sábado, 10 de outubro de 2020

Oração ao Homem Vermelho

 


Ancestral dos ancestrais em tua honra marco três vezes o meu pé neste solo, fumigo sobre vosso templo o bafo flamejante de Amiahzatan teu fiel servo eu louvo a ti e aos mortos elevados de nossa linhagem sagrada ò homem vermelho.
Filho da transgressão eu escolhi o teu caminho, o caminho torto o caminho sem lei, eu escolhi vagar por sobre os sepulcros e comungar com os mortos ao invés dos vivos.
Eu também sou uma criança nascida deste solo vermelho, preenchida com fogo negro, eu sou teu filho e irmão.
Retalhado por mil espadas, andando sob o fio da navalha, abrindo o crânio de Abel derramando o seu sangue sobre o solo, de onde brotam as flores da morte, o jardim negro da tua amada onde as entranhas do fraco são o fertilizante dos fortes “Gólgota” o trono da tua semente!
Eu glorifico o seu nome ò Algoz sagrado, sabendo que através do seu nome meu próprio nome é exaltado, pois caminho nos teus passos ò santo da morte, caminho em busca da minha própria coroação, pois este é o caminho sagrado.
Homem vermelho, semente maldita, semente bendita do fogo estranho no ventre da terra eu canto seu nome nas encruzilhadas da vida, e vejo teu rosto vermelho em cada espinho que perfura a minha carne, transpassada pelas setas da tirania maldita .
Ò Filho da serpente que envenena o solo desta criação, afasta do teu caminho todo aquele que o deseja, e atraia para ti aquele cujos passos estão perdidos nos fatídicos desertos da vida, aquele que é considerado peregrino em terras estranhas.
Detentor da foice sangrenta abençoa a minha segadeira para que eu possa colher os frutos abençoados da morte, sobre a terra estéril a qual o desprezível criador deu-me como posse para que eu padecesse e sofresse Abençoa-me, e dei-me sempre a força necessária para castigar os meus inimigos.
Que minha mão esquerda sempre prevaleça sobre a direita, e que a minha foice sempre prevaleça sobre o cajado do frouxo Abel, tão vazio e obsoleto quanto seu Deus imundo.
Que sobre a vara do abrunheiro repouse sempre a tua força, e que os malditos mortos obedeçam sempre ao meu chamado, ò filho do Diabo, aparta deste caminho o profano, e que toda a benção se lhe façam opróbrio, e que aquele outrora maldito ao encontrar este caminho seja sete vezes bendito, pois o estrangeiro é genuinamente herdeiro do sangue torto.
Senhor dos espíritos que habitam as profundezas, filho verdadeiro da chama enegrecida a ti ofereço essa oração, com toda minha devoção exalto a mentira atrelada a verdade que como a cobra esta sempre trocando de pele.
Pelo sangue do primeiro assassinato sagrado, Abençoado seja todo aquele que aceitar o caminho da mentira como verdade.
Pois quem dirá é mentira ou é verdade A não ser o espirito desperto?
Ora aquele que chega ate aqui já vagou por sobre os caminhos da loucura!
 Já esta morto e sepultado, para tudo e para todos!  
Ora os loucos são os verdadeiros sábios!
Abençoada seja a loucura do louco e amaldiçoada seja a lucidez do tolo.
 Sete vezes maldito seja todo aquele que permanece inerte em cima do muro.


Satanismo Anti-cósmico

 

"Que terror é este que agora caminha sobre a face da terra?"

É ele quem usa um diadema de sete chifres deformados e está envolto em vestimentas de fome e guerra. 

É ele, cuja oração é o latido dos cachorros e o lamento das prostitutas, cujos hinos são como as lamentações dos leprosos e do pária atormentado pela varíola. 

É ele, cujo nome é como o flagelo de nove caudas na espinha do mundo..."

