quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Grau 31 – Grande Inspector Comendador

 

Personagens do Grau 31 do REAA

O deus egípcio Osíris é um importante personagem estudado no Grau 31 do Rito Escocês Antigo e Aceito.

A sua figura, maçonicamente, simboliza o julgamento ao qual todos seremos submetidos após a morte. Era considerado, no Antigo Egipto, o deus do Além, ou da Eternidade.

Osíris era o filho primogénito da deusa Nut (o Céu) com o deus Geb (a Terra) e tinha como irmãos o deus Set (ou Seth) e as deusas Ísis e Néftis.

Apesar da sua origem divina, a mitologia afirma que, antes de se tornar o deus da Eternidade, Osíris governou as terras do Egipto, milénios antes de Menés (ou Narmer), o primeiro faraó.

Na sua forma terrena, o deus do Além era negro e possuía um porte físico muito superior ao dos seres humanos.

Osíris teria assumido, na cidade de Tebas, o governo das terras egípcias das mãos do deus Rá (o Sol), ou do deus Shu (o Ar Seco). Posteriormente casou-se com a sua irmã, a deusa Ísis. O deus Set (ou Seth), seu irmão, casou-se com a outra irmã, a deusa Néftis.

Diferentemente de Osíris, ao deus Set coube apenas o governo dos oásis existentes no deserto egípcio. Este cargo de menor prestígio resultou num permanente ódio de Set contra o seu irmão Osíris.

Conta a tradição que, quando assumiu o Egipto, a sua população encontrava-se em estado de selvageria. Apesar de viverem às margens do rio Nilo, não reconheciam as plantas comestíveis e os alimentos eram escassos, chegando a praticarem a antropofagia.

Teriam sido os deuses Osíris, Ísis e Néftis os responsáveis por ensinarem ao povo os primeiros passos que os levariam a se tomarem uma civilização.

Conforme a mitologia, Ísis teria ensinado aos egípcios como deveriam constituir e conviver em família, bem como as técnicas de tratamento dos doentes. A deusa Néftis coube ensinar a tecelagem e a confecção de pães.

Osíris, que também era o deus da vegetação, ensinou aos homens quais plantas serviriam como alimentos, entre elas: o trigo, a videira e a cevada. Ensinou também as técnicas de semear, colher, moer os grãos, prensar uvas para fazer o vinho, obter a cerveja a partir da cevada e extrair metais da terra (como ouro, o cobre e o ferro).

A tradição egípcia afirma que Osíris construiu com as próprias mãos a primeira enxada. O período de Osíris à frente do povo egípcio é considerado como a Idade do Ouro do Antigo Egipto e remonta aproximadamente ao quinto ou sexto milénio antes da Era Cristã.

À luz da filosofia maçónica, é possível considerar que o deus Osíris, durante o seu período junto aos homens, desempenhou um papel emancipador, usando a educação, o trabalho e os valores ligados à família, como as ferramentas do seu esforço civilizatório.

Segundo tradições que remontam aos Textos dos Sarcófagos (ou Livros dos Sarcófagos), Osíris e a sua esposa Ísis, governaram o Egipto por mais de cinquenta anos, conduzindo o país com justiça, promovendo o progresso e desfrutando da grande admiração de todo o povo.

Os principais rivais de Osíris eram o seu irmão Seth, que tinha sido relegado a governar no deserto, e os seus setenta e dois seguidores.

Com o intuito de se livrar de Osíris e assumir o governo de todo o Egipto, Seth convidou o rei-deus para um banquete, no qual homenagearia ricamente a realeza do Egipto e presentearia o seu irmão Osíris.

No decorrer da festa, Seth exibiu no salão um cofre feito com cedro, finamente decorado em ouro e preparado com as dimensões do rei.

O cofre seria oferecido ao convidado que melhor coubesse no seu interior. Diversos convidados entraram e saíram do interior da uma, mas a mesma era grande demais. Chegada a vez de Osíris, ele se deitou e coube exactamente nas medidas do cofre. Seth e os seus comparsas, de imediato, fecharam a uma com uma pesada tampa e selaram-na com metal derretido, prendendo Osíris no seu interior. Agindo com grande violência, Seth e os seus cúmplices atiraram o cofre no rio Nilo, que o arrastou rapidamente para um local desconhecido.

A partir daí, Seth e os seus seguidores assumiram o poder no Egipto e deram início a um reinado terror. Realizaram perseguições a todos aqueles que tinham apoiado o seu irmão, obrigando os deuses Anúbis e Thoth, bem como a rainha Ísis, grávida de Osíris, a se esconderem.

Com o objectivo de procurar o corpo do seu marido, a rainha segue rio abaixo, escoltada por sete escorpiões, e dirige-se para a região do delta do Nilo (região onde o rio Nilo desagua no Mar Mediterrâneo), localizada no Baixo Egipto.

Após alguns dias de caminhada, a deusa chegou na cidade de Buto, onde deu à luz ao deus Hórus (deus com corpo humano e a cabeça de falcão).

A criança, logo após o nascimento, ficou sob os cuidados da deusa-serpente Uadite, que reinava sobre o delta do Nilo, a fim de que a sua mãe continuasse as buscas do corpo do deus Osíris.

O cofre com o corpo de Osíris foi arrastado até a cidade fenícia de Biblos, e dele nasceram galhos que cresceram milagrosamente e deram origem a uma grande árvore de acácia.

De tal modo cresceu a árvore que encobriu totalmente o cofre em que se encontrava o corpo de Osíris. Malcandre, rei de Biblos, ao ver a árvore monumental, mandou cortá-la, a fim usá-la como coluna decorativa para o seu palácio.

Ísis toma conhecimento do paradeiro da arca e, transformada em andorinha passa a voar em torno da coluna, emitindo gritos de dor.

A fim de se poder aproximar do palácio, Ísis transforma-se numa bela mulher e passa a conviver com as empregadas da rainha de Biblos, que ficam encantadas com o conhecimento, a beleza e a sabedoria daquela mulher. Os comentários das servas são tantos que, a rainha convida Ísis para ser a responsável por cuidar do jovem príncipe, seu filho. Numa noite, ao entrar no quarto do príncipe, a rainha o vê cercado por chamas e por sete escorpiões. Assustada, a rainha mobiliza todo o pessoal do palácio em socorro do seu filho, Ísis, com um gesto mágico, interrompe as chamas e retira os escorpiões do quarto. Tratava- se de um antigo ritual egípcio de purificação, visto que Ísis pretendia conceder ao príncipe a imortalidade.

Os reis, admirados, reconhecem em Ísis a poderosa deusa do Alto Egipto e se colocam à sua disposição. Ísis reivindica para si a coluna feita com o tronco de acácia e corta o pilar de madeira, liberando o caixão do marido que se encontrava no seu interior.

A deusa transporta dali a arca e a esconde numa região pantanosa no delta do rio Nilo. Dali, volta para a cidade de Buto, para encontrar o seu filho Hórus (ou Harpócrates, para os gregos).

