quinta-feira, 9 de maio de 2019

Os Reis Magos

PAIMON, VUAL, GREMORY

Após o nascimento de Jesus, era necessário que sua energia fosse conectada aos 3 níveis do universo: físico, etérico e espiritual. Para isso, 3 reis magos chegaram montados em seus dromedários (ou camelos) e trouxeram ouro, mirra e incenso.

O ouro é o mais perfeito dos elementos telúricos, estabelecendo a ligação ao mundo físico. A mirra é utilizada em defumadores para limpar as energias do campo etérico, e o incenso transporta os pedidos do magista para o mundo espiritual (a análise da sua fumaça também permite entrever este reino, durante a evocação de daemons, por exemplo).

Na Goetia, existem 3 daemons diretamente relacionados a dromedários, e estes animais representam a capacidade de sobreviver a longas jornadas. Estes são Paimon, Vual e Gremory. Enquanto Paimon pode conceder conhecimento sobre tudo que está sobre as terras ou as águas (mundo físico), Vual influencia a mente de amigos e inimigos (mundo etérico), e Gremory está ligado a conhecimentos mais gerais sobre passado, presente e futuro (mundo espiritual). Porém, de forma geral, estes 3 daemons possuem conhecimentos valiosos, adquiridos em suas jornadas pelos desertos do Cosmos.

Invocação e Evocação Goetica


Os rituais de Goécia podem ser realizados de diversas formas, tanto em termos do referencial em relação ao qual as entidades serão direcionadas, quanto em termos do ritual, e mesmo do arcabouço de símbolos utilizado.

EVOCAÇÃO E INVOCAÇÃO

Os dois tipos básicos de referencial utilizados para direcionamento das entidades são:

Evocação
Invocação

A palavra “evocar” deriva diretamente da expressão “chamar para fora”. Na evocação, as entidades (sejam elas Anjos, Daemons, ou outras) são direcionadas para o lado externo da mente do magista. Entende-se a evocação como uma conclamação a aparecer à frente do magista, em um triângulo, ou em um instrumento de Skrying como uma bola de cristal ou espelho, para que o diálogo se dê de forma direta e explícita.

Muitas vezes, os Daemons tomam formas visualmente detectáveis, ou se apresentam por meio de sinais, como variações na luminosidade ou na fumaça de velas e incensos, emitindo sons ou emanando aromas. As aparências adotadas podem ser aquelas descritas nos grimórios, ou variações das mesmas, dependendo do arcabouço simbólico do magista.

Já a palavra “invocar” significa “chamar para dentro”. Na invocação, as entidades são conclamadas mentalmente, e se apresentam como visões durante uma meditação de olhos fechados, ou mesmo durante sonhos ou momentos de transe.

A invocação permite ao magista utilizar as qualidades atribuídas aos daemons, obter os conhecimentos ensinados por eles, ou mesmo decidir por quais caminhos seguir, por meio de conselhos. Neste caso, os rituais podem ser mais simplificados, ou mesmo complexos, dependendo do paradigma utilizado, e as aparências adotadas pelos Daemons também podem variar.

PARADIGMAS GOÉTICOS

Os rituais em si podem seguir três tipos gerais de paradigma:

Goécia Tradicional
Goécia de Mão Esquerda
Goécia Arquetípica

TRADICIONAL OU SALOMÔNICA

Na Goécia Tradicional ou Goécia Salomônica, o tipo mais ortodoxo e milenar de prática goética, os rituais utilizam os poderes de forças de concentração, manutenção e controle (ditos de mão direita, ou popularmente “magia branca”), e que prezam pela ordem divina, para impelir os Daemons a realizarem os pedidos. Geralmente, são mencionados nomes de Deus, Arcanjos e Anjos, que irão imbuir o magista de autoridade para que os Daemons realizem suas intenções.

Este tipo de paradigma foi usado por homens da Igreja, como pode ser verificado nos grimórios de vários clérigos, e também é o descrito na maioria das versões do Lemegeton, assim como no Testamento de Salomão. Entende-se, neste caso, que os Daemons são instrumentos para a Providência Divina, e que o magista age de acordo com a ordem e o destino, apenas utilizando estas ferramentas, com o aval de forças superiores e benéficas.

