sexta-feira, 19 de junho de 2020

Mistérios Eucarísticos Gnósticos


1. A Eucaristia
Por Arnold Krumm-Heller (VM Huiracocha)
O problema mais profundo das religiões cristãs é a Eucaristia que, de fato, nunca deixou de preocupar os sacerdotes.

Basta consultar a Teologia de Sacrest para perceber-se o esforço dos Católicos na demonstração de que o pão, ou melhor, a hóstia está convertida em Deus, De Verum, como diz o dogma e sustentava o próprio Santo Tomás.

É este o grande ato de magia que o sacerdote, quando pronuncia os mantras:

HOC EST ENIM CORPUS MEUM e HIC EST CALIX SANGUINIS MEI, como pronunciara o Nazareno por ocasião da Ceia e que significam: Este é meu corpo e Este é meu sangue.

No fundo o Catolicismo afirma que a hóstia é realmente Deus e, por isto, a coloca em exposição nos seus altares, no momento das cerimônias religiosas.

Os fiéis prostram-se de joelhos na consumação deste santo sacrifício.

Não pensam do mesmo modo os Protestantes que, acentuando com Lutero as seguintes palavras do Senhor: FAZE ISTO EM MINHA MEMÓRIA, deduzem que a Eucaristia nada tem de comum com o corpo e o sangue do Cristo e que tudo se limita a uma cerimônia sem a mínima transcendência, constituindo-se numa mera recordação da Ceia do Nazareno.

Ficou, portanto, a comunhão, para os Protestantes, reduzida à expressão de um símbolo e nada mais.

Disso deriva, efetivamente, a diferença que distingue o Catolicismo do Protestantismo, que, se pudessem entrar em acordo, com relação a outros pontos de doutrina, jamais se harmonizariam quanto ao Sacramento da Eucaristia.

O Catolicismo Romano compreende perfeitamente o valor de tudo isto e por este motivo não deixa de realizar periodicamente os seus Congressos eucarísticos.

E’ também notável a devoção que o Catolicismo tributa à hóstia, exposta por ocasião da missa.

Os GNÓSTICOS, que procuram esclarecer esses assuntos, encaram o problema através de um prisma muito mais transparente e cristalino. A hóstia e o vinho são ou não o corpo e o sangue do Cristo?

Se a razão está com os Católicos é insignificante o cerimonial que executam para a celebração de tão sagrados elementos; se está, porém, com os Protestantes, carece de importância, pois, o Nazareno aludiu a coisas muito mais elevadas que a Igreja não celebra, pelo menos, com tanta retumbância.

A crucificação, por exemplo, seria um ato ritualístico de sublime significação.

Os Mistérios antigos no Egito ou na Grécia realizavam sempre idênticas solenidades e a UNÇÃO foi, do mesmo modo, considerada uma cerimônia de assinalada preponderância.

Daí, certamente, o interesse que o Sacramento desperta.

Para a solução do problema lançamos mão da nossa CHAVE: o México nos antigos Mistérios do Sol que, ainda hoje, são celebrados, na sua original pureza, pelos Chuch-kahau, que são Magos ou Sacerdotes existentes no Departamento de Chiche, na Guatemala, e em outras localidades do Yucatán.

Acentuamos que se trata do Cristo e, para isto, basta refletir quem foi Quetzalcóatl.

Fixemos nossa mente no Sol, não no sentido puramente material e astronômico de centro do sistema planetário, não como o Sol que é apenas um expoente parcial, mas no Sol como essência da sua luz, que é, em si mesma, o Reino do Céu, a Substância Cristônica, esparsa por todo o Cosmo.

Deste modo, os Mistérios antigos compreenderam Quetzalcóatl e assim, justamente, devemos compreender o Cristo, na sua qualidade de substância íntima, solar.

Os antigos mexicanos tinham o costume de pôr nos túmulos diversos alimentos como pão e o pulque, isto é, pão e vinho, e acreditavam que os mortos, depois de abandonarem o corpo material, possuíam necessidades físicas e precisavam, portanto, alimentar-se.

Ainda mantêm esses velhos hábitos que, por mais extravagantes que pareçam, não deixam de ter uma explicação. Quando morremos, e a alma deixa o corpo, continuamos a sentir, por muito tempo, o ambiente em que vivemos, e nos parecerá estranho como conseguimos atravessar as paredes das habitações familiares, sem despertar a atenção dos que nos cercam. O conhecimento desses fenômenos deu origem ao Espiritismo, que não deixa de ter suas razões.

Pois bem, quando vivemos, tomamos alimentos, entre eles, pão e vinho, que, ao penetrarem em nosso organismo, são transformados e assimilados. Quando mortos, não dispomos dos órgãos necessários à alimentação, mas a Alma do ser desencarnado percebe que tudo, agora, se opera de um modo absolutamente contrário. Em vez do alimento, por exemplo, penetrar no organismo, o organismo penetra no alimento, e nisso está a CHAVE ou a explicação do Mistério.

Todos nós recebemos, em particular, essa energia solar, essa luz íntima do Cosmo. Jesus foi o único que se saturou e se converteu nessa luz. O Mistério do Gólgota reside em que a alma do Nazareno, depois do sacrifício da cruz, difundiu-se por todo o Cosmo, sem perder, contudo, a sua personalidade e sua missão de Guia de nosso Planeta.

Um sacerdote consciente pode, portanto, invocar o Cristo e conseguir que a substância cristônica penetre realmente no pão e no vinho, que, uma vez em nosso organismo, SE UNE AO CRISTO DO NOSSO REAL SER.

Assim, nem os Católicos nem os Protestantes têm razão. A explicação do Mistério está no que acabamos de expor.

O México, com seu culto solar, nos dá a CHAVE DO GRANDE MISTÉRIO e se as filosofias e religiões que nos chegam do Oriente exaltam a Índia, o Egito e a Grécia, por este motivo, com maior razão temos o dever de exaltar o México.

2. A Eucaristia e Os Anjos da Presença, Do Amor e da Morte
Por Geoffrey Hodson

As almas desencarnadas assistem frequentemente aos serviços físicos das igrejas, porém na ocasião especial da Missa de Réquiem, vê-se presente um grande número delas. Muitas chegam, algum tempo antes do início do serviço, concentrando-se a maior parte ao redor das alas da igreja e na galeria, e ocupando grande parte do espaço sob o teto.

Em suas consciências mais elevadas muitos membros da congregação física podiam saudar a seus amigos superfísicos. A alegria de muitas reuniões felizes que assim ocorreram, não foi em nada afetada pelo fato de pouco ou nenhum conhecimento dos desencarnados ter penetrado na consciência física dos encarnados.

A maior parte da congregação física havia criado nítidas formas-pensamento de seus amigos particulares falecidos e estas foram mais tarde substituídas pelos próprios amigos. Em alguns casos os desencarnados trouxeram consigo seres com quem haviam feito amizade no outro lado. Estes, junto a outros visitantes e os frequentadores superfísicos da Igreja, humanos e angélicos, formaram uma congregação muito grande nos mundos ocultos.

A congregação superfísica ficou de frente para o altar no início do serviço, e daí em diante foi gradualmente se aproximando cada vez mais do mundo físico. Desde o começo eles viram nitidamente os candelabros, porque a luz da vela de cera é visível nos mundos ocultos e algumas vezes é usada como um sinal para os do outro lado do véu.

A chama de luz e força emanada do Sacramento Reservado também é claramente vista, bem como os anjos ministrantes e as correntes de força fluindo através dos vários símbolos e joias. Entretanto, estranhamente alguns nada veem, apesar de sua visão não ser limitada como a nossa, por possuirmos corpo físico.

O efeito geral, entretanto, era para revelar o interior do plano físico da igreja, como se tivesse sido aberta uma cortina de um palco. Este afastamento do véu não se estendeu na mesma proporção ao exterior da Igreja. O conjunto da congregação ficou isolado das vibrações e fenômenos do mundo externo. Um grande anjo a quem nos referiremos mais adiante, vigiava este isolamento e mantinha a congregação superfísica dentro de sua aura, e assim ajudava a criar as condições em que o véu poderia ser seguramente afastado.

Os ANJOS DA EUCARISTIA têm também o cuidado de incluir tanto os vivos quanto os desencarnados no edifício interno espiritual, de forma que todos possam compartilhar tanto quanto possível das influências derramadas. Eles ajudavam as pessoas no que era necessário e possível, e gradualmente, como resultado de suas carinhosas ministrações e do serviço, as congregações física e superfísica eram unidas uma a outra. No final do serviço os desencarnados estão aptos a ver o edifício físico, seus amigos, e especialmente os sacerdotes e os servidores no interior do Santuário.

Isso os enchia de intensa felicidade, embora alguns experimentassem vaga saudade e mesmo anseio de retornar a vida e camaradagem do plano físico. Uns poucos não haviam achado a nova vida tão feliz quanto poderia ter sido, e sentiam-se solitários ali.

Para muitos, sua consciência interna se desvanecia um tanto à medida que a percepção física aumentava, embora alguns poucos retivessem sua visão de seus próprios mundos. Alguns penetravam na aura de seus amigos e permaneciam de pé ou sentados com eles, porém a maioria dos que tinham amigos físicos presentes flutuavam bem acima deles. Quase todos sentiam a alegria da reunião e de receber os pensamentos e recordações amorosas de seus amigos e parentes.

Gradativamente, a medida que todos se tornavam completamente harmonizados, as palavras e a música eram ouvidas com crescente clareza. Isto os tornava muito ditosos, evocando-lhes antigas recordações. Para eles era um grande prazer ouvir as vozes atuais de seus amigos particulares, deixados no plano físico. Ouviam muito atentamente o sermão, e no Credo, todos inclinavam suas cabeças. Alguns deles evidentemente conheciam bem as palavras e ajoelhavam-se no exato momento, porém todos acompanhavam com compreensão e assentimento reverentes.

Decorrido algum tempo, todas as considerações pessoais cederam lugar ao ato de adoração conjunta, quando as duas congregações se integraram no ritmo e poder do serviço. Pouco a pouco, com poucas exceções, se tornaram unificadas e harmonizadas, e os anjos puderam tratá-las como uma unidade. As exceções foram os que não haviam sido acostumados ao culto da igreja; estes permaneciam um tanto afastados, observando com interesse, mas não participando.

O Anjo da Presença resplandecia em toda a perfeita beleza espiritual do Senhor, cujos amor e bênção fluíam continuamente através d’Ele. Todos eram envolvidos nesse maravilhoso fluxo, especialmente os sentados a parte, pois o Anjo parecia volver sua atenção para eles com o mais terno e compassivo amor, que paulatinamente vencia seu afastamento e os atraía.

Um grande anjo de tipo inteiramente novo para o autor apareceu na extremidade ocidental da igreja. Embora fosse essencialmente um Anjo de Amor, e vertesse uma qualidade especial de amor e proteção sobre os desencarnados, sua aparência externa era tal que nos fazia pensar no Anjo da Morte. Parecia ser um representante do grande Deus da Morte, cuja mão poderosa corta o cordão de prata que ata a alma ao corpo durante a vida terrena. Sua fisionomia era enérgica e inspirava tímido respeito com sua inescrutável expressão de poder e mistério. Era de cor verde escuro e da altura do corpo da igreja.

Mantinha a congregação invisível muito coesa no interior de sua consciência e exercia uma influência protetora sobre a mesma, de forma que nenhum dano poderia ocorrer aos vivos como aos mortos. Ele permanecia imóvel e impassível, zelando como se mencionou acima o isolamento da igreja do mundo externo, e dando a impressão de uma estátua enorme, viva e verde escura do Anjo da Morte.

No mundo do Além, como neste mundo existem muitos seres indesejáveis que tomariam vantagem imediata das condições especiais, do íntimo intercâmbio de forças entre os dois mundos. Esta proteção angélica era, portanto, adicionada ao isolamento propiciado pela consagração original da igreja e pelas “paredes” do edifício eucarístico.

Parece também ter havido uma rarefação do véu no mundo externo, porém isto se restringiu aos níveis mais elevados dos planos concernentes. Isto parece ser o resultado de certas mudanças que ocorrem em todo sistema solar nesta época do ano. A influência do espiritual, como distinta do material, parece ser de algum modo aumentada e a divisão entre o espírito e a matéria como um conjunto, parece ser marcante.

Talvez haja uma lei cíclica sob a qual, nesta época do ano, todos os véus se tornam definidamente mais tênues, de sorte que os níveis sem forma e com forma se tornara mais intimamente associados e os planos dentro destas divisões, mais intimamente sincronizados. Os subplanos mais elevados dos mundos mental, emocional e etérico, são fundidos e mutuamente entrelaçados de maneira que o pulsar da vida e força no mundo material e através do mesmo é muito mais livre, do que normalmente.

Dentro da igreja, onde se criam condições especiais, isto se estende através de todos os subplanos, decrescentemente, e daí a necessidade de medidas especiais de precaução.

Aparentemente é função do Anjo da Morte manter a necessária proteção, pois a ele concerne a passagem de poder, consciência e vida de plano para plano, e a transferência da consciência humana do plano físico ao plano emocional, na morte. Ele pode exercer uma função, que é complementar e o inverso da de Nossa Senhora, a qual preside a todo nascimento humano. Sugere-se correspondência, porém o autor não está habilitado a dar um pronunciamento definido sobre o assunto.

Retornando ao serviço em si, notou-se que a repetição de um nome em uma cerimônia liga instantaneamente o seu dono, aonde quer que esteja, com o oficiante, e através dele, com o poder da cerimônia. Quando foi recitada a prece pelos mortos e mencionados os nomes dos falecidos, os designados fulguravam subitamente com uma luz maior, a bênção do Senhor verteu-se do Santuário sobre eles, e fez o princípio crístico brilhar dali para dentro deles.

Os não efetivamente presentes tiveram sua atenção atraída para os ali mencionados. Em alguns casos vieram imediatamente para a igreja, chamados pelo poder do Senhor e pelo amor dos que os lembraram.

Os próprios anjos trouxeram para a igreja muitos daqueles cujos nomes foram mencionados, ao mesmo tempo que adicionavam outros, não mencionados. Muitos anjos se assemelham a lindos pastores, cada um com seu rebanho destas “ovelhas” humanas, que haviam reunido e trazido a presença do Senhor. Muitos auxiliares humanos invisíveis, estavam também muito ocupados em trazer gente desencarnada para a igreja, e em ajudá-los a assimilar a atmosfera e a bênção do serviço.

O Anjo Construtor incluía todos estes em sua esfera de trabalho, e o Anjo da Presença saudava-os com o seu glorioso sorriso de amor e ternura a medida que chegavam. Era maravilhoso contemplar a expressão e o sorriso do Anjo da Presença.

Seu sorriso revela muitíssimo mais do que qualquer sorriso humano pode expressar; inclui um jubiloso reconhecimento de um velho e muito amado amigo, uma profunda compreensão espiritual de todas as suas mais elevadas esperanças e possibilidades, e o terno amor compassivo de um pai para com o seu filho predileto. A expressão na face do Anjo é sempre a de exaltação espiritual, enquanto que o irradiante poder, vida e amor fluem através dele continuamente.

Quando, pois, ele sorri, a beleza e amor profundamente compassivo revelados excedem a toda concepção humana, e nenhuma palavra pode retratar com propriedade a maravilha deste glorioso Representante Angélico de Nosso Senhor.

Uma tal visão do Bom Pastor e Seus servos angélicos e Seu rebanho demonstrou prontamente que Ele conhece cada indivíduo deste planeta, que todos os homens estão envolvidos no abraço de Seu Amor, e que de fato “por baixo estão os eternos braços”. O Anjo da Presença reconhecia, cumprimentava, abençoava e enviava amor a cada indivíduo que chegava, e extraía o mais elevado no interior de cada um, em resposta.

