônia conhece o escritor Howard Phillip Lovecraft em 1921, e casam-se em 1924. Neste período, o autor lança o romance A Cidade Sem Nome e o conto O Cão de Caça, onde menciona Abdul Alhazred e o Necronomicon. Em 1926, um trecho da obra O Chamado de C`Thullu menciona partes do Livro da Lei, de Crowley. Portanto, o ressurgimento contemporâneo do Necronomicon deve-se a Lovecraft, apesar de não haver evidências de que o escritor tivesse acesso ao Livro dos Nomes Mortos.

Algumas suposições aludem a outras cópias que teriam sido roubadas pelos nazistas na década de 30. Ainda nesta hipótese, haveria uma cópia do manuscrito original feita com pele e sangue dos prisioneiros dos campos de concentração, que na 2ª Guerra foi escondida em Osterhorn, uma região montanhosa localizada próxima a Salzburg, Áustria. Atualmente, não é provável que ainda exista um manuscrito árabe do Necronomicon. Uma grande investigação levou a uma busca na Índia, no Egito e na biblioteca de Mecca, mas sem sucesso.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Paul Foster Case


Paul Foster Case es uno de los maestros esotéricos más prominentes del siglo XX.

Nació en Fairport, pueblo ubicado cerca del lago Ontario, al este de Rochester (en el estado de Nueva York, U.S.A.) el 3 de Octubre a las 5: 28 p.m de 1884. Su madre era maestra de escuela y era de ascendencia romaní (gitana) y descendiente directa del famoso oficial inglés de peregrinos del barco Mayflower, Miles Standish (1584-1656) y su padre era el bibliotecario principal de una importante biblioteca privada y diácono en una Iglesia Congregacional. Pasó gran parte de sus años de formación en medio de libros y aprendió a leer a muy temprana edad. Se apunta que a la edad de cuatro años su madre le solía encontrar a menudo embelesado con “libros prohibidos” en el ático del edificio de la biblioteca de su padre, absorbiendo el conocimiento de la tradición esotérica con la misma ferviente avidez que experimenta el místico en su búsqueda de Dios.

A los 16 años, Paul Case conoció al ocultista Claude Bragdon (1866-1946) gracias a que actuó en una representación teatral con fines caritativos, donde el arquitecto y ocultista-teósofo Claude Bragdon también estaba actuando. Bragdon le preguntó a Case que de dónde pensaba que provenían los naipes (las cartas). Esta simple pregunta despertó en Case una búsqueda inmediata sobre los orígenes de las cartas que se convirtió en permanente estudio sobre las cartas y que le llevaría a convertirse con el tiempo en una autoridad mundial sobre el Tarot, creando la baraja de B.O.T.A. una versión “corregida” de la baraja Rider-Waite.

Descubrió en la biblioteca de su padre que las cartas procedían o provenían del Tarot (llamado originalmente The Game of Man, El Juego del Hombre). Pronto encontró menciones sobre el Tarot en variedad de textos, incluido el famoso manifiesto rosacruz del siglo XVII “Fama Fraternitatis”, donde descubrió que la palabra “Tarot” es en realidad una clave de la palabra latina “ROTA” o rueda.

Fue a partir de entonces, sobre 1900, cuando comenzó a coleccionar todo libro y baraja disponible sobre el Tarot. Año tras año trasegó con estas imágenes arquetípicas de poder, investigando, profundizando y meditando con ellas. Encontró muy poco publicado sobre la materia, y lo poco que se había editado estaba cubierto con velos que producían confusión. Su esfuerzo perseverante al final tuvo éxito, ya que descubrió que el diseño de estas ilustraciones cuidadosamente creadas, en realidad evocan y canalizan imágenes arquetípicas, y que si son utilizadas correctamente, tienen el poder para transformar la conciencia del buscador sincero en la de un adepto iluminado. Alrededor de 1905 comenzó a recibir la orientación de una “voz interior”, una Voz que le guiaría en sus investigaciones esotéricas. El estímulo del Tarot había abierto su oído interno a niveles espirituales superiores, pues la Voz nunca interfirió en su vida personal, nunca le halagó, nunca le dio órdenes, solamente le hablaba de tiempo en tiempo diciéndole cosas como: “Si abres el libro que se encuentra en la balda superior, el tercero a la izquierda, y lees la página 101 encontrarás la referencia que buscas”. Paul Case a través de este estudio, investigación y meditación, descubrió las verdaderas atribuciones del Tarot y las publicó antes de tener 21 años, y quizás fue el primero en realizar las correspondencias correctas del Tarot. Casi de inmediato las investigaciones sobre el Tarot le condujeron entre otros estudios e ineludiblemente a la Cábala, la cual le resultaba familiar y descubrió que ya la conocía. La Cábala es la antigua sabiduría secreta o corriente mística dentro del judaísmo. Case no tuvo que estudiar la escritura caldeo-hebraica porque “la recordaba”. Sumergirse en el Tarot y en la Cábala fue realmente como un repaso, el preliminar para penetrar en nuevos horizontes.

