quinta-feira, 17 de agosto de 2023

As Duas Colunas do Pórtico do Templo de Salomão

 

As colunas gémeas
As colunas no pórtico de Salomão

Arquitectónica e Maçonicamente falando, a particularidade mais importante do Templo do Rei Salomão era, sem dúvida, o par de Colunas no Pórtico. O grande espaço consagrado à sua descrição na Bíblia, bem como os muitos estudos realizados, são uma boa indicação da sua importância.

Dos estudiosos, alguns, poucos, acreditam que as Colunas eram membros estruturais quer como entablamento que directamente sustentava o tecto, quer como sustento de um par transversal de anteparos que o sustentariam. A maioria dos comentadores (maçónicos ou profanos, e estes leigos ou eclesiásticos), porém entende tratar se de colunas livres e puramente ornamentais ou emblemáticas, exactamente (Publicado em freemason.pt) como aparecem em nossos “Quadros de Loja”. Há razões suficientes e satisfatórias para a crença geral de que se tratava efectivamente de colunas livres e de carácter simbólico, sendo de facto “símbolos de divindade”. “Um conjunto quase irresistível de opiniões favorece a hipótese das colunas livres”.

As Colunas de Salomão terão sido erigidas mais especificamente para imitar os Obeliscos das entradas dos Templos Egípcios (o par de Obeliscos da entrada do Templo de Carnaque é impressionante, ou talvez tenham sido copiadas de Tiro, terra de origem do seu obreiro, onde Heródoto afirmou ter visto duas colunas semelhantes defronte do templo de Hércules.

Fossem copiadas dos Templos Egípcios ou do Templo de Hércules, de qualquer modo, na arquitectura “eclesiástica” do tempo, no Médio Oriente onde nos situamos, há urna extensa preponderância de Colunas Gémeas que tem sido comentada por um sem número de estudiosos.

Há a menção particular de duas colunas semelhantes à entrada do templo de Biblo (mais tarde conhecida pelo nome de Gebel, a pátria dos gibilitas, os “cortadores de pedra” do Templo do Rei Salomão).

Na Síria, escavações levadas a cabo pelo Instituto Oriental da Universidade de Chicago, em Tell Tainat, desvendaram uma pequena “capela” do século VIII a.C., anexa ao palácio dos príncipes de Hatina, onde, com clareza surgem no pórtico duas colunas livres, e segundo tudo indica, mais puramente simbólicas ou ornamentais do que arquitectonicamente funcionais. “Existem agora provas suficientes de que esse tipo de construção era muito comum na Fenícia”.

Quanto aos Obeliscos egípcios, os mais conhecidos são o par que Tutmósis III fez erguer em Heliopolis no século V a.C., e que Augusto César posteriormente transferiu para o Caesareum de Alexandria, um dos quais adorna hoje o Cais do Tamisa em Londres e outro um recanto do Central Park de Nova York.

A descrição Bíblica das Colunas Salomónicas é a seguinte:

“Assim terminou ele [Hiram] de fazer a obra para o Rei Salomão, para a casa de Deus:
As duas colunas, e os globos, os dois capiteis sobre as cabeças das colunas; as duas redes para cobrir os globos dos capitéis que estavam sobre a cabeça das colunas. As quatrocentas romãs para as duas redes: duas carreiras de romãs para cada rede, para cobrirem os dois globos dos capiteis que estavam em cima das colunas.
Na planície do Jordão, o rei os fez fundir em terra barrenta, entre Sucoth e Zeredata”.
“Fez também diante da casa duas colunas de trinta e cinco côvados de altura; e o capitel que estava sobre cada uma era de cinco côvados.
Também fez as cadeias como no Santo dos Santos, e as pôs sobre as cabeças das colunas: fez também cem romãs as quais pôs entre as cadeias.
E levantou as colunas diante do templo, uma à direita e outra à esquerda; e chamou o nome da [que estava] à direita Jachin, o nome da [que estava] à esquerda, Boaz”.
“A altura de uma coluna era de dezoito côvados, e sobre ela [havia] um capitel de cobre, e de altura tinha o capitel três côvados; e a rede, e as romãs em roda do capitel, tudo [era] de bronze; e semelhante a esta, era a outra coluna, com a rede”.

Esta era a idade do bronze na arquitectura. Homero fala nos dela na casa de Alcino. Os tesouros de Micenas eram recobertos internamente de chapas de bronze, e nos túmulos etruscos dessa idade esse metal era muito mais material de decoração do que o trabalho em pedra ou outro.

O Altar do Templo fora feito de Bronze, e sustentavam o mar de fundição doze bois de bronze.

Os suportes, as pias e todos os outros objectos de metal, conjuntamente com as Duas Colunas, eram, na realidade, o que tanto celebrizava o Templo.

A localização das colunas
Houve muita especulação entre comentadores, maçónicos e não maçónicos sobre a designação das Colunas como “direita” e “esquerda”, uns tomam-na no ponto de vista de quem (Publicado em freemason.pt) entra no Templo, e outros de quem sai. O problema porém está ligado a uma pressuposição que está ligada à questão subsidiária da Orientação do Templo.

Sabe se que os antigos hebreus se referiam ao que denominamos os quatro pontos cardeais, colocando se na posição de um homem que olhasse o Sol Nascente. Assim, à palavra “direita” equipara se a posição geográfica “sul”, e à palavra “esquerda” a posição geográfica “norte”, de modo que, quando se fala localmente, é evidente que Mão Direita e Sul são sinónimos.

Esta concepção dos Pontos Cardeais é nos confirmada não só pela Enciclopédia Bíblica, mas também pela Enciclopédia Judaica, que garantem: – “O leste era chamado ‘a frente’; o oeste, ‘a parte de trás’; o sul, ‘a direita’; e o norte, a ‘esquerda’”.

A tentativa de solução do problema, tomando por base a concepção de que a posição das Duas Colunas é vista pela pessoa que sai do templo, e por tal se aproxima das colunas vinda de dentro, é, [na minha opinião] altamente artificial, pois a primeira vista que se tem de um edifício é sempre de fora, e nunca de dentro. Por conseguinte, a primeira descrição de um edifício, ou de suas características externas (como se presume que o fossem as Duas Colunas) reflecte sempre o ponto de vista do observador que desse edifício se aproxima e o avista pela primeira vez, e isso só pode ser, por força, do lado de fora. Portanto, o ponto de vista do fiel saindo do templo não é realística, pois como pode alguém sair de um lugar sem aí haver entrado?

Tem sido muitas vezes assinalado pelos comentadores bíblicos que o Templo de Salomão nunca se destinou a conter numerosos fieis, mas apenas os sacerdotes oficiantes; esperava se que esses fieis se congregassem no Pátio do Templo, de onde lhes seria dado ver as Duas Colunas [do lado de fora].

Em jeito de encerramento da questão, encontramos num Catecismo de 1724 as seguintes pergunta e resposta:

P: Em que parte do Templo se manteve a [primeira] Loja?
R: No Pórtico de Salomão, na extremidade Ocidental do Templo, onde se erguiam as Duas Colunas.
Sobre a altura das Duas Colunas, 18 ou 35 côvados, pode tratar se apenas de dois tipos de medida diferentes, a saber: – o côvado de construção (36 cm) ou o côvado real (62,5 cm), como pode também ter havido erro provocado pela semelhança entre os caracteres hebraicos correspondentes a 18 [yod hé] e 35 [lamed hé]. Um yod mal escrito ou desfigurado pelo tempo, poderia, num manuscrito, ser tomado por um lamed; e um lamed parcialmente desfigurado poderia, ainda mais facilmente ser tomado por um yod. De qualquer forma tratava se de Duas Colunas imponentes, que com a variante do capitel incluído ou não, nos conduzem a sete vezes a estatura de um homem, alto para a sua época, múltiplo este que se encontra em outras edificações “eclesiásticas” de então ou hodiernas.

A tradição maçónica de que as Duas Colunas foram “feitas ocas”, pode ser suportada, do ponto de vista do fundidor, por necessidade, apenas com uma grossura de “uma palma de mão”, a fim de lhes reduzir o peso, e teria assim de ser o bronze vertido em torno de um núcleo central que pudesse posteriormente ser retirado como se diz que aconteceu com as colunas, fundidas “na planície do Jordão”, … em terra barrenta, entre Sucoth e Zeredata. Igualmente, uma “tenda das Colunas Ocas”, em ligação com a “Lenda do Xamir”, suporta que as colunas foram feitas ocas para depósito dos registos e escritos valiosos, podendo, naturalmente estar ligada à das Colunas Antediluvianas (Uma delas em mármore, que “nunca arderia”, e outra em tijolo, “que nunca afundaria na água”, pois os homens sabiam, assim o dissera Adão, que seriam destruídos pelo fogo ou pela água, e assim guardariam o trabalho de muito estudo, em ordem a salvá-lo, para auxílio do género humano).

De um ponto de vista antropológico, elas não eram senão uma sobrevivência dos antigos pilares de pedra, os Mazzeboth, que foram originalmente emblemas fálicos, como nos confirma Ward na descrição da Cerimónia em Heirápolis: “havia dois grandes falos, de trinta braças de altura, erguidos à porta do templo de Astarte, em que, duas vezes por ano um homem… subia ao cimo, por dentro delas, … afim de assegurar a prosperidade e fertilidade da terra, representando o processo de fertilização..”..

