sábado, 11 de setembro de 2021

Gnosticismo - Sophia

Sophia (em grego: Σοφία) é aquilo que detém o “sábio” (em grego: σοφός; “sofós”). Na tradição gnóstica, Sophia é uma figura feminina, análoga à alma humana e simultaneamente um dos aspectos femininos de Deus. Os gnósticos afirmam que ela é a sizígia de Jesus (veja a Noiva de Cristo) e o Espírito Santo da Trindade. Ocasionalmente é referenciada pelo equivalente hebreu Achamōth (em grego: Ἀχαμώθ) e como Prouneikos (em grego: Προύνικος, “A Libidinosa”). Nos textos da Biblioteca de Nag Hammadi, Sophia é o mais baixo dos Aeons ou a expressão antrópica da emanação da luz de Deus.

Ela é considerada como a responsável pela criação do mundo material, ou uma das responsáveis, dependendo da tradição gnóstica.


Mitos de Sophia

Quase todos os sistemas gnósticos do tipo siríaco ou egípcio ensinaram que o universo iniciou com um original, impenetrável (ou incognoscível) Deus, chamado de “Pai” ou Bythos, ou como Mônade por Monoimus. Ele também pode ser equiparado ao conceito de Logos em termos estóicos, esotéricos ou teosóficos (a ‘Raiz Desconhecida’), assim como ao Ein Sof daKabbalah e Brahma no Hinduísmo. Deste começo unitário, o Uno emanou Aeons adicionais, em pares de seres progressivamente ‘menores’ em sequência. Em conjunto com a fonte que os emanou, eles formam o Pleroma – totalidade – de Deus que, portanto, não deve ser entendido como algo distinto do divino, mas abstrações simbólicas da natureza divina. A transição do imaterial para o material, do numenal ao sensível, foi causado por uma falha – ou paixão ou pecado – em um dos Aeons. Na maior parte das versões dos mitos gnósticos, é Sophia que traz instabilidade ao Pleroma, o que por sua vez provoca a criação da matéria. Assim, uma visão positiva ou negativa do mundo depende, em grande medida, da interpretação das ações de Sophia na mitologia. De acordo com alguns textos, a crise ocorreu como resultado de Sophia ter tentado emanar sem sua sizígia ou, em outra tradição, por que ela tentou quebrar a barreira entre ela e o Impenetrável Bythos. Após cair cataclismicamente do Pleroma, o medo e a angústia de Sophia por ter perdido sua vida (assim como ter perdido a luz do Uno) deixou-a confusa e com uma saudade incontrolável. Por causa dela, matéria (hylē’, em grego: ὕλη) e alma (psychē, em grego: ψυχή) acidentalmente foram criadas. A criação do Demiurgo (também chamado Yaldabaoth, “Filho do Caos”) também foi um erro ocorrido durante este exílio. O Demiurgo prossegue a criação do mundo físico onde vivemos, ignorante da existência de Sophia, que ainda assim consegue infundir alguma fagulha espiritual (Pneuma, em grego: πνευμα) na criação dele. Em Pistis Sophia, Cristo é enviado pelo Uno para trazer Sophia de volta à totalidade (Pleroma). Ele a habilita a ver novamente a luz, dando-lhe o conhecimento do espírito (Pneuma). Cristo é então enviado à Terra na forma de um homem (Jesus) para dar aos homens a Gnose necessária para que se libertem do mundo físico e retornem para o mundo espirítual. Para os gnósticos, o drama da redenção de Sophia através do Cristo (ou o Logos) é o drama central do universo.


Livro dos Provérbios

A filosofia religiosa judaica se ocupou muito com o conceito da divina Sophia, como uma revelação do pensamento interno de Deus e atribuiu a ela não somente a formação e ordenação do universo natural como também a comunicação de toda percepção e conhecimento à humanidade. Em Provérbios 8:1 e seguintes, Sabedoria (substantivo feminino) é descrita como conselheira de Deus que habitava dentro dele antes da Criação do mundo e que faz muitas coisas diante Dele. De acordo com a descrição dada no Livro dos Provérbios, uma morada foi atribuída a Sophia pelos gnósticos e a sua relação com o mundo superior e também com os sete poderes planetários abaixo dela. As sete esferas planetárias (ou céus) eram para os antigos as regiões mais altas do universo criado. Eles eram entendidos como sete círculos subindo um sobre o outro e dominado por sete arcontes. Juntos, estes círculos constituíam a Hebdomad. Acima do mais alto, e sobre ela, estava a Ogdóade, a esfera de imutabilidade, e que estava próximado mundo espiritual. Diz Provérbios:


«A sabedoria edificou a sua casa, Cortou as suas sete colunas;» (Provérbios 9:1)

Estes sete pilares foram interpretados como sendo os céus planetários e a morada de Sophia foi colocada acima da Hebdomad, na Ogdóade. O livro bíblico diz ainda sobre a mesma sabedoria divina:


«No cume das alturas junto ao caminho, Nas encruzilhadas ela se coloca;» (Provérbios 8:2)

Na interpretação gnóstica, isso significa que Sophia tinha sua morada “no cume das alturas”, sobre o universo criado, no lugar do “meio”, entre o mundo superior e o inferior, entre o Pleroma e a ektismena. Ela se senta “Junto às portas, à entrada da cidade”, ou seja, nas vias de aproximação aos reinos dos sete Arcontes e é na “entrada” do reino superior de luz que recebe seus elogios. A Sophia (Sabedoria) é portanto o governante superior sobre o universo visível e, ao mesmo tempo, a intermediária entre os reinos. Ela dá forma ao universo mundano com base nos protótipos celestes e forma os sete ciclos estelares com seus Arcontes e sob o domínio deles é colocado – de acordo com as concepções astrológicas da antiguidade – o destino de todas as coisas terrenas, especialmente o homem. Ela é a “Mãe” ou a “Mãe da Vida”. Tendo vindo das alturas, ela é formada pela essência pneumática, amētēr phōteinē or the anō dynamis, da qual todas as almas pneumáticas se originam.


Queda

Tentando reconciliar a doutrina da natureza pneumática de Sophia com a morada atribuída a ela nos Provérbios, no reino do “meio”, fora portanto do reino superior de luz, foi imaginada uma queda de Sophia de sua morada celeste, o Pleroma, até o vazio (kenōma) abaixo dele. A idéia era a de um confisco ou roubo da luz, ou uma explosão e difusão do “orvalho da luz” até o kenōma, causado por um movimento criador de vida (vivificador) no mundo superior. Porém, ainda que a luz trazida até a escuridão deste mundo tenha sido compreendida e descrita como envolvida em sofrimento, este deve ser considerado como uma punição. Esta inferência é apoiada ainda pela noção platônica de queda espiritual.


Mitos da Alma

Alienadas de sua morada celeste por sua própria falta, as almas afundaram neste mundo inferior sem ter perdido de todo a lembrança de seu estado original. E, preenchidas pela saudade de sua herança perdida, estas almas caídas ainda se esforçam para subir. Desta forma, o Mito da queda de Sophia pode ser entendido como tendo um significado particular. O destino da “Mãe” foi considerado como protótipo do que seria repetido na história de cada alma individual, que, sendo de origem pneumática celeste, caíram de sua morada – um mundo superior de luz – e acabaram sob a influência de poderes malignos, de quem elas precisam aturar uma longa série de sofrimentos até que um retorno ao mundo superior lhes seja novamente possível. Mais ainda que, de acordo com a filosofia platônica, almas caídas ainda retenham a lembrança de sua morada perdida, esta noção foi preservada de outra forma nos círculos gnósticos. Ensinava-se que as almas dos pneumatici (detentores da Pneuma), tendo perdido a lembrança de sua derivação celeste, precisavam novamente se familiarizar com a Gnose, ou conhecimento desta essência pneumática, para que pudessem retornar à luz. E é nesta obtenção da Gnose que consiste a redenção trazida e confirmada por Cristo. Ensinava-se também que Sophia também precisava da redenção trazida por Cristo, por quem ela seria libertada de sua agnoia e sua pathe, e será, no fim do mundo, novamente trazida de volta à sua morada há muito perdida, o Pleroma superior.


Gnosticismo Siríaco

O Mito de Sophia sofreu uma série de tratamentos nos vários sistemas gnósticos. O mais antigo, o Gnosticismo siríaco, se refere a Sophia como a formação do mundo inferior e a produção de seus regentes, os Arcontes, e também atribui a ela a preservação e propagação da semente espiritual.

Como descrito por Ireneu, a grande Mãe do universo aparece como a primeira mulher, o Espírito Santo (rūha d’qudshā) se movendo sobre as águas, também chamada de Mãe da Vida. Abaixo dela estão quatro elementos materiais: água, escuridão, abismo e caos. Com ela, se fundem as duas luzes supremas masculinas, o primeiro e o segundo homem, o Pai e o Filho, este último sendo chamado de “Ennoia” do Pai. Desta união nasce uma terceira luz imortal, o terceiro homem, Cristo. Mas incapaz de aguentar a abundante plenitude da luz, a Mãe – no nascimento do Cristo – deixa uma parte desta luz escapar para a esquerda. Então, enquanto Cristo, como dexios (O do lado direito) sobe com sua Mãe aos céus, a outra luz que transbordou do lado esquerdo afunda no mundo inferior e lá dá origem à matéria. E esta é a Sophia, chamada também de Aristera (A do lado esquerdo), Prouneikos (A libidinosa) e a masculina-feminina.

Não há neste mito uma compreensão de “queda” propriamente dita, como no sistema valentiniano. O poder que transbordou à esquerda desceu voluntariamente nas águas inferiores, confiando na posse da fagulha da luz verdadeira. Adicionalmente, é evidente que embora mitologicamente diferente da humectatio luminis (ikmas phōtos, em grego: ἰκμὰς φωτός), a Sophia é ainda nada mais que uma fagulha vinda de cima, entrando neste mundo material e se tornando aqui a fonte de toda criação, tanto das formas superiores quanto inferiores de vida. Ela navega sobre as águas e coloca sua até então imóvel massa em movimento, dirigindo-as ao abismo e toma para si a forma corporal de hylē (matéria). Ela viaja por todos os lados e é carregada com todo tipo de peso e substância material até que, com exceção da fagulha da luz, ela afunda e se perde na matéria. Presa ao corpo que ela assumiu e pesada por causa dele, ela luta em vão para escapar das águas profundas e correr para sua mãe celeste, no alto. Não tendo sucesso nesta empreitada, ela procura preservar, pelo menos, a fagulha de luz de ser danificada pelos elementos inferiores, para isso elevando-se por seus próprios poderes até a região mais alta e se espalha por toda ela, formando com seu próprio corpo o firmamento visível, ainda que mantendo sua aquatilis corporis typus (Imagem das Águas). Finalmente, tomada por uma saudade enorme da luz superior, ela encontra em si, depois de muito esforço, o poder de elevar-se acima do céu de sua própria criação e de abandonar complemente sua existência corporal. O corpo abandonado é chamado de “Mulher da Mulher”.

A narrativa prossegue contando sobre a formação dos sete Arcontes pela própria Sophia, sobre a criação do homem, que “a Mãe” (não a primeira mulher, mas Sophia) se utiliza como um estratagema para retirar dos Arcontes sua parte na fagulha de luz, sobre o perpétuo conflito da parte de sua mãe contra os esforços dos egoístas dos Arcontes e sobre a contínua luta de Sophia para recuperar a fagulha de luz escondida na natureza humana. Finalmente, Cristo vem em seu apoio e, em resposta às suas orações, coleta todas as fagulhas para Si, une-se com Sophia como noivo e noiva, desce em Jesus, que tinha sido preparado por Sophia como um “veículo mais puro” para recebê-lo, e retira-se novamente antes da crucificação, ascendendo com Sophia até um mundo imortal. Neste sistema, o significado cosmogônico de Sophia ainda permanece em destaque. A antítese de Cristo e Sophia, como “Ele do lado direito” (ho dexios) e “Ela do lado esquerdo” (hē aristera), como masculino e feminino, não é mais do que a repetição da primeira antítese cosmogônica em outro formato. A Sophia em si nada mais é do que uma cópiada “Mãe da Vida” e é, portanto, chamada “Mãe”. Ela é a formadora do céu e da terra, pois a mera matéria só recebe forma através da luz que, vinda de cima, interpenetrou as águas escuras do hylē.


Prouneikos (“Lasciva”)

No sistema gnóstico descrito por Ireneu em Contra Heresias, o nome Prouneikos por várias vezes substitui o de Sophia na história. O nome Prouneikos também é dado a Sophia no relato do sistema irmão borborita, apresentado no capítulo anterior do mesmo livro de Ireneu. Celso, que aparenta ter tido contato com algumas obras ofitas, também mostra familiaridade com o nome Prouneikos (Contra Celso), um nome que Orígenes reconhece como sendo valentiano. Que este nome ofita tenha realmente sido adotado pelos valentianos é evidenciado por sua ocorrência num fragmento valentiano preservado por Epifânio. Ele também introduz Prouneikos como um termo técnico no sistema dos simonianos (seguidores de Simão Mago), a quem ele descreve como estando sob o comando dos nicolaítas e ofitas.

