sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Mutus Liber Historia Parte 2


Afirma a ancestral sabedoria chinesa que uma imagem vale mais que mil palavras, e essa observação é particularmente correta quando nos referimos as imagens herméticas ou alquímicas que os Sábios deixaram para o deleite e edificação dos amantes de sua Ciência. São chamados “livros mudos”, mas sua mudez é muito distinta da habitual, pois é particularmente eloqüente quando logramos penetrar em seu aparente silêncio.
A Obra Decades Qvator Emblematvm Sacrorvm Ex, ou a Iesv et Rosae Crucis Vera – Os Emblemas Rosacruzes de Daniel Cramer são um dos primeiros tratados rosacrucianos. Este surpreendente “livro mudo” veio à luz em 1617, um ano depois da publicação das “Bodas Alquímicas de Christian Rosenkreutz”. Centrado no simbolismo do coração, os 40 emblemas parecem descrever um processo de purificação e aperfeiçoamento que atravessa a alma ou o homem interior através de 40 passos. Daniel Cramer, pastor protestante, foi um grande conhecedor do conteúdo esotérico das escrituras. A Obra foi dedicada a Felipe II. Ediciones Obelisco (Edição em Espanhol).
Outra obra de importante relevo, e bem dentro da tradição rosacruciana é o conhecido MUTUS LIBER, ou O Livro Mudo da Alquimia.
Reconhecidamente uma das obras mais importantes da tradição alquímica. Composto de 15 pranchas, gravadas por Altus (La Rochelle, 1677), descreve os passos para realização da Grande Obra apenas por imagens. É possivelmente o único livro conhecido, desde o apogeu da civilização egípcia, que se propõe condensar a sabedoria hermética, como prática empírica e caminho espiritual, praticamente sem o uso da palavra.
A publicação em 1614, 1615 e 1616 dos primeiros manifestos rosacruzes (Fama, Confessio e Bodas Alquímicas) deu-se início a uma nova vertente esotérica que procurou definir-se mais auto-conscientemente como tributária de uma visão esotérica do Cristianismo. Dedicaram-se a normatizar e a regular a própria forma das alegorias e dos símbolos alquímicos, retirando a espontaneidade e sua marca intransferivelmente pessoal e solitária, colocando em seu lugar as regras e valores hierárquicos próprio das sociedades secretas que se propõem administrar politicamente a vivência do mundo espiritual. A produção típica desse movimento é o que se costuma chamar de Alquimia Espiritual.
“A alquimia simboliza tudo o que o homem pode aspirar a atingir espiritualmente em seu presente estado. As promessas do ouro, da longevidade e da saúde são todas símbolos da regeneração interior. Remetem à Idade do Ouro da tradição indo-européia, presente tanto nos escritos platônicos quanto na tradição da Índia Antiga. A alquimia é o grande símbolo do caminho iniciático, caminho solitário e penoso, cheio de impasses, mas que é o único caminho a seguir para que possamos voltar à Casa.” Adam McLean
“Não são fábulas. Você o tocará com suas mãos, o verá com seus olhos, o Azôto, o Mercúrio dos filósofos, que sozinho é suficiente para obter a nossa Pedra… A Escuridão aparecerá na face do Abismo; a Noite, Saturno e o Antimônio dos sábios aparecerão; o negrume e a cabeça de corvo dos alquimistas, e todas as cores do mundo, aparecerão na hora da conjunção; e também o arco-íris, e a cauda do pavão. Finalmente, após a matéria passar de cor de cinzas para branca e amarela, você verá a Pedra Filosofal, nosso Rei e Supremo Dominador, sair de seu vítreo sepulcro para montar em sua cama ou trono com seu corpo glorificado… diáfana como cristal; compacta e muito pesada, derrete ao fogo qual resina, e com a fluidez da cera, mais ainda que a do mercúrio vulgar… com a cor do açafrão quando pulverizada, mas vermelha como rubi quando em uma massa integral…” – H. Khunrath, Amphitheatrum

Texto do blog dos Rosacruzes.

Biografia Eugène Canseliet



Eugène Léon Canseliet (Sarcelles, 18 de dezembro de 1899 - Savignies, 17 de abril de 1982) foi um alquimista francês. Nasceu às vinte horas de uma segunda-feira, em 18 de Dezembro de 1899, na cidade de Sarcelles. Era filho de Henri Joseph Canseliet (1862 - 1921) e de Aline Victorine Hubert (1868 - 1935). Visando aprender desenho, vai para Marseille em 1915 e torna-se aluno no Palais des Beaux-Arts Place Carli. Em Marseille conhece Fulcanelli, um alquimista de 76 anos, que residia na rua Dieudé. É nesta época que conhece também o pintor Jean-Julien Hubert Champagne (1877 - 1932).
De 1920 a 1923 foi o director da fábrica de gás de Sarcelles, da Companhia Georgi. Como discípulo de Fulcanelli, teria operado então, pelas suas mãos, uma transmutação alquímica de chumbo em ouro no laboratório do primeiro andar da fábrica, diante de três testemunhas: o pintor Julien Champagne, o químico Gaston Sauvage e o próprio Fulcanelli.
É na fábrica que redige os dois livros de Fulcanelli, seguindo as notas que este lhe entregara. Em outubro de 1925, prefacia o primeiro livro, "O Mistério das Catedrais", publicado em 1926. E, em abril de 1929, prefacia o segundo o livro, "As Mansões Filosofais", publicado em 1930.
Autor de diversos livros de alquimia, entre os quais se destaca Deux Logis Alchimiques, e de diversos artigos publicados em revistas, faleceu em um sábado, 17 de abril de 1982, na cidade de Savignies, e foi enterrado em La Neuville-Vault, numa campa próxima do seu amigo Philéas Lebesgue.


