sábado, 8 de maio de 2021

A Historia dos Demônios

 


Ao longo da história, os conceitos de “bem”, “mal”, “deuses”, “anjos” e “demônios” muito se modificaram, variando entre regiões, culturas e vertentes mágicas, religiosas e científicas. Sendo assim, este texto irá explorar a evolução das definições de demônios e outros termos correlatos, explicando sua modificação ao longo das eras até se consolidarem na prática da Goécia como a conhecemos hoje.

O culto aos deuses começou, na maioria dos povos, na forma de um “culto a demônios”. As entidades cultuadas eram temidas, e por meio de oferendas e cerimônias poder-se-ia apaziguar a ira destes seres, conseguindo boas colheitas e outras benesses. Muitas vezes, as cerimônias incluíam sacrifícios até mesmo humanos. Os pais muitas vezes entregavam seus próprios filhos aos sacerdotes em prol de benefícios a toda a comunidade. Porém, com o tempo, começou a ganhar força a ideia de que os sacrifícios humanos poderiam ser substituídos por animais, e as cerimônias passaram a contar com imolação de animais vivos, oferendas de seu sangue e banquetes com sua carne. Na Bíblia, este conceito se apresenta por exemplo na substituição de Isaac por um cordeiro sobre a pedra sacrificial.

GOLFO DA GUINÉ

Na região africana do Golfo da Guiné, onde a humanidade surgiu segundo a maioria das teorias científicas atualmente aceitas, o conceito de “mal” estava relacionado aos aspectos primordiais do mundo. No quesito de potencial para causar efeitos nocivos aos humanos, mas sem estarem associadas ao conceito de “mal”, as Iyami Oxorongá cumpriam um papel importante ao representar este aspecto.

Estas feiticeiras eram as mães da magia, e foram suplantadas quando os Orixás chegaram ao Aiê para instituir a civilização humana. Assim, tomaram a forma de aves, principalmente aquelas de rapina, e passaram a viver no alto de árvores, de onde podiam enviar malefícios ou benefícios para as pessoas de cidades próximas. Em algumas versões, Nanã teria sido uma dessas forças primordiais, e responsável por criar os homens a partir do lodo primordial. Em outras versões, esta substituição de regência das Iyami pelos Orixás marca a evolução das sociedades Matriarcais para as Patriarcais.

EGITO

No Egito Antigo, desde as primeiras dinastias (~3.500 AC), Set representava as forças naturais relacionadas à destruição, na forma da seca, da lua minguante, do sol flamejante, da febre e do deserto. Ao mesmo tempo que assassinou Osíris, foi responsável pela evolução da sociedade, quebrando estruturas não mais úteis e ensinando a arte da guerra aos reis. Já Taweret era representada como um hipopótamo vestindo uma pele de crocodilo, ou então um animal híbrido entre os dois, e estava relacionada ao poder das águas e das bestas aquáticas do Nilo, podendo proteger contra Set. Tem similaridades em iconografia com a besta Amemit, devoradora das almas dos não merecedores. Sendo assim, observa-se que seres bestiais poderiam ser protetores, enquanto as forças da natureza poderiam ser personificadas na forma de entidades nocivas aos homens.

Além disso, por volta de 3 mil a 2 mil Antes de Cristo, a ideia do “bem” começou a se manifestar na forma de uma árvore, considerada a árvore da vida. Esta ideia pode ter sido Egípcia (aparecendo em alguns murais atacada por Apep) ou ter sido posteriormente levada ao Egito, mas de qualquer forma se fortaleceu na Assíria e na Babilônia, sendo representada ostensivamente. A Árvore da Vida era visada pelas forças do mal porque era responsável por prover alimento e vitalidade aos humanos, em alguns casos provendo também a imortalidade. A ideia foi mantida na Grécia com as maçãs das Hespérides e também nos povos nórdicos, com os frutos que proviam imortalidade aos deuses e a própria Yggdrasil. Na Bíblia, a Árvore foi localizada no centro do Éden, e na Cabala se tornou a estrutura central dos estudos.

LEVANTE

No próprio Egito e na região do Levante, por volta de 2.500 AC, o mal começou a ser entendido não só como as forças naturais nocivas em si, mas como as forças primordiais de um planeta violento que precisava ser domado e aplacado para que a sobrevivência humana ocorresse. Iniciaram-se os ciclos de mortes de deuses primais por deuses mais próximos dos humanos, em uma evolução gradual rumo à civilização.

Baal Marduk se apresentou, na Assíria, como o herói capaz de enfrentar o dragão primordial Tiamat, que era representado como um animal híbrido juntando partes de vários animais. O “mal”, então, não tinha juízo moral, era apenas primitivo e agia guiado por seus instintos.

Ao longo dos ciclos de morte e reprodução, deuses e demônios passaram a ter um caráter menos generalista e mais especializado. Antes, os grandes deuses e demônios eram criadores e destruidores de todo o universo por meio de todas as graças e elementos nocivos. Agora, cada um deles representava uma força primordial ou um aspecto divino. Os filhos de Tiamat utilizavam suas especialidades para vingar a mãe morta por Marduk, e os ventos que vinham de cada quadrante tomavam faces diferentes correspondentes a demônios específicos (por exemplo Pazuzu, vento Sudoeste que trazia tempestades).

Mesmo se especializando cada vez mais, ainda não havia na Suméria, Acádia e Caldeia uma ideia de dualismo, com um Deus ou anjo específico correspondendo a cada Demônio. Embora houvesse heróis divinos, esperava-se que cada demônio assassinasse seu gêmeo. Estátuas da versão “benéfica” do demônio eram usadas para proteger-se contra a versão “maléfica” do mesmo. O Mas bom deveria combater o Mas mau, o Lamma bom combateria o Lamma mau, e o mesmo ocorria para Utuqs, Alapi e Nergalli.

Na Pérsia, por sua vez, se estabeleceu o mais simétrico dualismo, com uma corte celeste e um império demoníaco se contrapondo em estrutura e qualidades. O Rei Persa ou Ahura Mazda eram representados lutando contra um demônio primordial na forma de unicórnio, semelhante a Tiamat. Anjos ou Fravashis eram representados lutando contra daêvas ou demônios que regiam o lado negativo de cada aspecto.

NA TORÁ

Por volta de 1.000 AC, os primeiros hebreus tinham diversas leis proibindo bruxas e magos (Êxodo 22, Levítico 20), pois o verdadeiro poder somente poderia vir do Deus verdadeiro, Yahweh. Porém, em tempos difíceis, não faltam relatos sobre israelitas procurando a ajuda de feiticeiros. Um dos relatos mais famosos se encontra também na Bíblia, quando Saul — após ter mandado matar todas as bruxas da região — recorreu à Bruxa de Endor para pedir conselhos ao espírito de Samuel, já falecido (1 Samuel 28).

Na Torá há muitos relatos sobre demônios espreitando em locais escuros. Na mitologia hebraica, temos por exemplo os Seirim (demônios-quimera ou bodes), os Shedim (outros demônios) e Lilith (a primeira esposa de Adão). Na Bíblia, exemplos podem ser encontrados em Levítico 17, Deuteronômio 30 e 32, 2 Crônicas 11, Isaías 13 e 34, Salmos 106.

Como o poder mágico era monopólio de um único Deus verdadeiro, os deuses de outras culturas foram considerados deuses falsos ou demônios, e seus poderes seriam meros simulacros de um poder que almejavam — mas nunca conseguiriam — possuir. Porém, devido ao seu uso em rituais ou proteção contra os mesmos, esses demônios foram compilados e muito bem descritos em livros e grimórios. Passaram a ser usados com o aval do poder de Deus, pois estariam cumprindo os desígnios Dele, como meras ferramentas. Este fato permitiu que fossem conhecidos no mundo contemporâneo, e fez com que suas histórias pudessem ser conhecidas mesmo após a destruição de seus cultos originais.

Aos poucos, o mito de Marduk e Tiamat foi se tornando uma lembrança cada vez mais esquecida, e tomando outras formas na Mitologia Hebraica. O combate entre o Deus primordial e o dragão demoníaco continuava sendo citado, mas o próprio conceito de Deus havia evoluído bastante. No antigo testamento, a batalha entre Deus e o Dragão é citada em várias instâncias e apresenta vários heróis e monstros (Leviatã, Rahab, Behemoth) repetindo o ciclo, porém o primeiro combate em si não é citado. Nas citações ao episódio, era pressuposto que todos já o conheciam, de forma que não se pensou necessário narrá-lo por escrito.

ÍNDIA

Nem sempre a serpente foi considerada símbolo do mal e dos demônios. No hinduísmo principalmente, desde ~4.000 AC mas com simbolismo fortalecendo-se em ~2.000 AC, era tida como o símbolo da eternidade e dos ciclos do tempo. A serpente Ananta é um exemplo deste conceito, e permitia que Vishnu flutuasse sobre a substância ainda não diferenciada que viria a formar o Universo. Esta serpente, também chamada Vasuki, era representada em outros casos enrolada no Pilar Universal, uma coluna erigida sobre o casco da tartaruga cósmica Kurm, um avatar de Vishnu.

Na cultura indiana, observa-se que a existência de demônios era algo aceito e até mesmo visto como necessário para a manutenção da tensão que movimenta o Cosmos. Porém a maioria dos demônios devia servir aos poderes divinos — e inclusive ser devota aos deuses -, causando destruição ou rupturas apenas quando permitido pelo plano cósmico. Um exemplo pode ser encontrado nas histórias de quando dois irmãos demônios foram destruídos por Vishnu ao irem contra as leis sagradas. Hiranya-Ksha ameaçou destruir o mundo inteiro, e Vishnu o matou com suas presas incorporando seu avatar de Javali. O irmão do demônio, Hiranya-Kasipu, zombou da onipresença de Vishnu, duvidando que ele pudesse estar em todos os lugares, por exemplo em uma coluna de pedra. Vishnu saiu de dentro da coluna na forma de um leão monstruoso e estraçalhou o demônio.

