sábado, 12 de maio de 2018

Virgens Mães

Todas as religiões possuem as suas Virgens-Mães, as suas Marias ou Maias: Adha-nari, a Indiana; Ísis, a egípcia; Astaroth, a hebraica; Astarté ou Haschtoreth, a síria; Afrodite, a grega; Vesta, a romana; Herta, a germana; Ina, da Oceania, Isa, a japonesa; Ching-mu, a chinesa" etc., etc.

Mesmo entre os nossos tupis havia Jaci, a “mãe dos frutos”, como as outras, relacionada com a Lua.

O nome Maria da tradição Cristã provém de Mare, o mar, simbolicamente, “a grande ilusão”, ou Maia.

Os dois MM entrelaçados que até hoje figuram nas pias de Água benta, não significam porém apenas o nome de Maria, mas também ainda o símbolo do Aquários, signo francamente feminino.

No Africanismo, Amanjá é o nome com que se conhece a “mãe d'água”, que neste caso é a rainha das ondinas ou nereidas" que são os elementais ou “espíritos” das águas. Já as ondinas dos rios e dos lagos, recebem nessa tradição o nome de Xanas.

A mãe de Mercúrio, o Hermes da mitologia grega, foi Maia, nome que também recebeu a de Gotama, o Buda. No Egito, Mut era só, mesmo tempo Mãe e Mulher de Amon, pois, um dos títulos principais deste deus era “marido de sua mãe”.

Tal expressão é de um modo geral interpretada de maneira completamente diversa do seu verdadeiro sentido iniciático, inclusive por sacerdotes de outras religiões. Esquecem-se estes de que unidos ou ligados à sua Igreja, a consideram também como Santa Madre (ou Mãe) Igreja.

A deusa Mut, como as outras, é invocada no Ocidente com o nome de “Nossa Senhora, Rainha do Céu e da Terra”.

As Plêiades, segundo a Mitologia, são sete como as raças-mães de que se

compõe um globo, embora que cad uma delas com as respectivas sete sub-raças, ramos e famílias são chamadas no Panteon hindu, de Krittikas, pois são as “mães, amas ou mamas” do guerreiro Kartikeyax (Maitréia), estando estreitamente ligadas ao transcendental mistério dos “Avataras”. Kartikeya, Maitréia, Mitra-Deva, o Sosioh persa – sempre o “Esperado”, o “Enviado Celeste”. Em grego as Plêiades têm os seguintes nomes: Elektra, Maya(!), Targeta, Alcyone, Selene, Sterope e Merope.

Em sânscrito Amba, Dúla, Nitalni, Abrayanti, Maghavanti, Vershayanti e Chupunika. A Igreja procurou simbolizá-las nas sete semanas da quaresma: Ana, Bagana, Rebeca, Suzana, Lázaro, Ramos e Páscoa. Em forma de verso:

“Ana, Bagana,

Rebeca, Suzana,

Lázaro, Ramos,

Na Páscoa estamos”.

Os egípcios acreditavam que o pequeno Horus era filho de Osireth e de Oseth, cujas almas se converteram, respectivamente, nas do Sol e da Lua, depois da morte desses personagens. Astarté, que e a mesma Ísis, era o nome do Lua, adorada na Fenícia sob a figura de uma mulher enfeitada de cornos. A própria Virgem Maria, trazendo um quarto da Lua, ora sobre a cabeça, ora debaixo dos pés não representa outra coisa.

Astarté trazia nas mãos um bastão ornado com uma cruz, e chorava, como Ísis, a morte do Sol velho, seu esposo. Não é Maria, quando pranteia seu filho, a “justa crucem lacrymosa dum pendebat filius”, a herdeira de Astarté e de Ísis?

Os hebreus chamavam a rainha dos céus (Regina coeli) de Menia, daí se derivando Neomenia (Lua Nova), que e a mesma Maria moderna, a mãe do deus encarnado dos brâmanes: a mãe Crisna ou Cristen.

Em outra seita bramânica é a Virgem Mãe do Deus Buta, a Virgo dei Genetrix da ladainha de Maria. Frigga, a dama por excelência, a rainha das deusas dos Edas faz-nos lembrar a “Regina Virginum” da mesma ladainha. A Virgem que há de dar à luz – virgem que é ao mesmo tempo mãe ou “Virgoparituri” (Cujo mito deu origem ao dogma da "Maria ser virgem mesmo, depois do parto”), recorda-nos ainda dessa ladainha, os versículos “Mater salvatoris, vas honorabilis".

A “veleda de ouro” das margens do Obi, que trazia uma criança no regaço, é a “Domus aurea”, da ladainha de Maria. Tal origem persiste seja em Adonaia (Vênus) como feminino também de Adonai, ou melhor, o aspecto feminino ou lunar da Divindade, a deusa Lakshmi da mitologia indiana que se assenta à direita do Bodhisatva, seja em Alilot simbolizada pelos árabes no crescente lunar seja em Selene, a irmã-esposa de Helios, o deus solar grego, ou na Magna-Mater (a Grande Mãe, ou “a maior de todas as Marias”, Allamirah ou Baal-Mirah das velhas tradições...), vas honestissimae, purissimae, castissimae, mãe universal de todos os seres, e até na Mater divina gratia causa nostra laetitiae, vos insignis devotionis, mater admirabilis.

Febo no céu, Diana, Gea, Gé, Ceres, Tellus, Letona na terra, e Prosérpina ou Hécate nos Infernos ... Como Diana fosse a deusa da Castidade, não é de estranhar que a ladainha da Diana moderna a complete como “Rainha-virgem” (regina virginum) e se lhe dê o epíteto de “castíssima”, como o fez Gregório I, no começo do século Vll para, reunir o mito judaico ao pagão no ciclo de seu próprio pontificado.

É estéril dar-se, depreciativamente, a tudo o que antecedeu a Jesus o nome de paganismo, quando está provado que o Cristianismo nele, como no Budismo, foi buscar tudo quanto depois apresentaria como seu. O próprio Jesus ao expulsar os vendilhões do templo – que ainda não era, evidentemente, “cristão” – exprobrava-lhes ter feito mercado vil da Casa de seu Pai. Reconhecia pois no referido Templo todo o valor espiritual que até hoje possui qualquer lugar onde, em seu nome, ou de seu Pai, “duas ou mais pessoas estiverern reunidas”

Publicado originalmente em Dhâranâ 142 a 144 – Abril de 1951