sábado, 3 de fevereiro de 2018

Os Mistérios Eucarísticos Gnósticos

1. A Eucaristia
Por Arnold Krumm-Heller (VM Huiracocha)

O problema mais profundo das religiões cristãs é a Eucaristia que, de fato, nunca deixou de preocupar os sacerdotes.

Basta consultar a Teologia de Sacrest para perceber-se o esforço dos Católicos na demonstração de que o pão, ou melhor, a hóstia está convertida em Deus, De Verum, como diz o dogma e sustentava o próprio Santo Tomás.

É este o grande ato de magia que o sacerdote, quando pronuncia os mantras:

HOC EST ENIM CORPUS MEUM e HIC EST CALIX SANGUINIS MEI, como pronunciara o Nazareno por ocasião da Ceia e que significam: Este é meu corpo e Este é meu sangue.

No fundo o Catolicismo afirma que a hóstia é realmente Deus e, por isto, a coloca em exposição nos seus altares, no momento das cerimônias religiosas.

Os fiéis prostram-se de joelhos na consumação deste santo sacrifício.

Não pensam do mesmo modo os Protestantes que, acentuando com Lutero as seguintes palavras do Senhor: FAZE ISTO EM MINHA MEMÓRIA, deduzem que a Eucaristia nada tem de comum com o corpo e o sangue do Cristo e que tudo se limita a uma cerimônia sem a mínima transcendência, constituindo-se numa mera recordação da Ceia do Nazareno.

Ficou, portanto, a comunhão, para os Protestantes, reduzida à expressão de um símbolo e nada mais.

Disso deriva, efetivamente, a diferença que distingue o Catolicismo do Protestantismo, que, se pudessem entrar em acordo, com relação a outros pontos de doutrina, jamais se harmonizariam quanto ao Sacramento da Eucaristia.

O Catolicismo Romano compreende perfeitamente o valor de tudo isto e por este motivo não deixa de realizar periodicamente os seus Congressos eucarísticos.

E’ também notável a devoção que o Catolicismo tributa à hóstia, exposta por ocasião da missa.

Os GNÓSTICOS, que procuram esclarecer esses assuntos, encaram o problema através de um prisma muito mais transparente e cristalino. A hóstia e o vinho são ou não o corpo e o sangue do Cristo?

Se a razão está com os Católicos é insignificante o cerimonial que executam para a celebração de tão sagrados elementos; se está, porém, com os Protestantes, carece de importância, pois, o Nazareno aludiu a coisas muito mais elevadas que a Igreja não celebra, pelo menos, com tanta retumbância.

A crucificação, por exemplo, seria um ato ritualístico de sublime significação.

Os Mistérios antigos no Egito ou na Grécia realizavam sempre idênticas solenidades e a UNÇÃO foi, do mesmo modo, considerada uma cerimônia de assinalada preponderância.

Daí, certamente, o interesse que o Sacramento desperta.

Para a solução do problema lançamos mão da nossa CHAVE: o México nos antigos Mistérios do Sol que, ainda hoje, são celebrados, na sua original pureza, pelos Chuch-kahau, que são Magos ou Sacerdotes existentes no Departamento de Chiche, na Guatemala e em outras localidades do Yucatan.

Acentuamos que se trata do Cristo e, para isto, basta refletir quem foi Quetzalcoatl.

Fixemos nossa mente no Sol, não no sentido puramente material e astronômico de centro do sistema planetário, não como o Sol que é apenas um expoente parcial, mas no Sol como essência da sua luz, que é, em si mesma, o Reino do Céu, a Substância Cristônica, esparsa por todo o Cosmo.

Deste modo, os Mistérios antigos compreenderam Quetzalcoatl e assim, justamente, devemos compreender o Cristo, na sua qualidade de substância íntima, solar.

Os antigos mexicanos tinham o costume de pôr nos túmulos diversos alimentos como pão e o pulque, isto é, pão e vinho, e acreditavam que os mortos, depois de abandonarem o corpo material, possuíam necessidades físicas e precisavam, portanto, alimentar-se.

Ainda mantêm esses velhos hábitos que, por mais extravagantes que pareçam, não deixam de ter uma explicação. Quando morremos, e a alma deixa o corpo, continuamos a sentir, por muito tempo, o ambiente em que vivemos, e nos parecerá estranho como conseguimos atravessar as paredes das habitações familiares, sem despertar a atenção dos que nos cercam. O conhecimento desses fenômenos deu origem ao Espiritismo, que não deixa de ter suas razões.

Pois bem, quando vivemos, tomamos alimentos, entre eles, pão e vinho, que, ao penetrarem em nosso organismo, são transformados e assimilados. Quando mortos, não dispomos dos órgãos necessários à alimentação, mas a Alma do ser desencarnado percebe que tudo, agora, se opera de um modo absolutamente contrário. Em vez do alimento, por exemplo, penetrar no organismo, o organismo penetra no alimento, e nisso está a CHAVE ou a explicação do Mistério.

Todos nós recebemos, em particular, essa energia solar, essa luz íntima do Cosmo. Jesus foi o único que se saturou e se converteu nessa luz. O Mistério do Gólgota reside em que a alma do Nazareno, depois do sacrifício da cruz, difundiu-se por todo o Cosmo, sem perder, contudo, a sua personalidade e sua missão de Guia de nosso Planeta.

Um sacerdote consciente pode, portanto, invocar o Cristo e conseguir que a substância cristônica penetre realmente no pão e no vinho, que, uma vez em nosso organismo, SE UNE AO CRISTO DO NOSSO REAL SER.

Assim, nem os Católicos nem os Protestantes têm razão. A explicação do Mistério está no que acabamos de expor.

O México, com seu culto solar, nos dá a CHAVE DO GRANDE MISTÉRIO e se as filosofias e religiões que nos chegam do Oriente exaltam a Índia, o Egito e a Grécia, por este motivo, com maior razão temos o dever de exaltar o México.

2. A Eucaristia e Os Anjos da Presença, Do Amor e da Morte
Por Geoffrey Hodson

As almas desencarnadas assistem frequentemente aos serviços físicos das igrejas, porém na ocasião especial da Missa de Réquiem, vê-se presente um grande número delas. Muitas chegam, algum tempo antes do início do serviço, concentrando-se a maior parte ao redor das alas da igreja e na galeria, e ocupando grande parte do espaço sob o teto.

Em suas consciências mais elevadas muitos membros da congregação física podiam saudar a seus amigos superfísicos. A alegria de muitas reuniões felizes que assim ocorreram, não foi em nada afetada pelo fato de pouco ou nenhum conhecimento dos desencarnados ter penetrado na consciência física dos encarnados.

A maior parte da congregação física havia criado nítidas formas-pensamento de seus amigos particulares falecidos e estas foram mais tarde substituídas pelos próprios amigos. Em alguns casos os desencarnados trouxeram consigo seres com quem haviam feito amizade no outro lado. Estes, junto a outros visitantes e os frequentadores superfísicos da Igreja, humanos e angélicos, formaram uma congregação muito grande nos mundos ocultos.

A congregação superfísica ficou de frente para o altar no início do serviço, e daí em diante foi gradualmente se aproximando cada vez mais do mundo físico. Desde o começo eles viram nitidamente os candelabros, porque a luz da vela de cera é visível nos mundos ocultos e algumas vezes é usada como um sinal para os do outro lado do véu. A chama de luz e força emanada do Sacramento Reservado também é claramente vista, bem como os anjos ministrantes e as correntes de força fluindo através dos vários símbolos e joias. Entretanto, estranhamente alguns nada veem, apesar de sua visão não ser limitada como a nossa, por possuirmos corpo físico.

O efeito geral, entretanto, era para revelar o interior do plano físico da igreja, como se tivesse sido aberta uma cortina de um palco. Este afastamento do véu não se estendeu na mesma proporção ao exterior da Igreja. O conjunto da congregação ficou isolado das vibrações e fenômenos do mundo externo. Um grande anjo a quem nos referiremos mais adiante, vigiava este isolamento e mantinha a congregação superfísica dentro de sua aura, e assim ajudava a criar as condições em que o véu poderia ser seguramente afastado.

Os ANJOS DA EUCARISTIA têm também o cuidado de incluir tanto os vivos comos os desencarnados no edifício interno espiritual, de forma que todos possam compartilhar tanto quanto possível das influências derramadas. Eles ajudavam as pessoas no que era necessário e possível, e gradualmente, como resultado de suas carinhosas ministrações e do serviço, as congregações física e superfísica eram unidas uma a outra. No final do serviço os desencarnados estão aptos a ver o edifício físico, seus amigos, e especialmente os sacerdotes e os servidores no interior do Santuário.

Isso os enchia de intensa felicidade, embora alguns experimentassem vaga saudade e mesmo anseio de retornar a vida e camaradagem do plano físico. Uns poucos não haviam achado a nova vida tão feliz quanto poderia ter sido, e sentiam-se solitários ali.

Para muitos, sua consciência interna se desvanecia um tanto à medida que a percepção física aumentava, embora alguns poucos retivessem sua visão de seus próprios mundos. Alguns penetravam na aura de seus amigos e permaneciam de pé ou sentados com eles, porém a maioria dos que tinham amigos físicos presentes flutuavam bem acima deles. Quase todos sentiam a alegria da reunião e de receber os pensamentos e recordações amorosas de seus amigos e parentes.

Gradativamente, a medida que todos se tornavam completamente harmonizados, as palavras e a música eram ouvidas com crescente clareza. Isto os tornava muito ditosos, evocando-lhes antigas recordações. Para eles era um grande prazer ouvir as vozes atuais de seus amigos particulares, deixados no plano físico. Ouviam muito atentamente o sermão, e no Credo, todos inclinavam suas cabeças. Alguns deles evidentemente conheciam bem as palavras e ajoelhavam-se no exato momento, porém todos acompanhavam com compreensão e assentimento reverentes.

Decorrido algum tempo, todas as considerações pessoais cederam lugar ao ato de adoração conjunta, quando as duas congregações se integraram no ritmo e poder do serviço. Pouco a pouco, com poucas exceções, se tornaram unificadas e harmonizadas, e os anjos puderam tratá-las como uma unidade. As exceções foram os que não haviam sido acostumados ao culto da igreja; estes permaneciam um tanto afastados, observando com interesse, mas não participando.

O Anjo da Presença resplandecia em toda a perfeita beleza espiritual do Senhor, cujos amor e bênção fluíam continuamente através d’Ele. Todos eram envolvidos nesse maravilhoso fluxo, especialmente os sentados a parte, pois o Anjo parecia volver sua atenção para eles com o mais terno e compassivo amor, que paulatinamente vencia seu afastamento e os atraía.

Um grande anjo de tipo inteiramente novo para o autor apareceu na extremidade ocidental da igreja. Embora fosse essencialmente um Anjo de Amor, e vertesse uma qualidade especial de amor e proteção sobre os desencarnados, sua aparência externa era tal que nos fazia pensar no Anjo da Morte. Parecia ser um representante do grande Deus da Morte, cuja mão poderosa corta o cordão de prata que ata a alma ao corpo durante a vida terrena. Sua fisionomia era enérgica e inspirava tímido respeito com sua inescrutável expressão de poder e mistério. Era de cor verde escuro e da altura do corpo da igreja.

Mantinha a congregação invisível muito coesa no interior de sua consciência e exercia uma influência protetora sobre a mesma, de forma que nenhum dano poderia ocorrer aos vivos como aos mortos. Ele permanecia imóvel e impassível, zelando como se mencionou acima o isolamento da igreja do mundo externo, e dando a impressão de uma estátua enorme, viva e verde escura do Anjo da Morte.