A medida desta resposta variava consideravelmente. Alguns nessa hora estavam preocupados e concentrados em si e não responderam completamente; todos eram definidamente auxiliados, cada um na medida em que estava apto a receber e assimilar a bênção vertida e o Cristo interno podia ser despertado.

Àqueles que estavam lutando com grandes dificuldades quando a bênção os atingiu – frequentemente acompanhada por um anjo – se sentiam de repente livres da tensão o iIuminados com as soluções de seus problemas. Para muitos era um nítido ponto de retorno no longo ciclo de encarnações; pode mesmo influenciar o restante de sua peregrinação para a perfeição.

Como fez o Filho Pródigo, desde então “se levantarão e irão a seu Pai”. Teve lugar uma verdadeira conversão e determinaram-se desde esse dia a dedicar-se à vida espiritual e ao trabalho profícuo.

3. Os Anjos e sua Função na Eucaristia e nos Rituais
Por Charles Leadbeater

Quando um homem adentra na igreja, ele se põe na presença de Nosso Senhor, entronizado sobre Seu altar; e só por este fato ele também entra na presença de uma grande multidão de Anjos adorantes. O quanto será possível fazer por ele depende de até onde ele pode abrir seu coração à sua influência, e de sua disposição física, moral e mental.

Alguns de nós sentem tais influências fácil e nitidamente, por termos aguçado nossos sentidos em tal direção; outros as percebem apenas vaga e incertamente; mas um número crescente de pessoas está se tornando cônscia delas. O homem está andando em lentos passos em direção a tornar-se o tipo de criatura que os Anjos podem ajudar, e à medida que avança mais para dentro de sua esfera, percebe melhor seu interesse e sua graciosa resposta.

A presença dos Anjos não nos deveria ser incerta, vaga ou hipotética; deveríamos começar a pensar que são realidades perfeitamente definidas, e ainda que não possamos de fato vê-los mais do que vemos uma corrente elétrica, são reais como uma corrente elétrica o é, e seus efeitos podem ser notados por aqueles que são capazes de senti-los.

Grandes legiões de Anjos assistem à celebração da Eucaristia. Os maiores Anjos acodem para tomar uma parte definida no trabalho. A Sagrada Eucaristia não é celebrada para nós, ainda que muito benefício possamos obter dela. Nós não vamos no intuito de receber, mas principalmente no de dar.

Nós vamos porque este é o método pelo qual Cristo irradia influência espiritual sobre todo o Seu mundo, e nós vamos lá para ajudá-lo nesta distribuição de divina energia. Incidentalmente obtemos muito para nós mesmos, mas este não é nosso objetivo principal.

Os Anjos vêm – os grandes Anjos – a fim de fazer tudo isso possível para nós. Ao fim do Asperges, pedimos a Deus que envie Seu Anjo para nos ajudar e para estar conosco. Em resposta a aquele apelo acorre o Anjo da Eucaristia e constrói um receptáculo a partir de nossa devoção e de nossos sentimentos, e da energia liberada pela parte musical do serviço.

Maiores que ele são os Anjos que vêm quando os chamamos justamente antes do Sanctus – quando o sacerdote ou bispo, tendo pedido que elevássemos nossos corações e déssemos graças a Deus, prossegue dizendo que com os Santos Anjos (enumerando os diferentes tipos), também fazemos nossa parte.

Este é o chamamento tradicional a eles, e a melodia com que cantamos “Corações ao alto!” e “Nosso coração está em Deus” tem quase 2 mil anos, se não mais. Ela remonta aos primeiros tempos em que tais músicas eram cantada na Igreja.

Então eles vêm e tomam parte no serviço. É claro que não devemos pensar nem por um momento que este é um privilégio nosso. Em todas as Igrejas Cristãs onde não houve ruptura na sucessão apostólica, permanece o mesmo mecanismo; na verdade não devemos sequer imaginá-lo confinado ao Cristianismo. Todas as religiões existem para o auxílio do mundo, e em quase todas algum sistema é arranjado para a recepção e distribuição de força espiritual.

Este trabalho dos Anjos é tornado mais fácil quando a congregação compreende o que está sendo feito e colabora inteligentemente através do pensamento. Destarte deveríamos nos aplicar em saber e compreender, para que pudéssemos ajudar os Anjos no trabalho que têm de fazer.

Esses Espíritos gloriosos são de tantos tipos diversos que é praticamente impossível tentar alguma descrição deles. Muitos deles têm forma humana, ainda que usualmente maiores que a estatura do homem. Suas cores, sua radiância e iridescência são de uma maravilha além de toda palavra; eles nos olham com seus olhos faiscantes, plenos da paz eterna.

Suas auras são tão grandes e tão mais magnificentes que as nossas, que à distância parecem somente esferas de luz fulgurante. Nunca os vi com asas; na verdade, imagino que as asas usadas pelos Anjos da arte e da poesia devam simbolizar seus diversos poderes, como o ilustram algumas escrituras.

Esta suposição pode ser corroborada pelo fato de que mesmo nas histórias bíblicas, quando o Anjo do Senhor vem visitar Seu Povo (como Abraão, Pedro e outros), ele costumeiramente é tomado por um homem, o que dificilmente ocorreria se portasse um par de asas enormes.

A aura de um grande Anjo é muito mais expansível e flexível que a nossa; ele se expressa simultaneamente em formas-pensamento de desenho maravilhosamente belo, em fulgurações de gloriosas cores e através de uma pletora da mais deslumbrante música.

Para ele um sorriso de boas-vindas poderia ser um coruscante relampejar de cores e uma torrente de harmonias sonoras; uma frase proferida por um desses valorosos Filhos de Deus seria como um grandioso oratório; uma conversação entre dois grandes Anjos seria como uma poderosa fuga (estilo de composição musical contrapontística onde as várias vozes, que têm aqui igual importância, entram em distâncias e alturas sucessivos e predeterminados, dialogando em forma de imitação mútua ou eco), com motivo (ou tema, fragmento melódico apresentado na abertura da peça) respondendo a motivo, ecoando em cataratas de harmonia acompanhada de caleidoscópicas mutações de tons flamantes, cintilando como miríades de arco-íris.

Anjos há que vivem e se expressam pelo que para nós são fragrâncias e perfumes – mesmo que dizer assim seja degradar e materializar as exóticas emanações nas quais se comprazem tão jubilosos.

Sempre há Anjos cerca da Hóstia Consagrada, mas quando o fulgor aumenta, na Elevação ou no Benedictus, vemos uma surpreendente e ainda mais formosa adição à falange, pois um número de pequeninos Anjos volteiam em seu redor.

A maioria dos membros da Hoste Angélica são pelo menos do tamanho humano, e muitos deles são bem maiores que o homem; mas há uma tribo de diminutos querubins que são como aqueles pintados por Ticiano ou Michelangelo. São todos pequenas e maravilhosamente perfeitas criaturas – não diversos de certos tipos de espíritos da natureza, exceto pelo fato de que são muitíssimo mais radiantes e indubitavelmente angélicos em feição; têm aparência de crianças, mas ainda assim parecem muito, muito velhos.

São uma imagem do fulgor eterno que é impossível de expressar em palavras; são como aves do paraíso no esplendor de suas cores, seres feitos de luz viva; e eles voejam ou quedam em atitude de adoração, volteando adiante e atrás ao se mover, criam uma espécie de esfera oca em torno da Hóstia – uma esfera de talvez seis metros de diâmetro.

Penso que nenhum deles desce ao nível astral; a maioria deles é distinguível somente com a visão do plano causal, o que significa que seu veículo mais denso é feito de matéria pertencente ao plano mental. São da mais alta valia no serviço, pois refletem e transmutam algumas das mais poderosas forças empregadas, e podem veicular grandes quantidades de outras; assim, um torvelinho de indescritível atividade está sempre acontecendo dentro e em torno da esfera.

Há também um outro tipo destas criaturinhas ao qual o título de Anjo é menos adequado. São igualmente graciosas e belas à sua maneira, mas na realidade pertencem ao reino dos elfos ou espíritos da natureza.

Eles não se expressam através de perfumes, mas vivem nas cercanias e misturados a tais emanações, e estão onde quer que fragrâncias estejam sendo disseminadas. Há muitas variedades, algumas vivendo de odores repulsivos e pesados, outras somente daqueles delicados e refinados. Entre eles existem algumas poucas espécies que são especialmente atraídas pelo cheiro do incenso, e são encontradas sempre que este é queimado.

Quando o sacerdote incensa o altar, criando um campo magnético, enclausura dentro dele um número destes deliciosos elfinhos, e eles absorvem grande quantidade da energia que é acumulada ali, tornando-se valiosos agentes de sua distribuição no momento oportuno.

Nós podemos também guardar em afetuosa lembrança a grande classe de Anjos-Pensamento, que estão especialmente conectados com os serviços da Igreja.

O maior de todos é o Anjo da Presença, que aparece toda vez que a Santa Eucaristia é celebrada, e consuma por nós aquele tremendo sacrifício; pois, ao completar os deveres de seu ofício sagrado, o sacerdote pronunciando as palavras de poder, aquele Anjo fulgura, e pelo seu ígneo toque acontece aquela espantosa transmutação que é ao mesmo tempo o maior de todos os milagres e ao mesmo tempo o de todos o mais natural, uma expressão íntima do Amor Divino.

Ele é em verdade uma forma-pensamento do próprio Senhor Cristo, uma projeção daquela prodigiosa Consciência.

Não há alegria maior para Seus Santos Anjos que seguir o clarão daquele pensamento, e banhar-se naquele rio de vida, aquele inefável derramar de influência espiritual. E isso acontece em cada Eucaristia; em cada Missa a congregação é de longe muito mais numerosa da que pode ser vista com os olhos físicos; e quando celebramos estes sagrados mistérios, os esquadrões da falange celeste juntam-se a nós, aqui e agora.

4. A Missa Sagrada, A Eucaristia e A Visão Gnóstica
Por Helena Blavatsky

Prestemos alguns momentos de atenção às assembléias dos “Construtores do Templo Superior” nos primeiros tempos do Cristianismo. Ragon nos mostrou plenamente a origem dos seguintes termos:

a) “A palavra ‘Missa’ vem do latim Messis – ‘colheita’, donde o nome de Messis, aquele que faz amadurecer as colheitas – o ‘Cristo-Sol’.

A palavra ‘Loja’, da qual se servem os maçons, fracos sucessores dos Iniciados, toma sua raiz em Loga (Loka em sânscrito), uma localidade e um Mundo; e do grego Logos – a Palavra, um discurso, cujo pleno significado é: um local onde certas coisas são discutidas”.

c) As reuniões dos Logos dos Maçons, Primitivos Iniciados, acabaram sendo chamadas Synaxys, ‘assembleias’ de Irmãos, com o fim de rezar e celebrar a Ceia (refeição), onde eram utilizadas somente as oferendas não manchadas de sangue, tais como os frutos e cereais. Logo depois essas oferendas foram chamadas Hostiae, ou Hóstias puras e sagradas, em contraste com os sacrifícios impuros (como os prisioneiros de guerra, Histes, donde o francês Hostage – Ôtage ou Refém), e porque as oferendas consistiam de frutos da colheita, as primícias de Messis. Já que nenhum Padre da Igreja menciona, como certos sábios o teriam feito, que a palavra missa vem do hebreu Missah (Oblatum, oferenda), esta explicação é tão boa quanto a outra. (Para um estudo profundo da palavra Missah e Mizda, ver Os Gnósticos, de King, pág. 124 e seguintes).

A palavra Synaxis tinha seu equivalente entre os gregos na palavra Agyrmos (reunião de homens, assembleia). Referia-se à Iniciação nos Mistérios. As duas palavras, Synaxis e Agyrmos (14) caíram em desuso, e a palavra Missa prevaleceu e ficou.

Desejosos como estão os teólogos de velar pela sua etimologia, diremos que o termo “Messias” (Messiah) deriva da palavra latina Missus (Mensageiro, o Enviado). Mas, se assim é, essa palavra poderia também ser aplicada ao Sol, o mensageiro anual, enviado para trazer nova vida à terra e à sua produção. A palavra hebraica Messiah, Mashiah (o ungido, de Mashah, ungir) dificilmente poderia ser aplicada no sentido eclesiástico, ou seu emprego ser justificado como autêntico, tanto quanto a palavra latina Missah (missa) não deriva da outra palavra latina Mittere, Missum, “enviar” ou “reenviar”. Porque o serviço da comunhão, seu coração e sua alma, se fundamenta na consagração e oblação da Hóstia (sacrifício), um pão ázimo (fino como uma folha) representando o corpo de Cristo na Eucaristia, e sendo feito de flor de farinha, é um desenvolvimento direto da colheita ou oferendas de cereais.

Ainda mais, as missas primitivas eram Ceias (ou último alimento do dia), simples refeição dos romanos, em que eles “faziam abluções”, eram ungidos e se vestiam do Senatory, e foram transformadas em refeições consagradas à memória da última ceia de Cristo.

No tempo dos apóstolos, os judeus convertidos se reuniam em seus Synaxis para ler os Evangelhos e suas correspondências (Epístolas). São Justino (ano 150 de nossa era) nos diz que essas Assembleias solenes eram feitas nos dias chamados “sun” (o dia do Senhor, e em latim, Dies Magnus).

Nesses dias, havia o canto dos Salmos, a “colação” do batismo com água pura e o Ágape da Santa Ceia “com água e o vinho”. Que tem a ver essa combinação híbrida das refeições romanas pagãs, erigidas em mistério sagrado pelos inventores dos dogmas da Igreja, com o Messiah hebreu, “aquele que deve descer às profundezas” (ou Hades), ou com o Messias (que é a sua tradução grega)?

Como demonstrou Nork, Jesus jamais foi ungido, nem como grande sacerdote, nem como rei, e é por isso que seu nome Messias não pode derivar da palavra equivalente hebraica, ainda mais que a palavra “ungido” ou “untado de óleo”, termo homérico, é CHRI e CHRIO, ambos significando Untar o Corpo de Óleo (ver Lúcifer, 1887: The Esoteric Meaning of the Gospels – O Significado Esotérico dos Evangelhos).

As frases seguintes de outro maçom de grau elevado, autor da Sources des Mesures, resumem em algumas linhas esse “imbróglio” secular: “O fato é , diz ele, que existem Dois Messias: um, descendo por sua própria vontade ao abismo para a salvação do mundo – é o Sol despojado de Seus Raios de Ouro e coroado de raios negros como espinhos (simbolizando essa perda); o outro, o Messias triunfante, que alcançou o Ápice do Arco do Céu, personificado pelo Leão da Tribo de Judá. Em ambos os casos, ele tem a cruz…

Nas Ambarválias, festas romanas dadas em honra a Ceres, o Arval, assistente do Grande Sacerdote, vestido de branco imaculado, colocava sobre a Hóstia (a oferenda do sacrifício) um bolo de trigo, água e vinha; provava o vinho das libações e dava-o a provar aos outros.

A Oblação (ou oferenda) era então erguida pelo Grande Sacerdote. Tal oferenda simbolizava os três reinos da natureza: o bolo de trigo (o reino vegetal), o vaso do sacrifício ou Cálice (o reino mineral) e o Pal (a estola) do Hierofante, uma de cujas extremidades pousava sobre o cálice contendo o vinho da oblação. Essa estola era feita de pura lã branca de tosão de cordeiro.

Os padres modernos repetem gesto por gesto os atos do culto pagão. Eles erguem e oferecem o pão para a consagração; benzem a água que deve ser posta no cálice, e em seguida vertem o vinho, incensam o altar, etc., etc…, e, voltando ao altar, lavam os dedos, dizendo: “Eu lavarei minhas mãos entre o Justo e rodearei teu altar, Ó Grande Deus!”