QLIPHÓTICA, SATANISTA E LUCIFERIANA

No caso da Goécia “de Mão Esquerda”, que possui diversas ramificações como a Goécia Qliphótica, a Goécia Satanista e a Goécia Luciferiana, os rituais recorrem a forças de evolução, dispersão e individualidade (ditas de mão esquerda, ou popularmente “magia negra”) para obter transcendência individual, e suas intenções, por meio de conversas e barganhas com os Daemons. A autoridade do magista, neste caso, é interna, e seu nível vibracional é baixado até níveis compatíveis com os Daemons, para que a comunicação ocorra de forma mais próxima.

Caso haja menção a outras divindades superiores, são geralmente as de dispersão, como Lúcifer, Samael e Lilith. Entende-se, neste caso, que os Daemons são entidades que auxiliam na jornada individual para se tornar um Deus, e que eles agem em consonância com a própria Vontade do magista.

ARQUETÍPICA

Já na Goécia Arquetípica, o magista leva em conta os arquétipos utilizados na ritualística, e dos Daemons em si. Geralmente é realizada por meio de meditação, e com rituais mais simples, utilizando símbolos de vários outros sistemas mágicos, desde que relacionados ao objetivo desejado.

Os animais e elementos que fazem parte da manifestação de cada Daemon, por exemplo, podem ser entendidos como características psicológicas que se deseja atrair ou repelir, e a comunicação pode se dar de forma verbal, ou apenas mentalização. Meditações e estudos pela vertente arquetípica podem auxiliar também nos tipos mais ritualísticos da Goécia, estudando-se e compreendendo-se as energias de cada Daemon antes da evocação.

RITUALÍSTICA

Quanto aos detalhes da ritualística em si, também pode haver variações dependendo do grimório utilizado, das preferências da ordem mágica à qual o magista faz parte, ou mesmo das adaptações e dos aprimoramentos acrescentados por cada praticante. Porém, de forma geral, os elementos principais da ritualística se mantêm.

Os elementos geralmente utilizados são um círculo ou ambiente delimitado, onde ocorrerá o ritual, objetos que representam os quatro elementos – terra, água, fogo e ar (geralmente moedas, cálice, bastão e adaga), incensos e velas para aprimorar a conexão espiritual, além de banimentos e/ou ritualísticas de abertura, diálogo, e fechamento.

RITUAL DE GOÉCIA NA PRÁTICA

A versão mais conhecida dos rituais da Goécia é a descrita por Mathers, derivada diretamente da magia descrita no Lemegeton e atribuída ao Rei Salomão.

Veja mais detalhes práticos de invocação e evocação de Daemons.
Além do ritual descrito por Mathers, há outras vertentes ligadas ao Lemegeton que acrescentam ou modificam alguns elementos da cerimônia.

A Goécia do Dr. Rudd, por exemplo, indica que os Selos dos Anjos correspondentes (que também são 72) sejam desenhados na parte de trás dos selos dos Daemons.

Já no Grimorium Verum, os espíritos descritos são diferentes dos 72 de Mathers, sendo que o ritual, ligeiramente diferente, pode ser utilizado também para evocação dos 72 Daemons. Já no caminho da mão esquerda, Ford apresenta, em seu livro, uma descrição dos rituais de Goécia Luciferiana, e Karlsson apresenta rituais ligados às Qliphoth, desenvolvidos pela ordem Dragon Rouge.

Oraculos


A prática de divinação consiste em captar relances de informações não conhecidas a priori pelo magista. Os canais para esta captação podem ser os mais variados, usando apenas a intuição ou instrumentos.

Existem diversos oráculos largamente difundidos para tal, como o iChing, o Tarot e as Cartas Ciganas. Porém, observa-se que muitos dentre os 72 Daemons da Goécia, e também dentre os 72 anjos correspondentes, possuem a capacidade de informar sobre os mais variados temas, e sobre o passado, o presente o futuro.

ARQUÉTIPOS

Cada um dos Daemons corresponde a aspectos da natureza, elementos mentais e situações que podem ser vividas por uma pessoa. Desta forma, estão relacionados a arquétipos que podem ser analisados mais profundamente e, dessa forma, utilizados para fins de divinação.

Neste sentido, os Daemons geralmente estão relacionados a aspectos de dispersão e evolução, e os Anjos a aspectos de concentração e manutenção, mas realizando uma análise profunda percebe-se que cada par Anjo/Demônio corresponde a uma mesma energia arquetípica, manifestada de duas formas diferentes.

INTUIÇÃO E PERGUNTAS

Além da intuição do magista, os Daemons (e Anjos) podem responder a perguntas durante rituais ou meditações direcionadas. Para tal, podem ser utilizadas cartas com os selos destas entidades, e a pergunta pode ser feita de forma verbal ou a nível mental.