Nem Ireneu nem Orígenes indicaram saber algo sobre o significado desta palavra e não temos nenhuma informação melhor sobre o assunto, exceto uma conjectura de Epifânio. Ele afirma que a palavra significa “impudica” ou “lasciva”, pois os gregos tinham um epíteto para um homem que tivesse devassado uma garota, Eprounikeuse tautēn. Porém, Epifânio estava profundamente convencido da podridão da moral gnóstica e frequentemente interpretava a linguagem deles da pior maneira possível. Se a frase reportada fosse realmente popular, é estranho não encontrarmos exemplos do seu uso em comédias de autores gregos. Não se nega que Epifânio tenha ouvido a frase como empregada, mas é possível que palavras inocentes venham a ser usadas em um sentido obsceno.

À favor da explicação de Epifânio está o fato de que nos mitos cosmogônicos gnósticos, imagens de paixão sexual são constantemente introduzidas. Parece no todo provável que Prouneikos deve ser entendido no mesmo sentido de propherēs, que tem como um de seus significados “precoce com relação aos atos sexuais”. É possível que o nome indique as tentativas de Sophia de atrair a fagulha da luz divina dos poderes cósmicos inferiores. No relato de Epifânio, a alusão à atração pelo ato sexual que está envolvido no nome se torna mais proeminente.


Mētra (Útero)

Relacionada a Sophia está a noção amplamente difundida entre as seitas gnósticas sobre o impuro mētra (útero) de onde todo o mundo supostamente nasceu. De acordo com os valentianos italianos, o Uno abre o mētra de Sophia caída do Pleroma (enthymēsis – pensamento) e provoca a formação do universo, personificando assim o próprio mētra. Epifânio reporta que a cosmologia a seguir é a de um ramo dos nicolaítas:


No início existiam a Escuridão (Trevas), o Caos e as Águas (skotos, kai bythos, kai hydōr), mas o Espírito que vive dentro deles e entre eles os separou. Da miscigenação da Escuridão com o Espírito nasceu o mētra que novamente foi aceso com renovado desejo pelo Espírito; ela deu à luz primeiro a quatro, e então a outros quatro aeons, produzindo assim uma direita e uma esquerda, luz e trevas. Por último nasceu um aischros aiōn, que teve relações sexuais com o mētra. A prole desta relação são os deuses, anjos, demônios e espíritos.

— Epifânio, Panarion, sobre os Nicolaítas


Segundo Hipólito em Philosophumena, os setianos ensinaram que, de maneira similar, da primeira simultaneidade (syndromē) dos três primeiros princípios primais emergiram o céu e terra como uma megalē tis idea sphragidos. Eles têm a forma de um mētra com um Onfalos (umbigo) no meio. O mētra grávido contém em si todos os tipos de formas animais, um “reflexo” do céu e da terra, e todas as substâncias encontradas na região do “meio”. Este mētra também é encontrado na grande Apophasis atribuída a Simão Mago onde ele afirma que o local onde o homem foi formado como sendo o Paraíso e o Éden.

Estas teorias cosmogônicas foram precedidas por Tiamat da mitologia síria, a mãe-da-vida de quem Berossus deve tanto, ou no “mundo-ovo” do qual, quando partido, procederam o céu, a terra e todas as coisas.


Gnose de Baruque

Um papel similar ao de mētra é desempenhado por Edem, consorte de Elohim no livro gnóstico Baruque, onde aparece como um monstro, com cabeça de mulher e corpo de serpente.

Entre os vinte e quatro anjos que ela dá luz de Elohim e que forma o mundo pelos seus membros, a segunda forma angélica feminina é chamada Achamōs (Achamōth).

Similar a esta história contada no Philosophumena sobre a Gnose de Baruque é a que foi relatada por Epifânio sobre uma festa ofita em que eles inventaram que uma serpente do mundo superior havia tido relações sexuais com a Terra na forma de uma mulher.


Achamōth

Tem se debatido se o nome Achamōth (em grego: Ἀχαμώθ) deriva originalmente do hebreu Chokhmah (em hebraico: חָכְמָ֑ה), em aramaico Ḥachmūth, ou se significa ‘Aquela que dá a luz” – “Mãe”. A forma siríaca Ḥachmūth foi utilizada por Bardesanes, já a forma grega é encontrada apenas entre os valentianos: o nome provavelmente deriva da mais antiga forma de gnosis siríaca.


Barbeliotas

Muito similar às doutrinas gnósticas relatadas por Ireneu são as crenças dos assim chamados “Barbeliotas”. O nome Barbelo, que de acordo com uma interpretação, é o nome daTétrade superior, originalmente não tinha nada a ver com Sophia.

Segundo eles, Sophia, um Ser posterior, também chamado de Spiritus Sanctus and Prunikos é a prole do primeiro anjo que está ao lado do Monogenes. Sophia vendo que todos os outros tinham sua sizígia dentro do Pleroma, deseja ardentemente encontrar também um consorte para si. Não encontrando nenhum no mundo superior, ela olha para baixo, nas regiões inferiores, e estando ainda insatisfeita, para lá ela desce, contra a vontade do Pai, até as profundezas. Lá ela forma o Demiurgo (o Proarchōn), uma mistura de ignorância e auto-exaltação. Este Ser, por conta dos poderes pneumáticos roubados de sua mãe, segue então criando o mundo inferior. A mãe, por outro lado, foge para as regiões superiores e passa a morar lá, na Ogdóade.


Ofitas

Sophia também aparece na literatura ofita, cujo ‘Diagrama’ é descrito por Celso e Orígenes, assim como entre várias facções gnósticas ofitas mencionadas por Epifânio. Lá, ela é chamada de Sophia ou Prunikos, a mãe superior e o poder superior, e está entronada sobre a Hebdomad (os sete céus planetários) na Ogdóade. Ela também é ocasionalmente chamada Parthenos e, novamente, é identificada como Barbelo ou Barbero.


Bardesanes

Mitos cosmogônicos também são parte da doutrina de Bardesanes. O locus foedus onde os deuses (ou Aeons) planejaram e construíram o Paraíso é o mesmo que o impuromētra(útero), que Efrém se envergonhou até de dizer o nome. A criação do mundo aconteceu através do filho “daquele que vive” e de “Rūha d’ Qudshā”, o Espírito Santo, que é idêntico a Ḥachmūth, mas em combinação com “criaturas”, ou seja, seres subordinados que cooperam com eles. Apesar de não estar expressamente indicado, é a inferência mais provável é que assim como a mãe e o pai, também sua prole (filhos “Daquele que Vive” e de Rūha d’ Qudshā ou Ḥachmūth) também devem ser consideradas como Sizígias. Ḥachmūthdá a luz à duas filhas, a “Vergonha da terra seca” (mētra) e à “Imagem das águas” (Aquatilis Corporis typus), que é mencionada ligada à Sophia ofita. Ao dela, numa passagem evidentemente em referência a Bardesanes, ar, fogo, água e escuridão são mencionados como aeons. Estas são provavelmente as “criaturas” a quem, em conjunto com o Filho e Rūha d’ Qudshā, acredita-se que Bardesanes creditou a criação do mundo. Embora muito ainda permaneça obscuro sobre as doutrinas de Bardesanes, não podemos simplesmente descartar os comentários de Ephraim, que continua sendo a mais antiga fonte siríaca para o nosso conhecimento sobre as doutrinas deste gnóstico siríaco. Bardesanes, segundo Ephraim, também falava sobre a esposa ou virgem que tendo caído do Paraíso Superior, oferece, durante seu abandono, preces pedindo ajuda do alto e, sendo ouvida, retorna aos prazeres do Paraíso Superior.


Atos de Tomé

Os Atos de Tomé preservaram vários hinos cuja composição é do próprio Bardesanes ou obras de sua escola. Na versão siríaca do texto dos Atos, encontramos o Hino da Pérola, no qual Sophia foi enviada dos céus para capturar uma pérola guardada pela serpete. Uma vez no mundo inferior, ela se esqueceu de sua missão celeste até que relembrada por uma carta da “mãe, pai e irmão”, executa então a tarefa, recebe de volta suas vestes gloriosas e retorna para sua antiga casa. Dos demais hinos, que estão preservados em grego e são mais fiéis que a versão siríaca, que sofreu uma revisão católica, o primeiro que merece atenção é Ode a Sophia, que descreve o casamento de uma “virgem” com o seu noivo celeste e a sua introdução no Reino Superior de Luz. Esta “virgem”, chamada “filha da luz”, não é – como supõe o revisor católico – a Igreja, mas Ḥachmūth (Sophia), acima da qual o “rei”, ou seja, o Pai de toda a vida, está entronado; o noivo dela é, de acordo com a interpretação mais provável, o filho do Vivo (ou “Aquele que Vive”), Cristo. Com ela, os Vivos (as almas pneumáticas) entram no Pleroma e recebem a gloriosa luz do Pai Vivo e o adoram juntamente com o “espírito vivo”, o “pai da verdade” e a “mãe da sabedoria”. A Sophia também é invocada na Primeira Oração de Consagração. Ela é ali chamada de “mãe piedosa”, “consorte do masculino”, “reveladora dos mistérios perfeitos”, “mãe das Sete Casas” (Hebdomad) que “encontra repouso na oitava casa” (Ogdóade). Na segunda Segunda Oração de Consagração ela é chamada de “perfeita Misericórdia” e “Consorte do Masculino”, mas é também chamada de “Espírito Santo” (Rūha d’ Qudshā) “Revelador de Mistérios de toda Magnitude”, “Mãe escondida”, “Aquela que sabe os Mistérios dos Eleitos” e “aquela que participou dos conflitos do nobre Agonistes” (Cristo). Há ainda mais adiante um resquício direto da doutrina de Bardesanes quando ela é invocada como a “Pomba Sagrada” que deu à luz aos dois gêmeos (as duas filhas de Rūha d’ Qudshā).


Simão Mago

O Mito da Alma e sua descida até o mundo inferior, com seus vários sofrimentos e mudanças de sorte até a libertação final aparece também no sistema simoniano sob a forma da “Mãe de Todos” é emitida como primeiro pensamento do Hestōs ou poder maior de Deus. Ela geralmente tem o nome de Ennoia, mas também é chamada de Sabedoria (Sophia), Regente, Espírito Santo, Prunikos e Barbelo. Tendo caído dos mais altos céus até as regiões mais profundas, ela cria anjos e arcanjos e estes, por sua vez, criam e governam o universo material. Aprisionada pelo poder deste mundo inferior, suas tentativas de voltar ao reino do Pai são frustradas. De acordo com uma das representações, ela sofre toda sorte de insultos dos anjos e arcanjos, presos à força seguidamente em renovados corpos terrestre e compelidos por séculos a vagar em cada vez numa nova forma corpórea. De acordo com outro relato, ela é em si incapaz de sofrimento, mas é enviada a este mundo inferior e submete-se à perpétuas transformações para excitar com sua beleza os anjos e poderes, para impeli-los a engajarem-se na luta perpétua e assim privá-los do seu estoque da fagulha (luz) celeste. Em algum momneto, Hestōs desce do mais alto céu num corpo fantasmagórico para libertar a Ennoia sofredora e para redimir as almas presas em cativeiro dando-lhes a Gnosis (Conhecimento).

A forma mais frequente de denominar a Ennoia entre os simonianos é “a perdida” ou “ovelha vagante”. As divindades gregas Zeus e Atena já foram interpretados como significando Hestōs e sua Ennoia, e de forma similar, os deuses de Tiro, o deus-sol Herakles-Melkart e a deusa-luaSelene-Astarte. E também a homérica Helena, como sendo a causa da guerra entre os gregos e os troianos, já foi considerada como sendo aEnnoia. A história que os pais da Igreja nos deixaram sobre a relação sexual entre Simão Mago e sua consorte Helena teve provavelmente sua origem nesta interpretação alegórica.


Valentim

O mais importante desenvolvimento do Mito de Sophia é encontrado no sistema valentiano. A queda de Sophia do Pleroma é atribuída à maneira de Platão de “cair”, e como causa final desta queda é apontado um estado de sofrimento que penetrou no próprio Pleroma. Sophia ou Mētēr é, na doutrina de Valentim, o último, ou seja, o décimo-terceiro Aeon no Pleroma, do qual tendo caído, num estado de saudade profunda do mundo melhor que ela perdeu, deu à luz aos Christus “com uma sombra” (meta skias tinos). Enquanto Christus retorna ao Pleroma, Sophia forma o Demiurgoe todo o mundo inferior, criado a partir do skia, um princípio dual de esquerda e direita. Para a redenção de Sophia, ou o próprio Christus ou o Soter descem para ajudá-la a retornar ao Pleroma e uni-la novamente com a seu syzygos. O motivo da queda de Sophia foi definido de acordo com o ensinado pela escola de Anatólia, de que pelo seu desejo de saber o que havia além dos limites do cognoscível, ela se colocou num estado de ignorância e sem forma. Seu sofrimento então se estendeu por todo o Pleroma. Por isso, ela acabou separada dele e deu à luz fora dele (através da sua ennoia, suas lembranças do mundo superior), ao Christus, que imediatamente ascende ao Pleroma. Em seguida, ela produz um ousia amorphos, a imagem de seu sofrimento, do qual o Demiurgo e o mundo inferior se originam. Por fim, olhando para cima em sua condição miserável e implorando pela luz, ela finalmente dá a luz a spermata tēs ekklēsias, as almas pneumáticas. Na sua obra de redenção, o Soter desce, acompanhado por anjos masculinos que deverão se tornar os futuros syzygoi das almas (femininas) dos Pneumatici. Então, ele introduz Sophia e estes Pneumatici na câmara nupcial celeste.


