quinta-feira, 2 de junho de 2016

Nuptiae Chymicae



As Nuptiae Chymicae foram publicadas pela primeira vez em alemão no ano de 1616 em Estrasburgo, entretanto, supõe-se que tenham existido em forma de manuscrito já em 1601-2. Esta obra foi traduzida para o inglês pela primeira vez em 1690 por E. Foxcroft, Ex-Membro do King’s College em Cambridge, tendo essa tradução se tornado a fonte para muitas das modernas tentativas de melhorar o original. A tradução aqui apresentada foi efetuada a partir da versão em inglês de E. Foxcroft. As notas de rodapé foram escritas por Andre Rotkiewicz, as traduções do latim foram efetuadas por Carl Williams e a tradução para o português foi executada por Arnaldo T. Santos (Todos os Direitos Reservados).

Nota do Tradutor:
Com o propósito de manter o texto em português o mais fiel possível ao original em inglês, esforçamo-nos por manter todos os itálicos existentes, bem como letras maiúsculas em palavras em locais onde normalmente não seriam maiúsculas. De forma análoga, todas as frases escritas de forma indireta, ou entrecortadas por outras informações, foram também mantidas dessa maneira, o que muitas vezes dificulta a leitura, mas preserva a estrutura original do texto. Diversas palavras poderiam também ter sido substituídas por outras de uso mais corrente em português, mas novamente nossa escolha baseou-se na intenção de manter o ‘sabor’ do texto escrito no século XVII. Observe-se ainda que na tradução de todas as linhas em forma de verso, optamos por manter o sentido mais próximo possível ao original, conforme o entendemos, em detrimento das rimas existentes na versão em inglês. Por fim, externamos nossos agradecimentos ao Imperator Gary L. Stewart pelos inestimáveis esclarecimentos oferecidos durante a preparação desta tradução.


O ROMANCE HERMÉTICO:OU AS NUPTIAE CHYMICAE

Escrito em Alto-Alemão Por
Christian Rosencreutz.

O Primeiro Dia

Em uma Noite antes do Dia de Páscoa, sentei-me à Mesa, e tendo (conforme era meu Costume) em minha humilde Prece conversado suficientemente com meu Criador, e considerado muitos grandes Mistérios (a respeito dos quais sua Majestade o Pai das Luzes havia me mostrado não poucos), e estando agora pronto para preparar em meu Coração, juntamente com meu querido Cordeiro Pascal, um pequeno e imaculado Bolo ázimo; subitamente surgiu uma tão horrível Tempestade, que nenhuma outra coisa imaginei a não ser que em função de sua poderosa força, a Colina, sobre a qual minha pequena Casa estava assentada, voaria em pedaços. Mas visto que isto, e coisas parecidas vindas do Demônio (que havia me causado muitos aborrecimentos) não era novidade para mim, tomei coragem e persisti em minha Meditação, até que alguém, de uma maneira incomum, me tocou nas Costas, em conseqüência do que fiquei tão imensamente aterrorizado que mal ousei olhar à minha volta e contudo, mostrei-me tão bem-disposto quanto (em Ocorrências parecidas) a fragilidade humana permitia.Agora, a mesma coisa ainda estava me puxando várias vezes pelo Casaco e olhei para trás, e observei que era uma encantadora e gloriosa Senhora, cujas Roupas eram todas da cor do Céu, e curiosamente (como o Céu) salpicadas de Estrelas douradas. Em sua Mão direita ela portava uma Trombeta de ouro batido, sobre a qual estava gravado um Nome (que eu podia bem ler), mas estou até agora proibido de revelá-lo. Em sua Mão esquerda ela segurava um grande maço de Cartas em todas as Línguas, que (conforme mais tarde compreendi) ela deveria levar para todos os Países. Também possuía grandes e belas Asas, cheias de Olhos em toda sua extensão, por meio das quais poderia elevar-se nas alturas e voar mais velozmente do que qualquer Águia. Eu poderia talvez ter sido capaz de observá-la melhor, mas pelo fato de ela ter ficado tão pouco tempo comigo, e como o terror e a estupefação ainda me possuíam, não tive outra alternativa senão estar satisfeito. Pois tão logo me virei, ela revolveu suas Cartas repetidas vezes e finalmente tirou uma pequena carta que com grande Reverência colocou sobre a Mesa, e partiu sem me dizer uma palavra. Mas ao se elevar, deu um sopro tão poderoso em sua imponente Trombeta que toda a Colina ecoou a partir dali, e durante um quarto de hora inteiro depois disso eu mal conseguia escutar minhas próprias palavras.

Em função de tão inesperada aventura, eu estava perdido em como aconselhar ou auxiliar meu pobre eu, e assim, caí de Joelhos e supliquei ao meu Criador para nada permitir que me ocorresse que fosse contrário à minha Eterna Felicidade; após o que, com medo e tremendo, avancei até a Carta, que estava agora tão pesada que, se fosse de Ouro maciço, dificilmente teria tão grande peso. Agora, enquanto a estava olhando diligentemente, descobri um pequeno Selo, sobre o qual uma curiosa Cruz com esta Inscrição, In Hoc Signo Vince  
  estava gravada
Tão logo observei esse sinal, fiquei mais confortado, pois não desconhecia que tal selo era pouco aceitável e muito menos útil ao Demônio. Depois disso, delicadamente abri a Carta e dentro dela em um Campo Azul-Celeste, em Letras Douradas, encontrei escritos os seguintes Versos:


“Neste dia, neste dia, neste, neste
São as Núpcias Reais.
Estás para isso por nascimento inclinado,
E para alegria de Deus designado?
Então podes para a montanha te dirigir, 
Sobre a qual três majestosos Templos se encontram,
E lá, tudo ver dum extremo ao outro.
Mantém guarda e vigia,
Observa-te;
A menos que com diligência te purifiques,
As Núpcias não poderão abrigar-te sem dano;
Elas causarão dano àquele que aqui se demora;
Que se acautele aquele cujo peso é demasiado leve.”

Abaixo, estava escrito Sponsus e Sponsa

Tão logo li essa Carta, imediatamente fiquei como se tivesse desmaiado, meus Cabelos ficaram em pé e um Suor frio escorreu por todo meu corpo. Pois embora bem percebesse que estas eram as Núpcias designadas, a respeito das quais sete Anos antes eu me inteirara em uma Visãocorpórea, e que agora por tanto tempo com grande dedicação eu considerava, e que mais recentemente, pelo cômputo e cálculos dos Planetas, os quais eu havia muitíssimo diligentemente observado, constatei ser assim, eu, no entanto, nunca poderia prever que devesse acontecer sob tão penosas e perigosas condições. Pois enquanto eu antes imaginara que para ser um Convidado bem-vindo e aceitável precisaria apenas estar pronto para aparecer nas Núpcias, eu era agora dirigido à Providência Divina, da qual até este momento nunca estivera certo. Também descobri por mim mesmo, quanto mais examinava a mim mesmo, que em minha Cabeça nada havia a não ser uma grosseira má compreensão e cegueira acerca das coisas misteriosas, de forma que eu não era capaz de compreender nem mesmo aquelas coisas que estavam sob meus Pés, e com as quais interagia diariamente, muito menos seria capaz de compreender que tivesse nascido para investigar e compreender os Segredos da Natureza; uma vez que em minha opinião a Natureza poderia em todos os lugares encontrar um Discípulo mais virtuoso, a quem confiar seus preciosos, embora temporários, Tesouros. Também constatei que meu comportamento físico e boa Interação externa, e Amor Fraterno em direção ao meu Vizinho, não estavam devidamente purgados e purificados; além disso, a comichão da Carne manifestava-se, cuja afeição voltava-se somente para a Pompa e a Valentia e o Orgulho Mundano, e não para o bem da humanidade: E eu estava sempre me empenhando em como através desta arte poderia em um curto período de tempo aumentar abundantemente meu lucro e vantagens, erigir Palácios majestosos, fazer de mim mesmo um Nome eterno no Mundo, e outros planos Carnais semelhantes. Mas as palavras obscuras relativas aos Três Templos de fato me afligiram particularmente, as quais eu não era capaz de decifrar através de qualquer pós-Especulação, e talvez ainda não pudesse, caso elas não tivessem sido maravilhosamente reveladas para mim. Desta forma, paralisado entre Esperança e Medo, examinando-me repetidas vezes e constatando apenas minha própria Fraqueza e Impotência, não sendo de nenhuma maneira capaz de socorrer a mim mesmo, e extraordinariamente pasmo com a acima mencionada ameaça, finalmente dediquei-me à minha conduta mais usual e mais segura. Depois que terminei minha mais sincera e fervorosa Prece, deite-me em minha Cama, de forma que se por acaso meu Anjo bom pudesse, através da permissão Divina, aparecer, e (conforme havia acontecido anteriormente algumas vezes) instruir-me nesta questão duvidosa, o que, para a glória de Deus, para meu próprio Bem e de meus Vizinhos, um fiel e leal aviso e clarificação de fato agora ocorreu. Pois mal havia adormecido, quando me pareceu que eu juntamente com uma incontável multidão de homens estávamos agrilhoados com grandes Correntes em um Calabouço escuro, no qual sem o menor brilho de Luz nos aglomerávamos como Abelhas uns sobre os outros, e desta forma causávamos aflição mais dolorosa uns aos outros. Mas embora nem eu, nem nenhum dos outros pudéssemos ver nada, eu continuamente ouvia um se erguendo sobre o outro, quando suas Correntes ou Grilhões se tornavam mesmo um pouco mais leves, embora nenhum de nós tivesse muita razão para empurrar o outro, uma vez que éramos todos Prisioneiros Desventurados. Agora, à medida que eu com os demais havíamos continuado um bom tempo nessa aflição, e cada um estava ainda reprovando o outro com sua cegueira e cativeiro, finalmente ouvimos muitas Trombetas soando juntas, e Timbales batendo ali tão artificialmente que isso até mesmo nos reviveu e nos alegrou em nossa Calamidade. Durante essa Balbúrdia, a cobertura do Calabouço foi, a partir de cima, levantada, e uma pequena luz baixou sobre nós. Então primeiramente podia-se verdadeiramente discernir o alvoroço em que nos mantínhamos, pois tudo era tão caótico, e aquele que por acaso tivesse se erguido demasiadamente, era forçado novamente para baixo sob os Pés dos outros. Em resumo, cada um se esforçava para estar no lugar mais alto, nem eu mesmo hesitei, mas com meus pesados Grilhões deslizei de meu lugar debaixo dos outros e então me ergui por sobre uma Pedra, na qual me agarrei. Não obstante, fui diversas vezes agarrado pelos outros, dos quais, contudo, tão bem quanto podia, com Mãos e Pés eu ainda me protegia. Pois nada imaginamos além de que seríamos todos colocados em Liberdade, o que, contudo aconteceu bem de outra maneira. Pois, depois que os Nobres, que de cima olhavam para nós através do Buraco, tinham por algum tempo se divertido com esse nosso esforço e lamento, um certo Ancião de cabeça encanecida solicitou que ficássemos quietos, e tendo isso obtido com pouco sucesso, começou (conforme ainda me lembro) desta forma a assim dizer:



“Se a Humanidade desventurada se refreasse
Para assim se manter,
Então certamente para ela muitos benefícios conferir
Minha justa Mãe Poderia:
Mas uma vez que isso não ocorrerá,
Eles devem em Ansiedade e Tristeza lamentar,
E ainda na Prisão permanecer.
Contudo, minha querida Mãe
Não reparará em suas Tolices,
Seus mais selecionados Benefícios ainda permitindo
Em muita Luz estarem.
Embora muito raramente possa parecer
Que possam ainda conservar alguma estima,
Que de outra forma passaria por Contrafação.
Pelo que em honra da Festa
Que neste dia celebramos com solenidade
Para que assim sua Benevolência possa ser aumentada,
Uma boa ação ela planejou.
Pois agora uma Corda será baixada,
E todo aquele que possa nela se dependurar,
Será generosamente libertado.”

Ele mal havia terminado de falar, quando uma Matrona Anciã ordenou seus Servos a deixar cair a Corda sete vezes no Calabouço, e puxar quem quer que pudesse nela se agarrar. Meu bom Deus! Se eu pudesse descrever suficientemente a pressa e inquietação que então surgiu entre nós. Pois todos se esforçavam para agarrar a Corda e, contudo, apenas atrapalhávamos uns aos outros. Mas depois de sete Minutos, um sinal foi dado por um Sinete, ao que na primeira Puxada os Servos alçaram quatro. Naquela vez eu não consegui me aproximar muito da Corda, tendo (como foi antes mencionado), para meu enorme infortúnio, me dirigido a uma Pedra na Parede do Calabouço, e por meio disso ficasse incapacitado de chegar até a Corda que descia no meio. A Corda foi lançada para baixo pela segunda vez, mas vários, porque suas Correntes eram demasiadamente pesadas e suas Mãos demasiadamente delicadas, não conseguiam ficar agarradas à Corda, mas consigo levavam para baixo muitos outros, que de outra maneira poderiam talvez ter se segurado firmemente o suficiente. Não, mais do que um foi forçosamente arrancado por outro, que, contudo, não conseguia ele mesmo alcançá-la, e assim éramos mutuamente invejosos mesmo nessa nossa grande miséria. Mas dentre todos os outros, os que mais moviam minha Compaixão eram aqueles cujo peso era tão grande que arrancavam suas próprias mãos de seus Corpos e, contudo, não conseguiam subir. Dessa forma, ocorreu que nessas cinco vezes muito poucos foram içados. Pois tão logo o sinal era dado, os Servos eram tão ágeis em puxar que a maior parte caia: uns sobre os outros, e a Corda, especialmente desta vez, foi içada muito vazia. Em consequência do que a maior parte e mesmo eu perdemos a esperança da Redenção, e rogamos a Deus para que ele tivesse piedade de nós, e (se possível) nos livrasse dessa obscuridade, quem então também ouviu alguns de nós: Pois quando a Corda desceu pela sexta vez, alguns deles se agarraram firmemente nela, e Enquanto durante a subida a Corda balançava de um lado a outro, ela (talvez pela vontade de Deus) veio até mim, que subitamente a agarrei no lugar mais alto, acima dos demais, e assim finalmente, além de qualquer esperança, saí, pelo que muitíssimo exultei, de forma a não perceber o Ferimento que na subida recebi de uma Pedra pontiaguda em minha Cabeça, até que eu com os demais que foram libertados (como sempre foi feito antes) estávamos satisfeitos em ajudar na sétima e última puxada, quando, em função do esforço, o Sangue escorreu por todas as minhas Roupas, o que pela alegria eu Agora não observava, quando a última puxada, na qual a maior parte de todos estava dependurada, terminou. A Matrona fez com que a Corda fosse colocada longe dali e determinou que seu vetusto Filho (ao que muito me surpreendi) declarasse a Resolução dela para o resto dos Prisioneiros; que após ter refletido um pouco, falou-lhes desta forma.

“Vós, ó queridos Filhos,
Todos aqui presentes,
Aquilo que apenas agora está completado e feito,
Foi há muito decidido:
Seja o que for que minha Mãe de grande Benevolência
A cada um em ambos os lados tenha aqui mostrado,
Que nunca empreguem mal o Descontentamento;
A época jubilosa se aproxima,
Quando todos serão iguais,
Ninguém na riqueza, ninguém na penúria.
Quem quer que receba grandes Pedidos
Tem trabalho suficiente para preencher suas Mãos.
A quem quer que muito se tenha confiado,
É bom que possa salvar sua pele.
Para que seus lamentos cessem,
O que é esperar por mais alguns dias?”


Tão logo ele terminou essas Palavras, a Cobertura foi novamente colocada e trancada, e as Trombetas e os Timbales começaram novamente, e ainda o barulho disso não era tão alto, pois que as amargas Lamentações dos Prisioneiros que provinham do Calabouço eram ouvidas acima de tudo, o que logo também fez com que meus Olhos transbordassem. Num instante depois, a Matrona Anciã junto com seu Filho sentaram-se em assentos preparados anteriormente e ordenou que os Redimidos fossem contados. Agora, tão logo soube o número, e o escreveu em uma Placa Amarelo-ouro, ela perguntou o Nome de todos, os quais foram também escritos por um pequeno pajem. Tendo visto todos nós, um após o outro, ela suspirou e falou para seu Filho, assim como eu conseguia bem ouvi-la: “Ah! Quão sinceramente estou angustiada pelos pobres Homens no Calabouço! Quem me dera Deus, ousasse eu libertá-los todos”, ao que seu Filho respondeu: “É, Mãe, desta forma ordenado por Deus, contra quem não podemos lutar. Caso todos nós fôssemos Senhores, e possuíssemos todos os Bens sobre a Terra, e estivéssemos sentados à Mesa, quem então haveria para executar o Serviço?” Ao que sua mãe manteve a calma, mas logo depois disse: “Bem, contudo, deixe que esses sejam libertados de seus Grilhões”; o que foi do mesmo modo agora feito, e eu, exceto por uns poucos, fui o último; e contudo não consegui me conter, mas (embora ainda olhasse os demais com respeito) curvei-me diante da Matrona Anciã e agradeci a Deus que através dela tivesse com benevolência e paternalmente condescendido a tirar-me de tal Escuridão para dentro da Luz. Depois de mim, os demais fizeram o mesmo, para a satisfação da Matrona. No final, a todos foi dado um pedaço de Ouro como Lembrança, e para despendermos pelo caminho, em um dos lados do qual estava cunhado o Sol nascente e no outro (conforme me lembro) estas três letras, D.L.S. 3  E com isso todos tiveram Permissão para partir, e cada um foi enviado para sua própria Ocupação com esta Intimação inclusa: Que Nós, para a Glória de Deus, deveríamos beneficiar nossos Vizinhos e manter em silêncio aquilo que nos fora confiado, o que também prometemos fazer, e assim partimos nos separando uns dos outros. Mas com relação aos Ferimentos que os Grilhões haviam me causado, eu não conseguia prosseguir bem, mas mancava em ambos os Pés, o que a Matrona agora divisando, riu-se disso, e chamando-me novamente até ela disse-me assim: Meu Filho, não deixes que essa deficiência te aflija, mas mantenha em mente tuas Enfermidades, e com isso agradece a Deus que te consentiu mesmo neste Mundo, e no estado de tua imperfeição penetrar tão elevada luz, e guarda esses ferimentos por mim. Ao que as Trombetas começaram novamente a soar, o que me assustou tanto que acordei, e então primeiramente percebi que era apenas um Sonho, o qual tão fortemente se imprimiu em minha imaginação, que eu ainda estava continuamente perturbado com ele, e pareceu-me estar ainda sensível aos ferimentos nos meus pés. Seja como for, por todas essas coisas compreendi bem que Deus havia condescendido que eu estivesse presente a estas misteriosas e esperadas Núpcias; pelo que com confiança Infantil, enviei agradecimentos à sua Majestade Divina & supliquei que ainda me mantivesse a ele temente, para que diariamente preenchesse meu Coração com Sabedoria e Compreensão, e ao final bondosamente me conduzisse ao fim desejado. Depois disso, preparei-me para o trajeto, coloquei meu Casaco de linho branco e cingi meus lombos com uma Fita Vermelho-sangue amarrada de maneira cruzada sobre meu Ombro. Em meu Chapéu fixei quatro Rosas vermelhas, para que pudesse por este Sinal mais rapidamente ser notado entre a multidão. Para alimento, peguei Pão, Sal e Água, que por conselho de uma pessoa sensata eu havia em algumas ocasiões utilizado, não sem proveito, em ocorrências semelhantes. Mas antes que partisse de minha Pequena Casa de Campo, eu primeiramente nestas minhas roupas e Vestuário para núpcias, caí de Joelhos e supliquei a Deus, que caso algo ocorresse, ele me concedesse um bom resultado. E logo após, na presença de Deus fiz um voto de que se qualquer coisa através de sua graça fosse a mim revelada, eu não a empregaria nem para minha própria honra nem para autoridade no Mundo, mas para a divulgação de seu Nome, e em serviço de meu Vizinho. E com este voto, e boa esperança, parti de minha Cela com alegria.

O Segundo Dia

Eu mal saíra de minha Cela para dentro da Floresta, quando pensei que o Céu inteiro e todos os Elementos já haviam se preparado para essas Núpcias. Pois mesmo os Pássaros em minha opinião cantavam mais agradavelmente do que antes, e os jovens Corços saltavam tão alegremente que enchiam de contentamento meu velho Coração impelindo-me a cantar e, por conseguinte em alta Voz desta forma comecei:

“Com alegria tu, belo Pássaro, te regozijas, 
Em louvor engrandecido a teu Criador. 
Eleva tua agradável e penetrante Voz, 
Teu Deus está bem adiantado. 
Teu alimento ele de fato antes proveu, 
E o fornece de um modo adequado, 
Para que com isso estejas satisfeito. 
Por que deverias estar agora aborrecido, 
Tua cólera contra Deus externar! 
Que ele tenha feito de ti um pequeno Pássaro, 
Tua tola cabeça se atormenta? 
Porque ele não te fez Homem, 
Tranquiliza-te, nisso ele pensou bem. 
Para que com isso estejas satisfeito. 
O que é que teria eu, pobre verme da terra, 
Por Deus (como se fosse Ele) tentando-me 
Que eu devesse desta forma contra o Céu me enfurecer 
Para forçar grandes artes através da luta? 
Deus não será excedido em bravura por ninguém, 
Quem não é bom para nada, pode daqui ir-se embora, 
Ó homem estejas com isso satisfeito. 
Que ele não te fez nenhum César, 
Lamentar é portanto desnecessário 
O Nome dele talvez tenhas difamado 
No que ele não foi descuidado. 
Muitíssimo claros e radiantes os Olhos de Deus de fato brilham,
Ele penetra dentro de teu coração, 
E não pode ser enganado.”

Isto cantei do fundo de meu Coração através de toda Floresta, de forma que ressoou por todas as partes, e as Colinas repetiam minhas últimas palavras, até que afinal avistei um curioso Matagal verde, para onde me dirigi para fora da Floresta. Nesse Matagal encontravam-se três adoráveis Cedros altos, os quais, em razão de sua largura, proporcionavam uma excelente e desejada sombra, à vista do que eu grandemente me regozijei; pois embora não tivesse até agora ido longe, meu intenso desejo me deixou bastante exausto, em consequência do que me apressei para as Árvores para descansar sob elas um pouco, mas tão logo cheguei um pouco mais perto, avistei uma Placa fixada em uma delas, na qual (como mais tarde li) em curiosas Letras as seguintes palavras estavam escritas:

“Hospes salve: si quid tibi forsitan de nuptiis Regis auditum, Verba haec perpende. Quatuor viarum optionem per nos tibi Sponsus offert, per quas omnes, modo non in devias delabaris, ad Regiam ejus aulam pervenire possis. Prima brevis est, sed periculosa, et quae te in varios scopulous deducet ex quibus vix te expedire licebit. Altera longior, quae circumducet te, non abducet, plana est et facilis, si te Magnetis auxilio neque ad dextrum, neque finistrum abduci patiaris. Tertia vere Regia est, quae per varias Regis nostri delicias et spectacula viam tibi reddet jucundam. Sed quod vix millesimo hactenus obtigit. Per quartam nemini hominum licebit ad Regiam pervenire, utpote quae consumens et non nisi corporibus incorruptibilibus conveniens est. Elige nunc ex tribus quam velis, et in ea constans permane. Scito autem quamcumque ingressus fueris, ab immutabili fato tibi ita destinatum, nec nisi cum maximo vitae periculo regredi fas esse. Haec sunt quae te scivisse voluimus; sed heus cave ignores, quanto cum periculo te huic viae commiseris, nam si te vel minimi delicit contra Regis nostri leges nosti obnoxium, quaeso dum adhuc licet per eandem viam qua accessisti domum te confer quam citissime.”