A resposta pode ser obtida meditando-se sobre um selo específico e aguardando-se a comunicação da entidade, que virá como um lampejo de inspiração a nível mental, por vezes também com sons, imagens e visões.

Outra forma de obter estas respostas é sortear uma carta de um baralho contendo Daemons e/ou Anjos, e analisar como os arquétipos daquela entidade se relacionam com a pergunta que foi realizada.

BARALHO DE DAEMONS

Um baralho de Daemons e um baralho de Anjos são instrumentos muito úteis para a prática de divinação descrita anteriormente. Este baralho contém os números, os nomes e os selos de cada entidade, porém suas aparências e manifestações ficam em aberto, pois podem variar dependendo do ritual utilizado e do magista (como amplamente registrado na literatura mágica).

As cartas podem ser sorteadas individualmente ou em grupo, ou ainda podem ser selecionadas uma ou mais cartas para meditação. Além disso, para aqueles que estão iniciando os estudos, pode ser vantajoso anotar em cada carta, de forma removível, uma palavra ou expressão que resuma o significado daquela Daemon ou Anjo, para facilitar a leitura.

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

Um exemplo de aplicação é a resposta a uma pergunta simples, como “Qual curso devo fazer para me aprimorar profissionalmente?”. Se uma pessoa sorteia uma carta e obtém o Daemon Agares, por exemplo, pode ser avaliado que seria vantajoso iniciar um curso de Línguas, uma vez que este Daemon se relaciona ao aprendizado de linguagens.

Como outro exemplo, um magista pode estar tentando desvendar o motivo da morte de uma pessoa, e obtém o Anjo Nemamiah. Este anjo influencia generais e combatentes, portanto a resposta pode estar relacionada à atuação da Polícia ou do Exército.

Ainda num terceiro caso, um magista pode estar tentando descobrir quem cometeu um roubo. Neste caso, pode ser escolhida a carta referente a Valefor, um Daemon que traz os ladrões para serem punidos, meditando-se sobre ela e mentalizando-se fortemente sua intenção. Ao meditar, o nome ou o rosto da pessoa que cometeu o roubo irá se manifestar na mente do magista.

As cartas de Anjos e Demônios podem ser utilizadas separadamente, ou de forma conjunta, em qualquer método de tiragem que seria usado para Tarot ou Cartas Ciganas, como por exemplo tiragens de 3 cartas, de 5 cartas, de 10 cartas pelo método da cruz celta, ou de 9 cartas no método do quadrado.

Goetia Salomônica


A Goécia Tradicional ou Goécia Salomônica é o tipo mais ortodoxo e milenar de prática goética. Nesta vertente, os rituais utilizam os poderes divinos de concentração, manutenção e controle (de mão direita, ou popularmente “magia branca”) para impelir os Daemons a realizarem os pedidos. Geralmente, são mencionados nomes de Deus, Arcanjos e Anjos, que irão imbuir o magista de autoridade para que os Daemons realizem suas intenções.

Vários homens da Igreja realizaram este tipo de prática, e deixaram como legado seus grimórios, entre eles o de alguns Papas da Igreja Católica. Os rituais descritos na maioria das versões do Lemegeton, bem como no Testamento de Salomão, são referentes à Goécia Salomônica.

Na Goécia Salomônica, o caráter divino inicial se dá pelos nomes que são escritos em torno do círculo cerimonial. Dentro do desenho de uma cobra ou Ourobouros, são escritos os nomes de anjos planetários e dos arcanjos mais importantes das hordas celestiais. Estas são as entidades angelicais que irão auxiliar o magista a subjugar os Daemons para que estes realizem seus desejos. Além dos anjos, são utilizados vários nomes de Deus para a prática.

Podem ser utilizados instrumentos referentes aos quatro elementos, sendo eles a baqueta, a adaga, o cálice e o cristal para fogo, ar, água e terra, respectivamente. Todos os materiais, bem como as vestimentas, são purificados pelos poderes divinos durante a preparação do ritual.

No início da cerimônia, o magista é imbuído com as forças de diversas manifestações ou diferentes nomes de Deus, entre elas El, Elohi, Asher Ehyeh, Zabaoth, Elion, Iah, Tetragrammaton e Shaddai. Também pode ser realizado um banimento pelo Ritual menor do Pentagrama (RmP), citando-se os nomes de Deus e dos anjos das quatro direções cardeais, sendo eles Javé/Miguel, Adonai/Gabriel, Eheieh/Uriel e Agla/Rafael, para Leste, Sul, Oeste e Norte, respectivamente.