Mutus Liber Historia Parte 1



O Mutus Liber, como o nome diz, é um livro mudo, sem palavras. Editado originalmente por Eugene Canseliet (1958), e tendo seu autor permanecido anônimo, O Livro Mudo da Alquimia é uma das mais relevantes e belas produções da tradição pictórica do hermetismo medieval. O livro consiste de uma série de figuras que ilustram todo o trabalho alquímico.
A importância desta obra legou-lhe diversas edições e até mesmo uma versão em cores. O "Mutus Liber" é um livro composto por 15 gravuras reportando para o método da Grande Obra alquímica. Não é verdade que este livro não tenha palavras pois, logo na primeira página aparecem referências codificadas à bíblia e, na folha 14, existe uma expressão latina conhecida dos alquimistas: "Ora, lege, lege, lege, relege, labora et invenies" ("Reza, lê, lê, lê, relê, trabalha e encontrarás").
O facto por detrás do conceito aceite de que o livro é mudo deve-se no entanto à total incompreensão dos seus sinais por parte dos leigos em alquimia. Na verdade, apenas os entendidos poderiam descortinar as revelações das gravuras.
Note-se que, para além da impressão original datada do século XVII, muito poucas edições mais tardias têm efectivamente valor. Citando um mero exemplo, logo na primeira placa, na edição original, aparece, entre roseiras emaranhadas, um paisagem campestre. Porém, em muitas edições posteriores, a paisagem que aparece foi modificada e observam-se agora cascatas. Este simples pormenor transforma uma cópia mais agradável visualmente numa obra totalmente apócrifa pois, no mundo da alquimia, existem dois caminhos para alcançar o conhecimento. O primeiro é o caminho seco; o segundo é o caminho húmido. Um destes caminhos é mais rápido e perigoso e o outro mais lento porém mais seguro.
Assim deve ser visto o Mutus Liber: uma complexa composição de imagens, relatando por sinais apenas absorvíveis pelos os iniciados na matéria, em que nada está representado por acaso. Assim, para os coleccionadores, apenas as edições mais fiéis têm interesse real.

História

Muitos acreditam que o Mutus Liber foi criado por um certo Altus. Este nome aparece logo na primeira chapa e reporta directamente ao anagrama de Jacob Saulat (ou Jacob Tollé, sieur des Marez), que declarou ter descoberto o manuscrito ao solicitar o privilégio de editá-lo, às suas expensas, recebendo a concordância de Louis XIV em Saint-Germain, a 23 de novembro de 1676. J. Van Lennep acrescenta na sua Alchimie (p. 231) que as armas mostradas na prancha 15 do livro eram as do sieur Saulat des Marez. Bem que esta razão possa parecer coincidência, estes anagramas eram frequentes no mundo da alquimia e do editorismo da época. Frequentemente, para as pessoas não serem perseguidas por Roma nem verem as suas obras adicionadas ao Index, utilizavam homónimos e jogos de palavras para enganar as autoridades. Assim, um anagrama tão flagrante é quase aceite pela generalidade como apontando para o verdadeiro autor do Mutus Liber.

Fonte:BECHTEL, Guy Os grandes livros misteriosos.
































sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Ordem Esotérica de Dagon



Baseado no artigo de Fra. Zebulon, Dunwich Lodge, E.O.D
Dos Arquivos do Círculo Iniciático dos Sete Caos
Tradução de Pássaro da Noite


A Ordem Esotérica de Dagon é uma rede internacional de magistas, artistas e outros visionários que estão explorando os ocultos mistérios inerentes nos escritos de horror e fantasia do escritor da Nova Inglaterra Howard Philips Lovecraft (1890-1937). O ‘Mito de Cthulhu’, como é geralmente conhecido, depende de um número de contos de Lovecraft, mais aqueles de outros escritores que empregaram dispositivos fictícios semelhantes. A premissa básica do ‘Mito de Cthulhu’ é que existe um grupo de entidades trans-dimensionais, conhecidos como os Grandes Antigos os quais, ‘quando as estrelas estão alinhadas’, podem entrar no nosso mundo via portões psíquicos ou físicos.

Os Grandes Antigos representam um conhecimento antigo que precede a civilização humana, e, para a percepção humana são tanto imensamente poderosos quanto alienígenas. Nos contos dos ‘Mitos de Cthulhu’ existe uma rede de conspiração mundial de cultos que adoram os Grandes Antigos e procuram apressar seu retorno à terra. A inspiração de Lovecraft para seus escritos vieram de seus sonhos, e suas cartas (ele manteve uma volumosa correspondência com colegas escritores, mostram que ele tinha um pesadelo cada noite de sua vida. No extrato seguinte de suas cartas, ele descreve um pesadelo sobre Nyarlathotep, um dos Grandes Antigos: “Enquanto eu era sugado para dentro deste abismo, emitia um ghincho retumbante, e a imagem cessou. Eu estava em grande dor, a fronte da cabeça pulsando e os ouvidos tilintando, mas eu tive um único impulso automático – escrever e preservar a atmosfera de terror sem comparação, e antes que percebesse, eu tinha pulado para luz e estava rabiscando desesperadamente... quando totalmente acordado, eu lembrei todos os incidentes, mas havia perdido a esquisita trilha de medo – a sensação da presença do hediondo desconhecido.”