No mundo do Além, como neste mundo existem muitos seres indesejáveis que tomariam vantagem imediata das condições especiais, do íntimo intercâmbio de forças entre os dois mundos. Esta proteção angélica era, portanto, adicionada ao isolamento propiciado pela consagração original da igreja e pelas “paredes” do edifício eucarístico.

Parece também ter havido uma rarefação do véu no mundo externo, porém isto se restringiu aos níveis mais elevados dos planos concernentes. Isto parece ser o resultado de certas mudanças que ocorrem em todo sistema solar nesta época do ano. A influência do espiritual, como distinta do material, parece ser de algum modo aumentada e a divisão entre o espírito e a matéria como um conjunto, parece ser marcante.

Talvez haja uma lei cíclica sob a qual, nesta época do ano, todos os véus se tornam definidamente mais tênues, de sorte que os níveis sem forma e com forma se tornara mais intimamente associados e os planos dentro destas divisões, mais intimamente sincronizados. Os subplanos mais elevados dos mundos mental, emocional e etérico, são fundidos e mutuamente entrelaçados de maneira que o pulsar da vida e força no mundo material e através do mesmo é muito mais livre, do que normalmente.

Dentro da igreja, onde se criam condições especiais, isto se estende através de todos os subplanos, decrescentemente, e daí a necessidade de medidas especiais de precaução.

Aparentemente é função do Anjo da Morte manter a necessária proteção, pois a ele concerne a passagem de poder, consciência e vida de plano para plano, e a transferência da consciência humana do plano físico ao plano emocional, na morte. Ele pode exercer uma função, que é complementar e o inverso da de Nossa Senhora, a qual preside a todo nascimento humano. Sugere-se correspondência, porém o autor não está habilitado a dar um pronunciamento definido sobre o assunto.

Retornando ao serviço em si, notou-se que a repetição de um nome em uma cerimônia liga instantaneamente o seu dono, aonde quer que esteja, com o oficiante, e através dele, com o poder da cerimônia. Quando foi recitada a prece pelos mortos e mencionados os nomes dos falecidos, os designados fulguravam subitamente com uma luz maior, a bênção do Senhor verteu-se do Santuário sobre eles, e fez o princípio crístico brilhar dali para dentro deles.

Os não efetivamente presentes tiveram sua atenção atraída para os ali mencionados. Em alguns casos vieram imediatamente para a igreja, chamados pelo poder do Senhor e pelo amor dos que os lembraram.

Os próprios anjos trouxeram para a igreja muitos daqueles cujos nomes foram mencionados, ao mesmo tempo que adicionavam outros, não mencionados. Muitos anjos se assemelham a lindos pastores, cada um com seu rebanho destas “ovelhas” humanas, que haviam reunido e trazido a presença do Senhor. Muitos auxiliares humanos invisíveis, estavam também muito ocupados em trazer gente desencarnada para a igreja, e em ajudá-los a assimilar a atmosfera e a bênção do serviço.

O Anjo Construtor incluía todos estes em sua esfera de trabalho, e o Anjo da Presença saudava-os com o seu glorioso sorriso de amor e ternura a medida que chegavam. Era maravilhoso contemplar a expressão e o sorriso do Anjo da Presença.

Seu sorriso revela muitíssimo mais do que qualquer sorriso humano pode expressar; inclui um jubiloso reconhecimento de um velho e muito amado amigo, uma profunda compreensão espiritual de todas as suas mais elevadas esperanças e possibilidades, e o terno amor compassivo de um pai para com o seu filho predileto. A expressão na face do Anjo é sempre a de exaltação espiritual, enquanto que o irradiante poder, vida e amor fluem através dele continuamente.

Quando, pois, ele sorri, a beleza e amor profundamente compassivo revelados excedem a toda concepção humana, e nenhuma palavra pode retratar com propriedade a maravilha deste glorioso Representante Angélico de Nosso Senhor.

Uma tal visão do Bom Pastor e Seus servos angélicos e Seu rebanho demonstrou prontamente que Ele conhece cada indivíduo deste planeta, que todos os homens estão envolvidos no abraço de Seu Amor, e que de fato “por baixo estão os eternos braços”. O Anjo da Presença reconhecia, cumprimentava, abençoava e enviava amor a cada indivíduo que chegava, e extraía o mais elevado no interior de cada um, em resposta.

A medida desta resposta variava consideravelmente. Alguns nessa hora estavam preocupados e concentrados em si e não responderam completamente; todos eram definidamente auxiliados, cada um na medida em que estava apto a receber e assimilar a bênção vertida e o Cristo interno podia ser despertado.

Àqueles que estavam lutando com grandes dificuldades quando a bênção os atingiu – frequentemente acompanhada por um anjo – se sentiam de repente livres da tensão o iIuminados com as soluções de seus problemas. Para muitos era um nítido ponto de retorno no longo ciclo de encarnações; pode mesmo influenciar o restante de sua peregrinação para a perfeição.

Como fez o Filho Pródigo, desde então “se levantarão e irão a seu Pai”. Teve lugar uma verdadeira conversão e determinaram-se desde esse dia a dedicar-se à vida espiritual e ao trabalho profícuo.

3. Os Anjos e sua Função na Eucaristia e nos Rituais
Por Charles Leadbeater

Quando um homem adentra na igreja, ele se põe na presença de Nosso Senhor, entronizado sobre Seu altar; e só por este fato ele também entra na presença de uma grande multidão de Anjos adorantes. O quanto será possível fazer por ele depende de até onde ele pode abrir seu coração à sua influência, e de sua disposição física, moral e mental.

Alguns de nós sentem tais influências fácil e nitidamente, por termos aguçado nossos sentidos em tal direção; outros as percebem apenas vaga e incertamente; mas um número crescente de pessoas está se tornando cônscia delas. O homem está andando em lentos passos em direção a tornar-se o tipo de criatura que os Anjos podem ajudar, e à medida que avança mais para dentro de sua esfera, percebe melhor seu interesse e sua graciosa resposta.

A presença dos Anjos não nos deveria ser incerta, vaga ou hipotética; deveríamos começar a pensar que são realidades perfeitamente definidas, e ainda que não possamos de fato vê-los mais do que vemos uma corrente elétrica, são reais como uma corrente elétrica o é, e seus efeitos podem ser notados por aqueles que são capazes de senti-los.

Grandes legiões de Anjos assistem à celebração da Eucaristia. Os maiores Anjos acodem para tomar uma parte definida no trabalho. A Sagrada Eucaristia não é celebrada para nós, ainda que muito benefício possamos obter dela. Nós não vamos no intuito de receber, mas principalmente no de dar.

Nós vamos porque este é o método pelo qual Cristo irradia influência espiritual sobre todo o Seu mundo, e nós vamos lá para ajudá-lo nesta distribuição de divina energia. Incidentalmente obtemos muito para nós mesmos, mas este não é nosso objetivo principal.

Os Anjos vêm – os grandes Anjos – a fim de fazer tudo isso possível para nós. Ao fim do Asperges, pedimos a Deus que envie Seu Anjo para nos ajudar e para estar conosco. Em resposta a aquele apelo acorre o Anjo da Eucaristia e constrói um receptáculo a partir de nossa devoção e de nossos sentimentos, e da energia liberada pela parte musical do serviço.

Maiores que ele são os Anjos que vêm quando os chamamos justamente antes do Sanctus – quando o sacerdote ou bispo, tendo pedido que elevássemos nossos corações e déssemos graças a Deus, prossegue dizendo que com os Santos Anjos (enumerando os diferentes tipos), também fazemos nossa parte.

Este é o chamamento tradicional a eles, e a melodia com que cantamos “Corações ao alto!” e “Nosso coração está em Deus” tem quase 2 mil anos, se não mais. Ela remonta aos primeiros tempos em que tais músicas eram cantada na Igreja.

Então eles vêm e tomam parte no serviço. É claro que não devemos pensar nem por um momento que este é um privilégio nosso. Em todas as Igrejas Cristãs onde não houve ruptura na sucessão apostólica, permanece o mesmo mecanismo; na verdade não devemos sequer imaginá-lo confinado ao Cristianismo. Todas as religiões existem para o auxílio do mundo, e em quase todas algum sistema é arranjado para a recepção e distribuição de força espiritual.

Este trabalho dos Anjos é tornado mais fácil quando a congregação compreende o que está sendo feito e colabora inteligentemente através do pensamento. Destarte deveríamos nos aplicar em saber e compreender, para que pudéssemos ajudar os Anjos no trabalho que têm de fazer.

Esses Espíritos gloriosos são de tantos tipos diversos que é praticamente impossível tentar alguma descrição deles. Muitos deles têm forma humana, ainda que usualmente maiores que a estatura do homem. Suas cores, sua radiância e iridescência são de uma maravilha além de toda palavra; eles nos olham com seus olhos faiscantes, plenos da paz eterna.

Suas auras são tão grandes e tão mais magnificentes que as nossas, que à distância parecem somente esferas de luz fulgurante. Nunca os vi com asas; na verdade, imagino que as asas usadas pelos Anjos da arte e da poesia devam simbolizar seus diversos poderes, como o ilustram algumas escrituras.

Esta suposição pode ser corroborada pelo fato de que mesmo nas histórias bíblicas, quando o Anjo do Senhor vem visitar Seu Povo (como Abraão, Pedro e outros), ele costumeiramente é tomado por um homem, o que dificilmente ocorreria se portasse um par de asas enormes.

A aura de um grande Anjo é muito mais expansível e flexível que a nossa; ele se expressa simultaneamente em formas-pensamento de desenho maravilhosamente belo, em fulgurações de gloriosas cores e através de uma pletora da mais deslumbrante música.

Para ele um sorriso de boas-vindas poderia ser um coruscante relampejar de cores e uma torrente de harmonias sonoras; uma frase proferida por um desses valorosos Filhos de Deus seria como um grandioso oratório; uma conversação entre dois grandes Anjos seria como uma poderosa fuga (estilo de composição musical contrapontística onde as várias vozes, que têm aqui igual importância, entram em distâncias e alturas sucessivos e predeterminados, dialogando em forma de imitação mútua ou eco), com motivo (ou tema, fragmento melódico apresentado na abertura da peça) respondendo a motivo, ecoando em cataratas de harmonia acompanhada de caleidoscópicas mutações de tons flamantes, cintilando como miríades de arco-íris.

Anjos há que vivem e se expressam pelo que para nós são fragrâncias e perfumes – mesmo que dizer assim seja degradar e materializar as exóticas emanações nas quais se comprazem tão jubilosos.

Sempre há Anjos cerca da Hóstia Consagrada, mas quando o fulgor aumenta, na Elevação ou no Benedictus, vemos uma surpreendente e ainda mais formosa adição à falange, pois um número de pequeninos Anjos volteiam em seu redor.

A maioria dos membros da Hoste Angélica são pelo menos do tamanho humano, e muitos deles são bem maiores que o homem; mas há uma tribo de diminutos querubins que são como aqueles pintados por Ticiano ou Michelangelo. São todos pequenas e maravilhosamente perfeitas criaturas – não diversos de certos tipos de espíritos da natureza, exceto pelo fato de que são muitíssimo mais radiantes e indubitavelmente angélicos em feição; têm aparência de crianças, mas ainda assim parecem muito, muito velhos.

São uma imagem do fulgor eterno que é impossível de expressar em palavras; são como aves do paraíso no esplendor de suas cores, seres feitos de luz viva; e eles voejam ou quedam em atitude de adoração, volteando adiante e atrás ao se mover, criam uma espécie de esfera oca em torno da Hóstia – uma esfera de talvez seis metros de diâmetro.