- Bestia Arcana: Shepherd of Perdition


Nas últimas décadas o Satanismo se tornou cada vês mais popular, principalmente com o advento da internet. Dentre estas sendas umas das correntes que mais se destaca no Caminho Da Mão Esquerda é a Corrente 218 (também conhecida como Khaos-Gnosis, Khaosophia). Trata-se de uma síntese que incorpora principalmente elementos com matriz Gnóstica, Cabalística e Hermética sob um prisma Satanista cuja principal meta é a dissolução das potências demiúrgicas e ilusórias que aprisionam e ocultam a essência Luciférica (também chamada de Chama Negra), princípio antecessor da Carne/Ego/Vaso, avesso até mesmo aos auspícios mais sutis da substância logóica que projeta suas emanações em múltiplas estruturas existenciais macrocósmicas.

Os meios estratégicos aeônicos para que este objetivo se prisme é através da comunhão entre o adepto e as energias contidas nos Qliphoth קליפות, os vasos rompidos de forças malignas, desequilibradas e Antinomianas da Etz Da'ath עץ דעת (Árvore do conhecimento/ciência do Bem e do Mal) que segundo a Torah, foram estes princípios que levariam ao colapso do homem arquétipico primordial Adam Kadmom אָדָם קַדְמוֹן para sua queda em Assiyáh אסייה, dando criação ao Homem caído rebelado Adam Beli-ya'al אָדָם בליעל


"mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás."  - Bereshit 2:17


As tradições mais clássicas da Cabala Hermética, oculta e esotérica, têm esses mundos como aberrações ilusórias que se projetam nos vícios e desejos mais sujos do homem e da natureza que o mantém preso a Assiah. Em um circuito iniciatico com o objetivo de retorno à condição original reintegrada de Adam Kadmom, o adepto se defronta com os caminhos e esferas da Etz Chayim עץ חיים a Árvore da Vida de forma a conquistar progressivamente o domínio e o conhecimento da constituição de sua própria alma, simultaneamente dos mistérios multidimensionais do cosmos. Cada aspecto dos Sephiroth סְפִירוֹת e dos seus 22 caminhos são as virtudes ou graças das facetas de D'us que o adepto através de procedimentos contemplativos e magísticos de suas chaves busca obter contato. Durante esse processo o adepto se deparará com uma barragem, a sua casca, ou qliphoth, que protege/isola a essência Sephirothica da esfera em questão, agindo como uma ação testadora dos potências que o viajante possuí de superar os vícios que são as contrapartes obscuras dos Sephiroth. Esses seriam os ordálios em que todo magista deveria travar para provar sua natureza elevada, pois somente dominando, derrotando ou anulando os vícios e as forças demoníacas e obscuras o magista será dominante de si próprio. Tal procedimento é fundamental para que o o homem possa ser reintegrado na condição de Adam Kadmom e tomar seu trono em 

Kether כתר, em completa unificação com D'us.

Mas e quando nem mesmo a consciência de D'us é satisfatória? Quado o indivíduo percebe que o Todo não passa de gestações de cadeias cíclicas Aeonicas intermináveis? Quando tudo se resume em um super ego universal se aventurando em si mesmo em múltiplas emanações de consciências fragmentadas para manter vivida uma experiência holográfica de si mesmo?


"O Todo é mente, o Universo é mental."

"O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima."

"Tudo é duplo; tudo tem polos; tudo tem seu oposto; o igual e o desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em graus; extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados."

- O Caibalion


Quando nossos sentidos são delimitados por parâmetros evidentemente falhos tudo que resta é uma jornada infindável por meias verdades sobre meias verdades que se contradizem e se refutam paradoxalmente em ciclos e mais ciclos de vida, morte e ressurreição de paradigmas e leis Arconticas ordenando as formas de projeção da realidade como ela é, segundo nossas estruturas aeonicas forjadas naquilo que foi estipulado como a estrutura anímica do ser, homologada paralelamente com o corpo da realidade macrocósmica. A morte neste esquema não se aplica de forma fatídica tendo em vista que o que se faz fenômenico trata-se de uma transição de um estado de consciência a outro segundo estipulado pelos mistérios arcanos.

Popularmente os qliphoth estão associados aos planos Assiyáticos entretanto suas origens procedem dês dos primórdios do impulso criador, cuja as pistas encontraremos na cabala de Isaac Luria.