Segundo o mesmo Ward, as Duas Colunas Salomónicas são igualmente fálicas, essas “duas colunas, com seus globos… os capiteis enfeitados com entalhes minuciosos [as romãs], transmitem a ideia da fertilidade, não sendo mais que vestígios do prepúcio (o restante teria sido removido pela circuncisão) artisticamente representados”. Até a “obra de lírios”, que adorna o capitel, como emblema de pureza, pode não estar deslocada nesse simbolismo.

O significado das colunas gémeas
Sobre o possível sentido e significado das colunas, duas questões principais se nos colocam:

Porque lhes foi dado um nome?
Quais os seus possíveis significados?
Quanto à primeira questão, parece ter sido costume entre os povos do Médio Oriente dar nome aos objectos sagrados; assim os Babilónicos consta que, em comum com as nações suas vizinhas, tinham o costume de atribuir nomes significativos e, de certa forma, sagrados aos seus edifícios. Da mesma forma está escrito que, para comemorar a vitória dos israelitas sobre Amaleque, “Moisés edificou (Publicado em freemason.pt) um altar e lhe chamou Adoninissi [o Senhor é minha bandeira]”. Dessa maneira estabelece se que, de facto as Duas Colunas não eram somente objectos decorativos ou funcionais, mas também objectos sagrados por causa dos nomes peculiares que lhes foram dados.

Quanto à segunda questão, o seu significado tem sido interpretado quer etimológica, quer simbolicamente.

Assim, na tradução grega da Bíblia, a Versão dos Setenta, os dois nomes em Crónicas, são traduzidos por palavras que significam “força” e “direito”. A Bíblia de Genebra traduzia Jachin por “firmar” e Boaz por “em força”, mas Lionel Vibert critica a tradução e afirma que o certo seria “Ele firmará” e “N’Ele há força”.

Pelo menos dois autores entendem que Salomão ergueu as Duas Colunas como monumento comemorativo das promessas feitas pelo Senhor ao seu pai David, e que lhe foram repetidas numa visão, em que a voz do Senhor proclamou: ‘então confirmarei o trono de teu reino sobre Israel para sempre’; a mesma promessa é feita num sonho ao profeta Natã: ‘Vai, e diz a meu servo David: Assim diz o Senhor… Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre…’. Assim a palavra Jachin derivará da palavra Jah, que significa “Jeová”, enquanto que achir significa “firmar” e quer dizer que “Deus firmará a sua casa de Israel”; Boaz, da mesma forma se comporá de B, que significa “em” e oaz, que significa “força”, dando se ao todo o significado de “em força ela será firmada”.

Entretanto o hábito de dar uma interpretação moral aos nomes das Duas Colunas não é uma invenção maçónica. Já no Século XVII um Teólogo Puritano se manifestou escrevendo que essas colunas foram erguidas “para notar que foi Deus quem lhe deu o poder e o domínio sobre todas aquelas nações, e cumpria a promessa feita a Moisés e ao seu povo de Israel”. “Os topos das colunas eram curiosamente adornados: para mostrar que os que persistem, constantes, até ao fim serão coroados. O trabalho de lírios [simbolizava] o Emblema da Inocência, Romãs o da produtividade, havendo muitas sementes num pomo: a Coroa deles lhes declarará a Glória…”..

Em consonância com o costume, já mencionado, de os antigos hebreus darem nomes significativos aos objectos sagrados, os estudiosos modernos da Bíblia concordam em que os nomes das Duas Colunas devem ser enigmáticos; além do mais, que eles devem ter um significado religioso; as colunas têm nome porque são objectos sagrados.

Procurando o possível significado desses nomes, obviamente enigmáticos, e “examinando em seguida o Salmo que dizem haver Salomão cantado ao concluir se o templo, notamos que duas das frases notáveis nele são… para a ‘firmação’ do sol em sua gloriosa mansão no céu, e…para a ‘casa grande’ ou templo em que Iavé habitaria para sempre”.

Temos pois que estas colunas estavam nos templos semíticos porque eram uma característica usual dos símbolos da divindade, mas, porquê duas colunas se apenas um Deus único é representado?

Entre os Semitas, e outros povos daquela época e área geográfica, os deuses andavam aos pares, macho e fêmea, como Baal e Astarte, Osíris e Isis, etc. É assim possível aceitar que as Duas Colunas representassem o macho e a fêmea, os princípios activo e passivo da natureza.

Nunca houve contestação sobre o sexo das colunas, a primeira delas “suficientemente caracterizada pelo Iod inicial que a designa comummente. Com efeito essa letra hebraica corresponde à masculinidade por excelência. Beth, a segunda letra do alfabeto hebraico, por outro lado, é considerada como essencialmente feminina, porque o seu nome quer dizer casa, habitação, de onde a ideia de receptáculo, de caverna, de útero, etc. A Coluna J\ é, portanto, masculina activa, e a Coluna B\ feminina passiva”.

Assim como as duas colunas do grande templo de Tiro eram símbolos gémeos de Melcarte, o deus de Tiro, assim também, com grande probabilidade as duas colunas erguidas pelo mestre Tírio [Hirão], defronte do Templo de Salomão, deviam ser símbolos de Jeová, o Deus de Israel; as Duas colunas são elas mesmas designações de Jeová.

Dá nos também o nosso Catecismo, anexo ao Ritual de Aprendiz, de forma quase directa, uma explicação para a unicidade das Duas Colunas.

P: Como formulas os princípios que te revela o número Dois?
R: A Razão humana divide e confina artificialmente o que é Um e não tem limites. Assim a unidade é repartida entre dois extremos aos quais só as palavras prestam uma aparência de realidade.
P: Que concluis dai?
R: Que o ser, a realidade e a verdade têm como símbolo o número Três.
P: Porquê?
R: Porque é necessário devolver o binário à unidade por meio do número Três.
Quanto ao seu significado, provavelmente a melhor explicação dos dois nomes é a da Enciclopédia Judaica:

“Jachin” (“Ele firmará”), e
“Boaz” (“Nele está a força”).
Explanação análoga nos é dada pela Bíblia de Genebra e por Bede, e foi este o significado que, no dia da minha iniciação, na instrução do aprendiz, me comunicaram teria a Palavra Sagrada: “Em Força”.

Outras interpretações
Podiam os nomes Jachin e Boaz serem as palavras iniciais de duas sentenças completas. prática para a qual, ao que tudo indica, havia precedentes tanto bíblicos quanto extra bíblicos; na Babilónia era costume dar por nome a certas colunas uma sentença inteira.

As colunas de Salomão podem ter tido algum significado especial para as cerimónias da aliança e da coroação.

Quanto à primeira, lemos, em relação a Josias: “O Rei se pôs em pé junto à coluna, e fez aliança perante o Senhor..”..

Quanto à segunda lemos também, sobre a coroação do Rei Joás: “[Atália] olhou, e eis que o rei estava junto à coluna, conforme o costume..”. (há, de certo alguma semelhança com o significado que tem a pedra de Scone na coroação dos soberanos britânicos).

Nesse sentido, e com o devido respeito ao desenvolvimento original da fórmula maçónica para interpretar esses nomes, é interessante saber que em 1765 o Dr. Dodd imputava aos autores da História Universal a sugestão de que “Jachin” e “Boaz” eram as palavras iniciais de duas inscrições completas no suporte das Duas Colunas, que hoje vieram a ser conhecidas apenas pelas palavras iniciais, como os Livros de Moisés são chamados pelas primeiras palavras usadas em cada livro da Bíblia.

Seguindo essas reflexões, e estabelecendo um paralelo entre “Jachin” e “Iavé”, como equivalente emblemático da Divindade, o mesmo autor é de parecer que “existe uma evidência suficiente para justificar a opinião de que a coluna erguida no lado meridional do pórtico do templo tirava o seu nome da palavra original de uma inscrição que nela se fez mais ou menos com estas palavras: ‘Ele (Iavé) confirmará o trono de David, e seu reino para sua semente por todo o sempre’”.

Igual e relativamente à outra coluna: “A coluna da esquerda era aquela junto da qual se postava todo o sumo sacerdote no momento da sua consagração. Boaz ‘Nele a sua (Publicado em freemason.pt) força era lhe um perpétuo lembrete, enquanto passava e repassava por ela, de que a sua ‘força’ residia no favor de Jeová e no cumprimento da Sua lei”.

Procurando equiparar simbologias, vamos encontrar no Egipto, uma muito forte semelhança: “Na entrada principal dos templos havia sempre duas colunas; uma era a coluna de Set e outra era a coluna de Horo…, uma chamada Tatt, e a outra chamada Tattu…. Tatt que, em egípcio significava “em força”, e Tattu, que significava confirmar”.

Conclusões
Podemos concluir que, tal como relativamente a outras particularidades ornamentais e arquitectónicas do próprio templo, também a narrativa das Duas Colunas aparece enfeitada com a lenda, exposições, comentários e críticas; notámos corroborações e discrepâncias entre a tradição maçónica e as Escrituras, e até incompatibilidades entre vários Livros da Bíblia; encontrámos anacronismos e improbabilidades, que procurámos compreender, ainda que os não possamos justificar.

Em tudo o que fazemos há sempre qualquer coisa que falta, que não conseguimos, que não nos satisfaz completamente; quando julgamos tudo ter previsto, apuramos que algo ficou por prever; quando damos algo por concluído, concluímos que há ainda alguma coisa que se não fez.