Penso que nenhum deles desce ao nível astral; a maioria deles é distinguível somente com a visão do plano causal, o que significa que seu veículo mais denso é feito de matéria pertencente ao plano mental. São da mais alta valia no serviço, pois refletem e transmutam algumas das mais poderosas forças empregadas, e podem veicular grandes quantidades de outras; assim, um torvelinho de indescritível atividade está sempre acontecendo dentro e em torno da esfera.

Há também um outro tipo destas criaturinhas ao qual o título de Anjo é menos adequado. São igualmente graciosas e belas à sua maneira, mas na realidade pertencem ao reino dos elfos ou espíritos da natureza.

Eles não se expressam através de perfumes, mas vivem nas cercanias e misturados a tais emanações, e estão onde quer que fragrâncias estejam sendo disseminadas. Há muitas variedades, algumas vivendo de odores repulsivos e pesados, outras somente daqueles delicados e refinados. Entre eles existem algumas poucas espécies que são especialmente atraídas pelo cheiro do incenso, e são encontradas sempre que este é queimado.

Quando o sacerdote incensa o altar, criando um campo magnético, enclausura dentro dele um número destes deliciosos elfinhos, e eles absorvem grande quantidade da energia que é acumulada ali, tornando-se valiosos agentes de sua distribuição no momento oportuno.

Nós podemos também guardar em afetuosa lembrança a grande classe de Anjos-Pensamento, que estão especialmente conectados com os serviços da Igreja.

O maior de todos é o Anjo da Presença, que aparece toda vez que a Santa Eucaristia é celebrada, e consuma por nós aquele tremendo sacrifício; pois, ao completar os deveres de seu ofício sagrado, o sacerdote pronunciando as palavras de poder, aquele Anjo fulgura, e pelo seu ígneo toque acontece aquela espantosa transmutação que é ao mesmo tempo o maior de todos os milagres e ao mesmo tempo o de todos o mais natural, uma expressão íntima do Amor Divino.

Ele é em verdade uma forma-pensamento do próprio Senhor Cristo, uma projeção daquela prodigiosa Consciência.

Não há alegria maior para Seus Santos Anjos que seguir o clarão daquele pensamento, e banhar-se naquele rio de vida, aquele inefável derramar de influência espiritual. E isso acontece em cada Eucaristia; em cada Missa a congregação é de longe muito mais numerosa da que pode ser vista com os olhos físicos; e quando celebramos estes sagrados mistérios, os esquadrões da falange celeste juntam-se a nós, aqui e agora.

4. A Missa Sagrada, A Eucaristia e A Visão Gnóstica
Por Helena Blavatsky

Prestemos alguns momentos de atenção às assembléias dos “Construtores do Templo Superior” nos primeiros tempos do Cristianismo. Ragon nos mostrou plenamente a origem dos seguintes termos:

a) “A palavra ‘Missa’ vem do latim Messis – ‘colheita’, donde o nome de Messis, aquele que faz amadurecer as colheitas – o ‘Cristo-Sol’.

A palavra ‘Loja’, da qual se servem os maçons, fracos sucessores dos Iniciados, toma sua raiz em Loga (Loka em sânscrito), uma localidade e um Mundo; e do grego Logos – a Palavra, um discurso, cujo pleno significado é: um local onde certas coisas são discutidas”.

c) As reuniões dos Logos dos Maçons, Primitivos Iniciados, acabaram sendo chamadas Synaxys, ‘assembleias’ de Irmãos, com o fim de rezar e celebrar a Ceia (refeição), onde eram utilizadas somente as oferendas não manchadas de sangue, tais como os frutos e cereais. Logo depois essas oferendas foram chamadas Hostiae, ou Hóstias puras e sagradas, em contraste com os sacrifícios impuros (como os prisioneiros de guerra, Histes, donde o francês Hostage – Ôtage ou Refém), e porque as oferendas consistiam de frutos da colheita, as primícias de Messis. Já que nenhum Padre da Igreja menciona, como certos sábios o teriam feito, que a palavra missa vem do hebreu Missah (Oblatum, oferenda), esta explicação é tão boa quanto a outra. (Para um estudo profundo da palavra Missah e Mizda, ver Os Gnósticos, de King, pág. 124 e seguintes).

A palavra Synaxis tinha seu equivalente entre os gregos na palavra Agyrmos (reunião de homens, assembleia). Referia-se à Iniciação nos Mistérios. As duas palavras, Synaxis e Agyrmos (14) caíram em desuso, e a palavra Missa prevaleceu e ficou.

Desejosos como estão os teólogos de velar pela sua etimologia, diremos que o termo “Messias” (Messiah) deriva da palavra latina Missus (Mensageiro, o Enviado). Mas, se assim é, essa palavra poderia também ser aplicada ao Sol, o mensageiro anual, enviado para trazer nova vida à terra e à sua produção. A palavra hebraica Messiah, Mashiah (o ungido, de Mashah, ungir) dificilmente poderia ser aplicada no sentido eclesiástico, ou seu emprego ser justificado como autêntico, tanto quanto a palavra latina Missah (missa) não deriva da outra palavra latina Mittere, Missum, “enviar” ou “reenviar”. Porque o serviço da comunhão, seu coração e sua alma, se fundamenta na consagração e oblação da Hóstia (sacrifício), um pão ázimo (fino como uma folha) representando o corpo de Cristo na Eucaristia, e sendo feito de flor de farinha, é um desenvolvimento direto da colheita ou oferendas de cereais.

Ainda mais, as missas primitivas eram Ceias (ou último alimento do dia), simples refeição dos romanos, em que eles “faziam abluções”, eram ungidos e se vestiam do Senatory, e foram transformadas em refeições consagradas à memória da última ceia de Cristo.

No tempo dos apóstolos, os judeus convertidos se reuniam em seus Synaxis para ler os Evangelhos e suas correspondências (Epístolas). São Justino (ano 150 de nossa era) nos diz que essas Assembleias solenes eram feitas nos dias chamados “sun” (o dia do Senhor, e em latim, Dies Magnus).

Nesses dias, havia o canto dos Salmos, a “colação” do batismo com água pura e o Ágape da Santa Ceia “com água e o vinho”. Que tem a ver essa combinação híbrida das refeições romanas pagãs, erigidas em mistério sagrado pelos inventores dos dogmas da Igreja, com o Messiah hebreu, “aquele que deve descer às profundezas” (ou Hades), ou com o Messias (que é a sua tradução grega)?

Como demonstrou Nork, Jesus jamais foi ungido, nem como grande sacerdote, nem como rei, e é por isso que seu nome Messias não pode derivar da palavra equivalente hebraica, ainda mais que a palavra “ungido” ou “untado de óleo”, termo homérico, é CHRI e CHRIO, ambos significando Untar o Corpo de Óleo (ver Lúcifer, 1887: The Esoteric Meaning of the Gospels – O Significado Esotérico dos Evangelhos).

As frases seguintes de outro maçom de grau elevado, autor da Sources des Mesures, resumem em algumas linhas esse “imbróglio” secular: “O fato é , diz ele, que existem Dois Messias: um, descendo por sua própria vontade ao abismo para a salvação do mundo – é o Sol despojado de Seus Raios de Ouro e coroado de raios negros como espinhos (simbolizando essa perda); o outro, o Messias triunfante, que alcançou o Ápice do Arco do Céu, personificado pelo Leão da Tribo de Judá. Em ambos os casos, ele tem a cruz…

Nas Ambarválias, festas romanas dadas em honra a Ceres, o Arval, assistente do Grande Sacerdote, vestido de branco imaculado, colocava sobre a Hóstia (a oferenda do sacrifício) um bolo de trigo, água e vinha; provava o vinho das libações e dava-o a provar aos outros.

A Oblação (ou oferenda) era então erguida pelo Grande Sacerdote. Tal oferenda simbolizava os três reinos da natureza: o bolo de trigo (o reino vegetal), o vaso do sacrifício ou Cálice (o reino mineral) e o Pal (a estola) do Hierofante, uma de cujas extremidades pousava sobre o cálice contendo o vinho da oblação. Essa estola era feita de pura lã branca de tosão de cordeiro.

Os padres modernos repetem gesto por gesto os atos do culto pagão. Eles erguem e oferecem o pão para a consagração; benzem a água que deve ser posta no cálice, e em seguida vertem o vinho, incensam o altar, etc., etc…, e, voltando ao altar, lavam os dedos, dizendo: “Eu lavarei minhas mãos entre o Justo e rodearei teu altar, Ó Grande Deus!”

Assim o fazem porque o antigo sacerdote pagão assim o fazia, e dizia: “Eu lavo minhas mãos (com água lustral) entre o Justo (os irmãos completamente Iniciados) e rodeio teu altar, ó Grande Deusa (Ceres)”.

O Grande Sacerdote fazia três vezes a volta ao altar, levando as oferendas, erguendo acima de sua cabeça o cálice coberto com a extremidade de sua estola feita de lã de cordeiro, branca como a neve…

A vestimenta consagrada, usada pelo papa, Pallium, tem a forma de uma manta feita de lã branca, com um galão de cruzes púrpura. Na Igreja grega, o padre cobre o cálice com a extremidade de sua estola pousada sobre seu ombro.

O Grande Sacerdote da Antiguidade repetia três vezes durante o serviço divino seu “O Redemptor Mundi” a Apolo – o Sol; seu “Mater Salvatoris” a Ceres – a Terra; seu Virgo Partitura à Virgem Deusa, etc… pronunciando Sete Comemorações Ternárias. (Ouvi, ó maçons!)

O número ternário tão reverenciado na Antiguidade como em nossos diasé pronunciado sete vezes durante a Missa; temos três Introito, três Kyrie Eleison, três Mea-Culpa, três Agnus Dei, três Dominus Vobiscum, verdadeiras séries maçônicas. Acrescentemos-lhes os três Et Cum Spiritu Tuo, e a missa cristã nos oferecerá as mesmas Sete Comemorações Tríplices.

Paganismo, Maçonaria, Teologia, tal é a trindade histórica que governa o mundo Sub-Rosa.

Podemos terminar com uma saudação maçônica, e dizer: Ilustre dignitário de Hiram Abif, Iniciado e “Filho da Viúva”: o Reino das Trevas e da ignorância desaparece rapidamente, mas há regiões ainda inexploradas pelos sábios e que são tão negras quanto a noite do Egito.

Fratres Sobrii Estote et Vigilate.

5. Os 7 Sacramentos da Comunidade dos Iniciados

SACRAMENTOS
Planeta
Arcanjo
Significado
Batismo
Lua
Gabriel
O Conhecimento dos Mistérios Alquímicos, pacto do Batismo para ser orientado internamente.
Confirmação
(Crisma)
Mercúrio
Rafael
Aprofundamento e tomada de Consciência da importância desses Mistérios para nossa Autorrealização.
Matrimônio
Vênus
Uriel
A efetiva prática desses Mistérios, é executar o que já se estudou e se praticou o be-á-bá da Alquimia, como os pranayamas, mantras, desbloqueios dos nadís etc. Aqui se trabalha de verdade no 1º Fator.
Eucaristia
Sol
Michael
Ajuda vinda dos Mundos do Cristo, aqui se absorvem os Átomos Crísticos, tão necessários para nosso crescimento interior.
Confissão
Marte
Samael
Aqui se conhece e se pratica realmente a Morte do Ego, o 2º Fator.
Apostolado
Júpiter
Zacariel
O Apostolado é sinônimo do 3º Fator, da ajuda à humanidade, amor consciente ao próximo, entregando a Doutrina Gnóstica.
Extrema-Unção
Saturno
Orifiel
Aprofundamento do Trabalho dos 3 Fatores para a total transcendência do si mesmo. A morte absoluta e a Renúncia.