Tão logo li essa Inscrição, toda minha alegria quase desapareceu novamente, e eu que antes Cantava alegremente comecei agora a Lamentar interiormente. Pois embora visse todos os três caminhos diante de mim e compreendesse que daqui para frente era-me concedido fazer a escolha de um deles, contudo preocupava-me que caso fosse pelo caminho pedregoso e rochoso, isso poderia me causar uma queda miserável e mortal, ou tomando o caminho longo, eu poderia me desencaminhar para fora dele através de atalhos, ou ser de outra maneira detido na grande Jornada. Nem ousava esperar que dentre milhares pudesse eu ser bem Aquele que deveria escolher o caminho Régio. Da mesma forma, vi o Quarto diante de mim, mas ele estava tão cercado pelo Fogo e por Exalações que não ousei (por muito) chegar perto dele e, portanto, repetidas vezes considerei se deveria retornar ou tomar quaisquer dos caminhos diante de mim. Bem pesei meu próprio desmerecimento, mas o Sonho ainda me confortava, pois eu fora libertado da Torre e, no entanto, não ousava fiar-me confiantemente em um Sonho; após o que estava de diversas maneiras tão perplexo, que em função do próprio cansaço, a fome e a sede me apanharam, em consequência do que imediatamente puxei para fora o meu Pão e cortei um pedaço dele, ao que uma Pomba branco-neve pousada sobre a Árvore e da qual eu não estava ciente espreitava e nesse momento (talvez de acordo com sua maneira usual), desceu e dirigiu-se muito familiarmente para mim, a quem eu de boa vontade concedi meu alimento, que ela recebeu; e assim com sua beleza ela de fato me reanimou um pouco. Mas tão logo o inimigo da Pomba, um Corvo muitíssimo negro, isso percebeu, ele se lançou para baixo em direção a ela, e sem tomar conhecimento de mim, forçosamente arrancou o alimento da Pomba, que não conseguiria de outra maneira se proteger a não ser voando; em consequência do que ambos voaram juntos em direção ao Sul, ao que fiquei tão imensamente enfurecido e aflito, que sem pensar no que fazia, apressei-me a perseguir o Corvo imundo e assim, contra minha vontade, entrei correndo para dentro de um dos acima mencionados caminhos por um bom Pedaço; e sendo desta forma o Corvo afugentado para longe, e a Pomba salva, então inicialmente observei o que havia irrefletidamente feito, e que já havia entrado em um caminho, do qual sob perigo de grande punição, não ousei recuar. E embora eu ainda tivesse em alguma medida isto para me confortar, contudo, o que foi pior de tudo para mim foi que eu havia deixado minha Bolsa e o Pão perto da Árvore, e não os conseguiria recuperar: Pois tão logo me virei, um vento contrário bateu tão forte contra mim que estava pronto para me derrubar. Mas segui em frente em meu caminho, e não percebi nenhum obstáculo: De onde pude facilmente concluir que me custaria a vida caso tivesse me colocado contra o Vento e, por conseguinte, pacientemente tomei minha cruz, pus-me a caminho e resolvi, que uma vez que assim devesse ser, eu utilizaria meu máximo empenho para chegar ao fim de minha Jornada antes da noite. E agora embora muitos aparentes atalhos se mostrassem, eu, contudo, ainda prossegui com minha Bússola, e não me moveria um passo da Linha Meridiana; não obstante sendo o caminho às vezes tão irregular e não transitável, que eu muito dele duvidava. Nesse caminho, eu constantemente pensava na Pomba e no Corvo e, contudo, não conseguia encontrar o significado, até que afinal, sobre uma alta Colina bem ao longe vislumbrei um imponente Portal, ao qual, não considerando quão longe ele estava tanto de mim quanto do caminho no qual eu estava, eu me apressei, porque o Sol já havia se escondido sob as Colinas, e eu, (indiscutivelmente) não conseguia avistar nenhum lugar para ficar, e isto em verdade atribuo apenas a Deus, que bem poderia ter-me permitido ir adiante nesse caminho e sustado meus Olhos de forma que poderia ter olhado para longe desse Portão. Para o qual (como foi dito) eu agora me precipitava poderosamente, e o alcancei ainda bastante à Luz do dia, de forma a mirá-lo bastante bem. Agora, ele era um Portal Régio extraordinariamente belo, sobre o qual estavam entalhados um sem-número de Figuras nobres e Emblemas, cada um dos quais (como mais tarde vim a saber) possuía seu Significado peculiar. Acima, estava fixada uma Placa bem grande com estas Palavras: Procul hinc,procul ite profani Profaners, e outras coisas mais que fui energicamente proibido de relatar. Agora, tão logo cheguei sob o Portal, imediatamente aproximou-se alguém em um traje da cor do Céu, a quem saudei de forma amigável, ao que embora tendo agradecidamente retribuído, contudo instantaneamente solicitou ele de mim minha Carta Convite. Oh! Quão contente fiquei por tê-la então trazido comigo! Pois quão facilmente poderia tê-la esquecido (como também ocorrera com outros) conforme ele mesmo me disse! Rapidamente a apresentei, ao que ele ficou não apenas Satisfeito, mas (ao que eu muito me admirei) demonstrou bastante respeito por mim, dizendo: Entre meu Irmão, você é um Convidado bem-vindo para mim; e, além disso, rogou que eu não lhe escondesse meu Nome. Tendo agora respondido que eu era um Irmão da Rubra Rosa-Cruz, ele tanto se admirou quanto pareceu se alegrar com isso, e então prosseguiu desta maneira: — “Meu Irmão, você não tem nada consigo com o que adquirir uma insígnia?” Respondi que minha capacidade financeira era pequena, mas se ele visse algo comigo que lhe interessasse, estaria a seu serviço. Agora, tendo ele solicitado minha Garrafa de Água, e tendo eu a concedido, ele me deu uma Insígnia de ouro, sobre a qual nada estava além destas duas Letras, S. C., rogando que quando ela me fosse útil, eu me lembraria dele. Após o que lhe perguntei quantos haviam entrado antes de mim, o que ele também me disse, e finalmente em função de pura Amizade, deu-me uma Carta lacrada para o segundo Porteiro. Tendo agora me demorado algum tempo com ele, a Noite avançou: Em consequência do que um grande Farol sobre os Portões foi imediatamente aceso, de forma que se alguém ainda estivesse a caminho, pudesse se apressar para lá. Mas onde o caminho terminava no Castelo, ele era em ambos os lados cercado por Muros e cultivado com todos os tipos de excelentes Árvores Frutíferas, e ainda a cada terceira Árvore de cada lado, Lanternas estavam dependuradas, nas quais todas as Velas já estavam sendo acesas com um glorioso Archote por uma bela Virgem vestida na cor do Céu, o que era um Espetáculo tão nobre e Majestoso que novamente me demorei um tanto mais do que era necessário. Mas por fim, após suficiente Informação, e uma proveitosa Instrução, amigavelmente parti do primeiro Porteiro. A caminho, embora com prazer eu gostasse de saber o que estava escrito em minha Carta, contudo, uma vez que não tinha nenhum motivo para desconfiar do Porteiro, contive minha vontade e continuei a caminho até que da mesma maneira cheguei ao segundo Portão, o qual embora fosse muito parecido com o outro, estava também adornado com Imagens & significados místicos. Na Placa afixada encontrava-se: Date et dabitur vobis . Sob este Portão permanecia um terrível e austero Leão acorrentado, que tão logo me avistou levantou-se & atirou-se até mim com um grande rugido; ao que o segundo Porteiro, que estava deitado sobre uma Pedra de Mármore, acordou e solicitou-me que não me preocupasse ou me amedrontasse, e então rechaçou o Leão, e tendo recebido a Carta que eu tremendo lhe entreguei, a leu, e com muitíssimo respeito desta forma a mim falou: Em Nome de Deus, bem-vindo agora até mim o homem que por muito tempo ansiei ver. Enquanto isso, ele também sacou uma insígnia e perguntou-me se eu poderia adquiri-la. Mas nada mais tendo eu além de meu Sal, o apresentei a ele, o qual ele agradecidamente aceitou. Sobre esta insígnia estavam novamente apenas duas Letras, a saber, S. M..  Estando agora prestes a começar a discursar com ele, um sino começou a repicar no Castelo, ao que o Porteiro me aconselhou a correr velozmente, senão todo esforço e trabalho que eu havia até agora feito não serviriam a nenhum propósito, pois as Luzes acima já começavam a ser extintas; ao que me apressei com tal rapidez que não prestei atenção ao Porteiro, tal era a ansiedade em que eu estava, e verdadeiramente isto era necessário, pois não conseguia correr tão rápido, uma vez que a Virgem, após quem todas as luzes eram apagadas, estava nos meus calcanhares, e eu nunca teria encontrado o caminho se ela não tivesse com seu Archote me proporcionado alguma iluminação. Além disso, fui obrigado a entrar logo depois dela, e o Portão foi tão subitamente fechado que uma parte de meu casaco ficou presa, que em verdade fui forçado a deixar para trás; pois nem eu, nem aqueles que permaneciam preparados do lado de fora e aguardavam no Portão para entrar, conseguimos persuadir o Porteiro a abri-lo novamente, pois ele entregou as Chaves para a Virgem, que as levou consigo para o Pátio. Entrementes, examinei novamente o Portão, que agora parecia tão rico, como se o Mundo todo não pudesse a ele se igualar; e exatamente ao lado da Porta estavam duas Colunas, sobre uma delas estava uma agradável Figura com esta Inscrição: Congratulor.A outra, tendo seu Semblante velado, estava triste, e abaixo estava escrito: Condoleo. Em resumo, as Inscrições e as Figuras lá em cima eram tão sombrias e misteriosas que o mais habilidoso dos homens sobre a Terra não teria conseguido interpretá-las. Mas tudo isso (se Deus permitir) deverei em breve publicar e explicar. Sob esse Portão tive novamente de dar meu Nome, que foi desta vez escrito em um pequeno Livro em Velino, e imediatamente com os demais me apressei para o Senhor Noivo. Foi aqui que recebi pela primeira vez a verdadeira insígnia de Convidado, que era um tanto menor do que a anterior, mas, contudo, muito mais pesada, sobre a qual estavam estas Letras: S. P. N. Além disso, um novo par de Sapatos me foi fornecido, pois o Piso do Castelo era assentado com puro Mármore brilhante; meus velhos Sapatos eu tive de dar a um dos Pobres (a quem eu quisesse) que se sentavam em grande quantidade, não obstante bastante organizados, sob o Portão. Eu então os ofereci a um velho senhor; após o que dois Pajens com dois Archotes conduziram-me para dentro de um pequeno Quarto; lá eles determinaram que eu me sentasse em um Banco, o que fiz, mas eles, fixando seus Archotes em dois buracos feitos no Pavimento, partiram e me deixaram desta forma sentado e sozinho. Logo depois ouvi um ruído, mas nada vi, e provou-se ser certos homens que entraram tropeçando sobre mim; mas uma vez que nada conseguia ver, fui obrigado a sofrer e a aguardar o que fariam comigo; mas já percebendo que eram Barbeiros, supliquei que não me empurrassem dessa forma, pois estava disposto a fazer o que desejassem, ao que rapidamente me soltaram, e assim um deles (que eu não conseguia ainda ver) delicada e gentilmente cortou meu Cabelo ao redor do Topo de minha Cabeça, mas na minha Testa, Orelhas e Olhos permitiu que meus Cachos Cinza-brilhantes ficassem dependurados. Neste primeiro encontro (devo confessar) estava pronto para me desesperar, pois visto que alguns deles me empurraram tão violentamente, e eu ainda nada conseguia ver, não conseguia pensar em outra coisa além de que Deus, por minha Curiosidade, havia permitido que eu fracassasse. Agora, esses Barbeiros invisíveis cuidadosamente juntaram o Cabelo que fora cortado e o levaram embora consigo. Após o que os dois Pajens entraram novamente e com vontade riram de mim por estar tão aterrorizado. Mas mal tinham eles me dito algumas Palavras, quando novamente um Sinete começou a tocar; o que (conforme os Pajens me informaram) era para anunciar que nos reuníssemos; ao que determinaram que me levantasse, e através de muitas Passagens, Portas e Escadas sinuosas iluminaram meu caminho até um espaçoso Salão. Nessa Sala estava uma grande multidão de convidados, Imperadores, Reis, Príncipes e Senhores, Nobres e Ignóbeis, Ricos e Pobres, e toda sorte de Pessoas, ao que grandemente me maravilhei, e pensei comigo mesmo: ah! Que grande tolo foste em te entregar a esta Jornada com tanta pungência e labuta, quando (vê) aqui estão mesmo aqueles companheiros a quem bem conheces, e, contudo, nunca tiveste nenhuma razão para estimar. Estão todos aqui, e tu com todas as tuas Preces e Súplicas mal conseguiste afinal entrar. Isto e mais, o Demônio injetou naquela ocasião, a quem, não obstante, (tão bem quanto pude) mostrei a saída. Enquanto isso, um ou outro de meus conhecidos aqui e ali falavam para mim: Oh! Irmão Rosencreutz! Também estás aqui; sim, (meus Irmãos) respondia eu, a Graça de Deus também me ajudou a entrar; ao que eles armavam poderosa risada, considerando ridículo que se devesse necessitar de Deus em tão insignificante ocasião. Agora, tendo perguntado a cada um deles acerca de seu caminho e tendo descoberto que a maioria fora forçada a escalar com dificuldade as Rochas, certas Trombetas (nenhuma das quais, contudo, víamos) começaram a soar à Mesa, ao que todos se sentaram, cada um conforme se julgando acima dos demais; de forma que para mim e para outros tristes Companheiros mal havia um pequeno Canto que restou na Mesa mais baixa. Imediatamente, os dois Pajens entraram, e um deles deu Graças de tão elegante e excelente maneira que o Coração mesmo em meu Corpo se regozijou. Não obstante, certos Sujeitos de autoimposta grandeza pouco os consideravam, mas zombavam e piscavam entre si, falando inarticuladamente, e usando mais de Gestos impróprios dessa natureza. Depois disso, a Refeição foi trazida e embora ninguém pudesse ser visto e, contudo todas as coisas foram tão ordeiramente conduzidas que a mim me pareceu como se cada Convidado tivesse seu próprio Servente. Agora, meus Artistas tendo de alguma forma se reabastecido, e tendo o Vinho um pouco removido a vergonha de seus Corações, imediatamente começaram a alardear e a se vangloriar de suas Habilidades: Um provaria isto, outro provaria aquilo, e normalmente os mais tristes Idiotas faziam o barulho mais alto. Ah! Quando me lembro de quais empreendimentos preternaturais e impossíveis ouvi então, ainda me sinto prestes a vomitar. Enfim, eles nunca se mantinham em seus lugares, mas sempre um Velhaco aqui, outro ali, quando podia se insinuava entre os Nobres; Então, fingiam eles a conclusão de tais Proezas que nem Sansão, nem ainda Hércules com toda sua força poderiam jamais ter realizado. Este livraria Atlas de seu fardo. O outro arrancaria novamente para fora do Inferno o Cerberus de três cabeças. Em resumo, cada homem tinha sua própria Tagalerice, e, contudo os grandes Senhores eram tão simples que acreditavam em suas pretensões, e os Malandros eram tão audaciosos que embora um ou outro dentre eles fosse aqui e ali golpeado a Faca nos Dedos, eles, contudo não hesitavam diante disso, mas quando alguém por acaso surrupiasse uma Corrente de Ouro, então todos iriam se arriscar por algo semelhante. Vi um que ouviu o sussurro dos Céus. Um segundo conseguia ver as Idéias de Platão. Um terceiro conseguia contar os Átomos de Demócrito. Havia também não poucos embusteiros do moto-perpétuo. Muitos (em minha opinião) tinham uma boa compreensão, mas também presumiam demasiadamente por si mesmos, para sua própria destruição. Por fim, houve também um que queria imediatamente nos persuadir que vira os Servidores que nos atenderam, e teria ainda mantido sua Alegação, se um daqueles garçons invisíveis não o tivesse acertado com uma elegante bofetada em seu Focinho mentiroso, que não apenas ele, mas muitos mais que estavam ao seu lado ficaram tão mudos quanto Camundongos. Mas o que mais me agradou foi que todos aqueles para com os quais eu tinha alguma estima estavam bastante quietos em seus afazeres, e não faziam nenhum estardalhaço disso, mas reconheciam a si mesmos como sendo homens de má compreensão para quem os mistérios da Natureza eram demasiado elevados, e eles mesmos demasiadamente pequenos. Nesse Tumulto, eu havia quase amaldiçoado o dia em que vim para cá; Pois não conseguia, a não ser com angústia, observar que aquelas vãs Pessoas lascivas estavam à Mesa em condições privilegiadas, e eu em tão triste lugar não podia, e embora permanecendo quieto, um desses Velhacos desdenhosamente repreendia-me como se eu fosse um Bufão multicolorido. Agora, eu não cogitei que ainda houvesse um Portão atrás, através do qual devêssemos passar, mas imaginei que teria de continuar durante todas as Núpcias neste escárnio, desdém e indignidade que, entretanto, em nenhum momento eu havia merecido, seja do Senhor Noivo ou da Noiva. E, portanto (em minha opinião) ele deveria ter feito melhor em ter procurado algum outro Bufão para suas Núpcias que não fosse eu. Veja a que impaciência a Iniquidade deste Mundo reduz os corações simples. Mas isto realmente era uma parte de minha Deficiência, a respeito da qual (conforme mencionado anteriormente) eu sonhara. E verdadeiramente esta queixa, quanto mais durava, mais aumentava. Pois já havia aqueles que se vangloriavam de Visões falsas e imaginárias, e que nos persuadiriam acerca de Sonhos palpavelmente mentirosos. Agora, sentou-se ao meu lado um Homem discreto bastante distinto que às vezes discursava acerca de excelentes assuntos, e finalmente ele disse: Veja, meu Irmão, se alguém agora chegasse e estivesse desejando instruir essas Pessoas estúpidas na maneira correta, seria ele ouvido? Em verdade, não, respondi. O mundo, disse ele, está agora resolvido (seja lá o que for que lhe ocorra) a ser enganado, e não consegue tolerar dar Ouvidos àqueles cuja intenção é boa. Vejas também aquele mesmo Almofadinha, com que extravagantes Imagens e tolas fantasias ele atrai outras pessoas para si. Lá alguém faz Troça das pessoas com Palavras Misteriosas desconhecidas. Contudo, acredite-me nisto, a hora está agora chegando em que essas Lagartixas indecentes deverão ser extirpadas, e o mundo todo conhecerá os Vagabundos Impostores que estavam escondidos por detrás delas. Então talvez seja valorizado o que atualmente não é estimado. Enquanto ele estava desta forma falando, e o clamor, quanto mais durava, pior ficava, começou repentinamente no Salão uma excelente e grandiosa Música, como em todos os dias de minha Vida nunca ouvi igual; ao que todos ficaram quietos e prestaram atenção no que aconteceria com ela: Agora, havia nessa Música todos os tipos de Instrumentos de corda imagináveis, que soavam em conjunto em tal harmonia que esqueci de mim mesmo e sentei-me tão imóvel que aqueles que estavam sentados à minha volta ficaram pasmos comigo; e isto durou quase meia hora, na qual nenhum de nós falou uma palavra, Pois sempre que qualquer pessoa estivesse para abrir a Boca, recebia uma inesperada pancada, sem que ele mesmo soubesse de onde vinha. Pensei que uma vez que não nos era permitido ver os Músicos, eu deveria estar contente em ver apenas todos os Instrumentos dos quais eles faziam uso. Após meia hora, essa Música cessou inesperadamente, e não conseguimos nem ver nem ouvir mais qualquer coisa. Imediatamente depois, diante da Porta do Salão começou um grande ruído com sons e batimentos de Trombetas, Shalmes e Timbales e tão Magistralmente como se o Imperador de Roma estivesse entrando; ao que a Porta se abriu por si só e então o ruído das Trombetas foi tão alto que mal éramos capazes de suportá-lo. Enquanto isso (me pareceu), muitos milhares de pequenos Tapers entraram no Salão, todos os quais por si mesmos marchando em uma ordem tão exata de forma a nos maravilhar totalmente, até que finalmente entraram no Salão os dois Pajens acima mencionados, com Archotes brilhantes iluminando uma belíssima Virgem, todos trazidos sobre um gloriosamente dourado e Triunfante Trono que se movia por Si mesmo. Pareceu-me que ela era a mesma que anteriormente no caminho, acendera e apagara as Luzes, e que esses seus Serventes eram exatamente os mesmos que anteriormente ela colocara junto às Árvores. Ela não estava agora como antes vestida na cor do Céu, mas com uma Túnica brilhante branco-neve que reluzia como Ouro puro e lançava tamanho brilho que não ousávamos contemplá-la firmemente. Ambos os Pajens estavam da mesma maneira vestidos (embora um tanto mais simplesmente); e tão logo entraram no meio do Salão & desceram do Trono, todos os pequenos Tapers prestaram reverência ante ela. Ao que todos nós nos levantamos de nossos Bancos, ficando, entretanto todos em seus próprios lugares. Tendo ela agora nos demonstrado todo Respeito e Reverência, e nós novamente para ela, em um Tom muitíssimo agradável, começou desta forma a falar:

“O Rei, meu muitíssimo cortês Senhor, 
Que de nós não está agora muito distante. 
Como também sua muitíssimo adorável Noiva, 
A ele em fidelidade e honra atada; 
Já, verdadeiramente com grande alegria, 
Observaram sua chegada até aqui; 
E para cada um e para todos, 
Prometem de fato sua Graça em especial; 
E do âmago de seu Coração desejam, 
Que possam vocês na ocasião obtê-la; 
Para que assim sua futura alegria Nupcial, 
Não se misture com o aborrecimento de ninguém.”


Depois do que com todos os seus pequenos Tapers, ela novamente de maneira cortês curvou-se, e imediatamente a seguir desta forma começou:

Na carta Convite, você sabe, 
Que nenhum homem foi até aqui chamado 
Que do bom suprimento dos mais raros presentes de Deus 
Não tenha há muito recebido, 
Adornado com todos os requisitos, 
Como em tais casos convêm. 
Como, entretanto, não conseguem eles bem imaginar 
Que algum homem estivesse tão desesperado, 
Para sob tão severas condições, 
Aqui se intrometer sem consideração; 
A menos que primeiramente estivesse 
Preparado para estas Núpcias; 
E assim em boas esperanças de fato esperam 
Que com todos vocês tudo estará bem: 
Entretanto os homens tornam-se tão atrevidos e rudes, 
Não pesando sua ineptidão, 
A ainda metem-se em um lugar 
Ao qual nenhum deles fora chamado: 
Nenhum Almofadinha poderá aqui se promover, 
Nenhum Velhaco aqui dentro com outros passará despercebido; 
Pois eles resolveram sem qualquer impedimento 
Puras Núpcias celebrar. 
Assim para então os Artistas pesar, 
Balanças deverão ser instaladas no dia que se seguirá; 
Por meio do que cada um poderá facilmente encontrar 
O que em casa deixou para trás. 
Se aqui estiver alguém daquela Horda 
Que tenha ele mesmo boa razão para duvidar, 
Que vá rapidamente daqui embora; 
Pois caso por mais tempo permaneça, 
Sem esperança de receber graça e bastante arruinado 
Cedo deverá passar por muitas desagradáveis Experiências: 
Se há alguém agora que sua Consciência aflige, 
Deverá ele ser deixado esta noite no Salão. 
E ser novamente liberado pela manhã, 
Nunca contudo aqui retornando. 
Se qualquer homem tiver confiança, 
Daqui com seu garçom poderá ele ir, 
Que deverá iluminar-lhe o caminho para seus Aposentos 
Onde poderá descansar em paz esta noite; 
E lá em louvor aguardar a Balança 
Ou caso contrário seu Sono poderá falhar. 
Os outros aqui podem se sair bem, 
Pois para quem almeja o que é possível, 
Teria sido melhor que daqui tivesse ido, 
Mas para todos vocês esperaremos o melhor.”


Tão logo isto terminou de falar, ela novamente prestou reverência e saltou alegremente para seu Trono, após o que as Trombetas começaram novamente a soar, o que contudo não conseguiu retirar de muitos seus dolorosos Suspiros. Assim novamente conduziram-na invisivelmente para fora, mas a maior parte dos pequenos Tapers permaneceu na Sala, e ainda um deles acompanhava cada um de nós. Em tal perturbação, não é bem possível expressar quais Pensamentos e Gestos pesarosos estavam entre nós. Contudo, a maioria resolveu aguardar a Balança, e caso as coisas não se saíssem bem, partir (como eles esperavam) em paz. Eu havia logo feito minhas contas, e tendo minha Consciência me convencido de toda ignorância e desmerecimento, resolvi permanecer com os demais no Salão, e escolhi muito mais me contentar com a Refeição que já havia feito, do que correr o Risco de uma repulsa futura. Agora, depois que cada um através de seu pequeno Taper tivesse sido individualmente conduzido para dentro de uma Câmara (cada um para uma específica, como então compreendi), Lá ficamos nove de nós, e dentre os demais também aquele que antes discursara comigo à Mesa. Mas embora nossos pequenos Tapers não nos tivessem deixado, logo então em cerca de uma hora um dos acima mencionados Pajens entrou e, trazendo um grande jogo de Cordas consigo, primeiramente nos perguntou se havíamos decidido lá permanecer, o que quando com Suspiros afirmamos, ele amarrou cada um de nós em um local separado, e foi assim embora com nossos pequenos Tapers, deixando-nos pobres Desgraçados na Escuridão. Então primeiramente alguns começaram a perceber o perigo iminente, e eu mesmo não pude conter as Lágrimas. Pois embora não estivéssemos proibidos de falar, contudo a angústia e a aflição não permitiam que nenhum de nós pronunciasse uma palavra. Pois as Cordas eram tão maravilhosamente tecidas que nenhum de nós conseguia cortá-las, muito menos arrancá-la dos Pés: contudo isso me confortava, que ainda o ganho futuro dos muitos que agora se entregaram ao descanso provar-se-ia ser muito pouco para sua satisfação. Mas nós apenas pela Penitência de uma Noite poderíamos expiar toda nossa presunção: até que finalmente em meus tristes pensamentos adormeci; durante o que tive um Sonho; Agora embora não haja grande importância nele, contudo não considero impertinente relatá-lo: Pareceu-me estar em uma Montanha alta, e vi diante de mim um grande & amplo Vale, nesse Vale estava reunida uma inexprimível multidão de Pessoas, cada uma das quais tinha em sua cabeça um Fio, pelo qual estava dependurada em direção ao Céu, agora uma estava dependurada alto, outra baixo, e algumas estavam mesmo bem sobre a Terra. Mas no Ar voava para cima e para baixo um Ancião que tinha em suas mãos um par de Lâminas com as quais aqui cortava o fio de uma pessoa e lá de outra. Agora, quem estava perto da Terra estava um tanto mais pronto & caia sem barulho, mas quando isso acontecia com um dos que estavam no alto, ele caia de maneira que a terra tremia. Para alguns ocorreu que seu Fio estivesse tão esticado que alcançavam a Terra antes que o Fio fosse cortado. Eu me diverti com essas acrobacias e elas me alegraram o Coração, quando aquele que havia no Ar se superestimado acerca de suas Núpcias, caiu de uma maneira tão vergonhosa que até levou consigo alguns de seus Vizinhos. De maneira semelhante, também me alegrou que aquele que havia durante todo esse tempo se mantido perto da Terra, pudesse descer tão perfeita e suavemente, que mesmo os homens próximos a ele disso não se apercebiam. Mas estando agora em meu mais elevado estado de Alegria, fui sem querer empurrado por um de meus companheiros Cativos, ao que fui acordado e fiquei muito descontente com ele. Seja como for, refleti acerca de meu Sonho e o relatei a meu Irmão, que estava deitado próximo a mim do outro lado; que não ficou insatisfeito com ele, mas esperava que algum Conforto pudesse por meio disso ser pretendido. Em tal conversa despendemos a parte restante da Noite, e com ardente anseio aguardamos o Dia.

O Terceiro Dia

Agora, tão logo o adorável dia raiou, e o Sol brilhante, tendo se elevado acima das Colinas, novamente se dirigiu para alto dos Céus, para seu posto designado; Meus bons Paladinos começaram a se levantar de suas Camas e a calmamente se aprontar para a Inquirição. Ao que, um após outro, voltaram novamente ao Hall, e desejando-nos um bom dia, perguntaram como havíamos Dormido durante a Noite; e tendo divisado nossas Amarras, houve alguns que nos reprovaram por termos sido tão covardes, e que não havíamos (muito propriamente) como eles, nos arriscado em todas as aventuras. Seja como for, alguns deles cujos Corações ainda os castigavam, não se lamentaram muito com a questão. Nós nos desculpamos por nossa ignorância, esperando que agora fôssemos em breve colocados em Liberdade, e aprenderíamos perspicácia através desta desgraça, que eles, pelo contrário, ainda não haviam totalmente escapado, & talvez seu maior perigo estivesse ainda por ser aguardado. Finalmente, tendo cada um novamente se reunido, as Trombetas começaram novamente a soar & os Timbales a bater como anteriormente, e então imaginamos que ninguém mais a não ser o Noivo estivesse pronto para se apresentar; o que entretanto foi um enorme engano. Pois foi novamente a Virgem de ontem que havia se adornado toda em Veludo vermelho, e se cingido com um Lenço branco. Sobre sua Cabeça, usava uma Coroa verde de Louros, que se assentava imensamente bem nela. Sua comitiva agora não era mais de pequenos Tapers, mas consistia de duzentos Homens Arnesados que estavam todos (como ela) vestidos em vermelho e branco. Agora, tão logo eles desceram do Trono, ela veio diretamente até nós, Prisioneiros, e depois de nos Saudar, disse em poucas palavras: Que alguns de vocês tenham se sensibilizado de sua desditosa condição é imensamente agradável para meu muitíssimo poderoso Senhor, e ele também está resolvido que vocês deverão se sair bem por causa disso; E tendo me avistado em meus Trajes, ela riu-se e falou: Ora veja! também submeteste a ti mesmo ao Jugo, eu imaginei que terias feito de ti mesmo alguém muito presunçoso; com cujas Palavras ela fez com que meus olhos transbordassem. Depois disso ela ordenou que fôssemos soltos e juntos colocados em um local onde poderíamos bem observar as Balanças. Pois, disse ela, isso pode ser melhor com eles do que com os Presunçosos, que contudo aqui estão em Liberdade. Enquanto isso, as Balanças, que eram inteiramente de Ouro, eram dependuradas no meio do Salão; Havia também uma pequena Mesa coberta com Veludo vermelho, e sete pesos foram sobre ela colocados. Em primeiro lugar estava um bastante grande, ao lado quatro pequenos e por último dois grandes, respectivamente; E esses Pesos em proporção ao seu tamanho eram tão pesados, que nenhum homem consegue acreditar ou compreender isso: Mas cada um dos homens Arnesados possuía além de uma Espada nua, uma forte corda; Estas, ela distribuiu de acordo com o número de Pesos em sete grupos, e de cada grupo ela escolheu um para seu peso adequado; e então novamente saltou para seu Trono no alto. Agora, tão logo fez sua reverência, com um Tom bastante Penetrante começou a desta forma falar:

Quem à oficina de um Pintor de fato vai
E nada de pintura conhece, 
E, contudo, disso em tagarelice se vangloria; 
Deverá por todo Mundo ser escarnecido. 
Quem vai ao círculo dos Artistas, 
E Até agora nunca escolhido foi; 
E, contudo, com pretensa habilidade de fato disso se vangloria; 
Deverá por todo Mundo ser escarnecido. 
Quem nas Núpcias de fato se apresenta, 
E, contudo, nunca se tencionou que lá estivesse; 
Contudo em vir de fato grandemente disso se vangloria; 
Deverá por todo Mundo ser escarnecido. 
Quem agora nesta Balança sobe, 
Os pesos não se provando seus leais Amigos, 
E que ela saltando assim ele o faz; 
Deverá por todo Mundo ser escarnecido.