O nosso orgulho é assim forçado a reconhecer a imperfeição das nossas obras. É desse reconhecimento que provém este desejo insaciável de caminhar para a perfectibilidade, de atingir o “belo ideal”, que de nós se afasta quando pensamos dele nos avizinhar. Porquê? “Porque o belo é o infinito visto através do finito”

Aceitando nós Maçons, importar nos mais o significado esotérico, do que a realidade histórica, ou acepção religiosa do Templo de Salomão, interessará para além do interesse legítimo da averiguação, sabermos qual o seu significado pelo que encerrarei esta prancha com a transcrição do que [no meu modesto parecer] de melhor encontrei sobre o tema:

“As Duas Colunas assinalam os limites do Mundo criado, os limites do mundo profano, de que a vida e a morte são a antinomia extrema de um simbolismo que tende para um equilíbrio que jamais será conseguido. As forças construtivas não devem agir senão quando as forças destrutivas tiverem terminado a sua tarefa. Essas forças são ‘necessárias’ uma à outra. Não se pode conceber a coluna J. sem a coluna B; o calor sem o frio, a faz sem as trevas, etc . Todo o ser vivo se encontra constantemente num estado de equilíbrio instável, formado pela criação de células novas e a eliminação de células mortas. As Novas gerações não podem afirmar se senão à medida que as antigas lhes cedem o lugar.
Essas Duas Colunas são a imagem exacta do Mundo, e é conveniente que este fique fora do Templo! O Templo é sustentado por Pilares, que se situam no mundo dos Arquétipos, onde tudo se funde numa Luz cujo brilho é imarcescível”.

A∴ R∴ – R∴L∴M∴A∴D∴ – Junho de 5997

Bibliografia
James Fergusson, F.R.S., The Temples of the Jews. Londres, 1878
W. F. Stinespring, The Interpreter’s Dictionary of the Bible, 1962. (autor não maçónico coincidente com a tradição maçónica)
Ancient Records and the Bible.
R. B. Y. Scott, do United Theological College of Montreal, no Journal of Biblical Literature.
G. Ernest Wright “Solomon’s Temple Resurrected”. The Biblical Archaeologist, Maio de 1941.
Hoje ambos designados por “Agulha de Cleópatra”.
II Livro das Crónicas 4: 11-17
II Livro das Crónicas 3: 15-17
II Livro das reis 25: 17
Joseph Young – “The Temple of Solomon”, British Masonic Miscellany
The Grand Mistery of Free Masons Discovery’d
II Livro das Crónicas 4: -17
Mazzebath – “monumento de pedra erguido como marco comemorativo ou objecto de culto”
J. S. M. Ward – Londres 1925; Ward escora-se na autoridade de Luciano em De Dea Syria (Séc. II d. C.)
Actual Menbij
Êxodo 17:15
Lionel Vibert – Freemasonry before the existence of Grand Lodges
A. G. Mackey e William Hutchinson
I Livro dos Reis 9: 15
II Livro de Samuel 7: 5, 16
Samuel Lee, Orbis Miraculum, 1659
Encyclopeda Biblica
Jules Boucher – La Symbolique Maçonnique
II Livro dos Reis 23: 3
II Livro dos Reis 11: 14
Caldecott, Solomon’s Temple
Albert Churchward, The Arcana of Freemasonry
Immanuel Kant
Jules Boucher – La Symbolique Maçonnique

Soberano Príncipe Rosa-Cruz


A Maçonaria Templária

O Rito Escocês (REAA) nos seus graus capitulares, termina com o grau 18, que é denominado Soberano Príncipe Rosa-Cruz, ou Cavaleiro da Rosa-Cruz, como é chamado este grau na Maçonaria do Arco Real. Este grau foi introduzido nos ritos maçónicos pelos “maçons jacobitas”, como eram conhecidos os membros da Grande Loja de Inglaterra, que apoiaram os descendentes da dinastia dos Stuarts na sua pretensão de recuperar o trono inglês, perdido em razão da chamada Revolução Gloriosa. [1]


Os conflitos que dividia  a sociedade inglesa nas questões políticas causaram também a divisão dos maçons, uns apoiando as pretensões stuartistas, outros defendendo os hanoverianos, como eram chamados os partidários do príncipe Guilherme de Orange. Enquanto os hanoverianos se reuniam na chamada Grande Loja, praticando apenas os graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre) os stuartistas criavam o chamado Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA), introduzindo o que hoje conhecemos como Ritos Superiores, que incluem a Loja Capitular, os Graus Filosóficos e os Graus Administrativos.


Através das chamadas Lojas Militares, fundadas pelos stuartistas, as tradições templárias entraram na Maçonaria. Segundo Baigent e Leigh (O Templo e a Loja , Madras, 2006), o Barão Hundt foi o primeiro Maçom a reivindicar a herança templária através do rito que ele fundou, o Rito da Estrita Observância. Este rito, embora seja praticado ainda hoje em diversas Lojas da Alemanha, não conseguiu fazer muitos adeptos e logo foi eclipsado por outros ritos.


Seria, entretanto, este ramo stuartista de Maçonaria que propagaria a Maçonaria de tradição templária pelo mundo e dela sairia, mais tarde, a Maçonaria do Arco Real, que viria a ser a principal denominação maçónica na América do Norte. Esta Maçonaria, fortemente alicerçada em tradições templárias, é aquela praticada nos chamados graus superiores do Rito Escocês, especialmente nos graus filosóficos, ou kadosh, e graus administrativos ou areopagitas.


As três vertentes da Maçonaria moderna

A chamada Maçonaria especulativa é a formula que surgiu da interacção entre as três grandes tradições que sobreviveram da cultura medieval, ou seja, a cavalaria, a tradição hermética e arquitectura. A cavalaria entrou com os motivos éticos e morais que nortearam aquela instituição, ligados principalmente aos exércitos cruzados, com ênfase especial nos cavaleiros templários, os cavaleiros do Hospital de São João de Jerusalém e os cavaleiros teutónicos, estes últimos ligados principalmente aos povos germânicos.


Quanto à arquitectura, é sabido que a base da pratica maçónica assenta sobre a tradição dos pedreiros livres, assim chamados os arquitectos e mestres de obras medievais, responsáveis pela construção dos grandes edifícios que ainda hoje encantam os olhos dos turistas por todo o mundo antigo. Estes profissionais, a par da ciência que praticavam, colocavam na sua profissão um carácter de sacralidade, que fazia dela uma verdadeira arte iniciática. Daí o carácter místico que lhes é atribuído e a profunda identificação com o pensamento que viria, já no século XVI, desembocar na chamada Maçonaria especulativa.


Quanto ao hermetismo, essa tradição foi inserida na prática maçónica através dos pensadores do chamado círculo da Rosa-Cruz. Este círculo abrigava uma plêiade de filósofos e praticantes de alquimia, os quais, em virtude da sua prática e da sua forma de viver e de pensar, eram hostilizados pela Igreja Católica.


Historicamente, sabe-se que a Rosa-Cruz, como instituição organizada, nunca existiu antes do século XX. Como entidade, hoje conhecida mundialmente pelo seu carácter filantrópico, filosófico e humanístico, a Rosa-Cruz (AMORC) foi fundada em 1915, em Nova Iorque. Mas como tradição, dedicada ao estudo e disseminação do pensamento filosófico-místico, ela existe como movimento desde os primórdios do século XVII, quando alguns alquimistas alemães, liderados por Johan Valentin Andreas, lançaram três curiosos manifestos, chamados Fama Fraternitatis, Confessio Fraternitatis e Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz, todos assinados por um personagem misterioso personagem chamado Christian Rosenkreuz, provavelmente um pseudónimo utilizado por Andreas, o líder desse movimento.


Estes manifestos reflectiam as questões religiosas e políticas que sacudiam a Europa naquele momento. Era a época da Reforma Protestante e da formação dos estados nacionais, envolvendo intensas disputas dinásticas, que ensanguentavam todo o Velho Continente.


As pesquisas de Serge Hutin e Frances Yates mostram o quanto os pensadores do circulo rosacruciano estivam envolvidos com as questões políticas e religiosas da época. E também com as diversas casas reais da Europa. O próprio Andreas, como apontam essas pesquisas, mantinha uma relação muito estreita com os príncipes alemães do Palatinado e com a família Guise, esta última ligada por laços de casamento à família dos Stuarts, então soberanos da Inglaterra. [2]


A Maçonaria especulativa, como se sabe, tem profundas ligações com os escoceses, desde a época dos Bruces, quando o rei Robert Bruce, ajudado por vários cavaleiros templários, conseguiu libertar a Escócia do domínio da Inglaterra. Foi este rei que fundou a Ordem dos Cavaleiros de Santo André do Cardo, para dar abrigo, na Escócia, aos proscritos cavaleiros templários que estavam sendo perseguidos pela Inquisição, em toda a Europa. Esta Ordem de cavalaria é constantemente lembrada como sendo um dos núcleos da Maçonaria especulativa, da mesma forma que, dois séculos mais tarde, a Royal Society inglesa seria o núcleo inglês da Maçonaria moderna.