Assim o fazem porque o antigo sacerdote pagão assim o fazia, e dizia: “Eu lavo minhas mãos (com água lustral) entre o Justo (os irmãos completamente Iniciados) e rodeio teu altar, ó Grande Deusa (Ceres)”.

O Grande Sacerdote fazia três vezes a volta ao altar, levando as oferendas, erguendo acima de sua cabeça o cálice coberto com a extremidade de sua estola feita de lã de cordeiro, branca como a neve…

A vestimenta consagrada, usada pelo papa, Pallium, tem a forma de uma manta feita de lã branca, com um galão de cruzes púrpura. Na Igreja grega, o padre cobre o cálice com a extremidade de sua estola pousada sobre seu ombro.

O Grande Sacerdote da Antiguidade repetia três vezes durante o serviço divino seu “O Redemptor Mundi” a Apolo – o Sol; seu “Mater Salvatoris” a Ceres – a Terra; seu Virgo Partitura à Virgem Deusa, etc… pronunciando Sete Comemorações Ternárias. (Ouvi, ó maçons!)

O número ternário tão reverenciado na Antiguidade como em nossos diasé pronunciado sete vezes durante a Missa; temos três Introito, três Kyrie Eleison, três Mea-Culpa, três Agnus Dei, três Dominus Vobiscum, verdadeiras séries maçônicas. Acrescentemos-lhes os três Et Cum Spiritu Tuo, e a missa cristã nos oferecerá as mesmas Sete Comemorações Tríplices.

Paganismo, Maçonaria, Teologia, tal é a trindade histórica que governa o mundo Sub-Rosa.

Podemos terminar com uma saudação maçônica, e dizer: Ilustre dignitário de Hiram Abif, Iniciado e “Filho da Viúva”: o Reino das Trevas e da ignorância desaparece rapidamente, mas há regiões ainda inexploradas pelos sábios e que são tão negras quanto a noite do Egito.

Fratres Sobrii Estote et Vigilate.

5. Os 7 Sacramentos da Comunidade dos Iniciados
SACRAMENTOS
Planeta
Arcanjo
Significado
Batismo
Lua
Gabriel
O Conhecimento dos Mistérios Alquímicos, pacto do Batismo para ser orientado internamente.
Confirmação
(Crisma)
Mercúrio
Rafael
Aprofundamento e tomada de Consciência da importância desses Mistérios para nossa Autorrealização.
Matrimônio
Vênus
Uriel
A efetiva prática desses Mistérios, é executar o que já se estudou e se praticou o be-á-bá da Alquimia, como os pranayamas, mantras, desbloqueios dos nadís etc. Aqui se trabalha de verdade no 1º Fator.
Eucaristia
Sol
Michael
Ajuda vinda dos Mundos do Cristo, aqui se absorvem os Átomos Crísticos, tão necessários para nosso crescimento interior.
Confissão
Marte
Samael
Aqui se conhece e se pratica realmente a Morte do Ego, o 2º Fator.
Apostolado
Júpiter
Zacariel
O Apostolado é sinônimo do 3º Fator, da ajuda à humanidade, amor consciente ao próximo, entregando a Doutrina Gnóstica.
Extrema-Unção
Saturno
Orifiel
Aprofundamento do Trabalho dos 3 Fatores para a total transcendência do si mesmo. A morte absoluta e a Renúncia.
6. Quem Ensinou o Mistério da Santa Eucaristia ao V.’. M.’. Samael Aun Weor

Estando nos Mundos Superiores de Consciência Cósmica, o mestre Samael fez “amizade” com um poderoso Anjo de Deus, Anjo de Mando e do Poder, chamado Aroch.

Foi este Anjo, todo sabedoria, Amor e Poder, que ensinou ao mestre Samael, entre outras coisas, o mantra mais poderoso para se despertar a Kundalini, o antibiótico mais eficiente do mundo, a Conjuração de Proteção mais poderosa do Universo (Belilin) etc.

Esse Anjo sagrado também ensinou ao Mestre Samael e a toda a Comunidade Gnóstica os Mistérios da Santa Unção Gnóstica, ou Mistério Eucarístico Gnóstico.

Leiamos o que o mestre Samael escreveu, no livro Tratado Esotérico de Magia Prática:

Quando o Anjo Aroch, Anjo de Mando, me ensinou esta chave maravilhosa da Unção Gnóstica, também me ensinou a ORAR:

“São indizíveis aqueles instantes em que o anjo Aroch, na figura de um menino, ajoelhado e com as mãos unidas sobre o peito, levantou seus olhos puríssimos até os Céus…

Seu rosto parecia ser de Fogo naquels instante, e, cheio de Amor profundo, esclamava:

“SENHOR, SENHOR, NÃO ME DEIXES CAIR, NÃO ME DEIXES JAMAIS SAIR DA LUZ… Etc…”

Logo, repartiu o Pão e o deu de comer, e pôs o vinho dentro de uma pequena jarra de prata. Serviu-o em alguns cálices e nos deu de beber…”

Até aqui, as palavras de nosso querido mestre Samael.

Como se pode invocar a este Anjo, toda vez que necessitarmos Iluminação, Consolo, Proteção e Sabedoria? Continua o Mestre, explicando:

À noite, antes de dormirmos, faremos uma oração. Devemos ter uma vela acesa (que deverá ser apagada depois de feita a oração), um copo com água e uma rosa (esta deverá estar sem o cabo, somente em botão. Se tivermos um altar, melhor. Se não, também está bom…)

Acendemos uma vela, colocamos no copo a água e, mergulhado na água colocamos um botão de rosa (sem o cabo, somente o botão).

Aí fazemos a oração conforme sabemos e podemos, e de manhã, logo após acordarmos, bebemos esta água…

Podemos repetir esta prática por 3 dias seguidos…

(Do livro Tratado de Magia Prática)

7. O Milagre da Transubstanciação
(Texto retirado do livro O Parsifal Desvelado, do VM Samael Aun Weor
Na Missa Gnóstica encontramos o seguinte relato:

“(…) E Jesus, o Divino Grande Sacerdote Gnóstico, entoou um doce cântico em louvor do Grande Nome e disse aos seus discípulos: ‘Vinde a Mim e eles assim o fizeram’.

Então, dirigiu-se aos quatro pontos cardeais, estendeu seu tranquilo olhar e pronunciou o nome profundamente sagrado “Jeú”, abençoou-os e lhes soprou nos olhos.

Olhai para cima – exclamou. Já sois clarividentes. Eles então levantaram seus olhares para onde Jesus assinalara, e viram uma grande cruz que nenhum ser humano poderia descrever.eucaristia-gnosisonline

E o Grande Sacerdote disse: Afastai a vista dessa grande luz e olhai para o outro lado. Então viram um grande fogo, vinho e sangue. (Aqui abençoa-se o pão e o vinho.)

E continuou: Em verdade vos digo que eu não trouxe nada ao mundo, senão o fogo, a água, o vinho e o sangue da redenção.

Trouxe o fogo e a água do lugar da luz, dali onde a luz se encontra.

Trouxe o vinho e o sangue da morada de Barbelos.

Depois de passado algum tempo, o Pai me enviou o Espírito Santo em forma de branca pomba, mas, ouvi-me: o fogo, a água e o vinho são para a purificação e o perdão dos pecados.”

O Evangelho de Taciano testemunha o sacramento do corpo e do sangue, dizendo:

“E Jesus tomou o pão e o abençoou.

E deu-os aos seu discípulos, dizendo: Tomai e comei, porque este é o meu corpo, que lhes é dado.

E, tomando o cálice, deu graças, e o ofereceu aos seus discípulos.

E disse: Tomai e bebei, porque este é o meu sangue que será vertido na remissão dos pecados.

E desde agora não beberei mais do fruto da videira até o dia em que o beba convosco no reino de meu Pai. Fazei isto em minha comemoração.”

Lucas desvenda inteligentemente o profundo significado desta mística cerimônia mágica, dizendo:

“Chegou o dia dos pães sem fermento, no qual era necessário sacrificar o Cordeiro Pascal.

E Jesus enviou a Pedro (cujo evangelho é o sexo) e a João (cujo evangelho é o Verbo), dizendo: Ide preparar-nos a Páscoa, para que a comamos.”

O Nome Oculto de Pedro é “Patar” com suas três consoantes, que no alto esoterismo são radicais: “P”, nos recorda o Pai que está oculto, o ancião dos dias da cabala hebraica; “T” ou Tau, letra cruz, estudada em nosso capítulo anterior, famosa no Sexo-Yoga; e “Ra”, Fogo Sagrado, Divindade, Logos.

João descompõe-se nas cinco vogais IEOUA (Ieouan, Swan, Choan, Ioan), o Verbo, a palavra.

Pedro morre crucificado na cruz invertida com a cabeça para baixo e os pés para cima, como se nos convidasse a baixar à Forja dos Ciclopes, à Nona Esfera, para trabalharmos com a água e o fogo, origem de mundos bestas, homens e deuses.

Toda autêntica Iniciação Branca começa por ali.

João, o inefável, recosta sua cabeça no coração do grande Cabir Jesus como que declarando: o amor alimenta-se com o amor.

É fácil compreender que o Verbo criador, em cilada mística, aguarda enroscado no fundo da arca o instante preciso de ser realizado.

Ao que sabe, a palavra dá poder. Ninguém a pronunciou, ninguém a pronunciará, a não ser aquele que a tiver encarnado.

No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

Está escrito com palavras de fogo no grande livro da existência cósmica que primeiro devemos percorrer firmemente o caminho de Pedro.

O Verbo que jaz oculto no âmago misterioso de todas as idades ensina, claramente, que depois é necessário caminhar pela senda de João.

Porém, dentro destas duas sendas divinas, existe um Abismo.

É indispensável ter uma ponte de prodígios maravilhosos entre os dois caminhos… e, após, morrer de instante a instante (morte mística).

Transmutar para falar no horto puríssimo da divina língua é, certamente, o profundo significado místico da Unção Gnóstica.

O pão e o vinho, a semente de trigo e o fruto da videira devem ser regiamente transformados na carne e no sangue do Cristo Íntimo.

O Logos Solar, com a sua vida pujante e ativa, faz germinar a semente para que a espiga cresça de milímetro em milímetro e, logo, encerrar-se como em um cofre precioso dentro da pétrea dureza do grão.

Os raios solares, penetrando solenes na cepa da videira, desenvolvem silenciosamente até amadurecer no fruto santo.

O Sacerdote Gnóstico, em estado de êxtase, percebe essa substância cósmica do Cristo-Sol encerrada no pão e no vinho e atua desligando-a de seus elementos físicos para que os Átomos Crísticos penetrem, vitoriosos, nos organismos humanos.

Esses Átomos Solares, essas vidas ígneas, esses agentes secretos do Adorável, trabalham silenciosos dentro do Templo-Coração, convidando-nos uma ou outra vez a trilharmos a Senda que nos conduzirá ao Nirvana.

É evidente e palpável a misteriosa ajuda dos Átomos Crísticos.

E resplandece a luz nas trevas e aparecem sobre a Ara os 12 pães da proposição, alusão manifesta aos signos zodiacais ou diversas modalidades da substância cósmica.

Isto nos faz recordar a décima segunda carta do Tarô, o Apostolado, o Magnus Opus, o liame da cruz com o triângulo.

Enquanto o Vinho deriva do fruto maduro da videira, é o símbolo maravilhoso do fogo, do sangue e da vida que se manifesta na substância, mesmo que as palavras Vinho, Vida, Videira tenham diferentes origens. Nem por isso deixam de ter certas afinidades simbólicas. Não de outra forma relaciona-se o Vinho com Vis, “Força”, e Virtus, “Força moral”, assim como Virgo, “Virgem” (a Serpente Ígnea de nossos mágicos poderes).

O Sahaja Maithuna (a Magia Sexual) entre Varão e Fêmea, Adam-Eva, no leito delicioso do amor autêntico, guarda, em verdade, sublimes concordâncias rítmicas com o ágape místico do grande Cabir Jesus.

O germe encantador da espiga sagrada tem seu expoente máximo e íntimo na humana semente.

O fruto sacrossanto da videira é realmente o emblema natural da vida que se manifesta com todo o seu esplendor na substância.

Transformar o pão (semente) em carne solar, e o vinho delicioso em sangue crístico e fogo santo é o milagre mais extraordinário do Sexo-Yoga.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

O Dikpala do Caminho de Silêncio


Retrato de Lam feito por Crowley é um desenho curioso que ele incluiu em sua exposição ‘Dead Souls’ (Almas Mortas) realizada em Greenwich Village, Nova York, em 1919. Nesse mesmo ano ele foi publicado como um frontispício para o Comentário de Crowley para A Voz do Silêncio[1] de Blavatsky. Que há uma conexão entre o retrato e o Comentário, sub-intitulado Liber LXXI, pode ser inferida a partir da inscrição que acompanha o frontispício, que foi intitulado O Caminho:

LAM é a palavra Tibetana para Caminho ou Senda, e LAMA é Ele que Vai, o título específico dos Deuses do Egito, o Peregrino da Senda, em fraseologia Budista. Seu valor numérico é 71, o número deste livro.

Crowley não deixou nenhum registro quanto à origem deste retrato, embora ele tenha observado muitos anos mais tarde que ele foi desenhado em vida. É certo, porém, que o desenho surgiu a partir do Trabalho de Amalantrah, uma série de visões mágicas e comunicações recebidas em 1918, através da mediunidade de O Camelo, Roddie Minor. Isto foi em muitos aspectos, uma continuação do Trabalho de Abuldiz de vários anos anteriores. Em ambos os trabalhos, o simbolismo do ovo aparece com destaque. Uma das visões anteriores do Trabalho de Amalantrah terminou com a frase "Está tudo no ovo". Durante a definitiva visão sobrevivente deste trabalho, em referência a uma pergunta sobre o ovo, a Crowley foi dito que "Tu estás a andar este Caminho".

Examinando o retrato, podemos ver as conexões. A cabeça de Lam é em forma de ovo, e, claro, o desenho é chamado O Caminho. No redemoinho da face pode ser vista claramente um estilizado ankh, o símbolo Egípcio para Curso da vida, como uma questão de interesse, o ankh pode ser mais bem transliterado no Hebraico como kaph nun aleph, 71. O tema principal de A Voz do Silêncio, claramente trazidos por Crowley, é a necessidade de estabelecer contato com o Ser Silente. O corresponde ao Ser Anão, a consciência fálica, Harpocrates, Hadit; e o tema percorre grande parte do escrito de Crowley. É digno de nota neste contexto que ALIL, "a imagem do Nada e do Silêncio ', enumera-se como 71.

Crowley deu o desenho para Kenneth Grant em maio de 1945, na seqüência de um trabalho astral em que ambos estavam envolvidos. Desde então, tornou-se aparente que Lam é de fato uma entidade trans-mundana ou extraterrestre, com que vários grupos de magistas têm estabelecido contato, mais notavelmente Michael Bertiaux na década de 60 e um grupo de iniciados da O.T.O. nos anos 70. Muito permanece obscuro, no entanto, daí a necessidade de uma investigação mais aprofundada desta entidade.

A idéia de entidades extraterrestres parece causar dificuldades com algumas pessoas, associando-a, como podem fazer, com as praias mais selvagens da ficção-científica. Existe, porém, uma riqueza de material sobre este assunto para sugerir o antigo clichê que a verdade é mais estranha que a ficção. Ver, por exemplo, O Mistério de Sirius[2] de Robert Temple. Quer esses visitantes sejam considerados como os visitantes do espaço exterior, ou como a jorrar das profundezas de algum espaço interior, não é nem aqui nem lá. A dicotomia de "interior" e "exterior" é puramente conceitual, decorrente da noção dualista de um indivíduo ser de certa forma separado do resto do universo, que está de alguma forma 'lá fora'. Não existe, na verdade, nada fora da consciência, que é um continuum. Esta posição é explorada no artigo Going Beyond, que apareceu na primeira edição da Starfire.

