quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Rito de Memphis-Misraim

 

O Rito de Memphis-Misraim é uma junção de dois ritos: o de Memphis, constituído em 1815, e o de Misraim, constituído em 1788. A fusão foi realizada, em 1881, por Giuseppe Garibaldi, que foi o primeiro Grão-Mestre Geral da Obediência.

O Rito de Misraim surgiu em Veneza em 1788, quando um grupo ligado a uma seita protestante antitrinitária (dos “Sociniens”), solicitou uma patente de constituição a Cagliostro, que se encontrava em Trento. O grupo desejava, todavia, trabalhar de acordo com o Rito Templário e não com o ritual mágico-cabalístico de Cagliostro. Este, somente lhes deu a luz Maçónica, com os três primeiros Graus da Maçonaria Britânica e os Graus superiores da Maçonaria alemã, de marcante tradição templária.

Misraim é o plural de egípcio, mas o Rito Egípcio só lhe transmitiu a personalidade obediencial. A partir de 1788, o Rito espalhou-se rapidamente por Nápoles, Génova e Milão, chegando a França em 1810, tendo-se ali desenvolvido bastante, sob a protecção do Rito Escocês, já que à sua frente, se encontravam nomes ilustres do Escocismo francês. Sendo absolutamente anticlerical e antimonarquista, foi dissolvido por obra da política da Restauração (Restauração é a época que se estende desde o restabelecimento dos Bourbons, em 1814, até à sua queda, em 1830, com os reinados de Luis XVIII e Carlos X). Clandestino durante dezoito anos, restaurado em 1838, novamente dissolvido em 1841, novamente saído da clandestinidade em 1848, o Rito de Misraim caminhou para a fusão com o Memphis, em 1881.

O Rito de Memphis foi constituído pelos Maçons que participaram na Campanha do Egipto, com Napoleão Bonaparte. A maior parte dos membros desta missão eram Maçons dos antigos Ritos Iniciáticos: Rito Primitivo, Rito Hermético, Irmãos Africanos, Philalètes (alusivo à ilha de Philae, e no Alto Egipto, antigamente consagrada à deusa Isis), além de muitos do Grande Oriente de França. Tendo descoberto, no Cairo, uma sobrevivência gnóstico-hermética e, depois, no Líbano, a Maçonaria drusa, que remontava aos Maçons operativos e que tinha acompanhado os Templários, seus protectores, os Maçons que acompanhavam Bonaparte decidiram renunciar à filiação Maçónica vinda, anteriormente, da Grande Loja de Londres, juntando-se num novo Rito, que nada devia a Inglaterra, então a grande inimiga da França. E assim nasceu o Rito de Memphis, em Montauban, 630 quilómetros ao sul de Paris, em 1815. Da mesma maneira que o Rito de Misraim reuniu os jacobinos com saudade da república e os carbonários, o Rito de Memphis juntou os soldados da antiga Grande Armada e os bonapartistas fiéis. O Grande Oriente, todavia, ainda monarquista, na sua maioria, obtém a dissolução do Rito, embora esta não tenha durado, pois ele ressurgiu em 1826, sob a égide do mesmo Grande Oriente. Dissolvido novamente em 1841, tornou-se clandestino só reaparecendo em 1848, com a república; novamente dissolvido em 1850, reaparece em 1853, unindo-se ao Grande Oriente em 1862, até à sua união com o Rito de Misraim em 1881.

A partir de 1881, o rito passou a ser de Memphis-Misraim, tendo esta unificação sido realizada por Garibaldi, o grande Maçon e carbonário, herói do Novo e Velho Mundo, iniciado no Brasil, mais precisamente no Rio Grande do Sul na Loja “Asilo da Virtude”. Isto não é de estranhar, pois no século XIX, os Ritos de Misraim e Memphis foram as duas Obediências onde se recrutaram os Carbonários que fariam, em 1870, a unificação da Itália: Garibaldi, Mazzini e Cavour entre os principais Herdeiros e depositários das velhas Obediências iniciáticas do século XVIII. O Rito de Misraim representava-as em 90 Graus e o de Memphis em 95; o Rito de Memphis-Misraim, em decorrência disto, ficou com 95 graus.

Estes 95 graus, todavia, devem ser considerados como um simples caminho onde se encontram os velhos Graus Maçónicos que não são mais praticados e não como uma escala de valores. Na realidade, os acordos de 1863 com o Grande Oriente da França e de 1896 com a Grande Loja Simbólica Escocesa (futura Grande Loja de França) apoiam-se apenas nos 33 graus clássicos do Rito de Perfeição, seguido pelo Escocês Antigo e Aceito. As Oficinas superiores do Rito de Memphis-Misraim praticam, obrigatoriamente, os seguintes Graus: 90º (Mestre Eleito dos Nove), 18º (Cavaleiro Rosa-Cruz), 30º (Cavaleiro Kadosh), 32º (Príncipes do Real Segredo) e 33º (Soberano Grande Inspector Geral); os graus 66º, 90º e 95º são honoríficos e concedidos aos velhos Maçons, como recompensa pelo seu valor e a sua fidelidade. Os demais graus são facultativos e deixados ao critério dos obreiros dos graus superiores.

Hoje, o Rito de Memphis-Misraim está espalhado por diversos países, principalmente da América do Sul e Central (Argentina, Chile, Bolívia, Venezuela, Colômbia, Haiti), mas também na Europa (França, Itália, Suíça, Bélgica, Países Baixos), além da Austrália. Ele perpetua as tradições de fidelidade aos princípios democráticos e às ciências iniciáticas. É deísta, mas sem qualquer intransigência, adoptando a definição da “Religião Maçónica”, definida pelas Constituições de Anderson, de 1723, a qual consiste na “moral geral das pessoas honestas”.

Disposição e decoração do Templo
A disposição do templo é como em todas as outras Lojas. No Oriente, todavia, atrás do Venerável, um Painel representa uma Porta de marfim e ouro, fechada e sem uma fechadura aparente, flanqueada por duas colunas de estilo egípcio, entre as quais está, em parte, estendido um véu transparente azul celeste, ou azul turquesa, cobrindo uma parte da porta. Acima da porta está o Delta, com um ponto no meio.

No centro do templo há um grande rectângulo (como o Tapete de outros ritos), com lajes brancas e negras, num total de cento e oito casas; sobre este rectângulo, em três dos ângulos, estão três colunas, dispostas em esquadria, com base para o Ocidente, com um foco de luz sobre cada uma delas . No centro deste rectângulo, há uma pequena mesa, representando um fragmento de Obelisco egípcio, sobre a qual se encontra o Livro da Sabedoria, um foco de luz e um incensório, ou caçoula para queimar perfumes. Os perfumes têm a seguinte composição: 3 partes de pó de incenso, 2 partes de pó de mirra, 1 parte de pó de benjoim e 1/2 parte de açúcar em pó.

As mesas dos oficiais são recobertas de tecido azul turquesa, debruado na cor violeta. Sobre a mesa do Venerável há um candelabro de três braços, enquanto que sobre a mesa de cada vigilante há um candelabro com um só foco de luz. Os Aprendizes tomam lugar na coluna “J”, como nos Ritos Moderno e Adonhiramita.

A Câmara de Reflexão é muito simples: há apenas um crânio humano verdadeiro, um castiçal com uma vela acesa, material de escrita, uma mesa, banco sem encosto e uma caçoula com brasas, sobre as quais é queimado pó de mirra, com perfume dos funerais antigos.

Paramentos
Os Aprendizes e Companheiros usam avental branco, aqueles com a abeta levantada e estes com a abeta abaixada: o avental dos Companheiros poderá ter cordão que o prende na cor violeta. Os mestres usam aventai branco com orla azul turquesa e com três rosetas da mesma cor, formando os três ângulos de um triângulo equilátero (um na abeta e dois no corpo do avental). Os oficiais usam, à tiracolo, uma faixa azul turquesa, com orla violeta. O Venerável e os Ex Veneráveis usam a mesma faixa, mas com orla dourada. Todos os obreiros, em Loja, usam luvas brancas.

Algumas Particularidades Ritualísticas
Os Obreiros entram de acordo com a hierarquia de Graus e Cargos: os Aprendizes à frente, seguidos dos Companheiros, Mestres, Oficiais, Visitantes (que sejam Mestres) e, finalmente, o Venerável, com o Mestre de Cerimónias abrindo o cortejo.
Quando da verificação se todos os presentes são Maçons, todos os Obreiros se viram para o Oriente (isto deve acontecer em qualquer rito) e os Vigilantes passam em revista os Irmãos da sua Coluna, cruzam-se diante do Oriente e tornam-se a cruzar no Ocidente, quando voltam aos seus lugares; à sua passagem, os obreiros colocam-se, um após outro, à ordem.
Os três focos de luz das colunas do rectângulo central são acesos pelo Experto e pelo Mestre de Cerimónias; o Mestre de Cerimónias também acende o foco sobre o obelisco. O 1º Vigilante acende a sua luz na coluna da Força e o 2º Vigilante na da Beleza, enquanto que o Mestre de Cerimónia leva ao Venerável, uma vela acesa naquela do obelisco, para que ele acenda o candelabro de três braços. Finalmente, o Mestre de Cerimónias aviva as brasas da caçoula dos perfumes.
É o Venerável Mestre que abre, em qualquer lugar (como no Rito de York), o Livro da Sabedoria, colocando, sobre ele, o Esquadro e o compasso na posição do Grau e, sobre estes dois instrumentos, a Régua.
A bateria é feita como nos Ritos Moderno e Adonhiramita, por dois golpes seguidos e um mais espaçado: 0 – 0 — 0. Na abertura e no encerramento dos Trabalhos, a bateria é tripla, acompanhada da aclamação.
A aclamação é: Liberdade! Igualdade! Fraternidade! Huzzé! Huzzé! Huzzé!.
Na Cerimónia de Iniciação também ocorre o desnudar parcial do candidato e a retirada dos seus metais.
As três viagens são como o Rito Moderno, com o Experto representando, respectivamente, o pai (Meu filho, vinde comigo), o mestre (meu discípulo, (acompanhai-me) e o amigo (meu amigo, apoie-se em mim) do candidato, em cada uma das três fases da existência humana.
Não há a Cerimónia da Taça Sagrada de outros Ritos. Todavia, no início da cerimónia é dado, para que o candidato beba, um copo com a Bebida do Esquecimento (que é uma infusão fria de espinheiro-alvar), enquanto que, próximo do final, antes do juramento e de lhe ser dada a luz, o candidato é convidado a ingerir a Bebida da Memória (que é uma infusão de genciana). Nesta parte, o Venerável explica, depois da Bebida do Esquecimento, que se fez do candidato um corpo morto, sem vontade própria, a Bebida da Memória fará dele um Maçon activo, um verdadeiro Filho da Viúva.
Depois do compromisso, o Mestre de Cerimónias perfura, com a ponta de uma espada, o Testamento Filosófico do Recipiendário, que estava em poder do Venerável, e queima-o numa das chamas do altar, enquanto o Venerável explica que “a palavra humana altera-se e apaga-se, mas aquilo que é confiado ao fogo, perdura eternamente”.
Quando a Luz é dada ao neófito, a Estrela Flamejante fulgura durante um breve instante. A Estrela simboliza a “Senhora do Ocidente”, ou seja, a Isis antiga, e brilha na cerimónia de recepção dos três Graus Simbólicos, mas de maneira diferente em cada uma delas.
No final de cada Sessão é formada a Cadeia de União Fraternal e, antes dela, há a cerimónia do Beijo de Paz com os obreiros de pé e à ordem, o Venerável abraça o Irmão que está imediatamente à sua direita e o Beijo da Paz circula do Norte ao Ocidente, do Ocidente ao Sul, para voltar através do Irmão que está mais próximo da sua esquerda (há um ritual abreviado, onde esta passagem é abolida).