No primeiro ato criativo ocorre o processo de contratação (Tzimtzum צמצום) da luz infinita (Ain Soph Aur אין סוף אור) gerando um espaço vazio (halal חלל) onde todas as coisas pudessem existir, pois sem o ato do Tzimtzum não haveria como separar D'us daquilo que não é D'us. Na revelação de Luria o primeiro ato do sem limites (Ain Soph אין סוף) foi o de ocultação da luz infinita e limitação.

A consequência do tzimtzum e a gestação dos Sephiroth foram responsáveis pela Shevirat Ha-Kelim שבירת הכלים (ruptura dos vasos). Estes dez vasos destinados a conter e ocultar a emanação da luz de Ain Soph foram incapazes de conter a luz infinita e explodiram. Os Sephiroth, valores arquetípicos através dos quais o cosmos foi criado, são despedaçados no qual, em um evento posterior, o mundo dentro do qual residimos Malkuth מלכות (reino) foi composto pelos fragmentos destas substâncias quebradas. As Sephiroth de Chesed חסד (misericórdia) à Yesod יסוד (fundamento) foram totalmente destruídas, todos os vasos, incluindo, Keter כתר (Coroa), Chochmah חכמה (Sabedoria) e Binah חכמה (Entendimento) foram destruídos, porém de forma parcial, pois estas eram cascas mais puras emanadas provenientes da luz infinita e portanto mais resistentes. O universo teria sido jogado de volta ao estado de completo e absoluto caos e vazio (Tohu wa-bohu תֹ֙הוּ֙ וָבֹ֔הוּ) antes da criação.

Neste momento com a total aniquilação da criação primal a Tikun olam תיקון עולם‎ (reparação do mundo) ou Tikun תיקון (retificação) é acionada através de novas sub estruturas chamadas Partzufim פרצופים (Visões/Faces/Formas/Configurações) as personalidades de D'us, que harmonizam e subdividem as parcelas menores da luz dê Ain Soph em cascas mais fortes.


"No princípio criou Deus os céus e a terra.

A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.

Disse Deus: haja luz. E houve luz." 

- Bereshit 1:1,2,3


O processo de retificação (Tikun) da criação se estende durante a promessa messiânica de reintegração de Adam Kadmom, desta forma a humanidade se torna co-autora da criação através dos mitzvot מצות (preceitos) da lei, de forma a auxiliar a reparação dos vasos ao estado ideal designado por D'us.

A otz chayim é reestruturada no modelo cosmogônico atual no reino de Assiah delimitando ainda mais a luz de Ain Soph. A visão cósmica universal da criação é delineada como a miragem das estrelas do espaço que há muito tempo jazem mortas, desta forma, não apenas os qliphoth da otz da'ath estão ligados a Assiah como citado na literatura popular, mas também a própria visão que possuímos da existência em suas estruturas sephiroticas. A árvore da vida é uma projeção qliphothica Assiahtica, ou seja, não passa de uma ideia que a criatura possui em relação às virtudes da criação e do criador. 

Os fragmentos da antiga estrutura morta do cosmos se reorganizam nos aspectos cadavéricos em contraposição aos esquemas estabelecidos existências. São, estas regiões, responsáveis pelos aspectos desagradáveis, mórbidos e malignos que habitam na matéria tais como a dor, a doença, o medo, a nihilidade, e tudo que pertença ao campo da morte e da escuridão se projeta nestes estilhaços alojados na nova constituição da natureza e, consequentemente, no homem. São nestas regiões ocultas que a moralidade humana e as estruturas das leis e da moral, em escala micro e macrocósmica, são colocadas a prova.

A Corrente Caosophica tem como parâmetros a ideia de que todas as questões que envolvem a vivência humana, em seus aspectos idílicos, são como celas que aprisionam o homem nos apegos de sua própria constituição Egóica e, portando, estariam alimentando os sistemas criados pela rede arcôntica, a árvore da vida. O Satanismo Anti-Cósmico busca cair na danação das Anti-Estruturas de forma a ferir ainda mais as instituições do Ego que luta para reconstruir aquilo que foi destruído no princípio de tzimtzum através da alimentação dos delírios do logos, condenando sua luz novamente a contração e a limitação.