Em seguida, solicita-se que o espírito apareça, aplicando-se punições e fazendo-se ameaças cada vez mais poderosas caso isto não ocorra. O selo do espírito é levado ao fogo, em uma das últimas evocações, obrigando-o a se revelar.

Após a realização do ritual, o espírito é saudado e convidado a se retirar, se prontificando a aparecer novamente caso solicitado. Durante toda a cerimônia, os nomes de Deus são utilizados para manifestar a pureza e a retidão do magista, levando à subserviência dos Daemons.

Em suma, observa-se que a Goécia Salomônica é caracterizada como de mão direita, e neste caso é mais usual que se solicitem elementos que venham a manter a Ordem Divina, e que ajudem o magista na sua transcendência, mas sempre de acordo com a Providência. O magista se torna guardião do Destino pré-definido do Universo.

Goetia Luciferiana



A Goécia Luciferiana, assim como a Goécia Qliphótica e a Goécia Satanista, podem ser consideradas práticas de Goécia “de Mão Esquerda”. Neste caso, os rituais recorrem a forças demoníacas de evolução, dispersão e individualidade (de mão esquerda, ou popularmente “magia negra”) para obter transcendência individual, realizando conversas e barganhas com os Daemons.

Na Goécia Luciferiana, a autoridade do magista é interna, e seu nível vibracional é levado até níveis próximos aos dos Daemons, para que a comunicação ocorra de forma mais próxima. As entidades superiores evocadas em busca de autoridade são geralmente as de dispersão, como Lúcifer, Samael e Lilith, além de outros líderes demoníacos.

Os círculos mágicos da Goécia Luciferiana apresentam uma serpente ou monstro marinho (Leviatã) contendo os nomes de Sabaoth, Adonai, Azal’ucel, Babalon e Lilith, que são associados respectivamente ao Rei de Sabá (Zabbathi), a Lúcifer, a Azazel (imbuído com os poderes de Lúcifer), a Hécate (ou, em geral, ao poder demoníaco feminino) e à Rainha de Sabá. Além disso, no triângulo é representado o nome de Azazel, contraparte demoníaca do anjo Miguel.

Podem ser utilizados instrumentos referentes aos quatro elementos, sendo a adaga para o ar, a baqueta para o fogo, o cálice para a água e o cristal para a terra. Os instrumentos e os outros materiais utilizados no ritual, como medalhas e pentáculos, são consagrados aos príncipes infernais, que representam as forças de dispersão e evolução.

As forças das direções cardeais atraídas no início dos trabalhos são as de quatro Príncipes – Lúcifer, Leviatã, Satã e Belial – e quatro Sub-Príncipes – Samael, Azael, Azazel e Mahazael -, que correspondem, respectivamente, a Leste, Oeste, Sul e Norte.

Em seguida, solicita-se que o espírito apareça, o que pode se dar de diversas formas. Uma delas é o auto-encantamento, onde o magista baixa seu padrão vibratório para que esteja sintonizado com os Daemons, e possa conversar com os mesmos. Outras técnicas possíveis seriam a do espelho negro, onde o Daemon é convidado a se manifestar em uma superfície semi-reflexiva, a do vaso, onde o Daemon é impelido para dentro de um recipente construído de forma específica, ou a magia sexual, onde o Daemon pode ser contactado durante o êxtase de um orgasmo.

Após a realização do ritual, pode ser utilizada qualquer técnica de banimento, agradecendo-se ao espírito e declarando-se que o trabalho terminou. Diferentemente da Goécia Salomônica, não são utilizados nomes divinos, mas é sempre mencionado o merecimento do magista em realizar tal evocação, devido aos poderes internos que acumulou em sua jornada.

Em suma, observa-se que a Goécia Luciferiana é caracterizada como de mão esquerda, e por isto é mais usual que em seus rituais sejam pedidos aspectos que venham a auxiliar na transcendência pessoal, com quebra de estruturas e de paradigmas, criando-se uma nova ordem. O magista se torna demiurgo de sua própria realidade.