Tão logo a Virgem terminou de falar, um dos Pajens ordenou que cada um se colocasse conforme sua ordem, e que um após outro entrasse: ao que um dos Imperadores não hesitou, mas primeiramente se curvou um pouco em direção à Virgem, e depois em todas as suas majestosas Vestes subiu: onde sobre o que cada Capitão colocava seu peso; o que (para admiração de todos) o Imperador resistiu. Mas o último era demasiadamente pesado para ele, de forma que para fora ele deveria ir; e isso com tanta agonia que (como me pareceu) a própria Virgem teve pena dele, que também acenou para que os seus mantivessem a calma, e assim foi o bom Imperador segurado e entregue para o Sexto grupo. Depois dele adiantou-se novamente outro Imperador, que caminhou arrogantemente para dentro da Balança, e tendo um grande e espesso Livro debaixo de sua Beca, imaginou que não iria falhar; Mas dificilmente sendo capaz de suportar o terceiro peso, e sendo implacavelmente arremessado para baixo, seu Livro naquele susto tendo sido dele arremessado, todos os Soldados começaram a rir, e ele foi entregue amarrado ao terceiro grupo. Desta forma ocorreu também com alguns dos outros Imperadores, que foram todos frutos de vergonhosos risos e feitos prisioneiros. Depois deles, surge um pequeno Homem baixo com uma Barba crespa castanha, um Imperador também, que após a reverência usual também subiu e se segurou tão firmemente que pensei, e havendo mais pesos prontos, que ele os suportaria. A quem a Virgem imediatamente se levantou e se curvou diante dele, fazendo com que vestisse uma Beca de Veludo vermelho, e por fim ofereceu-lhe um ramo de Louros, tendo grande quantidade deles sobre seu Trono, nas escadas onde ela determinou que ele se sentasse. Agora, depois dele sucedeu com o resto dos Imperadores, Reis e Senhores, o que seria demasiado longo para relatar; mas não posso deixar de mencionar que poucos daqueles grandes personagens resistiram. Seja como for, diversas eminentes virtudes (para além de minhas esperanças) foram encontradas em muitos. Um deles poderia suportar este, um segundo poderia suportar outro, alguns dois, alguns três, quatro ou cinco, mas poucos conseguiam atingir a perfeição correta; mas todo aquele que falhava era miseravelmente ridicularizado pelos grupos. Depois que pela Inquirição também haviam passado a Pequena Nobreza, os eruditos, os incultos e os demais, e em cada posição social, talvez um, pode ser que dois, mas na maioria das vezes ninguém fosse constatado ser perfeito, chegou ela finalmente àqueles Cavalheiros honestos, aos Trapaceiros vagabundos e aos vis fazedores de LapidemSpitalanficum , que foram colocados sobre a Balança com tal desprezo que eu mesmo, apesar de toda minha aflição, estava pronto para arrebentar minha Barriga de rir, e nem conseguiam os próprios Prisioneiros evitar. Pois a maioria deles não conseguia suportar aquela prova severa, mas com Chicotadas e Açoites eram arrancados da Balança e encaminhados para os outros Prisioneiros, agora para o grupo adequado. Desta forma, de tão grande multidão tão poucos permaneceram, que estou envergonhado em descobrir quantos. Seja como for, também havia Pessoas de qualidade dentre eles, que não obstante eram (como os demais) honrados com Túnicas de Veludo e coroas de Louros.

Tendo a Inquirição completamente terminado, ninguém a não se nós, miseráveis e amarrados, permanecemos de lado. Finalmente, um dos Capitães adiantou-se e disse: Graciosa Senhora, se for do agrado de vossa Senhoria deixar estes pobres homens, que admitiram seu equívoco, ser também colocados sobre a Balança sem que incorram em qualquer perigo de penalidade, e somente a título de recreação, se por acaso qualquer coisa de correto puder ser encontrada entre eles. Em primeiro lugar, eu estava em grande perplexidade, pois em minha angústia isto era meu único conforto, que eu não teria de passar por tal ignomínia ou ser arremessado para fora da Balança. Pois eu de nada duvidava a não ser que muitos dos Prisioneiros desejavam que tivessem permanecido dez Noites conosco no Salão. Contudo, uma vez que a Virgem consentiu, assim deveria ser, e sendo desamarrados, fomos um após outro levados para cima. Agora, embora a maior parte fracassasse, contudo não se riu deles, nem foram eles punidos, mas tranquilamente postos de um dos lados. Meu Companheiro, que resistiu bravamente, foi o quinto, ao que todos, especialmente o Capitão que fez a solicitação por nós, o aplaudiram, e a Virgem demonstrou-lhe o respeito usual. Depois dele novamente mais dois foram despachados em um instante. Mas eu fui o oitavo; Agora tão logo (tremendo) subi, meu Companheiro que já estava sentado ao lado usando seu Veludo, olhou-me amigavelmente, e a própria Virgem sorriu um pouco. Mas em função de eu ter permanecido por mais tempo com todos os Pesos, a Virgem ordenou-lhes me retirar à força, ao que três homens além disso penduraram-se do outro lado do Travessão da Balança, e entretanto nada conseguia levar a melhor. Ao que um dos Pajens imediatamente se levantou e gritou de maneira excessivamente alta: É ELE; Ao que o outro respondeu: Então deixe-o conquistar sua Liberdade, com o que a Virgem concordou; e ser recebido com as devidas Cerimônias, Foi-me dada a escolha de liberar um dos Cativos, quem quer que eu desejasse; Ao que não muito ponderei, mas elegi o primeiro Imperador por quem longamente havia me compadecido, que foi imediatamente colocado em liberdade, e com todo respeito sentou-se entre nós. Agora o ultimo foi colocado e os Pesos se provaram demasiadamente intensos para ele, entrementes a Virgem entrevia minhas Rosas, que eu havia retirado de meu Chapéu e colocado em minhas Mãos, e por causa disso, num instante, através de seu Pajem, graciosamente as solicitou de mim, as quais prontamente a ela forneci. E assim este primeiro Ato terminou cerca de dez da manhã. Ao que as Trombetas começaram novamente a soar, as quais, contudo, não conseguíamos no momento ver. Entrementes fez-se com que os Grupos se posicionassem ao lado com seus Prisioneiros, e aguardassem o julgamento. Após o qual estabeleceu-se um Conselho dos sete Capitães e de nós, e o assunto foi apresentado pela Virgem, como Presidente, que desejou que cada um de nós desse sua opinião acerca de como se deveria lidar com os Prisioneiros. A primeira opinião foi de que eles deveriam todos ser Executados, contudo uns mais severamente que os outros: a saber, aqueles que haviam presunçosamente se intrometido de maneira contrária às condições Expressas; outros queriam que eles fossem mantidos prisioneiros confinados. Ambas as opiniões não agradaram nem à Presidente, nem a mim. Finalmente, por um dos Imperadores (o mesmo que eu havia libertado), meu Companheiro, e por mim mesmo a questão foi trazida a este ponto: Que primeiramente os mais importantes Senhores deveriam com o respeito adequado ser levados para fora do Castelo; outros poderiam ser conduzidos para fora mais desdenhosamente. Estes seriam despidos e feitos sair correndo nus; O quarto grupo com Açoites, Chicotes, ou Cachorros, devia ser enxotado. Àqueles que no dia anterior de boa vontade se renderam, poderia se permitir que partissem sem nenhuma culpa. E por último, aqueles Presunçosos, e aqueles que se comportaram tão inconvenientemente no Jantar no dia anterior, deveriam ser punidos no Corpo e na Vida, de acordo com o demérito de cada Homem. Esta opinião agradou bastante à Virgem, e obteve a predominância. Houve além disso outro Jantar a eles concedido, do qual logo foram informados. Mas a Execução foi adiada para até o meio-dia, Com isto, o Senado se levantou, e a Virgem também, juntamente com seus Serventes, retornou para suas instalações usuais; Mas a Mesa mais elevada na Sala foi designada para nós, e eles nos solicitaram que aproveitássemos bem até que o Assunto fosse totalmente resolvido. E então deveríamos ser conduzidos ao Senhor Noivo e à Noiva, com o que estávamos no momento bem satisfeitos. Entrementes, os Prisioneiros foram novamente trazidos ao Salão, e cada Homem se sentou de acordo com sua Qualidade; eles foram da mesma forma ordenados a se comportar um tanto mais polidamente do que haviam feito no dia anterior, o que contudo não precisavam ter sido admoestados, pois sem isto já haviam se calado, parando de reclamar. E isto posso corajosamente dizer, não com lisonja, mas por amor à verdade, que comumente aquelas pessoas que eram de mais elevada Patente, melhor compreendiam como se comportar em tão inesperado infortúnio. O Tratamento deles foi apenas indiferente, embora com respeito; nem conseguiam eles entretanto ver seus Serventes, mas para nós eles eram visíveis, pelo que eu estava muitíssimo contente. Agora, embora a Fortuna tivesse nos exaltado, nós, contudo, não nos julgávamos melhores do que os demais, aconselhando-os a ficar Animados, que o incidente não seria tão ruim. Agora, embora eles tivessem com prazer compreendido nossa Sentença, nós, contudo, estávamos tão profundamente gratos que ninguém ousou abrir a Boca acerca disso. Entretanto, nós os confortamos tão bem quanto pudemos, bebendo com eles para tentar ver se o Vinho poderia torná-los algo mais animados. Nossa Mesa estava coberta com Veludo vermelho, adornada com Taças de pura Prata e Ouro; que os demais não conseguiam contemplar sem estupefação e uma muito grande ansiedade. Mas assim que nos sentamos, os dois Pajens entraram, presenteando todos, em nome do Noivo, com o Tosão de Ouro com um Leão voador, solicitando-nos que os vestíssemos à Mesa, e como nos conviesse, para que observássemos a Reputação e a Dignidade da Ordem, que sua Majestade havia agora nos concedido, e que deveria rapidamente ser ratificada com Cerimônias apropriadas. Isto recebemos com a mais profunda submissão, prometendo obedientemente executar o que quer que sua Majestade quisesse. Além disso, o nobre Pajem possuía uma Lista, na qual estávamos colocados em ordem. E de minha parte, eu não estaria de outra forma desejoso de ocultar meu lugar, se por acaso isso não fosse interpretado como Ostentação minha, o que ainda é expressamente contrário ao quarto Peso. Agora, em função de nosso acolhimento ser extraordinariamente grandioso, solicitamos a um dos Pajens se não poderíamos ter licença para enviar algo de especial para nossos Amigos e Conhecidos, o qual não criou nenhuma dificuldade, e todos abundantemente enviaram para seus conhecidos através dos garçons, embora eles não vissem nenhum deles; e visto que eles não sabiam de onde vinha, eu mesmo estava desejoso de levar algo para um deles, mas tão logo me levantei, um dos Garçons surgiu num instante ao meu Lado, dizendo que Ele desejava que eu aceitasse amigavelmente um aviso, pois caso um dos Pajens visse, chegaria aos Ouvidos do Rei, que certamente levaria a mal minha atitude; mas uma vez que ninguém havia observado, a não ser ele mesmo, ele propôs não me trair, mas eu deveria no futuro ter uma melhor consideração pela dignidade da ordem. Com quais palavras o Servo de fato realmente me surpreendeu tão intensamente que durante muito tempo depois eu raramente me movi em meu Assento, e contudo retornei-lhe Agradecimentos pelo seu leal aviso, e também tão apressadamente e tão amedrontadamente quanto pude. Logo depois os Tambores começaram a ressoar novamente, ao que já estávamos acostumados. Pois bem sabíamos que era a Virgem, pelo que nos preparamos para recebê-la, que estava agora vindo, com sua Comitiva usual, para sobre seu Assento elevado, com um dos Pajens portando diante dela um Cálice de Ouro bastante alto. E o outro, uma Patente em Pergaminho: Descendo agora do Assento de uma maneira artificial maravilhosa, ela toma o Cálice do Pajem, e apresenta o mesmo em nome do Rei, dizendo: Que ele fora trazido de sua Majestade, e que em honra dele deveríamos fazer com que ele circulasse. Sobre a cobertura desse Cálice estava a Fortuna curiosamente fundida em Ouro, que tinha em sua Mão uma Flâmula esvoaçante vermelha, em função de que bebi um tanto mais tristemente, por ter estado demasiadamente bem familiarizado com a instabilidade da Fortuna. Mas a Virgem, tanto quanto nós, estava adornada com o Tosão de Ouro e o Leão, de onde observei que talvez ela fosse a presidente da Ordem. Pelo que perguntamos a ela como a Ordem poderia ser designada? ela respondeu Que não era ainda oportuno descobrir isso, até que a questão com os Prisioneiros fosse liquidada. E por esta razão os Olhos deles ainda estavam vendados; e o que até aqui havia acontecido conosco, era para eles apenas por Ofensa e Escândalo, embora fosse para ser considerado como nada, em função da honra que nos assistia. Depois disto ela começou a considerar o Documento que o outro Pajem segurava em duas diferentes partes, do qual cerca disto tudo foi lido ante a primeira companhia.

Que eles deveriam confessar que haviam demasiado frivolamente dado Crédito a falsos Livros fictícios, haviam assumido demasiado por si mesmos, e assim vieram a este Castelo, apesar de não terem nunca sido convidados a nele entrar, e talvez a maior parte tivesse se apresentado com intenção de fazer aqui seu Mercado, e mais tarde viver na maior Soberba e Arrogância; E desta forma, um havia seduzido o outro, e o arrastado a esta desgraça e ignomínia, pelo que deveriam merecidamente ser cabalmente punidos.

O que com grande humildade eles prontamente reconheceram e deram sua Mão à palmatória. Depois do que uma severa reprimenda foi dada aos demais, em grande parte com este propósito.

Que eles muito bem sabiam, e estavam em sua Consciência convencidos, que haviam forjado falsos Livros fictícios, haviam logrado outros, e os enganado, e por meio disso haviam diminuído a dignidade Régia entre todos. Sabiam, de maneira semelhante, de quais Figuras ímpias fraudulentas eles haviam feito uso, tanto que não pouparam nem a Trindade Divina, mas se acostumaram a enganar as Pessoas por todo o País. Estava também agora tão claro como o Dia com quais Práticas eles haviam se empenhado em enganar os verdadeiros Convidados, e em induzir os Ignorantes: de maneira semelhante, que se manifestou para todo o Mundo que eles chafurdavam em aberta Prostituição, Adultério, Glutonaria, e outras Imundices: Tudo o que era contra as Ordens expressas de nosso Reino. Em resumo, eles sabiam que haviam menosprezado a Majestade Real, mesmo dentre os comuns, e, portanto deveriam se confessar serem convictos Vagabundos-Trapaceiros declarados, Patifes e Velhacos, pelo que mereciam ser despachados da companhia de Pessoas civis, e severamente punidos. Os bons Artistas estavam relutantes em vir para esta Confissão, mas visto que não somente a própria Virgem ameaçara e jurara a morte deles, mas o outro grupo também veementemente enfureceu-se com eles e unanimemente diziam aos gritos que eles os haviam muitíssimo maldosamente seduzido para fora da Luz: Por fim, para impedir um imenso infortúnio, eles confessaram o mesmo com pesar, e, contudo por outro lado alegaram que o que havia aqui acontecido não era para neles ser criticado no pior sentido. Pois visto que os Senhores estavam absolutamente decididos a entrar no Castelo e haviam prometido grandes somas de Dinheiro para esse fim, cada um havia utilizado todo Suborno para se apoderar de algo, e assim as coisas haviam chegado àquela situação, como estava agora manifesto ante os Olhos deles. Mas isso não ocorreu, “Eles, em sua opinião, haviam merecido não mais do que os próprios Senhores; Pois quem deveria ter tido tanta compreensão para considerar que no caso em que qualquer um tivesse certeza de entrar, não teria, em tão grande Perigo, com a finalidade de um pequeno ganho, escalado por sobre o Muro com eles. “Os Livros deles também vendiam tão enormemente, que quem quer que não possuísse nenhum outro meio de se manter, estaria disposto a se engajar em tal Empreendimento. Eles, além disso, esperavam que se um Julgamento correto fosse feito, não seriam considerados como tendo falhado, pois tinham se comportado com relação aos Senhores, conforme convinha aos Servos, conforme sua mais sincera solicitação. Mas resposta lhes foi dada, que sua Majestade Real havia determinado punir a todos, e a cada homem, embora um mais severamente do que o outro. Pois embora o que havia sido alegado por eles fosse parcialmente verdadeiro, e, portanto os Senhores não devessem ser totalmente indultados, eles, contudo tinham boa razão para se preparar para a Morte, aqueles que haviam tão presunçosamente se intrometido, e talvez seduzido mais os ignorantes contra a vontade deles; Como da mesma maneira aqueles que com falsos Livros haviam violado sua Majestade Real, como o mesmo poderia ser evidenciado a partir de seus próprios Escritos e Livros.

Com isto, muitos começaram muitíssimo comoventemente a lamentar, clamar, chorar, implorar e a se prostrar, tudo o que não obstante não conseguia lhes ser de qualquer eficácia; e muito estranhei como a Virgem podia ser tão resoluta, quando ainda a miséria deles fazia com que nossos Olhos transbordassem, e movesse nossa Compaixão (embora a maior parte deles tivesse nos proporcionado muitos problemas e vexação), Pois ela num instante despachou seu Pajem, que trouxe consigo todos os Couraceiros que haviam neste dia sido designados nas Balanças, os quais foram ordenados, cada um deles, a tomar seu próprio consigo, e em Procissão ordenada, de forma que ainda cada Couraceiro deveria ir com um dos Prisioneiros, para conduzi-los ao grande Jardim da Virgem. Em cuja ocasião cada um tão exatamente reconheceu seu próprio Homem, que me admirei com isso. Permissão foi também da mesma maneira concedida aos meus Companheiros de ontem para entrarem desatados no Jardim, e estarem presentes na Execução da Sentença. Agora, tão logo cada Homem se adiantou, a Virgem subiu para seu Trono Elevado, solicitando que nos sentássemos nos Degraus, e estivéssemos presentes no Julgamento, o que não recusamos, deixando tudo permanecer sobre a Mesa (exceto o Cálice, que a Virgem confiou à guarda dos Pajens), e nos adiantamos em nossas Túnicas para o Trono, que por si se moveu tão suavemente como se tivéssemos passado pelo Ar, até que desta maneira chegamos ao Jardim, onde todos nós nos levantamos. Este Jardim não era extraordinariamente curioso, apenas agradava-me que as Árvores estivessem plantadas em tão conveniente ordem. Além disso, nele fluía uma Fonte muitíssimo suntuosa, adornada com maravilhosas Figuras e Inscrições e estranhos Caracteres (que se Deus quiser deverei mencionar em um Livro futuro); Nesse Jardim estava erguido um Cadafalso de madeira forrado ao seu redor com Colchas curiosamente pintadas com figuras. Agora, havia quatro Tribunas construídas umas sobre as outras, a primeira sendo mais gloriosa do que qualquer uma das demais, e, portanto coberta com uma Cortina de Tafetá branco, de forma que naquela ocasião não conseguíamos perceber quem estava por detrás dela. A segunda estava vazia e descoberta. Novamente as duas últimas estavam cobertas com Tafetá vermelho e azul. Agora, tão logo chegamos ao Cadafalso, a Virgem se curvou para baixo até o chão, ao que ficamos extremamente aterrorizados: Pois podíamos facilmente supor que o Rei e a Rainha não deviam estar longe; Agora tendo nós também executado apropriadamente nossa Reverência, A Virgem nos conduziu para cima pelas Escadas em espiral para dentro da segunda Tribuna, onde ela se colocou no local mais elevado, e nós em nossa disposição anterior. Mas como o Imperador que eu havia libertado se comportou com relação a mim, tanto desta vez, como também anteriormente à Mesa, não posso, sem maldizer com Língua perversa, bem relatar. Pois ele poderia bem imaginar em que Angústia e Preocupação presentemente estaria, se agora tivesse de participar do Julgamento com tal ignomínia, e que somente através de mim não havia alcançado tal Dignidade e Merecimento. Entrementes, a Virgem que em primeiro lugar trouxera-me o Convite, e quem até aqui eu não havia nunca desde então visto, entrou; Primeiro ela soprou uma vez sua Trombeta, e então com uma Voz bastante alta declarou a Sentença desta maneira.

Sua Majestade Real, meu muitíssimo gracioso Senhor, poderia de coração desejar que todos e cada um aqui reunido tivessem sob o Convite de sua Majestade se apresentado tão qualificados, de forma que pudessem (em sua honra) com a maior frequência ter adornado esta sua alegre e Nupcial Festa marcada. Mas uma vez que de outra forma agradasse Deus Todo-Poderoso, sua Majestade não teve pelo que se queixar, mas deve ser forçado, contrariamente à sua própria Inclinação, a se submeter às antigas e louváveis Constituições deste Reino. Mas agora para que a inata Clemência de sua Majestade possa ser celebrada por todo o Mundo, ele até agora tem totalmente tomado medidas com seu Conselho e seus Estados para que a Sentença usual deva ser consideravelmente abrandada. De forma que em primeiro lugar ele está desejoso de condescender com os Senhores e Potentados, não somente inteiramente com suas vidas, mas também livre e francamente dar-lhes licença para partir; amigável e cortesmente solicitando a vossas Senhorias que de nenhuma maneira tomem por mal que não possam estar presentes à Festa de Honra de sua Majestade; Mas para lembrar que não obstante haja mais imposto a vossas Senhorias por Deus Todo-Poderoso (quem na distribuição de suas Dádivas possui uma Consideração incompreensível) do que possam conveniente e facilmente suportar. Tampouco é sua reputação com isto prejudicada, embora sejam rejeitados por esta nossa Ordem, uma vez que não conseguimos todos nós ao mesmo tempo fazer todas as coisas. Mas porquanto vossas Senhorias tenham sido seduzidas por Velhacos desprezíveis, isso quanto a eles não passará sem vingança. E além disso, sua Majestade resolve em breve comunicar a Vossas Senhorias um Catálogo de Hereges ou um índex Expurgatorius, para que possam doravante ser capazes de com melhor juízo discernir entre o Bem e o Mal. E porque sua Majestade há muito também propôs esquadrinhar sua Biblioteca e oferecer os sedutores Escritos para Vulcano, ele amigavelmente, humildemente e cortesmente roga a todas as vossas Senhorias que coloquem isso em Execução por si mesmos, por meio do que espera-se que todo mal e Dano possa ser remediado no tempo por vir. E, sobretudo, vocês devem ser admoestados a nunca daqui em diante tão inconsideravelmente ansiar aqui entrar, menos ainda agora que a desculpa anterior dos Sedutores lhes foi retirada, e caiam em Desgraça e Desprezo com todos os Homens. Enfim, porquanto os Estamentos do País ainda tenham algo a solicitar de vossas Senhorias, sua Majestade espera que nenhum Homem reflita muito para se redimir com uma Corrente ou com o que mais tenha ao seu redor, e assim de maneira amigável afaste-se de nós, e através de nossa prudente conduta dirija-se novamente para sua casa.

Os outros, que não suportaram o primeiro, o terceiro e o quarto pesos, sua Majestade não dispensará tão rapidamente. Mas para que possam agora experienciar a bondade de sua Majestade, é sua Imposição que sejam eles totalmente desnudados, e assim mandados ir.

Aqueles que no segundo e quinto pesos foram constatados ser demasiadamente leves, deverão além de Desnudados ser marcados com uma, duas ou mais Marcas com ferro em brasa, conforme cada um tenha sido mais leve ou mais pesado.

Aqueles que foram arrastados para cima pelo sexto ou sétimo, e não pelo restante, deverão ser lidados de forma um tanto mais benevolente, e assim por diante. Pois para cada combinação havia determinada punição ordenada, o que seria aqui demasiado longo recontar.

Aqueles que ontem por iniciativa própria se isolaram voluntariamente deverão sair em Liberdade sem qualquer culpa.

Finalmente, os vagabundos-Trapaçeiros condenados que não conseguiram levantar nenhum dos pesos, deverão, conforme a ocasião propicie, ser punidos no Corpo e na Vida, com a Espada, Cabresto, Água e Açoites. E tal Execução do Julgamento deverá ser inviolavelmente observada como Exemplo para os outros.

Com isto, nossa Virgem quebrou seu Cetro, e a outra que leu a Sentença soprou sua Trombeta e se aproximou com a mais profunda Reverência em direção àqueles que permaneciam detrás da Cortina. Mas aqui não posso omitir do Leitor algo relacionado ao número de nossos Prisioneiros; daqueles que pesaram um, havia sete; daqueles que pesaram dois, havia vinte e um; daqueles que três, trinta e cinco; daqueles que quatro, trinta e cinco; daqueles que cinco, vinte e um; daqueles que seis, sete; mas aquele que atingiu o sétimo, e entretanto não conseguiu levantá-lo bem, foi Ele apenas um, e de fato o mesmo que eu libertei. Além disso, daqueles que falharam totalmente havia muitos: Mas daqueles que levantaram todos os pesos do chão, apenas poucos. E estes, à medida que permaneciam individualmente diante de nós, diligentemente assim os contei e anotei em meu Livro de Apontamentos; E é muito admirável que dentre todos aqueles que pesaram alguma coisa, nenhum era igual ao outro. Pois embora, dentre aqueles que pesaram três, havia trinta e cinco, no entanto um deles pesou o primeiro, o segundo e o terceiro, outro o terceiro, o quarto e o quinto, um terceiro, o quinto, o sexto e o sétimo, e assim por diante. É da mesma maneira muito maravilhoso que dentre cento e vinte e seis que pesaram alguma coisa, nenhum era igual ao outro; E muito de boa vontade eu citaria todos eles, com o peso de cada Homem, se por agora não me fosse proibido. Mas espero que isso possa futuramente ser publicado com a Interpretação.

Agora, tendo este Julgamento sido totalmente lido, os Senhores em primeiro lugar estavam bastante satisfeitos porque em tal severidade eles não ousavam esperar por uma sentença branda. Por cujo motivo eles deram mais do que era deles desejado, e cada um se redimiu com Correntes, Jóias, Ouro, Somas em Dinheiro e outras coisas, tanto quanto tinham consigo; e com reverência partiram. Agora, embora os Servos do Rei estivessem proibidos de zombar de qualquer um no momento de sua partida, no entanto, alguns Tipos inoportunos não conseguiam segurar o riso, e certamente era suficientemente ridículo vê-los se despachar com tal rapidez, sem olhar uma vez para trás. Alguns desejaram que o prometido Catálogo pudesse com o primeiro ser despachado depois deles, e então poderiam considerar tal ordem acerca de seus Livros, como fosse agradável para sua Majestade; o que foi novamente assegurado. À Porta, para cada um deles foi oferecido a partir de uma Taça um Gole de ESQUECIMENTO, para que não pudesse mais ter nenhuma lembrança do infortúnio.

Depois desses, os Voluntários partiram, os quais em função de sua franqueza foram deixados passar, mas, entretanto para nunca novamente retornar da mesma maneira, Mas se para eles (como da mesma maneira para os outros) adicionalmente qualquer coisa fosse revelada, eles deveriam então ser Convidados bem-vindos.