O processo de desilusão nos leva ao enfrentamento do negativo e do consumo das estruturas vitais do ego, os terrores nos quais o homem evita o encontro são liberados. O enfrentar das forças malignas devoradoras e corruptoras do ego levam ao gradativo estados de morte de forma que o adepto vá ao encontro de uma natureza cada vez mais vazia, despertando impulsos atávicos primitivos e bestiais inerentes à medida que os valores do ego são desalojados da constituição humana. Tais processos podem ser muito difíceis e dolorosos pois o abismo se projeta em inúmeras formas conduzindo o adepto ao estado de desapego às estruturas vigentes. O desejo instintivo, predatório, vampírico, se torna forte tal como a sede Luciférica de transcender os limites de sua própria carne. A angústia de uma fera encarcerada se alastra em seu interior devido ao despertar da Chama Negra acausal que é a própria luz de Ain Soph manifestando-se em desejo adverso em prol do retorno para sua condição primordial contrapondo-se ao desejo de contração, limitação e criação.

Os Caminhos Antinomianos são para os devotos do abismo, amantes da escuridão que almejam a Nulificação dos processos da constituição cosmogônica se aliando e alimentando os véus severos e sinistros das energias adversárias saturninas e marciais do Outro Lado da composição humana e do cosmos, exaltando as formas negativas do mal que causam a ruptura dos parâmetros ditatoriais instituídos pelo diagrama sephirotico cosmogônico, aniquilando gradativamente os apegos humanos. Esses processo levam ao despertar da chama negra acausal no forte. Para estes, a vida é uma doença que deve ser curada através de um processo de eutanásia em uma radical e colérica oposição bélica.

Trajar o manto da escuridão é selar o contrato de um caminho solitário, espinhoso e colérico com o ideal completamente dissociado dos caminhos utópicos e idílicos da falsa iluminação atrelada a apegos demiúrgicos limitadores e ilusórios de um pseudoequilíbrio e uma enganadora sensação de bem estar do ego, pois a verdadeira iluminação é um processo de dissecação dolorosa e sem anestesia, visto que todas as metamorfoses implicam em destruição das formas estabelecidas e estagnantes alimentadas pela moral do fraco.

Se desejas ultrapassar seus limites e for forte o suficiente para olhar diretamente a face da morte sem véus, se sua cólera interna grita de sede do verdadeiro pleroma além da vida, se abandonou toda esperança de uma umbrática iluminação, então seu lugar é com aqueles que flutuam sobre os estilhaços da eterna desgraça dos vivos.

Satan é o grande arcano do grito de guerra e aversão misantrópica da existência vigente, o maior ato adversário que se alastra pelo Infinito do Todo em fogo e fúria.

"Nossa vontade é a lei e nossa lei é o Caos!"


Ave Azerate!

Ave XI!


Noite Eterna

Sobre a tua pele pálida, quero ser um andarilho, um peregrino, ò mãe do aborto, por teus lábios que exalam a mais fria das noites que meu coração seja congelado e solidificado.

Obscurece a minha alma, fortifica meu espírito, sem retorno rasgue a minha humanidade, pois sou um filho bastardo da aberração.

Deixe-me olhar nos teus olhos, pois eles refletem o vazio sem fim, além do cosmos.

“Tanisam!”

Destila sobre mim o veneno de vossas presas corroendo meu eu adâmico, pois sou uma semente enegrecida da morte sou um aborto revestido com a lepra da vida, sou devoto das águas abissais do teu útero onde se encontram os restos de reis e plebeus.

Ouro, prata, e um tapete vermelho que leva ao cálice de sua abominação onde fermenta o sangue dos justos e dos Santos.

Babilônia mãe dos pecados!

Amante da noite, esposa sem rosto de Satã, não sois o delírio dos prazeres carnais, sois a beleza da morte isto não é simbólico, se os teus deleites não levam a morte, se não levam ao declínio do ego se não são revestidos de dor e pranto são apenas delírios nas mentes dos tolos e incautos.

Não sois a meretriz dos homens, sois a consorte dos demônios sem forma, das bestas do abismo.

Nos pesadelos do tolo uma espada de morte!

Só tu cavalgas o Leviatã, para além do abismo, rainha do conhecimento proibido, nesta terra sem vida o perfume da morte exala de vossas entranhas de onde as proles malditas e famintas são emanadas para devorar os filhos dos Homens.