6. Quem Ensinou o Mistério da Santa Eucaristia ao V.’. M.’. Samael Aun Weor

Estando nos Mundos Superiores de Consciência Cósmica, o mestre Samael fez “amizade” com um poderoso Anjo de Deus, Anjo de Mando e do Poder, chamado Aroch.

Foi este Anjo, todo sabedoria, Amor e Poder, que ensinou ao mestre Samael, entre outras coisas, o mantra mais poderoso para se despertar a Kundalini, o antibiótico mais eficiente do mundo, a Conjuração de Proteção mais poderosa do Universo (Belilin) etc.

Esse Anjo sagrado também ensinou ao Mestre Samael e a toda a Comunidade Gnóstica os Mistérios da Santa Unção Gnóstica, ou Mistério Eucarístico Gnóstico.

Leiamos o que o mestre Samael escreveu, no livro Tratado Esotérico de Magia Prática:

Quando o Anjo Aroch, Anjo de Mando, me ensinou esta chave maravilhosa da Unção Gnóstica, também me ensinou a ORAR:

“São indizíveis aqueles instantes em que o anjo Aroch, na figura de um menino, ajoelhado e com as mãos unidas sobre o peito, levantou seus olhos puríssimos até os Céus…

Seu rosto parecia ser de Fogo naquels instante, e, cheio de Amor profundo, esclamava:

“SENHOR, SENHOR, NÃO ME DEIXES CAIR, NÃO ME DEIXES JAMAIS SAIR DA LUZ… Etc…”

Logo, repartiu o Pão e o deu de comer, e pôs o vinho dentro de uma pequena jarra de prata. Serviu-o em alguns cálices e nos deu de beber…”

Até aqui, as palavras de nosso querido mestre Samael.

Como se pode invocar a este Anjo, toda vez que necessitarmos Iluminação, Consolo, Proteção e Sabedoria? Continua o Mestre, explicando:

À noite, antes de dormirmos, faremos uma oração. Devemos ter uma vela acesa (que deverá ser apagada depois de feita a oração), um copo com água e uma rosa (esta deverá estar sem o cabo, somente em botão. Se tivermos um altar, melhor. Se não, também está bom…)

Acendemos uma vela, colocamos no copo a água e, mergulhado na água colocamos um botão de rosa (sem o cabo, somente o botão).

Aí fazemos a oração conforme sabemos e podemos, e de manhã, logo após acordarmos, bebemos esta água…

Podemos repetir esta prática por 3 dias seguidos…

(Do livro Tratado de Magia Prática)

7. O Milagre da Transubstanciação
(Texto retirado do livro O Parsifal Desvelado, do VM Samael Aun Weor, disponível em nossa Biblioteca Gnóstica.)
Na Missa Gnóstica encontramos o seguinte relato:

“(…) E Jesus, o Divino Grande Sacerdote Gnóstico, entoou um doce cântico em louvor do Grande Nome e disse aos seus discípulos: ‘Vinde a Mim e eles assim o fizeram’.

Então, dirigiu-se aos quatro pontos cardeais, estendeu seu tranquilo olhar e pronunciou o nome profundamente sagrado “Jeú”, abençoou-os e lhes soprou nos olhos.

Olhai para cima – exclamou. Já sois clarividentes. Eles então levantaram seus olhares para onde Jesus assinalara, e viram uma grande cruz que nenhum ser humano poderia descrever.

E o Grande Sacerdote disse: Afastai a vista dessa grande luz e olhai para o outro lado. Então viram um grande fogo, vinho e sangue. (Aqui abençoa-se o pão e o vinho.)

E continuou: Em verdade vos digo que eu não trouxe nada ao mundo, senão o fogo, a água, o vinho e o sangue da redenção.

Trouxe o fogo e a água do lugar da luz, dali onde a luz se encontra.

Trouxe o vinho e o sangue da morada de Barbelos.

Depois de passado algum tempo, o Pai me enviou o Espírito Santo em forma de branca pomba, mas, ouvi-me: o fogo, a água e o vinho são para a purificação e o perdão dos pecados.”

O Evangelho de Taciano testemunha o sacramento do corpo e do sangue, dizendo:

“E Jesus tomou o pão e o abençoou.

E deu-os aos seu discípulos, dizendo: Tomai e comei, porque este é o meu corpo, que lhes é dado.

E, tomando o cálice, deu graças, e o ofereceu aos seus discípulos.

E disse: Tomai e bebei, porque este é o meu sangue que será vertido na remissão dos pecados.

E desde agora não beberei mais do fruto da videira até o dia em que o beba convosco no reino de meu Pai. Fazei isto em minha comemoração.”

Lucas desvenda inteligentemente o profundo significado desta mística cerimônia mágica, dizendo:

“Chegou o dia dos pães sem fermento, no qual era necessário sacrificar o Cordeiro Pascal.

E Jesus enviou a Pedro (cujo evangelho é o sexo) e a João (cujo evangelho é o Verbo), dizendo: Ide preparar-nos a Páscoa, para que a comamos.”

O Nome Oculto de Pedro é “Patar” com suas três consoantes, que no alto esoterismo são radicais: “P”, nos recorda o Pai que está oculto, o ancião dos dias da cabala hebraica; “T” ou Tau, letra cruz, estudada em nosso capítulo anterior, famosa no Sexo-Yoga; e “Ra”, Fogo Sagrado, Divindade, Logos.

João descompõe-se nas cinco vogais IEOUA (Ieouan, Swan, Choan, Ioan), o Verbo, a palavra.

Pedro morre crucificado na cruz invertida com a cabeça para baixo e os pés para cima, como se nos convidasse a baixar à Forja dos Ciclopes, à Nona Esfera, para trabalharmos com a água e o fogo, origem de mundos bestas, homens e deuses.

Toda autêntica Iniciação Branca começa por ali.

João, o inefável, recosta sua cabeça no coração do grande Cabir Jesus como que declarando: o amor alimenta-se com o amor.

É fácil compreender que o Verbo criador, em cilada mística, aguarda enroscado no fundo da arca o instante preciso de ser realizado.

Ao que sabe, a palavra dá poder. Ninguém a pronunciou, ninguém a pronunciará, a não ser aquele que a tiver encarnado.

No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

Está escrito com palavras de fogo no grande livro da existência cósmica que primeiro devemos percorrer firmemente o caminho de Pedro.

O Verbo que jaz oculto no âmago misterioso de todas as idades ensina, claramente, que depois é necessário caminhar pela senda de João.

Porém, dentro destas duas sendas divinas, existe um Abismo.

É indispensável ter uma ponte de prodígios maravilhosos entre os dois caminhos… e, após, morrer de instante a instante (morte mística).

Transmutar para falar no horto puríssimo da divina língua é, certamente, o profundo significado místico da Unção Gnóstica.

O pão e o vinho, a semente de trigo e o fruto da videira devem ser regiamente transformados na carne e no sangue do Cristo Íntimo.

O Logos Solar, com a sua vida pujante e ativa, faz germinar a semente para que a espiga cresça de milímetro em milímetro e, logo, encerrar-se como em um cofre precioso dentro da pétrea dureza do grão.

Os raios solares, penetrando solenes na cepa da videira, desenvolvem silenciosamente até amadurecer no fruto santo.

O Sacerdote Gnóstico, em estado de êxtase, percebe essa substância cósmica do Cristo-Sol encerrada no pão e no vinho e atua desligando-a de seus elementos físicos para que os Átomos Crísticos penetrem, vitoriosos, nos organismos humanos.

Esses Átomos Solares, essas vidas ígneas, esses agentes secretos do Adorável, trabalham silenciosos dentro do Templo-Coração, convidando-nos uma ou outra vez a trilharmos a Senda que nos conduzirá ao Nirvana.

É evidente e palpável a misteriosa ajuda dos Átomos Crísticos.

E resplandece a luz nas trevas e aparecem sobre a Ara os 12 pães da proposição, alusão manifesta aos signos zodiacais ou diversas modalidades da substância cósmica.

Isto nos faz recordar a décima segunda carta do Tarô, o Apostolado, o Magnus Opus, o liame da cruz com o triângulo.


Estudo Ocultista sobre o Livro de Ezequiel



CAPÍTULO 1

1 Ora aconteceu no trigésimo ano, no quarto mês, no dia quinto do mês, que estando eu no meio dos cativos, junto ao rio Quebar, se abriram os céus, e eu tive visões de Deus.

Comentário: Aconteceu segundo alguns, em um Shabat, sábado, que é dia especial a estudo da Torá. Abrir os céus é uma experiência mística.

2 No quinto dia do mês, já no quinto ano do cativeiro do rei Joaquim,
3 veio expressamente a palavra do Senhor a Ezequiel, filho de Buzi, o sacerdote, na terra dos caldeus, junto ao rio Quebar; e ali esteve sobre ele a mão do Senhor.

Comentário: Joaquim significa, em hebraico, Jeová tem estabelecido ou levantado. Refere-se ao quinto ano, dos trinta de cativeiro. Quebar significa em hebraico, abundante. Quinto mês é Thamus.


4 Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do norte, uma grande nuvem, com um fogo que emitia de contínuo labaredas, e um resplendor ao redor dela; e do meio do fogo saía uma coisa como o brilho de âmbar.
5 E do meio dela saía a semelhança de quatro seres viventes. E esta era a sua aparência: tinham a semelhança de homem;
6 cada um tinha quatro rostos, como também cada um deles quatro asas.
7 E as suas pernas eram retas; e as plantas dos seus pés como a planta do pé dum bezerro; e luziam como o brilho de bronze polido.
8 E tinham mãos de homem debaixo das suas asas, aos quatro lados; e todos quatro tinham seus rostos e suas asas assim:
9 Uniam-se as suas asas uma à outra; eles não se viravam quando andavam; cada qual andava para adiante de si;
10 e a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e à mão direita todos os quatro tinham o rosto de leão, e à mão esquerda todos os quatro tinham o rosto dé boi; e também tinham todos os quatro o rosto de águia;
11 assim eram os seus rostos. As suas asas estavam estendidas em cima; cada qual tinha duas asas que tocavam às de outro; e duas cobriam os corpos deles.

Comentário: a experiência mística da carruagem de Deus, Merkabah, com suas rodas e seres viventes. Refere-se não apenas a qualidades desses animais, como têm interpretado alguns autores, mas a ordens de anjos. Rodas são da ordem de ofanim, e “viventes” significa hayot, sendo animais que formam espécie de querub (querubim), ou melhor, uma esfinge. Esses animais sagrados e cósmicos, místicos, são depois chamados de “bestas”, em Apocalipse. Logo, a chave é cabalística, não meramente moral, na sua significação. Também não é mero disco voador, como tentam alguns superficialmente interpretar. Essas rodas nos levam a pensar também na “árvore da vida” da cabala, que é ao mesmo tempo o homem universal, Adão Kadmon. Segundo o Zohar, o termo se traduz em anjos, ou shinan, sendo a letra hebraica shin (shor) o boi, a letra nun (necher) a águia, a letra alef (aryeh) o leão. Já o nun final representa o homem. Tais animais também são uma forma de referência astrológica, pois os planetas (rodas) se encaixam na árvore da vida, e assim são os animais que simbolizam os signos astrológicos. São também os 4 elementos e os 4 pontos cardeais, sendo que em cada direção está um desses seres angélicos. O mais importante é que pode esse quaternário se relacionar ao tetragrama, ou melhor, ao Santo Nome, IHVH, que se traduz para Jeovah ou Javé habitualmente, mas que entre judeus era Nome impronunciável, substituído por Adonai. Assim atesta o Salmo 68:17: “Os carros de Deus são miríades, milhares de milhares”. Ou melhor traduzido: “no carro de Deus há milhares de miríades de schinan (anjos)”. Para esses anjos há quatro nomes gravados para sua atividade. O carro superior está gravado com os quatro nomes, ou quatro letras do tetragrama sagrado. Essa é a semelhança do rosto do homem, pois os animais sobem para buscar o rosto do homem. Esse homem místico é conhecido como Norá. E os nomes estão gravados no trono, e pensamos assim na “imagem e semelhança” descrita em Gênesis, que é uma semelhança mental, não corporal, como muitos traduzem. E as rodas são os “luzeiros” (meerot), descritos também no livro de Gênese, e mais que astros, são os animais ou bestas, anjos.