A ideia que informa a Maçonaria moderna é, na sua face espiritualista, claramente uma inspiração rosa-cruciana. Foram os pensadores do círculo rosa-cruz que lançaram nos seus manifestos a ideia de “uma transformação no mundo da política e do pensamento”, a qual seria feita através da aplicação dos “segredos” que eles possuíam. Esta transformação traria uma “nova época de liberdade espiritual, na qual a humanidade seria libertada dos grilhões que lhes eram impostos pela Igreja Católica”. [3]


O homem que nasceria deste novo sistema seria um “homem novo”, religioso a sua maneira, mas informado pela verdadeira ciência e educado na filosofia que, naquele momento, estava encantando todos os intelectuais da época: o Iluminismo. Era esse homem “ de gostos morigerados, humor fino, educado nas ciências e nas artes”, como disse o Cavaleiro de Ramsay, que conduziria a humanidade ao seu glorioso destino. [4]


Este pensamento, como vimos, era o pensamento dos rosacrucianos. Foi disseminado em vários trabalhos publicados por notáveis pensadores e famosos alquimistas, que deixaram o seu nome na história. Esta tendência filosófica aparece nos trabalhos de John Milton, Francis Bacon, Marcilio Ficcino, Giordano Bruno, Voltaire, Thomas Morus e outros criadores de utopias políticas e literárias. Está presente também nas obras de diversos alquimistas como Nicolas Flamel, Teofrastro Paracelso, Van Helmont, Blaise Viginére, Françóis Rabelais  e outros. [5]


Na Maçonaria moderna a influência Rosa-Cruz aparece principalmente no grau 18 do Rito Escocês, denominado Soberano Príncipe da Rosa-Cruz, também conhecido como o Cavaleiro do Pelicano e Cavaleiro da Águia Branca, títulos esses que evocam as duas principais tradições que são contempladas neste grau, ou seja, a alquimia, simbolizada nas alegorias da procura da Palavra Perdida, o  Mito da Fénix e a Lenda do Pelicano, e as alusões aos princípios defendidos pela instituição da cavalaria.


O Mito da Fénix

No moderno ritual do Rito Escocês Antigo e Aceito, o Mito da Fénix é uma alegoria que aparece no grau dezoito, consagrado ao Cavaleiro da Rosa-Cruz. Por se tratar de uma alegoria essencialmente alquímica, ela integra a tradição hermética da morte ritual do adepto e do seu renascimento em outro nível de consciência. Isto era o que os alquimistas acreditavam poder fazer com o material trabalhado nos seus laboratórios, “matando” a sua estrutura de metal comum (chumbo, estanho) e “ressuscitando-o com a estrutura de um metal nobre (ouro, prata). E se assim era com os metais, isto também poderia ser feito com os seus próprios espíritos.


No ritual do grau 18, diz-se que o recipiendário “perdido nas trevas, na encruzilhada dos caminhos, perto do total abatimento e da morte, ouve uma voz misteriosa saída do fundo da sua alma”. (palavras do ritual do grau). É nesse momento que ele reencontra a Palavra Perdida, oculta sobre as asas da Fénix, no instante em que ela renasce das cinzas. A Palavra Perdida, aqui é chave do segredo do renascimento espiritual e a Fénix é o seu próprio espírito que se renova por conta dessa iniciação. E ele sente como se “um sopro o penetrasse, no momento em que murmura, afastando-se, a Palavra que para ele é a revelação de uma nova Luz.” E dali ele sai reanimado, renovado, porque agora sabe que a Palavra Perdida significa “ Igne Natura Renovatur Integra”. [6]


Ou seja, a natureza inteira renova-se pelo fogo, e essas palavras correspondem justamente às iniciais apostas sobre a cruz de Cristo (INRI). É nesse instante que ele tem a revelação final e fundamental do mistério contido na Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, ou seja, o verdadeiro significado desse mistério magno da cristandade.


Aqui se revela a tradição alquímica sendo aplicada no seu mais inspirado fundamento, ou seja, a de que a natureza produz a vida tirando-a da morte, da mesma forma que Deus fez o mundo tirando a luz das trevas e da mesma forma que Cristo, morto na cruz e ressuscitado ao terceiro dia significa a redenção para toda a humanidade. Assim, para que a vida se renove, é preciso a morte ritual do recipiendário, da mesma forma que a semente que dá vida precisa ser lançada à terra, para que, do fundo das trevas, fecundada pela água e pelo calor do sol, ela reviva e inicie a sua jornada em busca da luz.


Na Maçonaria o Mito da Fénix é invocado em toda a sua beleza iniciática para mostrar ao iniciado que natureza que se renova em toda a sua integridade, pela acção do fogo, que  aqui significa tanto o trabalho do alquimista no seu forno, cozendo e recozendo o material da Obra, quanto o baptismo cristão, conforme preconizado por João Batista, ou a ritualística iniciática. [7]


Todas são analogias que simbolizam a prática da doutrina renovadora da Maçonaria. E a Rosa Mística, centralizada no ponto de encontro dos braços da cruz é exactamente esse ponto crucial do universo, ou da alma humana, onde a Palavra Perdida é recuperada e faz nascer, da própria morte, a vida renovada. Aqui, a mística do ensinamento iniciático se alia à poesia para dizer ao espírito humano que existe uma esperança de vida, mesmo na mais sombria e aterradora das situações, que é a própria morte.


A tradição Rosa-Cruz diz que a luz do mundo morre e renasce no centro de uma cruz. Esta morte e renascimento eram comemorados pelos cavaleiros cruzados nas vésperas das sextas-feiras santas, em cerimónias que evocavam a última ceia de Cristo com os seus apóstolos, ocasião em que dividiam um carneiro. Neste significativo ritual promovia-se, não só uma evocação à Páscoa hebraica, mas também o retorno do sol no equinócio da Primavera, ocasião em que a natureza morta pela acção do Inverno, recomeça um novo ciclo. Esta era uma antiga tradição observada pelos gregos e egípcios por ocasião da celebração dos seus famosos “Mistérios”. Incorporada aos ritos templários, este mito foi cristianizado para simbolizar os próprios mistérios cristãos. E assim, Jesus, o Cristo, ressuscitado no terceiro dia após a sua morte, era a própria Fénix, que para a humanidade toda trazia a promessa da ressurreição. E por analogia, essa ressurreição aplicava-se ao iniciado Maçom após a sua elevação ao grau de Cavaleiro Rosa-Cruz.


A lenda do Pelicano

A Lenda do Pelicano é outra contribuição da tradição alquímica, trazida para a Maçonaria pelos rosa-crucianos. Conta uma lenda medieval que um pelicano saiu do seu ninho em busca de comida para os seus recém-nascidos filhotes. Não notou que por perto se escondia um predador, só esperando a sua ausência para atacar o ninho.


Mal o pássaro desapareceu no horizonte, o danado atacou os coitadinhos, que ainda não tinham aprendido a voar e nem a se defender.


O predador devorou a todos, só deixando como sobra as pequeninas ossadas com as penas que mal começavam a despontar.


Quando o papai pelicano voltou ao ninho viu a tragédia que ocorrera. Atirando-se sobre os corpos dos filhos chorou horas e horas, até que as suas lágrimas secaram.


Sem mais lágrimas para chorar pelos filhos mortos, começou a bicar o próprio peito, fazendo verter sobre o corpo dos pequeninos o sangue que jorrava dos ferimentos que ele mesmo provocara com aquela mutilação.


No seu desespero não percebeu que as gotas do seu sangue, pouco a pouco iam reconstituindo a vida dos seus filhos mortos. E assim, com o sangue do seu sacrifício e as provas do seu amor, a sua família ressuscitou. [8]


Provavelmente foi a partir desta lenda que o pelicano se tornou um símbolo de amor e sacrifício. Durante a Idade Média eram vários os contos e tradições em que esse pássaro aparecia como representação da piedade, do sacrifício e da dedicação à família e ao grupo ao qual se pertencia. Esta terá sido também, a razão de os cátaros, os Rosa-Cruzes, os alquimistas e outros grupos de orientação mística o terem adoptado nas suas simbologias.


Para os alquimistas o pelicano era um símbolo da regeneração. Alguns operadores alquímicos chegaram inclusive a fabricar os seus atanores – vasos em que concentravam a matéria prima da Obra – com capitéis que imitavam um pelicano com as suas asas abertas. Tratava-se de captar, pela imitação iconográfica, a mesma mágica operatória que a ave possuía, ou seja, aquela capaz de regenerar, com o seu próprio sangue, os filhotes mortos.


Os Rosa-Cruzes, na sua origem, na sua maioria eram alquimistas. Daí o facto de terem adoptado o pelicano como símbolo da capacidade de regeneração química da matéria não é estranho. E é compreensível também que nas suas imaginosas alegorias eles tenham associado esta simbologia com aquela referente ao sacrifício de Cristo, cujo sangue derramado sobre a cruz era tido como instrumento de regeneração dos espíritos, medida essa, necessária para a salvação da humanidade. Daí o pelicano se tornar também um símbolo cristão, representativo das virtudes rectificadoras do cristianismo, da mesma forma que a Rosa Mística e a Fénix que renasce das cinzas


A Maçonaria adoptou a lenda do pelicano por influência das tradições Rosa-Cruzes que o seu ritual incorporou. Por isso é que encontraremos, no grau 18, grau Rosa-Cruz por excelência, o pelicano como um dos seus símbolos fundamentais. O próprio título designativo desse grau é o  de Cavaleiro do Pelicano ou Cavaleiro Rosa-Cruz.


O simbolismo do pelicano é uma alegoria que integra, ao mesmo tempo, a beleza poética da lenda, o apelo emocional do mistério alquímico e o romanticismo do sacrifício feito em nome do amor. Pois tanto o Cristo quanto a natureza amorosa vertem o seu sangue para que os seus filhos possam sobreviver.


Eis aí, em toda a sua beleza simbólica, o conteúdo místico-filosófico do Grau 18, o Cavaleiro da Rosa-Cruz. Que os Irmãos possam apreciar este simbolismo com todo o fervor do seu espírito.


João Anatalino Rodrigues


Notas

[1] Guerra entre a dinastia Stuart e o Parlamento, que resultou na deposição e execução do Rei Charles I. A Revolução Gloriosa reconstituiu a monarquia inglesa, com o Parlamento oferecendo a coroa ao Príncipe Guilherme de Orange, da  Holanda.