Entrementes, outros estavam se despindo, no que também uma desigualdade (de acordo com o demérito de cada homem) foi observada. Alguns foram mandados embora nus, sem outro dano. Outros foram expulsos com pequenos Sinos. Alguns foram açoitados. Em resumo, as punições eram tão variadas que não sou capaz de recontá-las todas. Ao final, ela chegou ao último também, com quem um tempo um tanto mais longo foi despendido, pois enquanto alguns estavam sendo enforcados, alguns decapitados, alguns forçados a pular na Água, e o restante de outra forma executado, muito tempo foi consumido. Em verdade nesta execução meus Olhos transbordaram, não realmente em função da punição, que eles por outro lado por sua impudência bem mereciam, mas na contemplação da cegueira humana, em que estamos continuamente nos ocupando daquilo que desde a primeira Queda tem sido até agora Selado para nós. Desta forma, o Jardim que tão ultimamente esteve tão cheio, foi logo esvaziado; de forma que além dos Soldados, não havia sobrado nem um homem. Agora, tão logo isto foi feito, e o silêncio fora mantido pelo espaço de cinco minutos; Aproximou-se um belo Unicórnio branco neve com um cofre de ouro (tendo nele determinadas Letras) ao redor de seu pescoço: No mesmo lugar, ele se inclinou para baixo sobre ambos os pés da frente, como se com isso mostrasse respeito pelo Leão, que permanecia tão imovelmente sobre a fonte que acreditei que fosse de pedra ou de bronze, quem imediatamente tomou a Espada desembainhada que portava em sua Pata e quebrou-a no meio em dois, cujos pedaços, imagino, afundaram na Fonte: após o que ele rugiu por muito tempo, até que uma Pomba-branca trouxesse um ramo de Oliveira em seu bico, que o Leão devorou em um instante, e assim aquietou-se. E assim o Unicórnio retornou ao seu lugar com alegria. Depois disso, nossa Virgem, a partir do Cadafalso, novamente nos levou para baixo através das escadas em espiral, e novamente fizemos nossa reverência em direção à Cortina. Nós deveríamos lavar nossas mãos e cabeças na Fonte, e lá ficarmos um pouco, aguardando em ordem até que o Rei através de uma determinada Galeria secreta retornasse novamente para dentro de seu Salão, e então nós também, com Música seleta, Pompa, Magnificência e agradável discurso, fomos conduzidos para dentro de nossos aposentos anteriores: E isto foi feito ao redor de quatro da tarde. Mas, para que nesse intervalo o tempo não parecesse demasiado longo para nós, a Virgem concedeu a cada um de nós um nobre Pajem, os quais estavam não apenas ricamente trajados, mas eram também extraordinariamente eruditos, de forma que podiam tão adequadamente discursar sobre todos os assuntos que tínhamos boas razões para nos envergonharmos de nós mesmos. Eles foram orientados a nos conduzir para cima e para baixo do Castelo, exceto, contudo, em determinados lugares e se possível, encurtar o tempo de acordo com nosso desejo. Entrementes a Virgem despediu-se com este consolo de que na Ceia estaria conosco novamente, e depois disso celebraria as Cerimônias do levantamento dos Pesos, solicitando que com paciência Aguardássemos até o próximo dia, pois no dia seguinte deveríamos ser apresentados ao Rei. Tendo ela desta forma nos deixado, cada um de nós fez o que melhor lhe agradasse. Uma parte observou as excelentes pinturas, que copiaram para si mesmos, e consideraram também o que os maravilhosos Caracteres poderiam significar. Outros estavam satisfeitos em se abastecer novamente com alimento e bebida. Eu de fato fiz com que meu Pajem me conduzisse (juntamente com meu Companheiro) para cima e para baixo do Castelo, de cuja caminhada nunca me arrependerei enquanto tiver um dia para viver. Pois além de muitas outras Antiguidades gloriosas, o Sepulcro Real também me foi mostrado, pelo que aprendi mais do que existe em todos os Livros. Lá no mesmo lugar está também a gloriosa Fênix (sobre a qual há dois anos publiquei um pequeno discurso específico). E estou resolvido (caso esta minha narrativa prove-se útil) a apresentar diversos e peculiares Tratados, relativos ao Leão, à Águia, ao Grifo, ao Falcão e outros semelhantes, juntamente com seus Esboços e Inscrições. Aflige-me também por meus outros Consortes que tenham negligenciado tais preciosos Tesouros e, contudo, não posso senão pensar que era o desejo especial de Deus que assim fosse. Eu de fato colhi o máximo benefício através de meu Pajem, pois de acordo com o que dispõe o gênio de cada um, assim ele conduziu aquele que lhe fora confiado para dentro das instalações e lugares que lhe eram agradáveis. Agora as Chaves deste local foram confiadas ao meu Pajem, e, portanto, esta boa Fortuna aconteceu para mim antes dos demais. Pois embora ele convidara outros para entrar, eles contudo imaginando tais Tumbas estarem somente no Terreno em volta da Igreja, pensaram que deveriam bem suficientemente para lá ir, quando algo fosse para lá ser visto. Nem deverão esses Monumentos (como nós dois os copiaram e os transcreveram) serem sonegados aos meus agradecidos Eruditos. A outra coisa que nos foi mostrada foi a Nobre Biblioteca como ela totalmente era antes da Reforma. Da qual (embora meu Coração exulte tão frequentemente quanto me lembro) tenho no máximo o mínimo a dizer, porque o Catálogo dela deverá ser muito brevemente publicado. Na entrada desta Sala, está situado um grande Livro, semelhante ao qual nunca vi, no qual todas as Figuras, Salas, Portais, também todos os Escritos, Enigmas, e coisas parecidas a serem vistas em todo o Castelo, estão delineados. Agora, embora tivéssemos feito algumas promessas relacionadas a isto também, contudo, no momento devo me conter e primeiramente aprender a conhecer melhor o Mundo. Em cada Livro está pintado seu Autor; a respeito do que (conforme compreendi) muitos deveriam ser queimados, de forma que assim, mesmo sua memória pudesse ser apagada de dentre os Justos. Agora, tendo tido uma visão total disto, e mal tendo ido adiante, outro Pajem veio correndo até nós, e tendo sussurrado algo no ouvido de nosso Pajem, este entregou as Chaves para ele, que imediatamente as levou consigo pelas Escadas em espiral. Mas nosso Pajem estava muito Desconcertado, e como o estávamos pressionando muito com Solicitações, Ele nos declarou que sua Majestade o Rei de forma nenhuma permitiria que qualquer um dos dois, a saber a Biblioteca e os Sepulcros, deveriam ser vistos por qualquer Homem e portanto, ele nos implorava, como tínhamos consideração por sua Vida, a não revelar isso para nenhum Homem, tendo ele já totalmente negado: Ao que nós dois ficamos pairando entre a Alegria e o Medo, e, contudo, continuamos em silêncio e nenhum Homem fez qualquer pergunta adicional sobre isso. Desta forma, em ambos os lugares consumimos três horas, do que não me arrependo de forma nenhuma. Agora, embora já tivesse soado Sete, até agora nada nos fora, contudo, dado para comer, seja como for nossa fome era fácil de ser abatida através de constantes Revivescimentos, e eu poderia estar bem satisfeito em jejuar durante toda a minha Vida com tal Entretenimento. Mais ou menos nessa ocasião, as Curiosas Fontes, Minas e todas espécies de Lojas de Arte foram também mostradas para nós, das quais não havia nenhuma que não superasse todas as nossas Artes, embora devessem todas ser fundidas em uma Massa. Todas as suas Câmaras eram construídas em semicírculos, de forma que eles podiam ter diante de seus Olhos o precioso Mecanismo de relógio que estava erigido sobre uma bonita pequena Torre no Centro, e que se regulava de acordo com o curso dos Planetas, que era para ser visto sobre ela de uma maneira gloriosa. E por esta razão eu conseguia facilmente conjecturar no que nossos Artistas falharam, seja como for não é meu dever informá-los. Finalmente, entrei em um espaçoso Quarto (de fato mostrado aos demais muito tempo antes) no meio do qual se encontrava um Globo terrestre, cujo Diâmetro continha trinta Pés, embora quase metade dele, exceto um pouco que estava coberto com os degraus, estava colocado dentro da Terra. Dois Homens poderiam prontamente girar este Globo com toda a sua Mobília, de forma que mais dele não pudesse nunca ser visto, a não ser o tanto que estivesse acima do Horizonte. Agora, embora eu pudesse facilmente conceber que isto fosse de algum uso especial, eu, contudo, não conseguia compreender para que finalidade aqueles Aneizinhos de Ouro (que estavam sobre ele em diversos lugares) serviam; Ao que meu Pajem sorriu, e me aconselhou a olhá-los mais de perto. Em resumo, encontrei meu País natal também anotado com Ouro: Em consequência do que meu Companheiro procurou pelo seu, e o encontrou também. Agora, por tanto quanto o mesmo ocorrera de maneira semelhante aos demais que se encontravam por perto, O Pajem nos disse incontestavelmente que ontem havia sido declarado para sua Majestade o Rei pelo seu antigo Atlas (assim é o Astrônomo chamado) que todos os pontos dourados de fato respondiam exatamente a seus Países nativos, de acordo com o que havia sido mostrado de cada um deles. E, portanto Ele também, tão logo percebeu que eu me subestimava, e que, entretanto, lá havia um Ponto sobre meu País natal, deslocou um dos Capitães para suplicar por nós, para que fôssemos colocados sobre a Balança (sem Risco para nós) em todas as Aventuras. Especialmente vendo que um de nossos Países Natais possuía um notável bom Sinal: E verdadeiramente não fora sem razão que Ele, o Pajem que possuía o maior poder dentre os demais, fora a mim concedido. Por isto eu então lhe agradeci, e imediatamente olhei mais diligentemente para meu País natal, e encontrei mais acerca dele além do Anelzinho; havia também certas faixas delicadas sobre ele, que, entretanto, não se esperava que eu falasse em meu próprio louvor ou glória. Eu também vi muito mais nesse Globo do que estou desejando revelar. Que cada Homem leve em consideração por que toda Cidade não produz um Filósofo. Depois disso, ele nos conduziu bem para dentro do Globo, que era desta forma construído: No Mar (havendo um grande quadrado ao lado dele), havia uma Placa, sobre a qual estavam localizadas três Dedicatórias, e o nome do Autor, que um Homem poderia suavemente levantar e através de uma pequena Prancha de ligação, ir para o Centro, no qual cabiam quatro Pessoas, nada sendo além de uma Tábua redonda sobre a qual podíamos sentar e à vontade em plena luz do dia (agora já estava escuro) contemplar as Estrelas, na minha ideia eram elas meros Carbúnculos que brilhavam em uma ordem agradável, e se moviam tão galantemente que dificilmente eu me preocuparia em alguma vez sair novamente, conforme o Pajem mais tarde disse à Virgem, acerca do que ela frequentemente me censurava. Pois era quase hora da Ceia, e eu havia me divertido tanto no Globo que fui quase o último à Mesa; pelo que não me demorei mais, mas tendo novamente vestido minha Túnica (que eu havia antes colocado de lado) e caminhado para a Mesa, os garçons trataram-me com tanta reverência e honra que por vergonha não ousei olhar para cima, e assim, sem me dar conta, fiz com que a Virgem, que me observava de um dos lados, ficasse de pé, o que ela logo percebendo, puxou-me pela Túnica, e assim conduziu-me à mesa. Falar mais alguma coisa com relação à Música, ou ao restante daquele maravilhoso entretenimento, considero desnecessário tanto porque não é possível suficientemente expressá-lo, e eu acima relatei de acordo com minha capacidade. Em resumo, nada lá havia a não ser Arte e Deleite. Agora, depois de termos uns aos outros relatado nossa ocupação desde o meio-dia (seja como for, nenhuma palavra foi dita acerca da Biblioteca e dos Monumentos) estando já alegres com o Vinho, a Virgem começou desta forma: “Meus Senhores, tenho uma grande contenção com uma de minhas Irmãs: Em nosso Aposento temos uma Águia, Agora nós a estimamos com tal diligência, que cada uma de nós está desejosa de ser a mais amada, e por esse motivo tivemos muitas Brigas. Um dia decidimos ir juntos até ela, e em direção a quem ela se mostrasse mais amigável, dela ela deveria apropriadamente ser; isto fizemos, e eu (como normalmente) portava em minha mão um ramo de Louros, mas minha Irmã não tinha nenhum. Agora, tão logo ela nos divisou, imediatamente deu para minha Irmã outro ramo que tinha em seu Bico, e se ofereceu ao meu, o qual lhe dei. Agora cada uma de nós depois disto imaginou ser ela mesma a mais amada dela; de que maneira devo eu me resolver? Essa modesta proposta da Virgem nos agradou a todos extremamente bem, e cada um teria com contentamento ouvido a Solução, mas porquanto todos olharam para mim, e desejaram que eu começasse, minha mente estava tão extremamente confundida que eu não sabia o que mais fazer com isso e propus outra coisa em seu lugar, e portanto, disse: “Graciosa Senhora, a questão de vossa Senhoria seria facilmente resolvida se algo não me causasse perplexidade. Eu possuía dois Companheiros, ambos os quais me amavam muitíssimo; agora estando eles em dúvida sobre qual deles era mais caro para mim, decidiram correr até mim descuidadamente, e que aquele que eu devesse então abraçar seria o certo; isto eles fizeram, contudo um deles não conseguiu acompanhar os passos do outro, assim ficou para trás e chorou, o outro abracei com estupefação. Agora, quando depois revelaram a questão para mim, eu não sabia como me resolver, e até agora deixei que ficasse desta maneira, até que possa aqui encontrar algum bom conselho.” A Virgem surpreendeu-se com isto, e bem observou a dificuldade em que eu me encontrava, ao que respondeu, bem, então que nós dois estejamos quites; e então rogou a solução dos demais. Mas eu já os havia dado saber o que fazer. Pelo que o próximo desta forma começou: “Na cidade onde vivo, uma Virgem foi recentemente condenada à morte, mas o Juiz estando um tanto compadecido em relação a ela, fez com que se proclamasse que se algum homem desejasse se tornar o Paladino da Virgem, deveria ter passe livre para fazê-lo. Agora, ela possuía dois Amantes, um num instante se aprontou, e alistou-se para esperar seu adversário, mais tarde o outro também se apresentou, mas chegando um tanto demasiadamente tarde, resolveu contudo lutar, e de boa vontade se deixou vencer, para que assim a vida da Virgem pudesse ser preservada, o que também sucedeu em conformidade. Ao que cada um a exigiu: Agora, meus Senhores, instruam-me para qual deles ela de direito pertence?”A Virgem não conseguia mais se conter, mas disse, imaginei ter obtido muita informação, e eu mesmo fui apanhada na Rede, mas contudo alegremente gostaria de ouvir se haveria mais alguém atrás; “sim, há”, respondeu o terceiro, “uma aventura mais Estranha ainda não foi recontada além daquela que aconteceu a mim mesmo. Em minha Juventude, amei uma respeitável Donzela: Agora que este meu amor poderia atingir seu fim desejado, eu estava contente em fazer uso de uma antiga Matrona, que facilmente me trouxe a ela. Agora ocorreu que os Irmãos da Donzela vieram até nós exatamente quando nós três estávamos juntos, e estavam eles em tal ira que teriam tomado minha Vida, mas em função de minha veemente Súplica, por fim forçaram-me a jurar levar cada uma delas por um Ano como minha Esposa casada. Agora, digam-me meus Senhores, deveria eu levar a velha, ou a jovem primeiro?” Todos rimos o suficiente com essa charada, e embora alguns deles murmuravam entre si com referência a isto, contudo ninguém tentava desvendá-la. Ao que o quarto começou. “Em certa Cidade morava uma honorável Senhora, que era amada por todos, mas especialmente por um jovem nobre Homem, que forçosamente era muito inoportuno para com ela; finalmente ela lhe deu esta determinação, de que se ele, em um frio Inverno, a levasse a um belo Jardim verde de Rosas, então ele prevaleceria, mas se não, ele deveria resolver nunca mais vê-la. O nobre Homem viajou por todos os Países para encontrar tal Homem que pudesse executar isso, até que por fim encontrou um Velhinho que prometeu fazê-lo por ele, se ele lhe garantisse metade de seus Bens; o que, tendo ele consentido, ao outro foi tão bom quanto sua palavra. Ao que ele convidou a supramencionada Senhora para ir residir em seu Jardim, onde contrariamente às expectativas dela, ela encontrou todas as coisas verdes, agradáveis e quentes, e com a lembrança de sua promessa, apenas solicitou que pudesse uma vez mais retornar para seu Senhor, a quem com Suspiros e Lágrimas deplorou sua lamentável situação: Mas, embora ele tivesse suficientemente percebido a fidelidade dela, ele a despachou de volta para seu Amante, que a havia tão custosamente obtido, para que ela pudesse dar a ele Satisfação. A integridade deste Marido de fato tão poderosamente afetou o nobre homem, que ele pensou ser um pecado tocar tão honesta Esposa; assim enviou-a novamente para casa com respeito para com o Senhor dela. Agora, o pequeno Homem, percebendo tal Honestidade em ambos, não ficaria, embora tão pobre fosse, aquém destes, mas devolveu para o nobre Homem todas as suas Posses novamente, e seguiu seu caminho. Agora (meus Senhores) não sei qual dessas pessoas pode ter mostrado a maior percepção?”Aqui nossas Línguas ficaram bem mudas. Nem a Virgem deu qualquer outra réplica, mas disse apenas que outro deveria continuar. Ao que o quinto, sem demora, começou.”Meus Senhores, não desejo estender-me; quem tem a maior alegria, aquele que contempla o que ama, ou aquele que apenas pensa no que ama?” Aquele que o contempla, disse a Virgem; “não”, respondi eu; depois disto começou uma discussão, pelo que o sexto gritou, “Meus Senhores, devo tomar uma Esposa; agora tenho diante de mim uma donzela, uma Esposa casada, e uma Viúva; ajudem-me nesta dúvida, e depois ajudarei a decidir o resto.” “Aí vai bem”, respondeu o sétimo, “onde um homem tem sua escolha, mas comigo o caso é de outra maneira; em minha juventude amei uma bela e virtuosa Virgem do fundo de meu Coração, e ela a mim de maneira semelhante: seja como for, em função da rejeição dos Amigos dela não pudemos nos unir em matrimônio. Em consequência do que ela casou com outro, contudo uma Pessoa honesta e discreta, que a manteve honradamente e com afeição, até que ela entrou nas dores do Parto, que foram tão duras com ela que todos pensaram que ela havia morrido, assim, com muita pompa, e luto ela foi sepultada. Agora, pensei comigo mesmo, durante a Vida dela não pudeste ter nenhum direito nesta Mulher, mas contudo agora morta como ela está, tu podes abraçá-la e Beijá-la suficientemente, ao que tomei meu Servo comigo, que a desenterrou à Noite; Agora, tendo aberto o Caixão e a apertado em meus Braços, e sentindo seu Coração, ainda encontrei algum pequeno movimento nele, que aumentou mais e mais a partir de meu calor, até que por fim percebi que ela estava de fato ainda viva; pelo que quietamente a levei para casa e depois de ter aquecido seu Corpo resfriado com um precioso Banho de Ervas, eu a confiei à minha Mãe até que ela deu à luz a um belo Filho, quem (como a Mãe) fiz com que fosse conscienciosamente cuidado. Depois de dois dias (estando ela então em imensa estupefação) dei a conhecer a ela todo o ocorrido anteriormente, solicitando a ela que no tempo por vir ela viveria comigo como uma Esposa, contra o que ela desta forma excetuou, caso fosse doloroso para seu Esposo que a havia bem e honradamente mantido. Mas se pudesse de outra forma ser, ela era o presente obsequiado em amor para um e também para o outro. Agora, depois de dois Meses (tendo então de fazer uma Jornada alhures) convidei o Esposo dela como Hóspede, e dentre outras coisas perguntei a ele se sua falecida Esposa voltasse para casa novamente ele estaria disposto a recebê-la, e ele afirmando isso com Lágrimas e Lamentações, eu afinal lhe trouxe sua Esposa juntamente com seu Filho, e fiz um relato de todo o ocorrido, rogando-lhe ratificar com seu consentimento minhas núpcias propostas anteriormente. Após uma longa disputa, ele não conseguia levar a melhor sobre meu direito, mas estava resignado a deixar-me a Esposa. Mas ainda a discussão era sobre o Filho. Aqui a Virgem o interrompeu e disse, “Isso me faz imaginar como você poderia duplicar a dor do Homem angustiado.” “Como”, respondeu ele, “não estava eu então preocupado?” Acerca disso, surgiu uma disputa entre nós, contudo a maior parte afirmava que ele apenas fizera o que era correto. “Não”, disse ele, “eu voluntariamente devolvi para ele tanto sua Esposa quanto o Filho. Agora digam-me (meus Senhores) foi maior minha honestidade ou a alegria deste Homem?” Estas palavras haviam tão poderosamente alegrado a Virgem que (como se tivesse sido pelo bem desses dois) ela fez com que um brinde circulasse ao redor. Após o qual o restante das propostas continuou um tanto confusamente, de forma que não consegui retê-las todas, contudo vem à minha mente, que um deles disse que alguns anos antes ele havia visto um Médico, que comprara um pacote de Madeiras para o Inverno, com o qual ele se aqueceria durante todo o Inverno; mas tão logo a Primavera retornou, ele vendeu exatamente a mesma Madeira novamente, e assim não a tinha utilizado para nada: “Isto deve necessariamente ser destreza”, disse a Virgem, “mas o tempo agora passou”. “Sim”, retorquiu meu Companheiro, “quem quer que não compreende como resolver todas as Charadas, pode avisar cada Homem disso através de um Mensageiro adequado, que concebo não lhe será negado.” Neste momento eles começaram a render Graças, e nos levantamos completamente da Mesa, mais satisfeitos e felizes do que fartos; e era desejável que todos os Convites e Festejos fossem desta forma celebrados. Tendo agora dado algumas poucas voltas para cima e para baixo do Salão novamente, a Virgem nos perguntou se desejávamos começar as Núpcias. “Sim”, disse um, “nobre e virtuosa Senhora”; ao que ela confidencialmente despachou um Pajem, e, contudo entrementes prosseguiu conversando conosco. Em resumo, ela já havia se tornado tão familiarizada conosco, que me aventurei e perguntei seu Nome. A Virgem sorriu à minha Curiosidade, mas, contudo, não se comoveu, mas respondeu, “Meu nome contém cinquenta e cinco, e, contudo, possui somente oito Letras, a terceira é a terça parte da quinta, a qual adicionada à sexta produzirá um Número, cuja raiz deverá exceder a própria terceira por apenas a primeira, e é a metade da quarta. Agora, a quinta e a sétima são iguais, a última e a primeira são também iguais, e fazem com a segunda tanto quanto a sexta possui, a qual contém apenas quatro a mais do que a terceira triplicada. Agora diga-me, meu Senhor, como sou chamada?” A resposta era intricada o suficiente para mim, contudo, não desisti assim, mas disse, “nobre e virtuosa Senhora, não posso obter somente uma única Letra?” “Sim (disse ela) isso pode bem ser feito”. “O que então (respondi eu novamente) pode a sétima conter?”. “Ela contém (disse ela) tanto quanto o número de Senhores aqui.” Com isto fiquei contente, e facilmente encontrei o Nome dela, ao que ela ficou bem satisfeita, com certeza de que muito mais deveria ser ainda revelado para nós. Entrementes, determinadas Virgens haviam se aprontado, e entraram com grande Cerimônia. Primeiro de tudo, dois Jovens carregavam Luzes diante de si, um deles era de um Semblante bem-disposto, Olhos vivos e de suave Proporção. O outro parecia algo zangado e o que quer que ele quisesse, deveria ocorrer, conforme mais tarde percebi. Depois deles, primeiro seguiram quatro Virgens; uma olhava com o rosto envergonhado em direção à Terra, muito humilde em Comportamento; A segunda também era uma Virgem tímida, modesta; A terceira, à medida que entrava na Sala parecia um tanto pasma, e conforme compreendi, ela não pode permanecer bem onde há demasiada Alegria. A quarta trazia com ela determinadas pequenas guirlandas, para por meio disso manifestar sua Bondade e Liberalidade. Depois dessas quatro, vieram duas que estavam um tanto mais gloriosamente Trajadas; elas nos saudaram cordialmente; Uma delas tinha um Vestido da cor do Céu decorado com Estrelas douradas; As outras trajavam verde, embelezadas com faixas vermelhas e brancas. Em suas Cabeças, elas usavam finos Tecidos esvoaçantes, que de modo muitíssimo vistoso as adornavam. Finalmente, veio uma sozinha, que tinha em sua cabeça uma pequena Coroa, mas mais propriamente olhava para o alto em direção ao Céu, do que em direção à Terra. Todos nós imaginamos que ela fosse a Noiva, mas estávamos muito enganados, embora de outra maneira em Honra, Opulência e Grandeza ela em muito ultrapassasse a Noiva; e mais tarde ela administrou todas as Núpcias. Agora, nesta ocasião todos nós seguimos nossa Virgem, e caímos de Joelhos, entretanto, ela se mostrou extremamente humilde, oferecendo sua mão a cada um, e nos admoestando a não ficarmos demasiadamente surpresos com isto, pois esta era uma de suas menores Liberalidades, mas para elevarmos nossos Olhos para nosso Criador, e aprendermos por meio disto a reconhecer sua Onipotência, e assim prosseguir em nosso curso empreendido, empregando esta Graça para o louvor a Deus, e ao bem do Homem. Em resumo, as palavras dela eram bem diferentes daquelas de nossa Virgem, que era um tanto mais mundana. Elas trespassaram mesmo através de meus Ossos e Medula. “E tu, disse ela adicionalmente para mim, recebeste mais do que os outros, veja para que também produzas um maior retorno”. Isto para mim era um Sermão muito estranho; pois tão logo vimos as Virgens com a Música, imaginamos que deveríamos imediatamente começar a Dançar, mas essa ocasião ainda não chegara. Agora, os Pesos, a respeito dos quais menção foi antes feita, ainda permaneciam no mesmo lugar, pelo que a Rainha (eu ainda não sabia quem era ela) ordenou a cada Virgem para pegar um, mas para nossa Virgem ela deu o seu próprio, que era o último e o maior, e nos ordenou seguir atrás; nossa Majestade estava então um tanto abatida, pois bem observei que nossa Virgem era entretanto demasiadamente boa para nós & que não éramos de tão grande reputação como nós mesmos estávamos quase em parte desejando fantasiar. Assim, seguimos atrás em ordem, e fomos levados à primeira Câmara, onde nossa Virgem em primeiro lugar levantou o peso da Rainha, durante o que um excelente Hino espiritual era Cantado; não havia nada suntuoso nesta Sala a não ser apenas certos curiosos pequenos Livros de Oração que nunca deveriam faltar. No meio estava instalado um Púlpito, muito conveniente para Orações, no qual a Rainha se ajoelhou, e ao redor dela nós todos de bom grado nos ajoelhamos e oramos após a Virgem, que lia em voz alta a partir de um Livro, Para que estas Núpcias pudessem visar a Honra de Deus, e nosso próprio benefício. Mais tarde entramos na segunda Câmara, onde a primeira Virgem também levantou seu peso, e assim por diante até que todas as Cerimônias tivessem terminado. Depois disso, a Rainha apresentou novamente sua Mão para todos, e partiu dali com sua Virgem. Nossa Presidente ficou um pouco conosco. Mas por já serem duas horas da manhã, ela não mais nos reteria; achei que ela estava feliz com nossa companhia, contudo ela nos deu boa noite, e desejou um descanso tranquilo, e assim amigavelmente nos deixou, embora a contragosto. Nossos Pajens eram bem instruídos em suas obrigações, e, portanto mostravam a cada Homem os seus Aposentos, e permaneciam também conosco em outra Plataforma, para que caso quiséssemos qualquer coisa pudéssemos fazer uso deles. Meus Aposentos (acerca dos demais não sou capaz de falar) eram regiamente guarnecidos com raras Tapeçarias e com Pinturas dependuradas ao redor. Mas acima de todas as coisas fiquei satisfeito com meu Pajem, que era tão excelentemente versado e experimentado nas artes que ainda despendeu outra hora comigo, e era uma hora e meia depois das três quando pela primeira vez adormeci. E esta foi de fato a primeira noite que dormi tranquilo, e, contudo, um Sonho miserável não me permitiu descansar; Pois eu passei a noite toda preocupado com uma Porta que não conseguia abrir, mas finalmente consegui. Com essas fantasias passei o tempo, até que afinal próximo do dia acordei.