Ptolomeu (gnóstico)

A escola italiana destacou uma Sophia dualista, a ano Sophia e a katō Sophia (ou Achamoth). De acordo com a doutrina de Ptolomeu e de seus discípulos, a primeira se separou de sua syzygos, o thelētos, por causa de seu corajoso desejo de uma Comunhão imediata com o Pai de tudo, caiu para uma condição de sofrimento e iria derreter-se totalmente neste desejo, não tivesse Horos a purificado de seu sofrimento e a restabelecido no Pleroma. A sua enthymēsis, por outro lado, o desejo que ganhou controle sobre ela e o sofrimento causado por ele se tornaram um amorphos kai aneideos ousia, que também é chamado de ektrōma, foi separado dela e colocado num lugar além dos limites do Pleroma.


Pistis Sophia

Um desenvolvimento especial e ricamente escrito aparece na forma mítica de Sophia no livro gnóstico Pistis Sophia. Os dois primeiros livros desta obra, muito bem nomeada Pistis Sophia, tratam em grande parte da queda, arrependimento e redenção de Sophia. Ela tinha, por ordem dos poderes maiores, obtido uma visão breve de sua morada no mundo espiritual, o thēsauros lucis que fica além do décimo terceiro Aeon. Através de seus esforços em direcionar para lá a sua ascensão, ela acaba atraindo a inimizade de Authadēs, Arconte do décimo-terceiro Aeon, e dos Arcontes do décimo-segundo também, que estavam sob ele. Por eles, ela é atraída até as profundezas do caos e atormentada de uma enorme variedade de formas para que perca a sua natureza de luz. No limite de suas necessidades, ela endereça treze preces penitentes (metanoiai) para a Luz Superior. Passo-a-passo ela é erguida até Christus nas regiões mais altas, embora ela ainda esteja ofendida pelos ataques dos Arcontes, e seja, após lhe ser oferecido morada no décimo-terceiro (Metanoia), mais veementemente atacada do que nunca, até que enfim Christus a leva para um lugar intermediário abaixo do décimo-terceiro Aeon, onde ela permanece até o fim do mundo, oferecendo hinos de gratidão aos céus. O trabalho terreno de redenção tendo sido completado, a Sophia então retorna à sua morada celeste.

A característica peculiar desta representação está no desenvolvimento adicional das idéias filosóficas que geralmente já fazem parte do Mito de Sophia. Aqui ela não é meramente, como em Valentim, representativa da saudade que um espírito finito sente pelo conhecimento do infinito, mas também a um tipo de padrão de fé, arrependimento e esperança.

Mais um resquício da Sophia dos antigos sistemas gnósticos também pode ser encontrado em Pistis Sophia na figura da “Donzela-Luz” (ou “Donzela de Luz” – parthenos lucis), que é claramente distinta de Sophia e aparece como um arquétipo de Astraea, a constelação de Virgo.


Nag Hammadi

Na obra Sobre a origem do Mundo, Sophia é mostrada como sendo a destruidora final do universo material, Yaldabaoth e todos os seus céus:

Ela [Sophia] irá jogá-los no abismo. Eles [os Arcontes] serão obliterados por conta de sua iniquidade. Pois eles serão como vulcões e consumirão uns aos outros até que perecerão nas mãos do principal entre seus pais. Quando ele os tiver destruído, ele irá se voltar contra si mesmo e se destruirá até que deixe de existir. E seus céus irão cair cada um sobre o próximo e suas forças serão consumidas pelo fogo. Seus reinos eternos também serão derrubados. E seu céu irá cair e partir-se-á em dois. Seus […] irão cair sobre o […] os suporta; eles irão cair no abismo, e o abismo será derrubado. A luz irá […] a escuridão e obliterá-la: será como algo que nunca foi

— Sobre a origem do Mundo,


Maniqueísmo

A “Donzela-Luz” (parthenos tou phōtos), de Pistis Sophia, também é encontrada entre os maniqueístas excitando os desejos impuros dos demônios e assim libertando a luz que até então tinha sido aprisionada pelos poderes das trevas. POr outro lado, o lugar da Sophia gnóstica entre os maniqueístas é tomado pela “Mãe da Vida” (mētēr tēs zōēs) e pela World-Soul (psychē hapantōn), que frequentemente se distingue da Mãe-Vida, e é considerada como difundida em todas as criaturas vivas, cuja libertação do reino das trevas constitui toda a história do mundo.

Outra versão:

O mito de Sophia

De Sophia, a mãe celestial de todas as coisas vivas, filha do Ser Inefável, nasceu aquele que se tornaria o formador e regente do sistema da criação material. Ela sentiu grande tristeza e angustia quando o gerou, pois estava sozinha em um abismo de trevas e sua luz tinha diminuído. Sophia viu que seu descendente era capaz de mudar de forma. Ela se arrependeu de ter gerado um ser em sua solidão e o chamou Yaldabaoth, a “Ignorância-cega”.

Yaldabaoth (Chronos – e não Cronos, o Titã – para os gregos) foi para o caos e, para aprisionar as partículas divinas emanadas de sua mãe, ao acasalar-se com o daemonium Nebruel (Anaké, para os gregos), elaborou um sistema de criação que era de seu agrado, e dentro dele, gerou doze autoridades, sete regentes do firmamento e cinco regentes do abismo. O Criador (Yaldabaoth, Samael, Yahweh ou IHVH – Iodh Hei Vau Hei-, entre outros) e sua hoste (os regentes ou arcontes) mesclaram, então, luz e trevas, para que as trevas parecessem radiantes e, assim, iludissem os olhos. Essa mescla de trevas e luz resultou num mundo imperfeito e fraco, pois as trevas impediram-no de desenvolver um exército de luz, que poderia protege-lo.

Assim, Yaldabaoth permaneceu no centro do sistema do mundo que ele formara, e se tornou arrogante em seu orgulho, exclamando: “Eu sou Deus e não há outro Deus além de mim!” Dessa forma, ele demonstrou sua ignorância agora do verdadeiro caráter do ser, bem como seu orgulho, pois negou até sua própria mãe. Sophia, no entanto, olhou para ele das alturas e exclamou em voz alta: “proferistes uma falsidade ó Samael!” Foi assim que ele recebeu o nome que o tornara o senhor cego da morte (Samael), e então Sophia o chamou também de Saclas, com o que afirmava a tolice dele.

Sophia, porém, sabendo que sua descendência gerara uma criação a partir de sua própria imagem defeituosa, decidiu ajudar secretamente a luz que estava presente no mundo. Desceu de sua habitação e veio para perto da terra, movendo-se de lá para cá sobre ela, assim outorgando sua sabedoria e amor ao sistema que o tolo criador desenvolvera. Os regentes pensaram que eles, sozinhos, tinham criado e ordenado o mundo, mas o espírito de Sophia contribuiu secretamente para colocar esplêndidos padrões arquetípicos na trama do trabalho deles. Foi quando viram, então, uma grande maravilha que apareceu nos céus: um anjo (Espírito Santo) com a forma de um homem, de visão majestosa e gloriosa. O Demiurgo Yaldabaoth e sua hoste tremeram e as bases do abismo sacudiram-se e as águas agitaram-se em terror sobre a terra. Tão grande era o brilho do arquétipo humano celestial que apareceu no céu que os regentes foram por ele cegados e não puderam agüentar seu poder. Desviaram os olhos e fixaram o reflexo da forma do homem, conforme essa aparecia nas águas abaixo.

Todos os regentes e seus servos, invejosos, correram para perto e, juntando seus poderes, fizeram uma réplica da imagem do homem celestial, mas seu trabalho era defeituoso e fraco, porque a força de Sophia não se encontrava ali. O homem falsificado era estúpido e insensato e se arrastava pela terra como um verme. Sophia, então, enviou vários mensageiros da luz e eles, secretamente, penetraram na mente de Yaldabaoth, fazendo-o respirar sobre a lamentável criatura, desse modo infundindo-lhe vida divina. O Demiurgo pensou que era ele quem tinha dotado o homem de luz, mas, na realidade, foi sua mãe Sophia quem deu à humanidade a verdadeira vida. E o homem ficou de pé, caminhou e foi circundado por uma luz não terrestre.

Yaldabaoth e sua hoste reconheceram que o homem era, de fato, um ser cujo poder espiritual e inteligência excediam o seu próprio. Cheios de inveja e raiva, eles atacaram o homem cujo nome era Adão e o lançaram em uma escura região da matéria, para lá definhar em tristeza e privação. Sophia, entretanto, em cooperação com os mais altos poderes da plenitude, enviou a Adão um auxiliar, para instruí-lo e assisti-lo com sabedoria e força espiritual. Esse auxiliar era uma mulher, conhecida como Eva, mas cujo verdadeiro nome é Zoe, que significa vida (a filha de Pistis-Sophia). O sábio espírito feminino penetrou em Adão e ficou escondido aí, para que os regentes não percebessem a sua presença.

Os regentes, então, conspiraram e elaboraram um plano no qual esperavam que o homem poderia cair, e permanecer cativo de seus desígnios. Eles criaram um jardim, cheio de belezas e delícias da terra, e colocaram Adão no meio dele, fornecendo-lhe todo o tipo de objeto agradável que pudesse desejar. Então eles mandaram Adão comer, pois o alimento do jardim é amargo e sua beleza é perversão, sua delícia é engano e suas árvores são iniqüidade, seu fruto é veneno incurável e sua promessa é morte.

As belezas e os prazeres oferecidos eram enganosos, corruptos e planejados para mantê-lo cativo dos regentes, sem vontade ou vida própria. Havia, também no jardim, uma outra árvore, mas eles proibiram Adão de tocar ou de comer do seu fruto. Eles o enganaram a respeito da árvore, lhe dizendo que sua raiz é amarga e seus ramos são morte, sua sombra é ódio e em sua folhagem está o engano, seu suco é o ungüento da perversidade, seu fruto é mortal e sua seiva é a cobiça; e que ela germina das trevas. Mas essa árvore era, na verdade, a inteligência-luz, a sabedoria. E dizendo tais coisas sobre ela, eles impediram Adão de ver sua plenitude e conhecer a Verdade, fazendo-o ficar preso naquilo que era realmente ruim, mas que diziam a Adão ser bom.

Mais uma vez Sophia e os poderes celestiais (na forma de uma serpente) foram em socorro de Adão e o instruíram a comer o fruto daquela árvore e desafiar o regente e seus anjos tirânicos. Ao mesmo tempo, a mulher nasceu de Adão, mas o chefe dos regentes a reconheceu como tendo a luz de Sophia e enfureceu-se. Ele a perseguiu por todo o jardim e, tendo-a subjugado, violentou-a e ela concebeu dois filhos dele, Caim e Abel. Porém, o espírito brilhante de sabedoria que habitava em Eva escapou e, assim, apenas seu aspecto humano foi violentado e não Zoe, o espírito vivo. Caim tornou-se mestre da terra e da água e dele descendem os homens e mulheres com inclinação para a matéria, ao passo que Abel comandou o ar e o fogo e se tornou o pai dos seres humanos que valorizam a alma e a mente. Mas Caim matou Abel e Adão percebeu o que o regente tirânico tinha feito e, tendo gerado um filho, Seth, com inclinações espirituais, ele se tornou pai daqueles que aspiram pelo conhecimento supremo (Gnosis) e por uma união com o Espírito.

Os anjos tirânicos, então, observaram, enfurecidos, que a humanidade seguia seu curso e não iria permanecer no paraíso dos tolos, onde queriam mantê-los cativos. O chefe dos regentes amaldiçoou então, toda a humanidade, especialmente a mulher. Entretanto, Eva deu à luz uma filha, chamada Norea, plena de sabedoria divina, que permaneceu na terra por muito tempo como uma ajudante da humanidade, porque era sábia e conhecia os esquemas e más obras dos anjos tirânicos.

Enquanto isso, os homens se multiplicaram, instruídos por Seth e Norea, muitos se voltaram ao conhecimento supremo, divino, assim, os regentes ficaram com poucos homens e mulheres que os aceitavam como deuses e seguiam suas leis. Furiosos, desejaram destruir a humanidade, então resolveram provocar um dilúvio. Norea, vendo o que eles iam fazer, instruiu um de seus filhos, Noé, para que ele construísse uma arca onde todos os puros pudessem ser salvos. Então ele, instruído por sua mãe, assim o fez.

Os anjos maus, então, assaltaram Norea, desejando violá-la com tinham feito com Eva, sua mãe, mas um grande anjo de luz chamado Eleleth a resgatou e lhe deu forças para continuar sua missão. Assim, com a ajuda de Norea, a partir de seu filho Noé, o esquema dos anjos tirânicos foi frustrado e a humanidade preservada.

Desde então, Yaldabaoth e seus anjos buscam dominar a raça humana, mesclando sua essência com a humanidade, corrompendo mulheres humanas, gerando, com elas, filhos imperfeitos. Assim, a humanidade tem vivido em conflito e divisão, pois o chefe dos regentes nela semeou cólera. A verdadeira sabedoria tornou-se rara e os filhos dos homens aprenderam coisas inúteis e mortas, seu conhecimento tornou-se mundano e corrupto. Repetidamente os regentes se reúnem para planejar o aprisionamento daqueles que não querem servi-los. Mascaram-se como mensageiros da luz, ou mesmo como o próprio Divino Inefável, exigindo obediência e adoração, iludindo profetas e videntes, elaborando leis e mandamentos, com os quais possam constranger os filhos dos homens. Mesmo assim a raça humana nunca foi deixada em abandono, Sophia nunca deixou de lutar por seus filhos, tendo depositado em todos os homens e mulheres, também, a sua luz e enviado em seu socorro seu mais iluminado mensageiro, Christós que, assumindo sua forma humana, Yehoshua (ou Yeshu), disseminou luz e sabedoria entre os homens, para que estes pudessem alcançar o Pleroma (Paraíso, Eternidade, Absoluto) e se libertar de Yaldabaoth.