Além dos demônios propriamente ditos, diversas divindades hindu estão relacionadas com quebras, revolução e destruição como parte de uma criação vibrante e cíclica. Talvez a principal representante deste poder renovador, Kali é representada pisando no ego de seu esposo e destruindo com uma mão enquanto cria com a outra. No budismo tibetano, era representada como o demônio mKha’sGroma.

JAPÃO E CHINA

No Japão e na China, por volta de 600 DC, os demônios eram vistos como personificações das catástrofes naturais ou das forças da natureza que ainda não podiam ser mitigadas. O demônio do trovão, por exemplo, também poderia trazer outros males súbitos, como doenças, acidentes, terremotos e desmoronamentos. Demônios eram vistos como o imprevisto que rondava a vila para atingir os desavisados.

No imaginário Japonês e Chinês, também reinava a noção de que os demônios eram responsáveis pelo julgamento pós-morte, acusando o morto e solicitando que se retratasse pelo que fez em vida. O tribunal do Meifu era a representação do julgamento da alma (retomando então o conceito egípcio), onde o morto deveria assistir aos seus feitos em um espelho que mostrava toda a sua vida. Os demônios do tribunal Meifu eram conhecidos pela sua função no julgamento pós-morte. Kongo era o xerife, Emma o juiz, e os demônios Gozu (com cabeça de veado) e Mezu (com cabeça de cavalo) faziam parte do grupo de executores e torturadores. Caso as ações boas do morto prevalecessem, ele reencarnaria em um estado mais elevado de existência. Caso as más ações fossem mais relevantes, deveria reencarnar como o animal que representasse seu caráter. Caso tivesse sido demasiadamente cruel, seria torturado até a expiação total de seus pecados.

NO BUDISMO

No Tibet, em cerca de 650 DC, começou a se delinear o conceito de que os demônios seriam aspectos psicológicos que impedem a evolução e a transcendência individual, por vezes personificados na forma de um ser que traz tentações e dúvidas.

O demônio Mara segura a roda do Samsara, e em seu centro estão os elementos que prendem os homens no ciclo eterno de reencarnações: paixão, pecado e preguiça. Ao seu redor, estão os 12 elementos que ocorrem na vida de cada pessoa: ignorância, repetições, senciência, personalidade, sentidos, sensações, sentimento, desejo, obsessão, aceitação, reprodução, morte.

Quando Buddha estava próximo à sua iluminação, o demônio Mara aparece com seu exército de demônios para tentar fazê-lo desistir da jornada que iniciara há 7 anos. Estes demônios representam tentações que podem impedir a evolução pessoal, e são luxúria, descontentamento, fome e sede, desejo, preguiça, covardia, dúvida, hipocrisia e soberba. Se entregar a eles não traz sofrimento, mas sim prazer e felicidade; e estes prazeres podem impedir a transcendência caso sejam excessivos, por serem estritamente físicos e passageiros.

GRÉCIA

Antes da chegada dos ideais cristãos à sua Terra, por volta de 1.000 AC, os Gregos e outros povos próximos como os Etruscos já possuíam um conceito bem detalhado do que seria o Submundo. O conceito de Hades e Tártaro, e também do submundo Etrusco onde o demônio Tuchulcha atormentava as almas, se mesclaram ao inferno cristão e ao Sheol judaico para formar a concepção usada em Roma.

As almas humanas se tornariam Eidolons ou meros ecos no Hades, enquanto as almas de heróis (como Hércules) poderiam se dividir entre uma vida no Olimpo e uma no Hades como sombras. Outros heróis como Menelau poderiam viver em Elysion (similar ao Paraíso), comandado por Radamantis — que mostra a forte influência egípcia pela sua origem Ra Amentis, Rá que rege o Amenti (submundo). O próprio mito de Tifão em muito lembra o da cobra Apep.

Com o passar dos ciclos escatológicos, assim como ocorre em outras culturas, os deuses dos povos da península itálica evoluem, se tornando mais próximos dos seres-humanos. Surge o arquétipo do herói salvador, e este herói se torna cada vez mais um humano comum, e até mesmo humilde, com grandes habilidades. Os demônios também se humanizam, passando a ser monstros parcialmente humanos, híbridos entre diversos animais, ou perigos cotidianos enfrentados pelos heróis para salvar seu povo.

O arquétipo do herói solar se apresenta em várias instâncias durante a miscigenação das religiões próximo a Roma. Hércules, Perseu, Belerofonte, Baal Merkath (da Tíria), Bel (da Babilônia), o herói de Khorsabad, Jesus, Mitra, passam por histórias parecidas com extremo caráter solar. Alguns deles até mesmo enfrentam 12 trabalhos ou provações que se relacionam com os 12 signos na passagem do Sol pelos céus, incluindo a morte e o renascimento. Os heróis solares humanizados conseguem salvar a humanidade, e se sacrificam por ela.

Em alguns casos, devido a seus feitos, acabam sendo punidos pelos deuses. Prometeu traz o fogo aos homens, e por isso é aprisionado em uma pedra. Em outras versões do mito, como a retratada no Vaso de Chiusi, Prometeu é amarrado a um mastro ou então crucificado.

ORIENTE MÉDIO

No Oriente Médio, de 200 AC ao ano 0, diversos sistemas de crenças tiveram intercâmbios importantes entre si que refletiam os próprios intercâmbios de mercadoria e as miscigenações do povo que ali vivia. Os judeus ficaram familiares com as culturas Assíria, Babilônia e Persa, e muito assimilaram em suas crenças. O dualismo persa foi em grande parte levado em conta, com uma estrutura infernal mimetizando a estrutura celeste, e mesmo com algumas entidades sendo trazidas para dentro de seu sistema de crenças. Na história de Tobit, por exemplo, Asmodeu (o Aeshma Daeva persa, ou Espírito da Ira) se apaixona por uma mulher, e no Talmude ele se converte no demônio da luxúria.

Por volta do ano 0, se delinearam fortemente os ideais gnósticos de um deísmo trino baseado em Pai, Filho e Espírito Santo — este último por vezes representado como Sofia ou como a Mãe, ecoando as tríades egípcias (ex: Ísis, Osíris e Hórus). A salvação pessoal viria pela transcendência individual, como no budismo, ou pela evolução coletiva, pela vinda do Messias. Vários sectos gnósticos se proliferaram no Oriente Médio, como os Sabianos ou Batistas, os Essenos, os Ebionitas, e outros grupos como os Fariseus e os Saduceus. Um dos grupos gnósticos mais conhecidos foi o dos Nazarenos, de onde veio Jesus.

Para os Gnósticos, a trindade era composta por Deus Pai, Deus Filho e Deus Mãe (a sabedoria ou Sophia). Sophia seria a esposa cósmica de Deus, também chamada de Pneuma ou Logos. Este conceito é similar ao do Budismo, em que a trindade é representada pelo Buddha ao lado do Dharma (ciclos) e do Sangha (comunidade). O próprio termo Sophia pode ser uma tradução de Bodhi, a iluminação do Budismo.

Por volta de 1600, já em um contexto de “neo-gnosticismo”, o filósofo Jacob Böhme escreveu o livro Os Três Princípios, que foi publicado quase cem anos depois, após a sua morte. Neste livro, Böhme descreve como o Bem e o Mal se desenrolam no Tempo, e argumenta que esta seria a trindade necessária para a existência do Universo. Deus seria a união do Bem e do Mal, na forma do Todo, e ao tentar se manifestar acabaria sempre gerando estas duas qualidades em um terceiro domínio, o Universo, regido pelo Tempo. O conceito de pecado, para Böhme, seria alguém se prender ao mundo material, interpretando ao pé da letra as escrituras e focando apenas no que é tangível. A verdadeira salvação seria alcançada mergulhando nas escrituras e entendendo o sentido metafísico por trás delas, recorrendo à Bíblia como um conjunto de metáforas para explicar o Cosmos.

ROMA

Mitra é uma divindade solar persa cujo culto se estendeu a várias regiões incluindo Roma, em cerca de 300 DC. Embora a versão bíblica e religiosa de Jesus tenha relação com a de vários outros heróis e deuses do Oriente Médio, Europa e Ásia, as associações a Mitra acabam sendo mais diretas, até mesmo pelo fato de muitas delas serem propositais.

O Mitraísmo incluía batismos, a reencenação da morte de um touro para remissão dos pecados, e uma cerimônia de nascimento do Sol realizada no dia 25 de dezembro. São Crisóstomo, pioneiro no estabelecimento do Cristianismo, cita em um de seus discursos que o dia de Mitra foi escolhido para a comemoração do nascimento de Cristo porque os cristãos teriam mais paz para realizar suas cerimônias enquanto os romanos estivessem comemorando o nascimento do Deus Sol.

Æon ou Zrvan Akarana (que significa tempo ilimitado) é um Deus primordial no Mitraísmo representante do Caos Primordial. Carregando uma chave, uma tocha e um bastão de medição, com corpo de homem e cabeça de leão, é o estado primordial de existência a partir do qual Ahura Mazda nasce. A cobra enrolada em suas pernas representa as revoluções do tempo e também a impossibilidade de se mover, pois tudo se cancela e retorna ao mesmo ponto. As quatro asas representam as quatro estações e a onipresença. Também está associado a Hefesto, Esculápio, Hermes e Dionísio, todos em um, conforme símbolos aos seus pés. Para alguns pesquisadores, era representante do conceito de demônio, um pai tirano que não permite movimento algum, a imobilidade fervilhante do Caos.