Após a deusa Ísis esconder o caixão com o corpo do seu marido e partir para a cidade de Buto, o deus Set, que se encontrava numa caçada na região do delta do rio Nilo, foi alertado que tinha sido encontrada, num local próximo, uma arca semelhante àquela que tinha aprisionado o deus Osíris.

Set partiu imediatamente para o local indicado e lá, vendo que se tratava do cofre com o cadáver do seu irmão Osíris, abriu-o violentamente, dilacerou o corpo em pedaços e espalhou-os em diferentes lugares do Egipto.

A deusa Ísis, ao tomar conhecimento da descoberta do caixão, retomou à região do delta do rio Nilo, junto com a deusa Néftis e iniciaram a busca das partes do corpo despedaçado.

Em cada local onde as deusas encontravam uma parte de Osíris era erigido um templo em honra à deusa Ísis.

Ao final da busca, Ísis conseguiu reunir quase todas as partes do cadáver do marido. A parte do corpo que faltava, o pénis, tinha sido comida por um caranguejo (animal considerado impuro para os antigos egípcios e, pelo seu crime, condenado a viver eternamente na lama).

Usando o barro existente nas margens do rio Nilo, a deusa Ísis molda um pénis e assim, comovida, completou o corpo do marido.

Os choros de Ísis e Néftis emocionam os deuses Thot (deus da magia) e Anúbis (deus das mumificações) que, juntos com Ísis e Néftis, deram início a um longo ritual místico.

A demorada cerimónia incluiu a realização de encantamentos, a pronúncia de palavras sagradas e a aplicação de amuletos.

Ao final do ritual mágico, o deus Osíris despertou para uma nova vida.

Apesar de ter obtido a ressurreição mística, o deus não poderia voltar à vida terrestre, pois o seu corpo divino agora se encontrava incompleto.

Osíris, o grande governante do Alto e do Baixo Egipto, tornou-se, deste modo, o primeiro deus egípcio a perder o direito a uma vida terrena, passou, então, a ocupar o cargo de governador e juiz do reino dos mortos, onde construiu um palácio e instalou o seu tribunal.

O Tribunal de Osíris
O Tribunal de Osíris é um importante tema analisado no Grau 31, cujos estudos remetem à Antiga Mitologia Egípcia.

Esta corte mitológica, descrita no Livro dos Mortos, representava o conjunto de alegorias pelas quais os antigos egípcios acreditavam que se aplicava a Justiça Final após a morte. Nos estudos realizados no Grau 31, é descrita a formação do tribunal divino egípcio, relatando-o como uma corte que avaliava os actos de cada pessoa no decorrer da vida. Este colegiado, presidido pelo deus Osíris, era formado por 42 deuses-juízes e se reunia num local chamado Sala das Duas Verdades.

O morto ao chegar ao Tribunal de Osíris, era conduzido pelo deus Anúbis, que lhe retirava o coração, centro da sua consciência, e o colocava num dos pratos de uma balança onde, no outro prato estava colocada uma pena de avestruz (símbolo de Maat, deusa da Verdade). Caso o coração do morto fosse mais pesado que a pena, era decretada a condenação e o condenado tinha a sua alma devorada por Ammit (ou Amut).

O deus Toth anotava o resultado obtido na medição e o deus Hórus o encaminhava a Osíris. Caso o morto fosse absolvido, ele reencarnaria no seu próprio corpo e seguiria, juntamente com os seus pertences, para um paraíso conhecido como Aaru. Daí resulta a importância da mumificação para aquele povo.

À luz da filosofia maçónica, o Tribunal de Osíris é uma importante alegoria do Grau 31 que tem, entre outros significados, o simbolismo de que a Verdade e a Justiça são os caminhos que devem orientar a vida do Homem na sociedade, consolidando a máxima de que “a Justiça é a Verdade em acção”.

Tribunal do Santo Vehme
Entre os estudos do Grau 31 está a descrição e o entendimento da Santa Vehme, ou Santa Veheme (em alemão Vehmgericht), também chamado Liga da Corte Sagrada.

Este Soberano Tribunal teve a sua origem relacionada ao período da Europa medieval no qual ocorreram diversas migrações e invasões dos povos bárbaros para o território de Roma.

Paulatinamente, o Império Romano entrou em decadência, com isso os seus estatutos, instituições e formas de administrar a sociedade foram, em grande parte, desintegrados, resultando que, em diversas áreas do Antigo Império, se espalhassem a criminalidade, a desordem e a ilegalidade.

A Santa Vehme (ou Santa Feme) nasce nesse contexto, como um conjunto de tribunais secretos, organizados com o objectivo de reprimir as desordens e os crimes. Os seus membros tinham como tarefa a aplicação sumária da sua justiça sobre os considerados culpados. Este tribunal surgiu inicialmente no período do reinado de Carlos Magno (768 d.C. a 814 d.C.), entrando posteriormente em declínio. A Santa Vehme ressurgiu no século XII, na região da Vestefália, especialmente na cidade de Dortmund, na actual Alemanha. Os deus juízes tinham o título de franco-juízes e eram desconhecidos. Também eram sigilosos: o transcorrer do processo, os nomes dos acusadores e a sentença. Os julgamentos ocorriam sob a invocação divina e visavam também coibir os delitos cometidos contra a Igreja, daí a denominação de “Santa”. Já o vocábulo “vehme” origina-se do alemão e significa “condenar”. A principal pena aplicada pelos tribunais fémicos era o enforcamento, sendo comum se afirmar que a forca era tão mais alta, quanto mais alta fosse a posição social do condenado.

Com o fim da Idade Média e a formação dos estados nacionais, os países recém-criados consolidaram poderes judiciários organizados e independentes. Com isso, os tribunais fémicos perderam progressivamente espaço para a actuação e a razão de existirem.

Cabala - Aleph e seus Significados


A letra א Aleph, é a primeira das letras do alfabeto hebraico. Em termos gerais א representa a unidade divina, o princípio primordial, a causa primeira de todas as coisas. Ela contém em si mesma a potencialidade de todas as letras e de todo o universo. É o silêncio e o vazio antes da criação mas no qual tudo que vai existir já existe. O mistério primordial que está além das palavras e conceitos humanos.


A cabala descreve a construção de א por uma letra י (Yod) acima, um י (Yod) abaixo e uma letra  ו (Vav) inclinada conectando-a e separando-a simultaneamente. Algo muito parecido com o símbolo da divisão aritmética (÷), com a diferença de que em א os elementos do simbolos estão unidos entre si.


Este detalhe como veremos faz toda diferença pois a Cabala nos diz que א representa não a separação, mas a potência da dualidade (e portanto da existência tal como conhecemos). Assim Aleph é semelhante a outros símbolos de integração e unificação como o Selo de Salomão e o Taijitu chinês, pois nele os opostos são existentes mas não separados.


Observe com atenção o formato da letra. Moshe Cordovero ensina que o “Yod” superior representa Deus, o “Yod” inferior representa o ser humano e o “Vav” inclinado representa a Torá, ou as Mitsvoh seja, as Leis Divinas que conecta ambos. Note que o inicio dos Dez Mandamentos (Shemot 20:2) começa com א, a primeira letra da palavra אנכי – Anochi (“Eu”):


״אָנֹכִי יְהוָה אֱלֹהֶיךָ, אֲשֶׁר הוֹצֵאתִיךָ מֵאֶרֶץ מִצְרַיִם מִבֵּית עֲבָדִים״


“Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.”