(Mito gnóstico – autor desconhecido)


Glossário:

Aeon (gnosticismo)

Éon, eão, eon ou ainda aeon significa, em termos latos, um enorme período de tempo, ou a eternidade. A palavra latina aeon, significa “para sempre”. Ela é derivada do grego αιών (aión), cujo um dos significados é “um período de existência” ou “vida”.

Significado

Platão usou a palavra aeon para denotar o mundo eterno das ideias, que ele concebia como se estivesse “atrás” do mundo perceptível, como demonstrado em sua famosa alegoria da caverna. Assim, em termos filosóficos ou em história da religião, no gnosticismo e no neoplatonismo, refere-se à entidade intermédia entre a divindade suprema e o mundo perceptível ao pensamento.

Em alguns sistemas gnósticos, as várias emanações do Ser Supremo, o Mônade, são chamadas aeons. Este Ser primordial também era um aeon e tinha um ser dentro de si mesmo chamado Ennoea (Pensamento), Charis (Graça), ou Sige (Silêncio). O ser perfeito dividido concebeu o segundo aeon, Caen (Poder) em si mesmo. Junto com o aeon masculino, Caen, veio o aeon feminino Akhana (Verdade, Amor).

Os aeons frequentemente aparecem em pares masculino/feminino chamados Sizígias e são bastante numerosos. Dois frequentemente listados são Jesus e Sophia. Juntos, os aeons constituem o Pleroma, a “região da Luz”. As regiões abaixo do pleroma estão mais perto da escuridão, como o mundo físico.

Quando o aeon chamado Sophia emanou sem o seu “aeon parceiro”, o resultado foi o Demiurgo, ou semi-criador (às vezes chamado de Yaldaboth nos textos gnósticos), uma criatura que nunca deveria ter existido. Ele nunca pertenceu ao pleroma, e o Uno emanou dois aeons, Cristo e o Espírito Santo, para salvar o homem do Demiurgo. Cristo então tomou a forma de homem, Jesus, para poder ensinar aos homens como adquirir a gnosis, e assim retornar ao Pleroma.


Pleroma

Pleroma (Grego πλήρωμα) geralmente se refere à totalidade dos poderes divinos. A palavra significa plenitude (do grego πληρόω, “Eu preencho”), comparável a πλήρης que significa “cheio” e é usada em contextos teológicos cristãos, tanto Gnósticos quanto por Paulo de Tarso em Colossenses 2:9.

O Gnosticismo ensina que o mundo é controlado por Arcontes, dentre os quais está, segundo algumas versões do Gnosticismo,a divindade do Antigo Testamento, que mantém cativos alguns aspectos humanos, acidentalmente ou de propósito. O Pleroma celeste é a totalidade de tudo o que é considerado pela nossa compreensão como “divino”. O Pleroma é muitas vezes referido como sendo a luz que existe “acima” do nosso mundo, ocupado por seres espirituais que se emanaram do Pleroma. Estes seres são descritos como Aeons (seres eternos) e, algumas vezes, como Arcontes. Jesus é interpretado como um Aeon intermediário que foi enviado, juntamente com a sua contraparte Sophia (gnosticismo), do Pleroma. Com a ajuda deles, a humanidade seria capaz de recuperar o conhecimento perdido de suas origens divinas e assim recuperar a unidade com o Pleroma. O termo é, portanto, um elemento central da cosmologia religiosa Gnóstica.Pleroma no Gnosticismo

Textos Gnósticos enxergam o Pleroma como aspectos de Deus, o eterno Princípio Divino, que só pode ser parcialmente compreendido através do Pleroma. À cada Aeon (aspecto de Deus) é dado um nome (às vezes vários) e uma contraparte feminina (o Gnosticismo enxerga a divindade e a plenitude em termos da unificação masculino / feminino – veja Sizígia). O mito de criação Gnóstico continua contando como Sophia (Sabedoria) se separou do Pleroma e formou o Demiurgo, dando à luz assim ao mundo material.


Uso contemporâneo

Pleroma também é utilizado na língua grega em geral e pela Igreja Ortodoxa Grega, pois aparece na Epístola aos Colossenses. Proponentes da visão de que Paulo seria de fato um gnóstico, como Elaine Pagels da Universidade de Princeton, entendem que a referência na Epístola como algo a ser interpretado no sentido gnóstico.


Carl Jung

Carl Jung utilizou a palavra no trabalho místico não publicado de 1916, Sete Sermões aos Mortos, que finalmente foi publicado em Resposta a Jó (1952) e depois num apêndice da segunda edição de sua autobiografia, Memórias, Sonhos, Reflexões (1962). De acordo com Jung, Pleroma é “ao mesmo tempo o tudo e o nada. É infrutífero pensar sobre o Pleroma. Nisto, tanto pensar quanto ser cessam, pois o eterno e o infinito não possuem atributos.


Neoplatonismo e Gnosticismo

John M. Dillon, no seu “Pleroma and Noetic Cosmos: A Comparative Study” (sem tradução em português) declara que o Gnosticismo importou o seu conceito de “reino ideal” ou Pleroma do conceito platônico de Cosmos e Demiurgo em Timeu e o conceito de Cosmos Noético de Fílon de Alexandria em contraste com o Cosmos estético. Para chegar nesta conclusão, ele contrasta o Cosmos Noético com passagens da Biblioteca de Nag Hammadi, onde os Aeons são expressados como pensamentos de Deus. Dillon afirma que o Pleroma é uma adaptação de idéias gregas, pois antes de Fílon não há nenhuma tradição judaica que aceite que o mundo material (ou Cosmos) foi baseado num mundo ideal que também existe.


Demiurgo

Demiurgo – é o grande artífice, o criador do Mundo inferior (ou material). É considerado o chefe dos Arcontes possuindo sabedoria limitada e imperfeita. Para os Neoplatónicos é o “Logos” – primeira manifestação do absoluto. Numa interpretação judaica é Jeová; para os cristãos é o Verbo conforme expresso no Evangelho segundo João. Para os maçons é oGrande Arquiteto do Universo.

O termo demiurgo provém do latim demiurgus, e este por sua vez do grego δημιουργός (dēmiourgós), literalmente “o que produz para o povo”, e foi originalmente um termo comum que designava qualquer trabalhador cujo ofício se faz de uso público: artistas, artesãos, médicos, mensageiros, advinhos etc, e no século V a.C. passou a designar certos magistrados ou funcionários eleitos. Platão o utilizou em seu diálogo Timeu, uma exposição sobre cosmologia escrita por volta de 360 a.C., onde o Demiurgo figura como o agente que, embora não seja o criador da realidade, organiza e modela a matéria caótica preexistente de acordo com modelos perfeitos e eternos.


História

Segundo os Gnósticos, esta entidade seria o Deus do Velho Testamento da Bíblia. Este ente tem a arrogância típica dos que se acham onipotentes. Criador de tudo que conhecemos, acha que todos devem curvar-se a sua vontade: “Não terás outros deuses diante de mim” é seu lema.

No mito Gnóstico o Demiurgo foi gerado pelo eon Sophia após sua queda. Ao ser gerado, criou o mundo material com o objetivo de governar e aprisionar na matéria as partículas divinas provenientes de sua mãe (Sophia).

Querendo libertar as almas aprisionadas ao mundo material, Sophia rebela-se contra o Demiurgo, e o verdadeiro Deus Inefável envia aos homens o seu filho mais querido, o eon Christósou Cristo que desce ao mundo material com o objetivo de transmitir a “Gnosis” (conhecimento) às almas para que elas tenham consciência de sua identidade divina e partam para oPleroma libertando-se do jugo e da escravidão do Demiurgo.

Com o objetivo de impedir que isso ocorra, o Demiurgo cria inúmeras ilusões e prazeres materiais efêmeros para afastar as Almas de sua legítima parcela divina, de modo que estas estejam presas e sejam escravas do mundo material, tendo que sempre a ele retornar (reencarnação). O Demiurgo é o governante desta pequena Esfera de Vida onde reina absoluto.

O Demiurgo possui um povo eleito: os judeus. A estes se revelou e os têm como seu povo. Deu-lhes sua Lei (Lei de Moisés ou Torah) para a sua própria maldição: “Olho por olho, dente por dente“. Seu dia é sábado.

Possui vários nomes: Samael (deus cego), Yaldabaoth (criança do Caos), Saclas, Saturno, Cronos, etc. Sua consorte é o demônio feminino Nebruel, que ao se acasalar com ele, dá origem a doze eons.

No Evangelho Apócrifo de João, o demiurgo Yaldabaoth tem a aparência de uma cobra com rosto de leão e seus olhos são como relâmpagos faiscantes.


Arconte (gnosticismo)

Arconte (Grego ἄρχων, pl. ἄρχοντες) é a palavra grega que significa “regente” ou “lorde”, frequentemente usada como título de um cargo público. O sufixo do verbo em sua forma masculina do tempo particípio presente, ρχ-, significando “reinar”, deriva da mesma raiz que “monarca”, “hierarquia” e “anarquia”.

Ao final antiguidade, o termo Arconte era utilizado no Gnosticismo para se referir aos servos do Demiurgo, o “deus criador” que estava entre a raça humana e o Deus transcendente que podia ser alcançado apenas através da gnosis. Neste contexto, eles tinha o papel de anjos e demônios do Antigo Testamento. Eles emprestam seu nome à seita chamada Arcônticos.


Arcontes Gnósticos

Hebdomad

Uma característica fundamental da concepção gnóstica do universo é o papel representado em quase todos os sistemas gnósticos pelos sete arcontes criadores-de-mundos, conhecidos por Hebdomad(ἑβδομάς). Certamente há exceções; por exemplo, Basílides acreditava na existência de um “grande arconte” chamado Abraxas que reinava sobre 365 arcontes; no sistema Valentiano, os Sete são, de certa forma, substituídos pelos Aeons. Estes Sete, portanto, são poderes semi-hostis na maioria dos sistemas e são reconhecidos como as últimas e mais baixas emanações da Divindade; abaixo deles – e frequentemente considerado como derivado deles – vêm o mundo dos poderes demoníacos de fato.

A antiga astronomia ensinava que acima das sete esferas planetárias estava uma oitava, a esfera das estrelas fixas. Na oitava esfera, estes autores ensinam, vive a mãe a quem todos estes arcontes devem sua origem, Sophia ou Barbelo. Na língua destas seitas a palavra Hebdomad não se refere apenas aos sete arcontes, mas também às regiões celestes regidas por eles; enquanto Ogdóade (gnosticismo) é utilizado como o conjunto das sete com aquela supracelestial.

Os Ofitas aceitavam a existência destes sete arcontes; uma lista quase idêntica é dada no livro Sobre a origem do mundo:


Yaldabaoth, chamado também de Saclas, Saklas e Samael

Saturno.

Nome feminino: Pronoia (Premeditação) Sambathas, “semana”.

Profetas: Moisés, Josué, Amós, Habacuque.

Do Hebreu yalda bahut (Tohu va bohu), “Criança do Caos”? O mais externo que criou os seis outros e portanto o regente chefe e Demiurgo par excellence. Chamado o “Cara de Leão”, leonteides, similar ao Mitraico Leontocephaline.

Iao

Júpiter.

Nome feminino: Senhora.

Profetas: Samuel, Natã, Jonas (profeta), Miqueias.

Talvez de Yahu, Yahweh, Mas também possivelmente do grito mágico iao nos Mistérios.

Sabaoth

Marte.

Nome feminino: Divindade.

Profetas: Elias (profeta), Joel, Zacarias.

O título “Senhor dos Exércitos” no Antigo Testamento era entendido como um nome próprio, daí Jupiter Sabbas (Yahweh Sabaoth).

Astaphanos, ou Astaphaios

Vênus.

Nome feminino: Sophia (Sabedoria).

Profetas: Esdras, Sofonias.

Astraphaios é sem dúvida o planeta Vênus, pois gemas gnósticas com a figura feminina e a legenda ASTAPHE, cujo nome é também usado em encantos mágicos como o nome de uma deusa.

Adonaios

O Sol.

Nome feminino: Realeza.

Profetas: Isaías, Ezequiel, Jeremias, Daniel (profeta).

Do termo hebraico para “o Senhor”, usada referenciando Deus;Adônis dos Sírios representando o sol de Inverno na tragédia cósmica de Tamuz. No sistema Mandeano, Adonaios representa o Sol.

Elaios, ou Ailoaios, ou às vezes Ailoein

Mercúrio.

Nome feminino: Inveja.

Profetas: Tobias, Ageu.

De Elohim, God (El).

Horaios

A Lua.

Nome feminino: Riqueza.

Profetas: Miqueias, Naum.

De Jaroah? ou “luz”? ou Horus?