Nos os devotos da morte, mataremos a alma do mundo para ti ò musa da lua sangrenta.

Aniquila em nós a humanidade, para que sejamos dignos de tua chama enegrecida.

Mata em nós a compaixão para que não sejamos acorrentados por ela.

Mãe dragão útero do vazio primordial .

“Tiamat!”

Absorva com teus fogos a criação, pois está escrito nas tábuas acorrentadas sobre o peito de Kingu.

Na dança da morte sois um com Satã, na dança do fim sois o último alento dos Aeons, a derradeira marcha fúnebre da criação é o ranger de vossas presas, rasgando o cosmos, transpassando a vida libertando os eleitos para o descanso eterno.


Texto Por frater Zero "Rivair Oliveira".

Arte The Heart of Lilith

By Fosco Culto

Ossos Serrados

 


Nas sombras dos becos das metrópoles ele aguarda ele não é um amador, ele quer te ver sangrar, quer fazer jorrar o seu sangue sobre a estrela sinistra.
Ele deseja alimentar a prole demoníaca de Satã com vossas vísceras, como a serpente ele sente o pulsar e o calor do seu sangue, ele faz o trabalho do Diabo Olhando em seus olhos até que o último fôlego de vida expire, e com suas partes querida ele fará colares e apetrechos, para a morte.
Cada pedaço não será em vão isso eu te juro, dos fios de cabelo até as unhas dos pés tudo será aproveitado.
Pois ele veste o manto negro de Saturno, ele tem olhos de serpente, e uma sensibilidade que poucos possuem, um artista infernal, um lobo que não caça por necessidade mais por prazer, só a dor e o terror podem saciar essa fome.
Pois no escuro de alguma esquina ele aguarda silencioso ò querida ele sente o pulsar de suas veias e sobre a estrela sinistra com os kelins das cabeças de Satã ele vai derramar o seu sangue para que o trabalho do diabo seja feito.
Sobre a pedra fria revestida com ervas e pétalas de rosas, sobre a luz de velas negras e vermelhas, objetos estranhos, crânios e ossos, essa é a boca do inferno, enquanto a lâmina fria perfura seu peito, ate que chega a hora do corte na garganta o sangue quente é então colhido.
A satisfação nos olhos do algoz será sua última visão, e esse cheiro de almíscar no ar será o último odor que você sentirá , o gosto do seu próprio sangue a última coisa que irá provar!
Essa é visão do da boca do diabo com centenas de milhares de dentes afiados, e a doce sinfonia do serrote cortando os ossos.


Portões da Morte



Quem poderá cruzar os portões da morte?
Quem poderá ver seu próprio funeral?
Quem poderá ver seu próprio corpo putrefato?
Quem poderá cruzar de cabeça erguida o mar da morte por onde flutuam as cabeças e os membros decepados?
A mão do esqueleto me guia pelos espinhos do caminho e me faz provar cada um deles em minha carne, castigado por açoites é o meu corpo mortal.
Quem poderá banhar-se com as cinzas dos ídolos queimados?
Quem poderá mata-los em seu coração?
Quem será digno de voar sobre as asas dos corvos da dispersão?
Quem será digno da sabedoria da morte em vida?
Ora aquele que não morreu não pode obtê-la.
O medo da morte rasga a carne do fraco, pois o ego teme a morte.
Todo medo do desconhecido é medo da morte é medo do ego.
Na coroa de flores!
Vejo o universo em sua mortalha.
A mascara da morte veste todos os mortos, e todos eles estão em baixo das asas da morte!
Quem, pois poderá ver tudo que ama morrer?
Quem poderá oferecer seu corpo e seu sangue em uma ceia para o Diabo?
Sobre minha cabeça carrego a sua marca, acima de mim arde uma chama que me lança para os portões da morte.
Lança-me para morrer, sou seduzido pela melodia da morte e sigo caminhando sobre o chão gelado.
Não posso parar ate que eu caia em seus braços, não posso parar ate que eu sinta no seu hálito o aroma de todos os sepulcros.
Guiado pelas mãos do esqueleto caminho entre a carniça, sobre os vermes famintos, sobre a cruz negra me deito.
Gritam os corvos famintos:
Crucifica-o!
Crucifica-o!
Crucifica-o!
Que seu sangue possa banhar a nós e a nossa descendência!
Quem, pois pode dançar com a morte, sem levar isso ate as ultimas consequências?
Existe meia morte?
Velas negras!
Rosas vermelhas!
Pilhas de crânios!
Eles já foram homens como eu, eles já tiveram os seus amores, seus vícios lutaram e morreram, pois o destino dos homens é a morte com dignidade ou não!
Eu quero ser digno da morte, que meu crânio possa decorar o seu trono!
Ofereço-me a morte, em um banquete para os vermes e para as aves saprófagas.
Despedaçada a alma é repartida para o diabo e suas falanges, eu habitarei em seu reino não regressarei ao mundo dos vivos como um deles, habitarei o reino dos mortos e vestirei também a mascara e o manto negro da morte.
Então serei a mão do esqueleto guiando outro através dos portões da morte.