En 1918, Case conoció a Michael Whitty, editor de la revista Azoth, quien más tarde se convertiría en amigo íntimo. Whitty servía como Cancellarius (tesorero/gerente) de la Logia de Thoth-Hermes de Alpha et Omega. Alpha et Omega era el grupo de S. L. MacGregor Mathers que éste formó tras la desaparición de la original Orden Hermética de la Aurora Dorada o Golden Dawn, como se la conoce en inglés. Whitty invitó a Case a unirse a Thoth-Hermes, cosa que éste hizo. El nombre de aspirante de Case en la A.'.O.'. era Perserverantia (perseverancia).

Entre 1919 y 1920, Case y Michael Whitty colaboraron en el desarrollo de un texto que posteriormente se publicaría como The Book of Tokens. Este texto se escribió como texto recibido, ya a través de meditación, vía escritura automática, o por otros medios. Posteriormente salió a la luz que la fuente era el Maestro R. El 16 de mayo de 1920 Case recibió la iniciación en la Segunda Orden de Alpha et Omega. Tres semanas más tarde, según la reseña biográfica en la página web de la Golden Dawn, fue nombrado Tercer Adepto. (…)

Tras abandonar Alpha et Omega, Case se empleó a fondo en la organización de su propia Escuela de Misterios. En verano de 1922, Case empezó a invertir los primeros esfuerzos en la preparación de un extenso curso por correspondencia. En un año el curso cubría lo que en la actualidad B.O.T.A. cubre en cinco años. Llamó al curso The Ageless Wisdom (La Sabiduría Eterna), y cubría la práctica totalidad del Hermetismo. Sobre 1923 Case constituyó The School of Ageless Wisdom (Escuela de La Sabiduría Eterna), probablemente en Boston.

En pocos años se trasladó a Los Ángeles, abandonando de una vez por todas su carrera de músico, y fundó Builders of the Adytum (B.O.T.A.). Todavía en funcionamiento, B.O.T.A. es una auténtica Escuela de Misterios. En las siguientes tres décadas, Case organizó el plan de estudios de lecciones por correspondencia que cubrían prácticamente la totalidad del corpus de la llamada Tradición Mistérica Occidental: Tarot, Cábala y Alquimia. (…)

1954 - Paul Foster Case murió en México mientras hacia un viaje de vacaciones con Harriet.

Su sabía erudición, su mente discriminadora y penetrante y la percepción espiritual consciente son una combinación inusualmente apreciada entre los hombres. Y sin embargo su humanidad nunca estuvo ausente, expresándose con ingenio, buen humor y compatibilidad total con gentes de todas las clases sociales, razas y credos. Gracias a su sacrificio, las generaciones futuras tendrán disponibles los más elevados métodos para recorrer el Sendero Espiritual al más alto nivel. Vio en los corazones de los hombres y los amó, experimentó directamente la Unidad de Dios, la hermandad de los hombres y la Unidad de TODA VIDA.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Baphomet & Opfer


A palavra ‘opfer’ refere-se geralmente ao sacrifício que ocorre – simbólico ou de outra forma – durante certos rituais. Existem geralmente dois tipos de opfer: associado a rituais para abrir uma passagem (ou ‘Portal Estelar’), entre Aeons – quando um/uns opfer(s) é/são considerado(s) necessário(s) em termos da ‘energia’ requirida; aqueles associados a crenças tradicionais respeitando ao ‘funcionamento do cosmos’ (‘Opfers’ associados com rituais de morte formam um terceiro tipo.).

O segundo tipo, de acordo com a tradição, era escolhido uma vez em cada 17 anos e este sacrifício era visto como necessário para manter ‘o equilíbrio cósmico’ – nos tempos modernos, manter uma passagem aberta (e assim preservar a civilização mais elevada associada etc). O escolhido era tornado um Sacerdote honorário (este tipo de opfer era sempre masculino) e havia uma união entre ele e uma ou mais mulheres, como sacerdotisas. Esta união era um tipo simples de ‘hierosgamos’, e ao descendente da união era dada grande honra. Na própria cerimônia, a cabeça do opfer era cortada e exibida – habitualmente por uma noite e um dia (embora este período possa ter sido mais longo num passado muito mais remoto). O Rito era realizado num espaço aberto num sítio ‘sagrado’ – normal ente um círculo de pedras ou uma colina.