Os Altos Graus na Maçonaria

 

O tema sugerido de Altos Graus na Maçonaria tem ligação directa com alguma da minha vivência de Ritos de Altos Graus. E com troca de experiências de Jurisdições estrangeiras Irmãs. Como um simples Aprendiz de Maçonaria ganho sempre mais “espritualmente” quando partilho informação maçónica com Irmãos ou estudiosos da Maçonaria. Penso que todos aprendemos uns com os outros. Como sabem, existem escassa divulgação de obras sobre altos graus, pelo que tentarei fazer uma súmula sobre este tema referente a três estruturas de Altos Graus de Ritos diferentes.

Começarei por ditar estes apontamentos com o que se entende por regularidade maçónica e liberal. E com a “devida vénia” citarei aqui a melhor destrinça que encontrei nas minhas pequisas e cujo autor se encontra nesta sala.

“Os maçons regulares, também chamados tradicionais ou de via sagrada, são os que trabalham nas suas Lojas sob a invocação de Deus, Grande Arquitecto do Universo, sobre o Livro Sagrado, o Esquadro e o Compasso.
Os maçons liberais ou de via substituída, reunem-se segundo os mesmos ritos, decorações e ideais, já dispensam a via espiritual, e trabalham sobre as Constituições de Anderson, a do (Publicado em freemason.pt) seu País, sobre a Declaração Universal dos Direitos do Homem e sem nacessariamente invocarem Deus, o Grande Arquitecto do Universo.
Isto é, os regulares pressupõem a crença no Criador e situam-se no plano do sagrado, os liberais partem do postulado da liberdade de crença ou não no Criador e colocam-se no campo do laicicismo e, portanto envolvem-se mais directamente na vida profana, que procuram aperfeiçoar e transformar.
Ambos buscam o seu próprio aperfeiçoamento, mas com efeitos diversos ao nível de intervenção na sociedade. Para o maçom regular a sociedade será mais perfeita se isso decorrer do processo de aperfeiçoamento pessoal enquanto que para o maçon liberal o essencial é ele ser o agente da transformação da sociedade.”
Na verdade, cada jurisdição maçônica tem os seus Regulamentos e Estatutos e quer sejam regulares ou liberais são constituídas por maçons que se respeitam desde que ambas sigam os Landmarks. Mas não é maçom quem quer. Não basta autoproclamar-se. É imprescindível que os seus irmãos “o reconheçam como tal”, ou seja é necessário que tenha sido iniciado, por outros maçons, cumprido com as suas obrigações de maçon, esotéricas, simbólicas e que esteja integrado numa Loja, que por sua vez pertença regulamentarmente a uma Grande Loja ou Grande Oriente, que fossem devidamente consagrados.

Luís Nandin de Carvalho, no seu livro “A Maçonaria Entreaberta” publicado em 1997.

O espírito maçônico de fraternidade, igualdade e liberdade floresceu nas sociedades profanas e influenciou para sempre as grandes conquistas conseguidos em acontecimentos mundiais como a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa, a Revolução Russa e a Independência do Brasil.

E em muitos outros países incluindo o nosso, embora os governos vigentes e as pressões da Igreja Católica entrassem em choque direto com a fraternidade.

Após esta introdução passemos a algumas citações e reflexões sobre Maçonaria.

A Franco-Maçonaria atual foi fundada em 24 de Junho (dia de S. João) de 1717, em Londres. Para muitos estudiosos a Ordem Maçônica remonta às lendas da construção do Templo do Rei Salomão, de acordo com relatos do Antigo Testamento. A sua origem está ligada também às lendas de Ísis e Osíris, no antigo Egito; ao culto a Mitra, vindo até à Ordem dos Templários e à Fraternidade Rosa-Cruz. Em 1723, o Rev. Anglicano James Anderson publicou as Constituições da Maçonaria que são universalmente aceites e são utilizadas como base em todas as Lojas maçônicas.

Em 1717, a Maçonaria passou do campo operativo em que efetivamente se construíam catedrais para o campo especulativo em que os maçons iniciaram um processo de “construção” sim da “catedral da humanidade”. A Maçonaria utiliza métodos para transmitir os ensinamentos e organizar as cerimônias maçônicas, a que chama Ritos ou procedimentos maçônicos.

Existem no mundo cerca de 200 Ritos e se continuar a atual desorganização social talvez em 2050 existam 300. No entanto, os principais podem contar-se por sete dedos. A saber:

Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA) – o mais universal
Rito de York (RY) – o mais antigo do mundo
Rito Francês ou Moderno (RF/M)
Rito Schröeder (RS)
Rito Brasileiro (RB)
Rito Adonhiramita(RA)
Rito Escocês Rectificado (RER)
Como sabem a atual Maçonaria divide-se:

Maçonaria Simbólica constituída pelos três primeiros graus obrigatórios e que estão pre-vistos nos Landmarks. Que se divide em Obediências Maçônicas designadas por Grande Loja ou Grande Oriente e que administram diversas Lojas.
Altos Graus, que constituem os graus Filosóficos ou Superiores que não são obrigatórios e constituem uma opção. Estes estão normalmente subordinados a Supremos Conselhos ou Supremos Grandes Capítulos, Grandes Comendas e Grão-Priorados, de acordo com as Leis de cada Grande Corpo Maçônico. Destes, escolhemos o Rito mais universal, o mais antigo e o que considero o mais seletivo.
A saber:

Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA)
Rito de York(RY) e rito de Emulação(REm)
Rito Escocês Rectificado (RER)
Na Maçonaria Regular a maioria das Grandes Lojas e Grandes Orientes são consagradas, instaladas e reconhecidas por Grandes Obediências Irmãs Estrangeiras mais antigas. Cada Obediência tem a sua própria Grande Loja-Mãe ou Grande Oriente e a que está ligado indissoluvelmente.

Nos Corpos de Altos Graus, a Maçonaria segue sempre a regra trinitária, isto é, para ser consagrado e instalado um Supremo Conselho, um Grande Capítulo, uma Grande Comenda, um Grão-Priorado, etc a base de construção é como em Grande Loja ou Grande Oriente(com as suas (Publicado em freemason.pt) Lojas azuis ou de S.João) ou seja três Lojas, três Conselhos, três Capítulos, três Comendas. No RER existem as Lojas verdes e a Ordem Interna como veremos mais adiante.

Rito Escocês Antigo e Aceite – R.E.A.A.
Este Rito provem do Rito de Heredom e da época da fuga dos Cavaleiros Templários para a Escócia e está ligado ao Antigo Testamento e à lenda de Hiram. A influência do Templarismo existia no Rito de Heredom sob a mestria de Andrew Ramsay (criador deste rito em solo francês), mas não no R.E.A.A.. Aliás, de acordo com os historiadores Christopher Knight e Robert Lomas a formação deste rito deve-se ao facto da Grande Loja Unida de Inglaterra (United Grand Lodge of England) se recusar a reconhecer os altos graus da maçonaria regular, o que originou a formação em 1819 de um Supremo Conselho para a Inglaterra dos graus do Rito Escocês.

Por influência do Cavaleiro Ramsay as primeiras referências a estes graus, são oriundos de França, no período de 1715 a 1745. Ramsay foi tutor dos filhos do rei escocês Jaime VIII que se encontrava exilado em França. Foi nesta época que surgiram as primeiras referências ao termo escocês (écossais). Na “História da Franco-Maçonaria” de Albert Mackay, este autor refere que os partidários do Rei Jaime e da dinastia dos Stuarts todos exilados em França estavam fortemente envolvidos em actividades maçónicas.

Esta é uma das razões porque, devido ao termo escocês, muitos maçons pensam que este rito terá tido origem na Escócia, o que como vemos não corresponde à verdade. As suas regras e fundamentos foram elaborados no dia 1º de Maio de 1786 e desde essa data constituiram-se os 33 graus. O que caracteriza o REAA é a ligação entre a tradição hermética, principalmente nos três primeiros graus e a uma graduação dos Altos Graus (do 4º ao 33º) e que é normalmente rejeitada pela maçonaria inglesa.