12 E cada qual andava para adiante de si; para onde o espírito havia de ir, iam; não se viravam quando andavam.

13 No meio dos seres viventes havia uma coisa semelhante a ardentes brasas de fogo, ou a tochas que se moviam por entre os seres viventes; e o fogo resplandecia, e do fogo saíam relâmpagos.
14 E os seres viventes corriam, saindo e voltando à semelhança dum raio.
15 Ora, eu olhei para os seres viventes, e vi rodas sobre a terra junto aos seres viventes, uma para cada um dos seus quatro rostos.
16 O aspecto das rodas, e a obra delas, era como o brilho de crisólita; e as quatro tinham uma mesma semelhança; e era o seu aspecto, e a sua obra, como se estivera uma roda no meio de outra roda.

Comentário: O caminho do raio através da árvore da vida cabalística, passando pelas rodas e signos ou planetas, os “animais” ou “bestas”. Diz-se que essas rodas correm de um lado para o outro, e ninguém as pode seguir. As rodas são as bestas descobertas. Roda é Metatron, o mais exaltado dos anfitriões, e aquele que está diante da “Face”, o anjo da Face. Outros nem podem “olhar” para a Face. As não descobertas são as que estão abaixo de Yod e He. Compreendem o firmamento do céu. Logo, algumas se elevam acima da compreensão do homem, e em direção ao Nada Infinito, o En Sof. Como traduz David Cooper, o primeiro versículo: “Com o princípio, En Sof criou Deus, os céus e a terra” (Gen. 1:1). Sai assim do pensamento, ou na “cabeça” de Deus, pois como ensinam os hermetistas, a Criação é mental, e tudo está na mente do Todo.

17 Andando elas, iam em qualquer das quatro direções sem se virarem quando andavam.
18 Estas rodas eram altas e formidáveis; e as quatro tinham as suas cambotas cheias de olhos ao redor.
19 E quando andavam os seres viventes, andavam as rodas ao lado deles; e quando os seres viventes se elevavam da terra, elevavam-se também as rodas.
20 Para onde o espírito queria ir, iam eles, mesmo para onde o espírito tinha de ir; e as rodas se elevavam ao lado deles; porque o espírito do ser vivente estava nas rodas.

Comentário: Quatro pontos cardeais, como já tratamos. O brilho se refere à presença divina, ou Shekinah. As rodas sustentam o firmamento e têm alma. O olho egípcio representava o sol, ou o próprio Hórus. Muitos sóis ou estrelas, muitos olhos. O espírito parece ser uma referência a vida ou consciência dos corpos celestes, e dos anjos.

Secreta Pansophia



A Secreta Pansophia por trás da Iniciação Ocidental

Coluna com traduções dos textos do blog do Sam Robinson. Esta é uma tradução do artigo “The Pansophy Secret Behind Western Initiation”.

Propondo Iniciação Arturiana, Maçônica e Rosacruz como Caminho Único

E Pensamentos no tocante ao Porquê um Mestre do Terceiro Grau Deve Ser um Adepto Independentemente da Tradição
Olá amigos e leitores.

O post de hoje vai deixar as nossas Avaliações Rosacruzes de lado e oferecer algo importante a considerar para todos os líderes e estudantes, como eu acredito haver melhores maneiras para podermos trabalhar em conjunto...

E eu quero dizer em todas as principais formas de iniciação Europeia.

Existem muitos tipos de Ordens e muitos delas parecem oferecer uma iniciação "diferente".

Tem Maçonaria, Rosacruz, Golden Dawn, Martinismo, mas elas são realmente únicas?

A minha convicção é que elas são apenas diferentes em tanto quanto elas divergem do maior sistema ocidental da iniciação. Você vê, desde as suas fundações há um padrão mais universal. Que a maior parte esqueceu.

É bom ter uma variedade de Ordens para escolher. Todo mundo parece ter seu próprio gosto, à procura de certas coisas que o atrai, seja deuses Egípcios, mistérios Cristãos ou Cavalaria. Mas em sua espinha dorsal, eu digo, elas não são tão diferentes, afinal.

Ou seja, não muito diferente quando visto 'corretamente' de acordo com a Pansophia.

Na verdade eu prevejo como a Pansophia pode se tornar popular nos anos futuros.

As pessoas estão começando a olhar para os diversos graus de iniciação em todas as formas de iniciação, e olhar para os mitos que representam e então dizem 'ei, tem realmente um padrão aqui'.

Pansophia é, ouso dizer, o único sistema universal que tem a capacidade de unir várias Ordens e ramos da iniciação Européia uma vez por todas.
Isto só faz sentido se você entender as chaves Pansóphicas que eu irei explicar abaixo...

Se você estiver lendo minhas Avaliações Rosacruzes você sabe que eu tenho afirmado repetidamente que uma das principais propriedades de um sistema verdadeiramente Rosacruz é que ele é Pansóphico. Por Pansóphico quero dizer que ele adere a um conjunto de crenças, imagens e é válido para um determinado ciclo universal de iniciação.

Mas não só as Ordens Rosacruzes aderem a este sistema, uma vez que o projeto Pansóphico de iniciação pode ser encontrado dentro de várias Ordens e suas variadas mitologias, como este post revela.

Enquanto a Pansophia está relacionada às principais mitologias, aquelas que realmente são Pansóficas são:

A lenda de Christian Rosenkreuz.
A lenda do Rei Arthur.
A lenda de Hiram Abif.
A lenda de Ísis e Osíris.
A lenda de Cristo e Sophia.

Pode surpreendê-lo, mas muitos estudiosos concordam que o fenômeno Rosacruz era apenas um ramo da Pansophia, onde a própria Pansophia foi o maior assunto e obteve o maior destaque.

Se você entender como a Pansophia funciona, então quando olhar para a Iniciação Maçônica ou a lenda do Rei Arthur você irá encontrar repentinamente aquilo que você tem olhos para ver. Todas as tradições se unem, especialmente ao ver que grande parte da Pansophia tem a ver com a aparência da figura de uma deusa redentora que aparece perante o herói caído.

Já falamos sobre isto no anteriormente, mas brevemente isto é o que nós sabemos:

Hiram Abif é morto na Maçonaria.
A Donzela Virgem planta um ramo de acácia sobre o seu túmulo.
Ela está ao lado de uma coluna quebrada.
Osíris é morto na tradição Egípcia.
A Virgem Ísis planta uma nova falo sobre ele.
Seu velho falo foi roubado por Set.
Rei Arthur é derrotado.
A Dama do Lago deu-lhe uma nova espada.
Sua velha espada estava quebrada.
Percival substitui Rei Arthur como o bom cavaleiro.
Ele vê o Santo Graal (símbolo feminino.)
Ele vê ao lado dele uma lança que sangra.
Christian Rosenkreuz é sepultado.
Ele sonha com a deusa Vênus.
Ele descobre que é um pai para um novo rei.
Agora, a menos que eu esteja enganado, parece haver um padrão.

(A história da Donzela na Maçonaria inicia-se na Maçonaria Norte-Americana a partir de 1810 em diante).

Isso é algo que o meu próprio mentor Pansóphico me disse para estudar e de fato me levou a vários lugares. A Rosacruz e a lenda do Rei se inter-misturararam com influências anglo-germânicas. Mas somente quando você visualizar cada uma dessas tradições à Luz da Pansophia é que você as vê em conjunto.
Qualquer iniciante sabe que tem um herói morto e uma deusa na maioria dos "mitos solares".

Mas isso não é o suficiente para ser chamado de Pansóphico. O ponto é perdido pela maioria dos autores que falam sobre os mistérios solares e os mistérios da deusa. O ponto é que muitas vezes aparece algo afiado e pontiagudo, um falo, uma haste, um pilar, ou uma árvore, que foi quebrado, roubado ou tomado. O herói sempre parece para obtê-lo de volta através da Deusa uma vez que ela aparece e a metáfora da iniciação implícita é profunda.

Uma Abordagem Universal das Tradições Europeias

Se aceitarmos que esses símbolos são universais para as tradições europeias, então chegamos a uma conclusão: que há realmente um sistema modelo que é a verdadeira espinha dorsal da iniciação Europeia. E se for este o caso, então as Ordens ocidentais têm a bússola que orienta o navio.

Se todas as tradições utilizaram estes símbolos, enfatizando-os como deveriam ser, então você acaba tendo uma tradição iniciática ocidental mais universal. Isso poderia trazer mais respeito e compreensão para o outro. Iniciados do mesmo grau de cada tradição podem ver uns aos outros como iguais.

Um Adepto é um Adepto, afinal de contas, especialmente se a tradição ocidental tem graus que oferecem níveis semelhantes de iniciação através de organismos variados. O terceiro grau deve ser o mais universal em todos os corpos.

O que estou sugerindo aqui é uma potencial união das Ordens, para se unirem em reconhecimento da Pansophia.

Pode ser apenas uma malha frouxa e não oficial, mas seu potencial é enorme.

Se as ordens reconhecem este esqueleto por trás de suas tradições, se elas também reconhecem que isto existe em outras Ordens, então podemos começar a trabalhar em conjunto. Tudo o que realmente precisa ser feito é um ajuste de alguns pontos em seus rituais para enfatizar o fato, para destacar os símbolos Pansóphicos.

Isto não exigiria uma revisão absoluta dos ditos rituais, pois o importante já está neles.

Há mais de uma maneira de esfolar um coelho. É por isso que ter uma tradição do Rei Arthur é tão importante quanto ter uma Rosacruz ou uma Ordem Egípcia. Todo mundo precisa de uma porta diferente. Algumas pessoas precisam de um modelo Cristão. Algumas pessoas precisam de símbolos pagãos. Nós estamos sendo apanhados nos símbolos, arrebatados no mistério e tomados, por completo, no mesmo abraço da deusa.

No nível Interno de uma Ordem, não há nenhuma razão para que um Adepto do terceiro grau de uma Ordem Cristã não possa reconhecer um irmão ou irmã do terceiro grau de uma Ordem Egípcia como um IGUAL.

É por isso que, no futuro, eu vou tentar elaborar de um esboço de uma Ordem Pansóphica, uma espécie de união entre os vários grupos que desejam aderir a uma tradição ocidental mais universal aqui sugerida.

É muito simples; cada um em sua própria, aprecie as coloridas tradições às quais você pertence, mas deixe disposto determinadas sinalizações para que depois cada uma dessas tradições tenha a chance de alinharem-se com um esquema maior de Pansophia e oferecer uma abordagem mais unificada para a iniciação ocidental.

Para ser claro, eu não quero ser o líder de uma organização guarda-chuva. A independência é importante. Que tal um alinhamento que ofereça um futuro mais brilhante para a iniciação e um padrão melhor.

As Ordens em sua Semelhança Pansóphica

Abaixo eu descrever que símbolos precisarim ser colocados, dentro de duas tradições, a fim de demonstrar como uma tradição pode ficar à Luz da iniciação Pansóphica. Você pode ler os posts anteriores onde eu descrevo o projeto principal da Pansophia e suas lendas.