O escolhido era capaz, por causa do sacrifício, de usufruir de uma existência acausal – tornando-se assim um Imortal. Dessa forma o ‘sacrifício voluntário’ era possível, embora seja fácil imaginar que em tempos mais tardios, o opfer não tinha tanta vontade.

Tradicionalmente, este tipo nos remete até Albion, e enquanto originalmente o ritual era provavelmente um acontecimento comunitário, tornou-se mais secreto. O que sobrevive até hoje (a Cerimonia de Lembrança com fim ‘opfer’) provavelmente reflete mais a essência desta tradição antiga do que o detalhe (as palavras, cânticos etc). Esta essência pode ser apreendida no papel da Senhora da Terra – representativa de Baphomet, a Deusa Negra. Era para Baphomet que o sacrifício era feito – daí um opfer masculino. Na realidade, toda a cerimônia (de Lembrança) pode ser vista como uma celebração da deusa negra – a Senhora/deusa da Terra no seu aspecto mais sombrio/violento/sinistro. A cabeça decepada estava associada à veneração de Baphomet – o culto derivado de Albion – daí a representação tradicional de Baphomet.

A identificação de Baphomet como a Esposa de Lúcifer/Satanás data provavelmente de meados do século X ou XI, assim como o uso do nome ‘Satan’/Satanás como o representante material dos Deuses Negros.

É importante lembrar que em tempos mais antigos (por exemplo em Albion durante o aeon Hiperbóreo) não havia uma distinção clara e/ou moral entre o ‘luminoso’ e o ‘sinistro’: os dois eram vistos como diferentes aspectos da mesma coisa. Assim, aquilo que nós conhecemos como a Senhora da Terra (a ‘deusa’) era tanto o que nós chamamos Baphomet (o lado sombrio) como Gaia (a Mãe Terra). Da mesma forma para o aspecto masculino – Satanás e Lúcifer – ou Dioniso/Kabeiroi e Apollo. Agora entendemos todos estes símbolos como projeções inconscientes/conscientes da ‘realidade’ (onde ‘realidade’ = região da convergência causal/acausal) – como ‘portais’/passagens para o próprio acausal, com as 7 esferas da Árvore de Wyrd sendo um ‘mapa’ destes portais, inteligível pela consciência do não-Adepto. Desta forma, a esfera de Mercúrio representa Lúcifer/Satanás – Mercúrio, Marte e o Sol sendo esferas “masculinas”, e a Lua, Vénus e Júpiter as “femininas” (Saturno para além desses opostos – o próprio Caos).

O culto de Baphomet era a veneração do aspecto negro das energias “femininas” – onde neste contexto, veneração significa um trabalho para compreender / integração consciente. Pistas da veneração do aspecto ‘luminoso’ sobrevivem na tradição Septenária no nome “Aktlal Maka” e na forma natural do rito dos Nove Ângulos. O aspecto mais tenebroso sobrevive, em essência, na Cerimônia de Lembrança e nas tradições associadas à Senhora da Terra e a Baphomet. Quanto ao nome original da deusa em ambos os aspectos, existe uma tradição que dá ‘Darkat’ (antiga forma de Lilith) como o nome usado antes de Baphomet se ter tornado de uso comum. No entanto, ‘Azanigin’ também já foi sugerido – tal como foi ‘Aktlal Maka’ para o aspecto ‘luminoso’/Gaia, embora ambos sejam apenas sugestões do século XX, não baseadas em qualquer tradição oral. Diz-se que alguns aspectos na deusa (negra) sobreviveram nos tempos Gregos sob a forma dos ‘cultos de mistérios’ (vide Kabeiroi – e também Eleusis para o aspecto ‘luminoso’), sendo estes uma ‘sobrevivência indireta’, a tradição Septenária sendo direta, de Albion.

O uso do nome ‘Baphomet’ deriva provavelmente dos séculos X ou XI embora a representação pictórica tradicional de Baphomet seja indubitavelmente mais antiga. Se existia uma tradição oral ligada à origem do nome Baphomet, foi perdida.

Assim, não existem indicações quanto aos nomes ‘originais’ dos elementos ‘luminosos’ e ‘sinistros’ do lado ‘masculino’ – conhecidos por nós como ‘Lúcifer’ e ‘Satanás’. Estes últimos nomes também datam provavelmente de meados do século X ou XI – embora ‘Karu Samsu’ (ou qualquer coisa muito semelhante) tenha sido sugerido para o aspecto ‘Lúcifer’ e ‘Sapanur’ para o aspecto ‘sinistro’.