Na forma helenizada do Gnosticismo ou todos ou alguns destes nomes foram substituídos por vícios personalizados. Authadia (Authades), ou Audácia, é uma descrição óbvia de Yaldabaoth, o presunçoso Demiurgo, que tem a cara-de-leão assim como o arconte Authadia. Dos arcontes Kakia, Zelos, Phthonos, Errinnys, Epithymia, o último obviamente representa Vênus. O número sete é obtido colocando um proarconte ou arconte chefe no comando. Que estes nomes são apenas um disfarce para a “Sancta Hebdomas” é claro, pois Sophia, a mãe deles, retém o nome de Ogdóade, Octonatio. Ocasionalmente (por exemplo, entre os Naassenos) encontra-se o arconte Esaldaios, que é evidentemente El Shaddai(Deus todo-poderoso) da Bíblia, e ele é descrito como o arconte “número quatro” (harithmo tetartos).

No sistema dos Gnósticos mencionado por Epifânio de Salamis podemos encontrar como os Sete Arcontes:


Iao

Saklas (o principal demônio do Maniqueísmo)

Seth (ou Sete)

David

Eloiein

Elilaios (provavelmente “En-lil”, o “Baal” de Nippur, o antigo deus da Babilônia)

Yaldabaoth (ou número 6 Yaldaboath, número 7 Sabaoth)


O último livro de Pistis Sophia contém o mito da captura dos arcontes rebeldes, cujos líderes aparecem como um quinteto:


Paraplex

Hécate

Ariouth (femininas)

Tifão

Iachtanabas (masculinos)


Arcontes Mandeanos

No Mandeísmo, encontramos uma concepção diferente e talvez mais primitiva dos Sete, de acordo com a qual eles, junto com sua mãe Namrus (Ruha) e seu pai (Ur), pertence, inteiramente ao mundo das trevas. Eles e sua família são vistos como prisioneiros do deus da luz (Manda-d’hayye, Hibil-Ziva), que os perdoa, os coloca em carruagens de luz, e os designa regentes do mundo.


Arcontes Maniqueístas

Os Maniqueístas prontamente adotaram o costume Gnóstico; e seus arcontes são invariavelmente seres malignos. Eles contam como o ajudante do Homem Primordial, o espírito da vida, capturou os arcontes malignos e os amarrou ao firmamento, ou de acordo com outro relato, os esfolou e formou o firmamento com susa peles. Esta concepção está intimamente ligada ao Mandeísmo, embora nesta tradição o número “Sete” de arcontes se perdeu.


Origens

Como planetas

Ireneu de Lyon|Ireneu diz: “Sanctam Hebdomadem VII stellas, quas dictunt planetas, esse volunt.”. Portanto, é seguro considerar os sete nomes Gnósticos como designando as sete “estrelas”, o Sol, a Lua e os sete planetas. No sistema Mandeísta, os Sete são introduzidos com os nomes babilônicos dos planetas. A conexão dos Sete com os planetas é também claramente estabelecida pelas exposições de Celsus e Orígenes e igualmente pelas páginas já mencionadas de Pistis Sophia, onde os arcontes, aqui mencionados como cinco, correspondem aos cinco planetas (sem o Sol e a Lua).

Assim, como em diversos outros sistemas, os restos dos sete planetários foram obscurecidos, mas dificilmente em algum tenha sido totalmente obliterado. O que chegou mais perto foi a identificação do Deus dos Judeus, o Legislador, com Yaldabaoth e sua designação como “criador do mundo”, enquanto que anteriormente os sete planetas juntos reinavam sobre o mundo. Contudo, essa confusão foi sugerida pelo fato de que ao menos cinco dos sete arcontes têm nomes de Deus do Antigo Testamento: El Shaddai, Adonai, Elohim, Jeovah e Sabaoth.

Wilhelm Anz (Ursprung des Gnosticismus, 1897) também apontou que a escatologia Gnóstica, que consiste na batalha da alma contra arcontes hostis na sua tentativa de alcançar oPleroma, tem íntima semelhança com a ascensão da alma na astrologia Babilônica, através dos reinos dos sete planetas até Anu. A religião Babilônica mais tardia pode ser definitivamente apontada como origem destas idéias.


No Zoroastrismo

O Bundahishn nos conta sobre o conflito primordial de Satã contra o mundo-luz. Sete poderes hostis foram capturados e transformados em constelações nos céus onde eles eram vigiados por poderes estelares benéficos e impedidos de fazerem o mal. Cinco dos poderes malignos são os planetas, ainda que aqui o Sol e Lua obviamente não sejam reconhecidos como tais pela simples razão de que na religião oficial Persa eles apareciam invariavelmente como divindades benéficas. É preciso notar também que os mistérios de Mitra, tão intimamente conectados com a religião persa, são familiares com esta doutrina da ascensão da alma pelas esferas planetárias.


Utilização

No Judaísmo e no Cristianismo

O Novo Testamento menciona diversas vezes a palavra “príncipe” (ἄρχων) “dos demônios” (δαιμονίων), ou “do [deste] mundo”, ou “do poder do ar”; mas não usa a plavra verdadeiramente em nenhum sentido cognato. No Levítico (LXX), Αρχων (uma única vez como οἱ Ἄρχοντες em Levítico 20:5) representa, ou melhor, traduz Molech. A verdadeira origem desta utilização porém é Daniel 10:13-21 (seis vezes na tradução de Teodócio; uma claramente na LXX), onde o arconte (שַׂ֣ר, “príncipe”) é anjo patrono de uma nação (“Espírito Territorial”) da Pérsia,Grécia ou Israel; um nome lhe foi dado apenas no último caso (Miguel).

O Livro de Enoque (vi. 3, 7; viii. 1) denomina 20 “arcontes dentre os” 200 anjos “vigilantes” que pecaram com as “filhas dos homens”, como aparece em um fragmentos gregos. O título não é de fato utilizado absolutamente (τ. ἀρχόντων αὺτῶν, Σεμιαζᾶς, ὁ ἄρχων αὐτῶν, bis: conforme ἱ πρώταρχος αὐτῶν Σ.), exceto talvez uma única vez (πρῶτος Ἀζαὴλ ὁ δέκατος τῶν ἀρχόντων), onde o Copta não tem correspondente: mas ele evidentemente acabou se tornando um nome próprio e pode explicar pelo uso peculiar de ἀρχή na Epístola de Tiago (Tiago 1:6).

Os Cristãos logo seguiram o precedente do Judaísmo. No século 2dC, o termo aparece em diversos escritores estranhos ao Gnosticismo. A Epístola de Diogneto (7) fala de Deus enviando aos homens “um ministro ou anjo ou arconte” etc. Justino entende o comando em Salmos 24:7-9 (ἄρατε πύλας οἱ ἄρχοντες ὑμῶν na LXX) para abrir as portas do céu como endereçado “aos arcontes apontados por Deus nos céus”. O primeiro espúrio conjunto de epístolas de Inácio de Antioquia enumera “os seres celestes e a glória dos anjos e os arcontes visíveis e invisíveis”, e novamente “os seres celestes e as arrumações angélicas e as constituições arcônticas” (ou seja, ordem de províncias e funções), “coisas visíveis e invisíveis”; o sentido sendo desconhecido no tempo do interpolador, que em um caso retira a palavra e em outros, dá a elas um sentido político. As Homilias Clementinas (I Clemente, II Clemente) adotam e estendem (ἐν ᾅδῃ . . . ὁ ἐκεῖ καθεστὼς ἄρχων) o uso do Novo Testamento; e ainda chamam os dois “poderes” bom e mau (“esquerda e direita”), que controlam o destino de cada homem, “regentes” (arcontes), embora mais frequentemente “líderes” (ἡγεμόνες).

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

A Sacerdotisa e o Sagrado Feminino

O que é uma sacerdotisa?


A Sacerdotisa é uma embarcação da Eternidade; uma serva da Deusa, da verdade, da beleza, da sabedoria, e um canal do Amor. Ela é uma mulher acordado em sua feminilidade e do poder da deusa em seu templo do corpo. Ela é uma ativista espiritual fazendo o trabalho do Divino no mundo. Um candidato, um místico, um poeta, um dançarino, um amante, um guerreiro, uma mãe, uma feiticeira, uma velha, a Sacerdotisa permite que todos os caminhos da Senhora de viver nela. Ela é uma força revolucionária de bondade e compaixão, força e coragem.

Dançando com os elementos, ela pratica o amor-próprio como uma devoção à Deusa. Ela escuta.Ela responde. Ela ainda em movimento e ao mesmo tempo é. De sua conexão com a Fonte, ela é um farol de espírito, e alma, irradiando bênçãos ao seu redor e animar qualquer ser que entra em contato com ela.

Todo mundo é o artista de suas vidas, e a Sacerdotisa é treinado para se tornar um artista de serviço devocional e cura. Ela está enraizada na sua relação interna com o espírito ea partir daí ela pode fazer um trabalho inspirado no mundo. A sacerdotisa pode ser um curandeiro, uma mãe dona-de-casa, um professor, um CEO, um eremita; a expressão particular de seu serviço é tão única como cada mulher no Caminho. Quando uma mulher recupera esse arquétipo, ela entra na intimidade seriamente brincalhão com os poderes que criam nossas vidas. Ela liberta-se da mente domesticados e perambula propositadamente nos confins do seu coração, deixando-a autêntica natureza guiá-la.

Um dos nomes da Deusa é: “Ela que ouve os gritos do mundo.” A Sacerdotisa ouve estes gritos, ela sente-los em seu corpo, indelevelmente gravado em suas células. A Sacerdotisa tem um senso inato de responsabilidade – literalmente a “capacidade de responder,” – que motiva a uma vida de serviço. Ela cultiva a sua vida como um místico prático, ser um líder por sua escolha radical para habitar plenamente sua natureza feminina. A Sacerdotisa é um pilar de apoio e um cálice de orientação quanto a humanidade escreve este capítulo seguinte da grande história.

O Caminho Sacerdotisa é uma viagem incomparável de crescimento pessoal e evolução espiritual. Ele vai abrir o portal do seu coração, aprofundar seu conhecimento de sua finalidade, e expandir sua realidade. O programa foi concebido como uma escola de mistério experiencial, com todos os estudos baseados na Tradição de Mistérios Ocidental e práticas xamânicas indígenas da Europa e das Américas. Esta é a educação que desenvolve o seu conhecimento intuitivo direto da fonte … é uma resposta ao convite selvagem das paisagens imaginárias onde a realidade é cantada em ser. Nós podemos desenvolver relação com a auto e a natureza de tal forma que possamos realizar plenamente nossa corporificação deste reino e vivê-la em nossas comunidades. Isto é onde a verdadeira magia acontece.

Uma sacerdotisa, no mínimo é uma mulher que oficia em ritos sagrados. Ela serve as necessidades espirituais da comunidade.

As sacerdotisas do passado observavam cuidadosamente os padrões e ritmos da natureza e dos cósmos. Em sintonia com os ciclos da terra, eles honraram a Grande Mãe Terra, A Grande Deusa realizando rituais sagrados em determinadas épocas respeitando e utilizando de transitos dos astros.   Elas conheciam profundamente a Terra e o Céu, pois em si era ativa um tipo de energia, o poder interno que ligava o Céu e a Terra dentro delas, primeiramente. As mulheres eram percebidas como uma personificação da Grande Mãe; A Grande Deusa e eram profundamente reverenciadas, honradas e celebradas, pois assim como a Terra, uma mulher também é capaz de gerar, sustentar e transformar vida dentro dela. Já na história tardia, sacerdotisas sumerias, pre incas e outras civilizações ancestrais das Americas central e sul, sacerdotisas egípcias, gregas, romanas e em alguns locais na europa, entre os Druidas, viveram em templos sagrados instruindo e realizando rituais abertos, mas também ocultos. Elas também adoravam a Grande Mãe, a Deusa em Suas muitas formas, Arquétipos do Feminino Sagrada. Eles também atendiam às necessidades espirituais da comunidade e, por isso também eram muito estimadas.  Assim como no fim de uma civilização antes da nossa, há uns 13000 anos atras, os homens, novamente, começaram a temer o poder das sacerdotisas e os círculos femininos liderados por elas, muitas vezes de forma secreta. Por isso, as práticas espirituais e místicas naturais das sacerdotisas eram vistas como más ou perigosas. Seu poder, muito mal compreendido, acreditava-se ser uma força sombria que precisava ser reprimida. Milhares de sacerdotisas foram perseguidas, mortas por suas crenças e práticas espirituais, mas principalmente desacreditadas. Aquelas que conseguiram escapar da morte fugiram de seus templos sagrados e se esconderam.

Hoje, em meio a um grande período de patriarcado, uma sacerdotisa ‘necessária’ está emergindo. Ela traz para os tempos atuais a sabedoria antiga rica em imensidão, integrando os ensinamentos espirituais do passado, na verdade ensinamentos perenes, para o presente. A Sacerdotisa da atualidade, não precisa ficar confinada nas florestas e/ou templos, ela também pode ter uma vida social familiar e laboral convencional, apesar de não ser, no fundo, uma mulher nada convencional. Ela mantém uma profunda essência feminina, e sua missão é ajudar a trazer à fruição do poder vital espiritual do praticamente esquecido Divino Feminino. Intuitivamente, ela sabe não é necessário uma conversão a um matriarcado, mas uma transformação mais completa e mais harmoniosa do mundo. Uma sacerdotisa moderna, direciona sua energia para restaurar um equilíbrio natural e harmonioso entre os sexos, generos, mas entre diversos tipos de polaridade. Tecendo sua essência fluida dinamica com as energias do masculino fixo, ela ajuda a renascer a União e a Harmonia Sagrada.