Lam é abordado em muitos lugares nos trabalhos de Kenneth Grant, mais notavelmente em Cults of the Shadow e Outside the Circles of Time, e o leitor interessado pode consultar estes livros. Um relato mais prolongado de Lam é planejado para uma futura edição de Starfire. Nesse meio tempo, o seguinte documento emitido pela O.T.O. será de interesse, dando como faz um método de se tentar relação com Lam utilizando o retrato como um portal. 

I
Preliminarmente

Tem sido considerado oportuno pelo Soberano Santuário regularizar e examinar os resultados obtidos por membros individuais da O.T.O. que estabeleceram contato com a Mágica Entidade conhecida como Lam. Estamos, portanto, fundando um Culto interior deste dikpala com a finalidade de reunir relatos precisos de tais contatos.

Registros de conexão devem ser detalhados segundo a maneira sugerida em Liber E vel Exercitiorum e deve conter pesquisas sobre a interpretação cabalística do Nome e Números de Lam, e um estudo de relação deles com conceitos-chave da Dupla Corrente (93/696).

Também tem sido considerado oportuno regularizar o método de conexão e construir uma fórmula mágica para estabelecer comunhão com Lam.

O retrato do dikpala que é reproduzido em The Magical Revival[3] pode ser usado como o foco visual, e pode servir como o Yantra do Culto; o Nome Lam é o Mantra; e o Tantra é a união com o dikpala pela entrada no Ovo do Espírito representado pela Cabeça. A entrada pode ser efetuada por projeção da consciência através dos olhos.

Note-se que a entidade é representada sem orelhas, o que sugere que Lam é de certa forma relacionada com o Silêncio do Æon Sem Palavra de Zain. O fato de que o retrato foi usado por Therion como um frontispício de A Voz do Silêncio (H.P. Blavatsky) pode ter um preciso significado mágico. Ele foi originalmente reproduzido em The Equinox, volume 3, número 1, após um "volume de silêncio” de cinco anos durante os quais nenhum ensaio do The Equinox apareceu. The Equinox foi o Órgão Oficial da A.ֺ.A.ֺ. (Argenteum Astrum), a Estrela de Prata representada astronomicamente por Sirius, a Estrela de Set.


II
O Procedimento Mágico

O modo de Entrar no Ovo pode prosseguir da seguinte forma. Cada devoto é estimulado a experimentar e desenvolver o seu próprio método a partir deste procedimento básico:

1. Sente-se em silêncio diante do retrato.
2. Invoque mentalmente pela repetição silenciosa do Nome.
3. Se a resposta é sentida ser positiva, mas não antes, entre no Ovo e se mescle com Aquilo que está dentro e olhe para fora através dos olhos da entidade sobre o que aparece agora ao devoto um mundo alienígena. (Adumbrações de identificação com Lam podem ser experimentadas como um forte senso de irrealidade, ou falta de familiaridade, do universo "objetivo").
4. Sele o Ovo, i.e. feche os olhos de Lam e aguarde os acontecimentos.
5. Ao primeiro sinal de estresse ou fadiga, retorne à consciência mundana abrindo os olhos e escorrendo para fora do Ovo em uma forma determinada pelas experiências internas.
6. Execute, astralmente, o Ritual de Banimento do Pentagrama da Terra, nos Oito Espaços, e registre todas as experiências em detalhes, com especial atenção para as fases lunares (celestial e, quando aplicável, terrestre), e quaisquer fenômenos fisiológicos que acompanharam a experiência.

A invocação de Lam deve ser realizada somente em um Círculo de proteção integral, o qual envolve o Banimento nas Oito Direções do Espaço com o Ritual Menor de Banimento do Pentagrama da Terra, seguido pelo Ritual de Invocação do Hexagrama da Terra. Então, prosseguir com uma invocação silenciosa de Aiwass, e intensa aspiração a Yuggoth (Kether) e aos Grandes Antigos, antes do início da efetiva LAMeditação.

É sugerido que os devotos experimentem com esta técnica e apresentem seus Registros para membros indicados do Soberano Santuário da O.T.O. As sincronicidades que sejam consideradas relevantes podem ajudar a facilitar Trabalhos futuros, e podem ser incorporados com o objetivo de estabelecer uma conexão mais profunda.

Grupo de trabalho é considerado desaconselhável. Cada devoto deve trabalhar de forma isolada ou somente com seu parceiro mágico, ainda que o Trabalho do IX° seja considerado extremamente perigoso nessa área, mesmo que ambas as partes sejam oficialmente IX°. Uma observação similar se aplica aos Trabalhos do VIII° e, mais enfaticamente, aos Trabalhos Lunares, que em nenhum caso devem ser realizados neste contexto.

Cada devoto deve trabalhar de forma independente, e deve ser desconhecedor da identidade de outros membros do Culto. Isto é importante se o "objetivo" ou a assim chamada evidência "científica" do Contato for obtida.

Talvez leve anos para acumular evidências significativas de contato com Lam, e - se Lam é o Portal - com Aqueles que jazem Além. Pode ser que a comunhão com o dikpala se dê por meio de congressos com uma Sacerdotisa escolhida por Lam, ou com aquela que possua certas características peculiares a esse ofício, caso em que novos procedimentos terão que ser inventados. No presente momento, no entanto, é aconselhável limitar as experiências para métodos de intercurso mental e/ou astral. Uma Ordem Interna do Culto pode – e será, se necessário – ser formada para acomodar outros modos de Trabalho.


III
Por que o Culto foi Fundado neste Momento

O Culto foi fundado porque intimações muito fortes foram recebidas por Aossic Aiwass, 718ֺ.ֺ no sentido de que o retrato de Lam (o desenho original que foi dado por 666ֺ.ֺ a 718ֺ.ֺ em circunstâncias curiosas) é o foco atual de uma Energia extra-terrestre — e talvez trans-plutônica — que a O.T.O. é requerida a comunicar neste período crítico, pois temos agora entrado no Oitenta mencionado no Livro da Lei. É Nosso intuito obter algum insight não somente sobre a natureza de Lam, mas também sobre as possibilidades de usar o Ovo como uma cápsula espacial astral para viajar ao domínio de Lam, ou para explorar espaços extraterrestres no sentido em que Viajantes do tempo Tântrico da O.T.O. estão explorando os Túneis de Set em cápsulas intracósmicas e chthonianas.

Membros da O.T.O. que se sentem fortemente atraídos a este Culto de Lam são convidados a candidatar-se a participação nesse programa. É aberto somente aos membros da Ordem. Eles devem entrar em contato com Frater Ani Asig, 375ֺ.ֺ do Soberano Santuário da O.T.O. e submeter uma aceitação formal, datilografada e assinada, das condições de trabalho descritas aqui.

Deve ser entendido que a proficiência nas fórmulas mágicas deste Culto não necessariamente comporta elegibilidade para o avanço na O.T.O., sua Ordem original.

© Kenneth Grant / Aossic Aiwass, 718ֺ.ֺ
C.E.O. da O.T.O.
Londres e Miami; Equinócio de Primavera, 1987 e.v. 

Originalmente publicada em Starfire Volume I número 3
©Kenneth Grant, 1989; ©S.V. Grant, 2011

©Tradução de Lilia Palmeira - 2011
Revisão de Cláudio César de Carvalho


Notas de Rodapé:
[1] The Magical Revival, by Kenneth Grant, Frederick Müller, London, 1972; publicado também pela Skoob Publishing, London, 1992 e pela Starfire Publishing Limited, London, 2010. Tradução para a língua Portuguesa como O Renascer da Magia, por Kenneth Grant, tradução de Cláudio Breslauer, Madras Editora, São Paulo, 1999.
[2] A Voz do Silêncio, por Helena Petrovna Blavastky, tradução Portuguesa de Fernando Pessoa. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1969.
[3] The Sirius Mystery, by Robert K.G. Temple. Destiny Books, Vermont, 1976. Tradução para a língua Portuguesa como O Mistério de Sírius, por Robert K.G. Temple, Madras Editora, São Paulo, 2005. 

Cintilações em Malva


Uma Introdução à Obra de Kenneth Grant

Kenneth Grant foi um dos ocultistas mais influentes do Século 20. Ele deixa para trás um corpo substancial e formidável de trabalho que vai ser explorado e desenvolvido ao longo dos próximos anos. O que se segue aqui é um estudo introdutório de sua obra - uma base para a consideração mais profunda, mais substancial de seu trabalho no futuro.
Nascido em Essex em 1924, Kenneth Grant desenvolveu um intenso interesse pelo oculto desde tenra idade, bem como uma devoção ao longo da vida ao Budismo e outras religiões orientais. Ele comentou em algum lugar de seus escritos que o misticismo oriental foi seu primeiro amor – uma indicação não só de quão bem versado ele foi, mas talvez mais importante ainda, seu elevado sentido do imanente. Grant relata em Outside the Circles of Time como havia se deparado com uma cópia de Magick in Theory and Practice — na em Zwemmers, na Charing Cross Road – no final dos anos 30 ou início dos 40. Neste período, ele também tinha descoberto The Book of Pleasure de Austin Osman Spare na Atlantis Bookshop de Michael Houghton na Museum Street.. Após mergulhar nas obras de Crowley, finalmente conseguiu fazer contato com ele em 1944, escrevendo para o endereço fornecido no The Book of Thoth1 que acabara de ser publicado. Visitando-o várias vezes, Grant posteriormente ficou com ele em ‘Netherwood’ em Hastings em 1945, imerso em Magia. Muitos anos depois, Grant escreveu um livro de memórias deste período de sua vida, Remembering Aleister Crowley. É evidente que a partir de observações em seus diários e em outros lugares, que Crowley desenvolveu uma grande estima por Grant, vendo nele o potencial para se tornar um futuro líder da O.T.O..
Foi nessa época que Grant se encontrou pela primeira vez com o desenho de Lam feito por Crowley, ou “O Lama” como Crowley se referia a ele. Tendo oferecido a Grant um desenho de seu portfólio, ele ficou inicialmente hesitante quando Grant selecionou o desenho – ou, como Kenneth apontou, Lam o escolheu. Eventualmente, ele transmitiu o desenho a Grant após um ataque de asma extremamente ruim o qual Grant ajudou a aliviar ao correr para o médico de Crowley a fim de conseguir heroína. Crowley se referiu a este incidente em seu diário de 08 de Maio de 1945: “Aussik ajudou bastante; dei-lhe ‘O Lama’ …” O desenho foi posteriormente reproduzido em The Magical Revival e Outside the Circles of Time, e passou a ocupar um papel cada vez mais proeminente no corpo de desenvolvimento do trabalho de Grant.
Após a morte de Crowley, em dezembro de 1947, Kenneth e Steffi Grant estavam entre os presentes no funeral de Crowley, e foram posteriormente membros do pequeno círculo que se esforçou para manter a memória de Crowley e seu trabalho vivo. Crowley nomeou Karl Germer – então vivendo nos EUA – como seu sucessor, e sua Vontade estipulou que seus documentos deveriam ser enviados para Germer. Preocupado que deveria haver cópias dos documentos mais importantes no caso de alguma coisa acontecer a eles enquanto em trânsito, Grant e, posteriormente, Gerald Yorke resolveram fazer cópias datilografadas daqueles que consideraram de importância particular. E foi bom que assim fizessem, uma vez que a coleção de documentos de Germer foi roubada de sua viúva Sascha em 1967 por membros da Loja Solar e, posteriormente, destruída em um incêndio. As cópias datilografadas feitas por Grant, Yorke e outros formaram a base do arquivo que Yorke mais tarde passou para o Instituto Warburg da Universidade de Londres, e que continua a ser acessível a pesquisadores.
Durante o final dos anos 1940 e início dos anos 1950, um pequeno círculo de ocultistas se reuniu em torno dos Grant, desenvolvendo como o núcleo de um grupo de trabalho. Germer tinha patenteado Grant em 1951 para formar um ‘Capítulo’ da O.T.O. Fora desta desenvolveram a New Isis Lodge como uma célula dependente da O.T.O., com uma estrutura de graus e programa de trabalho que foi influenciado pela Astrum Argenteum de Crowley, bem como pela O.T.O. como era nos dias de Crowley. A relação com David Curwen foi fundamental para Grant obter uma cópia de um comentário de um adepto Kaula sobre um texto tântrico, o Anandalahari. Este comentário deu importantes ‘insight’ sobre a magia sexual tântrica, aproximando a magia sexual de uma direção muito diferente daquela de Crowley. A abordagem de Crowley é basicamente solar-fálica, para não dizer falocentrica; há grande ênfase na importância das energias sexuais masculinas, mas muito pouco sobre as energias femininas. Muitas vezes, a parceira é considerada como pouco mais do que um copo no qual o magista verte o seu bindu. O texto Kaula abordava o assunto de uma perspectiva diferente, acentuando o papel dos kalas e como eles variam ao longo do ciclo menstrual.
No lançamento formal da Loja, em 1955, os Grant emitiram um Manifesto da New Isis Lodge no qual eles falaram da descoberta de um planeta além de Plutão, o Ísis transplutônico, e o que isto poderia significar para a evolução da consciência neste planeta:

Uma nova e convincente influência está envolvendo a Terra e como ainda há poucas pessoas que estão abertas ao influxo das vibrações sutis dessa influência.
Seus raios procedem de uma fonte ainda inexplorada por aqueles que não estão em harmonia com ele em essência e em espírito, e que encontra seu foco presente no universo exterior no transplutônico planeta Ísis.
No íntimo do homem, também, esta influência tem um centro que começará lentamente a se agitar na humanidade como um todo conforme a influência se fortalece e floresce. Como ela está no início de seu curso em relação ao homem, no entanto, muitos séculos passarão antes que ele possa valer-se totalmente das grandes potências e energias que essa influência está silenciosamente e continuamente concedendo a todos os que sabem identificar o núcleo interno do seu ser com seus corações profundos e inescrutáveis.

É certamente óbvio que os Grants não estavam falando sobre a descoberta de um planeta físico; tal descoberta poderia ter sido mais relevante para uma revista astronômica. Se tivermos em mente que a Primeira Sephira, Kether, é atribuída a Plutão, então um planeta transplutônico seria ‘Um Além do Dez’, o Grande Exterior. Grant expressou isso, desse modo, alguns anos mais tarde, em Aleister Crowley and Hidden God:

Em O Livro da Lei, a deusa Nuit exclama: “Meu número é onze, conforme todos seus números que são nossos”, que é uma alusão direta à A\A\ou Ordem da Estrela de Prata, e seu sistema de Graus. Nuit é o Grande Exterior, representada fisicamente como “Infinite Space and the Infinite Stars thereof” - isto é, I s i s.2 Nuit e Isis são assim identificadas no Livro da Lei. Isis é o espaço terrestre, iluminada pelas estrelas. Nuit é o exterior, ou espaço infinito, a escuridão eterna que é a fonte secreta da Luz; Ela é também, em um sentido místico, o Espaço Interior e o Vasto Intimo.