Embora Lovecraft tenha escrito numerosas estórias de horror, ele não tinha crença ou fascinação particular com a ocorrência do fantástico. Enquanto ele veementemente negava a existência dos fenômenos ocultos, seus sonhos davam a ele acesso a uma larga variedade de experiências ocultas e conceitos, que ele não foi capaz de aceitar, e, portanto rotulou os Grandes Antigos como mal, e as práticas de seus cultistas como ‘blafemeas’. Entretanto ocultistas reconhecem o poder das imagens nascidas no sonhos. A capacidade de experimentar sonhos lúcidos que são internamente consistentes e contíguos uns com outros é o elemento primário do xamanismo.

De fato em algumas culturas os xamãs potenciais são reconhecidos pelas características de seus sonhos. O sonho como um portal psíquico para as ‘vibrações’ dos Grandes Antigos entrarem na consciência humana é o conceito que recorre muitas vezes nos contos de Lovecraft. Seus protagonistas algumas vezes assistiam a ‘sabbaths astrais’ nos quais eram iniciados em cultos secretos, assistiam a mistérios de tremer a sanidade e recebiam os benefícios dúbios do Conhecimento Antigo. Tais experiências são comuns entre magistas trabalhando em qualquer sistema, tanto quanto eventos espontâneos e o resultado de sonhos desejados, usando sigilos por exemplo, e experimentação com agentes psico-ativos.

Muitos dos Grandes Antigos aparecem para aqueles que buscam o Conhecimento Antigo através dos sonhos (para aqueles cuja busca no ‘desconhecido’ sintonizam-nos com as transmissões dos Grandes Antigos), e o mais proeminente dos Antigos é Cthulhu, um ser cefalóide alado que vive nos ‘sonhos de morte’ dentro de uma cripta da cidade antiga de R’Lyeh, abaixo do Oceano Pacífico.

A história ‘O Chamado de Cthulhu’ de Lovecraft relata os eventos envolvendo a breve aparência de R’Lyeh, que é precedida por uma onda mundial de insanidade, como certos indivíduos ‘sensitivos’ captaram das transmissões-sonho do grande Cthulhu. Nos ‘Mitos’, ele é o senhor dos sonhos e age como um tipo de intermediário entre a consciência humana e a real natureza alienígena dos Grandes Antigos tais como Azathoth ou Yog-Sothoth.

Sua cidade, R’Lyeh, foi recentemente identificado com Nam-Madol, uma cidade-ruína de pedras consistindo de ilhotas artificiais na ilha Pacífica de ‘Ponape’. Nos Mitos, R’Lyeh é construída ao longo de linhas sobrenaturais de geometria não-euclideana, com estranhos ângulos e perspectivas, nas quais um incauto poderia ser engolido. Toda a cidade é uma série de portais para outras dimensões, e pode ser vista como uma forma dos Túneis de Set de Kenneth Grant.

Ângulos sobrenaturais e matemáticos também foram de interesse de Austin Osman Spare, que percebeu tais coisas em sonhos, mas não pode estabelecê-las em papel. R’Lyeh é o portal psíquico para a camada mais profunda da consciência e sonhos formam a interface pela qual existe este tráfico em mão-dupla de imagens da consciência desperta para a Mente Profunda.

Nas estórias de Lovecraft, muito do Conhecimento Antigo é preservado numa coleção de grimórios, dos quais o mais infame é o Necronomicon (O Livro dos Nomes Mortos), que ao passar dos anos, apareceu em várias formas.

O Necronomicon é reconhecido com o arquétipo dos ‘Livros Astrais’ – chave primária do discurso que são ‘segredados’ no mundo dos sonhos e os quais podem ser ‘aterrados’ em formas fragmentados pelos artistas, magistas e outros visionários. Novamente, isto é uma experiência oculta e recorrente, existindo aí uma grande variedade de trabalhos que tem sido recebido clarividentemente ou canalizados por várias entidades. Dentro da ‘Ordem Esotérica de Dagon’ existe uma ‘Escola de Sonho’, contatada através do sonhar, que consiste em uma variedade de lugares, alguns dos quais são tirados dos contos do Mito de Cthulhu, e nos quais iniciados podem ter acesso a artefatos e livros extraordinários.

Há alguns anos atrás, por exemplo, em um monastério cyclope no topo do ‘Platô de Leng’, me foram mostradas uma série de imagens do Tarot, de detalhes tão intrincados e vívidas cores que apesar de ser quase impossível para mim desenhá-los, é bem fácil para mim recordá-los na mente, mesmo enquanto escrevo este artigo.

O ‘guardião’ das imagens estava muito desejoso em mostra-las, mas como ele cinicamente comentou naquele momento, sabia que eu não seria capaz de traduzi-los do mundo dos sonhos para o mundo físico. O mundo dos Sonhos Lovecraftiano tem sua própria topologia, tendo ligações ambos com lugares terrenos e com lugares que só são acessíveis para sonhadores intrépidos e habilidosos.

