quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Maçonaria - A Estrela Flamejante

 

Nos muitos graus maçónicos diversas estrelas são símbolos comuns e generalizados, e tal aplicação tem origem na escola dos pitagóricos, que as tomavam como figuras geométricas representativas dos “emblemas de perfeição”, ou outra modalidade de “progresso moral”.

Em numerologia, o número cinco do companheiro Maçom é composto pela “soma” dos:

Número Dois = representando dualidade, contraste e conflito, confrontando os dois extremos de cada valor: bem / mal, certo / errado, céu / inferno, espiritualidade / materialidade, sabedoria / ignorância e etc.;
Número Três= representa também “equilíbrio e estabilidade”
Nesta simbologia, o integrante conhece os seus principais símbolos, e destaca-se como dos mais importantes a Estrela Flamejante.

A Estrela é revelada na colação do Grau, sendo esta “Estrela Misteriosa” um dos símbolos ou emblemas mais interessantes, cujo emprego é muito frequente na ordem; e, além de compor diversos graus, especialmente o segundo a considera uma característica distintiva.

A Estrela de cinco Pontas, que irradia “raios flamígeros” e detém no centro a letra G, representa este segundo Grau, e o Espírito Animador do Universo, ou seja, o princípio de toda a sabedoria e o poder gerador da Natureza. Com a letra G no centro, esta estrela ou Pentalfa de Pitágoras, ainda representa para a Ordem os Cinco Pontos da Perfeição, ou seja:

Força,
Beleza,
Sabedoria,
Virtude e
Caridade

Brilhante, de cinco pontas, flamante, flamejante, flamígera, dos Herméticos, hominal (de humana), ígnea (em chamas), da iniciação, luminosa, dos magos, do oriente, pentáculo, pentagonal, pentagrama, pentalfa, polar, quinária, rutilante, tríplico triângulo cruzado, e etc.;

Por ter a Maçonaria uma “estrutura simbólica e ritualística”, reconhece heranças de muitas tradições e culturas, que contactou por longo tempo, sobretudo no referente aos Símbolos Cosmogónicos – quanto a Criação e origem do Universo, relativos a construção.

A tradição egípcia, a mais antiga, modernamente, mereceu destaque dos autores maçónicos, pois o antigo Egipto é considerado um dos Centros Sagrados da Humanidade; donde surgiu muito saber, influenciando os filósofos gregos na concepção do Mundo.

Segundo os escritores, a herança egípcia chega a Ordem, fundamentalmente, pela Alquimia e pelo Pitagorismo, pois os Pitagóricos viam a Estrela Flamejante representar sabedoria e conhecimento.

O autor Theobaldo Varolli Fº afirma que a Estrela Flamejante, como símbolo maçónico, é de origem Pitagórica, e os seus sentidos mágico, alquímico e cabalístico, além da denominação de Estrela Flamejante e de cinco pontas, foi copiada por Enrique Cornélio Agrippa de Neteshein, nascido em Colónia em 1486, e falecido em 1533, um jurista, médico, teólogo e professor, e estudioso, praticante e também dedicado a magia, alquimia e filosofia da Cabala.

E ainda, porque também outros autores admitem ser a Estrela Flamejante de ordem Pitagórica, caberia breves citações de Pitágoras, grande pensador e matemático, que viveu na Grécia, cinco séculos antes de Cristo; destacou-se como filósofo, geómetra e moralista; e o seu nome consta com excepcional destaque na história da Matemática

Pitágoras ainda jovem ficou alguns anos no Egipto, onde frequentou os Templos aprendendo com os Sacerdotes; e pela convivência com estes Sacerdotes, foi orientado a se iniciar no estudo das Ciências Ocultas, quando aprendeu as Regras do Cálculo; sobre a Magia Egípcia chegou a conhecer os seus recursos e artifícios.

Por isso, quando regressa a Grécia, já cercado por muita fama, carregava a reputação de se ter tornado sábio, e dotado de estranho poder, capaz de revelar aos homens todas as fases da vida e os segredos inatingíveis das coisas.

Então ensinava os seus fiéis discípulos e seguidores, que os números eram os governantes do mundo; e que por isso, os fenómenos recorrentes na “Terra, Ar, Fogo ou Água” podiam ser expressos, avaliados e previstos, por intermédio dos números. Finalmente, para Pitágoras o número “não” era considerado uma qualidade abstracta, mas uma “intrínseca virtude ética do Supremo, de Deus, e origem da Harmonia Universal.

O Símbolo da Estrela de Cinco Pontas, sendo-lhe atribuído diversos significados, é encontrado desde as milenares culturas egípcias, hebraica, greco-romana, romano – cristão e chinesa, como também nos estudos da Cabala, Numerologia e Tarô, e principalmente, na Escola Pitagórica.

Filosofia
A Filosofia dos contrastes da Vida e do Tempo pertence ao grau de companheiro Maçom, e assim, como afirma o estudioso e autor Theobaldo Varoli Fº:

“A Simbologia Maçónica foi criada com inspirações no passado e no presente, com o propósito de demonstrar a ‘evolução do pensamento’ no caminho para a ‘síntese humanística’, e compreensão da ‘grande síntese’.”

A Maçonaria, ao instruir que a Pedra Bruta seja transformada em Cúbica, ensina ao Iniciado que deve lutar com eficácia e sem trégua, pelo domínio de si mesmo, e instar o seu ego a permanecer sob absoluto controle; tanto que o filósofo Leibniz, do século XVIII, já dizia:

“Só Deus é perfeitamente livre. As criaturas o serão, mais ou menos, na medida em que se coloquem acima das Paixões”

Neste Segundo Grau o Integrante não trabalhará mais de forma vacilante e insegura, por causa do longo período de intercorrência da aprendizagem, mas ao contrário, utilizará a Filosofia e a Ciência das Coisas Materiais, caminhando agora por meio de passos mais firmes e seguros, baseados nos marcantes ensinamentos da Moral das virtudes adquiridas no Grau anterior.

Assimilados os conhecimentos do Primeiro Grau, O Aprendiz estudioso e trabalhador, caso escolha trilhar esse caminho, certamente estará apto, guiado pelos seus Mestres, a se Elevar na Escada de Jacob, símbolo da Evolução e Progresso na hierarquia do simbolismo maçónico, atingindo-se então o Segundo Degrau, do Grau de Companheiro Maçom.

E, neste Grau de Companheiro, são novamente utilizados os símbolos conhecidos enquanto aprendiz, e a esses conhecimentos é acrescida nova simbologia, para que, por meio da mesma, possa o Integrante caminhar com muito mais precisão do Ocidente ao Oriente, em direcção a Luz.

No trajecto será possível, além de se aprimorar, servir de exemplo ao Aprendiz, ao mostrar: “assiduidade em loja, aprimoramento Moral / Intelectual, prática incessante da tolerância, etc.;”

No Grau de Aprendiz, primeiro estágio evolutivo do Maçom, com a estrela sendo exposta como um símbolo, a sua iluminação artificial permanece “apagada” em Loja, significando o fraco poder de Luz que tem os Aprendizes; já no Grau de Companheiro, o integrante participa de um novo estágio evolutivo, e então a Estrela fica “Iluminada” na Oficina, denotando que o Maçom passa a possuir Luz própria, e que também agora é detentor de muita capacidade de irradiação.

Mesmo se originando do Sol, a Luz irradiada pela Estrela também é remetida a Lua, ou seja, simboliza a inteligência ou compreensão a interferir igualmente sobre a razão e imaginação; e em loja do Segundo Grau o Compasso e o Esquadro também se mostram entrelaçados, porém, representando o “Equilíbrio” entre “Matéria e Espírito”, e a sobreposição desses dois elementos sugere a formação de uma Estrela.

O ponto central da Estrela representa as “Faculdades Intelectuais” dominantes dos quatro elementos componentes da matéria, ou o Quaternário dos Elementos: Fogo, Água, Terra e Ar.

Assim, tendo a Estrela Flamejante como principal símbolo do Companheiro, este integrante será convidado a se tornar um “fogo ardente, isto é, uma fonte de luz e calor”

Apesar do simbolismo da Estrela mostrar muitas implicações, nem todas são reveladas, pois a descoberta depende do crescimento do Companheiro, pelo esforço e desenvolvimento espiritual.

O Grau de Companheiro Maçom é do “trabalho, estudo, e aperfeiçoamento intelectual e moral”, e que simbolicamente encontra apoio também na Alavanca, apoio que pode ser traduzido por “trabalho verdadeiro e esforço íntimo”, cujo objectivo é atingir o conhecimento, que por sua vez, será a base das “forças psíquicas e mentais” para atingir a espiritualidade.

Simbolicamente, o companheiro tem cinco anos de idade; e analogamente, são cinco as Colunas de Arquitectura representativas da Ordem: “Coríntia, Dórica, Jónica, Compósita e Toscana”, significando a Evolução, porém sem destruir as Leis ou Regras de Harmonia e Beleza, E desenvolver as Artes e Ciências com os cinco sentidos, concordante com as Leis Divinas, indiscutivelmente contribuirá ao desenvolvimento do “sexto – sentido”; desse modo, poder-se-ia também considerar que a Estrela seria o resumo da “luta da evolução humana”, caracterizada por ser “dual”, pois contém a Lei da Dualidade, ou Intenção.

O número cinco ao qual a Estrela faz alusão alegórica e simbolicamente se funde na alma do companheiro Maçom, permitindo que guie a sua própria vida, tanto absorvendo a luz quanto despertando “saber, compreensão e realização”.

Aos Maçons em geral, a Estrela também simboliza o: “Génio que eleva a Alma a Supremas Tarefas, emblema da Divindade, e iluminação e boa vontade, espírito animador do Universo, princípio da sabedoria, gerador da Natureza, Estrela luminosa da Maçonaria, Luz que Ilumina os discípulos, símbolo dos livres-pensadores, eterna vigilância e protecção do G∴A∴D∴U∴.