As mulheres que escolheram seguir o caminho da sacerdotisa responderam a um chamado interior profundo. Ouvindo por dentro e ressoando apaixonadamente o antigo chamado da Grande Mãe, chegou um momento em que cada coração sabia com absoluta certeza … sim, é isso … O trabalho que devo fazer é o dela que devo fazer … o motivo pelo qual encarnei neste momento !Para mim, pessoalmente, a palavra real “sacerdotisa” sempre que pronunciada cria um zumbido interno extático, uma vibração familiar que foi / é de pura felicidade. Quão abençoado é ser tão claro quanto ao propósito de vida de alguém! Dito isto, também me sinto compelido a compartilhar o caminho da sacerdotisa, embora ricamente recompensador, não seja fácil. É um caminho que exige integridade profunda e tremenda dedicação.

Com coragem e graça, uma sacerdotisa moderna percorre as contínuas subidas e descidas da espiral da vida. Trabalho interior profundo e constante é uma obrigação. Confrontar, limpar e curar feridas passadas esvazia-a energicamente daquilo que não serve mais ao uso ou ao propósito. Indo para os reinos internos … momentos tranquilos de reflexão, oração, meditação … permitem que ela “veja” e “sinta” sua verdade mais claramente. Trabalho duro e perseverança trazem recompensas. Logo ela começa a se reconhecer como uma expressão única do rosto da Mãe Divina. Ela aprende a valorizar e honrar profundamente sua própria feminilidade. Ela se torna um vaso sagrado, mais capaz de manter um espaço sagrado para toda a humanidade.

Uma sacerdotisa é dedicada a servir a beleza, o amor e o espírito em toda a vida. Ela aprende a sintonizar e a trabalhar de maneira sagrada com todas as energias, principalmente as da natureza e dos elementos. Como uma dança fluida de fluxo e refluxo, uma sacerdotisa trabalha apaixonadamente para elevar a vibração do nosso mundo físico, impregnando-o de sacralidade. Iluminar tudo o que ela é e faz uma sacerdotisa experimenta grande alegria ao realizar cerimônias e rituais de inspiração divina. Freqüentemente comparada a um xamã, ela é capaz de se posicionar entre os mundos visível e invisível, residindo no vale de tensão enriquecida entre as duas dimensões. Uma Alta Sacerdotisa trabalha com frequências de energia ainda mais refinadas e sutis. Arquetipicamente falando, ela é uma emissária direta do Divino Feminino representado aqui na Terra.

Allamirah – Encarnação da Divina Mãe, do Feminino Sagrado

“Não podemos deixar de fazer nobres referências ao acontecimento universal levado a efeito no início de nosso século, e cujo ato se deu no período compreendido entre os dias 1 a 8 de julho de 1.900. Naquele privilegiado período nasceram 7 SERES de estirpe divina, de estirpe Planetária.  Referimo-nos ao nascimento dos 7 Dhyanis-Jivas e mais uma Dhyani, senão, o mais Divino SER, espelho da Divindade, era Adamita, mas, em nossa Escola, nos nossos dias, é conhecido com o nome de Allamirah; Adamita, como aspecto feminino de Adão. Ambos formam o Bijam dos Avataras, a preciosa Semente provinda o Segundo Trono, o Adam-Kadmon, o Embrião Primordial. Adamita, como oitava CRIANÇA nascida naquele ano de 1.900,  corresponde AQUELA ESTRELA engastada no centro do Universo. Logo, começaram a brilhar no firmamento da Obra, a ESTRELA ÚNICA, os sete Planetas (os Dhyanis) e as demais Estrelas (os Dharanis, Dwidjas, Yokanans) formando a esplendorosa constelação de AKBEL.

Temos, pois, com Adamita, à guisa de reflexo do SOL CENTRAL DO OITAVO SISTEMA, rodeada dos sete SÓIS CONSCIÊNCIA, a expressão dos sete SOIS que constituem o OITAVO SISTEMA. Assim,  ois, começou o “NOVO PRAMANTHA A LUZIR” a surgir no início de nosso Século, qual “Fênix”  erivada das cinzas da Tibetana.

De modo que o nascimento de Allahmirah deu origem ao nascimento universal do Novo Pramantha, embora isso viesse a se verificar muitos anos mais tarde. Mesmo porque, sem a divina MÃE, os filhos não poderiam ter nascimento.

Sim, com o nascimento da MÃE das MÃES passaram a tomar forma física os diletos Filhos de Deus. tomou aspecto humano, em primeiro lugar a maior de todas as Mães: NENHUMA MARIA É MAIOR DO QUE ALLAHMIRAH.

Atenção: O nascimento de Allahmirah – tal como dissemos, e o dos 7 Dhyanis à guisa do Sol Central com seus 7 Planetas, deu origem ao Novo Pramantha a Luzir (muitos anos mais tarde) e por essa razão é Ela a Suprema Dirigente dos jovens, das crianças pertencentes ao Movimento do Eterno na Face da Terra, e, também, Grã-Mestrina da Ordem do Santo Graal e da Ordem do Ararat!

A seguir, pois, nasceram os Dharanis (de 1a, 2a, E 3a categorias), sem falar nos Dwidjas, Yokanans e, finalmente, os dois Budhas: Terreno e Celeste, fechando o Ciclo com a Chave de Pushkara.”

Atete, Deusa do Povo Oromo no sul da Etiópia

Atete é sua grande deusa. Estou compartilhando algumas informações que encontrei em meados dos anos 70. As fontes citadas estão perdidas, mas isso é importante demais para deixar de fora, tanto mais que até agora não encontrei outras fontes oferecendo esse nível de detalhes sobre a Deusa Oromo. Deixei o relato no tempo presente, embora essa veneração tenha perdido terreno tremendo no século passado, sob pressão do cristianismo e do islamismo.

Atete governa o destino das pessoas na terra. Ela é “poder de vida, abundância, fortuna, riqueza” e as sextas-feiras são sagradas para ela. As mulheres carregam cordas de contas especialmente coloridas (cäle) como um rosário consagrado a esta deusa. Grupos de mulheres usam colares de Atete, fazem um banquete e depois vão colher ervas. Ela era originalmente a Grande Deusa Oromo, mas até a Amhara Cristã assimilou alguns aspectos de sua veneração.

Seus dias de festa são os primeiros do calendário etíope (um paralelo com Ísis em Kemet, antigo Egito, a quem alguns indigenistas oromo modernos comparam-na). Um grande festival e rituais são celebrados todos os anos para homenageá-la, com preparações rituais de cevada mergulhada. Na noite do festival, mulheres de cada família entoavam invocações durante a festa: “Atete Hara, Atete Jinbi, Atete Dula, não se esqueça dos meus filhos, cuide do meu marido e do meu gado.” Ou “Minha mãe, minha amante, por favor. cuidem de mim. ”Então eles irromperam no grito triunfal estridente das mulheres enquanto pegam os grãos de café e começam a preparar a bebida. Nesta noite, a mulher da casa entra em transe profundo e fala como oráculos do zar . Os espíritos aconselham as mulheres no próximo ano e se deliciam com a comida preparada diante deles.

O zar (espírito) é passado de mãe para filha; os maridos tentam ativamente esmagar essa tradição xamânica. A maioria dos médicos-zar são mulheres. O Gurri era uma dança giratória invocando o zar, para fazê-los se tornarem Weqabi, espíritos protetores que montam seus ‘cavalos’, as mulheres em transe.

Isso esclarece um pouco o que vários autores têm sobre as origens Oromo da religião zar: que entre esse povo estava ligado à reverência da deusa indígena. Não que ela fosse o único espírito, mas ela é o coração da religião. Aqui está outro detalhe do lado amárico da Etiópia, cujas mulheres adotaram maciçamente o zar do Oromo. (Mulheres Oromo escravizadas espalham a religião para o Sudão e a Arábia também, mas esse é um assunto muito maior.)

As primeiras inscrições etíopes conhecidas são as deusas Naurau e Ashtar perto de Axum. O alfabeto Ge’ez é mais antigo que o árabe ou o grego, e muitos volumes de um período posterior preenchem uma grande biblioteca real. Ge’ez significa “livre” e é uma língua semítica. As mulheres da linhagem real eram chamadas de Makeda, como a rainha de Sabá (Sa’ba). Uma fonte refere-se ao “crescente e disco” de Astarte, um desenho comum aos grandes monólitos caídos de Aksum, cerâmica Blemy e as moedas dos reis de Aksum ”. [Astarte sendo a palavra grega para “Ashtart” fenícia e síria, que era “Athtar na Arábia.] Os iemenitas são os parentes linguísticos mais próximos do Amhara, e desde que no sul da Arábia Athtar foi masculinizado, não tenho certeza de que este era um deusa na Etiópia. É possível, no entanto; mais para pesquisar sobre isso.

Os Oromo (“Galla”) são um grande grupo étnico no centro e no sul da Etiópia. Eles falam uma língua cuchita relacionada ao somali, parte da muito maior família afro-asiática. Eles saíram do sul da Etiópia e se tornaram a maioria da população no centro e no sul da Etiópia. A maioria deles se converteu ao islamismo ou ao cristianismo, embora até retenham traços de sua antiga religião, Waaqeffannaa. Isso significa “crença em Waaq”, um deus supremo, mas eles também têm uma deusa importante, Atete, também conhecida pelo nome cristianizado Marame. Os oromo que aderem à religião indígena são agora superados em número pelos convertidos.

As pessoas Oromo são muitas vezes referidas como “Galla”, mas fontes etíopes dizem que esse nome realmente designa a religião indígena. Um blogueiro etíope explica as distinções: “Galla, como os termos Amara [Amhara] e Muslim, refere-se à fé e não à raça. Portanto, um etíope é tradicionalmente chamado de Amara, se ele é cristão, muçulmano, se ele é da fé islâmica, e Galla, se ele pratica a tradicional fé oromo ou é um animista. ”[“ Call Me By Name: Uma pequena conversa com Debteraw ”. , VIII ”por Wolde Tewolde, conhecido por Obo Arada Shawl]

Nos comentários do mesmo Debteraw blog, Daniel acrescenta (15 de abril de 2007): “Para muitos de nós que crescemos na cultura ‘Atete’ sabíamos como a deusa ‘Atete’ atravessa linhas étnicas. Aqueles de nós que ainda contam o ritual de ‘Atete’ podem não perder o relato mantra de ‘Gondare Sifa’. ”[Não tenho certeza do que é isso, mas suponho que seja uma litania cristã, já que Gondar era o imperial capital da Amhara.]

Daniel vê “a deusa ‘Marame’ e ‘Eme-Birhan’, ou seja, ‘Mariam’” como pertencente a um grupo relacionado de deusas folclóricas etíopes (Mariam = Maria, então vemos como a Deusa Etíope chegou a ser ligada à cristã ). Ele também compara “o desenho da cabana de Amhara e Oromo e como eles refletem figuras femininas”, e fala sobre “o paganismo matriarcal da ‘Galla’” que foi deslocado pela “figura divina androgênica patrilinear do nortista”. está exagerando o caso, como você verá na minha nota anterior sobre o artigo de uma mulher Oromo sobre o patriarcado indígena e a resistência das mulheres a ele.] No entanto, a religião Oromo retém aspectos da antiga potência feminina. Numerosas fontes mostram Atete se transformando em Mariam / Marame através da influência cristã.

Há uma questão feminista maior aqui: os sistemas patriarcais são comumente descritos como “igualitários”, quando, na verdade, o que está sendo descrito é uma falta de classificação / hierarquia de classes. Por exemplo, olhe para isto: “Os Galla da Etiópia são geralmente representados como um povo igualitário”. O autor continua citando o sistema Gada, no qual uma assembléia exclusivamente masculina elege seus próprios líderes. Esse é o critério para “igualitário”. (Veja o próximo post para mais perspectiva sobre o domínio masculino na família Oromo.) Além disso, a classificação de classe de fato se intrometeu, já que as monarquias suplantaram os conselhos de Gada nos últimos 200 anos). [Herbert Lewis, “Uma reconsideração do sistema sócio-político do Galla ocidental.” Jornal de estudos semíticos, Vol. 9, 1964, p 139 (139-143)]

Um estudioso evangélico etíope dá mais detalhes sobre as cerimônias do Atete, embora o artigo venha de uma estrutura conceitual luterana que trata as religiões indígenas como demoníacas. [Amsalu Tadesse Geleta, ” Demonização e Exorcismo ,” tese na Escola Luterana Norueguesa de Teologia.] Vou citar este ensaio, apesar do preconceito cristão e termos estereotipados muito negativos (“culto”, etc.), porque oferece algumas informações valiosas, mesmo que tenhamos que ler o viés:

“Atete é um culto da fertilidade em homenagem ao espírito da maternidade na tradição de Oromo. O culto é conhecido como conversão zar entre os amharas da Etiópia. Há uma semelhança de práticas entre Atete e Conversão Zar. A preparação é a mesma. A principal diferença é que a conversão zar é praticada entre os Amharas, enquanto Atete é praticada entre os Oromos. Atete é uma deusa feminina não violenta ligada principalmente à fertilidade. Mulheres que buscam ajuda sobrenatural para engravidar e ter filhos saudáveis ​​são os principais adeptos.