Ao explorá-los, é possível conversar com seus habitantes sobre o Conhecimento Ancião, visitar lugares desconhecidos e viajar através do tempo e espaço, usando uma forma de exploração astral que de novo, é primariamente xamânica, aquela da mudança de forma.

Imagens relacionadas a mudança de forma ocorrem do começo ao fim do Mito de Cthulhu, tal como a transição do humano ao ‘Ser Profundo’ – uma raça de batráqueos marinhos que são servos de Cthulhu, relacionado ao deus Dagon., ou a transição de humano em um Ghoul. O conceito mágico relacionado com tais transformações é aquele da Ressurgência Atávica – a revificação de encarnações primevas da consciência humana, das profundezas da mente para o estado da consciência desperta.

Lovecraft mostrou o caminho para acessar estados específicos de consciência os quais relacionam com nossos ancestrais reptilianos e o assim chamado ‘cérebro de dragão’ – o sistema límbico primitivo que é o berço de nossa consciência primal. Outra chave para abrir os segredos do Conhecimento Ancião é a técnica de adivinhação via bola de vidro ou cristal. Tanto a adivinhação na bola de cristal ou vidro que estão sintonizadas para transmitir certas vibrações produzidas nos contos dos Mitos de Cthulhu, muitas vezes em um processo de duas vias. A pessoal que usa estes dispositivos percebem outras dimensões, mas ao mesmo tempo, os habitantes destas dimensões tornam-se cientes, e eventualmente ameaçam o observador. Esta era a única maneira que Lovecraft podia aceitar o processo de tornar-se receptivo às imagens e ‘transmissões’ da mente profunda, como sendo carregadas com ameaça, insanidade e eventualmente morte. Todas as técnicas até agora descritas tendem a ser a dos praticantes solitários, e são introspectivamente orientadas (para dentro do observador). Mas Lovecraft também fez uso extenso dos ‘frienzied rites’, que são, de novo, reminiscentes do xamanismo, Vodu ou até mesmo Bruxaria. Tais feitiços físicos são relacionados com os pontos de poder físico, tipicamente círculos de pedra, prédios especialmente construídos ou estranhas divisas. Eles comumente envolvem sacrifício humano ou animal, procriações incestuosas, e no ‘Dunwich Horror’, um ‘casamento sagrado’ entre a entidade conhecida como Yog-Sothoth e uma cultista fêmea. Lovecraft alude continuamente a natureza ‘degenerada’ dos cultistas de Cthulhu, provavelmente referindo suas atitudes para consecução intelectual e de raça. Mas existe também uma consciência da degeneração das práticas cultistas enquanto a influência dos Grandes Antigos espalha-se no mundo, dada a propagação do materialismo e o decaimento das comunidades ruralistas.

A entidade Nyarlathotep aparece ocasionalmente como o mítico ‘black man’ ou líder dos cultos de reunião sabháticas, sugerindo um avatar humano como base de adoração cultista, usando as gnoses mais físicas como dança flagelação, sexo, canto, tambores, hiper-ventilação e sangramento. Comentaristas modernos sobre a magia dos Mitos de Cthulhu assumiram erroneamente que o Terror é a principal gnose emocional, porque isto era o freqüente sentimento experimentado pelos protagonistas de Lovecraft, inclusive ele mesmo. Embora medo possa ser inicialmente empregado, ele logo atinge um nível ineficaz para gnose.

Todavia, o emprego de feitiçaria física tem levado a uma larga variedade de experimentos pelos iniciados da ‘Ordem Esotérica de Dagon’ em todo o mundo, tais como o uso dos trabalhos terrenos pelo uso da ‘Serpent Mound’ no Vodu Gnóstico, perfeitos pela Loja de ‘Yig’ em Cincinatti (Yig é a deidade serpente nos Mitos). Evocações dos ‘Seres Profundos’ também têm sido feitas em um lago de Wisconsin. Alguns iniciados da ordem estão atualmente interessados no uso de mantras e ‘fala primal’, tanto quanto padrões chave de sons usados como um background para a evocação das entidades dos Mitos. Magistas ocidentais parecem Ter a tendência de tentar e encaixar os Mitos de Cthulhu em sistemas lógicos de correspondência. O executor literário de Lovecraft, August Derleth, também tentou colocar os Antigos em um tipo de estrutura, dando a eles associações elementais e ligando-os a lugares e formas particulares.

Isto pode ser feito apenas em um pequeno alcance, antes de perder-se o ‘sabor’ dos Grandes Antigos, o qual reside em sua natureza altamente mutante.