Em primeiro plano, “a purificação” pelos quatro elementos inclui-se uma orientação nítidamente hermética. Não remonta ao alquimistas da Idade Média, mas é provável a inspiração nos tratados de alquimia vulgares no séc. XVIII e adaptado por maçons à iniciação maçónica. A purificação pela Terra, pelo Ar, pela Água e pelo Fogo induzem no candidato, à medida que passa pelas provas, a percepção gradual do sentido esotérico da “passagem” que faz ,vindo das profundezas do mundo terreno para a ascese que lhe é dada pelo sopro do espiritual. É só na Câmara de Reflexão que percepciona o enorme sentido esotérico- o enxofre, o sal e o mercúrio- que lhe serão fundamentais à iluminação final.

Em segundo plano, muito importante também, é a sua evolução nos graus Superiores das Lojas de Perfeição (do 4º ao 14º), dos Capítulos (do 15º ao 18º), dos Aréopagos (do 19º ao 30º) e dos graus administrativos (do 31º ao 33º). Neste Rito os graus e a lenda do Mestre constroi-se passo a passo. A reconstrução do Templo de Salomão tem aqui uma particular importância. Aqui a reflexão filosófica sobre o Homem, o seu destino, a sua centelha divina e os valores que ditam a sua dimensão racional, minada por vezes, pelo desleixo, a incúria e o dislate.

Graus do REAA
SIMBÓLICOS
1º – Aprendiz
2º – Companheiro
3º – Mestre
FILOSÓFICOS
Lojas de Perfeição
4º – Mestre Secreto
5º – Mestre Perfeito
6º – Secretário Íntimo
7º – Preboste e Juíz
8º – Intendente dos Edifícios
9º – Mestre Eleito dos Nove
10º – Ilustre Eleito dos Quinze
11º – Sublime Cavaleiro dos Doze
12º – Grande Mestre Arquitecto
13º – Cavaleiro do Real Arco
14º – Prefeito e Sublime Maçon – Grande Eleito da Abóbada Sagrada
Capítulos
15º – Cavaleiro do Oriente ou da Espada
16º – Príncipe de Jerusalém
17º – Cavaleiro do Oriente e do Ocidente
18º – Soberano Príncipe Rosa-Cruz
Areópagos
19º – Grande Pontífice ou Sublime Escocês
20º – Soberano Príncipe da Maçonaria ou Mestre Ad Vitam
21º – Cavaleiro Prussiano ou Noaquita
22º – Cavaleiro do Real Machado ou Príncipe do Líbano
23º – Chefe do Tabernáculo
24º – Príncipe do Tabernáculo
25º – Cavaleiro da Serpente de Bronze
26º – Príncipe da Mercê ou Escocês Trinitário
27º – Grande Comendador do Templo
28º – Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto
29º – Grande Cavaleiro Escocês de Santo André da Escócia
30º – Cavaleiro Kadosch ou Cavaleiro da Águia Branca e Negra
Tribunais
31º – Grande Inspector Inquisidor ou Grande Juíz Comendador
Consistório
32º – Sublime Cavaleiro do Real Segredo
Supremo Conselho
33º – Soberano Grande Inspector Geral
A estrutura do R.E.A.A. é dirigida por um Soberano Grande Comendador que preside ao Sacro Colégio e aos Soberanos Grandes Inspectores Gerais. É um Corpo Maçónico com Jurisdição independente, reconhecido internacionalmente e que tem a responsabilidade de manter a regularidade.

Rito de York (R.Y.)
Ritual e Rito de Emulação (R.E.M.)
O Rito de York moderno também conhecido como o Real Arco, teria sido criado por volta de 1743 e levado para Inglaterra em 1777. É o Rito mais difundido em todo o mundo maçónico . É o Rito predominante nos Estados Unidos. Por ser teísta está mais ligado aos países onde predominam os cultos evangélicos, onde o clero tem dado o apoio e o suporte necessário à sua evolução e desenvolvimento. Neste país, a sua fundação vem (Publicado em freemason.pt) do ano de 1799 pela mão de Thomas Smith Webb que lhe deu a estrutura e doutrina filosófica com procedimentos gerais adaptados ao sistema maçónico, pelo que é normalmente identificado como “Rito Americano ou de York”.

No entanto, o Manuscrito Régio de 1389 (conservado no British Museum em Londres), diz-nos que sob o reinado de Athelstan, na cidade de York no ano de 926 houve um grande Congresso de maçons, convocado e presidido por seu filho o Príncipe Edwin e que teria sido nessa magna Assembleia que a Maçonaria teve o seu primeiro Regulamento Geral. Já neste Regulamento havia regras de comportamento no trabalho, na sociedade e até dentro da igreja., entre outros.

Posteriormente, o Manuscrito de Coke em 1583 refere também esta Assembleia e as reuniões feitas pelo rei Athelstan que convocava e dirigia as assembleias dos numerosos maçons operativos, associados em guildas. Nesta fase a Lenda de York passou definitivamente da tradição oral para a tradição escrita da Maçonaria Especulativa.

Assim, os autores crêem que o Rito de York seria o rito tradicionalmente praticado desde os tempos do rei Athelstan e que confirma a multissecular tradição maçónica de acordo com o Livro das Constituições de 1723. Num outro manuscrito conhecido como a Constituição de York, diria que a tradução dos anteriores documentos em 1807 teriam passado do Latim( que era o idioma das pessoas cultas) para o Inglês e em 1808 para o Alemão pelo I:. J.A. Schneider. Esta última tradução é publicada pelo editor I:. Krause, conhecido pelo Manuscrito de Krause e que estaria muito próximo da Constituição da Grande Loja Unida de Inglaterra em 1813.

Esta é a lenda de York. Contudo perante tantas evidências históricas que confirmam a veracidade do seu conteúdo, a maioria dos autores chamam-lhe a “Tradição de York”.

Na união dos maçons “antigos”(Grande Loja dos Antigos -1751) e dos “modernos”(Grande Loja dos Modernos – 1717) em 1813 foi oficialmente aprovado o ritual dos antigos como ritual oficial da Grande Loja Unida de Inglaterra e naquele momento recebeu o nome de Ritual de Emulação( o Emulation Working) com a particularidade de se manter a tradição de nada escrever e por isso nada se sabe ao certo o que foi aprovado.

Mas até chegar a esta fase muito fizeram para conciliar as diferenças ritualísticas das duas Grandes Lojas rivais, passando pela Loja da Reconciliação que harmonizou os rituais durante 3 anos até que em 1816 foi aprovado um novo ritual mantido até 1986, ano em que a GLUI decidiu que todas as referências a penalidades físicas fossem omitidas dos juramentos assumidos pelos candidatos nos três graus e pelo Mestre Eleito na sua instalação, mas mantendo-as nas cerimónias noutro momento.

Apenas em 1969, o Rito de Emulação foi oficialmente impresso com autorização oficial da GLUI, embora nesse ano já existissem diversas impressões não oficiais. Embora denominado Rito, os Ingleses consideram-no mais como um Ritual. O Rito representa as regras e cerimónias de carácter sacro ou simbólico que seguem preceitos estabelecidos e que se devem observar na prática. Em suma, representa o sistema de organizações maçónicas.

O ritual representa o livro que contém o conjunto de práticas consagradas pelo uso e por normas que deverão ser observadas em determinadas ocasiões. Isto é o cerimonial. Mas a principal característica deste Rito/Ritual é que todas as intervenções são realizadas de cor. No Rito de Emulação, os graus superiores estão agregados numa Loja de Marca ou num Capítulo do Arco Real com os seguintes graus:

Mestre de Marca
Ex-Mestre ou Past Master
Muito Excelente Mestre
Mestre do Arco Real
Escocês Trinitário
Este é o Rito por excelência praticado em Inglaterra e largamente difundido em todos os paises de influência Inglesa. As jusisdições anglo-saxónicas mantém outras ordens de altos graus como por exemplo:

o Grande Conselho da Ordem dos Graus Aliados,
o Grande Conclave da Ordem do Monitor Secreto,
a Grande Loja e Grande Conselho da Real Ordem da Escócia,
a Ordem de Cavaleiros Templários e Ordem de Malta(honorária),
a Ordem da Cruz Vermelha da Babilónia.
Toda esta explicação era necessária para melhor compreendermos a génese do York.

Em relação ao Rito de York para além das Lojas Simbólicas (1º, 2º e 3º grau), os seus Altos Graus estão classificados assim:

Graus Capitulares (conhecidos como Maçonaria do Real Arco)
4º grau – Mestre de Marca
5º grau – Past Master
6º grau – Mui Excelente Mestre
7º grau – Maçon do Arco Real
Conselho Críptico (conhecido como Conselho de Mestres Reais e Escolhidos)
8º grau – Mestre Real
9º grau – Mestre Escolhido
10ºgrau – Super Excelente Mestre
Comendadoria Templária (conhecida como Ordem dos Cavaleiros Templários)
11ºgrau – Ordem da Cruz Vermelha
12ºgrau – Ordem de Malta
13ºgrau – Ordem do Templo

Os graus Capitulares enfatizam as lições de regularidade, disciplina, integridade e reverência, a consagração do Sanctum Sanctorum e a descida do Espirito Santo no Templo. Ser exaltado como Mestre do Arco Real coroa de forma grandiosa os conhecimentos do Mestre Maçon.. É o momento em que a Lenda do Templo de Salomão é concluída. È o cume dos graus originais das Lojas Simbólicas, tal como praticadas nas antigas Lojas de Inglaterra antes de 1820. Estes graus explicam as origens da palavra substituta encontrada no grau de Mestre Maçon, o resgate da Palavra Inefável e o seu ocultamento no Real Arco. Os Capítulos são presididos e geridos por Sumo Sacerdotes.

A cúpula dos Graus Capitulares é um Supremo Grande Capítulo do Arco Real com jurisdição própria e reconhecimento internacional e é presidida por um Grande Sumo Sacerdote responsável por todos os Capítulos constituintes.

A Maçonaria Críptica forma o corpo central do Rito de York da maçonaria livre. Um Mestre Maçon que tenha aderido a um Capítulo de Maçons do Arco Real, recebido os quatro graus e queira depois procurar mais conhecimento pode ser admitido num Conselho de Maçons Crípticos. Os graus da Maçonaria Críptica são dos graus mais belos da Maçonaris Livre. A Maçonaria Livre é muito filosófica e ensina os seus ideais através de alegorias. É moralista e religiosa, mas não é uma religião. Não oferece uma teologia nem um plano de salvação. Contudo, oferece um plano moral para ser aplicado neste mundo.