O Vav pode ser entendido também com um espelho no qual Deus reflete “sua imagem e semelhança.” Mas a ideia da unidade dentro da pluralidade percorre todo o א, e vai muito além da forma física da letra. Outra maneira de ver isso é por seu valor numérico. א é igual a um, mas o significado literal da palavra אלף (Eleph) é mil (1000). 1 representa o início de todo processo, o que chamaremos de causa primeira, 1000 são todos as causas e efeitos que partiram de 1. Modernamente isso se tornou muito mais fácil de entender após o desenvolvimento do sistema binário. Todos os computadores são baseados em uma série interminável de zero e um. Por mais que o computador pareça muito complicado (1000), na verdade é baseado na presença e ausência de 1.


Assim uma das lições iniciais de א é também o a lição mais importante da Cabala: a interconexão de todas as coisas. Ao comtemplar a forma e valor numérico desta letra nos lembramos de reconhecer Deus em todas as coisas e assim estabelecer uma conexão e um equilíbrio entre as dimensões material e espiritual de nossas vidas.


Deus e Adam Kadmon

 “Shemá Yisrael, Ado-nai Elohenu, Ado-nai Echad”

(Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o Senhor é Um).

Devarim 6:4.


Em uma primeira leitura o Shema mostra que Adonai não é um Deus mas o único Deus. Uma leitura mais profunda nos diz que Deus não é apenas o único Deus, mas tudo o que foi criado é com ele Uno. A unidade na pluralidade tudo permeia.


Essa ligação ou paradoxo inclui a união/dualidade de Deus e do Ser Humano: Todos os nomes de Deus, mais nomes começam com a letra א do que qualquer outra letra: אֱלֹהִים (Elohim) , אֵל (El) , אֱלוֹהַּ (Eloah), אֵל שַׁדַּי (El Shaddai), אֲדֹנָי (Adonai) אֶהְיֶה (Ehyeh). Além disso, existem muitos epítetos usados para descrever Deus, como אדיר (Adir/Glorioso) e אדון (Adon/Mestre), razão ela qual a tradição ensina que Aleph, é uma letra muito piedosa.


Mas א também é a primeira letra de אָדָם קַדְמוֹן (Adam Kadmon), o Ser Primordial, o primeiro ser humano criado antes da separação homem-mulher. Conta a narrativa da criação que ele foi criado diretamente de אדמה (Adamah/Terra) para então receber uma alma vivente. א é também a primeira letra de אני (Eu) e אֶגוֹ (Ego) e אנכי (Eu enfático), três palavras usadas para se referir a senciência, a identidade pessoa, o senso de si mesmo.


No nível das almas, representa-se a unidade das almas. Foi-nos dito que, embora todos nós tenhamos almas individuais, e essas almas estejam conectadas a raízes de alma cada vez maiores, em última análise, todas as almas são concebidas como uma grande alma unificada. E mesmo esta grande alma unificada de a alguma maneira participa da natureza do Eterno.


Cabalisticamente o povo de Israel é o povo que aceitou essa unidade. No Shabbat Mincha dizemos algumas palavras extraídas de 2 Samuel 7:22-23 (glifo nosso)


Portanto, grandioso és, ó Senhor Deus, porque não há semelhante a ti, e não há outro Deus senão tu só, segundo tudo o que temos ouvido com os nossos ouvidos. E quem há como o teu povo, como Israel, gente única na terra.


E a benção final do Shabbat Mincha diz:


Abençoado és Tu, ó Eterno, nosso Deus, Rei do Universo, que faz separação entre o sagrado e o profano, entre a luz e as trevas, entre Israel e as nações, entre o sétimo dia e os seis dias de trabalho. Abençoado és Tu, ó Eterno, que fazes separação entre o sagrado e o profano. Amém.”


Há aqui outro paradoxo pois Israel é o povo que se separa dos outros povos por ser o povo que entende a unidade de tudo. Assim, o significado básico do א é o Deus infinito e uno relacionando-se com um mundo finito de dualidades e especialmente com o homem, e buscando a unidade dentro da pluralidade.


No Zohar


O Zohar relata que antes da Criação, cada letra do alfabeto veio diante de Deus, pedindo para ser a escolhida para iniciar o processo de criação. As letras se apresentavam em ordem inversa: primeiro veio ת – tav, a última letra do alfabeto. a seguir veio ש – shin, a penúltima letra do alfabeto, depois ר – resh, e assim por diante, até ב – bet, segunda letra do alfabeto, que inicia a palavra ברכה – beracah, “bênção”.


Bet implorou: “Que o mundo seja criado comigo, para que todos os seres me usem para abençoar a Deus”. E Deus consentiu.


Então Deus perguntou ao א, a primeira letra do alfabeto, que ainda não havia pronunciado uma palavra, por que estava em silêncio. א respondeu que em um mundo de pluralidade não havia lugar para ela, já que o valor numérico do א é 1.


Aqui א demonstra um profunda “Anavah” (Humildade) um conceito que Rabbi Yehuda Ashlag sempre destacou como importantíssimo. Anavah nos ensina que reconhecer nossa pequenez diante do Infinito e essencial para nos conectar com a força divina.


A história continua com Deus tranquilizando א, dizendo que mesmo que o mundo fosse criado com ב (Bet), א ainda seria a rainha do alfabeto. Ele disse: “Não tenha medo, א, você é um, e eu sou Um. Eu quero criar o mundo para que Meu espírito de unidade habite lá através do estudo da Torá e do cumprimento das mitsvot (os mandamentos).


A percepção da unidade de Deus que Apeh representa é ainda sugerida pela palavra hebraica פלא (“maravilha”), uma Temurah (Permutação) da palavra “Eleph”, um lembrete de como o Eterno estando disfarçado em cada detalhe da criação gera sentimentos de admiração e reverência.


No Sefer Yetzirah

A luz e a misericórdia de Deus são derramadas principalmente na criação por meio do ar, o principal veículo que Deus usa para manter a criação viva. É do conhecimento geral que um ser humano pode sobreviver dias sem beber ou comer, mas apenas alguns minutos sem respirar.


Por esta razão, o Sefer Yetzirah associa o Aleph (que é categorizado como uma das três “letras mãe”) com o Ar.


A palavra אויר (Avir/Ar) é composta por todas as letras encontradas na palavra אור (Ór/Luz) mais a letra י (Yod), cujo valor numérico é 10, fazendo alusão às 10 Sefirot (“emanações divinas”) da Criação, originado em Um. O Sefer Yetzirah afirma:


Três Mães: א (Aleph), ם (Mem) e ש (Shin)  que no ano são o quente, o frio e o temperado.

O quente (ש) é criado a partir do fogo

O frio (ם) é criado a partir da água

E o temperado (א) da respiração, que decide entre eles.

Três Mães na alma, masculina e feminina, são a cabeça, a barriga e o peito.

A cabeça é criada a partir do fogo.