Abraxas, também presente em Roma, significa “aquele a ser adorado”, e era representado como uma versão de Esculápio com cabeça de galo ou plumas de galo na cabeça. O Agathodaemon (Espírito bom) era uma entidade originalmente fenícia com corpo de serpente e cabeça de águia, galo ou Leão. Representava a vida longa e era desenhado em amuletos contra doenças e para proteção. Já Iao era um Deus com cabeça de galo que se movia rapidamente e era onipresente, por isso suas pernas eram representadas como serpentes, símbolos da gnose e da rapidez do pensamento. Essas três entidades, Abraxas, Agathodaemon e Iao, chegaram a ser igualadas ou associadas entre si pelos gnósticos, o que explica suas simbologias similares, e se tornaram patronos da saúde, da sabedoria secreta, dos mistérios e da magia. Podem também ser associadas na Goécia ao Daemon Decarabia.

Serapis, uma forma helenizada de Osíris-Ápis, era representada de forma similar ao Æon do Mitraísmo, e seu símbolo principal era uma cruz. Do culto de Serapis, que buscava remontar aos mistérios de Osíris sob uma roupagem mais Helênica, saíram as inspirações para os monastérios Cristãos que viriam a se instalar no Egito e depois em Roma. O próprio Imperador Adriano de Roma chegou a se referir aos adoradores de Serapis como Cristãos ou Bispos de Cristo, dados o intercâmbio e o sincretismo entre os cultos que já se encontravam em estado avançado em sua época.

MANUSCRITOS APÓCRIFOS

De 500 AC até 500 DC, surgiu uma profusão de textos escritos sob inspiração divina que buscavam explicar os mistérios do universo e da divindade, com ou sem citações a seu filho humano. Os diferentes movimentos gnósticos, judaicos e proto-cristãos tinham suas formas próprias de ver o mundo, que muitas vezes se chocavam e contradiziam.

Os movimentos que saíram vitoriosos e que angariaram mais seguidores acabaram escolhendo os textos que fariam parte de seu cânon (a Bíblia), em relação ao velho e principalmente ao novo testamentos. São Jerônimo, no ano 500, cunhou o termo “apócrifo” para denominar os textos que supostamente não haviam sido escritos por inspiração divina, e que portanto ficaram de fora da Bíblia, mesmo que muitos deles não tenham contradições e sejam inclusive complementares aos livros escolhidos. Em 1 Reis, por exemplo, é citado o “Livro dos Atos de Salomão”, que seria apócrifo, e as epístolas de Judas citam acontecimentos relacionados a Enoque que somente constam nos apócrifos “Livros de Enoque”.

No Evangelho de Nicodemos ou Atos de Pilatos, manuscrito apócrifo escrito entre 150 d.C. e 400 d.C., é narrada a descida de Jesus ao inferno para salvar as almas atormentadas injustamente por lá. O texto começa com uma conversa longa entre Belzebu (Príncipe do inferno) e Satã (Rei do inferno) sobre um suposto filho de Deus que havia nascido na Terra e prometido descer até seus domínios. Ao chegar nos portões do inferno e abri-los facilmente com luz e poder, Jesus explica aos atormentados que seu sofrimento é causado pela sua própria mente. O inferno seria um lugar de prisão apenas para quem considera que pecou, e a libertação se daria pela ressignificação do conceito de pecado, eliminando a culpa acumulada sobre suas ações em vida. Os Santos se libertam de suas próprias prisões mentais, e seguem Jesus, conquistando a Morte.

O apocalipse de São Pedro, outro livro apócrifo do ano 200 DC, descreve o céu e o inferno como lugares físicos, sendo que o céu é um jardim eterno com flores, árvores frutíferas, e uma luz indescritível. Já o inferno é descrito com maiores detalhes, sendo escuro e desesperador. Blasfemos são pendurados pelas línguas sobre o fogo, injustos são imersos em areia escaldante e perfurados por anjos negros, adúlteras penduradas sobre o fogo por suas tranças, e seus amantes com a cabeça enterrada em areia quente. Fetos abortados soltam raios que atingem os olhos das mães que os abortaram, enquanto elas ficam em uma piscina de sangue.

O livro Apócrifo Pistis Sophia, escrito por volta de 300 DC, narra algumas questões de Maria sobre o Universo que são respondidas por Jesus. Também chamado “As Questões de Maria”, é um dos livros-base do gnosticismo. O inferno é descrito no Pistis Sophia como um dragão que cerca o mundo e come seu próprio rabo. Dentro do Dragão existem 12 masmorras de tormento eterno, onde reinam absolutos 12 demônios. Cada um dos demônios tem um nome a cada hora, e muda de aparência a cada hora do dia.

CRISTIANISMO

Os atos atribuídos a Jesus nas primeiras escrituras compiladas levam a crer que ele compartilhava do senso comum das pessoas da época, ao entender o demônio como o conjunto de tentações, imoralidades e mesmo doenças (principalmente as psiquiátricas) que afligiam as pessoas. Também levam a crer que os acontecimentos da vida do Jesus histórico (que viveu de 7–2 AC até 30–33 DC) foram mesclados com mitologias diversas que falavam de Bem e Mal e cujas informações tinham chegado até então na Região do Oriente Médio.
Na descrição bíblica, Jesus foi tentado pelo diabo (assim como Buddha por Mara), e as falas de Jesus refletem um pensamento de que a vida após a morte seguiria uma lógica de compensação, e não propriamente de recompensa ou punição por boas e más ações. Por trás da moral incutida no relato, entende-se que seria natural Lázaro viver uma pós-vida plena apenas pelo fato de ter vivido em sofrimento, e o Rico viver a pós-vida no inferno apenas por já ter recebido benesses em vida.

Já no que toca à dominação do Cristianismo sobre outras vertentes religiosas, a Revelação de São João ou Apocalipse de João, escrita entre 68 e 70 DC, foi um dos livros escolhidos para estar na Bíblia e que permite entender as relações de poder entre os grupos da época. No texto, são descritos alguns apóstolos que não seriam realmente inspirados por Deus (ou seja, falsos profetas), como os Nicolaítas e os da cidade de Tiatira, enquanto o próprio João e seus seguidores seriam escolhidos para partilhar das maravilhas do paraíso. Outras visões sobre o Paraíso e o Inferno eram perigosas para o estabelecimento da nova religião única, e podem ser encontrados nos apócrifos Livro de Enoque, Evangelho de Nicodemos, As Questões de Maria, entre outros citados anteriormente.

O apocalipse de São João mostra em seus meandros o ideal de conquista e de dominação que havia por parte de seu grupo. É explicitado que quem guardasse os trabalhos de Cristo até o final — isto é, ele e seus seguidores, mas não os “falsos apóstolos” — teria o poder sobre as nações. Com o segundo advento de Cristo, supostamente anunciado pela queima de Roma por Nero (nome somando 666) em sua própria época, João poderia destruir as religiões que considerava falsas, e isto incluiria obviamente as de inspiração Babilônia e Suméria, assim como os adoradores de outros deuses e heróis como Baal, Marduk, Astarte, Moloch, Belial, etc.

No Apocalipse de João, o cordeiro rompe os 7 selos, e 4 cavaleiros do apocalipse são soltos, carregando uma coroa, uma espada, uma balança e a própria morte, seguidos pelo inferno. O Sol se torna negro, a Lua se torna vermelha, e os mártires recebem túnicas brancas. Um anjo anuncia 3 vezes, e 4 anjos que haviam sido presos (possivelmente os mesmos do Livro de Enoque) são soltos para matar 1/3 dos homens. Uma mulher prestes a dar à luz luta contra o dragão que aguarda para devorar seu filho. A velha cidade Babilônia, mãe das abominações, monta uma besta de 7 cabeças e traz seus filhos demônios para comer a carne dos mortos. Satã é preso por 1.000 anos e libertado de novo, quando então Gog e Magog são conquistados, e Jerusalém Celeste desce sobre a Terra. Então, 12 tribos passam a viver na cidade, e Deus é a luz em seu centro.

Já por volta de 400 DC, Santo Agostinho reformulou o cristianismo negando a existência do mal como um conceito independente, e associando-o mais fortemente ao pecado original cometido por Adão e Eva. Jesus teria o condão de salvar todos os humanos desse pecado, desde que eles se arrependam. Assim, a entidade “diabo” continuou existindo como tudo o que desvia o homem da real iluminação (ou seja, todos os inimigos da Igreja), nos moldes de Mara, do Budismo. Os Santos eram as pessoas que conseguiam resistir a estas tentações, ou mesmo destruir o adversário, e performar milagres usando os poderes atribuídos a eles por Deus.

Nos anos que se seguiram, para angariar mais seguidores, a Igreja começou a compilar histórias de Santos que eram baseadas em mitologias locais por onde passava. Esta tarefa foi simples, uma vez que as mitologias mais populares se baseavam em Arquétipos simples ou eficazes, quase universais, ou mesmo haviam sido baseadas umas nas outras e mescladas por meio de migrações, conquistas e sincretismos. Sendo assim, a estrutura do mito já estava pronta, bastando escolherem-se personalidades reais de cada país para serem encaixadas ali. São Jorge é um exemplo interessante pois se encaixa em um número estonteante de lendas, por exemplo Baal-Marduk contra Tiamat, Miguel contra o Dragão, Indra contra Vritra, Sigurd contra Fafnir, Rá contra Apep, e em todos os mitos que falam de entidades humanizadas (ordem) contra uma entidade bestial (caos). A história real dos santos, porém, nem sempre é digna de mitos, levando em conta que Jorge havia sido um arcebispo da Alexandria com um histórico tirano, a ponto de ter sido deposto e preso no ano 361 D.C, e morto em 362.