O Quarto Dia

Ainda permaneci deitado em minha Cama, e sem pressa examinei todas as nobres Imagens e Figuras para lá e para cá ao redor de meus Aposentos, durante o que subitamente ouvi a Música de Coronetas, como se já estivessem em Procissão. Meu Pajem saltou da Cama como se estivesse demasiadamente preocupado, e parecia mais como alguém morto do que vivo; Como então fiquei, é facilmente imaginável, pois, disse ele, “Os demais já foram apresentados ao Rei”; eu não sabia o que mais fazer, mas chorei abertamente, e Amaldiçoei minha preguiça; contudo me vesti, mas meu Pajem ficou pronto muito antes de mim, e saiu correndo dos Aposentos para ver como as coisas podiam ainda estar. Mas ele logo retornou, e trouxe consigo esta alegre notícia, de que a hora de fato ainda não chegara, mas que eu apenas dormira para além de meu Café da Manhã, estando eles não dispostos a me acordar em função de minha Idade; Mas que agora era hora de eu ir com ele para a Fonte onde a maioria estava reunida. Com este Consolo, meu Espírito retornou novamente, pelo que logo me aprontei com meu Hábito, e segui o Pajem para a Fonte no anteriormente mencionado Jardim, onde descobri que o Leão, em vez de sua Espada, possuía uma Placa bastante grande ao seu lado. Agora, tendo-a bem visto, constatei que ela fora retirada dos antigos Monumentos, e aqui colocada por alguma Distinção especial. A Inscrição estava um tanto desgastada com a idade e, portanto, estou inclinado a assentá-la aqui, como ela está, e dar a todos oportunidade de considerá-la.

HERMES PRINCEPS.
POST TOT ILLATA
GENERI HUMANO DAMNA,
DEI CONSILIO:
ARTISQUE ADMINICULO,
MEDICINA SALUBRIS FACTUR
HEIC FLUO

Bibat ex me qui potest: lavet, qui vult: turbet qui audet:

BIBITE FRATRES, ET VIVITE



Este Escrito poderia bem ser lido e compreendido, e pode, portanto, ser convenientemente aqui colocado, porque era mais fácil do que qualquer um dos restantes:

Agora, depois de termos nos lavado na Fonte, e depois de cada um dos Homens ter dado um trago em uma Taça totalmente de Ouro, era para que uma vez mais seguíssemos a Virgem para dentro do Salão, e lá puséssemos novas Vestes, que eram todas de Tecido de Ouro, gloriosamente adornadas com Flores. Foram também fornecidos a cada um, outro Tosão de Ouro, que era engastado com Pedras preciosas, e diversos Acabamentos de acordo com a máxima habilidade de cada Artífice. Sobre ele estava dependurada uma pesada Medalha de Ouro, na qual figuravam o Sol e a Lua em oposição; mas do outro lado estava esta Poesia:

A Luz da Lua deverá ser como a luz do Sol, e a luz do Sol deverá ser sete vezes mais clara do que atualmente.

Mas nossas Joias anteriores foram colocadas em um pequeno Cofrezinho, e confiadas a um dos Garçons. Depois disto a Virgem nos conduziu, em nossa ordem, para fora, onde os Músicos aguardavam prontos à porta, todos vestidos em Veludo vermelho com Guardas brancos. Após o que uma Porta (que nunca vi aberta antes) para as Escadas Régias em espiral foi destrancada; Lá a Virgem nos conduziu juntos com a Música, para cima por trezentos e sessenta e cinco Degraus, lá nada vimos a não ser aquilo que era Trabalho Artesanal extremamente custoso e artificial; e ainda quanto mais fôssemos, mais gloriosa ainda era o Mobiliário, até que finalmente chegamos ao topo sob uma Abóbada pintada, onde sessenta Virgens nos atenderam, todas Ricamente Vestidas. Agora, tão logo elas se curvaram para nós, e nós também, tão bem quando pudemos, havíamos retribuído nossa reverência, nossos Músicos foram despachados, que de bom grado desceram as Escadas em espiral novamente, a Porta sendo fechada atrás deles. Depois disto um pequeno Sino soou; então uma bonita Virgem entrou, trazendo para cada um uma coroa de Louros; Mas nossas Virgens possuíam Ramos que lhes haviam sido dados; Enquanto isso, uma Cortina foi erguida; Onde vi o Rei e a Rainha conforme lá sentavam em sua Majestade, e não tivesse a Rainha de ontem tão fielmente me avisado, eu teria me esquecido de mim mesmo, e teria igualado esta indizível glória ao Céu. Pois, além disso, a Sala reluzia de Ouro puro e Pedras preciosas; as Vestes da Rainha eram além do mais feitas de tal maneira que eu não era capaz de contemplá-las. E embora antes eu estimasse qualquer coisa que fosse vistosa, aqui todas as coisas ultrapassavam muito o resto, da mesma maneira que as Estrelas no Céu estão elevadas. Nesse ínterim a Virgem entrou, e assim cada uma das Virgens tomando um de nós pelas mãos, com a mais profunda Reverência, nos apresentou ao Rei: Ao que a Virgem começou desta forma a falar.

“Que para honrar suas Majestades Reais (muitíssimo graciosos Rei e Rainha) estes Senhores aqui presentes se aventuraram para cá em perigo de Corpo e de Vida; vossas Majestades têm razão para se alegrar, especialmente uma vez que a maioria está qualificada para a ampliação das Propriedades e do Império de vossas Majestades, como constatarão o mesmo através de um muitíssimo gracioso e particular exame de cada um deles . Com isto, eu desta forma estava desejosa em tê-los em Humildade apresentados a vossas Majestades, com muitíssima humilde solicitação para desencarregar-me desta minha Incumbência, e muitíssimo graciosamente obter suficiente informação de cada um deles, com relação a tanto minhas Ações quanto Omissões.”

Depois disso, ela colocou seu Ramo no chão. Agora teria sido muito adequado que um de nós tivesse intervindo e falado algo nessa ocasião, mas vendo que estávamos todos preocupados com a perda da Úvula, finalmente o velho Atlas deu um passo à frente e falou em nome do Rei;

“Suas Majestades Reais realmente muito graciosamente exultam com sua chegada, e desejam que sua Real Graça seja assegurada para todos e para cada Homem: E com tua Administração, gentil Virgem, elas estão muito graciosamente satisfeitas, & em conformidade, uma Recompensa Régia deverá, portanto, ser para ti proporcionada; contudo, é ainda intenção delas que devas continuar este dia também com elas, porquanto não possuam nenhuma razão para de ti desconfiar.”

Depois disso, a Virgem humildemente pegou o Ramo novamente. E assim, nós, por esta primeira vez, deveríamos nos desviar para o lado com nossa Virgem. Esta sala era quadrada na frente, quatro vezes mais larga do que longa; mas em direção ao Oeste, ela possuía um grande Arco como um Pórtico, onde estavam posicionados em círculo três Tronos Régios gloriosos, contudo, o mais perto do centro era um tanto mais alto do que os restantes. Agora, em cada Trono sentavam-se duas pessoas, no primeiro sentava-se um Rei bastante antigo com uma Barba grisalha, contudo, sua Consorte era extraordinariamente bela e jovem. No terceiro Trono sentava-se um Rei negro de meia-Idade, e perto dele uma elegante velha Matrona, não Coroada, mas coberta com um Véu. Mas no meio sentavam-se duas Pessoas jovens, que embora tivessem da mesma maneira Coroas de Louros sobre suas cabeças, contudo sobre elas estava dependurada uma grande e valiosa Coroa. Agora, embora não fossem nesta ocasião tão belas como eu havia anteriormente imaginado comigo mesmo, ainda assim devia ser. Atrás delas, em um Banco circular sentavam-se na maior parte Homens antigos, contudo nenhum deles (ao que me admirei) tinha qualquer Espada, ou outra Arma ao seu redor, Nem vi qualquer salva-Vidas, mas determinadas Virgens que estavam conosco no dia anterior, que se sentavam nos lados do Arco. Aqui não posso eu passar em silêncio como o pequeno Cupido voava para lá e para cá, mas durante a maior parte, pairava e flertava ao redor da grande Coroa; às vezes ele se sentava entre os dois Amantes, como que sorrindo deles com seu Arco. Mais ainda, às vezes ele fazia como se fosse atirar em um de nós: Em resumo, esse Safado estava tão cheio de brincadeiras que não dispensaria mesmo os pequenos Pássaros que em grande quantidade voavam para lá e para cá na Sala, mas os atormentava tanto quando podia. As Virgens também tinham seus passatempos com ele, mas quando quer que conseguiam pegá-lo, não era algo fácil para ele se desvencilhar delas novamente. Desta forma, este pequeno Safado fazia todas as brincadeiras e alegrias. Ante a Rainha havia um pequeno, mas impressivamente curioso Altar: no qual estava colocado um Livro revestido com Veludo negro, apenas um pouco coberto com Ouro; ao lado dele estava um pequeno Taper em um castiçal de Marfim, agora, embora fosse bem pequeno, ele, entretanto, queimava continuamente, e permanecia daquela maneira, que se o Cupido, por brincadeira, não tivesse nele soprado de quando em quando, não poderíamos ter concebido aquilo como sendo Fogo. Ao lado dele estava uma Esfera ou Globo Celestial, que por si só claramente girava. Próximo a isto, um pequeno Relógio que bate as horas, ao lado dele um pequeno Tubo de Cristal ou uma Fonte-Sifão, da qual vertia perpetuamente um Licor claro vermelho sangue; e por último de tudo, um Crânio, ou uma Cabeça da Morte; nele estava uma Serpente branca, que era de tal comprimento que embora rastejasse formando um círculo ao redor do restante, sua Cauda, contudo, ainda permanecia em um dos buracos dos Olhos, até que a Cabeça dela novamente entrava no outro, assim ela nunca saía de seu Crânio, a menos que acontecesse que o Cupido a puxasse um pouco, pois então ela se movia para dentro tão rapidamente, que nós todos não podíamos evitar de nos maravilharmos com isso: Junto com este Altar, havia para cá e para lá da Sala maravilhosas Imagens, que se moviam, como se estivessem vivas, e possuíam tão estranhos dispositivos que me seria impossível relatá-los todos: da mesma maneira, à medida que estávamos passando, começou um tipo de Música vocal tão maravilhoso que eu não conseguiria com certeza dizer se era executada pelas Virgens que estavam atrás, ou pelas próprias Imagens. Agora, estando por hora satisfeitos, saímos dali com nossas Virgens, que, estando os Músicos já presentes, nos levaram para baixo novamente pelas Escadas em espiral, mas a Porta estava diligentemente trancada e fechada com ferrolho. Tão logo chegamos novamente ao Salão; uma das Virgens começou: “Imagino, Irmã, que você ousou se aventurar dentre muitas Pessoas”: “Minha Irmã”, respondeu nossa Presidente, “Não temo a ninguém tanto quanto a este Homem”, apontando para mim; Esta fala penetrou em meu Coração: Pois bem compreendi que ela zombava de minha Idade, e de fato eu era o mais velho de todos eles. Contudo ela me confortou novamente com uma promessa. Que caso me comportasse bem com ela, ela facilmente me livraria deste peso. Entrementes, uma Refeição leve foi novamente trazida, e a Virgem de cada um se sentou ao lado de cada um, que bem sabia como encurtar o tempo com bonitos discursos: Mas quais foram seus discursos e divertimentos, não ouso tagarelar fora da Escola. Mas a maioria das perguntas era sobre as Artes, pelo que pude facilmente deduzir que tanto os jovens quanto os velhos eram familiarizados com as Ciências. Mas ainda precipitava-se em meus pensamentos como poderia me tornar jovem novamente, em consequência do que eu era até certo grau o mais triste; Isto a Virgem percebeu, e, portanto começou, “Ouso dizer algo, se me deitar com ele esta noite, ele deverá estar mais alegre pela manhã”. Com isto, eles começaram a rir, e embora eu tivesse me enrubescido todo, estava, contudo, satisfeito em rir também de minha própria má sorte. Agora, lá havia um que tinha em mente devolver minha desgraça novamente por sobre a Virgem; ao que ele disse, “Espero que não apenas nós, mas também as Virgens elas mesmas testemunhem em nome de nosso Irmão, que nossa Senhora Presidente prometeu ela mesma ser Companheira de Cama dele esta Noite”, “Eu deveria estar bem satisfeita com isso”, replicou a Virgem, “se não tivesse nenhuma razão para estar com medo destas minhas Irmãs; não haveria aprovação delas se eu fizesse o melhor e o mais agradável por mim mesmo, contra a vontade delas.” Minha Irmã, num instante começou outra, “Constatamos por meio disto que teu elevado Ofício não te faz orgulhosa; pelo que se com tua permissão pudéssemos para grande parte dos Senhores aqui presentes, dentre nós, sermos Companheiras de Leito, tu deverias com nossa boa vontade ter tal Prerrogativa.” Deixamos isso passar como uma Pilhéria, e começamos novamente a discursar juntos. Mas nossa Virgem não conseguia deixar de nos atormentar, e, portanto começou novamente, “Meus Senhores, e se deixássemos a Fortuna decidir qual de nós deve deitar junto esta Noite?” “Bem”, disse eu, “se não pode ser de outra maneira, não podemos recusar tal oferta.” Agora, em função de ter-se concluído em fazer essa tentativa depois da Refeição, resolvemos não sentar mais à Mesa, assim nos levantamos, e cada um andou para cima e para baixo com sua Virgem, “Ainda não deverá ser assim, mas vamos ver como a Fortuna nos unirá”; ao que nos separamos delas. Mas agora primeiramente surgiu uma disputa de como a questão deveria ser considerada, mas isto foi apenas um estratagema premeditado, pois a Virgem instantaneamente fez a proposta para que nos uníssemos em um Anel, e que ela começando a contar a partir dela mesma, o sétimo, deveria estar satisfeito com o sétimo seguinte, quer fosse uma Virgem, ou um homem; de nossa parte, não estávamos cientes de qualquer artifício, e portanto permitimos que fosse assim; mas quando achamos que havíamos muito bem nos misturado, a Virgens entretanto eram tão sutis que cada uma sabia sua posição de antemão: A Virgem começou a contar, o sétimo depois dela era novamente uma Virgem, o terceiro sétimo uma Virgem da mesma maneira, e isto aconteceu até que (para nossa surpresa) todas as Virgens surgiram e nenhum de nós foi atingido; Desta forma nós, pobres Miseráveis cheios de dó permanecemos sozinhos, e, além disso, fomos também forçados a suportar sermos também escarnecidos, e a confessar termos sido elegantemente enganados. Em resumo, quem quer que nos tivesse visto em nossa ordem, poderia mais rapidamente ter esperado que o Céu desabasse do que esperar que alguma vez chegasse nossa vez. Com isto nossa brincadeira chegou ao fim, e estávamos contentes em satisfazer a nós mesmos com a Peça das Virgens. Nesse ínterim, o pequeno Cupido travesso também veio até nós; Mas em função de ele ter se apresentado em nome de suas Majestades Reais, e de nos ter feito um Brinde (como se vindo delas) com uma Taça de ouro, e porque deveria chamar nossas Virgens para o Rei, sobretudo declarando que agora não poderia nesta ocasião permanecer mais com elas, nós não conseguimos nos divertir suficientemente com ele. Assim, com a devida retribuição de nossos mais humildes agradecimentos, deixamos que ele voasse adiante novamente. Agora porque (nesse ínterim) a alegria começasse a desmoronar aos Pés de minha Consorte, e as Virgens não estivessem nada tristes em ver isso, elas rapidamente conduziram uma Dança civil, a qual um tanto com prazer contemplei, e então participei. Pois meus Mercurialistas estavam assim prontos com suas Poses, como se fossem há muito da Arte da Dança. Depois de algumas poucas Danças, nossa presidente entrou novamente e nos disse como os Artistas e Estudantes haviam se oferecido a suas Majestades Reais, para sua Honra e Prazer, antes de sua partida, para encenar uma Divertida Comédia; e se achássemos que seria bom estarmos nela presentes, e aguardarmos suas Majestades Reais na Casa do Sol, seria aceitável para eles, e eles muito graciosamente agradeceriam por isso. Depois disso, em primeiro lugar demos nossos mais humildes agradecimentos pela Honra a nós concedida, não apenas isso, mas além disso, muitíssimo submissamente oferecemos nosso insignificante serviço, o que a Virgem novamente relatou, e num instante ordenou que comparecêssemos às suas Majestades Reais (em nossa ordem) na Galeria, para onde fomos logo conduzidos, e lá não permanecendo muito tempo; pois a Procissão Régia acabava de se aprontar, sem entretanto nenhuma Música. A Rainha desconhecida que estava Ontem conosco foi em primeiro lugar, com uma pequena e valiosa Coroinha, vestida em Cetim branco; ela nada carregava a não ser um pequeno Crucifixo que era feito de uma Pérola, e neste mesmo dia esculpido entre o jovem Rei e sua Noiva. Depois dela, foram as seis Virgens mencionadas anteriormente em dois grupos, que carregavam as Jóias do Rei pertencentes ao pequeno Altar; depois delas, vinham os três Reis. O Noivo estava no meio deles em trajes simples, apenas em Cetim negro, conforme a Moda Italiana. Ele usava um pequeno Chapéu redondo negro, com uma pequena Pena pontiaguda negra, que ele cortesmente tirou para nós, para com isto significar suas boas graças para conosco. Para ele nos curvamos, como também para o primeiro, como havíamos sido antes instruídos. Depois dos Reis vieram as três Rainhas, duas das quais estavam ricamente vestidas, apenas aquela do meio estava da mesma forma toda de negro, e o Cupido segurava sua Cauda para cima; depois disso, fomos intimados a seguir, e depois de nós as Virgens, até que por fim o velho Atlas vinha em último lugar. Em tal Procissão, por muitas imponentes Alamedas, por fim chegamos à Casa do Sol, próximos ao Rei e à Rainha, sobre um ricamente mobiliado Cadafalso, para contemplar a Comédia anteriormente prescrita; Nós, embora de fato Separados, estávamos à Direita dos Reis, mas as Virgens, à esquerda, exceto aquelas para as quais as Insígnias Régias foram confiadas. Para elas, foi destinado um local peculiar no topo de tudo. Mas o restante dos presentes estava satisfeito em permanecer abaixo entre as colunas, e com isto estavam contentes. Agora, em função de existirem muitas Passagens notáveis nesta Comédia, Não negligenciarei em poucas palavras para recapitulá-la.

Em primeiro lugar adiantou-se um Rei bastante antigo, com alguns Servos; para diante de cujo Trono foi trazida uma pequena Caixa, mencionando-se que ela fora encontrada sobre a Água, Agora, sendo ela aberta, dentro dela apareceu um adorável Bebê, juntamente com certas Joias, e uma pequena Carta de Pergaminho selada e sobrescrita para o Rei. A qual o Rei, portanto, imediatamente abriu, e tendo-a lido, chorou; e então declarou para seus Servos quão injuriosamente o Rei dos Mouros havia desapossado sua Tia do País dela, e havia extinguido toda Semente Régia, até mesmo seu Infante, com a Filha de cujo País ele havia então tencionado ter unido seu Filho. Ao que ele Jurou manter perpétua inimizade com o Mouro e seus Aliados; e vingar-se dele por isto; e imediatamente ordenou que a Criança deveria ser gentilmente cuidada, e que fossem feitos preparativos contra o Mouro. Agora, estas providências e a educação da jovem Senhora (quem, depois de ter crescido um pouco, foi confiada a um antigo Tutor) continuou por todo o primeiro Ato, com muitas boas e louváveis distrações adicionalmente.

No interlúdio, um Leão e um Grifo foram colocados frente a frente para lutar, e o Leãoobteve a vitória; o que foi também uma bela visão.

No segundo Ato, o Mouro, um Indivíduo negro bastante traiçoeiro, também apareceu; que tendo com vexação compreendido que seu Assassinato fora descoberto, e que também uma pequena Senhora fora habilmente dele roubada; começou imediatamente a consultar como através de um estratagema poderia ser capaz de enfrentar um adversário tão poderoso, a respeito do que foi minuciosamente aconselhado por certos Fugitivos que em razão de Inanição procuraram refúgio com ele: Assim a jovem Senhora, contrariamente à expectativa de todos os homens, caiu novamente nas Mãos dele: Que, não tivesse sido ele maravilhosamente enganado por seus próprios Servos, teria preferido fazer com que fosse assassinada. Desta forma, este Ato também foi concluído com um maravilhoso triunfo do Mouro.

No terceiro Ato, um grande Exército por parte do Rei foi formado contra o Mouro e colocado sob a liderança de um antigo e destemido Cavaleiro, que se alinhou no País dos Mouros até que por fim forçosamente resgatou a jovem Senhora de dentro da Torre, e a Vestiu com novas roupas. Depois disto, em um instante, erigiram um glorioso Cadafalso e colocaram sua jovem Senhora sobre ele: logo vieram doze Embaixadores Régios, dentre os quais o anteriormente mencionado Cavaleiro fez um Discurso, alegando que o Rei, seu muitíssimo gracioso Senhor, não apenas havia antes a livrado da morte, e mesmo até aqui feito com que ela fosse regiamente criada (embora não tivesse ela se comportado totalmente como lhe assentava bem). Mas, além disso, sua Majestade Real tinha, antes de outras, a elegido para ser uma Esposa para o jovem Senhor seu Filho; e muitíssimo graciosamente desejou que as ditas bodas poderiam realmente ser executadas caso eles jurassem para sua Majestade os seguintes Artigos. Depois disto, a partir de um Documento, ele fez com que determinadas condições gloriosas fossem lidas, as quais se não fossem demasiado longas, bem valeria a pena aqui recontá-las. Em resumo, a jovem Senhora prestou um Juramento para inviolavelmente observar o mesmo; retribuindo também agradecimentos de maneira muitíssimo conveniente por esta tão elevada Graça. Ao que eles começaram a cantar em Louvor a Deus, ao Rei e à jovem Senhora; e assim nesta ocasião partiram.

Por brincadeira, nesse meio tempo, as quatro Bestas de Daniel, conforme ele as viu na Visão, e extensamente as descreveu, foram trazidas, todas as quais possuíam seus determinados significados.

No quarto Ato, a jovem Senhora foi novamente restaurada para seu Reino perdido, e Coroada, e por um intervalo, neste arranjo, foi conduzida ao redor do lugar com extraordinária alegria: depois disto, muitos e diversos Embaixadores se apresentaram, não somente para desejar-lhe prosperidade, mas também para contemplar sua glória. Contudo, não foi por muito que ela preservou sua Integridade, mas logo começou novamente a olhar atrevidamente ao seu redor, e a piscar para os Embaixadores e Senhores; no que verdadeiramente atuou seu papel de forma Vívida.

Essas maneiras dela foram logo conhecidas pelo Mouro, que de forma nenhuma negligenciaria tal oportunidade, e em função do Camareiro dela não ter consideração suficiente por ela, ela foi facilmente cegada com grandes promessas, de forma que ela não possuía nenhuma verdadeira confiança em seu Rei, mas secretamente submeteu-se ao inteiro dispor do Mouro. Depois disso, o Mouro se apressou, e tendo-a (através do consentimento dela) em suas Mãos, comprometeu-se com ela desde que até todo o Reino dela tivesse se submetido a ele; Após o que na terceira Cena deste Ato, ele fez com que ela fosse levada para local público, e primeiramente ser totalmente desnudada e então colocada sobre um indigno Cadafalso de madeira para ser amarrada a um Poste, e bem açoitada, e por fim sentenciada à Morte. Este foi um Espetáculo tão deplorável que fez os Olhos de muitos transbordarem. Depois disso, desta forma despida como ela estava, foi lançada na Prisão, para lá esperar sua Morte, a qual deveria ser obtida por Veneno, o qual, contudo não a matou, mas a fez totalmente Leprosa: Desta forma, este Ato foi em sua maior parte lamentável.

No intervalo, eles trouxeram a imagem de Nabucodonosor, que estava adornada com todos os tipos de Brasões na Cabeça, Peito, Barriga, Pernas e Pés, e assim por diante; dos quais muitíssimo mais deverá ser falado em explicação futura.

No quinto Ato, o jovem Rei foi informado de tudo que havia ocorrido entre o Mouro e sua futura Esposa, que primeiramente intercedeu junto a seu pai por ela, rogando que ela não poderia ser deixada naquela condição; com o que seu Pai tendo concordado, Embaixadores foram despachados para confortá-la em sua Doença e Cativeiro, mas, sobretudo para notificá-la de sua falta de consideração. Mas ela, contudo, não os receberia, mas consentiu em ser a Concubina do Mouro, o que também foi feito, e o jovem Rei foi comunicado disso.

Depois disso, surgiu um grupo de Bufões, cada um dos quais trazia consigo uma Varinha, onde num piscar de olhos fizeram um grande Globo do Mundo, e logo o desmancharam novamente. Foi uma ótima alegre Fantasia

No sexto Ato, o jovem Rei resolveu travar batalha com o Mouro, o que também foi feito. E embora o Mouro tenha sido derrotado, contudo todos pensaram que também o jovem Rei morrera. Por fim, ele recuperou os sentidos novamente, libertou sua esposa, e a confiou para o seu Camareiro e Capelão.

O primeiro dos quais a tormentou extremamente; por fim a página foi virada, e o Sacerdote era tão insolentemente perverso, que forçosamente queria estar acima de todos, até que isso foi reportado ao jovem Rei, que apressadamente despachou uma pessoa que quebrou o Pescoço do poderio do Sacerdote e adornou a Noiva em certa medida para as Núpcias.

Depois do Ato, um imenso Elefante artificial foi trazido. Ele carregava uma grande Torre com Músicos: o que também foi bastante agradável para todos.

No último Ato, o Noivo apareceu em tal pompa como nem se pode bem acreditar, e fiquei estupefato com o que ocorreu: A Noiva encontrou-o em semelhante Solenidade. Ao que todas as Pessoas gritaram VIVAT SPONSUS, VIVAT SPONSA.De forma que através desta Comédia, eles de fato congratularam-se todos com o Rei e a Rainha da maneira mais majestosa: O que (como bem observei) os agradou muitíssimo extraordinariamente bem.

Finalmente, eles deram alguns passos pelo palco em tal Procissão, até que ao final juntos começaram desta forma a cantar.

I

Este momento pleno de amor
De fato muito aumenta nossa alegria
Por causa das Núpcias do Rei;
E, portanto, vamos cantar
Que de todas as partes soe,
Abençoado seja aquele que tudo nos concedeu.

II

A Noiva muitíssimo primorosamente bela,
A quem nos dedicamos com longos cuidados
A ele em promessa de fidelidade agora empenhada:
Afinal, totalmente obtivemos
Aquilo pelo que de fato lutamos:
Ele está feliz, isto foi previsto.