Germer havia uma vez, como Crowley, considerado Grant como potencialmente um futuro líder da O.T.O. (ver, neste contexto, os extratos de suas cartas à Grant, publicadas no artigo ‘It’s an Ill Wind That Bloweth’3 em Starfire Volume I nº 5, Londres, 1994). No entanto, ele estava essencialmente descontente com alguém que se desviava da linha que, após a morte de Crowley, a única coisa a fazer era simplesmente preservar e promover o trabalho de Crowley. Além disso, ele também não ficou feliz quando Grant se recusou a recolher dinheiro dos membros da sua Lodge. Ele ficou ainda mais irritado ao saber que Grant tinha formado conexões com Eugen Grosche, um antigo adversário de Germer da Alemanha na década de 1920. Ele exigiu que Grant retratasse seu Manifesto; quando ele recusou, Germer emitiu uma Nota de Expulsão. Grant simplesmente ignorou a expulsão e continuou com a New Isis Lodge como uma loja dependente da O.T.O., confiante de que seu trabalho mágico lhe permitia fazer a conexão direta com a corrente mágica no centro da O.T.O., assim substituindo a autoridade de Germer e tornando a expulsão irrelevante. Esta confiança na sua posição como sucessor de Crowley se reforçou ao longo dos anos subseqüentes com o desenvolvimento de sua obra mágica e mística.
A New Isis Lodge tinha um programa de trabalho que começou em 1955 e foi concluído em 1962, embora a Loja continuasse a operar até meados de1960. O desenvolvimento de algumas técnicas mágicas interessantes e inovadoras, um relato de alguns de seus trabalhos é dado em Hecate’s Fountain, escrito no início dos anos 80, mas não publicado antes de dez anos mais tarde. As experiências de Grant na New Isis Lodge foram a base para seu trabalho subsequente, talvez mais aparente nos volumes posteriores das Trilogias com a publicação de duas das transmissões reificadas durante o curso de Funcionamento da Lodge. Uma dessas transmissões foi a requintada e delicada Wisdom of S’lba (Sabedoria de S'lba) que foi incorporada no sétimo volume das Trilogias, Outer Gateways, publicado em 1994. O outro foi The Book of the Spider (O Livro da Aranha), em torno do qual Grant teceu seu volume final das Trilogias, The Ninth Arch (2002).
A New Isis Lodge não é muito mencionada nos primeiros livros de Grant. Tenho a impressão de que, embora o trabalho realizado na Lodge fosse formativo para Grant – a fundação de seu posterior corpo de trabalho – por isso mesmo isto é a percepção cumulativa destilada ao longo de sucessivos anos que permitiu Grant entender plenamente as realizações daqueles anos anteriores, e de levar o trabalho para outro nível. O potencial desses anos veio a ser concretizado muitos anos após a Loja ter cessado seu trabalho. Lembro-me dele comentando comigo no início dos anos 90 que ele tinha recentemente se deparado com material de arquivo que havia sido guardado por muitos anos, e que ao passar por isso novamente uma fresca corrente de iniciação havia sido deflagrada.
No decorrer dos anos de 1959 a 1963, os Grants produziram uma série de monografias, as Carfax Monographs, cada uma sobre um assunto diferente. Anos mais tarde, em 1989, estas foram reeditados num só volume como Hidden Lore. Mais recentemente, elas foram republicados, desta vez com material adicional, como Hidden Lore, Hermetic Glyphs (Fulgur, 2006).
Uma das influências mais importantes sobre Kenneth Grant foi Spare.
Em 1949 ele e sua esposa Steffi conheceram o artista e escritor ocultista. Eles permaneceram amigos até a morte de Spare em 1956, apoiando-o com alguns fundamentos essenciais da vida, bem como materiais para seu trabalho artístico, e esse contato desencadeou um renascimento no trabalho de Spare. Grant tinha há algum tempo tomado um vivo interesse na magia e misticismo de Spare, assim como em sua arte, e em especial nos sistemas de sigilos que Spare tinha apresentado em The Book of Pleasure (O Livro do Prazer), publicado pela primeira vez em 1913. Fora exceções notáveis, como o desenho de 1928 “Teurgia” não obstante, os sigilos estavam geralmente ausentes do trabalho de Spare depois da Primeira Guerra Mundial, e ele confessou a Grant que ao longo dos anos, ele tinha esquecido os princípios subjacentes ao sistema. Estimulado pelo interesse e entusiasmo de Grant, Spare aplicou-se a recuperar esses princípios, e os sigilos ressurgiram em muitos de seus desenhos e pinturas dos anos 40 e 50. O resultado dos último poucos anos de sua vida foi uma espécie de renascimento para Spare, um florescimento tardio.
Este renascimento incluiu o trabalho escrito, que Grant datilografou para ele, no processo de fornecimento de críticas e comentários, e insistindo na elucidação onde ela parecia benéfica. Muito deste trabalho final foi posteriormente publicado pelos Grants em Zos Speaks! (Fulgur, 1998), junto com cartas e extratos diários que documentam seu tempo com Spare, bem como reproduções de obras de arte de Spare. Em sua morte, Spare legou a Kenneth seus manuscritos, originais datilografados, e livros. Incansável na promoção do trabalho de Spare ao longo dos anos subseqüentes, em 1975 os Grants publicaram o belo Images & Oracles of Austin Osman Spare (Muller, 1975; Fulgur, 2003), introduzindo seu trabalho – escrito e artístico – para um novo público. O renascimento do interesse em Spare nos últimos anos deve muito ao seus esforços.
Como Spare, em toda a sua obra Grant enfatizou a supremacia da imaginação. Longe de ser mero capricho ou fantasia, isto é de fato o principal meio para encontrar e explorar o universo e nosso relacionamento com ele. O trabalho de Grant é essencialmente dirigido à imaginação, soando ecos na consciência do leitor de sua obra. Como já vimos, Grant descreveu o Misticismo Oriental como seu primeiro amor, e durante os anos 50, ele mergulhou no Advaita Vedanta – a realização de que a consciência é indivisível – escrevendo uma série de artigos para revistas asiáticas, posteriormente coletados e publicados muitos anos depois como At the Feet of the Guru (Starfire Publishing, 2006). Embora muitas vezes pensado como um culto que glorifica a individualidade, Thelema é, de fato enraizada neste solo, tendo muito em comum com o Taoísmo.
Com John Symonds, executor literário de Crowley, Grant editou a expansiva e turbulenta autobiografia de Crowley, The Confessions (Cabo, 1969). Isto desempenhou um papel importante em trazer o trabalho de Crowley à atenção popular. Symonds e Grant construíram sobre isso, continuando a editar e publicar outros trabalhos de Crowley ao longo dos anos 70, especialmente The Magical Record of the Beast 666 (Duckworth, 1972) – uma seleção dos diários de Crowley – e Magical and Philosophical Commentaries on the Book of the Law (93 Publishing, 1974).
Ao longo dos anos, Kenneth Grant criou seu próprio corpo de trabalho, e em um artigo sobre o trabalho de Crowley – “Love Under Will”4, publicado na International Times durante 1969 – ele se referiu a um estudo seu que estava aguardando publicação, intitulada Aleister Crowley and the Hidden God. Sua editora, Muller, posteriormente, pediu-lhe para dividir o trabalho em dois volumes, o primeiro dos quais foi publicado em 1972 como The Magical Revival5. O segundo, emitido sob o título original Aleister Crowley and the Hidden God, em seguida no ano de 1973. Este foi o início das Trilogia Tifoniana, o nono e último volume da qual, The Ninth Arch, foi publicado em 2002 pela Starfire Publishing. Estes volumes compreendem um corpo substancial de trabalho que, embora eclético e abrangendo vastas áreas de magia e misticismo, está firmemente enraizado em Thelema. No decorrer deste trabalho, Grant levou Thelema à áreas para além do que muitas vezes são considerados os limites de trabalho de Crowley, no processo destacando a universalidade de Thelema e suas afinidades com uma ampla gama de tradições e disciplinas. O que se segue é um breve resumo de cada um dos volumes da Trilogia, ao longo do caminho, alguns temas serão destacados.
The Magical Revival (Muller, 1972; Starfire Publishing, 2009) foi um estudo e análise de uma variedade de tradições ocultistas que sobreviveram durante milhares de anos, e que estão agora a reviver em novas formas e com um renovado vigor. Em particular, a gênese e o desenvolvimento do Culto Draconiano ao longo das dinastias egípcias foi traçado, e contra este pano de fundo mais antigo foram examinadas as manifestações mais modernas, como Blavatsky, Crowley, a Golden Dawn, Dion Fortune, e Spare. Foi demonstrado que, embora essas sejam manifestações recentes, elas estão enraizadas na corrente mágica consideravelmente mais velha que tem nutrido e sustentado todas as florescências subsequentes. Incluído como uma lâmina no livro estava uma reprodução do desenho de Lam feito por Crowley, a primeira vez que tinha sido publicado desde a sua aparição original em The Blue Equinox em 1919.
No capítulo ‘Nomes Bárbaros de Evocação’, Grant adiantou a noção de similaridades entre os elementos dos Mitos de Cthulhu como elaborado na ficção de Lovecraft, e aspectos do trabalho de Crowley. Isto sugeriu que eles se basearam em arquétipos semelhantes no inconsciente coletivo. Em seu trabalho posterior, Grant algumas vezes jogou com o panteão de deidades, mas isso nunca sugeriu que as deidades eram reais, ou que deveriam ser adoradas.
Este foi sucedido pelo segundo volume, Aleister Crowley and the Hidden God (Muller, 1973). Que foi um estudo mais especificamente do sistema de Crowley de magia sexual, amplificado por uma consideração sobre o comentário Kaula acima referido. Grant resumiu o livro como se segue:

Este livro contém um estudo crítico do sistema de Aleister Crowley de magia sexual e suas afinidades com os antigos ritos Tântricos de Kali, a deusa negra de sangue e dissolução representada no Culto de Crowley como a Mulher Escarlate. É uma tentativa de fornecer uma chave para o trabalho de um Adepto, cujo vasto conhecimento do ocultismo era insuperável por qualquer autoridade Ocidental anterior. Tenho enfatizado a semelhança entre o Culto de Thelema de Crowley e o Tantra porque a atual onda de interesse no Sistema Tântrico faz com que seja provável que os leitores sejam capazes de avaliar mais detalhadamente a importância da contribuição de Crowley para o ocultismo em geral e para o Caminho Mágico em particular .

Houve também um capítulo sobre ‘Nu-Isis and the Radiance Beyond Space’, em que Grant se refere à New Isis Lodge e seu programa de trabalho.
O terceiro volume, Cults of the Shadow (Muller, 1975), explorou os aspectos obscuros do ocultismo que são frequentemente vistos negativamente como “magia negra”, o “caminho da mão esquerda”, etc. O impulso deste livro é apresentado no parágrafos que abre a Introdução:

Este livro explica os aspectos do ocultismo que muitas vezes são confundidos com ‘magia negra’. Seu objetivo é restaurar o Caminho da Mão Esquerda e reinterpretar seus fenômenos à luz de algumas das suas manifestações mais recentes. Isso não pode ser alcançado sem uma pesquisa de cultos primitivos e a fórmula simbólica que eles depositaram. Não existe campo mais rico para uma pesquisa dessa natureza e nem mais perfeito que um esqueleto sobre o qual encontrar isto que os sistemas de Fetiche da África Ocidental e sua florescência em pré-monumentais cultos Egípcios. Um tal exame é apresentado nos primeiros três capítulos, após o que os símbolos emergem para a luz de tempos históricos e aparecem sob a forma da Corrente Tântrica explicado nos Capítulos Quatro e Cinco.
Esta Corrente parece divergir em dois fluxos principais que refletem indefinidamente a divisão original entre os devotos dos princípios criativos feminino e masculino conhecidos tecnicamente no Tantra como o Caminho da Mão Esquerda e Caminho da Mão Direita. Eles são da Lua e do Sol, e sua confluência desperta a Serpente de Fogo (Kundalini), o Grande Poder da Magick que ilumina o caminho escondido entre eles – o Caminho do Meio – o caminho da Suprema Iluminação.
É o quase fracasso universal em compreender o funcionamento adequado do Caminho da Mão Esquerda que levou à sua depreciação – principalmente por conta de suas práticas não convencionais – e uma realização imperfeita dos Mistérios finais por parte daqueles que são incapazes de sintetizar os dois.

De particular interesse é um capítulo sobre o trabalho de Frater Achad (Charles Stansfield Jones) e o Æon de Maat, no qual Grant teve uma visão um tanto cética em relação a alegações de Frater Achad do alvorecer do Æon de Maat. Posteriormente, como podemos ver, Grant chegou a rever suas opiniões. O livro também contém capítulos sobre a obra de Michael Bertiaux, introduzindo Bertiaux a um público novo e levando a um aumento do interesse em seu trabalho.
A segunda Trilogia abriu com Nightside of Eden (Muller, 1977). No cerne deste está uma exploração dos Túneis de Set, que subjazem nos caminhos da Árvore da Vida. O trabalho de Grant foi baseado inicialmente sobre um breve e obscuro trabalho feito por Crowley, Liber 231, publicado pela primeira vez no The Equinox.
Este Liber consiste em sigilos dos gênios das 22 escalas da Serpente, aqueles das 22 células das Qliphoth, e alguns oráculos obscuros; isso evidentemente fascinou Grant, e a exploração dessas células das Qliphoth formaram um elemento importante do trabalho da New Isis Lodge.
Grant foi criticado em alguns setores por trabalhar com o que alguns consideram como aspectos maus e avessos de magia. Contudo, os aspectos mais escuros da experiência são tão necessários em compreender quanto os aspectos mais claros; uma compreensão de ambos é necessário. A seguinte passagem da Introdução à Nightside of Eden aborda este assunto:

Isso me leva ao ponto final: A menos que o ocultismo se torne criativo no sentido de se abrir a novas abordagens, modificando e desenvolvendo conceitos tradicionais e comumente revelando um pouco mais daquela Deusa Suprema, cuja identidade está escondida por trás do véu de Ísis, Kali, Nuit, ou Sothis, haverá estagnação no pântano de crenças tornadas inertes pela recente repentina aceleração da consciência da humanidade, que é quase aquém de miraculoso. Se a ciência do imanifesto não é permanente aterrada em um estágio pré-púbere, enquanto as ciências manifestadas sobem para o espaço, o ocultista maduro deve deixar de lado os brinquedos de superstição e enfrentar sem medo as Árvores da Eternidade, cujos troncos e ramos brilham com o fogo solar, mas cujas raízes são alimentadas na escuridão.

Embora esta passagem se refira especificamente ao Nightside of Eden, o caso aqui articulado de inovação e criatividade se aplica ao trabalho de Grant como um todo.
Ao longo do livro há várias referências ao Æon de Maat, fica claro que Grant tinha a essa altura revisto sua opinião anterior, um tanto cética, desse aspecto do trabalho de Achad. Na verdade, ele tinha por este tempo recebido o material de Margaret Ingalls (Soror Andahadna) que o levou a reavaliar o trabalho Achad sobre a entrada em 1948 de outro Æon que corre ao lado do Æon de Horus, os dois æons constituem uma dupla corrente.
Em 1980 Grant publicou Outside the Circles of Time (Muller, 1980; Starfire Publishing, 2008), um trabalho que abrange uma área extremamente vasta e expõe, para citar a sinopse de capa: “uma rede mais complexa do que se imaginava: uma rede não muito diferente da visão sombria HP Lovecraft de forças sinistras que espreitam na borda do universo”. Há muitos fios tecidos em uma rica e deslumbrante textura, um fio principal sendo a não-dualidade:

O mundo fenomenal não tem existência real para além da sua fonte noumenal. O mundo não está à procura de alguém, o mundo não sabe nada de ninguém, mas as pessoas estão procurando o mundo e estão fracassando em encontrá-lo, porque elas são o mundo e estão realmente procurando por si mesmas. Mas porque elas não são refinadas, não são sutis, não são silenciosas, porque elas são brutas e cheias de ruídos, o mundo aparece-lhes também como grosseiro e cheio de ruídos. Elas são identificadas com estas qualidades, elas são as qualidades, e, portanto, não podem controlá-las.
Somente através do refinamento do bruto para o sutil, do mundo do objeto para o mundo do sujeito, do mundo de vigília para o mundo do sonho, só assim pode ser encontrada a chave do poder “oculto”. Pode ser encontrado apenas em silêncio total, quando a mente tenha deixado de pensar, quando a boca tenha cessado de falar, quando o olho tenha cessado a projeção de imagens. Só então a fórmula do sonho controlado conduz para o despertar total da ilusão de viver.
É, portanto, necessário se habituar à ideia, viver perpetuamente com a idéia, que a totalidade da vida de um indivíduo – tudo o que pode ser lembrado dela – foi composta pelo indivíduo como uma peça de teatro é composta por um dramaturgo. É uma invenção, um lila, uma máscara ou dança no qual o indivíduo é o único ator, e até mesmo este ator é apenas uma figura no jogo. Ele não é real; nenhum objeto pode ser real, pois não há absolutamente coisa nenhuma. Nenhuma coisa é Nuit, e ela não é uma coisa precisamente neste sentido particular de um jogo de poder (shakti) evoluindo um drama sem fim de luz e sombra que aparece para a entidade como sujeito e objeto. Mas a objetividade é um sonho, pois ali não há sujeito, nenhum sonhador; há apenas um sonhando. É somente quando essa verdade é profundamente percebida que o sonho é resolvido em sua origem, que é o bindu conhecido como Hadit, no coração de Nuit ...
Hadit se dissolve em Nuit, alguma coisa em coisa alguma, objeto em sujeito, e sujeito – finalmente – naquela subjetividade absoluta que, sendo livre de ambos objetividade e subjetividade, permanece indescritível.