A Estrela alerta o Maçom sobre o seu auto melhoramento, e não o domínio por nenhuma paixão, evitando todo excesso; logo, deve distinguir as diferenças entre “sentimento, paixão e emoção”, pois paixão é inadmissível ao Maçom, e por ser perigosa deve ser afastada, pois é irracional e conduz ao inadequado e inconveniente fanatismo; assim em resumo tudo pode ser expresso numa única palavra “virtude”, definida: “a disposição interior que leva a alma humana a harmonizar-se em si”, e a prática da virtude consiste em: “anular as paixões e superar o próprio EGO”.

A Estrela de cinco pontas, sendo a estrela do Oriente ou da Iniciação, é o símbolo do Homem Perfeito, da Humanidade plena de concordância entre Pai e Filho; e além disso, representa o Homem nos seus cinco aspectos principais; ou seja: “Físico, Emocional, Mental, Intuitivo e Espiritual”, Homem este realizado e uno com o G∴A∴D∴U∴, de braços abertos, não demonstra viril brutalidade, pois dominou as suas paixões e emoções.

Se o Quadrado e a Cruz ao simbolizarem, respectivamente, a Criação e a Manifestação Universal, e se cada uma das figuras for implantado um “ponto central”, esse significaria a razão de ser, e a representação do : “Oculto e Interno – e – Esotérico e Essência Única”, origem e destino de todo Manifestado; no caso da construção piramidal de base quadrada, aquele “ponto central”, tido como quinto ponto, é o centro da base que se eleva verticalmente ao vértice da pirâmide, buscando a “união ao plano celeste”.

O Homem detém os cinco sentidos físicos, mas ao mesmo tempo deve atingir o conhecimento dos demais “sentidos internos”, que precisa desenvolver sem perder a sua base filosófica.

Magia
Sendo a Maçonaria uma obra de Luz, nos ritos que a adoptam, a Estrela assume a posição normal, com uma das pontas voltadas para cima, sendo também denominada Estrela Hominal, onde, onde se inscreve a figura de um Homem. Assim, é vista como símbolo das qualidades espirituais Humana; e, em Magia, seguindo este posicionamento, significa TEURGIA. Já em posição invertida, com a ponta voltada para baixo, ou ainda, a de uma “cabeça de bode”, representando, em ambos os casos, os atributos da materialidade e animalidade; e, em Magia, nessa posição significa GOÉCIA.

A Estrela de cinco pontas, ou como dito o tríplico triangulo cruzado, é originalmente um símbolo da Magia, tanto que sempre consta de vários Cerimoniais Ritualísticos; assim, em Magia, conforme a orientação da Estrela, pode acompanhar as operações tanto de Magia Branca, quanto da Magia Negra; então quanto ao posicionamento da Estrela antes mostrado, pode estar com o:

Extremo Isolado (ponta) para cima, e dois para baixo – significa TEURGIA, conclama influências celestiais, e pelo poder mágico apoia o invocador. TEURGIA = também denominada Magia Branca, e em essência, a Arte de fazer milagres, constitui-se do segmento da Magia das “influências benéficas”, e de como invocá-las; refere-se também as obras que envolvem o amor e o bem, e como investiga, em especial, os factos elevados da Magia, que dependem do mundo angelical, dá ao Homem meios de se comunicar com as ditas potências celestes. Os textos bíblicos mostram muitos exemplos de TEURGIA.
Inscreve-se a figura de um homem, denominada Estrela Hominal, como símbolo das “altas qualidades espirituais humanas”; sendo, a ponta para cima – cabeça, duas para baixo – pernas, e duas para os lados – braços, exprimindo a “Natureza Humana”, Mestre, Claridade e Bem. A matriz do Homem Cósmico, o esquema simbólico do mesmo na medida do Universo, com braços e pernas esticados no microcosmo humano. E, como os membros executam o que a cabeça comanda, a estrela pentagonal é também o símbolo da vontade soberana; a qual nada poderia resistir, caracterizando-se por ter Poder inquebrantável, desinteressado e judicioso. Além dos cinco sentidos que estabelecem a comunicação da vida material: “tacto, audição, visão, olfacto e paladar”, concluindo representa que: A Matéria é superada pela sobreposição do Espírito, pois a cabeça do Homem está voltada ao Celeste.

Extremo Isolado (ponta) para baixo, e dois para cima – significa GOÉCIA, que pela intenção do Mago, pode atrair influências astrais maléficas. Goécia = Arte de realizar malefícios e encantamentos, e também chamada de Magia Negra – Nigromancia – e Feitiçaria, é a antítese da Teurgia que se dedica as obras da Luz, enquanto é dedicada às das Trevas. É a parte experimental da Magia referente aos poderes que o Homem desenvolve em si, por determinados processos, todas as figuras, e que representa a tríplice unidade, isto é, o símbolo do Eterno.
Inscreve-se nas suas cinco pontas a figura de um homem de cabeça para baixo, ou a cabeça de um bode, representando em ambos casos, os: “atributos da animalidade e da materialidade, um anjo caído, a escuridão e o mal”; e além de ser o símbolo base da magia negra, representa que: A matéria supera ou prevalece sobre o Espírito, pois a cabeça do Homem está voltada para a terra;

Assim, de constatar que, principalmente a Estrela representa como dito: “A Luz interior de todos os dotados da Luz Divina que lhe foi transmitida, e a Força que impulsiona o Companheiro na direcção das suas metas, e ao domínio que pode exercer sobre as entidades do astral”; enquanto isso a TEURGIA ensina-o a se relacionar com os “planos da superiores da espiritualidade”, abrindo caminho para os “grandes mistérios do esoterismo”

No caso de Magia, a missão principal da Estrela Pentagonal é a de testemunhar a Obra que está sendo realizada, a saber:

Se for uma “obra de Luz”, a ponta única da estrela estará voltada para cima; e se for uma “acção das trevas”, a ponta única da Estrela estará invertida.

No Consenso geral, tornou-se um dos ornamentos do Templo que transmite a “ideia de glória”, estilizada nos eu resplandecer, e assim ostentada na Loja de Companheiro a conservar a tradição, convencionando o símbolo como da imensa e inalterável gama de ensinamentos, e por isso, como uma lição maior pontifica a “solidariedade e o respeito mútuo”; além disso, há outras lições a lembrar as bases a serem adoptadas pelas agremiações Humanas, dispostas a culminar a “Empreitada de Progresso”; e dentre essas bases merece a citação especial a “solidariedade”.

Como demonstrado, a Estrela Flamejante é dos mais importantes e significativos “símbolos maçónicos”, transmitindo e demonstrando ser:

Uma rica fonte de simbolismo na trajectória do iniciado; e
Uma fonte inesgotável de ensinamentos a ser aproveitada sem interrupções; pois só assim a evolução tão almejada propiciará que o Maçom ingresse na Câmara-do-Meio, com vistas à conquista do Mestrado.
A generosidade destes sentimentos incitará o Maçom ao devotamento sem reservas, que com discernimento da sua inteligência, em verdade esclarecida, a tornará aberta a todas as compreensões; desta maneira, pode-se concordar com a máxima popular de que:

“Quem não vive para servir, é certo que não serve para viver”

E, caminhando em direcção à perfeição, o Companheiro Maçom supera o seu estágio de desenvolvimento e obscuridade, quando então é atingido o seu “estado de espiritualidade e iluminação”, tendo as trevas interiores dissipadas, e assim, o astro humano – traduzido pela Estrela, passa a brilhar no seu resplendor mais latente.

Por Isso, a Estrela é um “símbolo do plano subjectivo”, pois é o fogo interno, ardor que o companheiro deve dispor interiormente, para queimar todas as oposições e aspectos negativos do seu ser.

Finalmente para a Maçonaria o “Sol, a lua e a Estrela” tem significações bem diferentes das atribuídas no Mundo Profano, até porque, as Luzes cultuadas na Instituição proporcionam outra visão mais abrangente, e de muito maior valor intrínseco para a vida, pois iluminam a estrada da existência, mental e espiritualmente!


Referências bibliográficas
Maçonaria 50 Instruções de Companheiro – Raimundo D’elia Junior
Do Companheiro e seus Mistérios – Dr. Jorge Adoum
Dogma e Ritual da Alta Magia. – LEVI, Eliphas.
Manual do Companheiro Maçom – Aldo Lavagnini
O Companheirismo Maçónico – Rizzardo da Camino
Instruções do Simbolismo Maçónico – Lemss, C. C.
René Guénon – Estudos sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo – Comunidade Teúrgica Portuguesa
Ritual – R.E.A.A. – 2º Grau – Companheiro Maçom

Maçonaria - Cavaleiro Eleito dos Quinze

 

A lenda do grau
Cada grau da Loja Capitular tem um título que ilustra o conjunto de conhecimentos iniciáticos que serão ministrados ao Irmão elevado. O grau dez é chamado O Cavaleiro Eleito dos Quinze, pois da mesma forma que os graus anteriores ele trabalha com alegorias baseadas no simbolismo da Lenda de Hiram Abiff, esclarecendo o destino e o castigo dado aos outros dois Jubelos, já que no grau nove, como vimos, um deles foi morto por Johaben. O grau dez tanto pode ser ministrado por comunicação como por elevação. Depende do desenvolvimento curricular de cada Loja. De forma geral, tem como finalidade didáctica desenvolver os seguintes ensinamentos:

Promover o desenvolvimento moral e espiritual do iniciado, para que ele seja devidamente integrado no seio da sociedade a quem serve, e reconhecido pela Fraternidade ao qual pertence.
Promover o estudo das relações humanas e a melhor forma de implantá-las, tanto internamente, na Ordem, como no mundo profano, em relação à sociedade.
Reforçar o espírito de vigilância, como foi pregado no grau anterior.
Como se verá, é no grau dez que será esclarecido o destino dos outros dois Jubelos. A lenda diz que seis meses depois da morte do primeiro assassino, cujo nome era Abiram, Salomão foi informado por um estrangeiro de nome BenGaber, do paradeiro daqueles assassinos. Eles estavam escondidos no país de Gheth, trabalhando numa pedreira. Imediatamente, Salomão convocou quinze Mestres, entre os quais os nove anteriormente eleitos, e os enviou em embaixada, sob o comando de Zerbal, com uma carta ao rei daquele país, solicitando a prisão e a deportação dos criminosos.