O Rito Críptico tem o nome derivado da Palavra Críptica porque a cena dos graus de Mestre Real e Mestre Escolhido ocorre na Críptica subterrânea sob o Templo do Rei Salomão. A Palavra representa na alegoria maçónica a busca pelo homem de objectivos para a vida e para a natureza de Deus. Simbólicamente, a Maçonaria Livre ensina, na Loja, como a palavra se perdeu e sobre a esperança da sua recuperação. O Arco Real, no Capítulo, ensina como ela foi redescoberta. A Maçonaria Críptica, no Conselho, completa esta história (Publicado em freemason.pt) ensinando como se preserva a Palavra inicial. O Grande Conselho de Maçons Reais e Escolhidos é presidido e dirigido por um Grão-Mestre Críptico sob cuja administração estão os Conselhos Crípticos geridos pos Ilustres Mestres.

As Ordens Cavalheirescas diferenciam-se de outras pela sua estrutura paramilitar. Os Estados Unidos por exemplo seguem a preceito a parafernália que é semelhante ao uniforme militar. Neste Rito só pode pertencer á Ordem do Templo quem for cristão.

A Comendadoria Templária com as respectivas Ordens da Cruz Vermelha, de Malta e do Templo está estruturada numa Grande Comenda de Cavaleiros Templários também com Comendas subordinadas. Estas Ordens Cavalheirescas são presididas por um Grande Comendador.

O Rito de York mantém para além da Ordem dos Sumo-Sacerdotes Ungidos e Consagrados e da Ordem da Trolha de Prata muitas outras estruturas de Altos Graus como por exemplo:

Grande Conclave Imperial da Ordem de Constantino e das Ordens do Santo Sepúlcro e de S. João Evangelista.
Soberana Ordem dos Cavaleiros Preceptores
Cavaleiros Defensores da Cruz
Grande Conselho de Cavaleiros Maçons
Ordem Maçónica de Bath
Conselho de Grande Preceptores da Ordem de S. Tomás
Grande Colégio dos Cavaleiros Templários do Arco Real.
Cavaleiros Honorários da Cruz de York
E por outras estruturas laterais tais como:

Alto Conselho da Sociedade Rosacruciana
Real Sociedade dos Cavaleiros do Ocidente
Grande Colégio de Ritos
Conselho Imperial dos Nobres do Santuário Místico (Shrine).

Os Altos Graus do Rito de York apoia organizações maçónicas dirigidas por maçons, esposas e familiares como a Ordem de Amaranth, a Ordem da Estrela do Oriente, a Ordem do Santuário de Jerusalém bem como organizações para jovens, nomeadamente para rapazes a partir dos 12 aos 21 anos a conhecida Ordem DeMolay , e para raparigas a Ordem das Filhas de Job e a Ordem do Arco-Iris dos 12 aos 20 anos.

Rito Escocês Rectificado – R.E.R.
O Rito Escocês Rectificado é um rito cristão com origem na Doutrina da Estrita Observância Templária do séc. XVIII (do Barão Carl von Hund -1722/1776- ) escrita no mais antigo documento maçónico francês (La carte inconnue de la franco-maçonnerie chrétienne). È um código maçónico cujo texto segue a lógica das Constituições do pastor Anderson mas sintonizado na crença do cristianismo como requisito primordial para a crença maçónica, o que o liga a uma tradição cavalheiresca que remonta aos cavaleiros templários.

O francês Jean-Baptiste Willermoz(1734-1824) – (iniciado em 1750, venerável em 1752 e grão-mestre em 1761) – realizou um intenso trabalho de pesquisa, condensação e depuração que resultou na sua actual versão. Willermoz sofreu a influência de Martinez de Pasqually fundador da Ordem dos Eleitos Coens (Elus Cohens) cuja obra continuou.

Willermoz foi assíduo frequentador das Lojas regulares françesas, dos Capítulos Templários Alemães da Estrita Obediência e dos Philalèthes, fundando em 1779 a Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa que reuniu à sua volta um grupo de maçons devotados a uma leitura espiritualizada e “mágica” dos ritos maçónicos, entre os quais Martinez de Pasqually, Luis Claude de Saint-Martin, Joseph de Maistre e o Conde de Saint-Germain.

Ensinava Willermoz que para encontrar a pedra cúbica, que contém em si todos os dons, virtudes ou faculdades, é necessário encontrar o princípio da vida. Esse espírito tem a faculdade de purificar o ser anímico do homem, prolongando a sua vida. E tem o condão de transformar os vis metais em ouro, encontrando-se nos três reinos da natureza. O Adepto teria que encontrar maneira de o manipular.

O código do Rito inspira-se no teosofismo de Martinez de Pasqually em que a doutrina esotérica deve comportar a revelação de verdades primordiais, comunicadas noutros tempos a seres privilegiados, mas com a possibilidade de ser transmitida aos que escolham a via do diálogo íntimo com o Criador.

O R.E.R. contou também com o trabalho de organização e depuramento ritualísta feito pelo Barão de Weiler, que rectificou algumas das lojas de Estrasburgo seguindo o rito da Estrita Observância Templária da Alemanha. Weiler instalou em 1774, em Lyon, o primeiro Grande Capítulo na região tendo colocado Willermoz como delegado regional. Posteriormente, foram constituídos mais capítulos em Montpellier e em Bordeaux. O sistema era constituído por 9 graus agrupados em 3 classes:

A primeira classe – Aprendiz, Companheiro e Mestre.
A segunda classe – Escocês Vermelho e Cavaleiro da Águia da Rosa Cruz.
A terceira classe – Escocês Verde, Escudeiro Noviço, Cavaleiro e Professo.
Estava e está ligado à mensagem de Amor e Tolerância do Novo Testamento sem detrimento da Justiça vinculada no Antigo Testamento.

Actualmente, o R.E.R. completa-se por seis graus organizados em:

Lojas Azuis ou de S. João
1º – Aprendiz
2º – Companheiro
3º – Mestre
Maçonaria Rectificada (Lojas Verdes ou de Santo André)
4º – Mestre Escocês de Santo André
Cavalaria Rectificada (Ordem Interior)
5º – Escudeiro Noviço
6º – Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa
Existiam também os graus de inspiração sacerdotal integrados em Colégios de Profissão, hoje ocultos e portanto não praticados e que eram os Professos e os Grande Professos.

Os Altos Graus do R.E.R. são administrados por um Grande Priorado Independente sob a direcção jurisdicional de um Grão-Prior. E como todos os outros Altos Graus reconhecidos internacionalmente.

Todas as estruturas de Altos Graus mantem tratados de mútuo reconhecimento com a Grande Loja ou Grande Oriente a que os seus Irmãos pertencem e nos quais se devem manter em situação regular para poderem ter lugar naquelas estruturas.

Em resumo e para finalizar, na tradição judaico-cristã o conceito de rito refere-se a um corpo de tradição litúrgica normalmente correspondente a um determinado centro. Exemplos- falamos do rito romano ou latino, do rito bizantino , do rito ciríaco.

O conceito refere-se também a várias formas de actos religiosos agrupando três tipos de rito:

De Passagem, que produzem alterações na qualidade de um indivíduo(exemplo, os sacramentos do baptismo, do casamento ou de uma graduação);

Os de Adoração à divindade que tem lugar numa Igreja Cristã, numa capela, num mosteiro, numa sinagoga, numa mesquita;

E os ritos de Devoção pessoal que ocorrem em qualquer lugar sagrado ou numa peregrinação religiosa a um local de particular devoção (Fátima, Lourdes, Meca, etc…)

Na tradição simbólica e esotérica o rito é essencialmente uma expressão da interpretação dos usos e costumes da Fraternidade, das tradições transmitidas oralmente, desde (Publicado em freemason.pt) que os maçons se reúnem a coberto para glorificar o Criador e evoluir na Arte Real. Isto, de acordo com as fontes de há 300 ou há 1000 anos.

O mais importante é que os ritos não são para os maçons e as suas organizações, bíblias, dogmas ou repositórios inquestionáveis de uma Verdade absolutizada ou sectarizada. São interpretações, exegeses, mergulhos na mais profunda dimensão dos Homens Livres, a sua profunda espiritualidade e sede de perfeição.

Vitor Azevedo Duarte

Bibiliografia
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De Hoyos, Arturo – Manual of the Degrees of The Antient & Primitive Rite of Freemasonary, Colectanea, vol. 19 (Part 1,2,3) 2005-2007 G.C.R. of U.S.A.. Washington, D.C.
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De Carvalho, Luís Nandin -A Maçonaria Entreaberta, Ed.Hugin,1977, Lisboa.
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Pereira, Pedro M. – Dicionário de Termos Maçónicos, Prod. Editoriais, Lda, 2008, Lisboa.
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Adrião, Vitor M. – Dogma e Ritual da Igreja e da Maçonaria, Ed. Dinapress, Lda, 2002, Lisboa.
Wikipédia Web, Ed. Online.

Os Símbolos da Maçonaria

 

Neste trabalho dedicado à simbologia universal, não podiam faltar algumas reflexões sobre o importante simbolismo da Maçonaria, que representa, junto à tradição Hermética- Alquímica, a única via iniciática não religiosa que sobrevive ainda na Europa e sua área de influência cultural. E isto é assim embora, na actualidade, muitos maçons não conheçam – ou conhecem de forma muito limitada – o carácter simbólico e iniciático da sua Ordem. Alguns chegam inclusive a negar este aspecto essencial da maçonaria, crendo que esta só persegue fins sociais e filantrópicos. Há outros, inclusive, que só vêm na riqueza simbólica da Maçonaria uma fonte inesgotável onde alimentar as suas próprias fantasias “ocultistas”, tão em moda hoje em dia. Sem dúvida, esta suplantação dos verdadeiros fins da Maçonaria e, por conseguinte, a infiltração das “ideias” profanas, só podia acontecer numa época que, como a nossa, vive imersa na mais profunda obscuridade intelectual e espiritual.