Os ritos associados com o primeiro tipo de opfer – tal como o ‘Chamado Sinistro’ – não podem ser datados com certeza ou vistos como derivados de uma tradição mais antiga. Em toda a probabilidade, derivam do século XII ou XIII, embora seja muito possível que versões/formas antigas existissem. Algumas pessoas têm considerado o Chamado Sinistro como uma versão posterior da Cerimonia de Lembrança. Mais uma vez, se existia uma tradição oral, foi perdida – tudo o que persiste são os próprios rituais.

A própria ‘Missa Negra’ (e na realidade a maior parte dos rituais n’O Livro Negro de Satanás) originaram-se provavelmente por volta da mesma altura do Chamado Sinistro. A Missa original era dita em latim, embora a meio do século XX uma versão traduzida tenha encontrado o seu caminho para o Livro Negro – por necessidade, embora alguns cânticos em Latim tenham permanecido.

NOTAS: O significado do ciclo de 17 anos não é claro. Nas últimas décadas algumas teorias foram avançadas, mas não são convincentes.

Aktlal Maka é um cântico por vezes usado no Rito natural dos Nove Ângulos pela Sacerdotisa se a clareira tiver uma fonte de água. Significa ‘as águas fluindo da Terra’ e é cantado em homenagem a Gaia uma vez que as fontes naturais são vistas como as suas crianças.

Os mistérios dos ‘Kabeiroi’ (por vezes pronunciado Cabiri) são uma das tradições esotéricas associadas ao Aeon Helênico. Na sua forma original, ‘os mistérios’ respeitavam a determinadas deidades normalmente representadas na forma de grifos e ligadas ao mar assim como Deméter – a ‘Mãe Terra’ ou Gaia. Segundo a tradição esotérica, os mistérios respeitavam aos Deuses Negros – em variadas formas mutantes – e contavam como Deméter tinha dado aos primeiros Iniciados desta tradição um cristal (mais tarde venerado num santuário perto de Tebas, onde existia um bosque sagrado para Deméter) assim como também mostravam como um indivíduo, através de vários Ritos que envolviam Gaia, mulheres, casamento sagrado e por aí fora, podia ser transformado (transportado) para um nível diferente de consciência. Esta transformação, tal como noutros Cultos Gregos de Mistérios, era obtida principalmente através do envolvimento pessoal na ação ritual/cerimonial habitualmente de um tipo mitológico.

Mais tarde, esta tradição dividiu-se – Eleusis representando o elemento ‘Apolíneo’, e os Kabeiroi os aspectos ‘Dionisíacos’ ou sombrios, pois é dito que todos os iniciados dos Cabiri tinham de ter cometido um crime maior que os crimes comuns.

Os mistérios dos Kabeiroi eram habitualmente celebrados em santuários em montanhas (algumas combinações de rochas e água subterrânea sendo vistas como sagradas – isto é, capazes pelo seu poder mágico de transformar a consciência dos indivíduos (confrontar alguns sítios sagrados do povo Yezidi que possuíam uma versão mais confusa da tradição dos Deuses Negros) e atingir estes santuários era considerado parte do processo da Iniciação.

Os Gregos chamavam aos Kabeiroi ‘os grandes deuses’.