Presos os criminosos, foram eles sentenciados e executados. A iniciação neste grau é uma representação dessa acção, onde novamente se destaca que a sentença proferida e a execução realizada não tiveram carácter de vingança, mas sim como realização da Justiça. Esta disposição está contida no diálogo mantido entre o M∴ IL∴ M∴ e Zerbal:

Que sucedeu depois? Pergunta o M∴ IL∴ M∴, Por ventura fizestes justiça com as próprias mãos? Pois as evidências que apresentais, trazendo os instrumentos usados pelos criminosos na prática do crime, levam-me a esta suspeita.

Responde Zerbal: – Não, M∴ IL∴ M∴, vossa suspeita não é verdadeira. Nós o trouxemos e os colocamos no cárcere, em celas separadas, e dali saíram para enfrentar os juízes no Tribunal. Tiveram um julgamento justo e foram considerados culpados, sendo então executada a sentença contra eles proferida. Por fim, as suas cabeças foram decepadas e espetadas nas portas da cidade, para servir de exemplo a outros malfeitores. Os instrumentos por eles usados – o Esquadro e a Régua – aqui estão.

O ensinamento inscrito nesta alegoria é claro: Justiça sim, vingança nunca. Isto porque a justiça é a recompensa que se dá como paga a um comportamento, seja ele mau ou bom, conforme a valoração que a sociedade lhe dá. Se a determinado comportamento, extremamente ofensivo, impossível de ser recomposto pelos violadores, se dá a morte como recompensa por este acto, esta é a justiça que aquela sociedade definiu para tal caso. A pena de morte, nesse caso, é a forma de Justiça que aquela sociedade elegeu e não cabe a outras pessoas, além dos membros daquela sociedade, discutir se ela é justa ou não.

É claro que a nível conceitual, justamente por se tratar de conceitos, este é um assunto que merece reflexão. No actual estágio da sociedade é altamente duvidoso que a morte do violador se possa constituir em recompensa eficaz para devolver o equilíbrio da ordem violada. E esta é a diferença que vemos entre a Justiça , como forma de recomposição do equilíbrio da ordem violada e a vingança. Esta última, ditada exclusivamente pelo ódio, constitui exercício arbitrário da razão do ofendido, aplicada sem nenhum critério, sem nenhuma análise e sem nenhum sentido moralizador. Daí esta pena, como forma de recompensa pelo mal feito, acaba equiparando-se ao próprio crime que visava punir. Todavia, nas primeiras etapas do desenvolvimento das sociedades humanas, a pena de morte, conhecida como “Pena de Talião” era aceita e reconhecida como eficaz para recompor a ordem social violada.

A inspiração cavalheira da lenda
A finalidade da lenda do grau tem por objectivo demonstrar que não se fere impunemente a ordem social, nem se pratica crimes contra a pessoa, contra natureza ou contra a sociedade, sem que advenha o devido castigo. Há sempre uma punição, cedo ou tarde.

A Loja do grau dez é presidida pelo Três Vezes Poderoso Mestre. Após ter sido cumprida a missão para a qual foram eleitos, os quinze mestres recebem o titulo de Cavaleiros Eleitos dos Quinze, o que mostra, pelo menos na forma de elevação, uma certa influência das regras da Cavalaria medieval, onde os cavaleiros obtinham distinções por serviços prestados ao suserano. Esta influência faz-se sentir também no juramento prestado pelos Mestres elevados, que ao receberem o título do grau, juram “perante o Grande Arquitecto do Universo e na presença de todos os irmãos, sob a Abóbada de Aço, feita tanto para proteger o leal, como para castigar o perjuro, defender a causa dos oprimidos contra os opressores”. Juram também ser os “paladinos da tolerância contra a intransigência, a manter intacta a instituição maçónica, em qualquer ocasião, quer directa quer indirectamente. Prometem guardar no coração tudo o que se passou naquela cerimónia e não revelar os segredos que lhe foram confiados”.

Evidentemente um juramento deste escopo não caberia no tempo do Rei Salomão. Juramentos desse tipo eram comuns, no entanto, nas Ordens de Cavalaria medieval, onde o cavaleiro tinha que ser sempre uma espécie de herói a serviço da humanidade, socorrendo os fracos e os oprimidos, galante, corajoso e forte, além de fiel e leal ao seu suserano e à instituição a qual servia, ou seja, a Santa Madre Igreja.

Esta visão confirma-se no encerramento do cerimonial de elevação do grau, quando o Presidente da Loja, acompanhado dos Vigilantes e do Orador, desembainham as espadas e as erguem sobre a cabeça dos Mestres elevados, exactamente como se fazia nas antigas cerimónias destinadas a armar ou honrar com comendas e distinções os antigos cavaleiros medievais.

As cabeças decepadas dos Jubelos, encimando as figuras de uma régua, um esquadro e um malho, sugerem ao iniciado que a conduta do Maçom deve ser recta como uma régua, equilibrada como um esquadro e firme como um malho. Que todo crime será punido, pois o céu nos julga e o castigo para os criminosos é certo. Por isto é que o sinal do grau lembra a acção de encostar um punhal na garganta de alguém. Este é um sinal que denota a acção punitiva a que estão sujeitos todos os violadores da lei, todos os criminosos, todos os infiéis. Esta liturgia, por certo, evoca também a execução de Jacques de Molay, último Grão Mestre da Ordem dos Templários, pois segundo a tradição, os responsáveis pela sua execução teriam sido todos punidos de uma forma bastante misteriosa [1].

A verdadeira justiça
A missão dos Mestres Eleitos dos Quinze é igual à dos Mestres Eleitos dos Doze: justiçar os assassinos e não promover vingança. Isto porque, para distribuir justiça não é necessário somente saber distinguir o bem do mal, mas também ter a coragem de aplicar as medidas necessárias para separar um do outro. Jesus dizia que se a nossa justiça não fosse capaz de exceder aquela praticada pelos escribas e fariseus, então eles não teriam aprendido nada do que ele lhes tinha ensinado. Esta é uma grande verdade, porquanto os escribas e fariseus aplicavam os códigos, interpretando as leis à sua própria maneira, fazendo delas uma forma de ganhar a vida e não um exercício de distribuição de justiça. Por isso Jesus, ao instruir os seus discípulos para o exercício da missão evangélica, lhes recomendou que atendessem primeiro às próprias famílias, (isto é, que praticassem a irmandade); que fossem desapegados dos bens materiais e ganhassem o pão de cada dia com o seu trabalho (valoração do trabalho, condenação da ambição desmedida); que não se importassem com aqueles que não os respeitam (sacudindo o pó das sandálias); que fossem simples como pombas e prudentes como serpentes (pois o mundo é feito de lobos e cordeiros e cada um cumpre uma missão na natureza). Parece até que Jesus estava descrevendo o que Maçonaria se proporia a pregar dezassete séculos mais tarde, pois esses são exactamente os postulados que a Ordem propaga no seu catecismo curricular.

Cabe ao iniciado na Arte Real, como Eleito dos Quinze, discernir todas estas coisas. Quem merece ser castigado deve ser castigado. Quem merece ser premiado deve ser premiado. Em todo o desenvolvimento do catecismo maçónico, referente aos chamados graus de justiça, o que se tenta transmitir é exactamente uma ideia de regeneração psíquica do homem, através de uma reforma moral nos seus pensamentos e nos seus costumes, reforma esta alcançável através da prática das virtudes maçónicas.

Este renascimento equivale ao conhecimento do que é a verdadeira justiça e a sua execução. E nesse conceito estão integradas várias outras questões morais de grande importância, como equidade, critério, parcimónia, discernimento, piedade etc.

Apenas o ensinamento das Lojas Simbólicas não é suficiente para se atingir esse objectivo, pois o que acontece nesse nível é uma preparação espiritual para uma aprendizagem superior. Esta aprendizagem completa-se quando o iniciado entende que a regeneração que nele se processa, pela complementação dos graus hiramíticos, é uma “porta de entrada” para outra etapa de sabedoria, a qual lhe será conferida, ainda nas Lojas de Perfeição, através dos chamados graus salomónicos. Por isso é que, nesses graus, ele aprenderá o verdadeiro significado da palavra justiça e a forma correcta de aplicá-la [2].

João Anatalino Rodrigues

Notas
[1] Segundo uma tradição, Jacques de Molay teria profetizado a morte de Filipe IV, o Belo, e do Papa Clemente V, que foram os principais responsáveis pela dissolução da Ordem dos Templários e pela execução dos seus lideres. Estes personagens morreram misteriosamente no espaço de um ano depois da sua execução. Assim, metaforicamente, os Jubelos poderiam ser também os três cavaleiros templários que serviram de testemunhas contra a Ordem e propiciaram aos juízes da Inquisição os motivos para a sua extinção. Assim, o teatro representado no grau 10, sobre o julgamento e a execução desses personagens, pode estar a referir-se a este episódio.

[2] A Loja Simbólica equivale aos três primeiros graus (aprendiz, companheiro e mestre); o que chamamos de graus hiramíticos são aqueles que tratam do desenvolvimento iniciático da Lenda de Hiram (graus 4 a 9). Graus salomónicos os que tratam da aplicação da justiça e a organização do Estado, com alegorias inspiradas principalmente em histórias do Rei Salomão e a reconstrução de Jerusalém (Graus 10 a 14).

Maçonaria - O Rito Críptico

 

Por Rito Críptico devemos entender um conjunto de graus maçónicos praticados no Rito de York, também designado como Rito do Arco Real. O termo críptico vem de cripta, simbolismo que designa “oculto”, “secreto”, pois aqui cuida-se de preservar o mais caro dos segredos maçónicos, que é a chamada Palavra Perdida.