[2] Frances Yates – O Iluminismo Rosa Cruz – Cultrix, 1967. Ver também João Anatalino, Conhecendo a Arte Real – Madras, 2006.


[3] Fama e Fraternitates, citado por Frances Iates op. citado.


[4] André Michel de Ramsay (1686 – 1743) foi um dos fundadores da Maçonaria moderna. É conhecido pelo seu famoso discurso no qual ele define a Maçonaria como “uma grande republica, disseminada pelo mundo inteiro, informada pelo princípio da ética, da moral, pela prática das ciências e das artes, e constituída por homens de gosto refinado e costumes morigerados. Sua origem seria, segundo informa, a interacção ocorrida na época das cruzadas entre os profissionais da construção e os Cavaleiros do Hospital de São João, razão pela qual as lojas maçónicas se chamavam Lojas de São João. Ver, a este respeito, a nossa obra “Conhecendo a Arte Real, citada. Ver também Jean Palou – Maçonaria Simbólica e Iniciática – Ed. Pensamento, 1986


[5] Conhecendo a Arte Real, citado. O Iluminismo Rosa-Cruz, citado.


[6] Cf. o Ritual do Grau


[7] “Eu na verdade, vos baptizo em água. Mas ele vos baptizará no Espírito Santo e no fogo“. João, 3:17


[8] João Anatalino – Mestres do Universo, Biblioteca 24×7-2011

O Rito Adonhiramita


I. Problemática do tema

Pesquisar sobre o Rito Adonhiramita é defrontar-se com um monte de opiniões, teorias e ideias cristalizadas que, em geral, correspondem muito pouco à realidade histórica dos factos. Escrever sobre ele requer a disposição necessária para enfrentar a oposição dos que, de uma forma ou de outra, se sentem mais confortáveis com a mistificação e com a lenda, em prejuízo dos factos e da história documentada.


Desde a década de 1970 que se criou uma impressão de que o Rito seria místico em demasia, que traria ideias muito diferentes de outros ritos ou até, absurdamente, que seria, por essas tantas diferenças, um rito “irregular”.


As fontes oficiais, ou seja, os rituais e os documentos expedidos pelas instituições do Rito, não são rigorosas com os métodos de pesquisa histórica, o que leva a um emaranhado de informações não verificáveis e oriundas de fontes sem isenção ou sem valor para a pesquisa dos factos originais.


Uma rápida pesquisa pela internet revela uma verdadeira amálgama de relatos e resumos, cada um mais inexacto e fantasioso do que o outro.


Pretendemos com este artigo fornecer pistas de pesquisa e elementos básicos para que o pesquisador maçónico possa guiar-se e desenvolver ideias fiáveis sobre o Rito Adonhiramita, longe das invenções e das teorias sem base que abundam sobre ele.


II. Origens do Rito Adonhiramita

II.1. O contexto histórico: A França Maçónica do século XVIII

O Rito Adonhiramita é filho da Maçonaria francesa. Para compreender suas origens é necessário compreender como se desenvolveu a Maçonaria Francesa no século XVIII. Na França a Franco-Maçonaria obediencial, ou seja, regulada por um sistema institucionalizado, foi implantada por volta de 1725, através de imigrantes ingleses exilados por razões políticas ou religiosas. Em Paris é notável o seu número e a sua origem, em geral, é Londres. Junto com as suas bagagens trazem os costumes e procedimentos maçónicos utilizados na capital inglesa daquela época, da primeira Grande Loja de 1717. Esses primeiros costumes sofrerão significativas mudanças dentro de pouco tempo.


Na Inglaterra, a partir de 1725, com o desenvolvimento do Grau de Mestre, começam a desenvolver-se os Graus de Aperfeiçoamento. Muitas Lojas praticavam-nos e não existia nenhum regulamento em relação a eles. Os mais antigos fazem referência à lenda do terceiro grau e ao espírito cavalheiresco.


Obviamente que, com o trânsito de maçons entre Londres e Paris, estes desenvolvimentos, em pouco tempo, estarão em uso no território francês. Em 1730, a Grande Loja de Londres introduz inovações nos seus procedimentos litúrgicos como reacção ao tristemente célebre “Masonry Dissected” de Samuel Pritchard, que seria traduzido e reeditado na França em 1745 como “L’ Ordre des Francs-Maçons trahi”.


Com o sucesso de vendas da obra de Pritchard, e com a lenda de que os franco-maçons se ajudam financeiramente, de que nenhum maçon é deixado na miséria, de que sendo maçon a vida se torna mais fácil, há um verdadeira corrida de uma horda de profanos que, tendo-se apoderado dos segredos ritualísticos das Lojas através da citada obra, se apresentam às Lojas como sendo maçons…


As modificações introduzidas pela Grande Loja de Londres, visando identificar os falsos maçons produzidos pela obra de Pritchard são, basicamente, a inversão do pé da marcha, a inversão das Colunas dos Aprendizes e Companheiros, a mudança das palavras e a introdução de uma palavra de passe no Grau de Aprendiz.


Em 1728 estava organizada a primeira instituição maçónica na França, a “Grande Loja da França”. Em 1735, a Grande Loja da França solicita à Grande Loja de Londres a autorização necessária para se tornar uma Grande Loja provincial, o que foi negado. Em 1743, a autorização foi dada e uma instituição foi constituída com o nome de “Grande Loja Inglesa de França”. Essa mesma instituição mudaria seu nome para “Grande Oriente da França” em 1773.


Os rituais transplantados de Londres a Paris são, obviamente, os já modificados 13 anos antes, ou seja, com as Colunas invertidas, a mudança das palavras, o pé direito iniciando a marcha e a Palavra de Passe no Grau de Aprendiz.


As Lojas francesas praticavam tanto os 3 Graus Fundamentais (Aprendiz, Companheiro e Mestre), quanto os Graus de Aperfeiçoamento. Com o passar do tempo, quase que em cada província francesa se praticará um sistema diferente. A criação de sistemas ritualísticos como a “Reau-Croix”, conhecida como “Ordem dos Sacerdotes Eleitos do Universo” (Elus Cohen) na década de 1740, a Estrita Observância Templária (de origem alemã) e o sistema conhecido como “Rito de Perfeição de Heredom” (1758), originado com o discurso de Ramsay em 1738, que misturavam pretensões políticas, valores cavalheirescos e temas alquímicos, herméticos e esotéricos, produziram o caldo cultural necessário para uma verdadeira explosão de Graus Maçónicos.


II.2. Adonhiram

A Constituição da Grande Loja de Londres, dita “de Anderson”, cita Adonhiram como o chefe dos trabalhadores na Montanhas do Líbano, em número de 30.000, que se revezavam com os sidónios (p.10).


Na obra de Samuel Pritchard, na parte relativa ao Grau de Mestre, aparece o nome de Hiram e não Adonhiram. Há alguma hipóteses plausíveis para a utilização do nome “Adonhiram” em substituição a Hiram.


Alguns rituais franceses do século XVIII, como o reproduzido no “Le Régulateur du Maçon – 1785/1801”, falam de Hiram como aquele a quem Salomão deu a autoridade sobre todos os obreiros, a saber: 30.000 homens destinados a cortar os cedros do Líbano, 70.000 aprendizes, 80.000 Companheiros e 3.300 mestres.


Torna-se fácil perceber aqui a causa da confusão. Se Anderson fala que os 30.000 trabalhadores das Montanhas do Líbano estavam sob as ordens de Adonhiram, e os rituais falam que esses mesmos 30.000 homens, destinados a cortar os cedros do Líbano, estavam sob as ordens de Hiram, então, Hiram e Adonhiram devem ser o mesmo personagem. Só que a Constituição de Anderson, de seguida, refere que Hiram, Rei de Tiro, enviou seu homónimo “o maçon mais completo sobre a Terra”, Hiram ou Huram. (“But above all, He sent his namesake Hiram, or Huram, the most accomplish’d Mason upon Earth”.)


Em 1744 foi publicado o “Catechisme de Franc Maçons ou Le Secret Des Franc Maçons” (Catecismo dos Franco-Maçons ou O segredo dos Franco-Maçons), escrito por Louis Travenol que, utilizando o pseudónimo de Leonard Gabanon, chamava “Adonhiram” ao arquitecto chefe das obras do Templo de Salomão, o qual é chamado comummente, nos dias de hoje, apenas por Hiram.


Cabe frisar que em outros rituais franceses do período aparece também o nome Adonhiram e, inclusive, continua a aparecer em rituais do Rito Moderno de 1788 (Recueil des Trois Premiers Grades de La Maçonnerie – Apprenti, Compagnon, Maitre au Rite Français – 1788). Ou seja, não é uma particularidade da obra de Louis Travenol e nem uma “irregularidade” do Rito. Trata-se de algo bastante generalizado na Maçonaria Francesa do século XVIII.


A mim, como pesquisador maçónico, parece-me que houve alguma confusão entre os personagens bíblicos Adoniram, que era o chefe dos trabalhadores recrutados à força para a construção do Templo (2Sm.20,24; 1Rs.5,14) e que acabou sendo morto à pedrada pela população revoltada (1 Rs. 12,18), e Hiram Abiff, filho de uma viúva da tribo de Naftali e de um cidadão de Tiro, que era hábil no trabalho com bronze (1Rs. 7, 13-22) e muitos outros materiais (2Cr. 2, 13-14). Esta confusão pode ter sido aumentada e reafirmada pela prática de alguns Altos Graus onde a figura de Adonhiram reaparece.