Baphomet


O nome de Baphomet é visto pelos Satanistas Tradicionais como significando “a senhora (ou mãe) de sangue” – a Senhora que por vezes se banha no sangue dos seus inimigos e cujas mãos estão assim tingidas.
A suposta derivação é do grego bajh mhtra [baphē mētra] e não, como é às vezes dito, de mhtioV [mētios] (a forma Ática para ‘sábio’). O uso do termo ‘Mãe’/Senhora era bastante comum em escritos gregos alquímicos tardios – por exemplo Iamblichus em “De Mysteriis” usou mhtrizw [mētrizō] para significar possuído pela mãe dos deuses. Mais tarde escritos alquímicos tenderam a usar o prefixo para significar um tipo específico de ‘amálgama’ (e alguns tomam isto como uma amálgama do Sol com a Lua, no sentido sexual).
No Sistema Septenário, Baphomet, como Senhora da Terra, é ligada à sexta esfera (Júpiter) e à estrela Deneb. Ela é assim num sentido um “Portal Terrestre” mágico e a Sua reflexão (ou natureza ‘causal’ – por oposição à Sua natureza acausal ou Sinistra) é a terceira esfera (Vénus) relacionada com a estrela Antares. De acordo com a Tradição esotérica, o aspecto Antares era celebrado por ritos em Albion cerca de 3000 A.P. [Antes do Presente i.e. cerca de 1990 eh – ‘era horrificus’] – no meio e em direcção ao fim do mês de Maio e dizia-se que alguns círculos de pedras / sítios sagrados estavam alinhados para Antares. Em contraste, o aspecto Sinistro da Senhora (i.e. Baphomet) era celebrado no Outono e estava relacionado com a subida de Arcturus, a própria estrela Arcturus estando ligada ao aspecto masculino Sinistro (Mercúrio – segunda esfera), mais tarde identificado com Lúcifer/Satanás. Assim, a celebração de Agosto era um hierosgamos [casamento sagrado] Sinistro – a união de Baphomet com o Seu esposo (ou ‘Sacerdote’ que tomava o papel do aspecto masculino Sinistro). De acordo com a Tradição, o Sacerdote era sacrificado depois da união sexual, onde o papel de Baphomet era assumido pela Sacerdotiza/Senhora do culto. Assim, a celebração de Maio era um (re-)nascimento de novas energias (e da criança da União). A Tradição conta este rito sagrado Sinistro e Arcturiano como tendo lugar uma vez em cada 17 anos. Mais uma vez, diz-se que alguns sítios sagrados em Albion estão alinhados com a subida de Arcturus, há mais de 3000 anos. Na Idade Média, Baphomet começou a ser vista como a Esposa de Satanás – e é desde este tempo que ‘Baphomet’ e ‘Satanás’ começaram a ser usados como nomes para o aspecto feminino e masculino do lado obscuro (pelo menos na tradição sinistra secreta).
Daí a representação Tradicional de Baphomet – uma bonita mulher adulta (frequentemente mostrada nua) segurando a cabeça decepada do sacerdote sacrificado (habitualmente mostrado com barba).
Até determinada etapa os Templários ressuscitaram parte deste grupo, mas sem qualquer entendimento esotérico e para os seus próprios propósitos. Eles adoptaram Baphomet como uma espécie de Yeshua [Jesus] feminino, mas com alguns aspectos sangrentos/sinistos – e contrariamente às ideias mais aceites, eles não eram especialmente ‘Satânicos’. Mais que isso, eles viam-se a si próprios como _guerreiros_ sagrados, e tornaram-se num culto militar com laços de honra, embora o seu conceito de “sagrado” diferisse de certa forma do da igreja contemporânea, incluindo aspectos sombrios/Gnósticos. Os seus sacrifícios eram feitos em batalha e não faziam parte de um ritual específico.
A imagem de Baphomet (por exemplo segundo Levi) como uma figura hermafrodita é uma confusão romântica e/ou distorção: essencialmente da união simbólica/real da senhora e do sacerdote e o seu posterior sacrifício. O mesmo se aplica à derivação do sufixo do seu nome com ‘sabedoria’ (e uma imagem masculina nisso!) – até os confusos Gnósticos entendiam ‘sabedoria’ como feminina.

Parte II

Existe uma tradição respeitante à origem do nome Baphomet que merece ser registrada, mesmo que não seja autêntica, não tendo quaisquer defensores atuais.
Esta tradição encara o nome como derivando de  [boubastis] – o nome Grego para a deusa egípcia Bastet, registada por Heródoto (2137 ff). É interessante que Heródoto identifique a deusa com Ártemis, a deusa da lua. Bubastis era vista como a filha de Osíris e Ísis e frequentemente representada como uma fêmea com a cabeça de um gato – os gatos eram considerados sagrados para ela. Ártemis era uma deusa não movida pelo amor e era vista como a irmã gémea de Apollo (a identificação dela como uma ‘deusa lunar’ derivou naturalmente disto já que Apollo estava relacionado com o sol). Tal como Apollo, ela frequentemente enviava morte e pragas, e era por vezes presenteada com sacrifícios.
É interessante que (a)  é o nome Pitagórico para ‘cinco’ [vide Iamblichus: Theologumena Arithmeticae, 31] – talvez uma ligação com o ‘pentagrama’?; (b) dizia-se que os Templários, com os quais o nome Baphomet é associado, veneravam a sua divindade sob a forma de um gato.
A tradição registada acima, e a descrita na parte 1, ambas representam Baphomet como uma divindade feminina – e ambas são tradições esotéricas, portanto não registadas. É possível que ambas estejam corretas, isto é, que o _nome_ Baphomet deriva (tal como mencionado na parte 1) do Grego [baphē mētra]: referindo-se o prefixo a estar manchada ou molhada em sangue. O sufixo deriva de ‘mãe’ ou ‘senhora’ usado num sentido religioso (vide Iamblichus ‘De Mysteriis’). Este nome – Baphomet – é portanto descritivo para a deusa “sombria” (lunar), a quem sacrifícios eram feitos, e que era na realidade conhecida em tempos antigos como ‘Bubastis’ – isto é, Bastet, para a qual os gatos eram sagrados. Assim, Baphomet podia ser vista como uma forma de Ártemis/Bastet – uma divindade feminina com um lado ou natureza ‘sombria’ (quando vista segundo a moralidade convencional) a quem sacrifícios eram, e continuam a ser, feitos. A tradição Sinistra vê Baphomet como a esposa de Satanás/Lúcifer – isto encaixaria bem uma vez que Lúcifer é frequentemente visto como uma forma de Apollo: Ártemis é a forma feminina (‘irmã’) de Apollo. Aqui, deve ser lembrado que tanto Apollo como Ártemis não eram divindades etéreas, morais e sublimes (os deuses clássicos foram romanticamente mal interpretados) – eles podiam ser, e eram frequentemente, mortais e ‘sombrios’: ambos ‘sinistros’ e ‘luminosos’.