Nos graus anteriores do Real Arco, a ênfase foi posta na recuperação da Palavra Perdida. Este simbolismo referia-se à própria reconstrução do Templo do Rei Salomão, que tinha sido destruído pelos caldeus, e nessa destruição essa Palavra foi perdida (pois o Templo de Jerusalém era a própria Palavra, consubstanciada num edifício). Assim, a missão de Zorobabel, o Aterzata, se oficialmente era a de reconstruir Jerusalém e o seu templo, em termos espirituais era também a de recuperar a Palavra Perdida.

Por isto é que todo o desenvolvimento dos graus do Arco Real trabalha com este tema, da mesma forma que os graus filosóficos do Rito Escocês. Assim, se os maçons do Arco Real se dedicam a recuperar a Palavra Perdida, os maçons da Cripta do Arco Real dedicar-se-ão a preservá-la, para que ela não mais se perca. Desta forma, os Conselhos de Maçons Crípticos formam o corpo central do Rito de York da maçonaria livre e somente podem entrar nesse Conselho os Irmãos que já completaram o caminho do Real Arco.

A lenda explorada nesses graus refere-se a uma cripta que existiria nos porões do Templo de Jerusalém, onde Salomão teria escondido certos “tesouros” que seriam usados para propósitos específicos. Estes tesouros, provavelmente aqueles que Moisés teria encerrado na Arca da Aliança, seriam conhecimentos arcanos de especial relevância. Entre eles estaria, inclusive, o Verdadeiro Nome de Deus e a forma de pronunciá-lo, pois este era a chamada Palavra Perdida.

Diz a lenda que Salomão escolheu um grupo de mestres Maçons para formar uma guarda especial, com intuito de proteger a Cripta e os seus preciosos conteúdos. Estes eram Irmãos que já possuíam a Palavra, ou seja, simbolicamente eram maçons do Real Arco que já a conheciam. Como se tornaram guardiões da cripta dos segredos, passaram a ser chamados de Maçons da Cripta ou Crípticos. Nessa cripta, desenvolviam o trabalho das suas Lojas, cuja função era sempre o estudo das maneiras de conservar a Palavra Perdida.

Ressalte-se que no Rito Escocês esta lenda também é trabalhada, com um idêntico conteúdo e uma mesma finalidade. Nos graus filosóficos do R∴ E∴ A∴ A∴, as actividades também são desenvolvidas no sentido de “reconstruir” o Templo de Jerusalém, ou seja, recuperar o “ensinamento arcano” que Deus dera aos construtores do Templo de Jerusalém, na forma das ciências necessárias para a construção daquele edifício sagrado, que era, na verdade, um verdadeiro simulacro do universo. Esta disposição estaria nas próprias instruções que Deus teria dado a Moisés para a construção do Tabernáculo, e depois a Salomão e Adonhiram (Hiram Abiff) para a construção do Templo, que na verdade, nada mais era que o próprio Tabernáculo erigido em alvenaria. A diferença entre o Rito de York (Arco Real) e o Rito Escocês está apenas na forma em como essa estrutura simbólica é desenvolvida. Se no Arco Real, os maçons que recuperam a Palavra Perdida se tornam Maçons Crípticos, os maçons do Rito Escocês que completam os graus filosóficos tornam-se Cavaleiros Kadosh, que equivale, na simbologia do Arco Real, aos maçons da Cripta. Haja vista que os Irmãos do Rito Escocês, ao se tornarem Cavaleiros Kadosh, no grau 32, também irão penetrar na Cripta dos Grandes Filosofas, onde irão descobrir o segredo final da escalada maçónica, que se revelam nas oito colunas da sabedoria. [1]

Já no Rito de York (Arco Real), a ênfase é posta na guarda da Palavra Sagrada, que tanto poderia ser o Nome Inefável de Deus, como a sabedoria que Ele teria confiado a Moisés quando mandou este fazer a Arca da Aliança, pois na Bíblia lê-se que, além das Tábuas da Lei, Deus mandou Moisés depositar na Arca o “ testemunho que Eu hei de te dar”. [2]

Esse testemunho seria a Palavra Sagrada, ou a própria sabedoria contida nas instruções usadas pelos arquitectos do Templo de Jerusalém para construí-lo, pois nessas instruções estaria a própria fórmula pela qual Deus constrói o universo. Esta é, pelo menos, a simbologia usada pela maçonaria, que se resume no segredo da Letra G.

Os trabalhos desenvolvidos pelos maçons da Cripta ocorrem em três Graus que são chamados de Mestre Real, Mestre Escolhido e Super Excelente Mestre.

Os trabalhos dos dois primeiros graus são desenvolvidos na Cripta subterrânea sob o Templo do Rei Salomão. Já o grau de Super Excelente Mestre é conferido aos maçons crípticos como preparação para a sua elevação a Cavaleiro Templário, titulo que ele receberá ao ser-lhe conferida a Ordem da Cruz Vermelha, que constitui a sua iniciação para participar das Comendadorias dos Cavaleiros Templários. [3]

O Mestre Real é aquele que aprende a sabedoria contida na sabedoria depositada na Arca da Aliança. Aprende o por quê de toda a liturgia preconizada por Moisés para aqueles que iriam servir no Santo dos Santos. Conhece a razão de toda a ritualística prevista na Bíblia para a construção do Tabernáculo, da Arca e do Templo de Salomão, pois nessa sabedoria está a fórmula pela qual o Grande Arquitecto do Universo constrói o mundo. Este é o conhecimento essencial que um verdadeiro mestre Maçon precisa possuir. Sem esta sabedoria ele não entenderá a liturgia e a filosofia da verdadeira maçonaria. O presidente da Loja do Mestre Real é o próprio Salomão e as dignidades da Loja são personagens da sua corte.

Já o Mestre Escolhido remete-se à lenda do Secretario íntimo do Rei Salomão, também existente nos graus filosóficos do Rito Escocês. Os trabalhos desse grau são desenvolvidos na abóbada do Templo do Rei Salomão. Os acontecimentos que caracterizam o grau são bastante excitantes proporcionando-lhe grande interesse filosófico. A cerimónia ritualística contém a história que completa o “Círculo de Perfeição” da antiga Maçonaria operativa. Refere-se a um secretário de nome Joabem, que teria arriscado a própria vida para não quebrar a lealdade que ele devia ao Rei Salomão. E o grau que sobreleva, sobre todas as virtudes, a lealdade e o zelo. [4] O Super Excelente Mestre, como dissemos, está relacionado com os acontecimentos que conduziram à recuperação da Palavra perdida. Historia a destruição do primeiro templo, os motivos pelos quais isso aconteceu, a saga dos judeus para reconstruir o segundo templo e todos os esforços físicos e espirituais para que esse grande trabalho de maçonaria fosse realizado. Mostra que a destruição do primeiro templo representou a perda da Palavra e a reconstrução do segundo templo foi a recuperação da Palavra. Para que esta Sabedoria seja conservada e não mais se perca é preciso uma reconstrução moral do próprio espirito humano, no qual os seus vícios sejam substituídos por virtudes. Pois se foi a degeneração moral do povo eleito que causou a ruína, será a virtude dos novos eleitos que proporcionará a glória de uma Nova Aliança.

E de posse desses conhecimentos, o Irmão do Real Arco, agora um Maçon críptico estará em condições de receber a sua comenda como Cavaleiro Templário. [5]

João Anatalino Rodrigues

[1] Vide a nossa obra “Mestres do Universo” publicada pela Ed. Biblioteca 24×7. No Rito Escocês essa alegoria define-se pelos ensinamentos dos grandes filósofos, entendidos como sendo os mensageiros de Deus para trazer aos homens a verdadeira sabedoria. E interessante observar que aqui se percebe as diferentes concepções filosóficas que inspiraram a maçonaria especulativa nos seus primórdios. Na maçonaria do Arco Real, que provavelmente teve origem nas camadas mais conservadoras da sociedade britânica, que constituíam a aristocracia, a maioria dos maçons pertencia ao partido Torie. Estavam mais ligados à tradição cavalheiresca e por isso disseminaram nos seus ritos muita alusão a temas ligados aos cavaleiros templários e hospitalários, razão pela qual os três graus finais do Rito de York se remete às chamadas Comendadorias Templárias, numa clara remissão a essa famosa Ordem de Cavalaria. Pretende-se, com essa alegoria, fazer dos maçons do Arco Real, protectores da Cripta, os herdeiros dos segredos dos templários. Esta lenda, ainda hoje, rende muita literatura e filmes, pois os maçons americanos, praticamente os criadores do Rito do Real (ou pelo menos os seus praticantes mais efectivos) supostamente seriam hoje os guardiões do tesouro templário. Veja-se a esse propósito o filme “O Tesouro Perdido”, com Nicolas Cage e o romance “O Símbolo Perdido”, de Dan Brown. Historicamente, o Rito de York seria uma dissidência do Rito Escocês, fundado pelos jacobitas (apoiantes da família da Stuart), pois enquanto os jacobitas (praticantes do Rito Escocês) apoiavam a volta dos Stuarts ao trono inglês, os Irmãos do Real Arco, na sua maioria do partido dos Wiggs, apoiavam a Revolução Gloriosa, que colocou a Casa de Hannover no trono da Inglaterra. Ver a esse propósito a excelente obra de Frances Yates, “O Iluminismo Rosacruz”, publicada pela Ed. Cultrix.

[2] Êxodo, 25:16.

[3] Supõe-se que os Cavaleiros Templários eram detentores de verdadeiros segredos arcanos que não podiam ser revelados às pessoas comuns, pois que proporcionariam a destruição da ordem vigente. Estes cavaleiros eram também possuidores de um riquíssimo tesouro. Seria a posse desses segredos e desse tesouro que causou a extinção da Ordem e a execução dos seus líderes na fogueira. Os tais segredos nunca foram revelados e o tesouro nunca foi encontrado. A este propósito recomendamos a leitura da nossa obra “ Guerreiros da Luz”,

[4] Veja-se a nossa obra “Conhecendo a Arte Real” publicada pela Madras, os comentários sobre o desenvolvimento dessa lenda no Rito Escocês.