Lovecraft deixa bem claro que humanos não podem perceber claramente os Grandes Antigos, e as entidades são raramente descritas em termos objetivos ou coerentes. Invés disto, eles são aludidos em sua verdadeira natureza que são ‘primais e não - dimensionais’ – eles mal podem ser percebidos, e ‘espreitam’ eternamente nos limite da consciência. As energias mais poderosas são aqueles que não podem ser nominadas, entendidas ou concebidas claramente. Elas mantêm-se tenuas e intangíveis. Muito parecido com o sentimento de acordar de um pesadelo aterrador, mas incapaz de se lembrar o porquê. Lovecraft entendeu isto muito bem, provavelmente porque muito de seus escritos foram evoluídos de seus sonhos. Os Grandes Antigos ganham seu poder da intangibilidade e indefinição. Uma vez que eles são formalizados em sistemas simbólicos e relacionados com meta-sistemas intelectuais, parte da sua intensidade primal é perdida. William Burroughs coloca desta forma: “Tão cedo quanto você nomeia algo, você remove seu poder... Se você puder olhar a Morte no rosto ela perderá o poder de lhe matar. Quando você pede a Morte por suas credenciais, seu passaporte é indefinido.” – ‘The Place of Dead Roads’. É esta mesma intangibilidade dos Grandes Antigos que dá-lhes seu poder, e permite ao magista mais envergadura para exploração pessoal de suas naturezas. É geralmente concordado que as magias mais ‘poderosas’ são encontradas nos cultos xamânicos primais e sobreviventes. A ‘Ordem Esotérica de Dagon’ é preocupada em reunir o conjunto de técnicas que possam ser vistas como ‘primais’, magia xamânica ‘negra’, como o escopo amplo para desenvolvimento e expansão futura. Ela alude a sobrevivência da sabedoria de base estelar (‘quando as estrelas estiverem certas’), e as raízes que se estendem por todo o mundo; e um conhecimento antigo que permanece enterrado dentro de nossa mentes, ainda que possa ser interceptado, tanto conscientemente, quanto inconscientemente no caso de Lovecraft.


Nota: Este ensaio apareceu originalmente em ‘Starry Wisdom’, uma coleção de ensaios dos membros da ‘Esoteric Order of Dagon’, Pagan News Publications, 1990. Desde então, a E.O. D. tem movimentado novamente para o despertar, e mesmo agora, seus tentáculos podem estar rastejando até você!

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Gnose Conhecimento Salvador


A palavra grega gnose significa simplesmente "conhecimento". Mas na literatura gnóstica não se trata de modo algum de um saber qualquer. A gnose é um conhecimento dotado de maravilhosos prestígios.

Poucos podem possuir este conhecimento, um entre mil, dois entre dez mil.

Simão, o Mago, começa assim sua grande "Revelação" (Apophasis):

Isto é o que se expressa na Revelação da Voz e do Nome, que provém do Pensamento e do Grande Poder Infinito. Por isso será selado, escondido e conservado na morada onde a raiz do Todo tem seus fundamentos.

A gnose, posse dos iniciados, opõe-se à vulgar pistis (crença) dos simples fiéis. É menos um "conhecimento" propriamente dito que uma revelaçãosesecreta e misteriosa. As seitas gnósticas pretendem possuir livros de origem alógena, ou seja, de origem exterior e superior ao mundo no qual nos debatemos. Tais livros são atribuídos a personagens influentes, verdadeiros enviados celestes. Eis aqui, como exemplo, o que se afirma explicitamente no Livro Sagrado do Grande Espírito, uma das obras usadas na seita dos setianos:

"Este é o livro que escreveu o grande Set (um dos filhos de Adão). Depositou-o nas montanhas elevadas sobre as quais o sol não sai nem poderia sair jamais. Desde os dias dos profetas, dos apóstolos e dos predicadores, nem sequer (seu) nome esteve nem nunca pôde estar nos corações. Ninguém jamais o ouviu. Este livro foi escrito pelo grande Set aos cento e trinta anos, depositou-o na montanha denominada Charax para que fosse manifestado nos últimos tempos e nos últimos instantes".

Todos os gnósticos cristãos pretendem herdar, por vias misteriosas, os ensinamentos secretos dados por Jesus a seus discípulos: Basílides, por exemplo, pretendia receber de Matias as doutrinas esotéricas reveladas a este apóstolo pelo Salvador. Os sectários gnósticos fizeram circular muitos Evangelhos apócrifos: o Evangelho segundo os Egípcios, o Evangelho de Maria. O Apócrifo (no sentido literal da palavra grega: "Livro secreto") de João, etc. Gnose implica transmissão de ensinamentos secretos, de "mistérios" reservados a um pequeno número de "iniciados", à "geração de fé inabalável".

Em que se distingue das outras doutrinas teosóficas ou ocultas? "Chama-se ou pode ser chamada gnosticismo -também gnose- toda doutrina ou atitude religiosa fundada na teoria ou na experiência da obtenção da salvação pelo conhecimento". A gnose traduz sempre uma necessidade individual de salvação, de liberação:

"...a gnose - escreve Puech - é uma experiência ou refere-se a uma eventual experiência interior destinada a converter-se em estado inamissível (latim: inamissibilis, que não pode se perder"), através do qual, no curso de uma iluminação que é regeneração e divinização, o homem se cobra em sua verdade, volta a recordar e adquire outra vez consciência de si mesmo, ou seja, conhece simultaneamente sua natureza e sua origem autênticas. Através desta experiência conhece-se ou reconhece-se em Deus, conhece Deus e aparece ante si mesmo como emanado de Deus e alheio ao mundo, adquirindo assim, com a posse do seu "eu" e da sua verdadeira condição, a explicação do seu destino e a certeza definitiva da sua salvação, ao descobrir-se merecidamente salvo para toda a eternidade.

Teódoto, um discípulo de Valentim, nos diz que possuir a gnose é saber "o que fomos e o que chegamos a ser, onde estávamos, onde fomos arrojados, para onde vamos e de onde nos chega a redenção, qual é o nascimento e qual é a ressurreição".