Parte III

A Tradição fala de uma comunidade que venerava a deusa numa área do que é agora o Norte da Escócia. Acredita-se que esta comunidade constituiu os antepassados dos ‘Pictos’, e estava baseada perto do rio Oykel. A forma Latinizada do seu nome, dada por Ptolemeu, era Smertae, que significa ‘manchado’ ou ‘povo tingido’.
O nome pelo qual esta comunidade conhecia a deusa não está registado, mas em inscrições Gaulesas existem referências a uma deusa da guerra chamada Rosmerta. O nome dela significa ‘a grande deusa tingida’ – isto é, manchada com sangue. É bem possível que os Smertae estivessem relacionados com a sua veneração, e dizia-se que eles se costumavam pintar ou tingir a si próprios com o sangue dos seus inimigos, na sua honra.
Um facto interessante, outro povo que vivia perto da região dos Smertae durante a mesma época, era conhecido por um nome que é traduzido como o ‘povo gato’.

A Senhora da Terra


Culto da Cabeça de Satanás

O Satanismo Tradicional tal como é praticado na ONA – “Order of Nine Angles”, tem origem em tradições e cultos que remontam à mais distante Antiguidade, nos quais se adorava uma Deusa (a Senhora da Terra) e um Deus (o Senhor da Terra).

Embora no princípio a Deusa e o Deus fossem vistas como divindades duais (isto é, contendo simultaneamente aspectos causais/luminosos e acausais/sinistros), mais tarde foram divididas, e então o Deus passou a ter duas “facetas”, tal como a Deusa.

As estas duas facetas do Deus e da Deusa foram dados vários nomes ao longo da História:

LÚCIFER ou KARU SAMSU, o Deus no seu aspecto causal-luminoso (correspondente à esfera de Mercúrio, II°, na Árvore de Wyrd);
GAIA ou AKTLAL MAKA, a Deusa no seu aspecto causal-luminoso (correspondente à esfera de Vénus, III°, na Árvore de Wyrd);
SATANÁS ou SAPANUR, o Deus no seu aspecto acausal-sinistro (correspondente à esfera de Marte, V°, na Árvore de Wyrd);
BAPHOMET (Mãe de Sangue), a Deusa no seu aspecto acausal-sinistro (correspondente à esfera de Júpiter, VI°, na Árvore de Wyrd).
Outros nomes para Satanás e Baphomet são, respectivamente, KTHUNAE e DAVCINA. Consultem a este respeito o capítulo 3, onde falei dos 21 Deuses Obscuros e do Tarot Sinistro.

Muitas pessoas me perguntarão:

«Então mas Baphomet não era o ídolo supostamente venerado pelos Cavaleiros Templários? Que sentido faz compará-lo a uma Deusa?»

A resposta é: O nome Baphomet pode não vir, como é normalmente aceite, do árabe “Mohammed” (Maomé) nem de “baph-metis” (batismo/imersão em sabedoria), mas sim da expressão grega “Baph-Metra” (a Mãe –“Metra” ou “Meter”– tingida ou submersa –“Baph”– em sangue; isto é, a Mãe de Sangue, ou a Deusa Sinistra). E quanto às ligações entre a Deusa e a cabeça decepada («baphomet» templário, etc), leiam o seguinte…

Nestes cultos antigos, um Sacerdote (o “Opfer” ou VINDEX) era escolhido a cada 17 anos, fazendo o papel de “Senhor da Terra” (isto é, representado o Deus Sinistro Satanás), sendo-lhe dados grandes privilégios. Este Opfer ou Sacerdote participava então na cerimônia do Casamento Sagrado ou Hierosgamos com a Sacerdotiza do Culto (representando Baphomet, a Deusa Sinistra), sendo seguidamente decapitado como oferenda à Deusa e aos Deuses Obscuros (fora do universo causal). Este sacrifício do Opfer/Sacerdote permitia-lhe então tornar-se um “Imortal”, tornando-se Uno com os Deuses Obscuros. Então a cabeça do Opfer (Satanás) era exibida durante 1 dia e uma noite, sendo apresentada posteriormente a todos os novos iniciados no Culto. A esta cabeça, que era simbolicamente a Cabeça do Deus Satanás sacrificado, eram atribuídos poderes fabulosos, entre eles o poder de trazer fertilidade e abundância, e de proteger contra o infortúnio. Podemos ver traços desta “veneração da Cabeça” um pouco por todo o mundo, particularmente no culto celta das cabeças cortadas e também –surpresa– nos Templários que se dizia venerarem como Salvador uma Cabeça com barba e aspecto demoníaco, e que a dita cabeça tinha poderes semelhantes à Cabeça de Satanás venerada nos cultos antigos: fertilidade, riqueza, proteção contra o infortúnio.