A barriga é feita de água,

E o peito da respiração, que decide entre eles.


Mais uma vez temos aqui א associado à unidade, mas não a uma unidade fixa e parada, mas sim um equilíbrio temperado (em oposição aos extremos de quente e frio). Sefer Yetzirah nos diz que א está enraizado na respiração e no peito. Por isso quando os desequilíbrios emocionais, perturbações intelectuais ou compulsões do corpo fazem com que percamos nosso centro, respirar profundamente nos traz de volta ao nossa visão clara da realidade enquanto recuperamos nosso estado natural e saudável de iluminação


A letra א e a respiração

A respiração correta mantém nosso equilíbrio e apoia nossas escolhas justas e éticas entre fogo e água. Ao inspirar, extraímos inspiração e nutrição do ar e dos céus. Quando expiramos, liberamos o que não é mais necessário.


O relato de Bereshit mostra que para tornar o primeiro ser humano criado do barro em uma alma vivente Deus, soprou em suas narinas o fôlego da vida. De acordo com numerosas fontes judaicas, a respiração profunda é vista como um instrumento-chave para entrar em contato com o Divino dentro de nós.


Também não é por acaso que o Livro dos Salmos termina com o versículo Kol ha’neshamah tehallel Kah: (“Toda alma louvará a Deus”) pois faça o que fizer, toda alma vivente dá testemunho do “Eu sou”. O Midrash nos convida a ler este versículo não como “Toda alma louvará a Deus – kol ha’neshamah הנשמה – mas como הנשימה: “Toda respiração louvará a Deus” – kol ha’neshimah.


De fato, um dos Nomes de Deus é Arich Apayim, que significa literalmente “Respiração Longa” (embora seja geralmente traduzido como “paciente”, “lento para a ira”). Ao imitar Deus com a respiração profunda, permitimos que o elemento ar tempere entre o excesso de água e o fogo (nossas emoções descontroladas), nos retorne ao ponto zero da criação e nos restabeleça o equilíbrio.

Conexão entre a Cabala e o Tantra


Quando você ler isto, já terei viajado e retornado do Havaí – não para umas férias, mas para dar um workshop sobre o tema do Sri Yantra, um diagrama importante para os praticantes de alguns caminhos do Tantra. Sua imagem principal é a de nove triângulos de tamanhos diferentes que se sobrepõem, com quatro apontando para cima e cinco apontando para baixo, rodeados de pétalas de lótus simbólicas, círculos, e um “quadrado” externo.


O Sri Yantra:


Agora, a pergunta que alguns leitores podem estar fazendo é: “O que um bom Cabalista como Kraig está fazendo com essas coisas sexuais do Tantra? Na verdade, a resposta é dupla. Primeiro, o Tantra não é apenas “coisa de sexo”, mesmo que essa seja a opinião da maioria dos ocidentais. O Tantra é um sistema espiritual completo que se originou há milhares de anos no nordeste da Índia. Dos antigos prototântricos evoluíram os conceitos dos chakras, kundalini, um tipo de astrologia, técnicas de cura (incluindo acupuntura), vastu (a fonte do feng shui), artes marciais, e muito mais. Tem um sistema filosófico complexo, rituais, técnicas de adivinhação, divindades e uma abordagem única do Divino. E sim, como em qualquer sistema espiritual completo – como o judaísmo, cristianismo, islamismo, budismo, etc. – ele tem ideias sobre sexualidade.


O Tantra foi apresentado pela primeira vez ao Ocidente no final do século XIX. Este foi o período vitoriano, uma época de repressão sexual. Entretanto, muitos ocidentais sentiram que não havia problema em discutir a sexualidade de outros povos. Como resultado, eles se concentraram nos aspectos sexuais do Tantra. Isso é como comprar um carro novo e apenas falar sobre o pára-choque traseiro. O Tantra é muito mais do que sexo.


Segundo, Tantra e kabalah não estão tão distantes assim! No volumoso livro The Jewish Mind (A Mente Judaica) de Rafael Patai (conhecido por muitos por seu livro The Hebrew Goddess (A Deusa Hebraica)), o autor mostra que a cabala “se parece com … certas escolas hindus”. Sua referência, aqui, é a certos caminhos Shaivitas (orientados a Shiva) que são formas iniciais do Tantra. Patai não vai dizer que eles estão relacionados porque não há provas escritas que apoiem isso e, como o Tantra é anterior ao judaísmo, ele não quer implicar que o judaísmo místico veio da Índia. Mas ele afirma que, como ambos se desenvolveram, certamente houve comunicação entre as áreas.


Em minha opinião, faz perfeito sentido para os cabalistas – e seguidores de qualquer caminho mágico – estudar o Tantra tradicional ou clássico. O problema é que a maioria dos livros sobre o Tantra disponíveis no Ocidente se concentra no sexo (mais precisamente, isso se chama Neo-Tantra) e não em uma ou mais das tradições espirituais antigas completas.


É por isso que estou muito feliz que o Dr. Jonn Mumford tenha escrito vários livros revelando aspectos do pensamento tântrico. Eu gostaria de falar sobre alguns deles.


Talvez seu livro mais famoso seja “Ecstasy Through Tantra (O Êxtase Através do Tantra)”. Este é único em todo o campo, pois compara claramente conceitos e caminhos ocidentais e tântricos. Ele também inclui informações sobre o Tantra tradicional e o Neo-Tantra. É uma maravilhosa introdução ao assunto (e tenho orgulho de dizer que escrevi um capítulo para ele).


O próximo livro dele que eu recomendo altamente é A Chakra and Kundalini Workbook (Livro de Exercícios do Chakra e Kundalini). Este é literalmente um curso sobre como mudar sua vida. Você não só aprende sobre os chakras e a Kundalini, mas também como trabalhar com eles. Ele apresenta inúmeros exercícios e diagramas que o ajudarão nestas práticas. Para informações adicionais e trabalho nesta área, sugiro a excelente Kundalini for Beginners (Kundalini para Iniciantes) de Ravindra Kumar e as Wheels of Life (Rodas da Vida) de Anodea Judith.


Muitas pessoas estão direta ou indiretamente envolvidas com as técnicas da Ordem Hermética do Amanhecer Dourado. O grupo introduziu o conceito dos Tattwas no Ocidente (embora tudo tenha sido retirado de um livro publicado pelos teosofistas). Os Tattwas são antigos símbolos tântricos dos elementos usados para mudar para melhor sua mente, corpo e espírito. Você pode obter um conjunto colorido dos símbolos Tattwa, juntamente com instruções sobre como usá-los para o desenvolvimento espiritual, estimulação dos chakras, adivinhação, a redução da ansiedade, negatividade, etc. com as Cartas Mágicas Tattwa. As cores das cartas são tão precisas que é aconselhável mantê-las na caixa quando não forem usadas para que as cores não se desvaneçam com a exposição à luz. Esta é uma ferramenta muito especial e poderosa. Uma versão ocidental, combinando os Tattwas e a Magia Enoquiana, é encontrada em The Golden Dawn Enochian Skrying Tarot da Chic e Sandra Tabatha Cicero e Bill e Judi Genaw.