II.3. A normatização dos Graus na Maçonaria Francesa e a “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”

Ao longo de quase 50 anos, como podemos ver, os Graus e sistemas multiplicavam-se ao ponto de um mesmo Grau ter dezenas de versões diferentes e variações importantes nas palavras de reconhecimento.


Em 1773, devido ao caos instalado pela enormidade de graus praticados sem qualquer regulação, o Grande Oriente da França, tentando introduzir alguma uniformidade nesse emaranhado, cria uma comissão dos Altos Graus que permanecerá com uma actividade bastante modesta até 1782, quando será criada a Câmara dos Graus.


Em 1780, como reacção à publicação do “Catechism de Franc Maçons”, mais uma obra medíocre das tantas que abundavam (e ainda abundam), que desagradou profundamente a um grande estudioso maçónico da época, Louis Guillemain de Saint Victor, este decidiu preparar um estudo contendo pesquisas relativas aos mistérios da Antiguidade, e lançou dois anos depois a “Recueil Precieux de La Maçonnerie Adonhiramite” (Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita). A parte publicada em 1782 abrangia 4 graus, ou seja, Aprendiz, Companheiro, Mestre e Mestre Perfeito. Em 1785 ele lança uma segunda parte onde outros graus eram tratados. Eram eles:


Primeiro Eleito ou Eleito dos Nove;

Segundo Eleito ou Eleito de Perignam;

Terceiro Eleito ou Eleito dos Quinze;

Aprendiz Escocês ou Pequeno Arquitecto;

Companheiro Escocês ou Grande Arquitecto;

Mestre Escocês;

Cavaleiro da Espada ou Cavaleiro do Oriente ou da Águia;

Cavaleiro Rosa-Cruz.

No final desta edição, constava também a tradução do alemão de um grau denominado “Noaquita ou Cavaleiro Prussiano”, o qual era atribuído a um autor maçónico denominado Bérage. Este “13º” foi interpretado por alguns autores como o último grau da Maçonaria Adonhiramita. No entanto, se bem analisado o contexto, fica claro que não existe qualquer ligação entre os graus anteriores e este 13º grau. Além do mais o próprio autor, Louis Guillemain de Saint Victor, afirmou que o grau de Cavaleiro Rosa- Cruz é o ápice e o término do seu sistema.


O período em que Louis Guillemain de Saint Victor escreve é extremamente significativo para a Maçonaria Francesa. Em 1 de Fevereiro de 1782, o mesmo ano em que foi lançada a primeira parte da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” ocorre a 121ª assembleia do Grande Oriente da França, onde os irmãos constituem a Câmara dos Graus que se reúne para debates em 19 de Fevereiro de 1782. Em 5 de Março, o Irmão Orador Roëttier de Montaleau, propõe o estudo de todos os graus existentes praticados na França para que se faça uma síntese dos mais importantes e se crie um sistema ordenado, que contemple toda a filosofia maçónica.


Em 21 de Fevereiro de 1783, a Câmara dos Graus apresenta o resultado de uma pesquisa sobre 38 Altos Graus sem nenhum resultado prático.


Em 2 de Fevereiro de 1784 é publicada uma circular anunciando que sete Lojas Capitulares Rosa-Cruz se associaram para formar o Grande Capítulo Geral de França. Este Capítulo Geral da França, vai analisar nada menos do que 81 Graus diferentes, onde se contavam 75 Altos Graus, só entre os chamados “escoceses” e mais de 135 sistemas ou ritos. O Capítulo Geral tentará resumi-los em 5 Ordens, que se tornarão, por assim dizer, o fundamento da “ortodoxia maçónica” em França, e que sintetizarão os elementos fundamentais dos ensinamentos e a forma mais tradicional da família de graus que ele representa.


Já na época da formação do Grande Capítulo Geral, depois de se definir que todos os Graus estudados seriam resumidos em 4 Ordens, estabeleceu-se uma 5ª Ordem, denominada de “Ilustre e Perfeito Mestre” que seria o Grau Académico e administrativo destinado a conservar e estudar todos os graus e sistemas e que serviria também para administrar o Grande Capítulo Geral.


Em 19 de marco de 1784, é publicado o ritual da 1ª Ordem – Eleito Secreto.


Em 18 de Dezembro de 1784 é publicado o ritual da 2ª Ordem, Escocês.


Em 19 de Maio de 1785 é publicado o ritual da 3ª Ordem, Cavaleiro do Oriente.


No segundo semestre de 1785 publica-se o ritual da 4ª Ordem, Soberano Príncipe Rosa- Cruz.


O Grande Oriente da França e o Grande Capítulo Geral da França entrariam em conflito diversas vezes, pelo facto de haver uma certa confusão em relação à autoridade sobre os Graus e as Lojas.


II.4. A estrutura da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”

A estrutura apresentada pela “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” serviu-se da base lançada pelo Capítulo Geral da França a partir de 1784 (tendo em vista que a segunda parte da Colectânea sai exactamente no ano em que o Capítulo Geral da França publica o último de seus rituais, o da 4ª Ordem).


Louis Guillemain de Saint Victor apenas desenvolveu um pouco mais a estrutura apresentada pelo Grande Capítulo Geral da França, focando-se em temas que julgava importantes e desdobrando a 1ª e a 2ª Ordem em 3 Graus cada uma. Vejamos a estrutura de ambos:


II.5. A repercussão da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”

A obra de Louis Guillemain de Saint Victor teve repercussão extremamente positiva ao ponto de em 1785 (ou seja, apenas 3 anos após o lançamento da primeira parte e no mesmo ano do lançamento da segunda), já estar a ser publicada, em francês em Filadélfia, EUA. Esta obra tornou-se uma referência canónica do Rito Adonhiramita, e com ela o próprio rito alcançou ampla divulgação e expansão na Europa, chegando a tornar-se no principal rito do Grande Oriente Lusitano e sendo exportado para as suas colónias em África, Ásia e Novo Mundo, inclusive o Brasil.


Na França, tornou-se, junto com a estrutura proposta pelo Grande Capítulo Geral, o padrão da “Ortodoxia Maçónica”. Aliás, é sob o título de “Ortodoxia Maçónica” (“Orthodoxie Maçonnique suive de La Maçonnerie Oculte”, editada em 1837), que Jean Baptiste Marie Ragon (1781-1862) irá cometer dois erros grosseiros que se propagarão com grande sucesso.


O primeiro erro de Ragon é a atribuição da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” ao Barão de Tschoudy (Théodore Henry de Tschoudy). Este erro será repetido “ad nauseam” em Portugal e no Brasil.


Tschoudy não teve absolutamente nada a ver com o Rito Adonhiramita. A sua obra, “A Estrela Flamejante” lançava as bases de uma Ordem chamada “Ordem da Estrela Flamejante”, de características alquímicas.


Em 1766, Tschoudy instituiu, mais no papel do que efectivamente, a sua Ordem baseada na lenda de que tradições alquímicas teriam sido passadas pelos ascetas da antiga Tebaída às Ordens de Cavalaria cristã e destas para a Franco-Maçonaria. Tschoudy faleceu em 1769, ou seja, 13 anos antes do lançamento da primeira parte da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”.


Ragon confundiu portanto as coisas e atribuiu ao Barão a autoria da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”. O segundo erro de Ragon foi a afirmação de que o Rito Adonhiramita continha 13 Graus, pois, para Ragon, o Grau de Noaquita, seria o 13º Grau.


III. O Rito Adonhiramita no Brasil

III.1. Primórdios

A obra fundacional do Rito Adonhiramita, ou seja, a “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” veio para o Brasil através de uma edição de 1810. Esta edição foi traduzida e publicada pela “Typographia Austral”, no Rio de Janeiro, no ano de 1836 como “Colecção Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” .


A primeira Loja REGISTRADA no Grande Oriente do Brasil como praticante do Rito Adonhiramita foi a “Sabedoria e Beneficência”, um ano depois do lançamento da tradução à qual aludimos acima (1837).


Existe a hipótese de que a Loja “Reunião” (1801) e a Loja “Distintiva” (1812), ambas localizadas na actual Niterói, terem trabalhado no Rito Adonhiramita, mas não é possível afirmar isso com certeza.


O Grande Oriente do Brasil, à época, era uma Obediência Mista, ou seja, trabalhava os Graus Simbólicos e os Graus Superiores, sem divisão. A Carta concedida para a fundação do Grande Oriente do Brasil previa a autorização para se trabalhar em todos os Graus utilizados em França e em Portugal, com a excepção dos pertencentes ao Rito Escocês Antigo e Aceito que, desde 1801, exigiam a concessão de uma patente separada, patente essa que deveria ser emitida pelo Supremo Conselho de Charleston ou por Supremo Conselho por ele reconhecido. Justamente por isso, posteriormente (1854), o Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil tornar-se-ia também o Soberano Comendador do R:.E:.A:.A:., pois este era o único Rito trabalhado no Brasil (introduzido em 1829) que exigia uma autorização separada. Já em 1832 foi fundado o Supremo Conselho do R:.E:.A:.A:. no Brasil que trabalharia como uma Potência Maçónica Independente.


Tendo isso em mente, fica clara a tolice de se falar em “patente de regularidade” para o Rito Adonhiramita e Moderno, como se eles fossem o R:.E:.A:.A:.