A gnose responde sempre a uma angústia subjetiva do indivíduo, obcecado pelos grandes enigmas metafísicos. A Pistis Sophia ("Fé e Sabedoria"), a mais célebre das obras gnósticas em língua copta, contém uma longa enumeração dos conhecimentos dos quais se beneficiam as almas eleitas: Por que foram criadas a luz e as trevas, o caos, os tesouros da luz, os ímpios, os bons, as emanações da luz, o pecado, o batismo, a cólera, a blasfêmia, a injúria, o adultério, a pureza, a soberba, o riso, a difamação, a obediência e a humildade, a riqueza, a escravidão, porque existem os répteis, os animais selvagens, o gado, as pedras preciosas, o ouro, a prata, as plantas, as águas, o ocidente e o oriente, as estrelas, etc.. Ou seja, ao revelar-lhe o mistério que cobre sua origem e seu destino, a gnose permite ao homem compreender o significado de todas as coisas.

Um "conhecimento" tal, uma "iluminação" semelhante, convertem seu beneficiário em um ser influente:

Pois o homem é um ser vivente divino, que não deve ser comparado com os demais seres viventes terrestres, e sim com os que habitam acima, no céu, e que se chamam deuses. Ou melhor, se é necessário se atrever a dizer a verdade, é ainda acima destes deuses que se encontra o homem realmente homem, ou existe ao menos uma completa igualdade de poder entre uns e outros.

Efetivamente, nenhum dos deuses celestes abandonará a fronteira do céu nem descerá sobre a terra, mas o homem eleva-se até o próprio céu, o mede e o conhece de um extremo a outro, capta tudo com exatidão e supremo prodígio, sequer tem necessidade de abandonar a terra para estar no céu: tão longe se estende seu poder.

É conhecida a famosa passagem de São Paulo, frequentemente invocada pelo esoterismo cristão:

Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi levado até o terceiro céu (subiu com seu corpo ou sem ele, eu ignoro, só Deus sabe) e sei que este homem foi elevado até o Paraíso e que ouviu palavras inefáveis que estão proibidas de revelar a um homem.

Graças à iluminação da qual foi beneficiário, o gnóstico se serve da própria angústia para alcançar o conhecimento definitivo.

É amarga, efetivamente - nos diz Simão -, a água que encontramos depois do Mar Vermelho (Simão interpreta um versículo do Êxodo): porque ela é o caminho que conduz ao conhecimento da vida, caminho que passa através de dificuldades e amarguras. Mas transformada por Moisés, ou seja, pelo Verbo, esta água amarga converte-se em doce.

A gnose - simbolizada pelo fogo iluminador e gerador - arranca a alma do escolhido do pesado "sono" em que se encontrava submergida: daí o emprego de métodos de adestramento espiritual destinados a engendrar estados especiais de consciência e de supra consciência. No entanto, constitui, uma vez alcançado, um conhecimento total, imediato que o indivíduo possui inteiramente ou que carece absolutamente. É o "conhecimento" em si, absoluto, que abarca o Homem, o Cosmos e a Divindade. E é só através deste conhecimento - e não por meio da fé ou das obras - que o indivíduo pode ser salvo: sejam quais forem os traços característicos do gnosticismo como filosofia religiosa, a gnose se encontra definida por esta posição geral e também pela atitude existencial da qual procede. É por sua condição de experiência vivida que a gnose manifesta sua verdadeira originalidade.

Paradoxalmente, em alguns gnósticos cristãos se adverte o desejo de conhecer a origem do mal: em uma das versões do mito de Sophiao erro desta "sabedoria" consistiu em querer contemplar a Divindade insondável. Outra entidade mítico-metafísica, Horos, "o Limite", dará a Sophia consciência dos limites da sua natureza. Basílides anuncia o advento final da "grande Ignorância" que se apoderará de todos os seres existentes, os quais já não tratarão de conhecer o que lhes acontece: "São imortais todos os seres que permanecem no lugar que lhes corresponde". Mas tal atitude é completamente excepcional no gnosticismo.

O gnóstico salva-se mediante o conhecimento, mas de que deve ser salvo? Esta pergunta nos exige estudar a atitude do gnóstico a respeito do seu corpo, do mundo visível e da existência sensível em geral.

Finalidade da Gnose


O objetivo da Gnose (ou ciência do autoconhecimento revelador) não é algo que se apóia em quimeras insubstanciais ou heresias dogmáticas, como pretenderam entender os servos do dogmatismo religioso de todos os tempos. Muito pelo contrário, a Gnose foi, é e sempre será o SUMMUM DO CONHECIMENTO ETERNO...

O objetivo da Gnose (ou ciência do autoconhecimento revelador) não é algo que se apóia em quimeras insubstanciais ou heresias dogmáticas, como pretenderam entender os servos do dogmatismo religioso de todos os tempos. Muito pelo contrário, a Gnose foi, é e sempre será o SUMMUM DO CONHECIMENTO ETERNO, que permitiu a todas as formas filosóficas, místicas ou religiosas adentrar no terreno das verdades absolutas e, deste modo, oferecer à humanidade um caminho a seguir para chegar ao reino imutável da verdade.

É certo, como bem expôs o V. M. Samael Aun Weor, que a verdade é “o desconhecido de momento em momento e por isso apóia-se na profunda intimidade de cada ser humano”.