Devemos esclarecer que aqui se vai falar da Maçonaria tradicional, ou seja, daquela que mantém vivos e permanentes, através dos símbolos, dos ritos e dos mitos, os laços com as realidades cosmogónicas e metafísicas emanadas da Grande Tradição Primordial, da qual a Maçonaria é (em verdade) uma ramificação. No nosso entender, e considerada desta maneira, a Maçonaria, igual a qualquer outra organização tradicional, oferece ao homem caído e ignorante os elementos necessários para levar a cabo a sua própria regeneração e evolução espiritual. A estrutura simbólica e ritual da Maçonaria reconhece numerosas heranças procedentes das diversas tradições que foram se sucedendo no Ocidente durante, pelo menos, os últimos dois mil anos. E este feito, longe de aparecer como um mero sincretismo, revela nesta Tradição uma vitalidade e uma capacidade de síntese e de adaptação doutrinal que lhe valeu o nome de “arca tradicional dos símbolos”.

Todas estas heranças se foram integrando com o transcorrer do tempo no universo simbólico da Maçonaria, moldando-se à sua própria idiossincrasia particular. Procedendo de uma tradição de construtores, não deve parecer estranho que a Maçonaria desempenhe a função de arca receptora, pois precisamente a construção ou edificação não tem outra função além de pôr “a coberto” ou “ao abrigo” da intempérie ou inclemência do tempo; mas, analogamente, quando se entende a construção como algo sagrado —e este é o caso— está claro que esta não faz outra coisa senão proteger, e separar, do mundo profano (as trevas exteriores) tudo aquilo que corresponde ao domínio estritamente espiritual e metafísico.

Por outro lado, este é precisamente o papel dos símbolos que aludem às ideias de receptividade e concentração, como a própria arca, o cálice, a caverna ou o templo. Sendo, como dissemos, uma via iniciática de origens artesanais, a Maçonaria teve uma especial sensibilidade com relação a todas as correntes tradicionais com as quais entrou em contacto.

Assim, de entre estas correntes merecem destaque, além do Hermetismo, as que procedem do Cristianismo, do Judaísmo e da antiga tradição greco-romana, e, mais concretamente, do Pitagorismo. Também poderíamos mencionar a ainda mais antiga tradição egípcia, sobretudo no que se refere aos símbolos cosmogónicos relacionados com a construção, pois, como é sabido, o antigo Egipto é, na realidade, um dos centros sagrados de onde surgiu grande parte do saber que contribuiu para dar forma, com a sua influência sobre os filósofos gregos, à concepção do mundo que é própria da cultura ocidental.

De todo modo, a herança egípcia é transmitida à Maçonaria através, fundamentalmente, da Alquimia hermética e do Pitagorismo. Não obstante, do que dissemos não se deve concluir que a Maçonaria seja o “resultado” da confluência de todas essas tradições. Se fosse assim, a Maçonaria viria a ser uma espécie de colagem ou museu arqueológico onde teriam abrigo todas as relíquias do passado encontradas aqui e acolá, e catalogadas segundo a sua respectiva antiguidade.

Evidentemente que não é isto que queremos dizer quando falamos da herança multisecular recebida pela Maçonaria. Cada tradição é legitimada e conformada por uma “revelação” de ordem divina acontecida num tempo mítico, a-histórico e atemporal. Tal revelação é “única” para cada forma tradicional que se constitui a partir dela, dando-lhe o seu “selo” ou “marca” particular, a sua estrutura, e, portanto, uma função e um destino a cumprir no cenário do tempo da história.

Ocorre, por quaisquer circunstâncias, que uma tradição receba de outra (ou outras) determinadas influências por contacto ou similitude, o que muitas vezes foi inevitável e até necessário. Mas de nenhum modo isto que dizer que uma tradição se “transforme” noutra, pois, como ocorre com qualquer ser vivo, cada uma compreende um nascimento, um desenvolvimento, uma maturidade, e finalmente, uma morte. Aquilo que se convencionou chamar de “Unidade Transcendente das Tradições”, é bem diferente de uma simples “uniformidade”. Significa, fundamentalmente, que todas – e cada uma delas – procede de uma fonte única (a Tradição Primordial), que se manifesta não na forma ou roupagem que possam adoptar por circunstâncias de tempo e de lugar, mas, precisamente, no que constitui a “sabedoria perene” contida no núcleo mais interno e central de cada tradição. O que ocorre com respeito à Maçonaria é que esta não possui um carácter religioso, o que tornou possível a sua adaptação a todas as tradições, religiosas ou não, com as quais se relacionou ao longo da história.

A sua simbologia iniciática, demonstrada na arte da construção, entre outras coisas serviu-lhe de cobertura protectora, ao mesmo tempo que lhe permitiu moldar-se a qualquer “dogma” religioso ou exotérico sem entrar em conflito com ele. Temos um exemplo disso nas relações que, durante toda a Idade Média ocidental, a Maçonaria manteve com o poder eclesiástico e com as diversas organizações iniciáticas do esoterismo cristão. Por outro lado, se a Maçonaria, com esse espírito de fraternidade e tolerância que a caracteriza, não houvesse acolhido no seu seio essas diversas heranças, estas, com toda segurança se teriam perdido definitivamente. E foi possivelmente essa capacidade receptora que contribuiu para fomentar essa ilusão de sincretismo que erradamente alguns lhe atribuem.

É precisamente o contrário, pois a Maçonaria ao “reunir o disperso” não fez nada além de conservar nas suas estruturas simbólico-ritualísticas a “memória” dessas múltiplas heranças, cumprindo com isso um papel “totalizador” que tem a sua razão de ser (e uma razão de ser profunda) neste final de ciclo que estamos vivendo. Neste sentido, e da mesma forma que na “arca” de Noé foram guardadas, para que não perecessem, todas as “espécies” que deviam ser conservadas durante o cataclismo ocorrido entre dois períodos cíclicos, a “arca” maçónica também acolhe tudo o que de válido deve conservar-se até que, por sua vez, o ciclo presente termine – e que constituirá os “gérmenes” espirituais que se desenvolverão durante o transcurso do futuro ciclo.

Particularmente esta função recapituladora assumida pela Maçonaria tradicional faz pensar que ela subsistirá até a consumação do ciclo, o que, por outro lado, e como assinala um autor maçon, “… está expresso simbolicamente pela fórmula ritual segundo a qual a Loja de São João está no vale de Josafá”, que, acrescentamos, é onde simbolicamente terá lugar o que no Cristianismo se denomina o “Juízo Final”. “No mesmo sentido, também se diz que a Loja maçónica permanece”… “na mais alta das montanhas e no mais profundo dos vales”, aludindo com isto ao começo do ciclo (quando o Paraíso se encontrava no topo da montanha do Purgatório) e ao seu final (quando a Verdade do conhecimento, representada pelo estado edénico, “fechando-se” em si mesma, se fez invisível à maioria dos homens, ocultando-se no “mundo subterrâneo”).

Há que se dizer, para completar esta simbologia cíclica, que o vale corresponde à caverna, que por estar no interior da montanha se situa por sobre um mesmo eixo que conecta a cúspide de uma com a base da outra, unindo desta maneira o mais “alto” (ou princípio) com o mais “baixo” (ou final). Dito isto, que cremos foi necessário para aclarar certas confusões que existem em torno da Maçonaria, tentaremos explicar, a seguir, algumas dessas heranças simbólicas que esta Ordem recebeu de outras formas tradicionais, ainda existentes ou já desaparecidas. Do Hermetismo a Maçonaria recolhe, em parte, a riqueza da simbologia alquímica, que inclui os ensinamentos e vivências dos processos de transmutação psicológica que levam do estado profano à realização espiritual.

O simbolismo dos elementos, relacionado com as energias purificadoras da natureza, é de suma importância no rito da iniciação maçónica. Neste sentido, a “Câmara de Reflexão” maçónica vem a ser o mesmo, e cumpre idêntica função simbólica que o athanor hermético: um espaço fechado e íntimo onde se produzem as mudanças de estados regenerativos exemplificados pela gradual “subtilização” da matéria densa e caótica do composto alquímico. Igualmente, os diversos objectos simbólicos que se encontram na “Câmara de Reflexão” são quase todos de origem alquímica e hermética, como por exemplo, as três taças contendo enxofre, mercúrio e sal, sem esquecer das siglas VITRIOL e a bandeirola com as palavras “Vigilância e Perseverança”, as quais se referem ao estado de vigília permanente e paciência de que deve armar-se o alquimista nas suas operações.

Por outro lado, existem interessantíssimas analogias entre o processo de transmutação da “matéria caótica” alquímica e o desbastar da “pedra bruta” na Maçonaria, pelo que se pode fazer uma transposição totalmente coerente entre o simbolismo alquímico e o simbolismo construtivo e arquitectónico. Dessa maneira, a iniciação hermético-alquímica está presente por igual nos três graus maçónicos (de aprendiz, companheiro e mestre), que reproduzem as três etapas da “Grande Obra”, que incluem uma morte, um renascimento e uma ressurreição, respectivamente. Enfim, as leis herméticas das correspondências e analogias entre o macro e o microcosmo estão resumidas e sintetizadas no esquema geral do templo ou Loja maçónica, verdadeira imagem simbólica do mundo.

Se a Tradição hermética deixou os seus vestígios na Maçonaria, os deixados pelo Pitagorismo não são menos importantes, e até poderíamos dizer que é, junto com o judaico-cristianismo, uma das mais significativas, até o ponto de não ser possível compreender o que é a Maçonaria sem esta referência pitagórica. Numerosos símbolos maçónicos denotam a sua procedência pitagórica, ou, pelo menos, mostram uma identidade palpável com alguns dos símbolos mais importantes da confraria fundada pelo mestre de Samos. É o caso, por exemplo, da conhecida “estrela pentagramática” ou pentalfa, de suma importância na simbologia do grau de companheiro (onde recebe o nome de “estrela flamejante”), e que os pitagóricos consideravam como seu signo de reconhecimento e um emblema do homem plenamente regenerado. Mas é na aritmética sagrada, ou seja, na simbologia dos números na sua vertente cosmogónica e metafísica, onde se observa mais claramente a presença do pitagorismo na Maçonaria.