Em 1839, o G:.O:.B:. criaria um “Grande Colégio dos Ritos”, que era uma espécie de departamento para a gestão dos Ritos Adonhiramita, Moderno e Escocês (de maneira irregular), já que o R:.E:.A:.A:. deveria funcionar, e de facto já funcionava, em separado. Em 1854, com a incorporação regular do Rito Escocês Antigo e Aceito no G:.O:.B:., o “Grande Colégio dos Ritos” sofreu uma transformação. Tendo em vista que, oficialmente, o R:.E:.A:.A:. se incorporaria no G:.O:.B:. e exigia uma gestão separada, não poderia ser simplesmente anexado ao “Grande Colégio de Ritos” ou fundido como era antes. Sendo assim, em 1855 foi criado o “Sublime Grande Capítulo dos Ritos Azuis” (i.e. Moderno e Adonhiramita), que comporia colateralmente ao Supremo Conselho do R:.E:.A:.A:., as Oficinas Chefes dos Ritos.


Para governar as Lojas e Câmaras do R:.E:.A:.A:., o Grão-Mestre teria de se tornar, também, o Soberano Comendador do Supremo Conselho. O “Sublime Grande Capítulo dos Ritos Azuis” teve existência curta. Em 1863, menos de dez anos após sua criação, ocorreu a dissidência liderada por Joaquim Saldanha Marinho, onde foi criado o “Grande Oriente do Vale dos Beneditinos”.


No Grande Oriente “dos Beneditinos” o Rito Adonhiramita foi muito bem sucedido. O número de Lojas trabalhando no rito superou as do G:.O:.B:..


Foi o Grande Oriente “dos Beneditinos” que criaria o primeiro corpo capitular do Rito Adonhiramita no Brasil; em 3 de Outubro de 1872 seria criado o “Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas”.


No G:.O:.B:. foram fundadas as Lojas “Aliança” (1869) e a “Redenção” (1872), que perfaziam 3 Lojas (com a “Firmeza e União”) do G:.O:.B:. contra 5 em funcionamento no Grande Oriente dos Beneditinos.


Com estas 3 Lojas, o G:.O:.B:. criou pelo decreto nº 21 de 2 de Abril de 1873 o “Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas”, homónimo do seu concorrente no outro Grande Oriente. Cabe salientar que o erro de Ragon, o de que o Rito Adonhiramita tinha 13 Graus, sendo o último o de “Cavaleiro Noaquita”, vingou no Brasil.


III.2. Desenvolvimento

Até 1951, esse corpo seria, na prática, o departamento do G:.O:.B:. para o governo do Rito Adonhiramita. Nesse ano, em 23 de Maio, pelo decreto n. 1641, o Grão Mestre do G:.O:.B:., Joaquim Rodrigues Neves promulgava a nova Constituição, onde estava claro que, a partir de então, o G:.O:.B:. só regeria os 3 Graus Simbólicos, mantendo relações “da mais estreita amizade e tratados de reconhecimento”.


Aqui começa uma longa série de equívocos dentro da Maçonaria brasileira, equívocos esses que se mantêm até os dias de hoje. A separação entre Potência Simbólica e Filosófica, até por uma questão de simples lógica, não pode admitir qualquer tratado de “reconhecimento”. A Potência Simbólica só “reconhece” os Graus 1, 2 e 3, sendo, portanto, ilegítima a sua interferência ou “reconhecimento” em Graus que estão fora de sua competência jurisdicional. Da mesma forma, as Potências Filosóficas, enquanto instituição, não têm de ser consultadas ou dar quaisquer pareceres sobre rituais ou questões relativas aos Graus 1, 2 e 3.


Um Tratado de Amizade e Cooperação é muito diferente de Tratado de RECONHECIMENTO. É um espectáculo bizarro e deprimente ouvir que esta ou aquela Potência Filosófica é “irregular” por não manter Tratado de Amizade e Cooperação com a Potência Simbólica X ou Y.


Aos Irmãos que referem esse tipo de ASNEIRA, pedimos que perguntem na secretaria da Grande Loja Unida da Inglaterra, quais são as Potências Filosóficas ou os Graus Colaterais que são por ela reconhecidos. A resposta será “nenhum” e “nenhuma”. A Grande Loja Unida da Inglaterra não interfere, não autoriza ou mantém quaisquer relações oficiais com instituições que tratem de assuntos fora dos Graus 1, 2 e 3, incluindo o Arco Real (que é apêndice do Grau de Mestre). A Grande Loja Unida da Inglaterra não tem qualquer interesse ou ingerência sobre se os seus membros irão ou não irão integrar quaisquer Graus colaterais ou superiores ao Grau 3 e onde farão isso. Já no Brasil, a “confusão” é a regra…


É óbvio e gritante que um Grão-Mestre consciencioso, ao ver a necessidade de qualquer alteração, consultará aqueles Irmãos da Potência Simbólica (que eventualmente podem pertencer a uma Potência Filosófica do Rito, mas não obrigatoriamente) que forem mais eruditos e doutos nas questões históricas, filosóficas e ritualísticas, mas nunca como uma consulta institucional que se confunda com dependência.


Já presenciámos o absurdo de um Grão-Mestre Estadual exigir Graus Filosóficos para a composição da Grande Secretaria de Orientação Ritualística. Ou seja, a confissão de dependência em relação a outra instituição para tratar de assuntos internos. Da mesma forma, é uma declaração de tremenda ignorância maçónica tentar legitimar uma Potência Filosófica com “reconhecimento” por parte de Potência Simbólica.


A Potência Filosófica, no máximo, pode exigir como pré-requisito para a admissão nas suas fileiras que o candidato seja Mestre maçon de uma Potência Simbólica reconhecida por um determinado grupo de Potências. Mas isto não se pode confundir com a Potência Simbólica “indicar” em qual Potência Filosófica o seu membro se filiará e, muito menos, com a Potência Filosófica mendigar um “reconhecimento” institucional de uma Potência Simbólica (que, como dissemos, só tem legitimidade para reconhecer GRAUS SIMBÓLICOS).


Voltemos ao nosso tema…


Em 1953, o “Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas” passaria a designar-se “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil”. Em 15 de Abril de 1968, foi assinado entre o então Grão-Mestre do G:.O:.B:., Álvaro Palmeira e o Presidente do “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil”, Josué Mendes, um Tratado de Aliança e Amizade.


E nesse período, de 1953 a 1968, o Rito Adonhiramita ficou “irregular”? Respondam os defensores dos “reconhecimentos” por Potência Simbólica…


III.3. O Grande Cisma de 1973

Em 1973, ocorre a grande “reviravolta” no Rito Adonhiramita. Neste ano, treze Grandes Orientes Estaduais desligam-se do Poder Central do G:.O:.B:.. Isto significa para o G:.O:.B:., a perda da maior parte das suas Lojas praticantes do Rito Adonhiramita e uma cisão interna dentro do “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil”, que só poderia admitir Irmãos ligados ao G:.O:.B:..


Para recuperar o Rito Adonhiramita dentro do G:.O:.B:. e dentro do “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil”, é necessário atrair para ele, Irmãos de outros ritos. Como fazer isso?


Esta foi a questão colocada pelos Irmãos Adonhiramitas remanescentes. Em 1973, sob o comando do Irmão Aylton Menezes, o “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil” muda o seu nome para “Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita” (E:.C:.M:.A:.). Restava ainda a completa reformulação do Rito para que se tornasse mais atractivo para uma população maçónica maioritariamente do R:.E:.A:.A:., ou seja, habituada a um sistema de 33 Graus e que não se sentiria atraída por um rito com apenas 13 (12 na verdade).


III.4. As influências intelectuais no processo de reformulação

Na década de 1970, a literatura maçónica no Brasil estava fortemente influenciada pelas obras de autores como Joaquim Gervásio de Figueiredo, Charles Webster Leadbeater e Jorge Adoum. Tais obras eram fartamente publicadas pela Editora Pensamento. A chamada “Escola Histórica” ou “Documental” tinha pouca ou nenhuma influência na maior parte dos maçons brasileiros (tem hoje?).


Tanto Joaquim Gervásio de Figueiredo como Jorge Adoum e C.W. Leadbeater estavam ligados à Sociedade Teosófica (organização fundada nos EUA, em 1875, por Helena Petrovna Blavatsky e Henry Steele Olcott) e entusiastas da Co-Maçonaria (Maçonaria Mista, para homens e mulheres).


A Co-Maçonaria nasce na França com a Iniciação de Marie Deraismes em 1882 na Loja “Les Libres Penseurs”. Esta Loja pertencia à Grande Loja Simbólica Escocesa e foi desligada logo que correu a notícia da Iniciação de Marie Deraismes. A segunda Loja a adoptar a Iniciação feminina foi a “La Jérusalem Ecossaise”, onde Georges Martin foi Venerável Mestre. Ambas as Lojas adoptavam o Rito Escocês Antigo e Aceito. Este, obviamente, foi o rito adoptado inicialmente para o desenvolvimento da Co-Maçonaria.


A primeira Grande Loja fundada fora de França foi a de Zurich, em 1895. Ela constituía a secção nº 3 da “Grande Loge Symbolique Ecossaise Mixte de France”, e era considerada como uma das cinco Lojas (a quinta foi fundada em 1902) do “Le Droit Humain” ainda unicamente francês. Em 1900, a Ordem Co-Maçónica tornou-se internacional e, para tanto, foi fundado um Supremo Conselho Misto dito “universal”, bem como o “Le Droit Humain” Internacional.


Em 1902, a Loja nº 6 “Human Duty” foi criada em Londres, por iniciativa de Annie Besant, importante figura dentro da Sociedade Teosófica e autora de diversos livros ocultistas traduzidos para o português e consumidos por maçons brasileiros, de Francesca Arundale e de George Arundale.