Aqui irei trabalhar apenas com a Maçonaria e a tradição do Rei Arthur e mostrar o que eles poderiam buscar se eles fossem se alinhar à Pansophia. Como você verá, várias Ordens já aderem a este sistema, o que as faz Pansóphicas. Aqui eu estou começando a dar alguns dos ensinamentos internos da Pansophia, particularmente na sua perspectiva hermética sobre os maiores pontos de vista sobre iniciação.

Uma Ordem Pansóphica dos Cavaleiros de Arthur e o Graal

Na primeira fase a 'Idade das Trevas' acarreta a queda da Europa, incluindo a barbárie, a ilegalidade e a perda do verdadeiro Cristianismo, ou, em comparação, ao declínio dos antigos deuses Druidas. Merlin como 'Merlin Merculinus' aparece como um guia, semelhante a Hermes, para Arthur. O jovem rei puxa a espada da pedra. No entanto, como na lenda, a espada é quebrada, que o leva para o drama da morte no duelo do segundo grau. Mordred e Morgan le Fay são a dupla contentora contra Arthur no drama, que são os Herméticos Tifão e Apófis como destruidores. Estes estão tipicamente mostrados na Árvore da Vida pelos Arcanos da Morte e do Diabo, ambos levando a Tiphereth.

Como mostrado anteriormente no meu post sobre Arthur, o Rei é selado em uma tumba de
sete lados, que tem um fogo que sempre queima e uma entrada mágica. Isto é idêntico do túmulo de Christian Rosenkreuz, que é muitas vezes o terceiro grau da iniciação de templo quando usado por Rosacruzes.

Mas a história não termina aí. Um novo "jovem cavaleiro", Persival, experimenta a lenda do 'Rei Ferido', que é, naturalmente, Arthur em uma espécie de estado de limbo, não muito diferente de Osíris no submundo.

No Castelo do Rei Ferido, Persival vê o Santo Graal, pela primeira vez, assim como a lança que sagra. O elemento feminino também é lembrado aqui em relação à Dama do Lago, que ofereceu a espada, assim como Ísis colocando um novo falo sobre o Osíris morto, já que seu primeiro foi roubado por Set. O mistério do Graal do quarto grau conclui com a pureza e o encontro de um Graal, a quem Percival adora. Observe que a Pomba do Graal no mito de Percival fica à direita. Pássaros de novo...

Se você ainda não viu a sinalização universal, então o próximo irá ajudar.

Uma Maçonaria Pansóphica de Hiram Abif e a Donzela

Dependendo do tipo da Maçonaria em que você esteja, a Idade das Trevas é representada através da perda da luz do Egito (Maçonaria Egípcia) ou a perda do grande templo (Maçonaria de Salomão). Ambos são viáveis. O primeiro grau coloca o candidato no inferno, para o julgamento. O segundo grau oferece uma subida após sete etapas, que representam as sete virtudes. O drama do adversário não está aqui representado o suficiente aqui justificar um drama Pansóphico e este precisa de uma reformulação.

No lado de Salamão, devemos experimentar o diabo ou os gênios espirituais Servidores de Salomão como as forças em conflito na íntegra, assim como Arthur que encontra Mordred/Morgana. Idealmente, o maçom deve ser confrontado com a mesma tentação de invocar espíritos que seduziram o rei Salomão, como os poderes dos vícios, que estão contra as virtudes apresentadas no segundo grau.

Em seguida, no terceiro grau, experimentamos a morte de Hiram e seu túmulo de descanso. O Rito de Memphis-Misraim diz que Misraim, seu antigo fundador, que estabeleceu a Maçonaria depois do dilúvio por ser um neto de Noé, também foi enterrado em uma forma similar como Christian Rosenkreuz. Aqui Misraim foi colocado em seu túmulo rodeado por sete jóias e pedras preciosas, dentro do qual havia um altar levantando um fogo que sempre queima. Sim, ele corresponde ao túmulo de Rosenkreuz e Arthur e ele aparece no livro sobre Memphis-Misraim de Yarker, mas poucos notaram a conexão.

Na lenda de Hiram, no entanto, ele está enterrado ao lado de uma coluna quebrada. É uma reminiscência do Rei Arthur ferido, ou a lança que sangra, além do falo roubado de Osíris... Neste ponto, de acordo com a Maçonaria norte-americana, uma donzela coloca um raminho de acácia sobre o túmulo de Hiram, plantando-a sobre sua sepultura.

A forma-deus aqui é Asherah, a deusa da tradição hebraica. Seu símbolo é ao mesmo tempo o pilar e a pomba. Nós sabemos que a pomba traz consigo um ramo de oliveira... Enquanto Asherah tem uma gloriosa forma no templo, a donzela da Maçonaria norte-americana é principalmente chamada Minerva.

O evento de sua chegada e o plantio do ramo de acácia deve tornar-se um quarto grau, destacando esta pessoa misteriosa. É bastante típico para a deusa aparecer na quarta fase na Pansophia, afinal Sophia como Sabedoria fica acima de Tiphereth que é a esfera do terceiro grau.

A coluna quebrada em cima do túmulo de Hiram é, naturalmente, o falo que Seth tirou de Osíris, ou a espada quebrada do Rei Arthur, antes que ele levasse a espada para a Dama do Lago, que é o ramo.

Eu provavelmente deveria mencionar aqui que a Maçonaria Egípcia tem uma oficial feminina chamada a Pomba, que foi o principal símbolo de Asherah. Se você olhar para o altar triangular original (Shekinah) tem um pássaro sobre ele de acordo com a imagem do Trinosophia, leva um ramo de acácia. Acima há um símbolo de Vênus.

Assim, em sua maior parte, a Maçonaria não precisa de mudanças reais, exceto um pequeno ponto no segundo grau e um potencial quarto grau para desvendar a deusa Donzela. Isto é normalmente encontrado na Maçonaria Americana, que beneficiaria todos os ritos da Maçonaria se olhassem para este modelo. Parece ter sido criado no início dos anos 1800, como uma substituição ruim para a visita de Ísis a Osíris.




Ordem Rosa Cruz – Stanislas de Guaita



Quando, perto do fim do reinado de Henrique IV, o mundo profano ouviu falar pela primeira vez de uma associação muito fechada de teósofos taumaturgos, os Rosa-Cruzes já existiam há mais de um século. Derivaram seu nome de um emblema pantacular, de muita tradição entre eles. Esse pantáculo é o mesmo que Valentin Andréa (ou melhor Andréas), o grão-mestre de então, trazia gravado na pedra de seu anel: uma cruz de São ]oão, cuja áustera nudez ramificava-se em quatro rosas, desabrochadas em seus ângulos.

Muito se falou que a Ordem não remontava a antes de Valentin Andréas, mas isso é um erro manifesto. Se para refutá-lo evocarmos o artigo dos estatutos que ordenava dissimular durante cento e vinte anos a existência da mística fraternidade, poderíamos considerar a prova como insuficiente. Melhor seria recorrer a outros argumentos. Bem antes do ano de 1613, quando apareceu o manifesto dos Rosa-Cruzes, e mesmo antes de 1604, quando o mundo profano começou a suspeitar de sua existência, colhemos aqui e ali, vestígios incontestáveis de sua associação: eles são inúmeros, para quem sabe ler os escritos dos adeptos da época.
Vejamos alguns exemplos. Todos os arcanos Rosa-Cruzes são representados em um dos pantáculos do Amphitheatrum saptientiae eternae(122), onde Khunrath desenhou um Cristo de braços abertos em cruz, em uma rosa de luz. Ora, o livro de Khunrath traz uma aprovação imperial com data de 1598. Contudo, é principalmente em Paracelso, falecido em 1541, que devemos obter as provas decisivas de uma Rosa-Cruz latente no século XVI. Podemos ler em seu tratado De Mineralibus (tomo II, pp. 341-350 da edição de Genebra)(123) o anúncio formal do milagroso acontecimento que deveria confundir o século seguinte. Diz ele: “Nada existe de octulto que não deva ser descoberto. É assim que deverá suceder-me um ser prodigioso, que revelará muitas coisas” (De Mineralibus, 1). Algumas páginas adiante Paracelso precisa seu pensamento, anunciando certa descoberta: “que deve permanecer velada até a chegada de ELIAS-ARTISTA” (De Mineralibus, 8).

Elias Artista! Gênio diretor dos Rosa-Cruzes, personificação simbólica da Ordem, embaixador do Santo Paracleto! Paracelso, o Grande, prediz tua vinda, ó Sopro Coletivo das generosas reivindicações, Espírito de liberdade, de ciência e de amor que deve regenerar o mundo!…
Em outra passagem, Paracelso é mais formal ainda. Abramos sua espantosa Prognosticatio(124), coletânea de profecias, cuja única edição traz a data de 1536. O que vemos na figura XXVI? Uma rosa desabrochada numa coroa, e o místico diagrama (F), emblema da dupla cruz, enxertado sobre esta rosa. Ora, eis a legenda que se lê embaixo: “A Sibila profetizou o digamma eólico. Foi também pelo direito, ó cruz dupla, que foste enxertada sobre a rosa: és o produto do tempo, obtendo precocemente a maturidade. Tudo o que a Sibila predisse sobre ti realizar-se-á infalivelmente em ti, motivo pelo qual o verão produziu suas rosas… Triste época, em verdade, a nossa, onde tudo se faz sem ordem. Essa desordem é o mais evidente símbolo da inconstância humana. Mas tu, sempre de acordo contigo mesma, só produzes frutos estáveis, pois construíste sobre a pedra boa; e, tal como a montanha de Sião, nada mais poderá abalar-te; todas as coisas favoráveis chegam a ti como que por um desejo. Tanto que os homens confundidos dirão que é milagre. Mas o tempo e a idade propícia trarão essas coisas com eles; quando a hora soar, será necessário que elas se realizem, e é por isso que ELE VEM(125)” (versão textual).

Quem deverá vir? Ele, o Espírito radiante do ensinamento integral dos Rosa-Cruzes: Elias-Artista!
Não teríamos nenhum impedimento para reproduzir, se necessário, outros textos não menos formais, para provar que Andréas não foi o fundador da Ordem Rosa-Cruz.

Não nos iremos limitar às lendas Rosa-Cruzes. Não cabe aqui discutir se a história do fundador Christian Rosenkreutz é puramente legendária, ou se um fidalgo de carne e osso, nascido na Alemanha por volta de 1378, conseguiu que o santuário da Cabala lhe fosse aberto pelos sábios de Damcar (provavelmente Damasco), após uma longa peregrinação pelas terras do Oriente; e se, de volta à Alemanha, tendo transmitido a alguns discípulos a provisão dos arcanos, ele se tornou o eremita do mistério e passou sua longa velhice no fundo de uma caverna, onde a morte o esqueceu até 1484. Durante três séculos as controvérsias sobre esse ponto não conduziram a nenhuma conclusão positiva; não temos a mínima vocação para encher páginas fúteis, para acrescentá-las às antigas…

Essa gruta, sepulcro de Rosenkreutz, só foi descoberta em 1684, ou seja, cento e vinte anos após a morte do mago, conforme a estranha profecia que se pode ler na parede de rocha: “Serei descoberto após cento e vinte anos”, – profecia que nos interessa pouco no momento. Todas essas lendas têm seu interesse, sem dúvida nenhuma, assim como possuem sua razão de ser do ponto de vista cabalístico. O mesmo se pode dizer das mil e uma maravilhas que os herdeiros espirituais de Rosenkreutz – segundo se afirma – teriam descoberto a partir da meditação sobre os mistérios. As latitudes de um campo mais vasto seriam necessárias, em todo o caso, para efetuar esse inventário e revelar o significado preciso e profundo desses símbolos múltiplos; talvez algum dia nos lancemos nessa tarefa.