É interessante reparar em vários pormenores aqui:

Sabe-se que os celtas usavam as cabeças cortadas dos inimigos como talismãs de boa-sorte, chegando a pregá-las na entrada das suas casas e castelos para atrair a fertilidade e proteger contra o mal. É também sabido que depois das batalhas, os celtas irlandeses cortavam as cabeças aos inimigos, empilhavam-nas, e chamavam a isso a “colheita de Macha” (a Deusa sinistra da Terra e da Guerra, que prevalecia sobre os machos). No Hinduísmo Tântrico, a terrível deusa Kali é representada a segurar a cabeça de um demônio com barba (o baphomet templário? :D), e é normalmente mostrada em pé ou sentada em cima do corpo inativo –adormecido? morto?– do seu esposo Shiva, o Destruidor e Senhor da Terra (Satanás/Kthunae). Este mesmo Deus Shiva era antigamente chamado Pashupati e Vanaspati, o “Senhor dos Animais” e “Senhor da Floresta” (semelhante ao deus Cernunnos/Herne celta). Na mitologia azteca, Coatlicue ou a Deusa-Mãe (Terra-Serpente) era mostrada com um colar de cabeças humanas decepadas, apresentando incríveis parecenças com a Deusa Negra Kali. E na mitologia maia, a cabeça decepada do deus Hun-Hunahpu tinha o poder de fazer as árvores crescer e dar fruto, trazendo fertilidade e abundância.

É também interessante reparar no seguinte:

Na 2ª parte (CAELETHI) do Livro Negro de Satanás da ONA, são-nos mostrados os símbolos dos 21 Deuses Obscuros, sendo fornecido uma espécie de mistério ou frase enigmática para cada Deus/Arcano. É bastante curioso que o símbolo de VINDEX (o “Opfer” ou Sacerdote sacrificado, que representava Satanás) seja um antigo símbolo ocultista da estrela ALGOL, que é apelidada em algumas tradições de “Cabeça de Satanás” (Rosh ha-Satan) ou “Cabeça do Demônio” (Ras al-Ghul). Desta última expressão é que vem o nome da estrela: Al-Ghul, Algol.

Heinrich Cornelius Agrippa diz-nos no seu precioso livro “De Occulta Philosophia” ou “Da Filosofia Oculta”, livro 2, capítulo 47, que a influência de cada uma das principais estrelas podia ser «usada» na Magia Cerimonial, sendo empregues determinados símbolos ou imagens para cada uma delas. Assim, a estrela Aldebaran era representada por um Anjo ou Deus e trazia honra e riqueza, etc. Acontece que a nossa “interessante” estrela Algol era simbolizada por uma CABEÇA DECEPADA, COM BARBA E ASPECTO DEMONÍACO, QUE SE DIZIA TRAZER FERTILIDADE E PROTEGER CONTRA O MAL. Coincidência? Certamente que não!

Foi precisamente isto que me conduziu a uma teoria, que vocês poderão achar interessante.

Eu acredito piamente que os Templários de facto veneravam uma Cabeça com barba e aspecto demoníaco, como nos falam os Testemunhos da Inquisição (que são demasiados, com demasiadas parecenças, em demasiados lugares para serem apenas superstições ou invenções da Igreja), e que eles acreditavam mesmo que esta Cabeça de aspecto terrível os poderia proteger e trazer boa-sorte. Acredito também que essa mesma cabeça, à qual se chamava “baphomet”, era na realidade um símbolo de Algol, a Estrela-Demônio, e que era realmente usado na Magia Cerimonial nos rituais templários de Iniciação na Ordem. Este simbolismo teria vindo sem dúvida dos antigos Cultos de veneração da Deusa Sinistra e do seu esposo sacrificado Satanás, o Senhor da Terra.

Se isto estiver de fato correto, então teremos aqui uma justificação plausível para muitas coisas.

Algumas vez se interrogaram porque é que Eliphas Lévi, o conhecido Mago católico, ilustrou o «baphomet» templário como um misto de homem e bode, com seios e falo erecto, numa postura ou “asana” que faz lembrar as posturas de deuses como Cernunnos e Pashupati, antigos deuses da fertilidade?