Texto Frater “Zero” Rivair Oliveira.


 

Transcendência Luciférica

 


Quando mais adentro as trevas, mais solitária me sinto
Me desamarrado dos grilhões dessa existência
Deixando para trás o egóico e mundano
E os sentimentos em mim se desfazem
Nulificação...
Eu me volto para dentro de mim
Onde encontro universos sem fim
Vou deixando para trás o que me amarra
E me vendo cada vez mais e mais só...
Destruição...
Meu caminho vai mudando e tudo tendo um novo sentido
A devoção é uma dolorosa jornada
Que eu fui destinada a trilhar
Me desconstruir, me reconstruir, me encontrar
Catarse...
E hoje eu abro os olhos ao abismo
Já não temo mais o desconhecido
Eu desejo escancarar as negras portas
Para que eu possa me tornar o tudo e o nada
Transcendência...


Via Spinosa Luciférica

 


Nos temos escutado as mentiras da serpente, temos feito delas o nosso evangelho.

Temos semeado na carne do mundo e temos colhido os frutos da morte.

Um corvo me disse, palavras inefáveis, palavras de engano.

O evangelho que desperta e aviva a essência amorfa, nos kelins de barro, essas são as palavras da serpente.

Satanizam!

Palavras silenciosas cujo meus tímpanos não poderão ouvir.

Mais o meu espírito pode ver, através do olho do dragão que perscruta além da ilusão.

Temos apreciado os espinhos da roseira, que faz sangrar.

Este sangue mágico que faz crescer os cravos sobre a terra estéril.

Temos tomado para nos a coroa do espinheiro negro e nos banhado com as cinzas dos ídolos queimados, pois somos a transgressão.

Bem acima do bem e do mal nos somos, para deixar de ser.

Somos devotos da morte.

Além daquela estrada de pedras e espinhos a tua foice nos aguarda.

Temos seguido seus passos, caminhando sobre a aspereza da vida, caminhando sobre nosso sentimentos, e sobre nossas dores temos dançado.

Temos bebido do veneno da vida, e estamos nos decompondo, estamos apodrecendo, junto a esse mundo moribundo, juntos caminhamos para a morte em um processo de degradação em vida.

Desolados sabemos que ao fitar o céu não há nada lá para nos.

Acima das nuvens não há deus algum para quem possamos rogar.

Não existe para nos Deus algum além da Dor.

Dor!

Foi este o Deus que nos trouxe a esta encruzilhada.

O Santo caminho pavimentado de espinhos.

O santo caminho da Dor e da devoção.

Foi a Dor o nosso guia, e será a dor que nos fará transcender, pois seus açoites nos fazem continuar a caminhar.

Só existe uma porta no final dessa estrada.

A morte!

A nossa cabeça rolará nesta dança.

Os grandes e os pequenos dançarão.

Acima do solo há distinção e os títulos e posses valem algo.

Abaixo da terra todos são iguais.

Todos serão súditos dos vermes, e todos serviremos em suas mesas.

A dor rogará por nós no final deste caminho.

A dor rogará por nós quando formos entregues a morte.

E a morte rogará por nós quando formos jogados no vazio sem fim para onde também regressará.


Texto via Spinosa By Zero.

Arte via Caini cruentis By Zero