O que nos é lícito afirmar desde já é que a Rosa-Cruz, cujos emblemas constitutivos nos conduzem aos poemas de Dante e de Guillaume de Lorris, durante muito tempo funcionou veladamente, antes de manifestar-se publicamente através de obras.

Hoje, quantos falsos magos ousam levar a mistificação ao ponto de cobrir com o rótulo ultramontano a Rosa-Cruz (restituída desde então, dizem eles, à pureza de sua gloriosa origem)(126). Pode parecer interessante transcrever duas frases do Manifesto(127) da Ordem, publicado pelo Grão-Mestre em 1615. Os irmãos aí proclamam, diz o contemporâneo Naudé(128): Que por seu intermédio, o tríplice diadema do Papa será reduzido a pó;

Que eles confessam livremente, e publicam sem nenhum medo de serem castigados, que o papa é o Anticristo.

Três linhas adiante, eles manifestam o desejo de que se retorne à simplicidade dogmática e rítualista da Igreja primitiva. Sem dúvida, essas frases, como todas as outras de seu Manifesto, são intencionalmente exaltadas, notoriamente impelidas ao maravilhoso, às vezes absurdas. Inúmeros prodígios são aí anunciados, sendo que vários, tomados ao pé da letra (que mata, dizia São Paulo), chocam-se contra a impossibilidade física. Mas sob essa forma paradoxal, esses engenhosos teósofos tiveram o cuidado de ocultar aos olhos dos tolos e de designar à sagacidade dos sábios as mais preciosas luzes do ocultismo tradicional.

Assim, jamais os Rosa-Cruzes renegaram o catolicismo na significação esplêndida de sua verdadeira etimologia, reveladora de um esoterismo superior; foram inspirados demais pelo Espírito que vivifica, para jamais atentarem contra a hierarquia gnóstica. Eles (tão ligados aos símbolos cristãos, denominavam Capela do Espírito Santo seu colégio supremo e Liberdade do Evangelho um de seus mais ocultos manuais) não se furtavam a ver no Santo Padre o princípio encarnado da unidade viva, e no papado espiritual a pedra angular do templo-síntese onde oficiarão um dia os pontífices professadores da Religião-Sabedoria universal. Bem mais, muitos dos Irmãos, nascidos no protestantismo, proclamavam-se católicos de viva voz, a exemplo de seu ilustre patrono Khunrath, de Leipzig.

Lembremos, ainda, que Valentin Andréas foi o instigador, em 1620, de uma Fraternidade Cristã, que se fundiu, mais tarde, à Fraternidade-Mãe dos Rosa-Cruzes.

Mas o abuso do papado temporal fazia com que eles fossem implacáveis e criticassem as ações ridículas, difamassem as intrigas, sem tréguas e sem piedade.

O verbo anticlerical dos Rosa-Cruzes clamava tão intensamente por toda a Europa, nos primeiros lustros do século XVII, que se acreditou tratar-se de uma associação secreta de huguenotes fanatizados; ledo engano. Anticlerical jamais significou anticatólico ou anticristão; confundir seria um erro. No papa, os Rosa-Cruzes distinguiam duas potências, encarnadas em uma só carne: Jesus e César. Quando qualificavam o sucessor de Pedro de anticristo, eles ameaçavam destruir sua tríplice coroa, mas não visavam senão o déspota temporal do Vaticano.

Seu sistema era, em suma, exaltar ao máximo as fórmulas até o paradoxo, falsear as obras até o milagre. Tinham tomado emprestado esse método a seus antigos mestres, os Cabalistas. Davam às alegorias um estilo tão inverossímil, que somente os imbecis se atinham sentido aparente, e os demais adivinham no primeiro contato o valor íntimo de um sentido oculto – era, de fato, um método inteligente. Foi assim que pregaram cartazes em Paris, no ano de 1622, contendo as proclamações seguintes, próprias convenhamos a intrigar os espíritos sutis e a distanciar as mentes parvas:

PRIMEIRO CARTAZ: “Nós, deputados do Colégio principal dos Irmãos da Rosa-Cruz, estamos visível e invisivelmente nesta cidade, pela graça do Altíssimo, em direção do qual se volta o coração dos justos. Mostramos e ensinamos sem limitações, podemos falar toda a espécie de língua dos países onde desejamos permanecer, para livrar os homens, nossos semelhantes, do erro e da morte.”
SEGUNDO CARTAZ: “Se alguém deseja nos ver por simples curiosidade, não se comunicará jamais conosco; mas se a vontade o conduz realmente e de fato a inscrever-se nos registros de nossa fraternidade, nós que lemos os pensamentos o faremos ver a veracidade de nossas promessas; é por isso que não revelamos nosso endereço, pois os pensamentos, refletindo a vontade real do leitor, serão capazes de nos fazer conhecer a ele e ele a nós.”

Não surpreenderemos os estudiosos, mesmo pouco avançados, do ocultismo, se protestarmos aqui que o anúncio dessas prerrogativas que os Irmãos exibiam, secretamente, sob a aparência de uma loucura incurável, ocultam significações da mais perfeita sabedoria. A última das pretensões das quais eles se vangloriavam, aquela que se julgará talvez a mais exorbitante, é precisamente a única que se poderá interpretar ao pé da letra. Ela lembra a condição expressa da admissão ao mais alto grau de uma fraternidade muito fechada e pouco conhecida, no areópago supremo da qual o postulante é obrigado a apresentar-se em corpo astral…

Os Irmãos iluminados da Rosa-Cruz eram obrigados, por juramento, a praticar a medicina oculta por onde quer que passassem, sem jamais receber remuneração alguma, sob nenhum pretexto. Psicurgia, Mestria Vital, Hermetismo, Teurgia e Cabala não tinham nenhum segredo para os mais avançados.

Um artigo de sua profissão de fé obrigava-os a “acreditar firmemente que, caso sua associação fracassasse, ela entraria num processo de regressão, voltando ao sepulcro de seu primeiro fundador”. Isso quer dizer que se acontecer que um dos Irmãos se comprometa no mundo, a Ordem que eles terão manifestado imperfeitamente em atos voltará a seu potencial; de seu estado de abertura, ela voltará a ser oculta…

Assim como nenhum homem é perfeito, nenhuma sociedade é indefectível. A Ordem enfraqueceu e, por volta de 1630, entrou pelo menos como associação regular – nas trevas ocultas de onde saíra vinte anos antes(129). Só alguns Rosa-Cruzes manifestavam-se esporadicamente. A unidade coletiva pareceu adormecer por longo tempo no silêncio da gruta, de onde a fizeram sair novamente em 1888.

Os homens estão sujeitos ao erro, à malícia, à cegueira, e os Rosa-Cruzes são homens;
entretanto, não se podem computar suas faltas ao abstrato da Ordem. Elias-Artista é infalível, imortal, e além disso, inacessível tanto às imperfeições como às manchas e às ridicularizações dos homens de carne que desejam manifestá-lo. Espírito de luz e de progresso, ele se encarna nos seres de boa vontade que O evocam. Se estes porventura tropeçarem no caminho, Elias-Artista os abandonará.

Fazer esse Verbo Superior mentir é impossível, mesmo que se possa mentir em Seu nome. Pois cedo ou tarde Ele encontra um órgão digno Dele (nem que seja por um minuto), uma boca fiel e leal (nem que seja para pronunciar uma só palavra). Por esse órgão de eleição, ou por esses lábios de encontro – que importa? – Sua voz se faz ouvir, poderosa e vibrante da autoridade serena e decisiva que dá ao verbo humano a inspiração do Alto. Assim são desmentidos na terra aqueles que Sua justiça havia condenado abstratamente.

Evitemos falsear o espírito tradicional da Ordem; sendo reprovados no Alto, no mesmo instante, cedo ou tarde seríamos renegados aqui embaixo pelo misterioso demiurgo que a Ordem saúda por esse nome: Elias-Artista!

Ele não é a Luz, mas, como São João Batista. Sua missão é dar o testemunho da Luz de Glória, que deve irradiar de um novo céu sobre uma terra rejuvenescido. Que Ele se manifeste por conselhos de força e que Ele desobstrua a pirâmide das santas tradições, desfigurada pelas camadas heteróclitas de detritos e de caliças que vinte séculos acumularam sobre ela. E que enfim, por Ele, as sendas sejam abertas para receber o Cristo glorioso, no ninho maior do qual se dissipará – estando Sua obra concluída – o precursor dos tempos futuros, a expressão humana do Santo Paracleto, o gênio da Ciência e da Liberdade, da Sabedoria e da Justiça integral: Elias-Artista.

3. Bringaret…

Bringaret, provavelmente Jean Bringern, o autor da versão alemã do Manifesto de Andréas, impresso em Frankfurt em 1615, juntamente com uma tradução da Confissão de Fé dos Irmãos da Rosa-Cruz (Veja Gabriel Naudé, Instruction à Ia France, p. 31).

Esses quadros eram todos da lavra do proprietário

O leitor atento de Zanoni não poderá deixar de pensar nesse momento no pintor Clarence Glyndon, um dos personagens que surgem em primeiro plano nesta grande obra esotérica. Glyndon é o aspirante excluído do adeptado, não pelo vício de incapacidade mental ou de fraqueza de alma, mas ao contrário, pelo orgulho e pela temeridade que o induziram a desobedecer as ordens peremptórias de Mejnour, o Mago.

O neófito dos mistérios só quis tributar à sua audácia a coroa da eleição; o hierofante estando ausente, tentou conquistar de assalto as prerrogativas do Sanctum Regnum, desafiando o Guardião do Umbral… Mejnour vai puní-lo fechando-lhe para sempre a porta do santuário, pois o fracasso é definitivo e a suprema prova não se tenta duas vezes. Mas não deixa de estabelecer-se uma comunicação entre o visível e o invisível; o véu que separava Glyndon do mundo astral é rompido. Regressando à vida cotidiana, o pintor debater-se-á entre as duas influências adversas, fasta e nefasta, que disputarão o seu ser, isto é, a virtude vivificadora do elixir e a obsessão do fantasma.

Liberado finalmente por Zanoni, que o ressuscita para a vida ativa e serena de antes da prova, seu longo martírio vai parecer-lhe a reminiscência de um pesadelo e o ensinamento substancial adquirido na escola dos dois caldeus subsiste apenas ao naufrágio das ilusões perdidas, fazendo do velho Glyndon um iniciado especulativo, um amador apaixonado das ciências ocultas…

Qualquer que seja a parcela de ficção inserida na possível realidade dos fatos revelados neste prefácio, não há dúvida de que Bulwer não quer dar a entender que Glyndon e o velho cavalheiro encontrado na livraria excêntrica são o mesmo personagem. Inúmeros detalhes não permitem duvidar disso e a sagacidade do leitor os distinguirá sem muitas dificuldades.
…A mais extensa distinção entre o Realismo e a Verdade.