III

Agora, os Pais, Generosos e bons
Através de súplicas são abrandados:
Por tempo suficiente foi ela mantida confinada;
Intensifiquem-se na honra,
Até que milhares surjam
E brotem de seu próprio e distintivo Sangue.

Depois disso, agradecimentos foram retribuídos, e a Comédia foi encerrada com alegria e, para particular satisfação das Pessoas da Realeza, (estando já também a Noite próxima) partiram juntos na sua anteriormente mencionada ordem: Mas devíamos aguardar as Pessoas da Realeza subirem as Escadas em espiral para dentro do anteriormente mencionado Salão, onde as Mesas já estavam ricamente aparelhadas; e esta foi a primeira vez que fomos convidados à mesa do Rei. O pequeno Altar estava colocado no meio do Salão, e as seis anteriormente citadas Insígnias Régias estavam colocadas sobre ele. Nessa ocasião, o jovem Rei comportou-se muito graciosamente conosco, mas, contudo não conseguia ser de todo coração Feliz; Mas seja como for de vez em quando discursava um pouco conosco, entretanto frequentemente suspirava, ao que o pequeno Cupido somente escarnecia e brincava com seus divertidos truques. Os velhos Rei e Rainha estavam bastante sérios, apenas a Esposa de um dos antigos Reis estava alegre o suficiente, a causa do que eu, contudo, não compreendia. Durante isso, as Pessoas da Realeza tomaram a primeira Mesa, na segunda apenas nós Sentamos. Na terceira, algumas das principais Virgens se colocaram: O restante das Virgens e dos Homens foram todos obrigados a aguardar. Isto foi executado com tal pompa e silente solenidade que estou temeroso em fazer muitos comentários acerca disso. Aqui não posso deixar de mencionar como todas as Pessoas da Realeza, antes da Refeição, se vestiram em Roupas branco-Neve resplandecentes, e assim sentaram-se à Mesa. Sobre a Mesa pendia a anteriormente mencionada grande Coroa de Ouro, as Pedras Preciosas da qual, sem nenhuma outra Luz, teriam suficientemente iluminado o Salão. Contudo, todas as Luzes foram acesas no pequeno Taper sobre o Altar; qual era a razão eu certamente não sabia. Mas isto observei bem: que o jovem Rei frequentemente enviava Alimento para a Serpente branca sobre o pequeno Altar, o que fez com que eu refletisse. Quase toda Tagalerice neste Banquete foi feita pelo pequeno Cupido, que não conseguia deixar (e a mim de fato especialmente) de nos atormentar. Ele estava incessantemente fazendo coisas Estranhas. Contudo, não havia nenhuma Alegria considerável, tudo prosseguia silenciosamente: de onde eu, por mim mesmo, podia imaginar algum grande Perigo iminente. Pois não se escutava nenhuma Música; mas se algo nos era perguntado, estávamos resignados em dar pequenas respostas curtas completas, e deixar ficar como estava. Em resumo, todas as coisas tinham um aspecto tão estranho, que o suor começou a escorrer por todo meu Corpo; e estou propenso a acreditar que o mais corajoso Homem vivo teria então perdido sua coragem. A Ceia estando agora quase terminada, o jovem Rei ordenou que o Livro sobre o pequeno Altar lhe fosse apanhado. Este ele abriu, e fez com que nos fosse proposto por um Ancião, se estávamos resolvidos a ficar fiéis a ele na Prosperidade e na Adversidade; o que nós, com mãos trêmulas, tendo consentido, ele adicionalmente fez com que tristemente fôssemos perguntados se colocaríamos nossas Assinaturas nele, o que, quando não conseguimos nos evadir, foi obrigado a assim ser. Depois disso, um depois do outro se levantou, e com sua própria Mão assinou nesse Livro. Quando isto também foi executado, a pequena Fonte de Cristal, juntamente com um Copo bastante pequeno de Cristal, foi trazida para perto, a partir da qual todas as Pessoas da Realeza, uma após a outra Bebeu; mais tarde ela nos foi também trazida, e assim encaminhada para todas as Pessoas, e isto foi chamado de o Trago do Silêncio. Depois disso, todas as Pessoas da Realeza nos estenderam suas Mãos, declarando que caso agora não nos mantivéssemos fiéis a elas, deveríamos agora e nunca mais daqui para frente vê-las; o que verdadeiramente fez nossos Olhos transbordarem. Mas nossa presidente se comprometeu e prometeu muito extensamente em nosso nome, o que lhes deu Satisfação. Entrementes, um pequeno Sino soou, ao que todas as Pessoas da Realeza tornaram-se tão extremamente desoladas, que estávamos prontos a totalmente nos desesperar. Elas rapidamente tiraram novamente suas Roupas brancas, e vestiram as inteiramente negras; O Salão inteiro estava da mesma forma forrado com Veludo negro, o Chão estava coberto com Veludo negro, com o qual o Teto acima (tudo isto tendo sido antes Preparado) estava revestido. Depois disso, as Mesas também foram removidas, e todos haviam se sentado ao redor sobre o Banco comprido sem costas, e tínhamos também vestido nossos hábitos negros; nossa Presidente, que havia antes saído, entrou novamente e trouxe consigo seis Lenços de Tafetá negro, com os quais ela vendou os Olhos das seis Pessoas da Realeza. Agora, quando elas não mais conseguiam ver, foram imediatamente trazidos pelos Servos seis Ataúdes cobertos, e colocados no Salão, e também um Assento negro baixo foi colocado no meio. Finalmente, entra um homem extremamente alto negro como azeviche, que portava em suas mãos um Machado afiado. Agora, depois que o velho Rei havia sido primeiramente trazido para o Assento, sua Cabeça foi instantaneamente arrancada, e envolta em um Pano negro, mas o Sangue foi colhido em um grande Cálice de ouro, e colocado com ele neste Ataúde que estava ao lado, que sendo coberto, foi colocado de lado. Desta forma aconteceu também com os demais, de forma que pensei que ao final chegaria até mim também, mas não chegou; Pois tão logo as seis Pessoas da Realeza foram Decapitadas, o Homem negro saiu novamente; depois de quem outro seguiu, que o Decapitou também bem diante da Porta, e trouxe de volta sua Cabeça junto com o Machado, que foram colocados em uma pequena Caixa. Estas de fato pareciam para mim Núpcias sangrentas, mas como eu não sabia dizer o que ainda seria este evento, era obrigado a naquela ocasião manter cativa minha compreensão até que eu fosse mais esclarecido.

Pois a Virgem também, vendo que alguns de nós estavam com medo e choravam, nos ordenou que nos conformássemos. Pois, disse-nos ela, “A Vida desses está agora em suas mãos, e caso vocês me sigam, esta Morte deverá fazer com que muitos vivam.” Com isto, ela sugeriu que devíamos ir dormir, & que não nos preocupássemos mais por nós, pois elas deviam estar certas de receber o que lhes é corretamente merecido; E assim, ela nos desejou boa noite, dizendo, Que deveria velar os Cadáveres esta noite. Assim fizemos, e fomos cada um de nós conduzidos por nossos Pajens para dentro de nossos Alojamentos. Meu Pajem conversou comigo acerca de diversos e vários assuntos (os quais ainda me lembro bem) e deu-me razão suficiente para admirar seu discernimento: Mas sua intenção era aquietar-me para que eu adormecesse, o que finalmente bem observei, ao que fingi que estava profundamente adormecido, mas nenhum sono adentrou meus Olhos, e não conseguia tirar o Decapitado de minha mente. Agora, meu Alojamento estava diretamente defronte o grande Lago, de forma que eu conseguia bem contemplá-lo de cima, a Janela estando junto à Cama. Por volta da meia-noite, tão logo soou doze vezes, subitamente avistei no Lago um grande Fogo, pelo que por medo rapidamente abri a Janela para ver o que aconteceria com ele; Então ao longe vi sete Navios seguindo adiante, os quais estavam todos completamente cheios de Luzes. Acima, no topo de cada um deles pairava uma Chama, que ia de um lado para o outro, e às vezes descia bem para baixo, de forma que eu podia sem dificuldade julgar que necessariamente eram os Espíritos dos Decapitados. Agora, esses Navios suavemente se aproximavam da Terra, e cada um deles possuía não mais que um Marinheiro. Tão logo chegaram à Praia, eu imediatamente divisei nossa Virgem com um Archote indo em direção aos Navios, depois de quem, os seis Ataúdes cobertos, juntamente com a pequena Caixa, foram levados; e cada um deles privadamente colocado em um Navio. Pelo que acordei meu Pajem também, que me agradeceu enormemente, pois tendo corrido muito para cima e para baixo o dia todo, bem poderia ter dormido enquanto isto acontecia, embora ele soubesse disso. Agora, tão logo os Ataúdes foram colocados nos Navios, todas as Luzes foram extintas, e as seis Chamas retornaram juntas por sobre o Lago, de forma que não havia mais nenhuma Luz, com exceção de uma em cada Navio como Vigia. Havia também algumas centenas de Vigias que haviam acampado na Praia, e enviaram a Virgem de volta para dentro do Castelo, que cuidadosamente trancou tudo com ferrolho novamente; de forma que eu bem podia julgar que não haveria nada mais a ser feito esta noite, mas que deveríamos aguardar o dia; assim nos dedicamos a novamente descansar. E somente eu, de todos os meus Companheiros, tinha os Aposentos em direção ao Lago, e vi isto, de forma que agora estava extremamente esgotado, e assim adormeci em minhas muitas Especulações.

O Quinto Dia

A noite terminou, e o querido aguardado dia raiou, quando apressadamente saí da Cama, mais desejoso em saber o que poderia ainda se seguir, do que se havia dormido o suficiente; Agora, depois que coloquei minhas Roupas, e, de acordo com meu costume, descido as Escadas, ainda era demasiado cedo, e não encontrei mais ninguém no Salão, pelo que roguei a meu Pajem para me conduzir um pouco pelo Castelo, e me mostrar algo que fosse raro, quem estava agora (como sempre) disposto, e imediatamente levou-me para baixo da terra por determinados degraus para uma grande Porta de ferro, sobre a qual as seguintes Palavras em grandes Letras de Cobre estavam fixadas.
Isto, desta forma copiei e coloquei em meu Livro de Apontamentos. AGORA, depois que essa Porta foi aberta, o Pajem me conduziu pela mão através de uma Passagem bastante escura, até que chegamos novamente a uma Porta muito pequena, que estava agora apenas atrelada, Pois (conforme o Pajem me informou) ela foi pela primeira vez aberta somente ontem quando os Ataúdes foram retirados, e não havia sido fechada desde então. Agora, tão logo entramos, divisei a coisa mais preciosa que a Natureza jamais criou: Pois esta Cripta não tinha nenhuma outra luz, a não ser a partir de determinados enormemente grandes Carbúnculos; E isto (conforme fui informado) era o Tesouro do Rei. Mas a mais gloriosa e principal coisa, que aqui vi, foi um Sepulcro (que ficava no meio) tão rico que imaginei por que não era mais bem guardado: a que o Pajem me respondeu, Que eu tinha boa razão para ser grato ao meu Planeta, por cuja influência fora, havia eu agora visto certas peças que nenhum Olho humano mais (exceto a Família do Rei) tinha jamais tido vislumbre. Este Sepulcro era triangular, e tinha no meio dele um Tacho de Cobre polido, o restante era de puro Ouro e Pedras preciosas; No Tacho estava um Anjo, que segurava em seus Braços uma Árvore desconhecida, da qual continuamente se desprendiam Frutos para dentro do Tacho; e tão frequentemente quanto as frutas caiam no Tacho, elas se transformavam também em Água, e escorriam para fora dele para dentro de três pequenos Tachos de Ouro ao lado. Este pequeno Altar era sustentado por estes três Animais, uma Águia, e um Boi, e um Leão, que estavam colocados sobre uma Base extraordinariamente valiosa. Perguntei a meu Pajem o que isto poderia significar: “Aqui”, disse ele, “j az Enterrada a Senhora Vênus, cuja Beleza tem destruído muitos grandes Homens tanto em Ventura, Honra, Benção e Prosperidade.” Depois do que ele me mostrou uma Porta de Cobre no Chão. “Aqui (disse ele), se você quiser, podemos ir um pouco mais para baixo”; “Eu ainda o sigo” (respondi) assim, desci os degraus, onde estava excessivamente escuro, mas o Pajem imediatamente abriu uma pequena Caixa, dentro da qual estava um pequeno Taper permanentemente aceso, no qual ele acendeu um dos muitos Archotes que estavam por ali. Fiquei extremamente aterrorizado, e seriamente perguntei como ousava ele fazer isto? Ele me deu como resposta: Enquanto as Pessoas da Realeza estiverem ainda descansando, nada tenho a temer. Com isto, vislumbrei uma valiosa Cama pronta para usar, forrada com curiosas Cortinas, uma das quais ele abriu, onde vi a Senhora Vênus totalmente despida (pois ele também levantou as cobertas) lá deitada em tal Beleza, e de tal forma inesperada, que fiquei quase fora de mim, nem ainda sei se era uma peça desta forma Esculpida, ou um Corpo humano que lá jazia morto; Pois ela estava totalmente imóvel, e, contudo, não ousei tocá-la. Assim, foi ela novamente coberta, e a Cortina fechada diante dela, entretanto ela estava imóvel (como se fosse) em meu Olho. Mas logo vislumbrei atrás da Cama uma Placa, na qual estava desta forma escrito



Perguntei a meu Pajem acerca dessa Escrita, mas ele riu, com a promessa que eu deveria conhecê-la também. Assim, apagando o Archote, subimos novamente. Então observei melhor todas as pequenas Portas, e primeiro constatei que em cada canto queimava um pequeno Taper de Piritas, dos quais não me dera conta antes; pois o Fogo era tão claro que mais parecia uma Pedra do que um Taper. Com este calor, a Árvore era continuamente forçada a derreter, contudo ainda produzia novos Frutos. “Agora observe (disse o Pajem) o que ouvi revelado ao Rei por Atlas, Quando a Árvore (disse ele) estiver totalmente derretida, Então deverá a Senhora Vênus despertar, e ser a Mãe de um Rei.” Enquanto ele estava assim falando, voou para dentro o pequeno Cupido, que inicialmente ficou um tanto embaraçado com a nossa presença, mas vendo a nós dois parecendo mais com os Mortos do que com os Vivos, por fim não conseguiu evitar Rir, Perguntando que Espírito havia me levado para lá, a quem tremendo respondi que havia me perdido no Castelo, e havia por acaso chegado até lá, e que da mesma forma o Pajem tinha estado me procurando para cima e para baixo, e por fim me encontrara aqui por acaso, e eu esperava que ele não levasse a mal. Não, então está agora bem o suficiente”, disse o Cupido, “meu velho atarefado Senhor, mas você poderia facilmente ter-me pregado uma miserável peça, caso estivesse ciente desta Porta. Agora preciso tomar mais cuidado com ela”, e então colocou um robusto Cadeado na Porta de Cobre, por onde antes descemos. Agradeci a Deus que ele não tivesse nos encontrado pouco antes; meu Pajem também estava muitíssimo contente, porque eu havia tão bem lhe ajudado neste apuro. “Contudo, não posso (disse o Cupido) deixar isto passar sem vingança, que vocês tenham estado tão perto de topar com minha querida Mãe”, com o que colocou a ponta de seu Dardo em um dos pequenos Tapers, e aquecendo-a um pouco, picou-me com ela na mão, o que naquela ocasião pouco levei em consideração, mas estava feliz que tudo ocorrera tão bem conosco, e que saímos bem sem perigo adicional. Entrementes, meus Companheiros já haviam também saído da Cama, e haviam novamente retornado para dentro do Salão, com os quais também me juntei, fingindo que acabara então de me levantar. Depois que o Cupido cuidadosamente fechou tudo novamente com segurança, ele, igualmente, veio até nós e necessariamente quis que eu lhe mostrasse minha mão, onde ainda encontrou uma pequena gota de sangue, ao que riu com vontade, e ordenou que os demais cuidassem de mim, pois em breve eu finalizaria os meus dias. Todos nos admiramos em como o Cupido podia estar tão alegre, e não ter nenhum sentimento com relação aos tristes episódios de ontem. Mas ele não estava nem um pouco preocupado. Agora, nossa Presidente havia entrementes se aprontado para a Jornada, entrando vestida totalmente em Veludo negro, contudo ela ainda portava seu ramo de Louros; suas Virgens também estavam com seus Ramos. Agora, todas as coisas estando prontas, a Virgem primeiro nos ordenou beber algo, e então nos preparamos imediatamente para a procissão: para o que não nos demoramos muito, mas a seguimos para fora do Salão indo para o Pátio. No Pátio, estavam colocados seis Ataúdes, e meus Companheiros não pensaram outra coisa a não ser que as seis Pessoas da Realeza jaziam neles, mas eu bem observei o artifício. Contudo, não sabia o que deveria ser feito com esses outros. Ao lado de cada Ataúde estavam oito Homens com os rostos cobertos.



Agora, tão logo a Música começou (era uma melodia tão pesarosa e triste que fiquei surpreendido com ela) eles pegaram os Ataúdes, e nós (como nos foi ordenado) fomos obrigados a ir atrás deles para o anteriormente mencionado Jardim, no meio do qual estava erigido um Edifício de madeira, tendo ao redor do Teto uma gloriosa Coroa, e posicionado sobre sete Colunas; dentro dele estavam modelados seis Sepulcros, e ao lado de cada um deles uma pedra, mas no meio ele tinha uma pedra redonda oca e saliente. Nesses Túmulos, os Ataúdes foram quietamente e com muitas Cerimônias baixados: As pedras foram atiradas sobre eles, e eles foram fechados firmemente. Mas a pequena Caixa permaneceu no meio. Com isto foram meus Companheiros enganados, pois eles não imaginaram outra coisa a não ser que os Corpos Mortos lá estavam. Sobre o topo de tudo havia uma grande Bandeira, tendo uma Fênix nela pintada, talvez para com isto mais nos iludir. Aqui tive uma grande ocasião para agradecer a Deus que tivesse visto mais do que os restantes. Agora, depois que os Funerais terminaram, a Virgem, tendo se colocado sobre a Pedra mais perto do centro, fez uma curta Oração, Para que fôssemos constantes em nossos compromissos, e não nos queixássemos das dores que daqui por diante deveríamos sofrer, mas para sermos úteis na restauração à Vida novamente das Pessoas da Realeza agora enterradas, e, portanto sem demora nos elevarmos com ela para fazer uma Jornada à Torre do Olimpo, para de lá extrair os Remédios úteis e necessários para este propósito. Com isto logo concordamos, e a seguimos através de outra pequena porta exatamente para a Praia. Lá, os sete anteriormente mencionados Navios estavam todos vazios; sobre os quais as Virgens espetaram seus Ramos de Louros, e depois que nos distribuíram nos seis Navios, fizeram com que em nome de Deus desta forma começássemos nossa Viagem, e nos contemplaram por quanto tempo quanto nos conseguiram ter à vista, depois do que com todos os Vigias retornaram para dentro do Castelo. Nossos Navios tinham cada um deles um dispositivo peculiar. Cinco deles de fato tinham os cinco Corpos regulares, cada um vários deles, mas o meu, no qual a Virgem também se sentava, levava um Globo. Desta forma, velejamos em uma ordem peculiar, e cada um tinha somente dois Marinheiros. À frente ia o Navio a, no qual, conforme concebo, jaz o Mouro, neste estavam doze Músicos, que tocavam excelentemente bem, seu dispositivo era uma Pirâmide. A seguir, iam três lado a lado, b, c, e d, nos quais estávamos dispostos. Eu me sentava no c. No meio, atrás destes vinham os dois mais belos e majestosos Navios, e e f, espetados com muitos Ramos de Louros, sem nenhum Passageiro neles; sua Bandeiras eram o Sol e a Lua. Mas na última fileira apenas o Navio g, neste estavam Quarenta Virgens. Agora, tendo assim passado por sobre este Lago, primeiro chegamos, através de um estreito Braço, para dentro do Mar aberto, onde todas as Sereias, Ninfas e Deusas do Mar nos aguardavam; pelo que elas imediatamente nos despacharam uma Ninfa do Mar para nos entregar seu Presente e Oferenda de Honra para as Núpcias.



Era uma valiosa, grande, engastada, e redonda Pérola Oriental; semelhante à qual não havia nunca sido vista, seja no nosso ou ainda no novo Mundo. Agora, tendo a Virgem a recebido amigavelmente, a Ninfa adicionalmente solicitou que para que pudéssemos ouvir sua Apresentação, que fizéssemos uma pequena parada, o que a Virgem estava satisfeita em fazer, e ordenou que os dois grandes Navios parassem no meio, e que os demais os cercassem em Pentágono.



Depois do que as Ninfas, formando um anel em torno deles e com muitíssimo delicadas doces vozes começaram a desta forma a cantar:

I

Não há nada melhor aqui embaixo, 
Do que belo e nobre Amor; 
Pelo qual nós, semelhantes a Deus, de fato crescemos, 
E ninguém para a dor de fato se move. 
Pelo que vamos cantá-lo para o Rei, 
Que todo o mar daí possa soar. 
Nós perguntamos; vocês respondem.

II

O que foi que primeiramente nos fez 
Foi o Amor. 
E o que a Graça outra vez transmitiu? 
Amor. 
Não foi de onde (rogo que nos digam) nascemos? 
Do Amor. 
Como é que novamente pudemos nos desesperar? 
Sem Amor.

III

Quem foi (digam) que nos concebeu? 
Foi o Amor. 
Quem Amamentou, Nutriu e Aliviou? 
Foi o Amor. 
O que é que para nossos pais devemos? 
É o Amor. 
O que tal bondade deles nos mostra? 
Amor.

IV

Quem se une na Vitória? 
O Amor. 
Pode o Amor pela procura ser obtido? 
Pelo Amor. 
Como pode um Homem boas obras executar? 
Através do Amor. 
Quem em um pode dois transformar? 
O Amor.

V

Então, que nossa Canção soe, 
Até que seu Eco ressoe. 
Para a honra e glória do Amor, 
Que possa sempre crescer 
Com nossos nobres Príncipes, O Rei, 
E a Rainha, 
A Alma partiu, 
Seus corpos estão dentro.

VI

E enquanto vivermos, 
Deus graciosamente proporcionará; 
Que como com grande amor e Amizade, 
Eles poderosamente se sustentam; 
Assim nós da mesma maneira, pela própria Chama do Amor, 
Podemos reconciliá-los mais uma vez.  

VII

Então este aborrecimento 
Em grande Alegria 
(se muitos milhares de jovens permitirem) 
Deverá se transformar, e sempre assim permanecer.

Tendo elas com a mais admirável harmonia e melodia terminado esta Canção, eu não mais me Espantava com Ulisses por fazer parar as mentiras de alguns de seus Companheiros; pois eu parecia para mim mesmo o mais infeliz homem vivo, em que a Natureza não me tivesse feito também uma criatura tão esmerada. Mas a Virgem logo as despachou, e ordenou que se fizesse à Vela daquele lugar; por isso, as Ninfas também, depois de terem sido presenteadas com um longo Lenço vermelho como gratificação, partiram e se dispersaram no Mar. Nessa ocasião eu estava ciente de que o Cupido começara a trabalhar comigo também, o que, contudo se inclinava apenas muito pouco para meu Crédito, e considerando que minha leviandade provavelmente não será de nada benéfica para o Leitor, estou decidido a deixar isso ficar assim. Mas este era o exato ferimento que no primeiro Livro recebi na cabeça em um Sonho: e que todos estejam avisados por mim acerca de rondar a Cama de Vênus, pois o Cupido de maneira nenhuma pode tolerar isso. Depois de algumas Horas, tendo em discursos amigáveis navegado bastante, chegamos ao Alcance Visual da Torre do Olimpo, pelo que a Virgem ordenou o disparo de algumas Peças de Artilharia para dar sinal de nossa aproximação, o que foi também feito; E imediatamente divisamos uma grande Bandeira branca estendida, e uma pequena Pinaça dourada enviada para nos encontrar. Agora, tão logo ela chegou até nós, nela distinguimos um homem bastante antigo, o Vigia da Torre, com determinados Guardas vestidos de branco, que nos receberam Amigavelmente, e assim fomos conduzidos para a Torre. Esta Torre estava Situada em uma Ilha exatamente quadrada, que era cercada por uma Muralha tão firme e espessa, que eu mesmo contei duzentos e sessenta passos para atravessá-la. Do outro lado da muralha, estava uma encantadora Campina, com determinados pequenos Jardins, nos quais floresciam estranhos, e para mim desconhecidos, Frutos; e então novamente um Muro redondo interno ao redor da Torre. A Torre por si era exatamente como se sete Torres redondas tivessem sido construídas uma ao lado da outra, contudo a mais central era levemente mais alta e dentro elas todas entravam umas nas outras, e tinham sete Pavimentos, um acima do outro. Sendo desta forma trazidos para os Portões da Torre, fomos conduzidos um pouco para o lado no Muro, de forma que, como bem observei, os Ataúdes pudessem ser trazidos para dentro da Torre sem que notássemos; disto os demais nada sabiam. Tendo isto sido feito, fomos conduzidos para dentro da Torre exatamente na parte mais baixa, que embora estivesse excelentemente pintada, contudo aqui tivemos pouca recreação, pois isto nada mais era do que um Laboratório onde fomos obrigados a sovar e lavar Plantas e Pedras preciosas, e toda Sorte de Coisas, e extrair seu Suco e Essência, e colocar os mesmos em Copos e entregá-los para ser armazenados. E verdadeiramente nossa Virgem estava tão ocupada conosco, e tão plena de suas coordenações que sabia como dar a cada um de nós suficiente ocupação, de forma que nesta Ilha fomos obrigados a ser meros escravos até que tivéssemos alcançado tudo que era necessário para a restauração dos Corpos Decapitados. Entrementes (conforme mais tarde compreendi) três Virgens estavam no primeiro Apartamento lavando os Corpos com toda diligência. Agora, tendo por fim quase terminado com esta nossa preparação, nada mais nos foi fornecido, a não ser um pouco de sopa com um pequeno gole de Vinho, com o que bem observei que não estávamos aqui para nosso prazer; pois quando também terminávamos nosso dia de trabalho, cada um tinha apenas um Colchão estendido no Chão para si, com o que devíamos nos contentar. De minha parte, eu não estava muito preocupado em dormir e, portanto passeava pelo Jardim, e por fim, cheguei até a Muralha; e porque o Céu estava naquela ocasião bastante claro, eu podia bem afugentar o tempo contemplando as Estrelas; Por acaso, cheguei até uma grande Escada dupla de Pedra que levava até o topo da Muralha. E porque a Lua brilhava muito intensamente, eu estava tanto mais confiante, e subi, e contemplei um pouco o Mar, que estava agora extraordinariamente calmo; e desta forma tendo oportunidade de considerar melhor a Astronomia, constatei que nesta mesma Noite aconteceria tal conjunção dos Planetas, semelhante à qual não deveria por outro lado ser de súbito observada. Tendo agora observado por algum tempo o Mar, e sendo quase Meia-Noite, tão logo bateram Doze Horas, contemplei ao longe as Sete Chamas passando por sobre o Mar para cá, e dirigindo-se para o topo do Pináculo da Torre. Isto me tornou um tanto temeroso; pois tão logo as Chamas tinham se estabelecido, Ventos fortes surgiram e começaram a fazer o Mar muito Tempestuoso. A Lua também estava Coberta de nuvens, e minha alegria terminou com tal medo, que mal tive tempo suficiente para alcançar as Escadas novamente e dirigir-me novamente para a Torre. Agora, se as Chamas permaneceram por mais tempo ou desapareceram novamente, não posso dizer: Pois nesta obscuridade eu não ousava mais me aventurar para fora: Assim, deite-me em meu Colchão, e havendo ao lado no Laboratório uma agradável e delicada sussurrante Fonte, Adormeci tanto mais rápido. E desta forma, este quinto dia foi também concluído com Maravilhas.