“A VERDADE, entendida como tal, não poderia jamais estar presa em um livro ou ser pronunciada em um discurso, cada um deve evocá-la, criá-la e desenvolvê-la”… E, por isso, somente através de um esforço supra-humano, aqueles que perseveram na busca poderão um dia encarná-la e, desta forma, conseguir cristalizar, dentro de si mesmos, o mistério da ENCARNAÇÃO DO SER.

Cristalizar o SER da filosofia secreta não é questão de conceitos ou de pareceres ideológicos. Trata-se, pois, de uma disciplina voluntariamente assumida, praticada de uma maneira incessante até se conseguir, depois de múltiplos esforços físicos, éticos ou espirituais, sentir e vivenciar em nosso continente psicobiológico o tremendo realismo que conforma nosso espírito divino. Para se conseguir algo, é necessário conhecer a metodologia que há de nos levar a tal fim e, tratando de conseguir isso que é a raiz de nossa existência, isso que está além do tempo e da relatividade (com todas suas variantes), é óbvio que necessitamos de um guia sólido capaz de nos garantir o triunfo final como prêmio para nossas inquebrantáveis lutas.

É mais que suficiente dizer que não é nosso objetivo redefinir a Gnose, porque ela, em si mesma, é AUTO-SUFICIENTE, AUTODIDATA E AUTOCOGNOSCITIVA. Daí emerge a idéia de que “a Gnose pertence à intimidade sagrada de cada indivíduo”. Queremos apenas apontar, ante o veredicto solene da consciência pública, os parâmetros que identificam filosoficamente e metafisicamente as posturas que o gnosticismo de todos os tempos sustentou dentro do marco doutrinário.

Muito se diz, hoje em dia, sobre o mundo das seitas ou das pseudo-religiões que constituem hoje um verdadeiro labirinto ideológico. Por todas as partes elevam-se vozes contra muitas doutrinas que, oferecendo um paraíso terreno, só conseguem submergir o homem em um inferno de confusões constantes que termina, invariavelmente, no mais terrível cepticismo e desencanto moral e espiritual.

Alguns sábios filósofos disseram: “a Gnose sempre aparece em momentos cruciais, em que a humanidade se sente despojada de seus princípios divinos e proporciona, então, ao homem, uma nova visão sobre o porquê da sua existência e da própria criação”. A Gnose vive nos fatos e desfalece nas abstrações subjetivas do intelectualismo. A Gnose desvela de forma científica tudo aquilo que está contido nos diversos tratados que emanaram de homens ou mulheres que no mundo conheceram o SER.

O Talmud hebraico, a Bíblia Cristã, o Bhagavad Gita, o Dhammapada, o livro das Mutações, o Alcorão, etc., etc., etc., são todos obras sacratíssimas que foram reveladas pelo SER a esses poucos que ousaram “deixar tudo para encontrar tudo”… Inquestionavelmente, estes poucos souberam interpretar as sagradas doutrinas porque não se deixaram encurralar pelo racionalismo especulativo, fugindo, a todo o momento, das interpretações literais que só produzem fanatismos dolorosos que enlouquecem as massas. Os gnósticos desprezam a letra que mata e buscam o espírito que vivifica. Para compreender as verdades eternas, temos que nos liberar de toda classe de preconceitos sociais, de tradições dogmáticas e de medos de toda natureza para então poder experimentar o cru realismo disso que é divino…

Isto que chamamos no jargão religioso de DEUS (o criador) y el HOMEM (a criação) constituem um binômio indissolúvel que infelizmente se rompeu quando este último esqueceu do primeiro e caiu na adoração de si mesmo e das formas materiais que condicionam seu sonho permanente.

A Gnose sempre nos convidará ao despertar e para isso insiste, de forma reiterativa, sobre a necessidade de ativar todos os mecanismos psíquicos e biológicos dos quais estávamos dotados desde o amanhecer da criação, para um dia abrir nossos olhos e testemunhar a majestade que envolve o Pai de todas as coisas…

Diremos, para terminar esta introdução, que “DEUS NÃO TEM FILHOS PREFERIDOS, MAS SIM FILHOS QUE O PREFEREM”.

O Apocalipse Cristão enfatiza: “Desde os tempos dos profetas, o céu se toma por assalto e só os valentes o tomaram”.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Borborismo


Os borboritas ou borborianos, de acordo com o Panarion de Epifânio de Salamis (cap. 26) e de Haereticarum Fabularum Compendium Teodoreto, foram uma seita gnóstica cristã que surgiu por volta do século IV e segundo relatos parece ter durado até o século VI. Epifânio de Salamis deixou um extenso relatório sobre eles em seu Panarion, capítulo 26.

A seita atrai muita atenção dos estudiosos porque suas excepcionais práticas sexuais pareciam um claro exemplo da libertinagem desenfreada da que os gnósticos foram acusados ​​por seus adversários.