Enquanto as funções mais mundanas, como trazer a ordem ao povo, foram distribuídas entre os Santos, os anjos ganharam funções mais espirituais que outros povos atribuíam às suas divindades. O papel de pesar as almas e julgá-las, por exemplo, seria realizado pelo anjo Miguel no fim dos tempos. Esta atribuição era de Anúbis, por excelência, no Egito, e realizada pelo tribunal Meifu no Japão. O Arcanjo Miguel também foi encaixado em mitos de derrota do dragão, mas em um contexto mais definitivo, no Fim dos Tempos. Assim como Thor contra Jormungand no Ragnarok e Zeus contra Tifão na gigantomaquia, o anjo seria o responsável pela vitória absoluta contra o mal.

EUROPA

Por volta de 480 DC, o Cristianismo se espalhou por toda a Europa. Além de ser temido, o diabo passou a ser ridicularizado em histórias onde a inteligência humana prevalecia sobre sua malícia. Assim como nas histórias Nórdicas, os humanos, santos e deuses conseguiam favores e riquezas dos demônios (ou gigantes) com base em sua lábia e astúcia. As peças de teatro apresentavam demônios como seres facilmente enganáveis, e cada peça geralmente tinha 4 diabos com personalidades distintas, daí a expressão “fazer o diabo a quatro” como significando enganar ou maltratar de forma magistral uma pessoa.

Assim como os Gigantes Nórdicos, o Diabo pedia sacrifícios em troca de deixar os humanos em paz. Ele poderia, também, ser enganado para ajudar os humanos, pois tinha poderes inesgotáveis e muito úteis. Uma das histórias conta que um pastor pediu ao diabo para construir uma ponte nova, pois a ponte que costumava atravessar com seus cabritos estava correndo o risco de cair. O diabo construiu uma ponte nova em cima da ponte antiga, e em troca iria levar a primeira alma que passasse sobre a ponte. Porém, o pastor enviou um cabrito sozinho sobre a ponte, e o diabo estraçalhou o animal, de tanto ódio que sentiu por ter sido enganado.

Em outro conto onde o diabo é ridicularizado, fala-se de um fazendeiro que não conseguia ter boas colheitas. Ele então fez um pacto com o diabo e pediu pela fertilidade de suas terras, mas o diabo disse que só aceitaria o pacto se pudesse ficar com metade da colheita a cada ano. O fazendeiro poderia, porém, escolher a metade que queria. Dito e feito. No ano em que plantava mandioca, o fazendeiro deixava a metade de cima das plantas para o diabo. No ano em que plantava trigo, deixava para o demônio a metade de baixo.

Mesmo acreditando em um Deus Único, as religiões hebraico-cristãs sempre acreditaram no poder da magia. Por isso mesmo tiveram que reconhecer e categorizar os atos mágicos feitos pelos outros povos como algo negativo, e por seus próprios adeptos como algo positivo. Assim, a inquisição que ocorreu desde os anos 1100 até cerca de 1700 foi ao mesmo tempo uma tentativa de perseguir todos aqueles que, de uma forma ou de outra, desafiavam os dogmas da igreja (imputando-lhes culpa mesmo quando não houvesse), como também foi um reconhecimento público de que a magia, mesmo quando feita sem licença divina, tinha potencial transformador, e por isso deveria ser combatida.

Enquanto a magia dos outros era herética e pecadora, a magia realizada por homens que faziam parte da egrégora dominante era chamada de “milagre”. Neste sentido, os mesmos atos realizados por bruxas e que poderiam levá-las à fogueira foram feitos sem problema por homens da igreja. Papas e padres tinham seus grimórios, e a atuação de demônios era aceitável desde que se dissesse que haviam sido compelidos pelo poder de Deus. O homem, com a ajuda de Deus, poderia comandar demônios e pedir a eles que fizessem tarefas, sem correr o risco de ser tachado como herege ou queimado como bruxo.

NÓRDICOS

O Conceito do Mal para os povos Nórdicos na Era Viking (~800 DC), assim como em vários outros povos, era o das forças primordiais, personificadas principalmente na forma de Hel ou Hela e seus irmãos. Estes três seres eram filhos de Loki, o Trickster — que representava, acima de tudo, o livre-arbítrio, metaforicamente sendo a origem do mal. Hela era uma mulher metade morta, e cuidava da Terra dos mortos. A serpente Jormungand ficava ao redor do mundo (Midgard), e o Lobo Fenrir foi aprisionado em correntes inquebráveis dentro de uma caverna.

O Ragnarok é uma passagem da mitologia nórdica bastante enigmática, uma vez que contém elementos do Dilúvio e também do Apocalipse cristãos, e pode ter sido adaptada já sob influência da Igreja (nas Eddas Poéticas de ~1300 DC) para explicar a passagem do politeísmo para o monoteísmo. Nesta passagem, a volta de Baldur, Deus da luz e da pureza, inicia uma reviravolta cósmica. Os filhos de Loki e os gigantes de Gelo (de Jotunheim) e de Fogo (de Muspelheim) lutam contra os deuses e Surt queima a árvore da vida Yggdrasil com sua espada flamejante. O fogo faz o céu derreter e inundar a Terra, mas dois seres humanos sobrevivem em uma caverna ou dentro da casca da própria Árvore, assim como Baldur. Os sobreviventes reconstroem o mundo, e Baldur passa a ser seu Deus único.

Da mesma forma que a cultura Nórdica foi influenciada pela Igreja, a figura do Diabo no cristianismo foi muito influenciada pela cultura Nórdica. Sua figura era associada ora aos gigantes de fogo de Muspelheim, ora aos gigantes de gelo de Jotunheim. No inferno de Dante, o último círculo do inferno (inferus, inferior) é feito de gelo, e a palavra “Hell” é deliberadamente adaptada de Hel, o reino dos mortos na Yggdrasil. O diabo é novamente entendido como aquele que comanda os terrenos e tem controle sobre eventos primordiais como vulcões e terremotos — assim como os gigantes.

Assim como os gigantes Nórdicos, o diabo poderia solicitar oferendas para não destruir construções humanas. Por isso, muitas vezes eram sacrificadas pessoas na fundação de muralhas e de torres, acreditando-se que os sacrifícios garantiriam sua integridade. Os corpos enterrados nos alicerces da cidade eram o imposto a se pagar para as forças da natureza. Esta prática era tão comum que foi tida como aceitável pelo Deus de Israel, como pode ser lido em 1 Reis 16:34: “Em seus dias Hiel, o betelita, edificou Jericó. Quando lançou os seus alicerces, morreu-lhe Abirão, seu primogênito; e quando colocou as suas portas, morreu-lhe Segube, seu filho mais moço; conforme a palavra do Senhor, que ele falara por intermédio de Josué, filho de Num”.

Referências: Paul Carus — The History of the Devil; Skinner & Rankine — The Goetia of Dr. Rudd.


Centiloquium Ptolomei

Os Cem Aforismos de Ptolomeu


1. Abs te & à Scientia, a partir de Vós e da ciência; pois é impossível que o Artista possa prever a ideia específica das coisas; tampouco podem os sentidos receber uma noção particular, mas apenas geral, da questão sensível; pelo que ele deverá usar a conjectura, pois ninguém pode prever os particulares a não ser aquele que está inspirado.

   

2. Quando aquele que faz a pergunta a considerar melhor, verificará que há pouca diferença entre a coisa perguntada e a ideia dela na sua mente.

   

3. Aquele que deseja estudar qualquer arte, tem na sua natividade, indubitavelmente, alguma estrela da mesma natureza muito bem fortificada.

   

4. Aquele cuja mente tenha uma natural inclinação para qualquer ciência alcançará maior perfeição nela do que alguém que se esforce arduamente e se afadigue no estudo para a alcançar.

   

5. Aquele que for hábil nesta ciência pode evitar muitos dos efeitos das estrelas, quando conhece as suas naturezas, e diligentemente se prepara para receber os seus efeitos.

   

6. Uma eleição de dias ou horas torna-se eficaz quando concorda com a natividade, pois de outro modo, a eleição, mesmo que seja bem feita, não trará proveito.

   

7. Ninguém pode conhecer as misturas das estrelas a não ser que conheça primeiro as suas naturais diferenças e as misturas de uma com a outra.

   

8. Sapiens, um homem sábio coopera com as operações celestiais e ajuda a natureza, tal como o lavrador ao arar e preparar o solo.

   

9. As formas que são geradas e corrompidas, estão sujeitas aos corpos celestes e são movidas por eles; portanto, aqueles que criam imagens fazem uso delas, observando quando os planetas entram nessas constelações e formas.

   

10. Na eleição de dias e horas, as duas infortunas são muito úteis e têm que ser usadas como o médico usa o veneno, habilmente, para a cura do ser humano.

   

11. Não façam qualquer eleição de dias e horas antes de conhecerem a qualidade da coisa pretendida.

   

12. O amor e o ódio provocam erros no julgamento, pois o afecto aumenta as ninharias e a inveja abusa igualmente das coisas importantes.

   

13. Quando a posição do céu significar que qualquer coisa terá lugar, fazer uso no assunto dos dois malévolos, Saturno e Marte, mesmo que na natividade não fossem amistosos.

   

14. O Astrólogo mergulha em muitos erros quando a cúspide da sétima e o seu regente estão desafortunados ou afligidos.

   

15. Os ascendentes dos inimigos de um reino são aqueles signos que declinam do ascendente do reino. Os ascendentes dos amigos de um reino são os signos dos ângulos e os signos que se seguem àqueles ângulos; o mesmo é de considerar no início de opiniões cismáticas.

   

16. Quando planetas benevolentes regerem a oitava casa, aquele que nascer nessa altura sofrerá danos vindos de pessoas boas, mas se esses planetas estiverem bem afectados, o contrário acontecerá.

   

17. Quando forem dar o vosso julgamento a respeito da duração da vida de um homem idoso, não dêem julgamento antes de terem considerado quanto tempo poderá viver, de acordo com a sua natividade, i.e. considerando o Hyleg, o Alcocoden e as direcções assassinas.