O livro é mais famoso, talvez, por destacar a obra de Soror Andahadna, uma sacerdotisa contemporânea de Maat, cujo trabalho tinha paralelos com a obra de Frater Achad várias décadas antes. Muitos Thelemitas têm problemas com o Æon de Maat. Tanto quanto eles concebem, cada Æon dura 2.000 anos, estamos nos inícios do Æon de Horus, então Maat é um caminho ainda distante. Eles vão ecoar a réplica famosa de Crowley para o jovem Grant: “Maat pode esperar!”. No entanto, a seguinte passagem de Outside the Circles of Time coloca a questão de forma muito mais interessante:

Mitos e lendas são do passado, mas Maat não deve ser pensada em termos de æons passados ou futuros. Maat está presente agora para aqueles que, conhecendo os ‘alinhamentos sagrados’, e ‘os Portais de Intervalo Interior’6, experimentam a Palavra sempre chegando, sempre emanando, da Boca, nas sempre novas e sempre presentes formas que estão continuamente sendo geradas a partir do místico Atu ou Casa de Maat, a Ma-atu ...

Mas o livro é sobre muito mais. É uma potente tecelagem de uma série de linhas aparentemente diversas em uma única, larga e potente corrente. Apesar dos livros de Grant serem cada um diferente de seus antecessores, Outside the Circles of Time pareceu anunciar um salto para uma dimensão diferente.
Outside the Circles of Time foi o último dos livros de Grant publicados pela Muller, e houve uma pausa de 12 anos até 1992, quando a Skoob Publishing lançou Hecate’s Fountain. Grant tinha originalmente concebido este como um registro dos rituais da New Isis Lodge. No entanto, como é frequentemente o caso, o trabalho tomou uma dinâmica própria e lançou adiante uma flor muito diferente. O livro foi ainda tecido em torno do trabalho da Lodge. No entanto, este trabalho foi ilustrado como relatos anedóticos de funcionamentos específicos, demonstrando em particular o que Grant designa como ‘tantra tangencial’ pelo qual um trabalho mágico tem curiosos e às vezes alarmantes efeitos colaterais em desacordo com o seu propósito aparente. Grant rastreou estas anomalias para uma interface catalítica que ele chamou de “Zona Malva”, existente entre os reinos do sonho e do sono sem sonhos. Há movimentos, espiralados e turbilhonados na Zona Malva que dão origem a espectros frágeis, sonhos, imagens que entram na consciência e se vestem pela imaginação.
A terceira Trilogia abre com Outer Gateways , publicado pela Skoob em 1994. Este livro continuou e ampliou alguns dos temas do Hecate’s Fountain. Continha um longo relato das vertentes diversas de O Livro da Lei, explorou o trabalho de Crowley em relação ao Sunyavada, e teve algumas coisas notáveis ​​a dizer sobre o potencial criativo da gematria:

Uma percepção, um conceito, ou um número – qualquer objeto de fato – não tem nenhuma relação real com qualquer outra percepção, conceito ou número. A relação só existe na consciência do observador, a consciência que é o fundo sobre o qual todos os objetos aparecem como imagens em uma tela. Não há associação de idéias, nenhuma correspondências de qualquer natureza, entre os números ou as idéias que eles representam, exceto na consciência do sujeito delas, porque nenhuma coisa existe como uma entidade objetiva.
As implicações dessas considerações não são geralmente reconhecidas, embora sejam de grande importância. Os números podem significar para o cabalista precisamente o que ele deseja que eles significam no âmbito do seu universo mágico. Eles têm uma existência relativa, mas nenhuma realidade objetiva.
Os números podem, portanto, serem utilizados como um meio mágico de invocar energias específicas latentes na consciência do magista. Em outras palavras, os números podem ser vistos como entidades que são identidades objetivas aparentes, ou personalidades, pois eles são um com o poder objetivo do magista.
O poder dos números não está nos números em si, mas sempre e somente no magista. Se sua mente está muito bem provida com números mágicos (ou seja, números significativos para ele) não há limite, quantitativamente falando, para os mundos que ele pode estruturar a partir energias deles (shaktis). Esta é a base da ciência dos números, e os fundamentos da numerologia como uma arte criativa distinta de um medidor meramente interpretativo das probabilidades fenomenais. O magista não tem como objetivo prever o futuro – o que implicaria que aquilo já existiu – e sim muito mais criá-lo de acordo com as leis de seu universo mágico.
Gematria criativa é, portanto, a ciência e a arte de projetar outros mundos ou ordens de seres, em harmonia com as vibrações simbolizadas por números, que tornam as vibrações diretamente acessível.

Gematria é usada ao longo trabalho de Grant para sustentar um insight que já existe, em vez de para deduzir um insight a partir de uma relação gematrica percebida.
No entanto, o núcleo do livro foi, sem dúvida, The Wisdom of S'lba e os vários capítulos de análise que foram anexados. S'lba é uma bela, altamente carregada e rica transmissão recebida durante muitos anos por Kenneth Grant desde o final dos anos 30, a maior parte dela foi reificada durante os anos da New Isis Lodge.
Há uma boa dose de incompreensão sobre a natureza das transmissões. Não é um caso de simplesmente tomar o ditame de uma entidade desencarnada. O contato com o que é referido como os planos internos é muito mais complexo e mais sutil do que isso. Tomemos por exemplo a seguinte nota introdutória de Grant:

As séries de versos intitulado coletivamente como Wisdom of S’lba ... não foram escritas em um determinado momento ou lugar, embora o estado de consciência em que foram recebidos fossem invariavelmente o mesmo. O processo foi iniciado já no ano de 1939 quando a Visão de Aossic se manifestou pela primeira vez na forma descrita no Outside the Circles of Time(capítulo 8).
A visão se desenrolava esporadicamente ao longo do tempo de associação de Aossic com Aleister Crowley e Austin Osman Spare. Mas o aspecto dinâmico do Trabalho, isto é, a integração da Visão em um todo coerente, ocorreu durante o período de existência da New Isis Lodge .

Em uma entrevista com a Skoob publicada pouco antes de Outer Gateways fosse liberado, respondendo a uma pergunta sobre S'lba, Grant disse: “Isto foi ‘destilado’, por um processo prolongado que se estendeu por muitos anos, desde os intensivos Rituais realizados na New Isis Lodge entre 1955-1962”.
Como mencionado acima, Grant estabeleceu pela primeira vez em O Renascer da Magia sua tese de que houve sugestivas analogias entre os elementos do panteão de Lovecraft e aspectos da obra de Crowley. Há uma passagem em Outer Gateways que coloca a função destes e outras ‘deidades’ similares em uma luz muito diferente:

... Como outros registros de inclassificáveis fases ​​da história da Terra, o Culto de Cthulhu sintetiza o subconsciente e as forças externas à consciência terrestre. Pode-se dizer de passagem que a verdadeira criatividade só pode ocorrer quando essas forças são invocadas para inundar com sua luz a rede mágica da mente. Para fins de explicação a mente pode ser encarada como dividida em três salas, o edifício que as contém sendo o único princípio real ou permanente. Estas salas são:

1) Subconsciência, o estado de sonho;
2) Consciência mundana, o estado de vigília;
3) Consciência transcendental, velado em não-iniciado pelo estado de sono.
Os compartimentos são ainda concebidos como estando conectados com a casa que os contém, por uma série de conduites ou túneis. A casa representa a consciência trans-terrestre. As forças invocadas – Cthulhu, Yog-Sothoth, Azathoth, etc – são então entendidas, não como entidades malignas ou destrutivas, mas como as energias dinâmicas da consciência, as funções das quais são para afastar a desilusão de existência separada (as salas da nossa ilustração).

O próximo volume, Beyond the Mauve Zone, foi lançado pela Starfire Publishing em 1999. É, como o próprio nome sugere, uma consideração mais profunda da região entre o sono sem sonhos e o sonhar que fecunda a imaginação e, em particular uma consideração de vários métodos de acesso à Zona Malva. Há três capítulos sobre o Rito Kaula da Serpente de Fogo, dando muito mais material ao comentário Kaula inicial obtido a partir de David Curwen. Há também uma análise prolongada do Liber Pennae Praenumbra recebido por Soror Andahadna, e um registro do trabalho do autor sérvio Mihajlovic Zivorad Slavinski.
O volume final das Trilogias, The Ninth Arch, foi lançado pela Starfire Publishing em 2002. Ele consistiu de um comentário versículo por versículo sobre uma transmissão recebida no decorrer do funcionamento da New Isis Lodge, Liber OKBISh, ‘O Livro da Aranha’. Esta transmissão começou durante um trabalho mágico de Qulielfi, o 29° Túnel de Set, por volta de 1952. A medium principal para as transmissões era uma sacerdotisa conhecida como Soror Arim. Ela aparece no romance de Grant Against the Light como Margaret Leesing. Ela não era o único medium para as transmissões, mas ela jogou o papel mais importante e coordenou o trabalho de várias sacerdotisas da Lodge.
O Livro da Aranha é essencialmente uma coleção de oráculos enigmáticos que foram recebidos ao longo de vários anos, e estavam em retrospectiva organizados em 29 capítulos, cada um de 29 versos; alguns dos versos não foram ouvidos, ou foram perdidos, mas isso é o padrão básico. Um par de anos após a transmissão inicial ser recebida, a Corrente mais uma vez tornou-se ativa. Esta transmissão subsequente proporcionou um menor número de versos, e foi orgaizado em 3 capítulos adicionais, novamente de 29 versos cada.
Transmissões não são uma questão de estabelecer algum tipo de contato de rádio com uma entidade desencarnada e transcrever o que ela tem a dizer. Uma transmissão pode ser através de qualquer dos sentidos. Muitas vezes ela será intuída ou sutilmente apreendida, com a imaginação como catalisador. A imaginação não é mero capricho ou fantasia, mas sim a bagagem que a palavra tem acumulado em tempos modernos. É cósmica, embora existam áreas individuais de consciência da imaginação, e é nessas áreas em torno do indivíduo de que ele ou ela está mais diretamente consciente, que nós consideramos como ‘nossa’ imaginação. A verdade é, porém, que não é nossa, mas uma área comum ou cósmica – um continuum, o local de alcance em que somos mais imediatamente conscientes.
A Transmissão assume muitas formas. É um fluxo de inspiração para as áreas mais pessoais de imaginação, e, muitas vezes, tornam-se trajadas em formas extraídas da subconsciência pessoal. Nós vemos isso na obra de Lovecraft por exemplo, muito da inspiração ocorrida através de sonho, e expressada através de imagens tiradas a partir da leitura extensiva e devaneios da infância de Lovecraft. Como a luz é refratada através da sua passagem através de um prisma ou um pedaço de vidro colorido, ou como o sol ajustado através da matéria atmosférica produz um concurso de cores gloriosas e agitadas, assim a transmissão de uma Corrente será colorida pelas áreas pessoais de imaginação através do qual ela passa. O vento, por exemplo, somente se torna evidente nas folhas agitadas da árvore por meio do qual ele se move, os perfumes os quais ele agita, a pele contra a qual ele roça, as formas nas quais ele redemoinha a areia do deserto.
Na época dos trabalhos da New Isis Lodge que atrairam e então incubaram esta Corrente comunicada, a principal Sacerdotisa, Margaret Leesing, e outros foram apanhados em ficção ocultista, e em dois livros em particular – Dope por Sax Rohmer e The Beetle por Richard Marsh. A este tempo, New Isis Lodge tinha desenvolvido uma técnica ritual mágica que envolveu a dramatização da ficção. Como Kenneth Grant descreve em The Ninth Arch:

Como já mencionado na Introdução Geral deste livro, os ritualistas da New Isis Lodge utilizaram certos romances e histórias como outros magos podem usar pinturas ou composições musicais para afetar perichoresis e encontros astrais. Eles entravam em um conto como eles podiam entrar em uma determinada imagem, uma cena, um deserto, uma sala de visitas abarrotada, ou outra jurisdição. Aplicado ao romance, o processo se desenvolve dramaticamente como uma experiência cinética vívida que se torna assustadoramente oracular. Nós usamos, principalmente, o romance de Richard Marsh The Beetle, e ‘A Tale of Chinatown’ ou Dope de Sax Rohmer, por nenhuma outra razão senão porque a Vidente chefe tinha lido recentemente estes escritos, e porque outros membros da Loja também estavam familiarizados com eles. O conto de Marsh, em particular, foi escolhido porque continha o único registro publicado conhecido do presente autor de Children of Isis, e, portanto, parecia en rapport 7com a Wisdom of S’lba e com os oráculos de OKBISh.