“Os clientes desse culto são mulheres. Uma menina assumirá ou será possuída pelo ayana (espírito) de sua mãe . Sua ayana normalmente a possui ou a visita uma ou duas vezes por ano. Ela passa o dia preparando as coisas que são necessárias para a cerimônia. Ela tem que se preparar vestindo roupas especiais (muitas vezes do sexo oposto), colocando contas e enfeites, perfumes e carregando um chicote, barra de aço ou uma arma vazia. Grama verde (cana do lado do rio) é espalhada no chão como um sinal de cerimônia ou aniversário.

“Diferentes tipos de alimentos, como mingau, manteiga, limão, dadhi (vinho de mel, cor amarela), farso (cerveja caseira) e café são preparados antes do início da cerimônia. Pode haver algum sacrifício mais prescrito pela ayana em sua posse anterior. Então frango, ovelha ou cabra de certa cor é oferecido como um sacrifício e perfumes ou temperos diferentes são apresentados como uma oferta. Se o espírito está satisfeito com as oferendas e a preparação que ocupa. As pessoas sabem que ela está possuída quando começa a bocejar, esticando todo o corpo aqui e ali, salivando e ficando sonolenta. Seu corpo vacila e ela também chora, fala como se estivesse só em sonho. Ela costuma cair e cobre o rosto com o vestido.

“Ela pode pular e fugir e subir em árvores, não descendo até que as pessoas implorem. Outros ficam em madeira brilhante ou comem brasas. Ela pode se cortar com uma faca ou esmagar pedaços de vidro e comê-los. Ela fala com uma voz estranha, muitas vezes usando uma linguagem entendida apenas pelo próprio zar. Ela pode cantar uma canção reservada para a ocasião ou dançar uma dança peculiar associada a uma cerimônia em particular. Ela age de forma muito diferente da força normal, voz, atividade, etc., o que significa que o espírito a possuiu.

“Essa possessão pode durar de algumas horas a dois ou três dias. A principal função dos espectadores reunidos durante a cerimônia é apaziguar a ayana, cantar canções, bater palmas, dançar e bater um tambor, e implorar ao espírito para não machucá-la. Geleta prossegue, dizendo que “em contraste com Atete, que é dominado por mulheres, vidente zar é o zar do homem”.

Assim, vemos vários temas xamânicos repetidos: ritual especial vestido de acordo com os espíritos, estados de transe, caindo no chão, cobrindo o rosto, impermeabilidade ao fogo ou lâminas, força sobrenatural, línguas espirituais, canções especiais para certos espíritos e não menos importante neste caso, envolvimento de espíritos ancestrais herdados matrilinearmente. A subida em árvores (ou em telhados) também ocorre com novos iniciados xamânicos na Zâmbia e em outros países africanos.

Outro aspecto interessante do artigo de Geleta é que ele afirma claramente a equivalência da religião indígena Oromo com Zar. Já vimos um autor defender a origem etíope de Zar, que é apoiada por outros especialistas, e aqui essa ideia recebe mais apoio de uma testemunha hostil.

Duas menções curtas de Atete aparecem em Literatures in African Languages , ed. BW Andrzejewski e outros, Cambridge University Press 2010.

J… lq… b… b… rsisa [os personagens não reproduzem] um livro-texto Oromo publicado em 1894, contém lendas, provérbios e poemas orais; “Há até mesmo alguns hinos para Atete, a deusa da fertilidade.” [BW Andrzejewski, “Literatura Escrita em Oromo,” p 409]

“Atete, também chamada Maram [isto é, depois da deusa cristã Maryam ou Maria] é a deusa da fertilidade adorada em algumas regiões da Etiópia pelos adeptos da tradicional religião Oromo.” [BW Andrzejewski, “Oral Prose: the Time- Corrente Limitada, ”p 415]


Outro testemunho atual vem de sites na Waaqeefannaa (religião indígena Oromo):

“Baseado na história de Irreechaa, o Oromo começou a celebrar Waaqayyoo ao lado de Odaa, que foi plantado pela primeira vez por Atete como um símbolo de Ora-Omo (ressurreição de Ora, que ressuscitou da morte para celebrar a reconciliação com seu assassino, com seu irmão Sete). [Aqui referindo-se a Kemetic Ausar e Set] Desde então, as outras nações Cushitic também celebram este evento sob uma árvore (Odaa) ou ao lado de uma estátua de pedra (como ao lado do Obelisco Axum) ou ao lado de uma Demera plantada temporariamente quase toda a Etiópia. [Isso me chamou a atenção por causa das estátuas megalíticas e pedras eretas no sul da Etiópia, e o simbolismo de uma planta ou árvore que se repete em muitas delas, que se repete em tatuagens de barriga femininas entre alguns povos indígenas da Etiópia. Interessante é observar essa relação entre a planta original de Atete como símbolo da ressurreição de Ora com a árvore Odaa do Oromo, recentemente substituída pela estátua do Obelisco Axum de Agew (Tegaru), que agora é substituída por Demera, para ser plantada apenas temporariamente durante o tempo de transição de um inverno (escuridão, insucesso, morte) para uma primavera (um novo começo de luz, um novo começo para o sucesso, um novo começo de vida) a cada ano. Sabiamente ou não, todas as nações Cush, incluindo aqueles que dizem ser semitas (Tegaru, Amhara, Gurage, Harari, Argoba, etc), celebram Irreechaa, que é a celebração da ressurreição de Ora. É por isso que Irreechaa é na verdade o feriado para todas as nações Cush, incluindo aquelas que negam suas origens e tentam se identificar com Semetics (com David, com Solomon, com Arab, etc).

O Divino Feminino

A mitologia pré-cristã nativa das nações celtas que se estendem ao longo da costa do Atlântico Ocidental da Europa é altamente centrada na mulher. Em nossas histórias mais antigas, a essência criativa e geradora do universo era feminina, não masculina; as mulheres representavam o eixo espiritual e moral do mundo, e o poder dos homens era predominantemente social.

Mas a fêmea divina celta estava muito longe das divindades celtas e transcendentes com as quais nos acostumamos nos últimos séculos aqui no Ocidente: ela tinha um pé no Outro mundo com certeza, mas estava firmemente enraizada e profundamente enraizada em lugar, indivisível de suas paisagens distintas e assustadoras.

Na Irlanda em particular, os Dinnseanchas – as antigas histórias e tradições locais, as pedras fundamentais da identidade pessoal e comunitária e das obrigações morais para com a terra e a tribo – nos contam como tantas características importantes da paisagem surgiram ser nomeado após mulheres.


Mulher sobrenatural da terra

Autoridade Feminina do Outro Mundo


Quase todos os rios irlandeses, por exemplo, levam nomes de mulheres do Outro mundo. A literatura irlandesa antiga está repleta de histórias de mulheres poderosas que eram encarnações da Soberania, a deusa da terra que era sua guardiã e protetora. A soberania era o espírito da própria Terra, a anima mundi, uma força profundamente ecológica.

Ela foi maltratada ao longo dos séculos, essa velha deusa da soberania. Ela começou a perder seu poder quando as histórias da antiga tradição oral dos celtas foram colocadas no papel por monges cristãos; suas palavras escritas formaram a nova e única verdade permitida. Uma deusa não podia ser tolerada neste admirável mundo novo: o deus deles era o único.

Essas mulheres divinas poderosas e complicadas que carregavam consigo toda a autoridade do Outro mundo, e o poder fértil e criativo da terra em toda a sua ambiguidade e complexidade, foram reinventadas como santas. E se as qualidades que incorporavam em suas encarnações específicas não se encaixavam na nova imagem do que uma boa mulher deveria ser, elas eram retratadas simplesmente como “fadas” ou remodeladas como rainhas promíscuas e pseudo-históricas.

No século XVII, quando uma mulher não podia mais ser aceita em qualquer posição significativa de influência, tudo o que restou da história da poderosa deusa da soberania foram as visões oníricas ou corredores em que ela parecia inspirar os poetas – um fraco, donzela melancólica, romantizada e irreal.


Quando o rei se casou com a Deusa da Terra

Nos dias em que nossas tradições nativas predominavam, o poder da soberania – o poder das mulheres – era também o poder de determinar quem deveria governar a terra. Nos antigos mitos, o poder da soberania era fundamental. Se o poder que ela concedeu foi abusado, então convidamos o desastre.

Durante o reinado de um rei favorecido pela deusa, a terra era fértil e próspera, e a tribo foi vitoriosa na guerra. Mas se o rei não correspondesse às expectativas dela, ele não duraria muito. E o que ela esperava mais do que tudo era que o rei, e por meio de seu exemplo, o povo, valorizassem a terra.

Foi assim que os antigos ritos de realeza na Irlanda incluíram um casamento cerimonial, o banais ríghi, entre o rei e a deusa da terra, e tão fundamental era essa ideia para o modo de vida irlandês que esses ritos duraram até o século XVI .

Nesse casamento sagrado, o rei jurou defender e proteger a terra e seu povo e ser fiel a ambos; em troca, a Soberania, a fonte da vida, concedeu-lhe os dons que o ajudariam a cumprir seu juramento. Mas a fonte da vida deve ser respeitada.

Enquanto houver respeito mútuo entre os dois parceiros – entre a deusa e o rei, entre a terra e o povo, entre a natureza e a cultura, entre o feminino e o masculino – então tudo está em harmonia e a vida se enche de abundância. Mas quando o contrato é quebrado, a terra fértil se torna o Wasteland.


Recuperando a mulher mítica do passado

E assim é que hoje nos encontramos em um mundo enfermo, cortado de nossas raízes. Assim, nos encontramos em uma Terra devastada da falta de longevidade; no auge de uma crise ambiental mundial de nossa própria autoria, que ameaça a existência de tantas espécies neste planeta.

Comecei a escrever meu próximo livro, If Women Rose Rooted, porque acredito que precisamos encontrar o nosso caminho para sair de Wasteland, e acredito que as mulheres têm a chave. A chave está aí, nas mitologias indígenas de minha terra natal. Para as mulheres em particular, ter uma identidade ou ancestralidade céltica é herdar uma história, literatura e mitologia nas quais somos retratados não apenas como profundamente conectados ao mundo natural, mas como desempenhando um papel único e crítico no bem-estar da Terra e sobrevivência de seus habitantes.

Os mitos celtas com certeza têm seu quinhão de heroísmo e aventura masculinos, mas a maior preocupação de seus heróis é com o serviço e a administração da terra. E era uma vez, essas histórias nos contam, as mulheres eram as guardiãs do mundo natural, o coração da terra.

A mulher celta que aparece nesses contos antigos é atuante de forma diferente de seus heróis e guerreiros: ela é quem determina quem está apto a governar, ela é a guardiã e protetora da terra, a portadora da sabedoria, a raiz de autoridade espiritual e moral para a tribo.

As histórias da criação celta nos contam que a terra foi moldada por uma mulher; A história celta nos oferece exemplos de mulheres que foram as líderes inspiradoras de suas tribos. Estas são as histórias de nossa própria herança, as histórias das mulheres reais e também das mulheres míticas que nos precederam. 

As Sacerdotisas Esquecidas dos Celtas

Nas lendas medievais irlandesas, eram chamados de Banduri ou Bandorai. Sua existência foi confirmada por antigos escritores gregos e romanos. Os Druidas eram os antigos líderes religiosos, cientistas e pesquisadores da sociedade celta. Durante séculos, houve um equívoco comum de que os druidas eram apenas homens. No entanto, vários registros históricos atestam o fato de que havia de fato mulheres em suas fileiras.


Os sábios da sociedade celta

O termo ” Druida ” vem da palavra indo-européia ” deru ”, que significa ” a verdade ” ou ” verdadeiro ”. Esta palavra evoluiu para o termo grego ” drus ”, que significa ” carvalho ”.

Os druidas eram a elite intelectual. Ser um druida era uma função tribal, mas eles também eram poetas, astrônomos, mágicos e astrólogos. Eles levaram 19 anos para adquirir o conhecimento e as habilidades necessárias em alquimia, medicina, direito, ciências e muito mais. Eles organizaram a vida intelectual, os processos judiciais, tinham habilidades para curar pessoas e estavam envolvidos no desenvolvimento de estratégias para a guerra. Eles eram um oásis de sabedoria e altamente respeitados em sua sociedade.


Relatos romanos das druidasas

Gaius Julius Caesar era fascinado pelos Druidas. Ele escreveu que eles eram cientistas, teólogos e filósofos, e adquiriram um conhecimento extraordinário. De acordo com especialistas nos escritos de César, o grande líder romano conhecia bem as druidas. Infelizmente, a maioria dos escritores romanos ignorava as mulheres em geral, por isso não é fácil encontrar referências a elas em textos históricos. No entanto, Strabo escreveu sobre um grupo de religiosas que vivia em uma ilha perto do rio Loir. Em ‘Historia’, Augusta é uma descrição de Diocleciano, Alexandre Severus e Aureliano, que discutiram seus problemas com as druidas.

Estrabão conforme representado em uma gravura do século 16. 

Tácito mencionou mulheres druidas descrevendo a matança dos druidas pelos romanos na ilha de Mona, no País de Gales. De acordo com sua descrição, havia mulheres conhecidas como Banduri (druidas femininas), que defendiam a ilha e amaldiçoavam os vestidos de preto. Tácito também observou que não havia distinção entre governantes masculinos e femininos, e que as celtas femininas eram muito poderosas.