[5] Supostamente, este era um rito desenvolvido pelos próprios cavaleiros templários. Ver a nossa obra “Guerreiros da Luz”, já citada.

As Duas Colunas do Pórtico do Templo de Salomão

 

As colunas gémeas
As colunas no pórtico de Salomão

Arquitectónica e Maçonicamente falando, a particularidade mais importante do Templo do Rei Salomão era, sem dúvida, o par de Colunas no Pórtico. O grande espaço consagrado à sua descrição na Bíblia, bem como os muitos estudos realizados, são uma boa indicação da sua importância.

Dos estudiosos, alguns, poucos, acreditam que as Colunas eram membros estruturais quer como entablamento que directamente sustentava o tecto, quer como sustento de um par transversal de anteparos que o sustentariam. A maioria dos comentadores (maçónicos ou profanos, e estes leigos ou eclesiásticos), porém entende tratar se de colunas livres e puramente ornamentais ou emblemáticas, exactamente (Publicado em freemason.pt) como aparecem em nossos “Quadros de Loja”. Há razões suficientes e satisfatórias para a crença geral de que se tratava efectivamente de colunas livres e de carácter simbólico, sendo de facto “símbolos de divindade”. “Um conjunto quase irresistível de opiniões favorece a hipótese das colunas livres”.

As Colunas de Salomão terão sido erigidas mais especificamente para imitar os Obeliscos das entradas dos Templos Egípcios (o par de Obeliscos da entrada do Templo de Carnaque é impressionante, ou talvez tenham sido copiadas de Tiro, terra de origem do seu obreiro, onde Heródoto afirmou ter visto duas colunas semelhantes defronte do templo de Hércules.

Fossem copiadas dos Templos Egípcios ou do Templo de Hércules, de qualquer modo, na arquitectura “eclesiástica” do tempo, no Médio Oriente onde nos situamos, há urna extensa preponderância de Colunas Gémeas que tem sido comentada por um sem número de estudiosos.

Há a menção particular de duas colunas semelhantes à entrada do templo de Biblo (mais tarde conhecida pelo nome de Gebel, a pátria dos gibilitas, os “cortadores de pedra” do Templo do Rei Salomão).

Na Síria, escavações levadas a cabo pelo Instituto Oriental da Universidade de Chicago, em Tell Tainat, desvendaram uma pequena “capela” do século VIII a.C., anexa ao palácio dos príncipes de Hatina, onde, com clareza surgem no pórtico duas colunas livres, e segundo tudo indica, mais puramente simbólicas ou ornamentais do que arquitectonicamente funcionais. “Existem agora provas suficientes de que esse tipo de construção era muito comum na Fenícia”.

Quanto aos Obeliscos egípcios, os mais conhecidos são o par que Tutmósis III fez erguer em Heliopolis no século V a.C., e que Augusto César posteriormente transferiu para o Caesareum de Alexandria, um dos quais adorna hoje o Cais do Tamisa em Londres e outro um recanto do Central Park de Nova York.

A descrição Bíblica das Colunas Salomónicas é a seguinte:

“Assim terminou ele [Hiram] de fazer a obra para o Rei Salomão, para a casa de Deus:
As duas colunas, e os globos, os dois capiteis sobre as cabeças das colunas; as duas redes para cobrir os globos dos capitéis que estavam sobre a cabeça das colunas. As quatrocentas romãs para as duas redes: duas carreiras de romãs para cada rede, para cobrirem os dois globos dos capiteis que estavam em cima das colunas.
Na planície do Jordão, o rei os fez fundir em terra barrenta, entre Sucoth e Zeredata”.
“Fez também diante da casa duas colunas de trinta e cinco côvados de altura; e o capitel que estava sobre cada uma era de cinco côvados.
Também fez as cadeias como no Santo dos Santos, e as pôs sobre as cabeças das colunas: fez também cem romãs as quais pôs entre as cadeias.
E levantou as colunas diante do templo, uma à direita e outra à esquerda; e chamou o nome da [que estava] à direita Jachin, o nome da [que estava] à esquerda, Boaz”.
“A altura de uma coluna era de dezoito côvados, e sobre ela [havia] um capitel de cobre, e de altura tinha o capitel três côvados; e a rede, e as romãs em roda do capitel, tudo [era] de bronze; e semelhante a esta, era a outra coluna, com a rede”.

Esta era a idade do bronze na arquitectura. Homero fala nos dela na casa de Alcino. Os tesouros de Micenas eram recobertos internamente de chapas de bronze, e nos túmulos etruscos dessa idade esse metal era muito mais material de decoração do que o trabalho em pedra ou outro.

O Altar do Templo fora feito de Bronze, e sustentavam o mar de fundição doze bois de bronze.

Os suportes, as pias e todos os outros objectos de metal, conjuntamente com as Duas Colunas, eram, na realidade, o que tanto celebrizava o Templo.

A localização das colunas
Houve muita especulação entre comentadores, maçónicos e não maçónicos sobre a designação das Colunas como “direita” e “esquerda”, uns tomam-na no ponto de vista de quem (Publicado em freemason.pt) entra no Templo, e outros de quem sai. O problema porém está ligado a uma pressuposição que está ligada à questão subsidiária da Orientação do Templo.

Sabe se que os antigos hebreus se referiam ao que denominamos os quatro pontos cardeais, colocando se na posição de um homem que olhasse o Sol Nascente. Assim, à palavra “direita” equipara se a posição geográfica “sul”, e à palavra “esquerda” a posição geográfica “norte”, de modo que, quando se fala localmente, é evidente que Mão Direita e Sul são sinónimos.

Esta concepção dos Pontos Cardeais é nos confirmada não só pela Enciclopédia Bíblica, mas também pela Enciclopédia Judaica, que garantem: – “O leste era chamado ‘a frente’; o oeste, ‘a parte de trás’; o sul, ‘a direita’; e o norte, a ‘esquerda’”.

A tentativa de solução do problema, tomando por base a concepção de que a posição das Duas Colunas é vista pela pessoa que sai do templo, e por tal se aproxima das colunas vinda de dentro, é, [na minha opinião] altamente artificial, pois a primeira vista que se tem de um edifício é sempre de fora, e nunca de dentro. Por conseguinte, a primeira descrição de um edifício, ou de suas características externas (como se presume que o fossem as Duas Colunas) reflecte sempre o ponto de vista do observador que desse edifício se aproxima e o avista pela primeira vez, e isso só pode ser, por força, do lado de fora. Portanto, o ponto de vista do fiel saindo do templo não é realística, pois como pode alguém sair de um lugar sem aí haver entrado?

Tem sido muitas vezes assinalado pelos comentadores bíblicos que o Templo de Salomão nunca se destinou a conter numerosos fieis, mas apenas os sacerdotes oficiantes; esperava se que esses fieis se congregassem no Pátio do Templo, de onde lhes seria dado ver as Duas Colunas [do lado de fora].

Em jeito de encerramento da questão, encontramos num Catecismo de 1724 as seguintes pergunta e resposta:

P: Em que parte do Templo se manteve a [primeira] Loja?
R: No Pórtico de Salomão, na extremidade Ocidental do Templo, onde se erguiam as Duas Colunas.
Sobre a altura das Duas Colunas, 18 ou 35 côvados, pode tratar se apenas de dois tipos de medida diferentes, a saber: – o côvado de construção (36 cm) ou o côvado real (62,5 cm), como pode também ter havido erro provocado pela semelhança entre os caracteres hebraicos correspondentes a 18 [yod hé] e 35 [lamed hé]. Um yod mal escrito ou desfigurado pelo tempo, poderia, num manuscrito, ser tomado por um lamed; e um lamed parcialmente desfigurado poderia, ainda mais facilmente ser tomado por um yod. De qualquer forma tratava se de Duas Colunas imponentes, que com a variante do capitel incluído ou não, nos conduzem a sete vezes a estatura de um homem, alto para a sua época, múltiplo este que se encontra em outras edificações “eclesiásticas” de então ou hodiernas.

A tradição maçónica de que as Duas Colunas foram “feitas ocas”, pode ser suportada, do ponto de vista do fundidor, por necessidade, apenas com uma grossura de “uma palma de mão”, a fim de lhes reduzir o peso, e teria assim de ser o bronze vertido em torno de um núcleo central que pudesse posteriormente ser retirado como se diz que aconteceu com as colunas, fundidas “na planície do Jordão”, … em terra barrenta, entre Sucoth e Zeredata. Igualmente, uma “tenda das Colunas Ocas”, em ligação com a “Lenda do Xamir”, suporta que as colunas foram feitas ocas para depósito dos registos e escritos valiosos, podendo, naturalmente estar ligada à das Colunas Antediluvianas (Uma delas em mármore, que “nunca arderia”, e outra em tijolo, “que nunca afundaria na água”, pois os homens sabiam, assim o dissera Adão, que seriam destruídos pelo fogo ou pela água, e assim guardariam o trabalho de muito estudo, em ordem a salvá-lo, para auxílio do género humano).

De um ponto de vista antropológico, elas não eram senão uma sobrevivência dos antigos pilares de pedra, os Mazzeboth, que foram originalmente emblemas fálicos, como nos confirma Ward na descrição da Cerimónia em Heirápolis: “havia dois grandes falos, de trinta braças de altura, erguidos à porta do templo de Astarte, em que, duas vezes por ano um homem… subia ao cimo, por dentro delas, … afim de assegurar a prosperidade e fertilidade da terra, representando o processo de fertilização..”..

Segundo o mesmo Ward, as Duas Colunas Salomónicas são igualmente fálicas, essas “duas colunas, com seus globos… os capiteis enfeitados com entalhes minuciosos [as romãs], transmitem a ideia da fertilidade, não sendo mais que vestígios do prepúcio (o restante teria sido removido pela circuncisão) artisticamente representados”. Até a “obra de lírios”, que adorna o capitel, como emblema de pureza, pode não estar deslocada nesse simbolismo.