Uma coisa que muitas pessoas ignoram é um brilhante workshop em cassete do Dr. Jonn Mumford & Jasmine Riddle sobre o tema da Yoga Nidra. Esta é uma técnica antiga de estar consciente no estado mais profundo do sono. Quando você medita, está em um estado de consciência que está próximo ao estado de vigília. Você pode ter imagens, emoções e sentimentos passando por você, mas você ainda está muito desperto. Na yoga nidra, você vai além do estado de vigília e do sonho para o estado mais profundo do sono – mas você permanece alerta. Isto não só é relaxante, mas permite que você purifique os aspectos mais profundos de si mesmo que o levam a fazer coisas que geram carma indesejado. Como resultado, ele acelera seu desenvolvimento espiritual. Esta fita o guia com meditação e visualização, usando narração, música e mantras. Depois de ouvir a Yoga Nidra apenas uma vez, você vai querer usá-la com frequência.


Karma é uma palavra sânscrita que se traduz diretamente como “ação”, e no uso espiritual se refere à lei de causa e efeito. Tudo o que você faz resulta em consequências que podem ser sentidas em um minuto, uma hora, um ano ou muitas vidas a partir de agora. Muitas formas ocidentais de espiritualidade adotaram o conceito de carma, seja em sua forma original ou em versões modificadas. Por exemplo, a “Lei Tríplice” Wiccana, segundo a qual tudo o que você fizer eventualmente voltará a você três vezes é uma modificação desse tipo. No livro de Mumford, The Karma Manual, você descobrirá os diferentes tipos de carma e como você o cria. Mais importante, o livro inclui exercícios simples para ajudá-lo a descobrir e processar seu carma, para que você não tenha que lidar com ele no futuro.


Se o conceito de carma lhe interessa, outra ferramenta única para descobrir seu carma e trabalhar com ele pode ser encontrada no livro Karmic Palmistry de Jon Saint-Germain. Palmistry tem uma longa história com o Tantra (tenho vários livros raros importados da Índia sobre o assunto, incluindo um que tem todo um sistema que funciona exclusivamente com o polegar), e este livro não é apenas sobre adivinhação. Ao contrário, ele usa a quiromancia para ajudá-lo a descobrir o caminho único de desenvolvimento espiritual que é ideal para você.

Cabala no Judaísmo e a Reencarnação


Judaísmo e Reencarnação – Kabbalah sobre judaísmo e reencarnação.


Quão prevalente é a crença judaica na reencarnação hoje? Como ela difere da crença asiática? O que os rabinos acham disso?


A raiz da palavra “Torá” é o verbo “instruir”. A função primária da Torá é nos ensinar como viver judaicamente, em harmonia com a vontade de D’us. Como tal, os níveis básicos de interpretação das escrituras levam a uma compreensão prática das mitsvot e dos valores judaicos relacionados.


A Torá, no entanto, é um documento de várias camadas. Muitos de seus níveis mais profundos de interpretação não são facilmente acessíveis; e podem não se prestar à aplicação prática e óbvia na vida diária. Como tal, esses aspectos mais esotéricos da Torá não são de interesse para segmentos significativos da população judaica, incluindo alguns rabinos e estudiosos.


Consequentemente, muitos judeus ficam surpresos ao saber, ou podem até querer negar, que a reencarnação – a “revolução” das almas através de uma sucessão de vidas, ou “gilgulim” – é parte integrante da crença judaica. Mas esse ensinamento sempre existiu. E está firmemente enraizado nos versos-fonte.


Exemplos não faltam. Ramban, um dos maiores comentaristas da Torá (e do Talmud), e uma figura seminal na história judaica, insinua várias vezes que a reencarnação é a chave para penetrar nos profundos mistérios envolvidos na mitsvá de yibum (a obrigação do irmão de um homem sem filhos, falecido para se casar com a viúva). Em sua explicação de Gn 38:8, ele insiste que Yehudah (Judá) e seus filhos estavam cientes do segredo da reencarnação, e que este foi um fator importante em suas respectivas atitudes em relação a Tamar.


A compreensão judaica da reencarnação é diferente das doutrinas budistas. Não leva de forma alguma ao fatalismo. Em cada ponto de decisão moral em sua vida, um judeu tem total liberdade de escolha. Se não fosse pela liberdade de escolha, quão injusto seria de D’us fazer exigências de nós – especialmente quando recompensa e punição estão envolvidas! A reencarnação não implica pré-determinação. É, antes, uma oportunidade para retificação e perfeição da alma.


O santo Ari explicou de forma mais simples: todo judeu deve cumprir todas as 613 mitsvot, e se ele não tiver sucesso em uma vida, ele volta várias vezes até terminar. Por isso, os acontecimentos da vida de uma pessoa podem levá-la a determinados lugares, encontros, etc., de maneiras que podem ou não fazer sentido. A providência divina fornece a cada pessoa as oportunidades de que ela precisa para cumprir aquelas mitzvot particulares necessárias para a perfeição de sua alma. Mas a responsabilidade é nossa. No momento real da decisão em qualquer situação, a escolha é nossa.


Uma das maneiras pelas quais o céu mantém nossa capacidade de exercer total liberdade de escolha é não nos permitir o conhecimento consciente de encarnações anteriores. Consequentemente, pode parecer a algumas pessoas que há pouco benefício prático em estar ciente dessa doutrina. Além disso, muitos estudiosos afirmam que esses conceitos místicos podem ser facilmente mal interpretados ou levados a conclusões errôneas e enganosas. Podemos, portanto, entender por que este e assuntos semelhantes são apenas insinuados nas escrituras, e por que algum conhecimento e muita determinação são frequentemente necessários para obter acesso a essas informações.


(A edição em inglês de “Derech Hashem” de Rabi Moshe-Chaim Luzzatto, “O Caminho de D’us”, traduzido por Aryeh Kaplan (Feldheim, 1983), II:3:10 (página 125) mais notas 39- 40 (pp. 342-3) fornece uma lista em inglês de fontes da Torá sobre este tópico tanto nas escrituras quanto na Cabalá.)

Escada de Jacó e os Quatro Mundos da Cabala


O SONHO

O texto fundamental da Cabalá, o Zohar, ensina que a escada de Jacó era uma metáfora para a experiência da oração (aliás, as palavras hebraicas para “escada” e “voz” – “sulam” e “kol” – representando a voz da oração, compartilham um valor numerológico idêntico de 136). A oração constitui a escada pela qual um ser humano sobe de sua existência limitada à terra para estados mais profundos de consciência, até tocar o celestial no âmago da alma humana.


O Midrash (citado em Yalkut Reuvani e Megaleh Amukot 1) no verso transmite uma tradição oral de que a escada no sonho de Jacó consistia em quatro degraus, que, segundo o místico rabino Isaiah Horowitz, conhecido como “Shelah” (1560-1630), incorporou os Quatro Mundos da Cabala.


Enquanto os filósofos falavam de três universos – o planeta terra, o império galáctico e o reino do espírito puro representado pelos anjos – os místicos judeus falam de quatro paradigmas existenciais. Eles ensinaram que nosso universo terrestre, descrito como “o mundo da Ação” (Asiya) evoluiu de três formas de existência mais elevadas e mais espirituais, conhecidas como o mundo da “Formação” (Yetzira), o mundo da “Criação” (Beriya) e o mundo da “intimidade” (Atzilut).