   

18. Quando ambos os luminares estiverem no mesmo grau e minuto de um signo, no momento do nascimento de qualquer pessoa, e um planeta benevolente estiver no horóscopo, a pessoa que nascer nesse momento será afortunada em todos os seus actos. O mesmo acontecerá se as duas luzes se contemplarem entre si por oposição a partir da primeira e da sétima, qualificadas como anteriormente; mas, se uma infortuna estiver no horóscopo, julgar o contrário.

   

19. Quando a Lua está em conjunção com Júpiter e nessa altura for tomado um medicamento purgativo, este toma-se inválido e ineficaz.

   

20. Não se toque em qualquer parte do corpo com um instrumento para retirar sangue quando a Lua estiver no signo que governa esse membro.

   

21. Quando a Lua estiver em Virgem ou em Peixes, e o regente do ascendente em aspecto a um planeta sob a Terra, ajuda muito à actuação do medicamento purgativo; mas, se ela estiver em aspecto a um planeta acima da Terra, o paciente será sujeito ao vómito.

   

22. Não se corte nem se vista uma roupa ou um fato novo se a Lua estiver em Leão; e se ela aí estiver desafortunada, será ainda pior.

   

23. A Lua em aspecto ou conjunção com os planetas toma o nativo vacilante na sua disposição; e se esses planetas estiverem fortes, será activo e ágil; mas se estiverem fracos, indolente e incapaz.

   

24. Um eclipse de qualquer dos luminares nos ângulos de uma natividade ou revolução anual é prejudicial; mas a hora dele é tomada da distância entre o grau a ascender e o grau do eclipse e, tal como num eclipse solar tomamos para cada hora da sua duração um ano, assim também para um eclipse da Lua, tomamos para cada hora um mês.

   

25. Façam com que o M.C. e qualquer significador perto dele seja dirigido pelas tábuas de ascensão recta, mas no horóscopo pelas tábuas de ascensão oblíqua sob a elevação do nascimento.

   

26. Qualquer coisa sobre que se pergunte é muito obscurecida quando o planeta que significa o assunto está combusto, sob a Terra, ou numa casa nefasta do céu; mas o assunto toma-se extremamente evidente quando esse planeta está a ir das suas debilidades para as suas dignidades, e para a sua própria casa.

   

27. A parte do corpo que é governada pelo signo em que se encontra Vénus no nascimento é proporcionalmente torneada e belamente formada; entenda-se o mesmo sobre os outros planetas.

   

28. Se não conseguirem colocar a Lua (nas eleições) em boa configuração com dois planetas, façam com que fique perto de alguma estrela fixa da natureza de que deveria ser o planeta.

   

29. As estrelas fixas (quando designam apenas promoções) dão admiráveis e incríveis promoções, que geralmente terminam em incrível miséria.

   

30. Considerem bem a coroação do primeiro rei de qualquer país ou religião, se o ascendente a coroação concordar com o ascendente daquele que tem esperanças de lhe suceder, ele suceder-lhe-á nesse reino.

   

31. Quando o significador de um reino for dirigido aos pontos anaréticos, o rei ou algum grande príncipe nesse reino morrerá.

   

32. Um aspecto amistoso das estrelas contribui muito para a amizade de duas pessoas; mas a qualidade da coisa em que concordam é conhecida pelas suas natividades.

   

33. A partir da concordância dos luminares e dos horóscopos de duas pessoas, conhece-se o amor e o ódio entre eles; e os signos chamados obedientes aumentam a amizade.

   

34. O planeta que tiver a maioria das dignidades no lugar da Lua Nova, se nessa altura estiver angular, governará os assuntos principais desse mês.

   

35. Quando o sol transitar o lugar de qualquer significador principal (no ingresso) dá então a esse planeta força e poder para alterar o ar.

   

36. Nas fundações das cidades, tenham respeito pelas estrelas fixas; mas na construção das casas observem apenas os planetas, e as cidades que, na sua fundação, tinham Marte no seu M.C., os seus príncipes morrem geralmente pela espada.

   

37. Aqueles que têm os signos de Virgem ou Peixes a ascender, alcançarão honra e reputação através da sua própria indústria; mas aqueles que têm Carneiro ou Balança a ascender serão a causa da sua própria morte; o mesmo pode ser também observado noutros signos.

   

38. Quando Mercúrio estiver em qualquer das casas de Saturno na natividade de qualquer pessoa, e forte, o nativo tem grandes talentos naturais; capaz de aprender qualquer coisa; mas se estiver em qualquer das casas de Marte, dá então ao nativo uma língua eloquente, e isto dá-se especialmente em Carneiro.

   

39. Se a casa onze estiver desafortunada na coroação de qualquer rei, significa que os criados da sua casa serão pobres; mas se a segunda casa estiver desafortunada, ameaça os seus súbditos com prejuízos no seu património.

   

40. Quando o ascendente está sitiado pelos corpos ou raios malignos das infortunas, o nativo deleitar-se-á em actos vis, e os perfumes fedorentos serão os mais gratificantes para o seu olfacto.

   

41. Quando derem início a qualquer viagem, certifiquem-se que a oitava casa e o seu regente não estão desafortunados; mas no regresso, prestem atenção à segunda casa e ao seu regente.

   

42. Uma doença ou enfermidade começando quando a Lua está num signo em que uma infortuna se encontrava no radix, ou em sua quadratura ou oposição, provará ser muito grave, e se ela estiver nessa altura em mau aspecto a uma infortuna, será perigosa; mas, se na altura em que se fica doente, ela estiver sobre o lugar radical de uma fortuna, não haverá perigo.

   

43. Os aspectos maléficos de uma nação ou reino sobrepõem-se aos aspectos temporais contrários, visto eu os entender assim: Que nas predições gerais, o destino do reino deve ser considerado primeiro, -depois o das cidades, opiniões, etc. Por fim, os dos seres humanos, o principal dos quais é a natividade do príncipe daquele país a ser considerado.

   

44. Ao levantar uma figura na decumbitura, se for contrária à do radix, a pessoa doente estará em perigo, especialmente se nenhum bom planeta ajudar.

   

45. Aquele que tem os principais regentes da sua natividade fora dos signos humanos, não será sociável com a humanidade.

   

46. Grande felicidade é prometida nas natividades a partir das estrelas fixas, e a partir do ângulo da conjunção anterior, e a partir do grau da Parte da Fortuna, quando o grau ascendente no nascimento sucede ser o mesmo.

   

47. Quando, na natividade de qualquer pessoa, um planeta maligno estiver colocado onde uma fortuna se encontrava na natividade de outra pessoa, aquele que tiver a fortuna assim colocada, sofrerá prejuízo a partir da outra.

   

48. Quando o M.C. da natividade de um rei for o ascendente de um súbdito, ou os principais regentes estiverem em boas configurações, eles permanecerão inseparáveis; julgar o mesmo quando a sexta casa de um criado for a mesma do seu amo.

   

49. Quando o horóscopo de um súbdito estiver a culminar na natividade do seu príncipe, o seu senhor instrui-lo-á de tal forma que será governado por ele.

   

50. Não se esqueçam das 119 conjunções dos planetas, pois é delas que é conhecida a gestação e a corrupção das coisas no mundo.

   

51. Seja qual for o signo em que se encontra a Lua no momento do nascimento, façam desse signo o ascendente na concepção, e no signo em que ela se encontrar na concepção, façam dele ou do seu oposto o ascendente no nascimento.

   

52. Os regentes das natividades dos homens altos estão nas suas sublimidades, e os seus horóscopos nos inícios dos signos; mas nas natividades dos homens baixos, podem ser encontrados nas suas quedas, e considerem também se os signos a ascender são de longa ou curta ascensão.

   

53. Os regentes das natividades dos homens magros não têm nenhuma latitude; mas dos homens gordos têm-na; se a latitude for Sul, o nativo é mais ágil; mas se for Norte, é mais lânguido e inerte.

   

54. Quando o principal significador nos edifícios estiver ligado a planetas sob a Terra, estes dificultam a erecção do edifício.

   

55. A nefasta influência de Marte contra navios é muito diminuída quando não está colocado na décima nem na décima primeira casas do céu; pois em qualquer destes lugares destrói o navio, mas se uma estrela fixa da natureza de Marte estiver no ascendente, o navio será incendiado.

   

56. Desde a Lua Nova até à Cheia, a humidade e a seiva dos corpos aumenta; mas da Lua Cheia até à Nova, diminui.

   

57. Mudem de médico quando a sétima casa e o seu regente estiverem afligidos.

   

58. Considerem o lugar da conjunção, em que parte do céu cai a partir do ascendente do ano; pois quando a profecção chegar a esse ponto, o acontecimento surgirá.

   

59. Não julguem precipitadamente que a pessoa ausente está morta, antes de considerarem se não estará bêbado, nem digam que sofreu um ferimento antes de inquirirem se não terá sido sangrado; nem julguem que ele encontrará um tesouro escondido antes de terem investigado se ele não terá aceitado recentemente alguma coisa como penhor; visto as figuras de todas estas perguntas serem tão parecidas.

   

60. Ao julgar o estado de pessoas doentes, observem os dias críticos e o lugar da Lua nos ângulos de uma figura de 16 lados; pois se esses ângulos estiverem bem afectados, tudo correrá bem com o doente; mas se estiverem afligidos, julguem o contrário.

   

61. A Lua significa as coisas que pertencem ao corpo, porque são as mais parecidas com ela, conforme a sua natureza.

   

62. Se começarem o vosso trabalho a partir do minuto da conjunção, poderão dar julgamento a respeito da mutação do ar naquele mês; pois, conforme for a natureza do principal regente do ângulo de qualquer figura, assim será o efeito que terá; pois esse planeta superintenderá a constituição do ar. Considere-se também, além destas coisas, a estação do ano.