Ambas as tradições dão ênfase ao sentido qualitativo dos números, por sua vez estreitamente vinculado ao simbolismo geométrico, que também, por seu lado, está directamente relacionado com a construção do templo exterior e do templo interior. Neste sentido, deve ser notado que, no frontão da Academia de Atenas, Platão fez gravar uma inscrição que rezava: “Que ninguém entre aqui se não é geómetra”, sentença que unanimemente se atribui aos pitagóricos, e que poderia perfeitamente estar gravada no pórtico de entrada da Loja maçónica. Do mesmo modo, a Unidade ou Mónada divina estava simbolizada entre os pitagóricos por Apolo, o deus geómetra primordial que, mediante a “lei invariável do número” que extrai dos acordes musicais da sua lira, estabelece o modelo ou protótipo pelo qual se rege a harmonia da vida universal. E não é, no fundo, o Grande Arquitecto maçónico, que com o esquadro e o compasso determina a estrutura e os limites do céu e da terra, da mesma forma que o Apoio pitagórico?

No que se refere ao Cristianismo, é indubitável que dele procedem numerosos e importantes elementos doutrinais integrados na simbologia e no ritual maçónicos. Esta integração viu-se favorecida pela convivência que, durante praticamente todo o período Medieval, os grémios de construtores mantiveram com as ordens monásticas e de cavalaria, especialmente a dos templários. Questionar ou desconhecer este aspecto cristão tanto da antiga como da actual Maçonaria, é privá-la de uma parte essencial da sua própria identidade tradicional, além de demonstrar com isto uma ignorância completa sobre o esoterismo cristão, que é, precisamente, o que, em grande medida, foi absorvido pela Ordem maçónica. Só um dado, porém sumamente significativo: os santos padroeiros e protectores da Maçonaria são os dois São João, o Batista e o Evangelista, e como já se disse a Loja é denominada “Loja de São João“.

À presença hermética, pitagórica e cristã, há que se acrescentar a da tradição judaica, surgida do tronco de Abraão da mesma forma que o Cristianismo e o Islã. A tradição hebraica transmitiu à Maçonaria fundamentalmente os mistérios relativos às “palavras de passe” e às “palavras sagradas”, todas elas procedentes do Antigo Testamento, se bem, é verdade, que também se encontram palavras e nomes sagrados de origem cristã, concretamente nos que se denominam os “altos graus” maçónicos. De certo modo, na Maçonaria confluem a Antiga Aliança e a Nova Aliança formadoras do judaico- cristianismo, que se constituiu numa só tradição durante os períodos mais florescentes da Idade Média.

Não é exagero afirmar que esta constituição foi possível graças à própria Maçonaria operativa, que neste sentido desempenhou um autêntico trabalho de “ponte”, muito especialmente no que se refere ao âmbito da construção e da arquitectura. Como mais adiante teremos ocasião de assinalar, as palavras de passagem e as palavras sagradas relacionam-se com a busca da “Palavra perdida”, busca que concentra em grande parte o trabalho de investigação simbólica do maçon. Igualmente, a concepção simbólica da Loja -como o templo cristão-, está baseada no desenho geométrico do templo de Jerusalém (ou de Salomão), e o arquitecto que dirigiu as obras deste templo, o mestre Hiram, passa a ser um dos míticos e legendários fundadores da Maçonaria.

Depois deste quadro geral, no qual muito superficialmente apontamos quais, a nosso juízo, são as mais significativas influências tradicionais presentes na Maçonaria, vamos ver na continuação, sobre o plano da história, de que forma estas influências penetraram e se converteram em parte constitutiva desta tradição. E, se bem que não tratemos aqui especificamente da história da Maçonaria, pensamos que trazer à memória certos feitos históricos talvez pudesse fazer-nos compreender em maior profundidade alguns símbolos maçónicos que, de facto, se forjaram à luz dessas múltiplas heranças. Além disso, a história é também uma simbologia sagrada ligada ao porvir cíclico e ao destino dos homens e das civilizações.

Uma história simbólica
Devemos situar-nos, pois, nesta época crucial da história da Europa e do Ocidente que foi, sem dúvida, a Idade Média. Ali encontramos os grémios, ou agrupamentos de construtores conhecidos como os freemasons ou franc-maçons , que por estarem isentos do imposto alfandegário podiam viajar e deslocar-se livremente por todos os países da cristandade. Desta liberdade de movimento é que lhes era dado, em parte, o nome de “franc-maçons“, que quer dizer “pedreiros, ou construtores, livres”.

Dissemos “em parte”, porque, como acertadamente escreve Christian Jacq:

O “franc-maçon” é o escultor da pedra franca, ou seja, da pedra que pode ser talhada e esculpida… O “maçon franco” é, sobretudo, o artesão mais hábil e mais competente, o homem que é livre de espírito e que se libera da matéria por sua arte… Em numerosos textos medievais, o franco-maçon é oposto ao simples pedreiro, que não conhecia a utilização prática e esotérica do compasso, do esquadro e da régua”.

Assim, pois, estes “maçons francos” possuíam seus mistérios iniciáticos e as suas técnicas do ofício relacionadas com a construção, e expressavam na ordem concreta das coisas a realização efectiva desses mistérios. Em grande medida, os maçons operativos tinham herdado estas técnicas directamente dos Collegia Fabrorum romanos, ou seja, dos agrupamentos de construtores e artesãos cujas origens remontavam ao legendário rei Numa. Assim como ocorreu com a Maçonaria, os Collegia Fabrorum também recolheram a herança simbólica de tradições desaparecidas, a mais notável das quais foi a tradição Etrusca, cuja cosmologia passou ao Império Romano através desses colégios. É interessante ressaltar que os Collegia Fabrorum veneravam muito especialmente ao deus Jano Bifronte, chamado assim porque possuía dois rostos, um que olhava para a esquerda (ao Ocidente, ou lado da escuridão), e outro para a direita (ao Oriente, ou lado da luz), abrangendo desta maneira o mundo inteiro.

Se bem que o simbolismo pertencente a esta divindade romana seja bastante complexo, sabe-se com segurança que estava relacionada com os mistérios iniciáticos, concretamente com os ritos de “passagem” ou de “trânsito”. Na Maçonaria operativa medieval estes mesmos atributos passaram a fazer parte dos dois São João, cujo nome é idêntico ao de Jano. Mais ainda: através dos Collegia romanos, a Maçonaria recebeu (entre outras fontes de procedências diversas) a cosmologia dos pitagóricos, baseada, como já se mencionou, nas correspondências simbólicas dos números e da geometria, ciências e artes sagradas que precisamente têm na arquitectura as suas aplicações mais perfeitas. Entre os personagens conhecidos que facilitaram este trabalho de transmissão da cosmologia pitagórica (e também platónica) ao período Medieval, merece destaque, no século Vil, Boécio, chamado o “último dos romanos” e autor da Consolação da Filosofia. Os estudos de Boécio sobre astronomia, geometria, aritmética e música, foram realmente decisivos para o enriquecer das “sete artes liberais”, divididas no trivium e no quadrivium, de suma importância nos ensinamentos da maçonaria operativa.

Por outro lado, a filosofia de Boécio influenciou notoriamente a literatura e o pensamento esotérico da Maçonaria tradicional dos séculos XVIII e XIX, por exemplo, em autores como Louis Claude de Saint Martin e José de Maistre. Seguindo com esta ordem de ideias, existiu uma lenda difundida entre os maçons de língua inglesa, segundo a qual um tal Peter Grower, originário da Grécia, trouxe aos países anglo-saxões determinados conhecimentos relativos à arte da construção. Alguns autores, entre eles René Guénon, afirmam que este personagem, Peter Grower, não era senão Pitágoras, ou melhor, a ciência dos números e a geometria que através dos pitagóricos foram introduzidas nas ilhas britânicas, ao mesmo tempo em que em todo o continente.

No mundo da Tradição muitas vezes os nomes das pessoas, sejam históricas ou lendárias, designam, mais que os próprios personagens, os conhecimentos que eles transmitiram e que, com frequência, se transmitiram por meio das escolas ou confrarias que fundaram. É o que, de certo modo, ocorre com o matemático grego Euclides, que é mencionado nos “Antigos Deveres” – Old Charges – (que representa uma série de documentos e escritos da Maçonaria operativa onde foram definidos alguns eventos relacionados com a história sagrada da Ordem maçónica). Num destes documentos, o manuscrito Regius, faz-se alusão a Euclides como o “pai” da geometria, enfatizando-se que esta não designa senão a própria Maçonaria. Noutros manuscritos diz-se que o mesmo Euclides foi discípulo de Abraão, o que, do ponto de vista da cronologia histórica é totalmente sem nexo, pois, como se sabe, Euclides viveu no Egipto durante o século III a.C., e Abraão aproximadamente dois mil anos antes. Mas, tendo em conta de que se trata de história sagrada, e não simplesmente profana, o que na verdade se quer dizer com esta lenda é que Euclides foi o discípulo que recebeu o saber que o Patriarca encarnava, que era em si o monoteísmo hebraico na sua expressão cosmogónica e metafísica.

Resumindo, na realidade tudo isto se refere a uma transmissão de carácter sagrado efectuada da tradição judia para a Ordem maçónica, o que equivale a uma autêntica “paternidade espiritual”. Seja como for, o legado da cosmologia greco-romana unida à espiritualidade cristã, deu como resultado a criação da catedral gótica, edificada pelos grémios de construtores. Uma catedral, ou um monastério, é um compêndio de sabedoria; nela, gravada na pedra, se materializam todas as ciências e todas as artes, assim como os diferentes episódios bíblicos que fazem a história da tradição judaico-cristã. Ali aparecem os diversos reinos da natureza, o mineral, o vegetal, o animal e o humano, da mesma forma que as hierarquias angelicais que circundam o trono onde mora a deidade.