O significado das colunas gémeas
Sobre o possível sentido e significado das colunas, duas questões principais se nos colocam:

Porque lhes foi dado um nome?
Quais os seus possíveis significados?
Quanto à primeira questão, parece ter sido costume entre os povos do Médio Oriente dar nome aos objectos sagrados; assim os Babilónicos consta que, em comum com as nações suas vizinhas, tinham o costume de atribuir nomes significativos e, de certa forma, sagrados aos seus edifícios. Da mesma forma está escrito que, para comemorar a vitória dos israelitas sobre Amaleque, “Moisés edificou (Publicado em freemason.pt) um altar e lhe chamou Adoninissi [o Senhor é minha bandeira]”. Dessa maneira estabelece se que, de facto as Duas Colunas não eram somente objectos decorativos ou funcionais, mas também objectos sagrados por causa dos nomes peculiares que lhes foram dados.

Quanto à segunda questão, o seu significado tem sido interpretado quer etimológica, quer simbolicamente.

Assim, na tradução grega da Bíblia, a Versão dos Setenta, os dois nomes em Crónicas, são traduzidos por palavras que significam “força” e “direito”. A Bíblia de Genebra traduzia Jachin por “firmar” e Boaz por “em força”, mas Lionel Vibert critica a tradução e afirma que o certo seria “Ele firmará” e “N’Ele há força”.

Pelo menos dois autores entendem que Salomão ergueu as Duas Colunas como monumento comemorativo das promessas feitas pelo Senhor ao seu pai David, e que lhe foram repetidas numa visão, em que a voz do Senhor proclamou: ‘então confirmarei o trono de teu reino sobre Israel para sempre’; a mesma promessa é feita num sonho ao profeta Natã: ‘Vai, e diz a meu servo David: Assim diz o Senhor… Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre…’. Assim a palavra Jachin derivará da palavra Jah, que significa “Jeová”, enquanto que achir significa “firmar” e quer dizer que “Deus firmará a sua casa de Israel”; Boaz, da mesma forma se comporá de B, que significa “em” e oaz, que significa “força”, dando se ao todo o significado de “em força ela será firmada”.

Entretanto o hábito de dar uma interpretação moral aos nomes das Duas Colunas não é uma invenção maçónica. Já no Século XVII um Teólogo Puritano se manifestou escrevendo que essas colunas foram erguidas “para notar que foi Deus quem lhe deu o poder e o domínio sobre todas aquelas nações, e cumpria a promessa feita a Moisés e ao seu povo de Israel”. “Os topos das colunas eram curiosamente adornados: para mostrar que os que persistem, constantes, até ao fim serão coroados. O trabalho de lírios [simbolizava] o Emblema da Inocência, Romãs o da produtividade, havendo muitas sementes num pomo: a Coroa deles lhes declarará a Glória…”..

Em consonância com o costume, já mencionado, de os antigos hebreus darem nomes significativos aos objectos sagrados, os estudiosos modernos da Bíblia concordam em que os nomes das Duas Colunas devem ser enigmáticos; além do mais, que eles devem ter um significado religioso; as colunas têm nome porque são objectos sagrados.

Procurando o possível significado desses nomes, obviamente enigmáticos, e “examinando em seguida o Salmo que dizem haver Salomão cantado ao concluir se o templo, notamos que duas das frases notáveis nele são… para a ‘firmação’ do sol em sua gloriosa mansão no céu, e…para a ‘casa grande’ ou templo em que Iavé habitaria para sempre”.

Temos pois que estas colunas estavam nos templos semíticos porque eram uma característica usual dos símbolos da divindade, mas, porquê duas colunas se apenas um Deus único é representado?

Entre os Semitas, e outros povos daquela época e área geográfica, os deuses andavam aos pares, macho e fêmea, como Baal e Astarte, Osíris e Isis, etc. É assim possível aceitar que as Duas Colunas representassem o macho e a fêmea, os princípios activo e passivo da natureza.

Nunca houve contestação sobre o sexo das colunas, a primeira delas “suficientemente caracterizada pelo Iod inicial que a designa comummente. Com efeito essa letra hebraica corresponde à masculinidade por excelência. Beth, a segunda letra do alfabeto hebraico, por outro lado, é considerada como essencialmente feminina, porque o seu nome quer dizer casa, habitação, de onde a ideia de receptáculo, de caverna, de útero, etc. A Coluna J\ é, portanto, masculina activa, e a Coluna B\ feminina passiva”.

Assim como as duas colunas do grande templo de Tiro eram símbolos gémeos de Melcarte, o deus de Tiro, assim também, com grande probabilidade as duas colunas erguidas pelo mestre Tírio [Hirão], defronte do Templo de Salomão, deviam ser símbolos de Jeová, o Deus de Israel; as Duas colunas são elas mesmas designações de Jeová.

Dá nos também o nosso Catecismo, anexo ao Ritual de Aprendiz, de forma quase directa, uma explicação para a unicidade das Duas Colunas.

P: Como formulas os princípios que te revela o número Dois?
R: A Razão humana divide e confina artificialmente o que é Um e não tem limites. Assim a unidade é repartida entre dois extremos aos quais só as palavras prestam uma aparência de realidade.
P: Que concluis dai?
R: Que o ser, a realidade e a verdade têm como símbolo o número Três.
P: Porquê?
R: Porque é necessário devolver o binário à unidade por meio do número Três.
Quanto ao seu significado, provavelmente a melhor explicação dos dois nomes é a da Enciclopédia Judaica:

“Jachin” (“Ele firmará”), e
“Boaz” (“Nele está a força”).
Explanação análoga nos é dada pela Bíblia de Genebra e por Bede, e foi este o significado que, no dia da minha iniciação, na instrução do aprendiz, me comunicaram teria a Palavra Sagrada: “Em Força”.

Outras interpretações
Podiam os nomes Jachin e Boaz serem as palavras iniciais de duas sentenças completas. prática para a qual, ao que tudo indica, havia precedentes tanto bíblicos quanto extra bíblicos; na Babilónia era costume dar por nome a certas colunas uma sentença inteira.

As colunas de Salomão podem ter tido algum significado especial para as cerimónias da aliança e da coroação.

Quanto à primeira, lemos, em relação a Josias: “O Rei se pôs em pé junto à coluna, e fez aliança perante o Senhor..”..

Quanto à segunda lemos também, sobre a coroação do Rei Joás: “[Atália] olhou, e eis que o rei estava junto à coluna, conforme o costume..”. (há, de certo alguma semelhança com o significado que tem a pedra de Scone na coroação dos soberanos britânicos).

Nesse sentido, e com o devido respeito ao desenvolvimento original da fórmula maçónica para interpretar esses nomes, é interessante saber que em 1765 o Dr. Dodd imputava aos autores da História Universal a sugestão de que “Jachin” e “Boaz” eram as palavras iniciais de duas inscrições completas no suporte das Duas Colunas, que hoje vieram a ser conhecidas apenas pelas palavras iniciais, como os Livros de Moisés são chamados pelas primeiras palavras usadas em cada livro da Bíblia.

Seguindo essas reflexões, e estabelecendo um paralelo entre “Jachin” e “Iavé”, como equivalente emblemático da Divindade, o mesmo autor é de parecer que “existe uma evidência suficiente para justificar a opinião de que a coluna erguida no lado meridional do pórtico do templo tirava o seu nome da palavra original de uma inscrição que nela se fez mais ou menos com estas palavras: ‘Ele (Iavé) confirmará o trono de David, e seu reino para sua semente por todo o sempre’”.

Igual e relativamente à outra coluna: “A coluna da esquerda era aquela junto da qual se postava todo o sumo sacerdote no momento da sua consagração. Boaz ‘Nele a sua (Publicado em freemason.pt) força era lhe um perpétuo lembrete, enquanto passava e repassava por ela, de que a sua ‘força’ residia no favor de Jeová e no cumprimento da Sua lei”.

Procurando equiparar simbologias, vamos encontrar no Egipto, uma muito forte semelhança: “Na entrada principal dos templos havia sempre duas colunas; uma era a coluna de Set e outra era a coluna de Horo…, uma chamada Tatt, e a outra chamada Tattu…. Tatt que, em egípcio significava “em força”, e Tattu, que significava confirmar”.

Conclusões
Podemos concluir que, tal como relativamente a outras particularidades ornamentais e arquitectónicas do próprio templo, também a narrativa das Duas Colunas aparece enfeitada com a lenda, exposições, comentários e críticas; notámos corroborações e discrepâncias entre a tradição maçónica e as Escrituras, e até incompatibilidades entre vários Livros da Bíblia; encontrámos anacronismos e improbabilidades, que procurámos compreender, ainda que os não possamos justificar.

Em tudo o que fazemos há sempre qualquer coisa que falta, que não conseguimos, que não nos satisfaz completamente; quando julgamos tudo ter previsto, apuramos que algo ficou por prever; quando damos algo por concluído, concluímos que há ainda alguma coisa que se não fez.

O nosso orgulho é assim forçado a reconhecer a imperfeição das nossas obras. É desse reconhecimento que provém este desejo insaciável de caminhar para a perfectibilidade, de atingir o “belo ideal”, que de nós se afasta quando pensamos dele nos avizinhar. Porquê? “Porque o belo é o infinito visto através do finito”

Aceitando nós Maçons, importar nos mais o significado esotérico, do que a realidade histórica, ou acepção religiosa do Templo de Salomão, interessará para além do interesse legítimo da averiguação, sabermos qual o seu significado pelo que encerrarei esta prancha com a transcrição do que [no meu modesto parecer] de melhor encontrei sobre o tema:

“As Duas Colunas assinalam os limites do Mundo criado, os limites do mundo profano, de que a vida e a morte são a antinomia extrema de um simbolismo que tende para um equilíbrio que jamais será conseguido. As forças construtivas não devem agir senão quando as forças destrutivas tiverem terminado a sua tarefa. Essas forças são ‘necessárias’ uma à outra. Não se pode conceber a coluna J. sem a coluna B; o calor sem o frio, a faz sem as trevas, etc . Todo o ser vivo se encontra constantemente num estado de equilíbrio instável, formado pela criação de células novas e a eliminação de células mortas. As Novas gerações não podem afirmar se senão à medida que as antigas lhes cedem o lugar.
Essas Duas Colunas são a imagem exacta do Mundo, e é conveniente que este fique fora do Templo! O Templo é sustentado por Pilares, que se situam no mundo dos Arquétipos, onde tudo se funde numa Luz cujo brilho é imarcescível”.