   

63. Quando Saturno e Júpiter chegarem a uma conjunção, verificar qual deles está mais elevado, e julgar em conformidade com a sua natureza; fazer o mesmo na conjunção dos outros planetas.

   

64. Quando tiverem considerado o regente da pergunta, verifiquem qual é a dignidade essencial que ele tem na revolução do querente, ou no ascendente da Lua Nova anterior, e julgar em conformidade.

   

65. Na conjunção menor, a diferença da média, e na conjunção média a diferença da maior. Se Ptolomeu refere o sentido deste aforismo ao anterior ou se fala dele directamente, para que seja entendido por si só, não sei; e por isso deixo-o assim.

   

66. Não usem nenhuma profecção sozinha, mas considerem também a concordância das outras estrelas, quer estas confiram, quer subtraiam.

   

67. Os anos do nativo são diminuídos por causa da imbecilidade do dador da vida.

   

68. Quando um planeta malévolo está oriental, significa dano externo para o corpo; mas quando está ocidental, significa doenças.

   

69. Quando a Lua estiver em oposição ao Sol, perto da, estrelas fixas Nebulosas, o nativo sofrerá danos na sua visão; mas, se a Lua estiver na sétima casa, e Saturno e Marte no horóscopo, e o Sol num ângulo, será cego.

   

70. Aqueles que adivinham através de uma espécie de fúria ou ira, não têm Mercúrio em conjunção com a Lua nas suas natividades, nem nenhum deles se encontra nos ascendentes daqueles que são demoníacos; nas natividades desses homens, de noite Saturno ocupa esse ângulo, mas de dia Marte, especialmente em Caranguejo, Virgem ou Peixes.

   

71. Quando as duas luzes estiverem em signos masculinos nas natividades dos homens, os seus actos surgirão de acordo com a sua natureza; mas nas natividades das mulheres, estas coisas são mais ampliadas; julgar o mesmo de Marte e Vénus, pois estando eles orientais, tornam o nativo mais varonil; mas ocidentais, mais efeminado.

   

72. As coisas que dizem respeito à educação do nativo devem ser deduzidas dos regentes da triplicidade e do ascendente; mas o que diz respeito à vida deve ser deduzido dos regentes da luminária condicional.

   

73. Se o Sol estiver com Caput Algol e não estiver aspectado por um planeta benevolente, ou um planeta benevolente na oitava casa, e o dispositor da luz condicional (que é a luz do momento) estiver em quadratura ou oposição a Marte, aquele que nascer desse modo será decapitado; mas se aquela luz estiver a culminar, ou estiver na décima casa, o seu corpo será ferido; se esta cópula se der em Gémeos ou Peixes, as suas mãos e pés serão cortados ou feridos.

   

74. Aquele que tiver Marte no seu horóscopo, terá seguramente uma cicatriz no seu rosto.

   

75. Quando o Sol está ligado ao regente do ascendente em Leão e não tem nenhuma dignidade no ascendente e não há nenhum planeta benevolente na oitava casa, aquele que assim nascer será queimado.

   

76. Saturno no M.C. em oposição à luz do momento, e um signo terreno na cúspide da quarta casa, o nativo perecerá devido à queda de um cavalo ou de alguma coisa lá do alto; mas se um signo aquático estiver na quarta, afogar-se-á; se um signo humano estiver na quarta, será assassinado ou enforcado; mas se um planeta afortunado estiver na oitava casa, correrá perigo devido a estas contingências, mas conseguirá escapar-lhes.

   

77. Dirijam o ascendente para as coisas que dizem respeito ao corpo, a Parte da Fortuna para as coisas externas; a Lua para as coisas tanto do corpo como da mente; o M.C. para as acções, magistratura ou profissão do nativo.

   

78. Muitas vezes um planeta opera naquela parte do céu em que não tem qualquer dignidade, dando ao nativo riqueza inesperada, a qual pensa-se ser resultante dos antíscios dos planetas.

   

79. Aquele que tiver Marte na sua casa onze ao nascer, nunca prevalecerá contra o seu amo.

   

80. Quando Vénus está ligada a Saturno, tendo ele domínio na sétima casa, aquele que nascer nessa altura sentir-se-á desejoso de coito sórdido.

   

81. Os acontecimentos futuros são revelados de sete maneiras diferentes: Primeira, pela distância dos dois significadores. Segunda, pelos seus aspectos uns aos outros. Terceira, pelo seu progresso um ao outro. Quarta, pela distância entre eles ou de um deles em relação ao lugar que significa a coisa desejada. Quinta, pelo pôr da estrela que ajuda ou dificulta o assunto. Sexta, pela mutação do principal significador. Sétima, pela entrada de um planeta nas suas próprias dignidades.

   

82. No julgamento, quando as coisas estão igualmente equilibradas, então levem em consideração o ascendente da Lua Nova ou Cheia e, se isso for também igual, deferir o julgamento nessa ocasião.

   

83. A hora em que qualquer pessoa implora alguma coisa do rei mostra a afeição entre o rei e o suplicante; mas a hora em que é conferida mostra a incompetência da acção que dela depende.

   

84. Quando Marte é o regente do ascendente na hora em que se toma posse de qualquer coisa e está na segunda, ou ligado ao regente da segunda, dá grande prejuízo e perda.

   

85. Quando o regente do ascendente está em aspecto com o regente da segunda, o príncipe consumirá muito tesouro por sua própria iniciativa.

   

86. O Sol é a fonte do vigor vital, a Lua do natural.

   

87. As revoluções mensais são concluídas em 28 dias, duas horas e 1 minutos; no entanto, alguns julgam essas coisas a partir dó progresso do Sol, quando ele chega ao mesmo grau e minuto em que se encontrava no princípio do mês.

   

88. Quando dirigimos a profecção da Parte da Fortuna para a totalidade da revolução do ano, tomamo-la do Sol para a Lua, e projectamo-la a partir do ascendente.

   

89. Aquilo que diz respeito ao avô é requerido da sétima casa mas, para o tio, recorram à sexta.

   

90. Quando o principal regente contempla o ascendente, a coisa que permanece por descobrir é da natureza do ascendente; se não contemplar o ascendente, a sua qualidade será de acordo com a natureza do lugar em que o regente do horóscopo se encontra, o regente da hora mostra a cor da coisa, o lugar da Lua a idade, pois se estiver acima da terra, indica que a coisa é nova, mas se estiver abaixo, é velha; a Parte da Fortuna mostra a sua quantidade ou amplitude, os regentes dos termos da quarta e da décima casas e a Lua mostram a sua substância.

   

91. É mau quando o regente da pessoa doente está combusto e pior ainda se a Parte da Fortuna estiver desafortunada.

   

92. Saturno não aflige muito o doente quando está oriental, nem Marte quando está ocidental.

   

93. Nas perguntas, não dêem julgamento antes de considerar a Lua Nova seguinte, pois o início das coisas é alterado a cada conjunção, portanto considerem-nas conjuntamente e não errarão.

   

94. O lugar do céu em que o principal significador está colocado mostra a intenção do querente.

   

95. As imagens que surgem com os vários decanatos mostram a inclinação do nativo para a profissão que pratica.

   

96. As significações de um eclipse serão mais visíveis quando o eclipse se encontra perto de um ângulo; considerem também as estrelas em aspecto umas às outras, e não apenas os planetas, mas também as estrelas fixas, as constelações que ascendem juntamente com os signos, e de tudo isto enquadrem o vosso julgamento.

   

97. As coisas são subitamente levadas a efeito quando o regente da Lua Nova ou Cheia anteriores estiver angular na pergunta.

   

98. As estrelas cadentes e chamejantes, etc., têm uma força secundária sobre os assuntos comuns.

   

99. As estrelas cadentes e outras aparições desse tipo mostram grandes deslocações no ar e, se surgirem só de uma parte mostram que haverá igualmente grandes ventos produzidos a partir daquele quadrante; mas se forem levadas para várias partes, mostram escassez de águas, um ar perturbado e incursões de soldados.

   

100. Os cometas cuja distância do Sol é de onze signos, se aparecerem num ângulo, o rei ou um homem importante em algum reino morrerá; mas, se surgirem numa casa sucedente, os ajudantes dos príncipes dar-se-ão bem, mudando contudo algum reino de governador, mas se aparecerem numa casa cadente, seguem-se doenças e mortes súbitas; se andarem do Oeste para o Leste, um inimigo estrangeiro invadirá vários reinos; mas, se o cometa não se mover, os inimigos serão do mesmo reino, nele nascidos e criados.


Aqui terminam os cem Aforismos de Ptolomeu

 

Centiloquium de Ptolomeu retirado do livro "Mikropanastron"


sexta-feira, 7 de maio de 2021

Abracadabra

Abracadabra es la palabra mágica por antonomasia. Se utiliza como encantamiento para realizar diversos trucos mágicos, y según la tradición, tiene poderes curativos cuando se inscribe en un amuleto. Viene del arameo ibra k’dibra, donde ibra, ‘he creado’, y k’dibra ‘a través de mis palabras’, «creo cuando digo». 

Wendelin de Tournay, aseguraba que Abracadabra era una palabra con raíces árabes formada por las letras iniciales de las palabras Ab, “Padre”, Ben que significa “Hijo” y, Ruaj Acádosh que quiere decir “Espíritu Santo.” Otros le dan a este vocablo un origen egipcio donde abrak significaría “Santo” en esa cultura. Pero una vez más vemos como es imposible llegar a un acuerdo en este punto, pues Munter aseguraba que el origen si bien era egipcio, no tenía ninguna relación con el abrak que ya hemos mencionado, sino con berre que en aquella cultura equivalía a “nuevo,” aunque, de hecho, no tiene mucho sentido, así que también se ha dicho que puede significar “palabra nueva” que serviría para invocar a los dioses y obtener ciertos beneficios de ellos. 