O rabino Horowitz explica que “uma escada gravada na terra” representa o mundo de Asiya; “Anjos de D’us descendo e subindo nele” simbolizam os mundos de Yetzira e Beriya, povoados por duas formas distintas de anjos; e “D’us de pé sobre ele” é uma metáfora para o quarto e mais alto universo – o mundo de Atzilut.


Existe uma maneira de ligar a interpretação do Zohar de que a escada representa a oração e a interpretação do rabino Horowitz de que a escada representa mundos diferentes?


A ESCALADA DIÁRIA

A resposta é sim. A Oração da Manhã, também, é dividida em quatro seções, que segundo o grande místico Rabi Isaac Luria (1534-1572), ou Arizal, correspondem aos mesmos quatro mundos acima mencionados.


Nos capítulos iniciais do “portal de oração” (em Pri Etz Chaim) o Arizal explica que a divisão das Orações da Manhã em quatro seções corresponde a uma progressão ascendente através dos quatro mundos, começando com Asiya e culminando em Atzilut.


Durante o início das orações, até uma seção conhecida como “Baruch Sh’amar”, o adorador sobe o primeiro degrau da escada espiritual, cultivando o universo microcósmico de Asiya dentro de sua psique. Na segunda seção da liturgia, conhecida como “Pesukei d’Zimra”, o indivíduo ascende ao segundo degrau da escada, encontrando o mundo microcósmico de Yetzira. Subsequentemente, durante a recitação do Shema e suas bênçãos precedentes, o adorador entra no universo de Beriya e, então, finalmente, durante a silenciosa Oração Permanente, ele ou ela encontra a intimidade cósmica com o mundo de Atzilut.


O que isso significa é que todas as manhãs somos convocados a subir a escada de Jacó e cultivar nossos quatro mundos microcósmicos que residem em vários estratos de nossa identidade. Somente após essa intensa meditação e jornada emocional podemos enfrentar a rua movimentada com a visão e a coragem necessárias para iluminar o mundo ao nosso redor com bondade e amor.


Estes são conceitos abstratos, metafísicos. Como podemos aplicar a doutrina dos “quatro mundos” à nossa vida pessoal? Como podemos acessá-los diariamente?


A resposta é tudo menos simples. A Cabalá a vê como a tarefa de uma vida inteira dedicada ao estudo, meditação e intenso refinamento ético e espiritual pessoal. O que se segue é um pequeno fragmento desse vasto e esplêndido edifício do pensamento místico judaico.


ASIYA – O MUNDO DA AÇÃO

O primeiro passo em direção ao crescimento genuíno requer que você assuma o controle de seu “mundo de ação” interior (Asiya), tornando-se consciente de seus padrões de comportamento e conduta do dia a dia e de hora a hora, e introduzindo as mudanças criticamente necessárias que você precisa. precisa fazer em sua agenda.


As mudanças podem ser na área do comportamento social (ou seja, evitar fofocas, calúnias e brigas), em seus relacionamentos comerciais (ou seja, eliminar a desonestidade e a trapaça) ou em sua vida pessoal (cessar o comportamento sexual imoral, enfrentar vícios, controlar sua inclinação ao jogo , etc). O passo inicial para subir a “escada de Jacó” é o compromisso de mudar hábitos indesejáveis ​​em um nível tangível e comportamental.


Esta é a função principal da primeira seção da Oração da Manhã, na qual lemos sobre várias formas de sacrifícios de animais oferecidos no Templo. Isso simboliza nosso próprio trabalho de confrontar a besta dentro de nós e sacrificar seus desejos, vícios e luxúrias a D’us. Sua besta interior ainda pode ser muito grosseira e bruta, mas você tem o poder de controlar seu comportamento e vias de expressão.


Uma frase-chave na primeira seção das orações é “hodo l’Hashem”, que pode ser traduzida como: “render-se a D’us”. Esta é a primeira etapa do nosso trabalho pessoal. Seu coração pode não estar inflamado de paixão espiritual, mas antes que você possa alcançar um crescimento significativo em sua vida, você deve primeiro entregar seu animal e domá-lo.


E, no entanto, não somos máquinas robóticas. Nossos comportamentos são o resultado de emoções, atitudes e perspectivas. Se você deseja manter um estilo de vida saudável e ético, não pode simplesmente fazer as coisas certas de cor; você deve ser inspirado interiormente. Assim, a jornada deve continuar na segunda camada de consciência, o mundo de Yetzira.


YETZIRA – O MUNDO DA FORMAÇÃO

O segundo passo no crescimento exige que você explore as formações internas de sua psique. No mundo de Yetzira, você precisa examinar suas atitudes, motivos e temperamentos internos que dão origem à sua conduta e comportamento diários. Você deve reunir forças para reformatar sua estrutura emocional interna.


Se no primeiro estágio da ação você tenta mudar seu software, neste segundo estágio você se esforça para redesenhar seu disco rígido. É claro que é muito mais desafiador e difícil e só poderia acontecer através de um processo rigoroso de introspecção, humildade, honestidade e coragem.


Esta é a função primária da segunda seção das orações matinais, conhecidas como “Pesukei Dezimra”, ou “versos de louvor”, também traduzidos como “versos que eliminam”, nos quais lemos Salmos que descrevem a relação entre D’us e natureza.


Na Cabalá, a relação entre D’us e o mundo não é vista meramente como uma relação entre o Criador e o criado, mas sim como uma ligação entre o nível superficial da realidade e a profundidade da realidade. Na Cabalá, “D’us” é o termo empregado para descrever a estrutura subjacente de toda a existência, incluindo, é claro, a existência humana. Na Cabalá, um relacionamento com D’us significa um relacionamento com seu próprio núcleo interior, com a realidade de sua realidade. A alienação de D’us significa alienação das profundezas do eu.


Esta segunda seção de oração, uma revisão de capítulos emocionantes dos Salmos que descrevem D’us como o autor da natureza, destina-se a nos ajudar a realinhar a nós mesmos e nosso mundo com sua verdadeira realidade, com sua essência autêntica, com D’us. A meditação sobre essas verdades nos ajuda a eliminar nossas inclinações, desejos e atitudes egoístas, bestiais e egocêntricas e transcender nossa vergonha, medo e ressentimento. Isso nos ajuda a reconectar nossa estrutura emocional interna e reformatar nossos sentimentos e paixões.


Mas e as cicatrizes e feridas que ficaram arraigadas em nossa psique? Que tal o abuso e a turbulência interna que se infiltraram na própria substância de nossa química? Podemos nos curar deles?


Para isso você deve processar a terceira camada de consciência, o mundo de Beriya.


BERIYA – O MUNDO DA CRIAÇÃO

Nesse estado de consciência, você não apenas se reforma (como na camada de formação), mas tem o poder de se recriar. Aqui, no mundo de Beriya, você entrega tudo o que anteriormente reivindicou como seu à visão divina da vida, permitindo que o poder superior recrie sua identidade novamente, do nada para algo.