Os borboritas se auto-intitulavam "gnósticos" e "iluminados" - no contexto da heresiologia, "aquele que diz ter conhecimento" - e também eram conhecidos como fibionitas, estratióticos, levíticos, secundianos, socratitas, zacaenses, codianos e barbeloítas. O nome "borborita" significa "imundos" o que sugere que não seria uma auto-designação mas sim um termo abusivo inventado por adversários à seita. O Anacephaleiosis, um resumo breve do Panarion, da qual a autoria de Epifânio é disputada, sugere que ele pode ter criado o nome ou recolhido o termo de outros: "Outros os chamam de borboritas. Estas pessoas se orgulham de Barbelo, que também é chamado Barbero". Assim, a outra forma do nome seria "barbelitas" ("povo de Barbelo") e teria sido modificada para barberitas e finalmente borboritas. 

Epifânio é particularmente bem-informado sobre a seita segundo ele, por quase ter sido seduzido pelo secto[6] o que lhe permitiu ler suas escrituras secretas, tanto este episódio quanto o conteúdo dessas escrituras são contraditório - se Epifânio escapou de ser seduzido pela seita, como então teria acesso a seus escritos e rituais secretos.

Doutrina e sacramentalismo sexual

De acordo com Epifânio, foram influenciados pelos ensinamentos dos nicolaítas que são discutidos no capítulo 25 e cujo fundador Nicolau ensinava "A menos que copule todos os dia, não terás vida eterna".

Segundo Epifânio, acreditavam que este mundo é separado do reino divino por 365 céus, cada um controlado por um arconte que deve ser aplacado para permitir a subida da alma até o reino divino. Desde que nossa alma descende através desses 365 céus e então deve voltar, deve passar pelos reinos de cada arconte duas vezes. A viagem ocorreria prolepticamente aqui na terra através de uma espécie de empatia, quando o homem chamasse pelo nome de um dos arcontes durante a cerimônia de liturgia sexual, afetando um tipo de identificação com o arconte e assim permitindo a passagem do sujeito por seu reino. Como cada arconte deve ser passado duas vezes, Epifânio contabiliza que os devotos precisam seduzir e praticar os rituais em pelo menos 730 ocasiões.

Epifânio também conta que os borboritas foram inspirados pelo setianismo e tinham como uma característica particular nos seus rituais elementos de sacramentalismo sexual, incluindo esfregar de mãos em fluídos corporais (sangue menstrual e sêmen) e o consumo deles como uma variante à Eucaristia.

Embora fossem libertinos, proibiam a procriação e para evitar que as mulheres da seita engravidassem, os homens praticavam o coitus interruptus, se por acaso alguma mulher da seita engravidasse extraiam seu feto para consumo em cerimônias especiais.

Escritos

Os livros descritos como de uso pelos borboritas são listados por Epifânio que explicitamente condena um em particular chamado Noreia, outros livros segundo Epifânio são Evangelho da Perfeição, o Evangelho de Eva, Pequenas Questões de Maria, Grandes Questões de Maria, os Livros de Sete, o Apocalipse de Adão, o Nascimento de Maria e o Evangelho de Felipe e também usavam o Antigo quanto o Novo Testamento à maneira que lhes conviam.Realmente alguns destes escritos foram descobertos, alguns constituindo a biblioteca de Nag Hammadi), como o Apocalipse de Adão, o Evangelho de Filipe], o Evangelho de Maria e o Segundo Tratado de Sete, embora não sabemos se são realmente os mesmo livros referidos por Epifânio.

Referências

The Panarion of Epiphanius of Salamis. [S.l.]: BRILL. ISBN 978-90-04-07926-7
Stephen Benko (1967). The Libertine Gnostic Sect of the Phibionites According to Epiphanius. [S.l.]: Vigiliae Christianae
Epifânio de Salamis, Panarion, 25. 2,1 - 26. 3,7
Epifânio de Salamis?, Anacephaleiosis, 26
Wouter J. Hanegraaff; Jefferey L. Kripal; Jeffrey John Kripal (2008). Hidden Intercourse: Eros and Sexuality in the History of Western Esotericism. [S.l.]: BRILL. p. 11. ISBN 978-90-04-16873-2
Epifânio de Salamis alega algum conhecimento de primeira-mão da seita e ter fugido de sedutoras mulheres que o repreenderam dizendo "Nós não fomos capazes de salvar este jovem. Ao invés disso, o abandonamos às garras do arconte".Epifânio de Salamis, Panarion, 26, 17.6
Forgery and Counter-forgery: The Use of Literary Deceit in Early Christian Polemics. [S.l.]: Oxford University Press. 10 de janeiro de 2013. p. 19, 22. ISBN 978-0-19-992803-3
Epifânio de Salamis, Panarion, 26. 1,3
Epifânio de Salamis, Panarion, 25. 4,3
Forgery and Counter-forgery: The Use of Literary Deceit in Early Christian Polemics. [S.l.]: Oxford University Press. 10 de janeiro de 2013. p. 19. ISBN 978-0-19-992803-3
Epifânio de Salamis, Panarion, 25. 5,4
Epifânio de Salamis, Panarion, 25. 6,1
Epifânio só precisa citar uma passagem para se mostrar ultrajado perante a falsificação e o quanto implausível era os relatos [das seitas] sobre a vida de Jesus. Mas podemos nos questionar o quanto plausível é este relato ser mesmo do Fibionitas. Seria possível que os relatos tenham sido forjados não pelo Fibionitas mas pelo próprio Epifânio?Forgery and Counter-forgery: The Use of Literary Deceit in Early Christian Polemics. [S.l.]: Oxford University Press. 10 de janeiro de 2013. p. 19. ISBN 978-0-19-992803-3

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