A∴ R∴ – R∴L∴M∴A∴D∴ – Junho de 5997

Bibliografia
James Fergusson, F.R.S., The Temples of the Jews. Londres, 1878
W. F. Stinespring, The Interpreter’s Dictionary of the Bible, 1962. (autor não maçónico coincidente com a tradição maçónica)
Ancient Records and the Bible.
R. B. Y. Scott, do United Theological College of Montreal, no Journal of Biblical Literature.
G. Ernest Wright “Solomon’s Temple Resurrected”. The Biblical Archaeologist, Maio de 1941.
Hoje ambos designados por “Agulha de Cleópatra”.
II Livro das Crónicas 4: 11-17
II Livro das Crónicas 3: 15-17
II Livro das reis 25: 17
Joseph Young – “The Temple of Solomon”, British Masonic Miscellany
The Grand Mistery of Free Masons Discovery’d
II Livro das Crónicas 4: -17
Mazzebath – “monumento de pedra erguido como marco comemorativo ou objecto de culto”
J. S. M. Ward – Londres 1925; Ward escora-se na autoridade de Luciano em De Dea Syria (Séc. II d. C.)
Actual Menbij
Êxodo 17:15
Lionel Vibert – Freemasonry before the existence of Grand Lodges
A. G. Mackey e William Hutchinson
I Livro dos Reis 9: 15
II Livro de Samuel 7: 5, 16
Samuel Lee, Orbis Miraculum, 1659
Encyclopeda Biblica
Jules Boucher – La Symbolique Maçonnique
II Livro dos Reis 23: 3
II Livro dos Reis 11: 14
Caldecott, Solomon’s Temple
Albert Churchward, The Arcana of Freemasonry
Immanuel Kant
Jules Boucher – La Symbolique Maçonnique

Soberano Príncipe Rosa-Cruz


A Maçonaria Templária

O Rito Escocês (REAA) nos seus graus capitulares, termina com o grau 18, que é denominado Soberano Príncipe Rosa-Cruz, ou Cavaleiro da Rosa-Cruz, como é chamado este grau na Maçonaria do Arco Real. Este grau foi introduzido nos ritos maçónicos pelos “maçons jacobitas”, como eram conhecidos os membros da Grande Loja de Inglaterra, que apoiaram os descendentes da dinastia dos Stuarts na sua pretensão de recuperar o trono inglês, perdido em razão da chamada Revolução Gloriosa. [1]


Os conflitos que dividia  a sociedade inglesa nas questões políticas causaram também a divisão dos maçons, uns apoiando as pretensões stuartistas, outros defendendo os hanoverianos, como eram chamados os partidários do príncipe Guilherme de Orange. Enquanto os hanoverianos se reuniam na chamada Grande Loja, praticando apenas os graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre) os stuartistas criavam o chamado Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA), introduzindo o que hoje conhecemos como Ritos Superiores, que incluem a Loja Capitular, os Graus Filosóficos e os Graus Administrativos.


Através das chamadas Lojas Militares, fundadas pelos stuartistas, as tradições templárias entraram na Maçonaria. Segundo Baigent e Leigh (O Templo e a Loja , Madras, 2006), o Barão Hundt foi o primeiro Maçom a reivindicar a herança templária através do rito que ele fundou, o Rito da Estrita Observância. Este rito, embora seja praticado ainda hoje em diversas Lojas da Alemanha, não conseguiu fazer muitos adeptos e logo foi eclipsado por outros ritos.


Seria, entretanto, este ramo stuartista de Maçonaria que propagaria a Maçonaria de tradição templária pelo mundo e dela sairia, mais tarde, a Maçonaria do Arco Real, que viria a ser a principal denominação maçónica na América do Norte. Esta Maçonaria, fortemente alicerçada em tradições templárias, é aquela praticada nos chamados graus superiores do Rito Escocês, especialmente nos graus filosóficos, ou kadosh, e graus administrativos ou areopagitas.


As três vertentes da Maçonaria moderna

A chamada Maçonaria especulativa é a formula que surgiu da interacção entre as três grandes tradições que sobreviveram da cultura medieval, ou seja, a cavalaria, a tradição hermética e arquitectura. A cavalaria entrou com os motivos éticos e morais que nortearam aquela instituição, ligados principalmente aos exércitos cruzados, com ênfase especial nos cavaleiros templários, os cavaleiros do Hospital de São João de Jerusalém e os cavaleiros teutónicos, estes últimos ligados principalmente aos povos germânicos.


Quanto à arquitectura, é sabido que a base da pratica maçónica assenta sobre a tradição dos pedreiros livres, assim chamados os arquitectos e mestres de obras medievais, responsáveis pela construção dos grandes edifícios que ainda hoje encantam os olhos dos turistas por todo o mundo antigo. Estes profissionais, a par da ciência que praticavam, colocavam na sua profissão um carácter de sacralidade, que fazia dela uma verdadeira arte iniciática. Daí o carácter místico que lhes é atribuído e a profunda identificação com o pensamento que viria, já no século XVI, desembocar na chamada Maçonaria especulativa.


Quanto ao hermetismo, essa tradição foi inserida na prática maçónica através dos pensadores do chamado círculo da Rosa-Cruz. Este círculo abrigava uma plêiade de filósofos e praticantes de alquimia, os quais, em virtude da sua prática e da sua forma de viver e de pensar, eram hostilizados pela Igreja Católica.


Historicamente, sabe-se que a Rosa-Cruz, como instituição organizada, nunca existiu antes do século XX. Como entidade, hoje conhecida mundialmente pelo seu carácter filantrópico, filosófico e humanístico, a Rosa-Cruz (AMORC) foi fundada em 1915, em Nova Iorque. Mas como tradição, dedicada ao estudo e disseminação do pensamento filosófico-místico, ela existe como movimento desde os primórdios do século XVII, quando alguns alquimistas alemães, liderados por Johan Valentin Andreas, lançaram três curiosos manifestos, chamados Fama Fraternitatis, Confessio Fraternitatis e Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz, todos assinados por um personagem misterioso personagem chamado Christian Rosenkreuz, provavelmente um pseudónimo utilizado por Andreas, o líder desse movimento.


Estes manifestos reflectiam as questões religiosas e políticas que sacudiam a Europa naquele momento. Era a época da Reforma Protestante e da formação dos estados nacionais, envolvendo intensas disputas dinásticas, que ensanguentavam todo o Velho Continente.


As pesquisas de Serge Hutin e Frances Yates mostram o quanto os pensadores do circulo rosacruciano estivam envolvidos com as questões políticas e religiosas da época. E também com as diversas casas reais da Europa. O próprio Andreas, como apontam essas pesquisas, mantinha uma relação muito estreita com os príncipes alemães do Palatinado e com a família Guise, esta última ligada por laços de casamento à família dos Stuarts, então soberanos da Inglaterra. [2]


A Maçonaria especulativa, como se sabe, tem profundas ligações com os escoceses, desde a época dos Bruces, quando o rei Robert Bruce, ajudado por vários cavaleiros templários, conseguiu libertar a Escócia do domínio da Inglaterra. Foi este rei que fundou a Ordem dos Cavaleiros de Santo André do Cardo, para dar abrigo, na Escócia, aos proscritos cavaleiros templários que estavam sendo perseguidos pela Inquisição, em toda a Europa. Esta Ordem de cavalaria é constantemente lembrada como sendo um dos núcleos da Maçonaria especulativa, da mesma forma que, dois séculos mais tarde, a Royal Society inglesa seria o núcleo inglês da Maçonaria moderna.


A ideia que informa a Maçonaria moderna é, na sua face espiritualista, claramente uma inspiração rosa-cruciana. Foram os pensadores do círculo rosa-cruz que lançaram nos seus manifestos a ideia de “uma transformação no mundo da política e do pensamento”, a qual seria feita através da aplicação dos “segredos” que eles possuíam. Esta transformação traria uma “nova época de liberdade espiritual, na qual a humanidade seria libertada dos grilhões que lhes eram impostos pela Igreja Católica”. [3]


O homem que nasceria deste novo sistema seria um “homem novo”, religioso a sua maneira, mas informado pela verdadeira ciência e educado na filosofia que, naquele momento, estava encantando todos os intelectuais da época: o Iluminismo. Era esse homem “ de gostos morigerados, humor fino, educado nas ciências e nas artes”, como disse o Cavaleiro de Ramsay, que conduziria a humanidade ao seu glorioso destino. [4]


Este pensamento, como vimos, era o pensamento dos rosacrucianos. Foi disseminado em vários trabalhos publicados por notáveis pensadores e famosos alquimistas, que deixaram o seu nome na história. Esta tendência filosófica aparece nos trabalhos de John Milton, Francis Bacon, Marcilio Ficcino, Giordano Bruno, Voltaire, Thomas Morus e outros criadores de utopias políticas e literárias. Está presente também nas obras de diversos alquimistas como Nicolas Flamel, Teofrastro Paracelso, Van Helmont, Blaise Viginére, Françóis Rabelais  e outros. [5]


Na Maçonaria moderna a influência Rosa-Cruz aparece principalmente no grau 18 do Rito Escocês, denominado Soberano Príncipe da Rosa-Cruz, também conhecido como o Cavaleiro do Pelicano e Cavaleiro da Águia Branca, títulos esses que evocam as duas principais tradições que são contempladas neste grau, ou seja, a alquimia, simbolizada nas alegorias da procura da Palavra Perdida, o  Mito da Fénix e a Lenda do Pelicano, e as alusões aos princípios defendidos pela instituição da cavalaria.