Estas são as circunstâncias, o prisma, o vidro colorido, através dos quais os versículos do Livro do Aranha são expressos. Existem referências, por exemplo, de personagens como Shöa, a Mulher Maligna; Sin Sin Wa, o Chinês vilão e sábio; Tling-a-Ling, seu corvo de estimação e familiar; Tûk Sam, seu venerado Ancestral; todos esses personagens são extraídos do livro Dope de Sax Rohmer. Há referências a Limehouse, a Ho-Nan, a Chandu, ao Rio Amarelo, às trilhas de papoula, que são locais desenhados também de Dope. Há a languidez do sonho, do devaneio, as imagens parecem flutuar, mudar, se unir – emergir, tremer, cair para trás. Há também referências a personagens extraídos de outras histórias, como Helen Vaughan e Sra.Beaumont da história de Arthur Machen, The Great God Pan. Existem máscaras, roupas e não têm intenção de apontar para profundidades de significado inerente às histórias de que esses personagens são desenhados. Há referências a cenas de novelas, como The Brood of the Witch Queen8 de Sax Rohmer, ou personagens de histórias de Lovecraft, como Joseph Curwen em The Case of Charles Dexter Ward9.
Há muito nos versos de O Livro do Aranha que expõe sobre a vida de Kenneth Grant, e parece, por vezes, como se a Corrente comunicada fosse direcionada principalmente para ele. Somos todos nós expressando uma Corrente comunicada de energia mágica. Nenhum de nós pode expressar uma verdade absoluta, mas transmitir a verdade como a vemos. O trabalho de um adepto é sempre em um sentido intrínseco a ele ou ela. A luz é uma, mas as lâmpadas são muitas, e cada lâmpada transmite aquela luz de sua própria maneira.
Personagens não-ficcionais também são tecidos nesta Rede da Aranha. No decorrer do Livro da Aranha, tornamo-nos conscientes de uma doutrina de avatares, em que várias pessoas vivem ao mesmo tempo, cada um sendo personificações de uma entidade. Como qualquer um que tenha lido Against the Light saberá, isso é relativo a uma bruxa chamada Awryd, uma antepassada de Grant, que foi executada por bruxaria no século XVI. Awryd retorna, sob a forma de Margaret Leesing, Soror Arim, a vidente principal, e antes dela, Yelda Paterson, a bruxa-mentora de Spare. No entanto, a situação se torna mais complexa quando várias pessoas vivem ao mesmo tempo, são cada qual avatares de Awryd – por exemplo, Margaret Leesing e Clanda Fane, ambas contemporâneas de Grant na New Isis Lodge. Alguns dos avatares são personagens tirados da ficção, como Helen Vaughan de The Great God Pan de Machen, ou Besza Loriel do romance de Grant The Stellar Lode.
Há referências a David Curwen, um contemporâneo de Grant na New Isis Lodge que tinha um forte interesse em alquimia; na Teia da Aranha ele é elencado como um avatar de Joseph Curwen, o alquimista cuja escura presença paira em uma das melhores histórias de Lovecraft, O Caso de Charles Dexter Ward.
Seguindo esta breve consideração das Trilogias Tifonianas, o que é que constitui a Tradição Tifoniana que é central para a obra de Grant? ‘Tifoniana’ não é um rótulo preciso, como é visível em uma consideração do verbete no Glossário para Typhon, Draco, Ta-Urt e tópicos relacionados através das Trilogias Tifonianas; há uma grande quantidade de diversidade. Embora a ênfase tenha mudado durante o período de trinta anos entre as publicações da primeira e os volumes finais, nenhuma desses verbetes por si só são definições da Tradição Tifoniana. Em vez disso, cada um deles articula uma faceta disto, não importa o quão importante essas facetas individuais podem, à primeira vista, parecerem. É mais proveitoso, portanto, não olhar para uma definição rigidamente aderida – sem dúvida ou debate, mas permitir que a intuição detecte uma coerência e continuidade subjacente em execução ao longo destas passagens.
Se há uma coisa que poderia ser dito para caracterizar a Tradição Tifoniana então é comungar com o que alguns têm chamado de ‘Exterior’, se isso for considerado como os confins do espaço para além do terrestre, ou as varreduras de consciência além da humana. Neste contexto, ‘O Exterior’ sempre pode ser somente um termo relativo, uma vez que a partir da perspectiva do continuum da consciência não existe dentro ou fora.
Em Beyond the Mauve Zone Grant analisa o texto Maatiano transmitido Liber Pennæ Prænumbra a partir de uma perspectiva Tifoniana, e faz a seguinte observação:

É neste ponto que a divergência aparece entre o Caminho de Aiwass-Lam e aquele de N’Aton que prefigura uma forma de realização futura da consciência humana – em outras palavras, nós mesmos como devemos aparecer em algum tempo futuro. Como deve ser evidente por esta altura, nós refutamos este postulado em favor da noção de que a consciência em sua fase humana é um fenômeno transitório de modo geral, um mero flash na imensidão do Espaço-Tempo (Nu-Isis). Transmissões tais como as Estâncias de Dzyan, Liber AL, o Necronomicon, e, mantemos, o próprio Liber Pennæ Prænumbra nesta posição, não dão suporte à noção de uma identificável máscara humana para a consciência se perpetuar indefinidamente. Mas todos cuja vontade seja efetuar – como a frase de Nema diz – “o salto mutacional em ser uma nova espécie” devem estar preparados para abandonar o conceito de consciência ‘humana’ com todas as suas dualisticas implícitas.

Essas profundezas da consciência são muito mais profundas e mais amplas do que a consciência humana, que como indicada na citação acima está transitória e relativamente superficial. A Gnose Tifoniana está interessada com o encontro e exploração dessas profundezas. Como Crowley comentou em um post-scriptum ao Capítulo 30 de Magick without Tears:

Eu pensei nisso como um bom plano para colocar a minha fundamental posição por si só em um post-scriptum; para enquadrá-la. Minha observação do Universo me convence de que há seres de inteligência e poder de uma qualidade muito maior do que qualquer coisa que possamos conceber como humano; que eles não são necessariamente baseados nas estruturas cerebrais e nervosas que conhecemos, e que a primeira e única chance para a humanidade avançar como um todo é os indivíduos fazerem contato com tais Seres.

Era convicção de Crowley de que o Trabalho do Cairo de 1904, que levou ao contato com Aiwaz e à recepção de O Livro da Lei, foi o primeiro de uma série de comunicações. Depois de afirmar sua crença em The Confessions que não havia mais nenhuma razão a priori para duvidar da existência de inteligência desencarnada, ele afirma:

O caminho é, portanto, claro para mim vir a frente e afirmar positivamente que eu tenha aberto a comunicação com uma tal inteligência, ou melhor, que eu tenha sido selecionado por ele para receber a primeira mensagem de uma nova ordem de seres.

De fato tem havido mais mensagens ou comunicações. O Trabalho do Cairo de 1904 foi seguido, sete anos mais tarde, pelo Trabalho de Abuldiz, e sete anos depois pelo Trabalho de Amalantrah. Todos os três trabalhos foram caracterizados por contato com inteligencias præter-humanas que transmitem informação. Havia também uma série de textos transmitidos conhecidos como Os Livros Sagrados10, como por exemplo os sigilos e expressões gnômicas que constituem o Liber 231.
Tampouco tinha esse contato sido limitado a Crowley. Isto tinha continuado além de sua morte com o Liber OKBISh e The Wisdom of S'lba, ambos reificados – como delineado acima – durante o período de atividade de New Isis Lodge. Sem dúvida, tem havido outras transmissões, e haverão mais no futuro. Estas são irrupções dos estratos mais profundos da consciência em percepção.
Bem como suas Trilogias, Grant também publicou vários volumes de poesia e uma série de contos e novelas. 1963 viu a publicação de seu primeiro volume de poesia, Black to Black and other poems. Uma coleção intensa e comovente de poemas, este foi seguido em 1970 pelo The Gull’s Beak and other poems. Um terceiro volume foi lançado pela Starfire Publishing em 2005, Convolvulus and other poems; este incluiu os dois volumes anteriores e acrescentou uma terceira coletânea, inédita, Convolvulus: Poems of Love and the Other Darkness. Este volume coletado incluiu esboços de Austin Osman Spare, alguns dos quais haviam sido especialmente desenhado para Grant por Spare.
Grant começou a escrever contos ainda jovem, e escreveu seu primeiro romance no início dos anos 50, Grist to Whose Mill? (em breve será publicado pela primeira vez). Outros se seguiram, e foram publicados a partir de 1996. A maioria desses romances foi escrita durante o período de New Isis Lodge, e revisado antes da publicação. Eles caracterizam personagens, muitos dos quais foram baseados em um maior ou menor grau nos membros da Lodge. Grant lançou uma luz sobre isso em suas notas de sobrecapa para o segundo volume da série, Snakewand & the Darker Strain:

Essas histórias, e outros contos nesta série, foram escritos na sequência de rituais realizados ao longo de um período de sete anos da New Isis Lodge. Muitos eram os magistas e médiuns que passaram pela Lodge, e alguns deles aparecem na série de novelas. Suas personalidades mundanas não podem ter aparecido incomum para a observação casual, mas quando alongadas e siderealisedas pelas perspectivas únicas que seus papéis mágicos criados por eles, eles alcançaram uma apoteose, uma epifania. Este fenômeno extraordinário demonstrou as alturas e as profundezas que a natureza humana é capaz de escalar e alcançar plenamente, no frenesi delirante inspirado por sua arte. Estes contos são igualmente orientados para o outro lado de uma realidade raramente vislumbrada fora de um Círculo carregado magicamente.

Apesar de reter uma devoção a Crowley, Spare, e muitos outros místicos e ocultistas, cujo trabalho influenciou toda a sua vida, Grant nunca foi um seguidor, mas, pelo contrário, criou o seu próprio caminho a partir de uma série de influências, transformado através do cadinho de sua experiência místico e mágica. Ele tinha agudamente a percepção do princípio do parampara ou linhagem espiritual, pelo que é da responsabilidade de um iniciado desenvolver o trabalho de seu predecessor, o predecessor, neste caso, sendo Crowley. No curso desse desenvolvimento, novas vias de abordagem são abertas, enquanto outras são encontradas para ser talvez agora redundante. Desta forma, um corpo de trabalho é uma coisa viva, desenvolvido por sucessivas gerações de iniciados.
A obra de Kenneth Grant foi rica, diversificada e eclética, tecida de muitas vertentes e destilada a partir de muitas fontes. No entanto, sua principal influência foi Crowley, e Thelema é o cerne de seu trabalho. Na esteira de sua morte, a tarefa imediata é garantir que toda a sua obra publicada seja mais uma vez impressa e prontamente disponível, e continuar a explicação dos princípios que subjazem a esse trabalho. Além disso, todavia, o corpo de trabalho que ele desenvolveu irá, por sua vez, ser continuado, trabalhado e reconstruído por aqueles que vem depois dele. Esta é o maior testemunho de que qualquer um de nós pode esperar.
Eu gostaria de encerrar este levantamento preliminar com uma passagem da Introdução a Outside the Circles of Time. Aqui, Grant deu uma visão sobre os objetivos de seu trabalho, a passagem em questão é sucinta e lindamente expressa:

Um último ponto é relevante aqui, e digo isso sem desculpas. Não é meu propósito tentar provar coisa alguma, o meu objetivo é construir um espelho mágico capaz de expressar algumas das imagens menos elusivas vistas como sombras de um æon futuro. Isso eu faço por meio de sugestão, evocação, e por aquele oblíquo ‘conceito de Intervalo Interior’ que Austin Spare definiu como ‘Nada-Nada’11. Quando isto é compreendido, a mente do leitor torna-se receptiva ao influxo de certos conceitos que podem, se recebidos não falseadamente, fertilizar as dimensões desconhecidas de sua consciência. Para atingir este objetivo uma nova forma de comunicação tem de ser desenvolvida; a linguagem ela mesma tem que renascer, revivida, e dada a um nova direção e um novo momentum. A imagem realmente criativa é nascida da imaginação criativa, e esta é – em última análise, um processo irracional que transcende a compreensão da lógica humana.

É bem conhecido que os cientistas e matemáticos tem desenvolvido uma linguagem críptica, uma linguagem tão elusiva, tão fugaz, e ainda assim tão essencialmente cósmica que ela forma um modo quase cabalístico de comunicação, muitas vezes mal interpretada por seus próprios iniciadores! Nossa posição não é completamente desesperadora, pois estamos lidando principalmente com o complexo corpo-mente em sua relação com o universo, e o aspecto corpóreo está profundamente enraizado no solo da senciência.

Nossas mentes não podem entender, mas nas camadas mais profundas do subconsciente onde a humanidade compartilha uma cama comum, há o reconhecimento imediato. Similarmente, um magista elabora sua cerimônia em harmonia com as forças que ele deseja invocar, de modo que um autor deve prestar atenção considerável à criação de uma atmosfera que seja adequado para suas operações. As palavras são seus instrumentos mágicos, e suas vibrações não devem produzir meramente um ruído arbitrário, mas uma sinfonia elaborada de reverberações tonais que desencadeiam uma série de ecos cada vez mais profundos na consciência de seus leitores. Não se pode supra-enfatizar ou superestimar a importância dessa forma sutil de alquimia, pois é nas nuances, e não necessariamente nos significados racionais das palavras e números empregados, que a magick reside. Além disso, é muito frequente na sugestão de certas palavras não utilizadas, ainda que indicadas ou empregadas por outras palavras que não tenham relação direta com elas, que produzem as definições mais precisas. O edifício de uma realidade-construção, às vezes pode ser erigido apenas por uma arquitetura de ausência, segundo a qual o edifício real é ao mesmo tempo revelado e ocultado por uma estrutura alienígena assombrado por probabilidades. Estes são legião, e é a faculdade criativa do leitor – acordado e ativo – que podem povoar a casa com almas. Então, este livro pode significar muitas coisas para muitos leitores, e coisas diferentes para todos; mas a nenhum deles pode significar absolutamente nada, pois a casa é construída de tal maneira que nenhum eco pode ser perdido.


Notas de Rodapé:

1 Publicado no Brasil como O Livro de Thoth – O Tarot, pela Anúbis Editores e Madras Editora, 2000, São Paulo.
2 Deixei no original em Inglês para que pudesse fazer sentido o objetivo da frase. Sua tradução: “Infinito Espaço e as Infinitas Estrelas deste”.
3 Este artigo foi traduzido para língua Portuguesa como: ‘É um Vento Ruim que Sopra’. Tradução de Marcelo Santos publicado no sítio de Peter König em: http://www.parareligion.ch/sunrise/sta3_p.htm
4 Artigo traduzido por Cláudio César de Carvalho como “Amor Sob Vontade”, 2011. Publicado em: http://www.kennethgrant.blogspot.com.br/
5 No Brasil foi publicado pela Madras Editora como O Renascer da Magia, 1999, São Paulo.
6 No original em Inglês in between ness. Esta combinação de palavras é indicativo de uma “situação intermediária ou ínterim”, contudo, Grant tipificava esta “situação intermediária” como uma espécie de estado de Vazio (Sunnyatta com está explícito na Escola Budista Mahayanna ou o Tao), sem espaço e tempo, pura percepção. O leitor deve considerar que este Vazio não é uma negativa da existência (niilista), mas sim que está “localizado” entre a Afirmação & Negação desta. A verdadeira Kumbhaka seria análoga a este Vazio.
7 En rapport seria uma espécie de afinidade ou ligação mais intimista.
8 O Senhor da Magia Negra, publicado no Brasil pela Global Editora e Distribuidora Ltda, 1973, São Paulo.
9 O Caso de Charles Dexter Ward publicado no Brasil pela L&PM Editores, 1988, Porto Alegre. Há edições mais recentes publicadas.
10 Traduzido para a língua Portuguesa como Os Livros de Thelema, organizado e traduzido pelo Instituto Aleister Crowley (IAC) e publicado pela Madras Editora, 1997, São Paulo. Em 1998 houve uma outra tradução intitulada Os Livros Sagrados de Thelema, com ©Ordo Templi Orientis (EUA) publicado pela Anúbis Editores e Madras Editora, São Paulo.
11 Geralmente nas traduções para o português é colocado para Neither-Neither (um conceito de Spare para o Vazio) como Nem-Nem, uma vez que neither significa realmente nem nesta linguagem, no entanto, prefiro traduzi-lo como Nada-Nada que alude uma referência mais íntima e profunda com o Vazio ou mesmo Nuit. O leitor deve perceber que Nada é igual a 56, por si só além de ser um valor numérico de grande relevância para Magick (5+6=11) também conota Nu (56) como uma Corrente Celestial que é o complemento de Ísis, a Corrente Terrestre, isto quer dizer, sua manifestação (Manifesta-Ação) como percepção daquela Corrente na consciência do adepto. 