O Sexto Dia

Na manhã seguinte, depois que nos acordamos uns aos outros, sentamos juntos um pouco para discursar sobre o que poderia ainda ser o ocorrer das coisas. Pois alguns eram de opinião que eles deveriam todos ser animados novamente juntos. Outros contradiziam, porque a morte dos antigos não era somente para restaurar a vida, mas para aumentar também para os jovens. Alguns imaginaram que eles não tinham sido mortos, mas que outros tinham sido decapitados em seu lugar. Tendo nós agora conversado juntos por muito tempo, entra o Ancião e vindo até nós, primeiramente nos saúda, olha ao seu redor para ver se todas as coisas estavam prontas e os processos suficientemente executados. Tínhamos aqui nos comportado de forma que com nosso zelo ele não tivesse nenhum erro para encontrar, ao que ele colocou todos os Copos juntos e os pôs dentro de um estojo. Imediatamente entram certos jovens trazendo consigo algumas Escadas, Cordas e grandes Asas, que colocaram no chão diante de nós, e partiram. Então, o Ancião começou desta forma: “Meus Caros Filhos, uma destas três coisas deve cada um de vocês hoje constantemente conservar consigo. Agora, vocês são livres para fazer uma escolha de uma delas ou sorteá-las.” Respondemos, que escolheríamos. “Não”, disse ele, melhor que seja por sorteio”. Depois disto, ele fez três pequenas Tabelas, em uma escreveu Escada, na segunda, Corda, na Terceira, Asas; Estas ele colocou em um Chapéu, e cada homem deveria retirar, e o que quer escolhesse, era para ser seu. Aqueles que obtiveram Cordas imaginaram-se na melhor situação, mas eu topei com uma Escada que grandemente me afligiu, pois tinha doze pés de comprimento, e era bem pesada, e eu deveria ser forçado a carregá-la, ao passo que os outros poderiam elegantemente enrolar suas Cordas à sua volta: e quanto às Asas, o Ancião juntou-as tão cuidadosamente no terceiro grupo, como se elas tivessem neles crescido. Depois disso ele fechou a Torneira, e então a Fonte não mais jorrava, e fomos obrigados a removê-la do meio, para fora do caminho. Depois que todas as coisas foram retiradas, ele, levando consigo o Estojo com os Copos, despediu-se, e fechou a Porta firmemente depois de si, de forma que nada imaginamos a não ser que tivéssemos sido aprisionados nesta Torre. Mas nem mesmo um quarto de Hora se passou antes que um buraco Redondo bem no topo foi descoberto, onde vimos nossa Virgem, que nos chamava e nos desejava bom Dia, desejando que subíssemos. Aqueles com Asas foram instantaneamente para cima através do buraco. Somente aqueles com as Cordas estavam em má situação.

Pois tão logo cada um de nós subiu, foi-lhe ordenado içar a Escada para ele. Por fim, a Corda de cada homem foi pendurada em um Gancho de Ferro, assim todos foram obrigados a subir pela sua Corda tão bem quanto podiam, o que de fato não foi realizado sem Bolhas. Agora, tão logo estávamos todos bem lá em cima, o buraco foi novamente coberto, e fomos amigavelmente recebidos pela Virgem. Esta Sala tinha a largura total da própria Torre, tendo Seis muito imponentes Sacristias um pouco elevadas acima da Sala, para as quais se entrava subindo-se três Degraus. Nessas Sacristias fomos distribuídos, para lá rezar pela Vida do Rei e da Rainha, enquanto a Virgem entrava e saía pela pequena Porta até que tivéssemos terminado. Pois tão logo nossa tarefa fora dispensada, foi trazida para dentro e colocada no meio através da pequena Porta, por doze pessoas (que eram anteriormente nossos Músicos) uma coisa maravilhosa de um formato bastante longo, que meus Companheiros acharam que só poderia ser uma Fonte. Mas eu bem observei que os Cadáveres jaziam nela, pois a Caixa interna era de um Formato oval, tão grande que Seis Pessoas poderiam bem jazer nela uma ao lado da outra. Depois do que eles novamente saíram, pegaram seus Instrumentos, e conduziram nossa Virgem, juntamente com suas serventes, em um muitíssimo delicado som de Música. A Virgem carregava um pequeno Estojo, mas as demais apenas Ramos e pequenas Lamparinas, e algumas também Archotes acesos. Os Archotes foram imediatamente transferidos para nossas Mãos, e devíamos aguardar ao redor da Fonte nesta ordem:



Primeiro postava-se a VirgemA, com suas serventes em um Anel e ao redor com as Lamparinas & ramos c, a seguir nós nos postávamos com nossos Archotes b, então os Músicosa em uma longa fileira, ao fim de todos as demais Virgens d em outra longa fileira também. Agora, de onde as Virgens vieram, ou se elas moravam no Castelo, ou se foram trazidas para dentro durante a noite, eu não sei, pois todos os seus Rostos estavam cobertos com delicado Linho branco, de forma que não consegui reconhecer nenhuma delas. Depois disso, a Virgem abriu o Estojo, no qual havia uma coisa redonda embrulhada em uma peça dupla de Tafetá verde. Isto ela colocou no Tacho mais elevado, e então cobriu com a tampa, que era cheia de buracos e tinha ao lado uma Borda na qual ela despejou um pouco da Água que tínhamos preparado no dia anterior, de onde a Fonte começou imediatamente a fluir, e através de quatro pequenos Canos a entrar no pequeno Tacho; abaixo do Tacho mais baixo havia muitas pontas afiadas nas quais as Virgens espetaram suas Lamparinas, de forma que o calor poderia chegar até o Tacho e fazer a Água Ferver. Agora, a Água começando a Ferver, por muitos pequenos buracos em a, ela caiu sobre os Corpos, e estava tão quente que os dissolveu todos, e os transformou em Líquido. Mas o que a coisa redonda embrulhada acima mencionada era, meus Companheiros não sabiam, mas eu compreendi que era a Cabeça do Mouro, da qual a Água concebia tão grande calor. Em b, ao redor do grande Tacho, havia novamente muitos buracos, nos quais elas enfiaram seus Ramos; agora se isto foi feito por necessidade, ou somente por Cerimônia, eu não sei; Contudo esses Ramos eram continuamente aspergidos pela Fonte, de onde mais tarde gotejou para dentro do Tacho alguma coisa de cor Amarela mais escuro. Isto durou por quase duas Horas, que a Fonte ainda constantemente fluía por si mesmo; mas, contudo, quanto mais fluía mais fraca ficava. Entrementes os Músicos foram embora e nós andamos para cima e para baixo na Sala; e verdadeiramente a Sala fora feita para que tivéssemos oportunidade suficiente para empregar nosso tempo: Havia para isso, Imagens, Pinturas, Mecanismos, Órgãos, Fontes que Brotam, e coisas assim, nada sendo esquecido. Agora, era quase chegada a hora em que a Fonte pararia e não mais fluiria: ao que a Virgem ordenou que um Globo redondo de Ouro fosse trazido. Mas na base da Fonte havia uma Torneira, pela qual ela deixou sair toda a substância que fora dissolvida por aquelas Gotas quentes (das quais certos quartos eram então bem Vermelhos) para que entrassem no Globo. O restante da Água que permanecia acima no Tacho foi despejado. E assim esta Fonte (que agora havia ficado muito mais leve) foi novamente levada embora. Agora, se ela foi aberta lá fora, ou se algo dos Corpos que fosse adicionalmente útil ainda permanecia, não ouso certamente dizer: Mas isto sei: que a Água que foi esvaziada para dentro do Globo era muito mais pesada do que seis, ou ainda mais de nós éramos capazes de bem suportar, embora por sua massa ela teria parecido não ser demasiadamente pesada para um homem. Agora este Globo sendo com muita dificuldade colocado Porta afora, nós novamente nos sentamos sozinhos. Mas percebendo um ruído de passos acima de minha cabeça, mantive um Olho em minha Escada. Ao ouvir, podia-se observar as estranhas opiniões que meus Companheiros tinham com relação a esta Fonte: Pois eles nada imaginando além de que os Corpos jaziam no Jardim do Castelo, não sabiam o que concluir deste tipo de trabalho, mas agradeci a Deus que eu tivesse despertado em uma ocasião tão oportuna, e tivesse visto aquilo que mais me auxiliou em todos os afazeres das Virgens. Depois de um quarto de hora, a cobertura acima foi novamente levantada e nos foi ordenado subir, o que foi feito como antes com as Asas, Escadas e Cordas. E não me irritou nem um pouco que enquanto as Virgens pudessem ir para cima por outro caminho, éramos obrigados a ter tanto trabalho; contudo, eu podia bem julgar, deveria haver alguma razão especial nisso, e devemos também deixar algo para o Ancião fazer. Pois mesmo aqueles com as Asas não tinham nenhuma vantagem para si, a não ser quando era para que subissem através do Buraco. Agora, tendo também lá chegado, e o Buraco novamente fechado, vi o Globo pendurado por uma forte Corrente no meio da Sala. Nesta Sala nada mais havia a não ser meras Janelas, e ainda entre duas Janelas havia uma Porta, que estava coberta com nada a não ser um grande Espelho polido; e essas Janelas e Espelhos estavam opticamente opostos uns aos outros de forma que embora o Sol (que agora brilhava de maneira excessivamente clara) batesse apenas sobre uma Porta, entretanto (depois que as Janelas voltadas para o Sol foram abertas, e as Portas defronte os Espelhos foram colocadas de lado) em todos os quadrantes da Sala nada mais havia a não ser Sóis, que através de Refrações artificiais batiam por sobre todo o Globo de ouro pendurado no meio; e em função do mesmo (além daquela claridade) ser polido, dava tal Brilho que nenhum de nós conseguia abrir os Olhos, mas éramos portanto forçados a olhar para fora das Janelas até que o Globo estivesse bem aquecido e levado ao efeito desejado. Aqui eu posso bem confessar que nesses Espelhos vi os mais maravilhosos Espetáculos que jamais a Natureza trouxe à luz; pois havia Sóis em todos os lugares e o Globo no meio ainda brilhava, e o Conjurado, embora não fosse de nossa Fraternidade, era ainda mais luminoso, de forma que, exceto por um piscar de Olhos, não conseguíamos suportá-lo mais do que ao próprio Sol. Finalmente, a Virgem ordenou que se fechassem os Espelhos novamente e que se trancassem as Janelas, e assim se deixasse o Globo esfriar novamente um pouco; e isto foi feito por volta das sete Horas. Pelo que achamos bom, uma vez que agora poderíamos ter uma pequena folga para nos refrescarmos com o Desjejum: Este Tratamento novamente era bem Filosófico, e não tínhamos nenhuma necessidade de estarmos temerosos de Intemperança, embora nada nos faltasse. E a esperança da alegria futura (com a qual a Virgem constantemente nos confortava) nos fez tão contentes que não fazíamos caso de quaisquer dores ou inconveniências. E isto posso verdadeiramente dizer também com relação a meus Companheiros de alta qualidade, que suas mentes nunca correram atrás da Cozinha ou da Mesa, mas seu prazer era somente tomar parte desta Física aventurosa, e por esta razão contemplar a Sabedoria e a Onipotência do Criador. Depois que tivemos nossa Refeição, nós nos determinamos novamente a trabalhar, pois o Globo estava suficientemente resfriado; o que com trabalho e labuta deveríamos levantar da Corrente e colocar no Chão. Agora, a disputa era como quebrar o Globo em duas partes, pois nos foi ordenado dividir o mesmo ao meio. A conclusão foi de que um Diamante pontiagudo afiado melhor faria isso. Agora, quando tínhamos desta forma aberto o Globo, não havia mais nenhuma vermelhidão para ser vista, mas um adorável grande Ovo branco como a neve: Isso muitíssimo poderosamente nos alegrou, que tão bem isso tivesse acontecido. Pois a Virgem tinha preocupações permanentes, no mínimo de que a Casca pudesse ainda estar demasiadamente mole. Permanecemos em volta desse Ovo tão contentes como se nós mesmos o tivéssemos posto. Mas a Virgem fez com que ele fosse imediatamente levado embora, e ela mesmo nos deixou novamente, e (como sempre) trancou a Porta. Mas o que ela fez lá fora com o Ovo, ou se ele foi de alguma forma privadamente manuseado, eu não sei, nem nisso acredito. Contudo, devíamos novamente juntos fazer uma pausa por um quarto de hora, até que o terceiro buraco fosse aberto, e nós, por meio de nossos instrumentos, chegássemos até a quarta Pedra ou Andar. Nesta Sala, encontramos um grande Tacho de Cobre cheio de Areia amarela, que era aquecido com um Fogo suave; mais tarde o Ovo foi inclinado para dentro dele, para que lá pudesse chegar à maturidade perfeita. Este Tacho era perfeitamente quadrado, em um lado estavam estes dois versos, Escritos em grandes Letras.

O. BLI. TO. BIT. MI. LI.
KANT. I. VOLT. BIT. TO. GOLT.

No segundo lado estavam estas três palavras.

SANITAS. NIX. HASTA.

 O terceiro não tinha nada além desta única palavra.

F.I.A.T.

Mas no último lado estava uma inscrição inteira discorrendo desta forma.

QUOD
Ignis: Aer: Aqua: Terra:
SANCTIS REGUM ET
REGINARUM NOSTR:
Cineribus Eripere non potuerunt.
Fidelis Chymicorum Turba
IN HANC URNAM
Contulit.
A.D.



Agora, se por meio disso queria se considerar a Areia ou o Ovo, deixo para os eruditos discutir, embora eu faça a minha parte e nada deixe não declarado. Nosso Ovo estando agora pronto foi retirado; Mas não era necessário quebrá-lo, pois o Pássaro que estava dentro dele logo se libertou e se mostrou bastante contente, embora parecesse muito Ensanguentado e disforme: Nós primeiro o colocamos sobre a Areia quente, assim a Virgem ordenou que antes que lhe déssemos qualquer coisa para comer, deveríamos ter certeza de prendê-lo bem, pois de outra forma ele nos daria a todos trabalho suficiente. Isto sendo também feito, alimento foi trazido para ele, o que certamente não era nada mais do que o Sangue do Decapitado, diluído novamente com água preparada, através do que o Pássaro cresceu tão rápido sob nossos olhos que bem vimos por que a Virgem nos dera tal aviso acerca dele. Ele bicava e arranhava tão diabolicamente à sua volta, que pudesse ter voltado seu desejo para qualquer um de nós, ele o teria logo liquidado. Agora, ele era totalmente negro, e selvagem, pelo que outro alimento lhe foi trazido, talvez o sangue de outra das Pessoas da Realeza, em consequência do que todas as suas Penas negras mudaram novamente, e no lugar delas cresceram outras Penasbranco-Neve. Ele estava um tanto mais manso também, e deixava-se ser mais dócil, entretanto nós ainda não confiávamos nele. Na terceira alimentação, suas Penas começaram a ficar tão curiosamente coloridas que em toda minha Vida nunca vi Beleza de cores igual. Ele estava também extraordinariamente manso, e se comportava tão amigavelmente conosco que (a Virgem consentindo) nós o liberamos de sua Prisão. “É agora razoável (começou nossa Virgem), uma vez que por sua diligência, e pelo consentimento de nosso ancião, o Pássaro conseguiu tanto sua Vida quanto a mais elevada Perfeição, que ele seja também alegremente Consagrado por nós.” Com isto, ela ordenou que se trouxesse o Jantar, e que deveríamos novamente nos refrescar, uma vez que a parte mais problemática de nosso Trabalho estava agora terminada, e era conveniente que começássemos a desfrutar nosso Labor passado. Começamos juntos a nos tornar novamente contentes. Embora ainda estivéssemos usando todos os nossos Trajes de Luto, o que parecia um tanto reprovável para nossa Alegria. Agora a Virgem estava permanentemente inquisitiva, talvez para descobrir para qual de nós seu futuro propósito poderia se provar útil. Mas o discurso dela era na maior parte sobre o derretimento, e agradava-lhe bem quando alguém parecia especialista em tais compendiosos Manuais, como de fato peculiarmente enaltece um Artista. Este Jantar durou não mais do que três quartos de hora; o que nós, contudo, na maior parte despendemos com nosso Pássaro, a quem éramos constantemente obrigados a dar de comer com seu alimento: Mas ele ainda continuava mais ou menos no mesmo crescimento. Após o Jantar, não fomos por muito tempo obrigados a digerir nossa Refeição; mas depois disso a Virgem, juntamente com o Pássaro, nos deixou. A quinta Sala foi aberta para nós, para onde também fomos conforme a maneira anterior, e oferecemos nosso Serviço. Nesta Sala foi preparado para nosso Pássaro um Banho, que estava tão colorido com um fino Pó branco que tinha a aparência de puro Leite. Agora, no início estava frio quando o Pássaro foi nele colocado: Ele esta imensamente bem satisfeito com isso, bebendo dele e agradavelmente brincando nele. Mas depois que começou a esquentar em razão das Lamparinas que foram colocadas sob ele, tivemos o bastante para fazer para mantê-lo no Banho. Portanto, colocamos uma cobertura no Tacho e o obrigamos a enfiar sua cabeça para fora através de um buraco, até que ele tivesse dessa forma perdido todas as suas Penas nesse Banho, e estivesse tão liso com o uma Criança recém-nascida, embora o calor não tivesse lhe causado nenhum mal adicional, ao que muito me maravilhei; pois nesse Banho as Penas ficaram bastante consumidas, e o Banho foi por meio disso tingido de azul; finalmente demos ar ao Pássaro, que por si mesmo saltou do Tacho, e estava tão resplandecentemente liso, que era um prazer segurá-lo. Mas porque ele ainda estivesse um tanto arredio, fomos obrigados a colocar uma coleira com uma Corrente ao redor de seu Pescoço, e assim o conduzimos para cima e para baixo da Sala. Entrementes, um intenso Fogo foi feito sob o Tacho, e o Banho secou até que tudo se transformou em uma Pedra azul, que retiramos e, tendo-a primeiramente triturado, fomos mais tarde obrigados a moê-la sobre uma Pedra, e finalmente com esta cor pintar por sobre toda a pele do Pássaro. Agora ele parecia muito mais estranho, pois estava todo azul, com exceção da cabeça que permanecia branca. Com isto nosso trabalho neste Pavimento foi também executado; E nós (depois que a Virgem com seu Pássaro azul havia nos deixado) fomos chamados através do buraco para o sexto Pavimento; o que foi também feito. Lá ficamos extremamente preocupados, pois no meio um pequeno Altar, em todos os detalhes parecido com aquele no Salão do Rei acima descrito, foi colocado. Acima do qual estavam os seis itens acima mencionados, e ele mesmo (o Pássaro) era a sétima. Primeiro de tudo a pequena Fonte foi colocada diante dele, da qual ele bebeu um bom gole, mais tarde ele picou a Serpente branca até que ela sangrasse muitíssimo. Este Sangue deveríamos receber em uma Taça de Ouro e despejá-lo na Garganta do Pássaro, que estava extremamente averso a isso, então mergulhamos a cabeça da Serpente na Fonte, ao que ela reviveu novamente e rastejou para dentro de seu Crânio, de forma que não mais a vi por muito tempo depois. Entrementes, a Esfera girava constantemente, até que fez a conjunção desejada. Imediatamente o relógio Bateu uma hora, ao que acontecia outra conjunção. Então o Relógio bateu duas horas. Finalmente, enquanto observando a terceira conjunção, e a mesma fora indicada pelo Relógio, o pobre Pássaro por si mesmo submissamente deitou seu Pescoço sobre o Livro, e voluntariamente permitiu que sua Cabeça fosse (por um de nós para isso escolhido por sorteio) decepada. Seja como for, ele não produziu nem uma gota de Sangue, até que foi aberto no Peito, e então o Sangue jorrou tão fresco e claro como se fosse uma Fonte de Rubis. Sua Morte entrou em nossos corações, e, contudo, podíamos bem julgar que um Pássaro nu nos seria de pouco uso. Assim, demos o assunto por resolvido, e removemos o pequeno Altar para fora e ajudamos a Virgem a queimar o Corpo (juntamente com a pequena Placa dependurada) até às Cinzas, com o Fogo fornecido pelo pequeno Taper; e a mais tarde limpar as mesmas muitas vezes e colocá-las em uma Caixa de Madeira de Cipreste. Aqui não consigo esconder por que grande logro eu e três mais passamos; Depois que tínhamos desta forma diligentemente recolhido as Cinzas, A Virgem começou a falar desta forma.

“Meus Senhores, estamos aqui na Sexta Sala, e temos apenas uma mais ante nós, na qual nosso problema chegará a um fim, e então deveremos retornar para casa novamente para nosso Castelo, para despertar nossos muitíssimo graciosos Senhores e Senhoras. Agora embora pudesse de todo coração desejar que todos vocês, conforme estão aqui juntos, tivessem se comportado de tal maneira que eu pudesse ter-lhes dado Recomendações para nossos muitíssimo renomados Rei e Rainha, e vocês obtivessem uma Recompensa adequada; entretanto porque, contrariamente ao meu desejo, constatei dentre vocês estes quatro (com isto ela apontou para mim e para mais três) preguiçosos e morosos Trabalhadores, e ainda, de acordo com minha boa vontade para todos e para com cada um, não esteja desejando levá-los a punição condigna; Contudo, para que tal Negligência não possa permanecer totalmente impune, proponho desta forma com relação a eles, que deverão somente ser excluídos da futura sétima e muitíssimo Gloriosa ação de todos os demais, e assim também não deverão incorrer em mais nenhuma culpa a partir de suas Majestades Reais.”