De acordo com Plutarco, as mulheres celtas não se pareciam em nada com as romanas ou gregas. Eles eram ativos na negociação de tratados e guerras e participavam de assembleias e disputas mediadas. Segundo o ‘Pomponius Mela’, as virgens sacerdotisas que podiam prever o futuro viviam na ilha de Sena, na Bretanha.

Cassius Dio mencionou uma druidesa chamada Ganna. Ela fez uma viagem oficial a Roma e foi recebida por Domiciano, filho de Vespasiano. Segundo a descrição da Batalha de Moytura, duas druidasas encantaram as rochas e as árvores, a fim de apoiar o exército celta.


Druidasas Famosas

De acordo com as tradições irlandesas, havia dois nomes principais para as mulheres druidas: baduri e banfilid, que significa poetisas. A maioria dos nomes das druidas femininas permanece esquecida. O nome Fedelma foi registrado em textos antigos, como uma mulher na corte da Rainha Medb de Connacht, que era uma “banfili”. Ela viveu no século 10 DC na Irlanda.

O descendente mais famoso de uma mulher druida foi a rainha Boudicca, cuja mãe era uma banduri. Boudicca era uma rainha da tribo celta britânica Iceni. Ela liderou uma revolta contra os romanos no 1 st século dC. Os pesquisadores ainda discutem se Boudicca também era druida.


A adoração das deusas

As druidasas adoravam deusas e celebravam festas em diferentes meses e estações. Uma das divindades que eles adoravam, a deusa Brighid, foi mais tarde adotada por freiras cristãs como ‘Santa Brígida’.


Os passos arqueológicos das druidas

Os arqueólogos descobriram várias provas da existência das druidas femininas. Muitos enterros femininos foram descobertos na Alemanha entre os dois rios Reno e Mosela. As mulheres que foram enterradas lá datavam de cerca do século 4 aC, e foram enterradas com muitos tesouros, joias e outros objetos preciosos. Alguns deles foram enterrados com um torque especial no peito, que são símbolos de status. De acordo com os pesquisadores, apenas uma Druida poderia ter um status alto o suficiente para receber um enterro como este. Dois túmulos localizados em Vix na Borgonha, França e Reinham na Alemanha, datavam do século V aC, e quase certamente pertenciam a mulheres druidas.

Além disso, na Rue de Récollets, em Metz, França, foi descoberta uma inscrição dedicada à druida feminina em homenagem ao Deus Silvano. É difícil confirmar quais das nobres mulheres celtas eram realmente druidas, mas acredita-se que a maioria das mulheres bem educadas cujos túmulos continham bens de luxo eram da elite de suas tribos e, possivelmente, druidas.


A Herança das Druidesas Antigas

Os romanos mataram muitos druidas e destruíram muitos de seus livros. A Igreja Católica Romana acreditava que as druidas femininas eram feiticeiras e bruxas em cooperação com o diabo. Eles também viram o conhecimento dos celtas como um grande perigo para seu domínio. O conhecido São Patrício queimou mais de cem livros druidas e destruiu muitos lugares ligados ao antigo culto.

No entanto, o druidismo nunca desapareceu totalmente. Hoje em dia, muitas pessoas ainda tentam seguir a tradição ancestral. Muitos pesquisadores continuam trabalhando para redescobrir a sabedoria ancestral dos druidas.

Matriarcado

Matriarcado seria uma forma de organização social na qual a mulher ocuparia a posição central, tanto no ramo familiar como na própria comunidade em si. Nessa sociedade, o poder estaria nas mãos da mulher.

Nossa história está cheia de referências a comunidades antigas nas quais as mulheres ocupavam o mesmo espaço que os homens, e outras onde as mulheres estavam em posição de domínio. Tanto as fontes escritas quanto os registros arqueológicos nos contam relatos de deusas muito cultuadas, mulheres guerreiras e líderes poderosas.

Existe uma grande quantidade de estatuetas encontradas em diversas civilizações antigas com representações femininas. Acredita-se que a maioria delas faça referência ao culto da deusa mãe, que existiu há milhares de anos, se espalhando por todo o mundo antigo, e que pode ter sido a base para o culto de várias divindades femininas conhecidas.


Termo, conceito e estudos sobre o matriarcado

O termo matriarcado vem do grego, pela junção entre as palavras metéros (mãe) e arché (origem). É comum uma certa confusão com outros termos parecidos: matrilinearidade e matrifocalidade. O primeiro é uma organização na qual a linhagem segue a linha materna; já o segundo, por sua vez, é um conceito que qualifica um grupo doméstico que tem a mãe como centro, enquanto a figura do pai ocupa um papel secundário.

Uma sociedade matriarcal englobaria os dois conceitos, entre outros.

No século XIX, Johann Jakob Bachofen, um antropólogo suíço, escreveu um estudo monumental, utilizando fontes documentais e arqueológicas, no qual defendia a tese de que a maternidade é a origem de todas as sociedades humanas. Sua pesquisa precursora sobre matriarcado influenciou toda uma geração de estudiosos, deixando as portas abertas para mais descobertas dentro desse campo.

Dentre as figuras ilustres que seguiram esse caminho estão: Arthur Evans, arqueólogo britânico responsável por descobrir os restos da Civilização Minoica, na Ilha de Creta, na Grécia; Jane Hellen Harrison, britânica pioneira nos estudos sobre a Mitologia Grega; e Marija Gimbutas, arqueóloga lituana que pesquisou o culto a deusa Mãe e a substituição do matriarcado pelo patriarcado.

Gimbutas é a responsável pela Hipótese Kurgan, uma teoria desenvolvida para explicar o local de origem dos povos falantes do proto-indo-europeu, uma língua hipotética que seria a ancestral de todas as línguas europeias atuais. Nessa teoria, Gimbutas afirma que a expansão da cultura Kurgan, povos guerreiros que partiram das estepes da atual Rússia para o restante da Europa, pôs fim ao matriarcado no continente.

De fato, as civilizações antigas têm em suas mitologias vários exemplos de guerras entre deuses masculinos e deusas femininas, tais como Apolo contra Píton na Grécia e Marduk contra Tiamat na Babilônia. Os deuses masculinos sempre saem vitoriosos.


Mito ou realidade?

Nas últimas décadas, alguns acadêmicos começaram a questionar a ideia de sociedades matriarcais antigas. Para esses estudiosos, o matriarcado não passa de um mito. A própria hipótese Kurgan, amplamente aceita no passado, tem sido questionada em face a novas descobertas arqueológicas.

MinangkabauOs Minangkabau são um grupo étnico nativo do planalto da Sumatra Ocidental, na Indonésia. Sua cultura é matrilinear, com a transmissão da propriedade e da terra de mãe para filha. Entretanto, as questões políticas e religiosas são áreas masculinas (embora algumas mulheres também desempenhem papeis importantes nessas áreas).

Sua população é de, aproximadamente, 4 milhões, vivendo na Sumatra Ocidental, e de, aproximadamente, 3 milhões vivendo dispersos por muitas cidades e vilas da Indonésia e da Malásia.


Povo Mosuo

Pequeno grupo étnico (aproximadamente 50 mil pessoas) que vive na China, próximo à fronteira do Tibete. Esse grupo também vive em uma sociedade matrilinear, na qual a mulher tem como obrigação as questões familiares e a liberdade nas questões sexuais.


Conclusão

O fato é que não se sabe exatamente quando ou onde se deu a transição entre as sociedades matriarcal e patriarcal. O mais provável é que tenha sido um processo gradual, ocorrido em lugares e épocas diferentes.

Apesar disso, por mais dominante que o patriarcado possa ter se tornado, é interessante notar como ainda existem grupos que conseguem romper com essa tradição.


6 Sociedades Modernas Onde as Mulheres Governam

Por definição padrão, um matriarcado é uma “família, grupo ou estado governado por uma matriarca (uma mulher que é chefe de família ou tribo)”. Desde então, antropólogos e feministas criaram classificações mais específicas para as sociedades femininas, incluindo o sistema matrilinear. A matrilinearidade refere-se não apenas ao traçar a linhagem de alguém através da ancestralidade materna, mas também pode referir-se a um sistema civil no qual a pessoa herda a propriedade através da linha feminina. Enquanto as lendárias Amazonas (provavelmente o matriarcado mais conhecido) são relegadas à mitologia, há um punhado de sociedades lideradas por mulheres que prosperam no mundo real hoje.


1. MOSUO

Vivendo perto da fronteira do Tibete nas províncias de Yunnan e Sichuan, os Mosuo são talvez a mais famosa sociedade matrilinear. O governo chinês os classifica oficialmente como parte de outra minoria étnica conhecida como Naxi, mas os dois são distintos em cultura e idioma.

Os Mosuo vivem com a família extensa em grandes famílias; na cabeça de cada um é uma matriarca. A linhagem é traçada através do lado feminino da família e a propriedade é passada ao longo da mesma matrilina. As mulheres de Mosuo geralmente lidam com decisões de negócios e os homens lidam com política. As crianças são criadas nos lares da mãe e levam o nome dela.

Os Mosuo têm o que é chamado de “casamentos a pé”. Não há instituição de casamento, mas sim mulheres escolhem seus parceiros literalmente caminhando até a casa do homem e os casais nunca moram juntos. Já que as crianças sempre permanecem sob os cuidados da mãe, às vezes o pai pequeno papel na educação.Em alguns casos, a identidade do pai nem é conhecida.Em vez disso, as responsabilidades infantis do homem permanecem em sua própria casa matrilinear.


2. MINANGKABAU

Em quatro milhões de pessoas, os Minangkabau de West Sumatra, na Indonésia, (foto acima, durante um período de safra celebratino)  são a maior sociedade matrilinear conhecida atualmente. Além da lei tribal exigindo que toda a propriedade do clã seja mantida e legada de mãe para filha, os Minangkabau acreditam firmemente que a mãe é a pessoa mais importante da sociedade.

Na sociedade de Minangkabau, as mulheres geralmente dominam o reino doméstico enquanto os homens assumem as funções de liderança política e espiritual. No entanto, ambos os gêneros sentem que a separação de poderes os mantém em pé de igualdade. Após o casamento, toda mulher adquire seu próprio quarto de dormir. O marido pode dormir com ela, mas deve sair de manhã cedo para tomar café da manhã na casa de sua mãe. Aos 10 anos, os meninos deixam a casa da mãe para ficar no alojamento dos homens e aprender habilidades práticas e ensinamentos religiosos. Enquanto o chefe do clã é sempre homem, as mulheres escolhem o chefe e podem removê-lo do cargo, caso sintam que ele não cumpriu suas obrigações.


3. AKAN

O povo Akan é uma maioria em Gana, onde residem predominantemente. A organização social Akan é fundamentalmente construída em torno da matriclan, onde a identidade, herança, riqueza e política são determinadas. Todos os fundadores da matriclan são mulheres, mas os homens tradicionalmente ocupam posições de liderança dentro da sociedade. Esses papéis herdados, no entanto, são transmitidos matrilinearmente – ou seja, através das mães e irmãs de um homem (e seus filhos). Muitas vezes, espera-se que o homem não apenas apóie sua própria família, mas também as de seus parentes femininos.


4. BRIBRI

Os Bribri são um pequeno grupo indígena de pouco mais de 13.000 pessoas que vivem em uma reserva no cantão de Talamanca, na província de Limón, na Costa Rica. Como muitas outras sociedades matrilineares, os Bribri são organizados em clãs. Cada clã é formado por uma família extensa e o clã é determinado pela mãe / fêmea. As mulheres são as únicas que tradicionalmente podem herdar terras. As mulheres também são dotadas com o direito de preparar o cacau usado nos rituais sagrados de Bribri.


5. GARO

Assim como seus vizinhos Khasi no estado de Meghalaya, no nordeste da Índia, os Garos que falam Tibeto-Burman passam pela propriedade e sucessão política de mãe para filha – normalmente, a filha mais nova herda a propriedade de sua mãe. Muito parecido com o Akan, no entanto, a sociedade é matrilinear, mas não matriarcal: os homens governam a sociedade e administram a propriedade.

Muitas vezes, o casamento da filha mais nova é organizado para ela. Mas para filhas não herdadas, o processo pode ser muito mais complexo. Na tradição de Garo, espera-se que o futuro noivo fuja de uma proposta de casamento, exigindo que a futura noiva capture-o e devolva-o à vilania da noiva em potencial. Esse vai-e-vem é repetido até que a noiva ou desista, ou o noivo aceita sua proposta (muitas vezes depois que ela fez muitas promessas de servir e obedecê-lo). Uma vez casado, o marido mora na casa de sua esposa. Caso não funcione, o sindicato é dissolvido sem estigma social, pois o casamento não é um contrato obrigatório.


6. NAGOVISI

Os Nagovisi vivem em South Bougainville, uma ilha a oeste da Nova Guiné. A antropóloga Jill Nash relatou que a sociedade de Nagovisi foi dividida em duas metades matrilineares, que são então divididas em matriclans. As mulheres de Nagovisi estão envolvidas em liderança e cerimônias, mas têm o maior orgulho em trabalhar a terra que lhes é devida. Nash observou que, quando se trata de casamento, a mulher de Nagovisi fazia jardinagem e compartilhava a sexualidade com igual importância. O casamento não é institucionalizado. Se um casal é visto junto, dorme junto, e o homem ajuda a mulher em seu jardim, para todos os efeitos, eles são considerados casados.

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