Tudo isto converte a catedral, num livro de imagens e símbolos herméticos reveladores da estrutura subtil e espiritual do cosmos. Estas colunas que se elevam verticalmente até outro espaço, unindo a parte inferior (a terra) à superior (o céu), estes arcos e abobadas que se assemelham a cristalizações dos movimentos circulares gerados pelos astros, esta luz solar que ao penetrar através do colorido policromado dos vitrais se transforma num fogo subtil que a tudo inunda; tudo isto, dizemos, permite-nos reconhecer a existência de um espaço e um tempo sagrados e significativos. Este conjunto de equilíbrios, módulos e formas harmoniosas (que por reflectir a Beleza da inteligência divina se constitui em “resplendor do verdadeiro”, como diria Platão) se gera a partir de um ponto central, que, por sua vez, é o “traço” de um eixo vertical invisível, mas cuja presença é omnipresente em todo o templo.

Este ponto central não é senão o “nó vital” que promove a coesão do edifício inteiro, e para onde conflui e se expande, como se se tratasse de uma respiração, toda a estrutura do mesmo. Tal “nó vital” era bem conhecido pelos mestres de obra, que viam o seu reflexo no umbigo, sede simbólica do “centro vital” do templo-corpo humano. Esta estrutura do cosmos – catedral, imperceptível aos sentidos comuns, percebe-se graças à intuição intelectual e às formas visíveis do céu e da terra, que estão simbolizadas pela abóboda e pela base quadrangular ou rectangular, respectivamente. Daí que a Maçonaria conceba o cosmos como uma obra arquitectónica e, a divindade, como o Grande Arquitecto do Universo, também chamada Espírito da Construção Universal noutras tradições. Perto das catedrais em construção encontravam-se as oficinas ou lojas, nas quais se traçavam e desenhavam os planos, repartiam-se as obrigações, falava-se dos detalhes da obra, e celebravam-se os ritos e cerimónias de iniciação. Estas oficinas eram autênticos centros de ensino tradicional onde, além das técnicas do ofício, se transmitiam os conhecimentos cosmogónicos. Realmente, nas oficinas maçónicas conjugava-se a arte e a ciência, a prática e a teoria, seguindo assim o famoso adágio escolástico segundo o qual a “ciência sem arte não é nada”.

Cada Loja ou oficina estava sob a autoridade de um mestre arquitecto, que tinha às suas ordens os oficiais companheiros (divididos em sub-graus e funções), que por seu lado vigiavam e dirigiam os trabalhos dos aprendizes. Esta estrutura ternária e hierarquizada de aprendiz, companheiro e mestre encontra-se com os mesmos ou diferentes nomes unanimemente repartida em todas as organizações iniciáticas e esotéricas, pois tal hierarquia expressa um modelo do processo iniciático íntegro, que reproduz exactamente o desenvolvimento cosmogónico das “trevas à luz”, do “caos à ordem”.

Um dos poucos testemunhos que se conservaram dos desenhos realizados pelos maçons operativos é o álbum do arquitecto francês Villard de Honnecourt, ao qual pertence também o traçado de um labirinto, cuja forma é idêntica à de todos os labirintos iniciáticos: uma série de dobras concêntricas que conduzem, depois de um longo trajecto que começa na periferia, ao centro do próprio labirinto, ou ponto de contacto com o eixo vertical por onde se produz a comunicação com os estados superiores e a “saída” definitiva do cosmos, ou seja, dos limites determinados pelo tempo – e o seu porvir cíclico – e o espaço.

Junto aos maçons operativos encontramos os sábios alquimistas e astrólogos, perfeitos conhecedores das ciências da natureza aplicadas como símbolos vivos do processo iniciático e regenerador. Eles dotaram a catedral de numerosos símbolos baseados nas correspondências e analogias entre o macro e os microcosmos, o céu e a terra, a divindade e o homem, considerando-se os legítimos herdeiros da ciência sagrada de Hermes Trismegisto. A “pedra bruta” que os maçons poliam e talhavam para a construção, representava, como já dissemos, o mesmo que a “matéria caótica” dos alquimistas: uma imagem da substância plástica indiferenciada na qual estão contidas, em estado não desenvolvido e potencial, todas as possibilidades de manifestação de um mundo ou de um ser. A pedra estava viva, não era simples matéria inerte, e ao mesmo tempo, a sua dureza e estabilidade simbolizavam a imutabilidade e firmeza do Espírito. Em tudo isto, um detalhe não deve passar desapercebido: os alquimistas tinham a Santiago, o Mayor, como santo padroeiro, que junto com São João Evangelista (padroeiro dos maçons) e São Pedro (fundador da Igreja), assistiu aos mistérios da Transfiguração de Cristo no Monte Tabor. A partir de então, um “laço” fundamentado num “Segredo” devia unir, acima das diferenças formais, a todos aqueles que estavam sob a protecção desses santos cristãos, uma mostra do que foram as fraternais relações que se viviam durante as edificações das igrejas-catedrais. Esta fraternidade entre alquimistas e maçons deveria perdurar ainda até o século XVIII.

A liberdade de movimento de que gozavam os maçons francos, facilitaria os intercâmbios de conhecimentos com outros grémios de artesãos, dentre os quais se destaca a chamada Companheirismo, que agrupava diversos ofícios (entre eles os entalhadores de pedra e escultores), e que, da mesma forma que os maçons, tinham os seus graus e segredos de iniciação.

Desta forma, esses intercâmbios deram-se com as diversas ordens monásticas e cavalheirescas. Não há que se fazer, portanto, um excessivo esforço de imaginação para formar-se uma ideia do clima espiritual que se respirava naquela fecunda e luminosa época. Poder-se-ia dizer, sem temor de exagerar, que ali o saber não tinha fronteiras. E mais: a cordial convivência existente entre as organizações iniciáticas e esotéricas, e aquelas de carácter religioso e exotérico testemunhavam o vigor e a saúde da tradição. Os cavaleiros templários, esses monges guerreiros que eram também construtores e cujas regras foram inspiradas por São Bernardo, mantinham sob sua protecção numerosas lojas maçónicas. E isto não deve passar inadvertido, pois quando esta organização do esoterismo cristão desapareceu como tal em circunstâncias sangrentas (devido a um acordo do sinistro rei francês Felipe, o Formoso com o Papa Clemente V), estas mesmas lojas, sobretudo as da Inglaterra e Escócia, acolheram no seu seio muitos dos templários sobreviventes, que traziam consigo certos conhecimentos iniciáticos da sua Ordem que acabariam por integrar-se definitivamente na estrutura simbólica e ritual da Maçonaria . Digamos que de entre estas lojas merece destaque a Grande Loja Real de Edimburgo, fundada pelo rei Robert Bruce, que se opôs à extinção da Ordem do Templo combatendo ao lado dos templários.

É significativo que o ano de constituição da Ordem Real da Escócia seja o de 1314 (ano em que se extinguiu a Ordem dos Templários), e que esta teve como Loja Mãe a Ordem Heredom de Kilwinning, cujos alguns dos rituais eram de inspiração templária. E esta palavra, heredom, significa “herança”, que é a mesma recebida pelos templários. Não existem documentos escritos que atestem a realidade desta herança simbólica, ainda que seja evidente que ela aconteceu. Por tratar-se de transferências sagradas estas têm lugar primeiramente no plano estritamente espiritual e metafísico, concretizando-se no âmbito humano por mediação de individualidades (pouco importa, neste caso, que sejam conhecidas ou anónimas) que as realizam de maneira efectiva.

Um fio subtil e luminoso une o mundo superior ao inferior, e o inferior ao superior, e a manutenção desta comunicação é uma das principais funções que sempre tiveram as organizações tradicionais e iniciáticas. Recordemos, neste sentido, que a palavra “tradição” procede do latim tradere, que significa “transmitir” (e por extensão, herança), e transmissão de uma verdade, voltamos a repetir, que remonta às próprias origens da humanidade, e que todas as civilizações consideraram como a fonte do seu saber e cultura. Essencialmente, os templários transmitiram à Maçonaria a ideia da edificação do templo espiritual “que não é feito por mãos de homem” segundo a mensagem evangélica. Tal ideia ficou materializada com a criação de certos altos graus, complementares ao mestrado, de procedência templária.

Um dos mais notáveis, pela sua riqueza simbólica, é o grau de Royal Arch do Rito Inglês de Emulação. A Ordem do Temple (ou do Templo), no seu núcleo mais interno era de essência johannica (da mesma forma que a Maçonaria), pois inspirava-se nos mistérios contidos no Evangelho e no Apocalipse de São João. Desta forma, os “Cavaleiros de Cristo” tinham como uma das suas principais missões a protecção do Santo Sepulcro e a manutenção das relações com a “Terra Santa”, ou seja, com o “Centro Supremo” ou “Centro do Mundo”. Com o desaparecer do Templo, a Maçonaria tradicional (e aqui enfatizamos o “tradicional”), do mesmo modo que a Ordem hermética da Rosa-Cruz, continuaria mantendo para o Ocidente os vínculos com essa “Terra Santa”, também chamada noutras culturas de “Terra dos Imortais” ou “Terra dos Bem-aventurados”.

Durante o Renascimento encontramos a mesma ausência de documentos escritos sobre as relações que o hermetismo cristão e alquímico manteve com a Maçonaria. Graças à recuperação da filosofia platónica, impulsionada na Itália por Marsilio Ficino e Pico da Mirándola, assiste-se, nessa época, a um novo ressurgir da tradição e do saber hermético, onde há que se incluir a Magia Natural e a Cabala cristã. Livros como De Harmonia Mundi de Francesco Giorgi, a Cabala Denudata de J. Reuchlin, a Mónada Hieroglífica de John Dee, e a Filosofia Oculta de Cornélio Agripa, entre tantos outros, exerceram uma grande influência nos círculos herméticos de toda a Europa. Em tudo isto há algo importante a assinalar: devido à fraternidade que se criou no período Medieval entre os agrupamentos herméticos e os grémios de construtores, era perfeitamente normal que numa época como o Renascimento – onde o suporte de uma civilização tradicional estava já bastante debilitado – esses vínculos fortaleceram-se com o fim de salvaguardar os valores da tradição e da doutrina.