O Mito da Fénix

No moderno ritual do Rito Escocês Antigo e Aceito, o Mito da Fénix é uma alegoria que aparece no grau dezoito, consagrado ao Cavaleiro da Rosa-Cruz. Por se tratar de uma alegoria essencialmente alquímica, ela integra a tradição hermética da morte ritual do adepto e do seu renascimento em outro nível de consciência. Isto era o que os alquimistas acreditavam poder fazer com o material trabalhado nos seus laboratórios, “matando” a sua estrutura de metal comum (chumbo, estanho) e “ressuscitando-o com a estrutura de um metal nobre (ouro, prata). E se assim era com os metais, isto também poderia ser feito com os seus próprios espíritos.


No ritual do grau 18, diz-se que o recipiendário “perdido nas trevas, na encruzilhada dos caminhos, perto do total abatimento e da morte, ouve uma voz misteriosa saída do fundo da sua alma”. (palavras do ritual do grau). É nesse momento que ele reencontra a Palavra Perdida, oculta sobre as asas da Fénix, no instante em que ela renasce das cinzas. A Palavra Perdida, aqui é chave do segredo do renascimento espiritual e a Fénix é o seu próprio espírito que se renova por conta dessa iniciação. E ele sente como se “um sopro o penetrasse, no momento em que murmura, afastando-se, a Palavra que para ele é a revelação de uma nova Luz.” E dali ele sai reanimado, renovado, porque agora sabe que a Palavra Perdida significa “ Igne Natura Renovatur Integra”. [6]


Ou seja, a natureza inteira renova-se pelo fogo, e essas palavras correspondem justamente às iniciais apostas sobre a cruz de Cristo (INRI). É nesse instante que ele tem a revelação final e fundamental do mistério contido na Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, ou seja, o verdadeiro significado desse mistério magno da cristandade.


Aqui se revela a tradição alquímica sendo aplicada no seu mais inspirado fundamento, ou seja, a de que a natureza produz a vida tirando-a da morte, da mesma forma que Deus fez o mundo tirando a luz das trevas e da mesma forma que Cristo, morto na cruz e ressuscitado ao terceiro dia significa a redenção para toda a humanidade. Assim, para que a vida se renove, é preciso a morte ritual do recipiendário, da mesma forma que a semente que dá vida precisa ser lançada à terra, para que, do fundo das trevas, fecundada pela água e pelo calor do sol, ela reviva e inicie a sua jornada em busca da luz.


Na Maçonaria o Mito da Fénix é invocado em toda a sua beleza iniciática para mostrar ao iniciado que natureza que se renova em toda a sua integridade, pela acção do fogo, que  aqui significa tanto o trabalho do alquimista no seu forno, cozendo e recozendo o material da Obra, quanto o baptismo cristão, conforme preconizado por João Batista, ou a ritualística iniciática. [7]


Todas são analogias que simbolizam a prática da doutrina renovadora da Maçonaria. E a Rosa Mística, centralizada no ponto de encontro dos braços da cruz é exactamente esse ponto crucial do universo, ou da alma humana, onde a Palavra Perdida é recuperada e faz nascer, da própria morte, a vida renovada. Aqui, a mística do ensinamento iniciático se alia à poesia para dizer ao espírito humano que existe uma esperança de vida, mesmo na mais sombria e aterradora das situações, que é a própria morte.


A tradição Rosa-Cruz diz que a luz do mundo morre e renasce no centro de uma cruz. Esta morte e renascimento eram comemorados pelos cavaleiros cruzados nas vésperas das sextas-feiras santas, em cerimónias que evocavam a última ceia de Cristo com os seus apóstolos, ocasião em que dividiam um carneiro. Neste significativo ritual promovia-se, não só uma evocação à Páscoa hebraica, mas também o retorno do sol no equinócio da Primavera, ocasião em que a natureza morta pela acção do Inverno, recomeça um novo ciclo. Esta era uma antiga tradição observada pelos gregos e egípcios por ocasião da celebração dos seus famosos “Mistérios”. Incorporada aos ritos templários, este mito foi cristianizado para simbolizar os próprios mistérios cristãos. E assim, Jesus, o Cristo, ressuscitado no terceiro dia após a sua morte, era a própria Fénix, que para a humanidade toda trazia a promessa da ressurreição. E por analogia, essa ressurreição aplicava-se ao iniciado Maçom após a sua elevação ao grau de Cavaleiro Rosa-Cruz.


A lenda do Pelicano

A Lenda do Pelicano é outra contribuição da tradição alquímica, trazida para a Maçonaria pelos rosa-crucianos. Conta uma lenda medieval que um pelicano saiu do seu ninho em busca de comida para os seus recém-nascidos filhotes. Não notou que por perto se escondia um predador, só esperando a sua ausência para atacar o ninho.


Mal o pássaro desapareceu no horizonte, o danado atacou os coitadinhos, que ainda não tinham aprendido a voar e nem a se defender.


O predador devorou a todos, só deixando como sobra as pequeninas ossadas com as penas que mal começavam a despontar.


Quando o papai pelicano voltou ao ninho viu a tragédia que ocorrera. Atirando-se sobre os corpos dos filhos chorou horas e horas, até que as suas lágrimas secaram.


Sem mais lágrimas para chorar pelos filhos mortos, começou a bicar o próprio peito, fazendo verter sobre o corpo dos pequeninos o sangue que jorrava dos ferimentos que ele mesmo provocara com aquela mutilação.


No seu desespero não percebeu que as gotas do seu sangue, pouco a pouco iam reconstituindo a vida dos seus filhos mortos. E assim, com o sangue do seu sacrifício e as provas do seu amor, a sua família ressuscitou. [8]


Provavelmente foi a partir desta lenda que o pelicano se tornou um símbolo de amor e sacrifício. Durante a Idade Média eram vários os contos e tradições em que esse pássaro aparecia como representação da piedade, do sacrifício e da dedicação à família e ao grupo ao qual se pertencia. Esta terá sido também, a razão de os cátaros, os Rosa-Cruzes, os alquimistas e outros grupos de orientação mística o terem adoptado nas suas simbologias.


Para os alquimistas o pelicano era um símbolo da regeneração. Alguns operadores alquímicos chegaram inclusive a fabricar os seus atanores – vasos em que concentravam a matéria prima da Obra – com capitéis que imitavam um pelicano com as suas asas abertas. Tratava-se de captar, pela imitação iconográfica, a mesma mágica operatória que a ave possuía, ou seja, aquela capaz de regenerar, com o seu próprio sangue, os filhotes mortos.


Os Rosa-Cruzes, na sua origem, na sua maioria eram alquimistas. Daí o facto de terem adoptado o pelicano como símbolo da capacidade de regeneração química da matéria não é estranho. E é compreensível também que nas suas imaginosas alegorias eles tenham associado esta simbologia com aquela referente ao sacrifício de Cristo, cujo sangue derramado sobre a cruz era tido como instrumento de regeneração dos espíritos, medida essa, necessária para a salvação da humanidade. Daí o pelicano se tornar também um símbolo cristão, representativo das virtudes rectificadoras do cristianismo, da mesma forma que a Rosa Mística e a Fénix que renasce das cinzas


A Maçonaria adoptou a lenda do pelicano por influência das tradições Rosa-Cruzes que o seu ritual incorporou. Por isso é que encontraremos, no grau 18, grau Rosa-Cruz por excelência, o pelicano como um dos seus símbolos fundamentais. O próprio título designativo desse grau é o  de Cavaleiro do Pelicano ou Cavaleiro Rosa-Cruz.


O simbolismo do pelicano é uma alegoria que integra, ao mesmo tempo, a beleza poética da lenda, o apelo emocional do mistério alquímico e o romanticismo do sacrifício feito em nome do amor. Pois tanto o Cristo quanto a natureza amorosa vertem o seu sangue para que os seus filhos possam sobreviver.


Eis aí, em toda a sua beleza simbólica, o conteúdo místico-filosófico do Grau 18, o Cavaleiro da Rosa-Cruz. Que os Irmãos possam apreciar este simbolismo com todo o fervor do seu espírito.


João Anatalino Rodrigues


Notas

[1] Guerra entre a dinastia Stuart e o Parlamento, que resultou na deposição e execução do Rei Charles I. A Revolução Gloriosa reconstituiu a monarquia inglesa, com o Parlamento oferecendo a coroa ao Príncipe Guilherme de Orange, da  Holanda.


[2] Frances Yates – O Iluminismo Rosa Cruz – Cultrix, 1967. Ver também João Anatalino, Conhecendo a Arte Real – Madras, 2006.


[3] Fama e Fraternitates, citado por Frances Iates op. citado.


[4] André Michel de Ramsay (1686 – 1743) foi um dos fundadores da Maçonaria moderna. É conhecido pelo seu famoso discurso no qual ele define a Maçonaria como “uma grande republica, disseminada pelo mundo inteiro, informada pelo princípio da ética, da moral, pela prática das ciências e das artes, e constituída por homens de gosto refinado e costumes morigerados. Sua origem seria, segundo informa, a interacção ocorrida na época das cruzadas entre os profissionais da construção e os Cavaleiros do Hospital de São João, razão pela qual as lojas maçónicas se chamavam Lojas de São João. Ver, a este respeito, a nossa obra “Conhecendo a Arte Real, citada. Ver também Jean Palou – Maçonaria Simbólica e Iniciática – Ed. Pensamento, 1986


[5] Conhecendo a Arte Real, citado. O Iluminismo Rosa-Cruz, citado.


[6] Cf. o Ritual do Grau


[7] “Eu na verdade, vos baptizo em água. Mas ele vos baptizará no Espírito Santo e no fogo“. João, 3:17


[8] João Anatalino – Mestres do Universo, Biblioteca 24×7-2011