(palabra cabalística a la que se atribuían propiedades mágicas; todo fue escrito en una línea debajo de la cual, en diez filas, cada vez se escribe una letra menos, por lo que el conjunto final queda formando un triángulo ) 

La primera mención conocida de la palabra fue en el siglo III dC en un libro llamado Liber Medicinalis (a veces conocido como De  Medicina Praecepta Saluberrima ) por Quinto Sereno Sammonicus, médico del emperador romano Caracalla, que en el capítulo 51 prescribe que los enfermos de malaria usan un amuleto que contiene la palabra escrita en la forma de un triángulo. 

El poder del amuleto, explicó, hace que las enfermedades letales desaparecen. Otros emperadores romanos, incluyendo Geta y Alejandro Severo, eran seguidores de las enseñanzas médicas de Sereno Sammonicus y pueden haber utilizado el conjuro también. 

El arameo también ofrece una conformación similar, Avada Kedavra, “que lo que se destruye”; lo que indica la posibilidad de que  ABRACADABRA  era, después de todo, para eliminar una simple dolencia de un hechizo. 

Ya en su papel como palabra mágica ABRACADABRA era extraordinariamente popular entre los gnósticos, que siempre tuvo una fuerte afinidad por la simetría morfológica. La palabra ABRACADABRA Creía-podía curar todo tipo de enfermedades. 

Los gnósticos sabían que la letra A representa la unidad y la acción. La A unida a la letra  B representa la matriz binaria. La R es la unión de los dos principios iniciales; y así sucesivamente para explicar todo el simbolismo del ABRACADABRA , pero no su significado. 

Otros números válidos y cabalísticos para la interpretación de  ABRACADABRA  es 11, que es el total de las letras que forman la palabra; y 66, el total de las letras que forman el triángulo mágico.

Abracadabra y Abraxas

Los gnósticos grababan la palabra ABRAXAS en piedras que luego utilizaban como talismanes. El valor numérico de las letras griegas que la componen es 365; el cual se refiere a las virtudes divinas que se manifiestan durante todo el año y también al año solar mismo que, como sabemos, consta de 365 días; además, las 7 letras de la palabra ABRAXAS representan los 7 planetas conocidos en la antigüedad. 

Pensando que la palabra abracadabra puede derivar de la palabra abraxas , se descubre que esta palabra puede ser mucho más que una idea pueril. Ya que la palabra abraxas tiene significados numéricos muy importantes. Utilizando el alfabeto griego y transformando esta palabra a números se llega al número 365 , que es no solamente el número de los días del año sino también el número cinco que habla de las cinco criaturas, es decir las cuatro criaturas que protegen al mundo más el humano. Este símbolo puede verse en la carta del Tarot llamada El Mundo. 

Abraxas también era un poderoso talismán utililzado en la antigüedad y era representado en una persona con cuerpo y brazos humanos, cabeza de gallo, el escudo de la sabiduría en una mano y el látigo en la otra, el cuerpo terminaba en piernas de serpiente y comandaba un gran carro dorado, símbolo solar. Esta deidad es muy antigua y habla del poder solar, el cual estaría relacionado con el poder que tiene la palabra abracadabra para abrir las puertas de la oscuridad 

El nombre se tomó del griego abraxas, un amuleto en el cual el término latino  abracadabra  aparecía once veces, cada vez con una letra menos hasta terminar en una sola a. Creían que colgarse del cuello un pergamino virgen con esta fórmula curaba enfermedades. El uso de estos amuletos era común en la secta dualista de los gnósticos – creían en un dios y un demonio igualmente poderosos- , que pensaban que la salvación podía obtenerse por una serie de conocimientos esotéricos. 

De acuerdo con el mago y ocultista Eliphas Lévi, la combinación de letras que conforman esta palabra son una clave del pentagrama. También se asegura que la combinación de estas letras representarían la “cuadratura del círculo”. En fin, que se cree que al ser pronunciada  funciona como una especie de hechizo que causa alguna reacción en la persona o bien en el objeto a quien es lanzado el hechizo. 

Abrahadabra (Thelema) 

Abrahadabra es una palabra que apareció principalmente en “El Libro de la Ley (Thelema)” Su autor, Aleister Crowley, la describe como “La Palabra del Eón, que significaba La Obra Maestra completada. Esto se debe a que creía que al haberse escrito Liber Legis (otro nombre para “El Libro de la Ley”) proclamaba un nuevo Eón para la humanidad que sería reinada por el dios Heru-ra-ha (una forma de Horus). Abrahadabra es, debido a eso, la “Fórmula Mágica” de esta nueva era. No hay que confundirse con la Palabra de la Ley del Eón, la cual es “Thelema”, significando Voluntad. 

Crowley remplazó la C en Abracadabra con una H, la cual está ligada al Aliento y la Vida en el ritual Neófito de la Orden Hermética de la Aurora Dorada,al igual que al dios Horus. Aleister Crowley ha tomado el lugar de Horus o el en el ritual Neófito de la Aurora Dorada,lo que significa que él personalmente dio la respuesta explicando el significado de la letra H.

Crowley explica en su ensayo “Gematria” que cambió la palabra “magick” para incluir también la ‘H’ debido a métodos cabalísticos. Él parece decir que esto pasó antes de su junta con Oscar Eckenstein,uno de sus maestros, en enero de 1901. En la junta, Eckenstein ordenó a Crowley, poner la magia a un lado por el momento, y practicar meditación En “Gematria”, Crowley dice que tomó gran interés en Abrahadabra, y su número cabalístico 418, en el momento en el que alguien le ordenó que “abandonara el estudio de la magia y el Cábala”. En el Libro de Thoth, Crowley se refiere a “Abrahadabra” como una ‘clave’ de la Obra Maestra. La palabra “Abrahadabra” aparece repetidamente en la invocación de Horus en 1904, que precedía la publicación de “Liber Legis” y guío a encontrar Thelema. También aparece en un diario de mayo de 1901 donde Crowley publicó “El Equinoccio” 

El ensayo “Gematria” otorga versiones hindúes, cristianas y “no-sectáreas”, del problema que Crowley intentaba resolver con la palabra magick. Él también da un equivalente cabalístico por cada fraseo, y una breve respuesta simbólica para cada uno. La versión “no-sectaria” redacta, “Yo soy el cuadrado finito; Yo deseo ser uno con el círculo infinito.” Su equivalente refiere a “La Cruz de Extensión” y “la infinita Rosa”. La explicación numerológica del ABRAHADABRA, según Crowley, se enfoca principalmente en esta última formulación y la respuesta de ello. Abrahadabra es referida también como “La Palabra de Doble Poder”. Más específicamente, representa la unión del microcosmos con el macrocosmos—representada por el pentagrama y el hexagrama, la rosa y la cruz, el círculo y el cuadrado, también llamado la obtención del Conocimiento y la Conversación del propio Sagrado Ángel Guardián. En “Comentarios” (1996), Crowley dice que la palabra es un símbolo del “Establecimiento del pilar o el falo del Macrocosmo… en el vacío del Microcosmos.” 

Gematria 

Como con la mayoría de las cosas encontradas en las obras místicas de Aleister Crowley, la palabra Abrahadabra puede ser examinada usando el método cabalístico de la Gematría, la cual es una forma de numerología, donde las correspondencias son hechas basadas en valores numéricos. 

ABRAHADABRA =418

ABRAHADABRA tiene 11 letras

ABRAHADABRA = 1+2+2+1+5+1+4+1+2+2+1 = 22

Las cinco letras en la palabra son: A, La corona; B, La Varita; D, La copa; H, La espada; R, la Rosacruz; y refiere después a Amoun el Padre, Thot su mensajero, e Isis,Horus, Osiris, la triada humana.

También 418 = ATh IAV, La esencia de IAO, traducida del hebreo como “ Tú eres IAO” 

666 & 616

Cualquier que haya escuchado decir '666', irremediablemente asocia este número al diablo,  a Satanás o el Anticristo. Muchas son las asociaciones que se hacen a esta cifra y que esconde un mensaje oculto en el Nuevo Testamento de la Biblia. 

Una cifra que hace alusión a la 'marca/número de la Bestia', término empleado en el libro de Apocalipsis y que vuelve a aparecer en otros pasajes del Nuevo Testamento, a veces como 616. Se asocia con el mal y es también recogido por el libro de Revelaciones de San Juan. 

En el griego antiguo, que fue en el que se escribió originalmente el texto, los números se escribían como letras, al igual que ocurría en el romano y el hebreo. En el pasaje del capítulo 13 del libro de Apocalipsis se presenta, según expertos, como una invitación a resolver un acertijo que podría estar relacionado a algo más terrenal que diabólico. Las letras en ese caso están escritas en hebreo, lo cual ya da a entender que el autor trataba de ocultar un mensaje que no era otro que un mensaje de rechazo al Imperio Romano. El 666 podría tratarse, sin más, del líder de aquel imperio en aquel momento: Nerón César. Sería la forma del autor de ocultar un mensaje que indicase que "la raíz de todo mal es Nerón César". 

Algunos manuscritos antiguos del libro de Apocalipsis tienen 616 en lugar de 666 como el número de la bestia. La diferencia probable surgió de la ortografía del nombre de Nerón, ya que fue pronunciado en latín en lugar de hebreo. En su pronunciación en latín, la letra «nun» (que tiene un valor numérico de 50) se eliminó para ayudar a los lectores a no confundir la identidad del Emperador impío romano con alguna otra persona. Por lo tanto, en algunos manuscritos tardíos obtenemos 616 (por la pronunciación en latín) en lugar de 666 (por la pronunciación en griego) que existe en los manuscritos más antiguos y originales. 