Nesta terceira seção de oração discutimos a noção de que D’us cria a existência todos os dias novamente. Aqui você tem permissão para entrar nesse espaço central do eu que reconhece sua metamorfose perpétua do nada em algo. Nesta parte da oração também declaramos “Aqui, ó Israel, D’us é um”, o que significa que D’us é o único que nos recria a cada dia e a cada momento como aspectos de Seu ser, como expressões de Sua realidade.


Este é, reconhecidamente, um momento assustador. Você deve possuir a prontidão para apagar todo o seu disco rígido, entregando-o todo ao “microchip” invisível. Pode parecer como pular de um penhasco. No entanto, quando você dá esse salto, você se permite experimentar o renascimento, elevando-se muito e além das limitações e parâmetros de sua estrutura emocional anteriormente finita e imperfeita.


No entanto, mesmo após sua entrada no terceiro mundo, você não se tornou um com a realidade. Você renunciou à sua noção de individualidade em prol da realidade última, mas ainda existe um “eu” tentando experimentar a unidade. Eu estou experimentando você; Estou experimentando D’us e a própria consciência do eu indica que ainda estou alienado da verdadeira realidade.


Tome a dança como exemplo. Como você sabe que está realmente imerso no êxtase da dança? A resposta: quando você não tem consciência do fato de que está totalmente absorto na dança. No momento em que seu “eu” começa a observar que seu corpo está se movendo desinibidamente, você não está totalmente presente na dança. Quando você se torna verdadeiramente um com alguém ou alguma coisa, você não experimenta a unidade. Você é apenas um.


Como você sabe quando seu corpo está saudável? Quando você não sente. Quando você começa a sentir qualquer parte do seu corpo – mesmo que não sinta dor, mas apenas uma sensação de peso – é um sinal de que algo no corpo está disfuncional. Quanto mais saudável é o corpo, menos você o sente.


Os artistas estão profundamente conscientes dessa verdade em suas próprias carreiras. Há um ponto no trabalho de escritores, músicos, pintores ou palestrantes em que eles deixam de ter consciência de sua existência como uma entidade independente, tornando-se canais para uma energia mais profunda que passa por eles. É neste ponto que o artista se apresenta melhor, pois seu eu se fundiu com seu trabalho em um todo sem costura.


Grandes comunicadores, por exemplo, dirão que seus discursos se tornam verdadeiramente significativos e transformadores no momento em que eles não percebem que estão falando. Isso pode soar estranho, mas é a verdade. Quando você está realmente ocupado vivendo, o “você” não ocupa nenhum espaço. Quando o “eu” está totalmente em contato com a vida, ele não informa sobre sua existência, pois está totalmente unificado com sua missão.


ATZILUT – O MUNDO DA INTIMIDADE

Assim somos convidados, em oração, ao quarto e mais profundo mundo, o de Atzilut. Aqui você desiste de tudo, até mesmo da sensação de ter desistido de tudo. Você se permite derreter na realidade onipresente do único D’us. Você alcança intimidade com o divino; toda a sua personalidade se torna um canal transparente através do qual a unidade de D’us brilha.


Esta é a quarta seção da oração, conhecida como a oração silenciosa em pé. Durante esta oração, o silêncio deve reinar supremo, pois não há “eu” presente para se tornar excitado e inspirado. Não tentamos e experimentamos a transcendência elevada e a unidade sublime. Simplesmente nos dirigimos a D’us em primeira mão, como “Você”, e nos unimos a Ele em profunda intimidade.


No entanto, surpreendentemente, esta parte da oração é a mais “física” e concreta de todo o culto matinal, concentrando-se nas necessidades materiais de cada pessoa. Por quê?


Porque, assim como a intimidade mais profunda entre um marido e uma esposa é experimentada por meios muito físicos, também a intimidade mais profunda entre o homem e D’us encontra expressão em nossa santificação da existência física.


A iluminação espiritual é uma forma refinada de auto-expressão; é uma distração da completa unidade com D’us. Por outro lado, pegar seu eu físico, seus recursos materiais e seu corpo bruto e conectá-los com D’us, essa é a marca da intimidade com o divino. Paradoxalmente, a natureza muito bruta e bruta da matéria física nos permite escapar das armadilhas do ego autoconsciente.


Mostre-me um homem que reuniu forças para assumir o controle do primeiro mundo, e eu lhe mostrarei um ser humano autocontrolado e realizado. Mostre-me um homem que se humilhou para entrar no segundo universo, e eu lhe mostrarei uma alma corajosa e profunda. Mostre-me um homem que ousou entrar no terceiro universo, e eu lhe mostrarei um homem feliz. Mas mostre-me um homem que subiu o quarto degrau da escada, e eu lhe mostrarei um homem que não precisa ser feliz, pois ele e a felicidade se tornaram um.

Formação do Tempo e do Espaço – O Mundo de Yetzira


As características do mundo de Yetzira estão além das limitações do espaço físico.


A limitação que é adicionada pela descida ao mundo de Yetzira, o mundo da Formação, é a da própria dimensão. A formação é essencialmente um conceito espacial, e a Cabala também discute a natureza do espaço. É importante saber que a Cabala vê o tempo e o espaço como condições criadas e não como qualidades intrínsecas, como será discutido em breve. Isso quer dizer que até a descida da luz ao mundo de Yetzira, a luz não é limitada por dimensão. E mesmo no mundo de Yetzira a dimensão ainda é espiritual e ainda não entrou nas limitações físicas do espaço.


O espaço físico tem seis dimensões que o limitam e definem. São elas: acima e abaixo, direita (sul) e esquerda (norte), na frente (leste) e atrás (oeste). Na Cabalá, cada uma das direções é derivada de uma qualidade espiritual, a saber, um dos seis aspectos do mundo de Yetzira. (A dimensão espiritual do mundo de Yetzira se transforma no mundo de Asiya no espaço físico real.) No mundo de Yetzira, essas seis dimensões são chamadas de seis midot, ou seis sefirot, que são reveladas principalmente nesse mundo. A palavra midda em hebraico significa “dimensão”, “limitação” ou “medição”. Esta é a característica primária do mundo de Yetzira: aquela luz que desce lá é limitada e medida.


Uma das características da dimensão ou medida é que ela requer pelo menos dois pontos de referência – o lugar onde algo começa e onde termina. Assim, Yetzira, a fonte da dimensão, é o primeiro plano de existência onde a polaridade e a dualidade (o oposto de unidade e unidade) surgem. Assim, há o início do relacionamento, ou seja, uma situação em que cada aspecto é definido em referência a outra coisa, e não em termos de suas próprias qualidades intrínsecas. É importante notar que, em Yetzira, essa dualidade ainda é espiritual e, portanto, as características do mundo de Yetzira estão além das limitações do espaço físico.