Obituário de Kenneth Grant


Kenneth Grant, cuja morte em 15 de janeiro de 2011 aos 86 anos foi anunciada recentemente, foi um dos mais influentes ocultistas do século 20. Nascido em Ilford, Essex, em 1924, desenvolveu um intenso interesse pelo ocultismo desde tenra idade. Ele comentou em algum lugar de seus escritos que o misticismo oriental foi seu primeiro amor, uma indicação não somente de como ele foi bem estudado, mas mais importante talvez fôsse seu exaltado sentido do iminente. Após se imergir na obra de Aleister Crowley, em 1944 Grant o procurou e começou a corresponder-se com ele, visitando Crowley várias vezes antes de, posteriormente, viver como seu secretário voluntário por algumas semanas em 1945, em troca de instrução em Magia(k). Muitos anos depois, Grant escreveu um livro de memórias deste período de sua vida, Remembering Aleister Crowley. Embora seja evidente a partir deste livro que os dois homens entraram em conflito na ocasião, também é evidente a partir de observações em seus diários e noutros locais que Crowley tinha uma alta estima por Grant, vendo nele o potencial para se tornar um futuro líder da OTO.
Após a morte de Crowley em dezembro de 1947, Kenneth e Steffi Grant foram membros do pequeno círculo que se esforçou para manter a memória de Crowley e seu trabalho vivo. Crowley tinha nomeado Karl Germer   ― então vivendo nos EUA ― como seu sucessor, e sua Vontade estipulada que seus papéis fossem enviados para Germer. Preocupados que deveria haver cópias dos documentos mais importantes  no caso de acontecer alguma coisa com eles durante o transporte, Grant e Yorke concordaram sobre fazer cópias datilografadas daqueles considerados de particular importância. E fizeram bem de assim terem feito, uma vez que a coleção de documentos de Germer foi roubada de sua viúva Sascha em 1967 pela Loja Solar e, posteriormente, destruída em um incêndio. As cópias datilografadas feitas por Grant, Yorke e outros formaram a base do arquivo que Yorke passou ao Instituto Warburg, da Universidade de Londres, e o qual continua a ser acessível a pesquisadores.
Logo após a morte de Crowley, Grant encontrou um membro IXº da OTO, David Curwen, que havia entrado na Ordem no último ano ou algo assim da vida de Crowley, e que tinha ligações com um grupo Tantrico na Índia. Ele tinha obtido de seu professor no subcontinente um Comentário escrito sobre o Anandalahari a partir da perspectiva de um praticante da corrente Vama Marga do Kaula Tantra. Este comentário incluía na passagem algumas observações críticas sobre aspectos da obra de Crowley, observações que Crowley refutou quando lhe foi mostrado o documento por Curwen. A relação de Crowley com Curwen tem sido documentado em uma compilação do que sobrevive da correspondência mútua entre eles, isto foi publicado recentemente como o Brother Curwen, Brother Crowley, editado por Henrik Bogdan. Grant estava muito interessado no comentário que ele considerou de grande relevância, e fez referência a ele em diversos pontos em seu subseqüente trabalho publicado. Curwen desempenhou um papel nos primeiros estágios de desenvolvimento do que viria a ser New Isis Lodge, com alguns encontros no porão da sua peleteria em Melcombe Street, Londres. No entanto, ele já havia partido muito antes da criação oficial da Loja em 1955.
Em 1951, Grant recebeu uma carta patente de Germer para estabelecer um " acampamento " da O.T.O. em Londres. Depois de diversas encarnações, este amadureceu como New Isis Lodge, lançada formalmente em 1955 com um documento intitulado "The Manifesto of New Isis Lodge", que anunciava a detecção de mudanças na corrente mágica. Embora Germer tenha em uma época considerado Grant como um futuro líder da O.T.O. (veja, neste contexto, os extratos de suas cartas a Grant publicadas no artigo "It’s an Ill Wind That Bloweth " na Starfire volume I n º 5, Londres, 1994), ele estava descontente com qualquer um que se desviasse de sua diretriz que Crowley tinha descoberto tudo o que havia para conhecer, e que a única coisa a fazer era preservar e promover o trabalho de Crowley. Ele também não estava satisfeito que Grant se recusasse a cobrar dinheiro entre os membros de sua Loja. E também se enfureceu ao saber que Grant tinha ligações com Eugen Grosche, um antigo adversário de Germer na Alemanha dos anos 20. Ele exigiu que Grant recolhesse seu Manifesto, e, quando Grant recusou, ele emitiu uma Nota de Expulsão. Grant simplesmente ignorou a expulsão e continuou com a New Isis Lodge como uma loja dependente da O.T.O., confiante de que seu trabalho mágico o capacitava a fazer conexão direta com a corrente mágica por trás da O.T.O., tornando assim a expulsão Germer irrelevante. Esta confiança se manteve e foi mesmo reforçada ao longo dos sucessivos anos conforme sua obra, mágica e mística, se desenvolveu.
A New Isis Lodge tinha um programa de trabalho que começou em 1955 e foi concluído em 1962, embora tenha continuado a funcionar até meados da década de 1960. O desenvolvimento de algumas interessantes e inovadoras técnicas mágicas, um certo número de alguns de seus trabalhos é dada em Hecate’s Fountain, escrito no início de 1980, mas só publicado dez anos depois. As experiências de Grant na New Isis Lodge foram o alicerse para seus trabalhos posteriores, mais aparente talvez nos últimos volumes das Trilogias com a publicação de duas das transmissões recebidas durante o curso dos Trabalhos da Loja. Uma delas foi a requintada e delicada Wisdom of S’lba que foi incorporada ao sétimo volume das Trilogias, Outer Gateways, publicado em 1994. O outro foi The Book of the Spider, em torno do qual Grant teceu seu volume final das Trilogias, The Ninth Arch (2002).
Uma das influências mais importantes sobre o trabalho de Kenneth Grant foi de Spare. Em 1948 ele e sua esposa Steffi conheceram o artista e escritor ocultista. Eles continuaram amigos até a morte de Spare em 1956, dando suporte com algumas coisas essenciais da vida, bem como materiais para sua arte, e esse contato provocou um renascimento na obra de Spare. Grant tinha durante algum tempo tomado um vivo interesse na magia e do misticismo de Spare, bem como na sua arte e, em particular os sistemas de sigilos que Spare tinha apresentado em The Book of Pleasure, publicado em 1913. Notáveis exceções, tal como o desenho "Theurgy" de 1929 não obstante, os sigilos estiveram amplamente ausentes do trabalho de Spare após a Primeira Guerra Mundial, e ele confessou a Grant que, ao longo dos anos, ele tinha esquecido os princípios subjacentes ao sistema. Estimulados pelo interesse e entusiasmo de Grant, Spare aplicou-se a recuperação desses princípios, e sigilos ressurgiram em muitos de seus desenhos e pinturas do final dos anos de 1940 e 1950. A produção dos últimos anos de sua vida foi uma espécie de renascimento para Spare, um desabrochar tardio.
Este renascimento incluiu o trabalho escrito, que Grant datilografou para ele, no processo de fornecimento de críticas e comentários, e pressionando para esclarecimento onde parecia ser benéfico. Muito deste trabalho final foi posteriormente publicado pelos Grants em Zos Speaks!, junto com cartas e extratos de diários que documentam o seu tempo com Spare, bem como reproduções de suas obras de arte. Em sua morte, Spare legou a Kenneth seus manuscritos, material datilografado, e livros. Incansáveis na promoção do trabalho de Spare ao longo dos anos subseqüentes, em 1975, os Grants publicaram o belo livro Images & Oracles of Austin Osman Spare, introduzindo sua obra ― escrita e artística ― para um novo público. O renascimento do interesse em Spare nos últimos anos deve muito aos seus esforços.
Como Spare, por toda a sua obra Grant enfatizou a supremacia da imaginação; longe de ser mero capricho ou fantasia, ela é de fato o principal meio para encontrar e explorar o universo e nossa relação com ele. O trabalho de Grant é essencialmente dirigido à imaginação, e procura soar ecos na consciência do leitor de sua obra. Como já vimos, Grant descreveu misticismo oriental como seu primeiro amor, e durante a década de 1950 dedicou-se a Advaita Vedanta ― a percepção de que a consciência é indivisível ― escrevendo uma série de artigos para jornais Asiáticos, que foram posteriormente coletados e publicados como At the Feet of the Guru. Embora muitas vezes considerada como um culto que glorifica a individualidade, Thelema é enraizada neste solo, tendo muito em comum com o Taoísmo.
Com John Symonds, executor literário de Crowley, Grant editou a desordenada e ruidosa autobiografia de Crowley, The Confessions. Este livro foi publicado em 1969 e desempenhou um importante papel na aproximação da obra de Crowley a atenção popular. Symonds e Grant construiram sobre isto, continuando a editar e publicar mais obras de Crowley na década de 1970, notadamente o The Magical Record of the Beast 666, uma seleção dos diários de Crowley, Magical and Philosophical Commentaries on the Book of the Law.
Além disso, ao longo dos anos Kenneth Grant estava criando seu próprio corpo de trabalho, e em um artigo sobre o trabalho de Crowley, “Love Under Will”, no International Times, durante 1969, ele se refere a um estudo seu que estava à espera de publicação, intitulada Aleister Crowley and the Hidden God. Sua editora, Muller, posteriormente, divide o trabalho em dois volumes, o primeiro dos quais, The Magical Revival, foi publicado em 1972. O segundo, publicado sob o título original Aleister Crowley and the Hidden God, o seguiu em 1973. Este foi o início das Trilogias Tifonianas, e o nono e final volume das quais, The Ninth Arch, foi publicado em 2002. Assim, foi concluído um corpo substancial de trabalho que, embora eclético e abrangendo vastas áreas de magia e misticismo, está firmemente enraizada em Thelema. No curso deste trabalho, Grant levou Thelema para áreas além do que muitas vezes são considerados os limites do trabalho Crowley, no processo de destacar a universalidade de Thelema e suas afinidades com uma ampla gama de tradições e disciplinas.
Bem como as suas Trilogias, Grant também publicou vários volumes de poesia e uma série de histórias curtas e novelas. Em 1963 viu a publicação de seu primeiro volume de poesia, Black to Black and other poems. Uma coleção intensa e comovente de poemas, este foi seguido em 1970 pelo The Gull’s Beak and other poems. Um terceiro volume foi publicado em 2005, Convolvulus and other poems;, este incluiu os dois volumes anteriores e acrescentou um terceiro, uma coleção não publicada anteriormente, Convolvulus: Poems of Love and the Other Darkness. Este volume compilado incluiu desenhos de Austin Osman Spare, alguns dos quais haviam sido especialmente desenhado para Grant por Spare
Grant começou a escrever contos quando jovem, e escreveu sua primeira novela no começo de 1950, Grist to Whose Mill? (Em breve será publicado pela primeira vez). Outros se seguiram, e foram publicados a partir de 1996. A maioria desses livros foram escritos durante o período da New Isis Lodge, e revisados antes da publicação. Eles apresentam personagens muitos dos quais foram baseadas, em um grau maior ou menor, sobre os membros da Loja. Grant deu um insight sobre isso em suas notas na sobrecapa do segundo volume da série, Snakewand & the Darker Strain. Muitos anos antes de sua morte Kenneth começou a trabalhar em outra novela, Monolith: A Further Nightside Narrative que, infelizmente, nunca foi concluído.
Embora mantendo uma devoção a Crowley, a Spare, e muitos outros místicos e ocultistas, cujo trabalho influenciou toda a sua vida, Grant nunca foi um seguidor, mas, pelo contrário, criou seu próprio caminho a partir de uma série de influências, transformado através do cadinho de sua própria experiência mística e mágica. Ele estava ciente do princípio do parampara ou linhagem espiritual, segundo o qual é da responsabilidade de um iniciado desenvolver o trabalho de seu antecessor, o antecessor neste caso sendo Crowley. No curso desse desenvolvimento, novas vias são abertas, enquanto outras são encontradas para ser, talvez, redundantes agora. Desta forma, um corpo de trabalho é uma coisa viva, desenvolvida por gerações de iniciados.
O trabalho de Kenneth Grant se tornará de importância crescente para Thelema. Na esteira de sua morte, a tarefa imediata é garantir que todo o seu trabalho seja mais uma vez impresso e prontamente disponível, e continuar a explicação dos princípios que subjazem a esse trabalho. Além disso, no entanto, o corpo de trabalho que ele desenvolveu irá, por sua vez, continuar, trabalhado e retomado por aqueles que vêm depois dele; esta é o maior testemunho pelo qual quaisquer um de nós pode esperar.

Magnum Chaos


Caos (em grego: Χάος, transl.: Cháos), na mitologia grega segundo Hesíodo,é o primeiro deus primordial a surgir no universo, portanto a mais velha das formas de consciência divina. A natureza divina de Caos é de difícil entendimento, devido às mudanças que a ideia de "caos" sofreu com o passar das épocas.
Seu nome deriva do verbo grego chaíno (χαίνω), que significa "separar", "ser amplo", significando o espaço vazio primordial. Também poderia ser chamado de Aer (Αηρ), que significa "ar" ou de Anapnoe (Αναπνοη), que significa "respirar".
O poeta romano Ovídio foi o primeiro a atribuir a noção de desordem e confusão à divindade Caos. Todavia, Caos seria para os gregos o contrário de Eros. Tanto Caos como os seus irmãos são forças geradoras do universo. Caos parece ser uma força catabólica, que gera por meio da cisão, assim como os organismos mais primitivos estudados pela biologia, enquanto Eros é uma força de junção e união. Caos significa algo como "corte", "rachadura", "cisão" ou ainda "separação".

Filhos

Os filhos de Caos nasceram de cisões assim como se reproduzem os seres unicelulares (mitose). Nix (Noite) e Érebo (Escuridão) nasceram a partir de "pedaços" do Caos. E do mesmo modo, os filhos de Nix nasceram de "pedaços" seus; como afirma Hesíodo: sem a união sexual. Portanto a família de Caos se origina de forma assexuada.
Se Caos gera através da separação e distinção dos elementos, e Eros através da união ou fusão destes, parece mais lógico que a ideia de confusão e de indistinção elemental pertença a Eros. Eros age de tal modo sobre os elementos do Mundo, que poderia fundi-los numa confusão inexorável. Assim, seu irmão Anteros, que nasceria do mesmo modo que Gaia, Tártaro, e Eros sendo assim irmão do Caos, equilibra sua força unificadora através da repulsa dos elementos.
Caos é, então, uma força antiga e obscura que manifesta a vida por meio da cisão dos elementos. Caos parece ser um deus andrógino, trazendo em si tanto o masculino como o feminino. Esta é uma característica comum a todos os deuses primogênitos de várias mitologias.
É frequente, devido à divulgação das ideias de Ovídio, considerar Caos como uma força sem forma ou aparência. Isso não é de todo uma inverdade. Na pré-história grega, tanto Caos como Eros eram representados como forças sem forma. Eros era representado por uma pedra.
Ou seja, na mitologia grega, Caos é "pai-mãe" de Nix e Érebo, e "irmão-irmã" de Gaia, Tártaro e Eros.

Caos (cosmogonia)

Caos (em grego antigo χάος, khaos) refere-se a sem forma ou vazio que precede a criação do universo ou cosmo no mito da criação na tradição grega, ou ao "hiato" inicial citado para a separação original do céu e da terra da tradição abraâmica.

Tradições abraâmica e babilônica

Tehom (em hebraico תְּהוֹם, "profundo" ou "abismo") é as profundezas das águas primordiais da criação descrito na Bíblia. Ele é mencionado pela primeira vez no livro dos Gênesis 1:2: "A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus pairava sobre as águas" (Igreja Católica Apostólica Romana)
Foi a partir deste lugar que as águas do Dilúvio tiveram a sua origem (Gênesis 7:11).
Tehom é uma palavra original da língua acádia, com a mesma raiz de tiamat era o nome da deusa do oceano primitivo e inimigo de Deus. O deus babilônico marduque dos poços no encadeamento do abismo e segundo tradição ele partiu-o ao meio, a sua metade superior criou os céus e a metade inferior para criar o continente.

Tradição grega-romana

Refere-se ao primeira entidade do universo, deus primordial do abismo, vazio, nada ou explosão que originou o universo, Caos.