En numeración romana, el 666 es DCLXVI, un acrónimo que vendría a significar Domitius Caesar Legatos Xti Violenter Interfecit, (Domicio César mató vilmente a los enviados de Cristo). Nerón nació con el nombre de Lucio Domicio Enobarbo, que comparte con otro emperador, Domiciano, su fama por perseguir y aniquilar a los cristianos de su época. Ambos podrían ser considerados el Anticristo de su época. 

Existen muchos otros textos bíblicos donde se escribió 616, y su críptico significado iba a ser el mismo. El origen de esta asociación con “el mal” aparece en el libro de Revelaciones de San Juan del Nuevo Testamento en el capítulo 13 de la siguiente forma: “Aquí hay sabiduría: El que tiene entendimiento, que cuente el número de la bestia, pues es número de hombre. Y su número es seiscientos sesenta y seis”. 

Y es que, en realidad cuesta pensar que pueda haber algo “malo” o “diabólico” con un número y que los sabios de la historia nunca nos hayan advertido sobre su supuesta perversidad. Al contrario,  Da Vinci decía que “en los números se encuentra la explicación a todos los misterios”; o a Pitágoras decir que “todo lo visible e invisible está construido sobre el poder y la vibración de los números”.  

En babilonia, y en muchas civilizaciones antiguas, su religión se centraba en el culto de los cuerpos celestes, en las diferentes manifestaciones y fuerzas de la naturaleza, movimientos de las estrellas, atribuyéndolo a diferentes dioses, formando así una religión politeísta. Fueron los babilónicos uno de los principales promotores de la Astrología, donde el sol era uno de los planetas más importante para ellos, representado como el rey astro, el dios gobernante sobre los dioses y del zodiaco. Ellos también crearon un sistema mágico llamado “cuadrados mágicos”, creando amuletos astrológicos solares para la creación de poderosas protecciones. Un amuleto es diseñado para cumplir un propósito mágico. El cuadrado mágico del sol, está constituida por 36 números, dentro de un cuadrado de 6x6 casillas, y en la suma de cada fila o cada columna suma 111, si sumamos todas las filas o columnas en total nos da el 666, Esta fórmula suponía una mayor protección, pues incluía al dios principal asociado al Sol, el cual estaba presente en el amuleto. 

Así, el número 666 surgió de las prácticas de adoración paganas de los babilónicos y su astrología. 

Con la llegada del cristianismo, para convertir a los romanos, transformaron a sus dioses en santos, mezclando el cristianismo con el paganismo, para si lograr fácilmente instalar su religión y poderío en roma y así roma se convirtió al cristianismo a la noche a la mañana, pero las practicas eran casi las mismas, sólo con diferentes personajes, creando la nueva religión. Es también por este motivo que las prácticas y culturas antiguas empezaron a ser “satanizadas” dentro una constante guerra religiosa por instalarse al nuevo mundo. El culto al sol, el 666, llego a ser parte del “diablo” dentro del cristianismo. La tergiversación y deformación de la información fue un éxito por medio de calumnias. 

Para los judíos el 666 es considerado místico y sagrado y está vinculado a Tiphereth en su signo astrológico el sol, representando el cristo, el alma, la encarnación de la voluntad de dios. Cabalisticamente el 6 representa la armonía, la unión entre el creador y lo creado. 

En el alfabeto hebreo la letra Vav , lo simboliza un clavo que sirve para fijar algo y corresponde al número 6. Vav representa la unión de los opuestos que une el espíritu con la materia, el cielo y la tierra. Es el elemento que permite crear, fabricar y construir. Este símbolo se encuentra en el arcano mayor los enamorados, del tarot. 

El numero 6 es un número importante, es el numero creador por excelencia y la geometría sagrada está relacionada y nace a partir de ella. Significa el proceso evolutivo de la mente. En muchas culturas tenían este número como sagrado y en algunas partes construían sus templos a partir de este número. Para Pitágoras era el numero perfecto.  

Jesús también representaba el sol, así como la encarnación de la conciencia suprema lo divino y celestial (así como a muchos personajes y avatares y dioses antiguos), junto a sus 12 apóstoles representando el zodiaco. Cristo para los gnostico cristianos es el YO puro, la fuerza cristica dentro del hombre. Curiosamente en el crucifijo, a Jesús lo crucificaron en una cruz con 3 clavos, eso es obvio. Vav lo simboliza un clavo y su número correspondiente es el 6. 3 clavos = 666, numero solar al completar su trayectoria, en su muerte y renacimiento. Y esto es muy similar con la resurrección de Jesús.

¿Irónicamente será que los cristianos adoran a la bestia sin darse cuenta? El mensaje se ha mantenido oculto sin importar lo mucho que lo hayan tratado de enterrar, siempre habrá códigos ocultos para quienes sepan ver y discernir. No importa la clase de religión y cultura, sus mitos llegaran al mismo fin y significado. 

En la alquimia el oro es representado por el sol, como estado de perfección. Mas allá de las famosos leyendas de los alquimistas al tratar de convertir oro, su significado espiritual era más bien la transformación del alma en divinidad y el sol representaba esta gran obra. Para lograr dicho trabajo debemos de emprender el viaje interno, pasar por diferentes iniciaciones y pruebas para alcanzar la conciencia suprema. Para eso debemos completar nuestra trayectoria, así como el mismo sol, que muere y renace, nosotros debemos renacer y completar nuestro 666, recorrido. 

El 666 no es el numero de la bestia , es la representación del despertar de la conciencia, el viaje del héroe en búsqueda de su inmortalidad, el 666 es la representación de nuestra alma, nuestro logos, sol interno, esperando salir para renacer, para transformarnos y completar la obra, para así ser nuestros mismos dioses. 

Esta perfección viene también reflejada en la creación, que, según relata la Biblia, duró seis días. La estrella hexagonal simboliza la penetración mutua y la unificación acertada de los contrastes. Está compuesta por dos triángulos, que simbolizan fuego  y agua , son aquellas fuerzas que dentro de los cuatro elementos clásicos presentan las mayores diferencias entre sí. 

A pesar de su reputación, el número 666 no es intrínsecamente malo. De hecho, es el número del hombre: el isótopo de carbono 12 es la base de toda la vida en la tierra y tiene 6 protones, 6 neutrones y 6 electrones. En la Cabalá, el número 666 representa la creación y perfección del mundo.. El mundo fue creado en 6 días, hay 6 direcciones cardinales (norte, sur, este, oeste, arriba, abajo) y la tercera letra del Tetragrammaton tiene un valor de seis. En el comentario de Vilna Gaon sobre el Zohar, " el número 666 contiene oculto dentro de él un potencial mesiánico exaltado y elevado " . 

Se autonombró la Gran Bestia, el 666 o el mismísimo Anticristo. Aleister Crowley es uno de los personajes más enigmáticos y perturbadores del siglo XX, a quien llegaron a conocer como "la persona más malvada del mundo". El libro de la ley', ese documento 'sagrado' que supuestamente le fue dictado en estado de trance por Aiwass, es decir Seth, el temible dios destructor asesino de Osiris, que por primera vez ve la luz en castellano  traducido a partir del original manuscrito por Crowley en 1904. Así es como lo dejó escrito: "Este libro se traducirá a todas las lenguas: pero siempre con el original de puño y letra de la Bestia; porque en la forma fortuita de las letras y en sus posiciones relativas, en esas cosas hay misterios que ninguna Bestia puede adivinar". l Cairo sería el lugar de no retorno para la leyenda de Crowley. Junto a su mujer, Rose, pasó una noche en la Cámara del Rey de la Gran Pirámide y allí fue donde a ella se les apareció una "gran luz astral" tras invocar a Thoth, un dios egipcio de la sabiduría, la escultura y la música, pero también de los conjuros y los hechizos mágicos. A Crowley siempre le había fascinado la filosofía oculta de los faraones. De pequeño su madre le llamaba la Bestia, apelativo que aceptó con gusto (entre otras cosas porque era la oveja negra de una familia profundamente conservadora y cristiana) y al que añadió el 666. No sería su única excentricidad. Entre otras, había épocas en las que le daba por hablar en ruso y hacerse pasar por un conde o por un príncipe persa llamado Chioi Khan. Sin embargo, fue su mujer la que empezó a evidenciar (o al menos eso cuenta la historia) los primeros signos de posesión de Horus. Pero ¿quién era Horus? En una visita al Museo Boulak la pareja se topó con una pequeña estatua de 51,5x31 cm. descubierta en 1858 en el templo funerario de Hasthepsut. En su base había una inscripción: 666. Era Horus. Y fue el detonante para que transformara su apartamento en un templo donde seguir invocando a los dioses y demonios egipcios. Fue a través de su mujer como le llegó el mensaje más importante: a las 12 horas de los días 8, 9 y 10 de abril de 1904 debía sentarse en la sala y esperar a un dios que le dictaría un mensaje determinante. Y así cuenta Crowley que fue. Ese día 8 se le apareció Aiwass, el dios oscuro -"la Bestia que está más allá del Abismo", en sus palabras- que le otorgaba el conocimiento perdido y que le dictó -eso sí, solo de 12 a 13- 'El libro de la ley', que después sería la piedra angular de la religión Thelema que él mismo popularizó. 

La traducción del 616 a fonemas, en cambio podría significar que el César mató cruelmente a Jesucristo. 

Si bien no hay consenso histórico sobre el verdadero número de la bestia,  actualmente más y más eruditos se inclinan por el 616. 

Es notable ver como algunas figuras penetran tan profundamente en la psiquis colectiva, convirtiéndose en verdades incuestionables, cuando es el deber de todo hombre cuestionar absolutamente todo, y en particular las afirmaciones de los santos. Poco han hecho los hombres de fe por despejar nuestra mente, por el contrario, nos han azuzado desde sus púlpitos prometiéndonos toda suerte de calamidades y baños sulfúricos basándose explícitamente en el libro del apocalipsis.