Em que circunstância agora estávamos com este Discurso, deixo que outros considerem: Pois a Virgem tão bem sabia como manter seu semblante, que as Lágrimas logo a rodo transbordaram, e nos consideramos os mais infelizes de todos os homens. Depois disto, a Virgem, através de uma de suas Criadas (das quais sempre havia muitas à mão) fez com que os Músicos fossem trazidos, que estavam com Cornetas para nos soprar para fora das Portas com tal desprezo e escárnio, que eles próprios com dificuldade tocavam em função dos risos. Mas de fato particularmente de maneira extrema nos afligiu que a Virgem tão veementemente rira de nosso choro, ira & impaciência, e que poderia bem talvez existir alguns dentre nossos Companheiros que estivessem contentes com este nosso infortúnio. Mas provou-se o contrário. Pois tão logo havíamos saído pela Porta, os Músicos nos disseram que nos animássemos e os seguíssemos para cima pelas Escadas em espiral; Eles nos conduziram para o sétimo Pavimento sob o Teto, onde encontramos o Ancião, quem não tínhamos até agora visto, de pé sobre uma pequena Fornalha redonda. Ele nos recebeu amigavelmente, e de coração nos felicitou porque fomos para isto escolhidos pela Virgem; mas depois que ele compreendeu o terror que tínhamos imaginado, sua barriga estava pronta para explodir de Rir, que tivéssemos tomado tão boa Fortuna tão horrivelmente. Por esta razão, disse ele, Meus Caros Filhos, aprendam Que o Homem nunca sabe quanto bem Deus planeja para ele. Durante este discurso, a Virgem também com sua pequena Caixa entrou correndo, quem (após ter suficientemente rido de nós) esvaziou suas Cinzas para dentro de outra Vasilha e encheu a sua novamente com outra substância, dizendo que deveria agora ir lançar uma Névoa ante os Olhos dos outros Artistas, e que nesse meio tempo deveríamos obedecer ao velho Senhor naquilo que ele nos ordenasse, e não abrandar nossa diligência anterior. Com isto, ela se afastou de nós para dentro da sétima Sala, para onde chamou nossos Companheiros. Agora, o que ela primeiramente lá fez com eles, não posso dizer, pois eles não estavam apenas muitíssimo seriamente proibidos de falar acerca disso, como nós também, em razão de nossas atividades, não ousávamos espreitá-los através do Teto. Mas este era nosso trabalho, nós deveríamos umedecer as Cinzas com nossa Água pré-preparada até que elas se tornassem inteiramente como uma Pasta bastante fina. Depois do que colocamos a substância sobre o Fogo, até que ela ficasse bem aquecida, então a colocamos assim quente como estava dentro de duas pequenas formas ou moldes, e assim a deixamos esfriar um pouco (aqui tivemos tempo livre para olhar um pouco para nossos Companheiros através de determinadas fendas feitas no Chão); eles estavam agora bastante ocupados com uma Fornalha, & cada um estava ele mesmo obrigado a soprar o Fogo com um fole, e permaneciam desta forma soprando ao redor dele, como se estivessem nesse lugar maravilhosamente escolhidos em preferência a nós. E estes sopros duraram por tanto tempo até que nosso Ancião nos instigou a trabalhar novamente; De forma que não posso dizer o que foi feito depois. Nós, tendo aberto nossas pequenas formas, lá surgiram duas belas, brilhantes e quase Transparentes pequenas Imagens, parecidas com as quais os Olhos do Homem nunca viram: um Homem e uma Mulher, cada uma delas de apenas quatro polegadas de comprimento; e o que muitíssimo extremamente me surpreendeu foi que elas não eram duras, mas maleáveis e carnudas como outros Corpos humanos, embora não tivessem elas Vida: De forma que eu de fato muito certamente creio que a Imagem da Senhora Vênus foi também feita conforme algo semelhante a este modo. Estes Angelicamente belos Bebês primeiramente colocamos sobre dois pequenos Colchonetes de Cetim, e os contemplamos por bastante tempo, até que ficamos quase fascinados com tão extraordinário objeto. O velho Senhor nos avisou para nos contermos e a continuamente instilar o Sangue do Pássaro (que havia sido colocado em uma pequena Taça de Ouro) gota a gota dentro das Bocas das pequenas Imagens, a partir de onde elas de forma aparente aos Olhos aumentaram; e considerando que eram antes bastante pequenas, eram agora (de acordo com a proporção) muito mais belas; de forma que merecidamente todos os Pintores deveriam aqui estar, e teriam se envergonhado de sua Arte com relação a estas produções da Natureza. Agora, elas começaram a ficar tão grandes, que as levantamos dos pequenos Colchonetes, e fomos obrigados a deitá-las sobre uma longa Mesa, que estava coberta com Veludo branco. O ancião nos ordenou que as cobríssemos até o Peito com uma peça de delicado Tafetá branco duplo, o que em função de sua beleza inexprimível, foi quase contra o que queríamos fazer; mas para que eu possa se breve, antes que tivéssemos desta maneira despendido todo o Sangue, elas já estavam em seu perfeito crescimento total, possuíam cabelos encaracolados amarelo-Ouro, e a acima mencionada imagem de Vênus não era nada comparada com estas. Mas não havia ainda qualquer calor natural, ou sensibilidade nelas, eram Imagens mortas, embora de uma cor vívida e natural: e uma vez que cuidados devessem ser tomados para que não crescessem demasiadamente, o Ancião não permitiu que qualquer coisa mais fosse dada a elas, mas as cobriu, bem seus Rostos também, com a Seda, e fez com que Archotes fossem fixados ao redor da Mesa. Aqui devo alertar o Leitor para que não imagine que essas Luzes fossem necessárias, pois a intenção do Ancião por meio disso era somente para que não observássemos quando a Alma nelas entrasse, como de fato não a teríamos observado, caso eu não tivesse por duas vezes visto as Chamas; Contudo, permiti que os outros três permanecessem em sua crença, nem sabia o Ancião que eu havia visto algo mais. Depois disso, ele ordenou que sentássemos em um Banco contra a Mesa: imediatamente a Virgem entrou também com a Música e toda a mobília e portava duas curiosas Roupas brancas, semelhante às quais eu nunca havia visto no Castelo, nem consigo descrevê-las, pois nada pensei a não ser que eram de puro Cristal, mas eram delicadas e não transparentes, de forma que não consigo delas falar. Estas, ela colocou sobre a Mesa, e depois de ter disposto suas Virgens sobre um Banco ao redor, ela e o Ancião começaram muitos truques de Prestidigitação ao redor da Mesa, o que foi feito somente para nos Confundir. Isto (conforme eu lhe disse) foi conduzido sob o teto, que era maravilhosamente formado, pois do lado de dentro era arqueado em sete Hemisférios, dos quais o mais central era levemente o mais alto, e tinha no topo um pequeno buraco redondo, o qual estava, entretanto, fechado e não foi observado por mais ninguém. Depois de muitas Cerimônias, entraram seis Virgens, cada uma das quais portando uma grande Trombeta, que estava envolta com um material verde brilhante e ardente como uma guirlanda, uma das quais o Ancião pegou, e depois de ter removido algumas das luzes na parte de cima, e descoberto os Rostos delas, colocou uma das Trombetas na Boca de um dos Corpos de tal maneira que a parte superior e mais larga dela ficasse dirigida exatamente defronte ao acima mencionado buraco. Aqui meus Companheiros sempre olhavam para as Imagens, mas eu tinha outros pensamentos; pois tão logo a folhagem ou a guirlanda ao redor da haste da Trombeta foi acesa, eu vi o buraco no topo se abrir, e um brilhante jato de Fogo disparar para baixo pelo Tubo, e passar para dentro do Corpo: ao que o buraco foi novamente coberto, e a Trombeta removida. Com este artifício meus Companheiros foram iludidos, de forma que imaginaram que a vida entrou na Imagem por meio do Fogo da folhagem, pois tão logo ela recebeu a Alma, piscou com seus Olhos, embora pouco se agitasse. Uma segunda vez ele colocou outro Tubo sobre sua Boca, e o acendeu novamente, e a Alma foi deixada descer através do Tubo. Isto foi repetido em cada uma delas três vezes, depois do que todas as Luzes foram extintas e levadas embora. Os Tapetes de Veludo da Mesa foram colocados juntos sobre elas e imediatamente uma Cama móvel foi aberta e aprontada, na qual, desta forma embrulhadas, elas nasceram, e assim, depois que os Carpetes foram retirados delas, elas foram ordenadamente deitadas uma ao lado da outra, onde com as Cortinas cerradas diante delas, dormiram por bastante tempo (Agora era também a hora de a Virgem ver como nossos outros Artistas se comportavam, eles estavam bem satisfeitos porque (conforme a Virgem mais tarde me informou) deveriam trabalhar com Ouro, o que é de fato também uma parte desta arte, mas não a mais Importante, a mais necessária e a melhor: Eles de fato também tinham uma parte destas Cinzas, de forma que não imaginaram outra coisa a não ser que o Pássaro todo fora fornecido por causa do Ouro, e que a vida deve por meio disso ser restaurada para os mortos) durante o que nos sentamos bastante quietos, aguardando quando nosso casal casado despertaria; desta forma, cerca de meia hora foi despendida. Pois então o Cupido travesso se apresentou novamente e depois de nos saudar a todos, voou para aqueles que estavam atrás da Cortina, atormentando-os por muito tempo até que eles despertassem. Isto aconteceu para eles com grande espanto, pois não imaginaram outra coisa a não ser que haviam até agora dormido desde a exata hora na qual foram decapitados. O Cupido, depois de tê-los despertado, e renovado a familiaridade deles entre si, caminhou um pouco para o lado e permitiu que ambos melhor voltassem a si; neste meio tempo fazendo seus truques conosco; e finalmente quis ele forçosamente que os Músicos fossem trazidos para que tudo ficasse um tanto mais alegre. Não muito depois, a própria Virgem chegou: E depois que ela muitíssimo humildemente saudou o jovem Rei e a jovem Rainha (que se encontravam um tanto abatidos) e beijou as mãos deles, trouxe-lhes as duas anteriormente mencionadas curiosas Roupas, as quais eles vestiram e assim se adiantaram. Agora, já estavam preparadas duas Cadeiras bastante curiosas, nas quais eles se colocaram: e assim foram por nós com a mais profunda Reverência felicitados; pelo que o Rei em sua própria Pessoa muito graciosamente retribuiu seus agradecimentos, e novamente nos reassegurou a todos de toda Graça. Já eram quase por volta das cinco Horas, pelo que eles não poderiam permanecer por mais tempo, mas até que sua mais importante mobília pudesse ser carregada, deveríamos aguardar as jovens Pessoas da Realeza descer as Escadas em espiral, através de todas as Portas, e entrar no Navio, no qual embarcaram, juntamente com determinadas Virgens e o Cupido, e velejaram de foram tão extremamente veloz que logo os perdemos de vista, embora elas tivessem sido encontradas (conforme fui informado) por determinados imponentes Navios: Desta forma, em um tempo de quatro Horas eles haviam feito muitas Léguas para dentro do Mar. Depois das Cinco Horas, os Músicos foram encarregados de transportar todas as coisas de volta para os Navios, e de se preparar para a Viagem. Mas porque isto era algo que demorava para se fazer, o velho Senhor ordenou que se apresentasse um grupo de seus Soldados escondidos, que estavam até agora posicionados na Muralha, de forma que não havíamos notado nenhum deles; com o que observei que esta Torre era bem equipada contra hostilidades. Agora, esses Soldados fizeram um rápido trabalho com nossas coisas, de forma que nada mais permaneceu para ser adicionalmente feito, além de ir para a Ceia. Agora, estando a Mesa completamente guarnecida, a Virgem nos levou novamente para nossos Companheiros onde era para nos conduzirmos como se tivéssemos estado verdadeiramente em uma condição Lamentável, e nos abstermos de rir. Mas eles estavam sempre rindo entre si, embora alguns deles também se compadecessem conosco. Nesta Ceia, o velho Senhor estava também conosco, e era um muitíssimo severo Inspetor para conosco: Pois ninguém podia propor qualquer coisa tão discretamente, que ele não soubesse como confutar ou retificar, ou no mínimo dar boa documentação acerca disso. Aprendi muitíssimo com esse Senhor, e seria muito bom que cada um se aplicasse com ele e observasse seu comportamento, pois então as coisas não Fracassariam tão frequentemente e tão adversamente. Depois que nos recolhemos para a noite, o Senhor nos conduziu para seus Ateliês de Raridades, os quais estavam dispersos aqui e ali dentre os Paredões, onde vimos tais maravilhosas produções da Natureza, e outras coisas também que a sagacidade do homem na imitação da Natureza havia inventado, que precisaríamos mais suficientemente de um Ano para examiná-las. Desta forma despendemos uma boa parte da Noite à luz de Velas. Finalmente, porque estávamos mais inclinados a Dormir do que a ver muitas Raridades, fomos alojados em Quartos na Muralha, onde tínhamos não apenas boas e suntuosas Camas, mas também, além disso, extraordinariamente belos Aposentos, o que nos fez mais imaginar por que havíamos sido forçados no dia anterior a passar por tantos sofrimentos. Neste Aposento, tive um bom descanso; e estando durante a maior parte do tempo sem cuidados, e esgotado com Labor contínuo, a suave arremetida do Mar ajudou-me em um profundo e doce Sono, pois continuei em um Sonho das onze Horas até as oito da manhã.


O Sétimo Dia

Depois das oito horas, acordei e rapidamente me aprontei, estando desejoso de retornar novamente para dentro da Torre, mas as escuras passagens na Muralha eram tantas e diversas que vaguei bastante antes que pudesse encontrar a saída. O mesmo aconteceu também com os demais, até que por fim, todos nos encontramos novamente na Cripta mais profunda, e hábitos inteiramente amarelos nos foram dados, juntamente com nossos Tosões de ouro. Naquela ocasião a Virgem nos declarou que éramos Cavaleiros da PEDRA ÁUREA, acerca do que antes desconhecíamos. Depois que desta forma nos aprontamos, e tomamos nosso Desjejum, o Ancião presenteou cada um de nós com uma medalha de Ouro; em um dos lados estavam estas Palavras,

AR. NAT. MI.

No outro lado, estas,

TEM. NA. F.

Exortando-nos, além disso, a que não deveríamos empreender nada além e contra esta insígnia de recordação. Com isto, fomos adiante para o Mar, onde nossos Navios permaneciam tão ricamente equipados que não era bem possível, a não ser que tais coisas maravilhosas tivessem sido primeiramente trazidas para cá. Os Navios eram em número de doze, seis nossos, e seis do velho Senhor, que fez com que seus Navios fossem carregados com Soldados bem nomeados. Mas ele embarcou conosco para dentro de nosso Navio, onde estávamos todos juntos; No primeiro, os Músicos se Sentavam, dos quais o velho Senhor também tinha um grande número; eles partiram antes de nós para encurtar o tempo. Nossas Bandeiras eram os doze Signos Celestiais, e nós nos sentamos em Libra; além de outras coisas, nosso Navio também tinha um nobre e curioso Relógio, que nos mostrava todos os Minutos. O Mar estava também tão calmo que era um prazer singular Navegar. Mas o que superou todo o resto foi o discurso do Ancião, que tão bem sabia como despender nosso tempo com maravilhosas Histórias, que eu estaria contente em Velejar com ele por toda a minha Vida. Entrementes, os Navios continuavam a toda velocidade, pois antes que tivéssemos velejado por duas horas, o Marinheiro nos disse que já via todo o Lago quase coberto de Navios, pelo que podíamos conjecturar que eles haviam vindo para nos encontrar, o que também se provou ser verdade: Pois tão logo saímos do Mar e entramos no Lago pelo anteriormente mencionado Rio, logo lá estavam quinhentos Navios, um dos quais brilhava com puro Ouro e Pedras preciosas, no qual se sentavam o Rei e a Rainha, juntamente com outros Senhores, Senhoras e Virgens de nobre Nascimento. Tão logo eles estavam bem em nosso Alcance Visual, peças de artilharia foram disparadas por ambos os lados, e houve tal estrondo de Trombetas, Shalmes e Timbales que todos os Navios sobre o Mar cabriolaram novamente. Finalmente, tão logo chegamos perto, eles conduziram nossos Navios juntos, e assim estacionaram. Imediatamente, o velho Atlas adiantou-se como representante do Rei fazendo um curto, mas bonito discurso no qual nos deu as boas-vindas e perguntou se os Presentes Régios estavam prontos. O restante de meus Companheiros estava em enorme estupefação, de onde este Rei surgiria, pois eles nada imaginaram a não ser que devessem novamente despertá-lo. Deixamos que eles continuassem em seu assombro, e nos portamos como se isso parecesse estranho para nós também. Depois do discurso de Atlas, adianta-se nosso Ancião oferecendo uma réplica um tanto mais longa, na qual ele desejava ao Rei e à Rainha toda felicidade e progresso, depois do que entregou um curioso pequeno Estojo, mas o que nele estava, não sei; apenas que foi confiado à guarda do Cupido, que pairava entre ambos. Depois que o discurso terminou, novamente dispararam uma Salva de Tiros, e navegamos um bom tempo juntos até que por fim chegamos em outra Praia. Esta estava próxima ao primeiro Portão através do qual primeiro entrei: Neste local novamente estava presente uma grande Multidão da Família do Rei, juntamente com algumas centenas de Cavalos. Agora, tão logo chegamos à praia e desembarcamos, o Rei e a Rainha ofereceram suas Mãos para todos nós, um e outro com singular bondade; e assim foi-nos dito para montarmos a Cavalo. Aqui desejo seja o Leitor amigavelmente solicitado a não interpretar a seguinte Narrativa como qualquer glória vã ou orgulho de minha parte, mas até aqui acreditar em mim, que se não tivesse havido uma necessidade especial nisso, eu poderia muito bem ter totalmente ocultado esta honra que me foi manifestada. Fomos todos, um após o outro, distribuídos entre os Senhores. Mas era para nosso velho Senhor e eu, muitíssimo indigno, cavalgarmos emparelhados com o Rei, cada um de nós portando uma Bandeira branco-neve com uma Cruz Vermelha: De fato, utilizaram a mim por causa de minha Idade, pois ambos tínhamos longas Barbas e Cabelos grisalhos. Além disso, eu havia fixado minha insígnia à volta de meu Chapéu, o que o jovem Rei logo notou, e perguntou se eu era aquele que pudera junto ao Portão resgatar essas insígnias? Eu respondi da maneira mais humilde, “Sim”. Mas ele riu de mim, dizendo que não Havia doravante necessidade de Cerimônia: eu era SEU Pai. Então ele me perguntou Por meio do que eu as havia resgatado? Respondi: com Água e Sal; ao que ele quis saber quem me tinha feito tão sábio; ao que fiquei um tanto mais confiante e recontei a ele como havia acontecido comigo com meu Pão, com a Pomba e com o Corvo; e ele ficou satisfeito com isso, e disse expressamente Que deve necessariamente ser que Deus tivesse aqui me concedido uma singular felicidade. Com isto, chegamos ao primeiro portão onde o Porteiro com as Roupas azuis aguardava, e portava em sua Mão uma petição. Agora, tão logo ele me divisou emparelhado com o Rei, entregou-me a petição, muito humildemente me implorando para mencionar sua habilidade para comigo diante do Rei: Agora, em primeiro lugar perguntei ao Rei qual era a condição deste Porteiro? Quem amigavelmente me respondeu: Que ele era um bastante famoso e raro Astrólogo, e sempre em elevada consideração para com o Senhor seu Pai. Mas, tendo em uma ocasião cometido um deslize contra Vênus, e a contemplado em sua Cama de repouso, Esta punição fora, portanto, imposta a ele, que ele deveria por tanto tempo aguardar no primeiro Portão até que alguém pudesse dali libertá-lo. Respondi então, pode ele então ser libertado? Sim, disse o Rei, se alguém puder ser encontrado que tenha tão grandemente transgredido como ele mesmo, este deve ficar em lugar dele, e o outro deverá ser libertado. Esta palavra entrou em meu Coração, pois minha Consciência me convenceu que eu era o ofensor, contudo mantive minha paz, & com isto entreguei a petição. Tão logo ele a leu, ficou extremamente aterrorizado, de forma que a Rainha, que (com nossas Virgens e a outra Rainha ao lado, da qual fiz menção no levantamento dos Pesos) cavalgou até para exatamente atrás de nós e observou, & então perguntou-lhe o que esta Carta poderia significar. Mas ele não julgou que devia dar atenção a ela, mas pondo a Carta de lado, começou a discursar acerca de outros assuntos, até que, desta forma, em cerca de três horas chegamos perto do Castelo, onde nos apeamos e aguardamos o Rei entrar em seu anteriormente mencionado Salão. Imediatamente o Rei solicitou para que o velho Atlas viesse até ele em um pequeno Aposento, e lhe mostrou o documento, o qual não se demorou muito, mas cavalgou novamente até o Porteiro para obter melhor Cognição do assunto. Após o que o jovem Rei com sua Esposa, e os outros Senhores, Senhoras e Virgens sentaram-se. Então começou nossa Virgem a extremamente elogiar a diligência que havíamos utilizado e os esforços e trabalho pelos quais havíamos passado, solicitando que pudéssemos ser regiamente recompensados, e que a ela daqui em diante pudesse ser permitido desfrutar os benefícios de sua autoridade. Então, o velho Senhor levantou-se também e atestou que tudo o que a Virgem havia falado era verdade, e que seria apenas justo que fôssemos ambos em ambas as partes satisfeitos. Depois disto, foi-nos dito para sairmos um pouco, e concluiu-se que cada homem deveria externar algum desejo possível, e em conformidade obtê-lo; pois não era para ser duvidado, mas que aqueles de discernimento também externariam o melhor desejo: Assim, deveríamos considerar isso até depois da Ceia. Entrementes, o Rei e a Rainha, a título de recreação, começaram entre si um jogo. Não parecia ser diferente de Xadrez, apenas tinha outras Leis; pois eram as Virtudes e Vícios uns contra os outros, onde poderia engenhosamente ser observado com que Tramas os Vícios armam ciladas para as Virtudes, e como reencontrá-las novamente. Isto foi tão adequada e astuciosamente executado que era para se desejar que tivéssemos semelhante jogo também. Durante o jogo, entra Atlas novamente e faz seu relatório privativamente, e já me ruborizei todo. Pois minha Consciência não me dava descanso; após o que o Rei deu-me a petição para ler e o Conteúdo da qual era em grande parte para este propósito: Primeiro, ele desejava prosperidade e progresso para o Rei; que sua semente pudesse ser espalhada amplamente para longe e extensamente: Subsequentemente, ele protestava que o tempo estava agora concluído, no que de acordo com a promessa Régia ele deveria ser libertado. Porque Vênus já havia sido exposta por um de seus Convidados, pois suas observações não conseguiam mentir para ele. E que se sua Majestade quisesse, por favor, fazer uma rigorosa e diligente inquirição, constataria que ela havia sido exposta, e caso isso assim não se provasse, ele estaria feliz em permanecer diante do Portão todos os dias de sua vida. Então implorou da mais humilde maneira que, sob risco de seu Corpo e de sua Vida, lhe pudesse ser permitido estar presente na Ceia desta Noite, ele teria boas esperanças de fazer o reconhecimento do exato Ofensor e obter sua desejada liberdade. Isto foi expressa e elegantemente indicado, pelo que pude bem perceber sua habilidade, mas era demasiadamente lancinante para mim, e eu bem poderia ter permanecido sem nunca tê-la lido. Agora, eu estava calculando em minha mente se ele poderia por acaso ser ajudado através de meu desejo, assim, perguntei ao Rei se ele não poderia ser libertado de alguma outra maneira: Não, respondeu o Rei, porque há uma consideração especial na questão. Contudo, por esta noite podemos bem gratificá-lo em seu desejo; assim, enviou alguém para mandá-lo entrar. Entrementes, as Mesas foram preparadas em uma Sala espaçosa, na qual nunca havíamos antes estado, a qual era tão completa e de tal maneira concebida que não me é possível nem mesmo começar a descrevê-la. Para dentro dela fomos conduzidos com singular Pompa e Cerimônia. O Cupido não estava presente nesta ocasião. Pois (como fui informado) a desgraça que havia acontecido com sua Mãe o havia de certa forma irritado. Em resumo, minha ofensa e a Petição que foi proferida eram uma ocasião de muita tristeza, pois o Rei estava com dificuldades em como fazer uma inquirição entre seus Convidados, e mais ainda porque desta forma mesmo eles também, que ainda desconheciam o assunto, viriam a saber acerca dele. Assim, ele fez com que o próprio Porteiro, que já havia chegado, fizesse sua severa inspeção e se mostrasse tão agradável quanto fosse capaz. Seja como for, finalmente eles começaram novamente a ficar alegres e a falar entre si acerca de todos os tipos de conversas recreativas e úteis. Agora, como o tratamento e outras Cerimônias foram então executados, não é necessário declarar, uma vez que não é de interesse do Leitor, nem útil para meu intento. Mas tudo excedia mais em arte e em inventividade humana do tanto que estávamos saturados de beber. E esta foi a última e mais nobre Refeição na qual estive presente. Depois do Banquete, as mesas foram subitamente levadas embora e determinadas curiosas cadeiras foram colocadas ao redor em círculo, nas quais nós, juntamente com o Rei e com a Rainha, ambos os seus velhos Homens, as Senhoras e as Virgens, éramos para nos sentar. Após o que um bastante elegante Pajem abriu o acima mencionado glorioso pequeno Livro, quando Atlas, colocando-se imediatamente no meio, começou a falar para nós acerca do propósito subsequente. Que sua Majestade Real não havia ainda confiado ao esquecimento o serviço que lhe havíamos prestado, e quão cuidadosamente havíamos executado nosso dever, e, portanto, como forma de retribuição havia elegido todos e cada um como Cavaleiros da Pedra Áurea. Que era, portanto, adicionalmente necessário não apenas mais uma vez nos obrigarmos à sua Majestade Real, mas também jurarmos os seguintes Artigos, e assim sua Majestade Real saberia da mesma maneira como se comportar em relação às suas Pessoas leais. Ao que fez com que o Pajem lesse do princípio ao fim os Artigos, que eram estes:

I. Vós, meus Senhores Cavaleiros, devereis jurar que em nenhuma ocasião atribuireis vossa ordem a qualquer Demônio ou Espírito, mas somente a Deus, vosso Criador e à Natureza, sua criada.

II. Que Abominareis toda Devassidão, Imoralidade e Imundice, e não aviltareis vossa ordem com tais Vícios.

III. Que através de vossos Talentos estareis prontos para auxiliar todos que sejam dignos e que tenham deles necessidade.

IV. Que não desejareis empregar esta honra para Orgulho mundano e Autoridade arrogante.

V. Que não devereis desejar viver por mais tempo que Deus queira .

Neste último Artigo, não pudemos evitar rir suficientemente, e pode ser que ele tenha sido colocado depois dos demais somente por chiste. Agora, tendo de jurá-los todos pelo Cetro do Rei, fomos mais tarde com as Cerimônias usuais instalados Cavaleiros, e dentre outros Privilégios nos assentarmos sobre a Ignorância, a Pobreza e a Doença, para lidarmos com elas como nos aprouvesse. E isto foi mais tarde ratificado em uma pequena Capela (para onde fomos conduzidos em completa Procissão), e agradecimentos foram retribuídos a Deus por isso. Onde eu também naquela ocasião para honra de Deus pendurei meu Tosão de Ouro e meu Chapéu, e lá os deixei como um eterno memorial. E porque todos lá estavam para escrever seu Nome, eu desta forma escrevi:

Summa Scientia nihil Scire,
Fr. CHRISTIANUS ROSENCREUTZ.
Eques aurei Lapidis.
Anno. 1459. 

Outros escreveram de outra maneira, e verdadeiramente cada um como lhe parecia bom. Após o que fomos novamente levados para dentro do Salão, onde tendo nos sentado, fomos advertidos a rapidamente refletirmos sobre o que cada um de nós desejaria. Mas o Rei e seu grupo se recolheram para um pequeno Gabinete para lá ouvirem nossos desejos. Agora, cada homem foi chamado a entrar individualmente, de forma que não posso falar do desejo próprio de cada homem; considerei que nada poderia ser mais digno de louvor do que, em honra de minha ordem, demonstrar alguma louvável virtude. E constatei também que, no momento, nenhuma eu considerava ser mais famosa e custar-me mais Problemas do que a Gratidão. Pelo que não considerando que bem poderia ter desejado algo mais importante e agradável para mim mesmo, eu me contive e concluí, mesmo em meu próprio perigo, a libertar o Porteiro, meu Benfeitor. Pelo que sendo agora chamado a entrar, foi-me primeiro de tudo perguntado se, tendo lido a petição, eu não havia nada observado ou suspeitado com relação ao ofensor? Ao que comecei destemidamente a relatar como toda a questão havia ocorrido. Como por Ignorância eu incorrera naquele erro, e assim me ofereci a sofrer tudo o que havia por meio disso desmerecido. O Rei e os demais Senhores se surpreenderam enormemente com tão inesperada confissão, e assim disseram-me para colocar-me de lado um pouco. Agora, tão logo fui chamado a entrar novamente, Atlas declarou-me que embora fosse doloroso para sua Majestade o Rei, que eu, a quem ele amava acima dos outros, houvesse caído em tal infortúnio, contudo, porque não lhe era possível Transgredir seus antigos costumes; ele não sabia como de outra maneira me absolver, mas que o outro deveria ser colocado em Liberdade, e eu colocado em seu lugar; entretanto esperava ele que algum outro fosse logo detido, de forma que eu pudesse ser capaz de ir novamente para casa. Entretanto, nenhuma libertação deveria ser esperada até a Festa de Casamento de seu futuro Filho. Esta Sentença havia quase custado minha vida, e eu inicialmente me odiei e à minha Língua tagarela, em que não consegui manter minha calma, mas por fim tomei coragem e porque considerei que não havia remédio, relatei como esse Porteiro havia me concedido uma insígnia e me recomendado ao outro, com cujo auxílio permaneci na Balança, e assim fui feito coparticipante de toda honra e alegria já recebida. E, portanto, era agora apenas justo que eu devesse me mostrar grato ao meu Benfeitor, e porque o mesmo não pudesse de nenhuma outra maneira ser feito, retribuí agradecimentos pela sentença, e estava alegremente desejando suprir qualquer inconveniente no interesse dele, que havia sido útil a mim para que eu chegasse a tão elevada posição. Mas se por meu desejo algo pudesse ser efetivado, eu desejaria ir para casa novamente, e que assim ele através de mim e eu através de meu desejo pudéssemos estar em Liberdade. A resposta foi-me dada de que o desejo não se estendia tanto. Contudo, eu poderia bem desejar que ele fosse libertado. Além disso, foi bastante agradável para sua Majestade Real que eu tivesse aqui me comportado tão generosamente, mas ele temia que eu ainda pudesse desconhecer em qual miserável condição eu me havia lançado em função desta minha curiosidade. Depois disto o bom homem foi declarado livre, e eu com um coração triste fui obrigado a chegar-me para o lado. Depois de mim, os demais também foram chamados, e saíram de novo jucundamente, o que foi ainda mais para minha dor, pois nada mais imaginei a não ser que deveria terminar minha vida sob o Portão. Tive também muitos pensamentos pesarosos percorrendo minha Cabeça acerca do que deveria ainda empreender e por meio do que despender o tempo, e por fim considerei que estava agora velho e, de acordo com o curso da natureza, tinha poucos anos mais para viver: E que esta angustiante e melancólica Vida facilmente me despacharia, e então meu trabalho de porteiro chegaria ao fim: E que por um muitíssimo feliz Sono eu poderia rapidamente me levar à Cova. Tive vários desses pensamentos, Às vezes me aborrecia que tivesse visto tais coisas grandiosas e devesse delas ser privado. Às vezes me alegrava que ainda antes de meu fim eu tivesse sido aceito para ter toda alegria, e não devesse ser forçado tão vergonhosamente a partir. Este foi o último e o pior choque que experimentei; Durante estas minha Cogitações os demais se aprontaram. Ao que, depois de terem recebido um boa noite do Rei e dos Senhores, cada um foi conduzido para seu Alojamento. Mas eu, um muitíssimo desditoso Homem, não tinha ninguém para me mostrar o caminho, e ainda deveria, além disso, padecer ser atormentado; e para que devesse estar certo de minha futura função, fui obrigado a colocar o Anel, que o outro havia anteriormente usado. Finalmente, o Rei me aconselhou que uma vez que esta era agora a última vez que eu provavelmente o veria desta maneira, deveria, contudo, me comportar de acordo com meu lugar, e não contra a ordem: Ao que ele me tomou também em seus Braços, e me beijou, tudo o que compreendi, como se pela manhã devesse me sentar em meu Portão. Agora, depois que todos tinham conversado amigavelmente um pouco comigo, e por fim me dado as Mãos, confiando-me à proteção divina: fui, por ambos os velhos Homens, o Senhor da Torre e Atlas, conduzido para dentro de um Aposento glorioso, no qual estavam três Camas, e cada um de nós se deitou em uma delas, onde ainda despendemos quase dois, &tc.

Aqui estão faltando cerca de duas Folhas in-quarto, e ele (o Autor disto) considerando que imaginou que deveria pela manhã ser o Porteiro, retornou para casa.

FINIS.




Jacques Bergier - Melquisedeque

  Melquisedeque aparece pela primeira vez no livro Gênese, na Bíblia. Lá está escrito: “E Melquisedeque, rei de Salem, trouxe pão e vinho. E...