Maçonaria - O Templo de Salomão

 

O Templo de Salomão ocupa uma posição de destaque na simbologia maçónica, tratando-se de uma das maiores fontes de símbolos, alegorias, lendas e ensinamentos maçónicos. É mencionado nas mais antigas tradições dos operários da Idade Média e integra os mais poéticos temas dos maçons especulativos da actualidade. De todo este simbolismo, é possível extrair as mais diversas mensagens tanto na vertente anglo-saxónica (o mundo cultural de língua Inglesa) como na vertente latina (o mundo cultural francês), nos diversos ritos e graus.

A formação dos novos Maçons (Aprendizes) apoia-se fortemente na utilização destes símbolos, alegorias, lendas e mitos.

A tradição maçónica
Relativamente ao Templo de Salomão veja-se que o próprio James Anderson afirmou no livro da Constituição (1723) que “os israelitas ao deixarem o Egipto, formaram um Reino de Maçons”; que “sob a chefia de seu Grão-Mestre Moisés (…) reuniam-se frequentemente em loja regular, enquanto estavam no deserto”, etc.. Vale a pena (e a curiosidade) ler essas páginas da história lendária de nossa sublime Ordem contada por Anderson (folhas 8 a 15) que podem ser encontradas em Reprodução das Constituições dos Franco-Maçons ou Constituições de Anderson de 1723, em inglês e português (trad. e introd. de João Nery Guimarães, Ed. Fraternidade S. Paulo, 1982). De facto, Anderson apenas repetia velhas lições transmitidas por antigos documentos de maçons operários, reunidos para seu exame e síntese. As Obrigações eram lidas na cerimónia de ingresso de um aprendiz na loja medieval (algo análogo à iniciação de nossos dias), para que o novo membro aprendesse a história da arte de construir e da associação que o recebia. Inteirava-se das regras de bom comportamento e das exigências morais que deveria respeitar – de algum modo, esses antigos documentos tinham uma finalidade análoga à das nossas actuais cartas constitutivas, emprestando regularidade à loja. O leitor interessado encontrará detalhes e documentação em O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçónica, Alex Horne (trad. Otávio M. Cajado, pref. De Harry Carr; Ed. Pensamento, S. Paulo, 9a. ed., 1997, cap. V., p. 59 e segs..

Os antigos catecismos maçónicos (séries estereotipadas de perguntas e respostas) do Século XVIII também se referiam com frequência à construção do Templo de Salomão que, inequivocamente, integra tradições anteriores à Grande Loja de Londres (1717). Se os manuscritos, manuseados por Anderson e seus companheiros para escrever o Livro da Constituição de 1723, não são exactamente conhecidos, centenas de velhos outros pergaminhos sobreviveram, foram encontrados, guardados e interpretados, constituindo uma fonte das mais autênticas para a história da nossa sublime Ordem. Nesses antigos deveres (em muitos deles) já se falava na construção do Templo de Salomão pelos maçons. Convém contudo, no que concerne à historia, tratar tais documentos com certa reserva. Na origem, foram escritos por religiosos medievais, devotados a Deus sem dúvida nenhuma, mas desprovidos de crítica histórica. Presume-se que monges cristãos transmitiram essas lições a operários iletrados (nossos avós) e que tais documentos foram sendo copiados, recopiados, etc., mantendo a visão de uma época que muito desconhecia da História.

A tradição bíblica
O Templo de Salomão, integra as narrativas do livro mais respeitável da sociedade ocidental – a Bíblia. Ao sair do Egipto, conduzido por Moisés, o povo hebreu não possuía uma religião definida, muito menos um templo. Sómente após o episódio no monte Sinai – quando Moisés recebe de Deus as normas fundamentais da Lei bem como as instruções exactas quanto à construção da Tenda Sagrada (o Tabernáculo) – é que os hebreus passam a ter um local específico de culto, abrigando nessa Tenda os objectos sagrados: a Arca da Aliança, a Mesa dos pães ázimos (ou sem fermento), o Candelabro de sete braços (Minorá). Haveria também um altar para queimar as ofertas sacrificais, outro para queimar incensos (perfumes) e uma pia de bronze. Enquanto o povo vagueava pelo deserto, Deus orientava quando, onde e por quanto tempo estacionar. Os que fugiram do Egipto mudavam o seu acampamento de um lugar para outro, somente quando a nuvem que cobria o Tabernáculo (indicando a presença do Eterno) se erguia e indicava o caminho a ser seguido. Durante o dia, a nuvem; à noite, uma coluna de fogo (veja em Êxodo, 40.34-38; ou em Números, 9.15-23). E foram quarenta anos.

Antes de Jerusalém ser transformada por David na capital do reino, ainda no tempo de Samuel (um sacerdote, juiz, profeta, mediador, chefe de guerreiros), Deus, falando a Jeremias, equipararia Samuel a Moisés – Jer. 15.1 – a Arca ficou guardada num templo, em Silo, sob os cuidados da família de Eli, também sacerdote. Em Silo, Josué (que sucedera a Moisés) acampara o povo pela última vez (Josué, 18.1 e sgs.). Esse pequeno templo de Silo foi, presumidamente, destruído pelos filisteus (Jer. 7.11-12: “Será que vocês pensam que o meu Templo é um esconderijo de ladrões? Vão a Silo, o primeiro lugar que escolhi para nele ser adorado, e vejam o que fiz ali por causa da maldade de Israel.” Assim falou o Eterno.).

David, já consagrado rei, levaria a Arca da Aliança para Jerusalém (1 Crónicas 15.25-28). Tão alegre e festivo esteve David nesse cortejo (cantando e dançando com o povo), que Mical, sua esposa, filha de Saul, sentiu desprezo por ele (1. Cron., 15.29). Contudo o tabernáculo e o altar dos sacrifícios continuariam em Gabaon, visto que David caíra em desgraça aos olhos de Deus. Derramara sangue em abundância, fizera guerras em demasia e, por isso mesmo não poderia edificar em nome de Deus (ver I Cron. 22.6-19). Somente Salomão teria a glória de construir o Templo – o primeiro de Jerusalém, dada a existência de mais dois templos: o construído por Zorobabel, após o exílio na Babilónia, e o construído por Herodes.

Fontes extra bíblicas
Apesar das minuciosas descrições registadas na Bíblia, ainda não foi possível, contudo, ter certezas quanto a esse primeiro templo de Jerusalém. Não há registos extra bíblicos. As escavações arqueológicas ainda não apresentaram alguma prova válida da existência dessa obra. Explica-se tal ausência de restos arqueológicos à completa destruição que teria sido realizada por Nabucodonosor, ou à insuficiência de escavações no próprio sítio atribuído à localização do Templo. Esse lugar (santificado por diversas linhas religiosas) seria o hoje ocupado pela belíssima e muito sagrada Mesquita de Omar, ou o Domo da Rocha, onde Abraão, obediente a Deus, quase sacrifica seu próprio filho, Isaac (Gen. 22.1-19) – onde, de modo significativo, a tradição islâmica localiza Maomé subindo ao Céu (portanto mais do que justificada a recusa maometana em permitir escavações naquele local santificado). Contudo, não são encontrados, também, registos arqueológicos (monumentos comemorativos) da vitória de Nabucodonosor, como, por exemplo, podem ser encontrados registos do triunfo romano de Tito, seiscentos anos depois, destruindo o templo construído por Herodes (a terceira construção na série histórica).

Alúde-se ao célebre “muro das lamentações” como tendo sido parte da grande alvenaria de arrimo na esplanada do Templo. Contudo as determinações científicas de data, dali oriundas, dão ao muro idade próxima à década anterior ao nascimento de Cristo, tornando-a uma obra mais adequada de ser atribuída ao terceiro templo, destruído pelos romanos.

Contudo Salomão foi efectivamente um grande construtor. A sua época – historicamente considerada, arqueologicamente comprovada – foi de grande prosperidade. Um dos registos arqueológicos mais significativos dessa época, é o da cidade de Megido, um complexo notável, cavalariças com pilares em série, talhados em pedra calcária. Do tempo de Salomão, há ainda restos arqueológicos da fundição – refinaria de cobre em Ezion-Geber, produtora da matéria-prima que serviria de ornamentos e utensílios de bronze (que as narrativas bíblicas apontam ao Templo). Do mesmo modo, mesmo sem descobrimentos arqueológicos em Jerusalém, pelo resultado de outras escavações e estudo de documentos diversos (detalhes e documentação em Alex Horne, op. cit., Cap. IV, p. 37 e sgs.) é possível estabelecer conclusões quanto à arquitectura atribuída ao Templo de Salomão, no que se refere à ornamentação, disposição das dependências, técnica construtiva, comparando a tradição bíblica com restos arqueológicos de outros templos do Oriente próximo. São lições preciosas.

Conclusão
Enfim, o maçom é mestre na arte de compor oposições e não desprezará o repositório inesgotável de ensinamentos velados por alegorias que nos proporciona a história (ou a lenda) da construção do Templo do Rei Salomão. Não desprezará a tradição dos maçons operários, só porque a Arqueologia ainda não obteve provas irrefutáveis;  não se negará a tradição bíblica somente por insuficiência de escavações arqueológicas.

Jules Boucher, célebre obra “A Simbólica Maçónica” (trad. de Frederico O. Pessoa de Barros, Ed. Pensamento, S. Paulo, 9a. ed., 1993, p. 152): os maçons não tentam reconstruir materialmente o Templo de Salomão; é um símbolo, nada mais – é o ideal jamais terminado, onde cada maçom é uma pedra, preparada sem machado nem martelo no silêncio da meditação. Para elevar-se, é necessário que o obreiro suba por uma escada em caracol, símbolo inequívoco da reflexão. Tem por materiais construtivos a pedra (estabilidade), a madeira do cedro (vitalidade) e o ouro (espiritualidade). Para o maçom, ensina Boucher, “o Templo de Salomão não é considerado nem em sua realidade histórica, nem em sua acepção religiosa judaica, mas apenas no seu significado esotérico, tão profundo e tão belo“.

O Templo de Salomão é o templo da paz. Que a Paz do Senhor permaneça nos nossos corações!

Jacques Bergier - Melquisedeque

  Melquisedeque aparece pela primeira vez no livro Gênese, na Bíblia. Lá está escrito: “E Melquisedeque, rei de Salem, trouxe pão e vinho. E...