A dimensão espacial no mundo de Yetzira pode ser entendida da seguinte maneira: “Acima” é o alcance ativo da luz e da força vital (análoga à luz do sol que desce de cima), que desce aos vasos, que estão prontos para recebê-los (continuando a analogia – como plantas ou árvores que absorvem a luz do sol). “Abaixo” é o recebimento pelas embarcações; quanto mais luz os vasos recebem, mais eles se expandem e crescem (sul, em direção ao caminho do sol, em direção à luz) e, consequentemente, mais elevados eles se tornam (isto é, avançam em direção à origem da luz). Se os vasos, no entanto, são muito imaturos e contraídos, ou porque algo impede que a luz atinja os vasos, eles se contraem e não crescem. Eles podem até se afastar da fonte de luz e recuar, como uma planta murchando e morrendo. Esta é a dimensão espiritual interna do espaço físico.


Na analogia usada anteriormente para descrever os mundos, se a ideia original e sua expansão na compreensão representam o mundo de Atzilut, e considerar como descrever a ideia para outra pessoa representa o mundo de Beriya, então a explicação real da ideia para outra pessoa representa o mundo de Yetzira. Ao explicar uma ideia para outra pessoa, é inevitável que haja um limite de quanto do entendimento original pode ser transmitido através da fala. Alguns têm mais sucesso nisso do que outros, mas mesmo o melhor professor não consegue comunicar sua própria compreensão exata ao aluno. O aluno tem que trabalhar isso sozinho. Assim, a fala é muito mais limitada do que o pensamento. Assim também, a descida da luz no mundo de Yetzira define e limita a luz para que possa ser absorvida pelos vasos de nível mais baixo do mundo de Asiya. Ao fazer isso, a luz se torna muito mais oculta e muito mais limitada. Desta forma, cada vaso se separa do outro, porque cada um recebe a luz e a expressa de acordo com sua própria natureza específica. Assim, há divisão e diversidade.

História da Árvore da Vida


Embora eu tenha crescido em uma casa moderna, minha família pertencia ao ramo ortodoxo do judaísmo. Mantivemos uma casa kosher, observamos os grandes feriados, minha irmã e eu fomos à escola hebraica e ainda assim, nunca ouvi a palavra “Cabala”. Foi só quando fiquei fascinada com o Tarô, e estudei sua história esotérica, que soube até mesmo que tal tradição existia. “Tradição” é certamente a palavra certa, pois é isso que significa Cabala, uma tradição mística transmitida de professor para aluno. Aparentemente, no século XIX e início do século XX, essa passagem oral havia falhado, tornou-se mágica demais para os judeus que desejavam abraçar o mundo moderno.

Mas a Cabala não havia desaparecido, ela havia simplesmente se aberto para o território mais amplo da Cabala “ocidental”, um sistema de imagens e ideias que reunia conhecimento judeu, cristão, pagão e até mesmo mágico dentro de um símbolo enganosamente simples conhecido como a Árvore da Vida. Foi esta Cabala Ocidental que tão brilhantemente conectou as vinte e duas cartas Arcanas Maiores do Tarô com as vinte e duas letras do alfabeto hebraico.


Uma vez que descobri a Cabala, e comecei a mergulhar em sua história e ideias, descobri camadas de significado dentro das antigas tradições. Surpreendentemente, a Cabala, que pensamos ser tão antiga (uma história diz que um anjo a deu a Adão no Jardim do Éden), responde a muitas das perguntas que enfrentamos neste momento. Considere apenas uma questão, nossa reavaliação dos papéis de gênero. Muitas pessoas, tanto homens quanto mulheres, se rebelam contra o que parece ser um status secundário para as mulheres no cristianismo e no judaísmo. Elas apontam que os homens têm usado a história de Eva sendo criada a partir da “costela de Adão” para justificar os maus-tratos dos homens às mulheres. Mas na Cabala encontramos uma interpretação muito diferente, radical mesmo pelos padrões modernos.


Os Cabalistas descrevem Adão e Eva originalmente como um ser, um hermafrodita perfeito, formas masculinas e femininas unidas na costela. Mas este ser, total em si mesmo, não podia aprender com outro. E assim o Criador os separou – na costela – para que eles pudessem explorar a si mesmos e uns aos outros.


E a Cabala vai ainda mais longe. Deus também, nos diz, é hermafrodita, não um Pai só masculino, mas uma espécie de Pai/Mãe (você sabia que a palavra hebraica El Shaddai geralmente traduzida como “Todo-Poderoso” na verdade deriva da palavra para “seios?”). E ainda mais longe – as partes masculina e feminina de Deus se separaram uma da outra, e somente os seres humanos podem reuni-los novamente. Estas ideias nos parecerão radicais e ousadas se vierem de pensadores modernos. Mas na verdade, elas formam apenas uma parte da tradição da Cabala, com milhares de anos.


Cada livro carrega sua própria história, sua própria origem. A Cabala remonta quase vinte anos atrás, quando conheci um artista brilhante e profundamente espiritual chamado Hermann Haindl. Ele havia criado um conjunto impressionante de pinturas de Tarô, e a editora me pediu para escrever um livro para eles. Viajei para a casa de Hermann na Alemanha, e mais tarde para sua antiga casa de campo de pedra na Toscana. Passamos horas todos os dias olhando para a arte de Hermann, compartilhando nossas ideias e experiências espirituais. O livro de quinhentas páginas que escrevi sobre o Tarô de Haindl é possivelmente único na literatura do Tarô, pois vem da intensa colaboração de duas consciências.


Há vários anos Hermann me convidou para ir à Alemanha mais uma vez, para ministrar oficinas sobre o Tarô e sobre a Deusa. Mas ele também quis me mostrar uma obra incrível, uma pintura gigantesca e elaborada daquele símbolo mais famoso de toda a Cabala, a Árvore da Vida. Normalmente, esta imagem consiste em dez “emanações” de energia divina, retratadas como dez círculos com vinte e duas linhas de conexão. Os Cabalistas veem a Árvore como a própria essência da verdade universal. Mas a forma da Árvore aparece com mais frequência como um desenho abstrato, e a discussão de seus significados pode facilmente derivar em ideias elevadas sem a real conexão com a própria vida que a Árvore deve encarnar.


A pintura de Hermann Haindl está repleta de vida. Nela encontramos cobras e pássaros, vacas e cordeiros, pedra erodida e ondas do mar, deusas antigas e rostos sonhadores. Encontramos até mesmo Cristo e Albert Einstein. Vemos a natureza, mas também a mística espiritual – uma verdadeira árvore da vida.


Hermann me pediu para escrever um livro para acompanhar sua pintura. Embora a Cabala tivesse me fascinado durante anos, eu lhe disse que havia pessoas que conheciam o assunto muito melhor do que eu. Sim, disse ele, mas ninguém conhecia sua arte da maneira como eu a conhecia. E assim eu mergulhei na imagem da árvore, sua história e simbolismo, e na própria ideia de uma árvore cósmica que une o céu, a Terra, e o submundo. Através da escrita da Árvore Cabala, descobri as maravilhas de uma antiga tradição, aparentemente murcha por um tempo, mas agora novamente em plena floração, como uma grande árvore em mais uma explosão de primavera.

Jacques Bergier - Melquisedeque

  Melquisedeque aparece pela primeira vez no livro Gênese, na Bíblia. Lá está escrito: “E Melquisedeque, rei de Salem, trouxe pão e vinho. E...