A fundação, seguida da iniciação de quatro novos membros, teve lugar em 26 de Setembro no R:.E:.A:.A:., rito de base de “Le Droit Humain”. Contudo, a partir da reunião seguinte, foi implementado um ritual Inglês (muito provavelmente o de Emulação) com autorização das autoridades do “Le Droit Humain”.


Os fundadores da nova Loja londrina tinham consciência da necessidade de ter uma prática maçónica mais próxima possível da inglesa, para que a sua oficina se pudesse desenvolver numa Inglaterra totalmente indiferente, senão francamente hostil, à noção de Co-Maçonaria. Era preciso adoptar sem demora um ritual em harmonia com aqueles praticados nas lojas masculinas inglesas. Se a questão fosse simplesmente constituir uma loja co-maçónica de franceses que, por razões profissionais ou outras, se viessem instalar na Inglaterra, poder-se-ia continuar a utilizar o R:.E:.A:.A:., mas não era o caso: tratava-se de implantar e desenvolver a Co-Maçonaria na Inglaterra.


Entre 1915 e 1925 Annie Besant, ajudada por C.W. Leadbeater (1847-1934), outro notório teosofista e autor de livros fantasiosos baseados em “clarividência” ou em métodos que incluíam a conversa com uma gata, elaborou rituais específicos para a Federação Britânica. Tais rituais misturavam alguns elementos, a saber:


O ritual de Emulação Inglês,

alguns usos do Rito de York (Norte Americano),

o R:.E:.A:.A:. como era praticado em França,

alguns elementos do Rito de Mênfis-Misraim,

procedimentos muito influenciados por usos eclesiásticos (Leadbeater fora padre da Igreja Anglicana e era bispo da Igreja Católica Liberal, também ligada à Sociedade Teosófica) e

doutrinas teosofistas.

Em 1916 foi terminada a revisão dos rituais do “Craft” (Graus Simbólicos). C.W. Leadbeater escreveu logo um livro de interpretações ocultistas para o ritual – que ele mesmo tinha ajudado a compor-, e esse livro tornou-se um sucesso no Brasil: “A Vida Oculta na Maçonaria”, também editado pela Editora Pensamento.


Alguns dos membros do recém fundado “Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita” eram leitores dessas obras, sem contar com o expressivo número de maçons que também eram membros da Sociedade Teosófica.


A necessidade de reformulação e a possibilidade de alterar sensivelmente os rituais em uso, utilizando a apreciação pela doutrina teosofista de Leadbeater, caíram como uma luva. Os procedimentos descritos na “A Vida Oculta na Maçonaria” logo estariam embebidos nos novos rituais do Rito Adonhiramita…


A divisão em 33 Graus citada por Leadbeater com acentuadas explicações ocultistas etc., unida à necessidade de atrair Irmãos do R:.E:.A:.A:. para o Adonhiramita também veio a calhar.


Dentro de 9 anos, ou seja, em 1982, o Rito Adonhiramita no seio do G:.O:.B:. e do E:.C:.M:.A:. estava completamente transformado: 33 Graus, Cerimonial de Incensação, Cerimonial de Acendimento das Luzes, acentuada influência ocultista e uma tendência para contínuas modificações.


IV. A acomodação dos Graus Adonhiramitas aos Graus do R:.E:.A:.A:.

Para a plena acomodação dos Graus Adonhiramitas no esquema de 33 Graus do R:.E:.A:.A:., era necessária a divisão em Câmaras Ritualísticas. Essa divisão, obviamente, não existe na “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”, que foi escrita bem antes do aparecimento dessas divisões no seio do R:.E:.A:.A:..


O sistema de divisão em Lojas de Perfeição, Capítulos, Areópagos ou Oficinas de Kadosh, Consistório e Supremo Conselho foi adaptado ao Rito Adonhiramita com a manutenção dos 10 Graus “filosóficos” originais diluídos entre os Graus Escoceses. Todos, obviamente, com os cerimoniais do “Ritual de Lauderdale”, levemente modificados.


Tendo em vista que o Rito Adonhiramita até então só era praticado no Brasil, ou seja, que não havia a preocupação em se manter alguma uniformidade com outros corpos Adonhiramitas no estrangeiro, as modificações, invenções e teorizações desprovidas de base documental tornaram-se um hábito nos primeiros escalões do Rito.


V. As invenções místicas e os equívocos oficializados

Como tradicionalista, não tenho absolutamente nada contra os ensinamentos herméticos ou as tradições esotéricas. Leia-se bem: TRADIÇÕES esotéricas.


Uma Tradição é a transmissão, de forma ortodoxa, de um conjunto de ensinamentos cuja origem se perde na noite dos tempos e cujo rastro pode ser historicamente traçado através de escrituras, documentos, registros, mitos etc. que, em geral, contam com vasta fundamentação simbólica, filosófica e até antropológica.


Bem diferente de uma autêntica Tradição Esotérica é uma invenção baseada numa suposta clarividência, intuição ou achismo sem fundamentação, sem o apoio de qualquer tradição e sem uma lógica interna que possa, sequer, justificar a sua existência dentro de um determinado sistema de maneira coerente.


Não só o Rito Adonhiramita, mas infelizmente todos os Ritos Maçónicos são vitimados pelo que chamamos de “iluminados”, que tiram do bolso “descobertas”, “usos e costumes”, “melhorias”, “adaptações” ou “interpretações” que fazem com que intelectuais não iniciados e indivíduos externos mais qualificados, ao analisarem a Maçonaria, acabem por considerá-la como uma imensa mixórdia de crendices mal digeridas, coberta com o discurso de “combate à ignorância, à superstição e o fanatismo” para ocultar uma grande fraqueza intelectual.


Como instituição que deve zelar por ensinamentos tidos por “esotéricos”, ou seja, reservados a um grupo selecto, seria desejável que o processo de selecção contemplasse um rigor bem maior, especialmente no que se refere a atributos intelectuais e morais, além da adopção de critérios claros e rigorosos para qualquer tipo de alteração em rituais. No Rito Adonhiramita actual alguns procedimentos são invenções puras e simples. Um exemplo é a “circulação em infinito”, que não consta em nenhum documento histórico do Rito e nem em qualquer outro ritual de onde poderia ter sido tirado.


Apesar da interpretação forçada para enxertar um significado, o facto é que não há em toda a histórica litúrgica do Ocidente ou do Oriente, a tal “circulação em infinito”. Inventem explicações místicas, ocultistas, extraterrestres ou seja lá o que for. Mas não lhe chamem Tradição e nem tentem obrigar os outros a acreditar nisso.


Não contentes com a tal circulação, os “iluminados” ainda inventaram que é necessária uma inversão de sentido de acordo com o Grau trabalhado, transformando a circulação em Loja num verdadeiro bailado e num inferno para os oficiais que necessitam de se movimentar. Pior ainda é que o sentido das circulações muda a cada reforma nos rituais.


A passagem obrigatória por trás da cadeira do Venerável é outra invenção. Tentando imitar a “Ara” do Ritual de Lauderdale (que foi imitada do Rito de York Norte Americano), sobre a qual fica a luz perpétua ou “fogo sagrado” (imitada do Rito de Menfis-Misraim), mas arrastando a mesma Ara para o Oriente, alguém achou bonito imitar o uso norte-americano de não atravessar a linha entre a Ara e a mesa do V:.M:. e, como a Ara está no Oriente (pois o painel tem que ficar no meio da Loja, o que não acontece nem no Lauderdale, nem no York), a solução foi esmagar o pobre oficial em trânsito entre a cadeira do V:.M:. e a parede do Oriente.


Se o erudito Louis Guillemain de Saint Victor assistisse a uma Loja do Rito Adonhiramita hoje, ficaria bastante chocado por ver tantas e tantas inovações. Há também a longa e enfadonha história das cores de gravatas, as discussões sobre gravatas borboletas ou comuns, uso ou não uso de balandrau e muitas outras inutilidades completas que tomam o tempo de quem gostaria de se dedicar a estudos mais sérios e acaba sendo envolvido em debates sobre gravatinhas, frufrus, cor de fato e até de meias, mas que nada trazem em matéria de compreensão de si mesmo, do ser humano, da humanidade, do cosmos ou sequer da história ou das autênticas tradições do Rito que está a ser praticado.


Da mesma forma, vemos com espanto notórias invenções e teorias apócrifas sobre a história do Rito Adonhiramita (e também de outros ritos) sendo estampadas nas edições oficiais dos Rituais, que não apresentam fontes, bases ou elementos minimamente fiáveis sobre o que apresentam. É lamentável ver os Aprendizes a serem doutrinados com este tipo de material de baixo nível.


VI. Conclusão

O presente artigo, como foi dito na sua introdução, tem por objectivo despertar nos Irmãos, especialmente os do Rito Adonhiramita, o gosto pela pesquisa e dar-lhes elementos básicos, fiáveis e colhidos de forma metodologicamente correcta, para o desenvolvimento de pesquisas mais acuradas e específicas.


Não temos a fantasia de, em umas poucas páginas, esgotar um assunto tão vasto. No entanto, talvez este seja o primeiro texto sobre o Rito Adonhiramita no Brasil que apresenta, de forma cronológica e metódica, considerações sobre o desenvolvimento do Rito, as suas alterações, influências intelectuais e as formas tomadas ao longo do tempo.


Quanto mais profunda a pesquisa, menos abrangente ela deve ser. Justamente por isso optamos pela abrangência, para que, posteriormente, cada detalhe possa ser pesquisado com profundidade.


Autor: André Otávio Assis Muniz


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