Na realidade a Tradição Sinistra responde perfeitamente a estas perguntas, e através dela conseguimos “ligar” muitas coisas que são aparentemente inconciliáveis. O facto (ou teoria) de que a Cabeça (Algol, Ras al-Ghul, Cabeça do Demônio) venerada pelos Templários representar o antigo Senhor da Terra (Satanás, Kthunae ou Sapanur), explicaria a razão de Eliphas Lévi representar essa Cabeça como um homem-bode (o homem bestial ou Senhor da Terra), sentado na posição dos deuses da fertilidade. Sendo assim, a representação de Eliphas Lévi teria um significado bastante mais profundo, e intimamente relacionado com o Culto da Cabeça de Satanás.

Aliás… não será com certeza por acaso que no seu livro “O Pêndulo de Foucault”, Umberto Eco nos diz que numa das salas do Castelo de Tomar (a “capital” dos Templários em Portugal) existe uma face esculpida, uma *cabeça* com barba, com traços nitidamente caprinos…

Universo Causal e Universo Acausal


Muitas vezes em documentos da ONA se lêem as expressões “universo causal” e “universo acausal”. Implicará isto que na ONA se acredita em outro(s) universo(s) igual(is) a este? Antes de responder a esta pergunta, seria melhor eu esclarecer o que significam essas duas expressões, dentro do contexto do Satanismo Tradicional. No Satanismo Tradicional a Árvore de Wyrd é usada com variados propósitos e pode simbolizar várias coisas. Uma das coisas que ela representa é a nossa Mente, que possui uma parte Causal (isto é, lógica, linear, e limitada pelas noções de “bem” e “mal”, “correcto” e “errado”), e outra parte Acausal (verdadeiramente sinistra e caótica, porque foge a todos os limites impostos pela consciência mundana/causal).

Assim, muitas pessoas têm a tendência a comparar a realidade Acausal com uma coisa “maligna” ou “diabólica” – o Homem sempre temeu aquilo que não compreende, ou que se situa para além de si próprio.

No entanto, no âmbito do Satanismo Tradicional as expressões “causal” e “acausal” também podem ser usadas como sinônimos de duas partes do Universo visível e invisível, ou até como dois Universos opostos. Mente = Universo.

A realidade causal/mundana é representada na Árvore de Wyrd pelas 4 esferas inferiores: Lua (Nox), Mercúrio (Lucifer), Vénus (Hriliu) e Sol (Lux). Já a realidade acausal/sinistra é obviamente representada pelas 3 esferas superiores: Marte (Azif), Júpiter (Azoth) e Saturno (Chaos). Aquilo que as une e separa é o chamado “ABISMO”, entre as esferas do Sol (IV°) e de Marte (V°). Este Abismo é o ponto onde o Iniciado Satânico sacrifica tudo aquilo que ele pensava que era (o seu ego e a sua mente racional e civilizada) e renasce para o seu “Eu Acausal”, despertando em si próprio as forças negras e selvagens conhecidas como os Deuses Obscuros e tornando-se Uno com elas. No caso do Iniciado não estar preparado para “ultrapassar o Abismo”, ele poderá ficar louco ou até mesmo morrer (em casos extremos), uma vez que não se conseguiu desligar do seu “Eu Causal” e tomou contacto com Forças que se mostraram demasiado poderosas e sinistras na sua vida. Uma experiência semelhante acontece na travessia do Abismo da Árvore da Vida situado na esfera oculta Daath, em que há um confronto com o Demónio-Opositor Choronzon (o Guardião do 10º Aethyr ZAX).

Da mesma forma que podemos fazer este paralelo com a Mente humana, também podemos dizer que na nossa “realidade” o Abismo consiste em pontos em que dois Universos se tocam: o nosso Universo, linear e palpável, e o “outro” Universo sinistro. Assim, nesta segunda hipótese, o objectivo do Iniciado Satânico seria trazer os Deuses Obscuros de volta à Terra, abrindo um ‘nexion’ ou passagem através de rituais específicos. Segundo a Tradição Sinistra, alguns destes “Portais Estelares” situam-se perto das estrelas Algol, Dabih e Naos, havendo também um no nosso Sistema Solar, perto do planeta Saturno.

Se os Deuses Obscuros devem ser vistos como entidades reais que vivem noutro Universo, ou como factores  desconhecidos e temíveis na Mente humana, isso caberá ao próprio Iniciado decidir, depois de ele ter ultrapassado a fase crítica de máxima purificação que é o Abismo. Não existem leis indiscutíveis no Satanismo Tradicional, nem mestres nem alunos. Cada praticante deve trabalhar por si próprio.