O realismo dá um colorido servil às coisas, tais como os sentidos fornecem sua noção no mundo físico; a verdadeira arte, comparando esta noção dada pelos sentidos com o ideal dessas mesmas coisas intuitivamente pressentido, reergue e corrige os objetos segundo o modelo de seu arquétipo. E se o Real pode ser concebido sob a aparência que nos é sensivelmente proposta, o Verdadeiro só se concebe compreendido na revelação das Essências e das formas puras; é através de tais indícios que nos cabe definir a realidade como aquilo que é, no sentido dos positivistas (ou, melhor, daquilo que parece ser), e a verdade como aquilo que deveria ser (ou melhor, o que virtualmente por direito concebido, mas que não existe fisicamente de maneira palpável).
…pagou com sua vida pela maliciosa sátira…

Villars (abade de Montfaucon de) nasceu perto de Toulon, em 1635, e morreu em 1673, em circunstâncias misteriosas. Seus contemporâneos acreditaram tratar-se de uma vingança oculta. No ano de 1670, o abade de Villars publicou sob o título O Conde de Gabalis, ou diálogos sobre as Ciências Ocultas, um panfleto bastante estranho, aliás agradavelmente escrito, onde zombava do simbolismo dos RosaCruzes, com interpretações ao pé da letra; mas isso em estilo bastante equívoco e de maneira a fazer crer, que, por ser um fervoroso adepto da Alta Ciência, ele só zombava pela forma, e da boca para fora. Por outro lado, não se ignorava que ele se fizera iniciar outrora nos mistérios dessa Ordem Cabalística, e ele próprio deixara entender, com um tom meio brincalhão e ansioso, a vários íntimos seus que, convidado a comparecer diante de uma espécie de Corte Vêmica, sob a acusação de ter profanado os arcanos, não quis obedecer; mas, à revelia, os irmãos o tinham condenado à morte como costumavam fazer com os reveladores e traidores… Entretanto, ele tinha ainda recebido um prazo para opor-se à sentença… Os amigos do abade acreditaram tratar-se de uma mistificação em estilo gracejador. Mas a lembrança de todos esses fatos lhes veio à memória quando o planfletário espiritual foi raptado e assassinado na estrada que conduz a Lyon (1673).

…Salamandra ou Silfo!… o senhor também cai no erro comum…

Sob a graciosa alegoria do casamento dos Rosa-Cruzes com as Salamandras, os Silfos e outros Espíritos dos elementos, esses adeptos da Escola de Paracelso simbolizavam o poder que o homem pode conquistar sobre as forças semiconscientes da Natureza.

O Leitor não ignora que, seguindo essas tradições ao pé da letra, as Salamandras habitam a região do Fogo; as Ondinas, a da Água; os Silfos povoam a imensidão dos ares, e os Gnomos as cavernas do mundo subterrâneo. A antigüidade pagã multiplicava ainda mais as raças demiúrgicas, ou dos deuses inferiores. Cada povo inventava nomes para designá-los; não havia fonte que não se glorificasse de alguma ninfa tutelar, não havia floresta onde não se reverenciassem faunos, sátiros e silvanos, etc…

8. …Imortais obras-primas de Apolônio.
9. …Nesse caso, o senhor jamais sonhou.
Apolônio (de Tiana), veja à página 11.

Esta resposta do velho iniciado é plena de profundidade. Sabe-se que, durante o sono, o homem interno abandona seu despojo material para banhar seu corpo luminoso fatigado e retomar sua vitalidade esgotada no Oceano fluídico universal. Ele pode assim transportar-se a distâncias imensas (veja nossas Notas sobre o Êxtase, pp. 57 a 61) e discernir as coisas exteriores a ele, nos planos físico e astral, por intermédio dos órgãos de percepção de seu corpo astral, ou mediador plástico. Mas, por mais que o ser astral se distancie de seu invólucro material, permanece unido a ele por uma cadeia simpática de tal eficácia, que à mínima sensação anormal percebida por intermédio desse cordão fluídico o homem interno é bruscamente trazido a seu corpo exterior, no qual se reintegra imediatamente, ocasionando o despertar. Em certos casos, felizmente bastante raros, onde o choque foi extremamente intenso, o cordão pode romper-se, o que ocasiona a morte imediata. Por isso, é perigoso despertar de sobressalto as pessoas que sonham.

O próprio sonho não é outra coisa senão a percepção mais ou menos confusa dos reflexos e dos fenômenos do mundo astral, cujas lembranças bastante vagas só se coordenam imperfeitamente no estado de vigília.

Os iniciados sabem em que condições hiperfísicas o corpo astral, assim expulso de sua efígie carnal, pelo sono ou pelo êxtase, pode condensar-se, tornar-se objetivo ao ponto de ser visto e tocado, mesmo a distâncias enormes do local onde o corpo material jaz imóvel e, geralmente, em catalepsia. A história fornece-nos vários exemplos desse fenômeno, em casos em que ele pode ser bem verificado.

“Nada no mundo, diz Eliphas, “é melhor atestado e mais incontestavelmente provado do que a presença visível e real do pe. Alphonse de Liguori ao lado do papa agonizante, enquanto que o mesmo personagem era visto em sua casa, a uma grande distância de Roma, orando e em êxtase. A presença do missionário François Xavier em vários locais ao mesmo tempo não foi constatada com menor rigor(130). Ver, ainda, o livro de Gurney, Meyers e Podmore, Phanstams of the living (3 vol. in-8°), ou o resumo francês dessa grande obra, efetuada por M.L.Marillier, sob um título menos explícito e significativo: As alucinações telepáticas (Les Hallucinations télépathiques Paris, 1891, in-8.°).

Esta fase de aparição à distância de um ser vivo, cujo corpo jaz adormecido no mesmo instante longe do lugar onde se produz o fenômeno, tem o nome de desdobramento.
10. …Testemunho ocular da Revolução Francesa…

É inútil sublinhar aqui esse traço revelador, entre outros, da identidade que, segundo entendemos, se impõe entre Clarence Glyndon da narrativa e o old gentleman do Prefácio.
…Platão assinala quatro tipos de Êxtase…

Cornélio Agrippa faz, no terceiro volume de Filosofia Oculta, um comentário extenso dessa classificação quaternária, advinda de Platão e dos Alexandrinos (Capítulos XLVI-XLIX).
Depois de ter definido o Êxtase (iluminação da alma pelos deuses ou gênios) – uma alienação do homem animal sensual e, ainda, uma amarra que mantém cativo esse carcereiro da alma, de modo que ela se solta da prisão que não está mais guardada e, livre, sob os influxos divinos, envolve todas as coisas e prevê o futuro -, Agrippa detalha quatro tipos de furores ou êxtases, que distingue pela diversidade de suas origens: o primeiro procede das MUSAS (êxtase Musical), o segundo de DIONISO (Êxtase Místico), o terceiro de APOLO (Êxtase Sibilino), o quarto, enfim, de VÊNUS (Êxtase de Amor).

O primeiro furor, segundo o discípulo de Tritemo, imanta a inteligência, tornando-a divina e apta a atrair as influências superiores, pelas virtudes das coisas naturais(131). As musas nada mais são do que as almas das esferas celestes que dirigem hierarquicamente as qualidades atrativas das coisas materiais, com relação ao que se encontra no Alto. A Lua rege as plantas, as pedras e os metais; Mercúrio, aquilo que provém da natureza animal e principalmente o que se refere ao beber e ao comer; Vênus rege os perfumes, ungüentos, exalações e fumigações; o Sol preside à voz, às palavras, à música, à harmonia; Marte, às paixões veementes, às afecções da alma, ao ímpeto da imaginação; Júpiter governa o que se refere à razão; Saturno rege tudo o que se refere à inteligência e ao espírito puro – eis o que concerne às sete esferas dos planetas. Restam a oitava esfera (aquela das Estrelas Fixas), que exerce influência sobre a astrologia e seus instrumentos e a nona, enfim (aquela do Primeiro Móbil), que exerce sua influência sobre o que se refere à analogia e ao símbolo: números, figuras, pantáculos, efígies de divindades, etc. Tal é, segundo Agrippa, o governo cósmico das nove Musas, e suas correspondências…

O segundo furor, emanado de DIONISO, obtém-se pelas cerimônias exteriores do culto:
exorcismos, sacramentos, solenidades, práticas e pompas religiosas, etc. Sublimando a alma na região espiritual, que é a parte mais elevada, o Êxtase de Dioniso faz desta alma um templo purificado, digno de ser visitado pelos deuses. Desde então, os deuses vêm morar nele e o enchem de oráculos, numa efusão de alegria divina e de inefável sabedoria. Eles não se manifestam por sinais ou prognósticos, mas diretamente, acionando o espírito ou ainda, às vezes, por visões claras ou por vozes articuladas. Um exemplo, entre vários, é o demônio de Sócrates.

O terceiro furor provém de APOLO, que é o Espírito Universal, a alma inteligente do mundo. Se o furor de Dioniso é fundamentado por pompas exteriores do culto, o de Apolo obtém-se pelos mistérios sagrados, as adorações, as invocações, a virtude dos objetos consagrados e as práticas da Magia. É o Espírito de profecia que repentinamente desce sobre um mortal e o invade inteiramente. O mais ignorante, purificado sobre o todo poderoso amplexo de Deus, vaticina os oráculos da suprema sabedoria. Exemplo: os Sibilas.

O quarto juror, enviado por VÊNUS, o furor do amor, identifica a alma humana com a natureza divina e a assimila às potências empíreas. Deve-se ver aí a reintegração propriamente dita: um contato essencial, uma fusão temporária da alma humana transfigurada com a divindade transfigurante, que lhe infunde a Sabedoria em um abraço sublime, transpondo os limites do Entendimento. É por isso que Orfeu considerou o Amor cego como superior ao entendimento humano(132), acrescenta Agrippa.

Esses comentários distintivos são excelentes(133). Mas nada impede que o texto platônico tenha outra interpretação, uma vez que o sentido dos apotegmas é múltiplo em Magia, bem como o sentido dos próprios símbolos. Assim, o Êxtase enviado pelas Musas (inspiradoras das inteligências e reitoras das esferas) pode ser entendido igualmente como a iluminação espontânea, que favorece os homens de gênio: seja aguilhão fulgurante do pensamento, ou chama criadora da arte. Lá jaz o arcano de uma apoteose semiconsciente da natureza adâmica, ilustrada por intervalos, e depois obscurecida.

Traduziremos ainda Êxtase Musical no sentido estrito da palavra? Leitor de Zanoni, nós o podemos, em memória do papel preponderante(134) reservado por Bulwer Lytton ao pai da jovem, esse bizarro e genial maestro Pisani. Viola, nascida de um sonho, caminhará no sonho, protegida do mundo exterior por uma muralha de melodia. Silfos e Salamandras, de asas vibrantes e musicais, transparecem em rivalidade na atmosfera encantada engendrada pelos acordes do violino. É toda uma teurgia evocatória em volta do berço da criança; o milagroso ambiente torna-a predestinada a encontrar o mago, do qual ela se tornará a fatal delícia e o inocente flagelo. Podem-se ler, já, as fatalidades de sua vida futura, virtualmente incluída nas ondas sonoras do violino paterno.

Os músicos mais importantes de hoje sabem o que é a Música, concebida em sua essência e potencialidades? Eles vêem nela apenas uma arte divina, mas só uma arte. “Ora, o que fazia da Música uma ciência tão importante para os antigos era a faculdade que nela haviam reconhecido de poder facilmente servir de meio de passagem do físico ao intelectual; de forma que, como transportavam de uma natureza para outra as idéias que ela fornecia, acreditavam-se autorizados a atingir, por analogia, o Desconhecido partindo do conhecido. A Música então, era, entre suas mãos uma espécie de medida proporcional que eles aplicavam às essências espirituais” (Fabre d’Olivet, História Filosófica do Gênero Humano, 1, p. 264). Esta simples citação deve bastar. É suficiente para entrever a que nível a Música pode, sozinha, servir de base a uma categoria de iluminação celeste: aquela correspondente ao Êxtase Musical, cuja significação pode ser interpretada textualmente.
Marquês de Stanislas de Guaita

(fonte: Hermanubis; em Português do Brasil)

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