Goecia Magica


A magia pode ser entendida de diversas formas, segundo várias linguagens e sistemas simbólicos. De forma geral, consiste em se realizar transformações por meio da intenção, embora os métodos para que isso ocorra possam ser os mais gerais possíveis. Dessa forma, é difícil encontrar um limite a partir do qual um evento pode ser considerado magia. A eletricidade, por exemplo, não era completamente entendida até o século XVII, e os raios e trovões eram compreendidos como poderes dos deuses. Seria a magia apenas um encadeamento de eventos que ainda não pode ser explicado cientificamente?

DIFERENTES INTERPRETAÇÕES

É necessário ter consciência de que eventos a nível mental possuem tanta substância quanto eventos que ocorrem de forma material. Uma pessoa pode ter morte cerebral resultante apenas de um encadeamento de pensamentos, e os métodos de hipnose comprovam que é possível estimular o cérebro para os mais variados fins.

Este tipo de manifestação é útil para magistas que possuem maior necessidade de confirmação visual (ver para crer), e são mais ligadas aos aspectos do mundo material. Consequentemente, o ritual de evocação acaba por ser muito mais complexo, necessitando de vários estímulos que fazem o magista entrar em um estado de concentração cada vez maior.

ENTIDADES E ENERGIAS

Como entidades, os daemons podem ser evocados e se apresentam à frente do magista, dentro dos círculos de magia, ou então se manifestam na forma de sinais ao seu redor.

O magista então conversa com estes seres, solicitando o que desejar. Porém, se os daemons forem compreendidos como entidades dotadas de livre arbítrio, o magista terá necessidade de compelir cada um dos seres, se protegendo das mais variadas formas e correndo o risco de ser ludibriado.

Este tipo de manifestação é útil para magistas que possuem maior necessidade de confirmação visual (ver para crer), e são mais ligadas aos aspectos do mundo material. Consequentemente, o ritual de evocação acaba por ser muito mais complexo, necessitando de vários estímulos que fazem o magista entrar em um estado de concentração cada vez maior.

IMAGENS ARQUETÍPICAS

Assim como as arcanas do tarot, os daemons são imagens possíveis de determinados aspectos gerais. Estes arquétipos, pertencentes ao caos ou ao mundo das ideias, são tão complexos que não podem ser explicados por meio de palavras ou imagens. Sendo assim, quando tentamos fazê-lo só conseguimos explicar uma de suas facetas de cada vez, e estas tomam formas definidas como os daemons.
Vários daemons podem representar diferentes imagens do mesmo arquétipo (por exemplo, Agares e Vassago, ambos de mesma natureza). Utilizando este ponto de vista, os daemons podem servir como sistema divinatório (sorteando-se um deles), ou mesmo como inspiração para meditações.

Pode-se analisar o que cada animal representaria, entre outros aspectos semióticos. Neste caso, os rituais são simples como qualquer meditação, podendo ser auxiliados por aromas, sons, ou desenho de selos caso o magista assim deseje. Geralmente são usados elementos auxiliares que possuam relação com a energia a ser trabalhada.

MODOS DE ATIVIDADE CEREBRAL

Os daemons também podem ser entendidos como modos de atividade cerebral a serem alcançados pelo magista. A Alquimia, que consiste em manipular os pensamentos por meio da intenção, pode ser usada para fazer o cérebro funcionar de determinada forma, liberando potencial até então não utilizado (os 90% do cérebro que não usamos conscientemente).

Neste caso, o magista pode concentrar-se para aprender melhor um novo idioma, direcionar o foco para analisar situações e recuperar informações de seu inconsciente (“ver o passado”), ou rastrear mentalmente as consequências de cada evento para inferir situações que estão por vir (“ver o futuro”). A ativação pode ser realizada por qualquer método.
Independente da forma de utilização escolhida pelo magista, compreender as energias e verificar analogias com outros deuses pode auxiliar na escolha da energia correta para cada finalidade, além de reduzir o risco de uma operação dar errado devido ao medo inconsciente. No sentido psicológico, casos de possessão podem estar ligados a histeria, e a perseguição por demônios pode ser entendida como paranoia. Ambas as consequências são indissociáveis de uma possessão ou perseguição “reais”, e igualmente perigosas.

MÉTODOS

RITUAL GOETIA

Nas Clavículas de Salomão, são descritos métodos detalhados para evocação de daemons. Porém, há outros métodos descritos em publicações de demonologia e satanismo, e mesmo uma simples meditação pode ser utilizada, conforme o nível de prática do magista, e sua necessidade de concentração. No caso da meditação, esta pode ser auxiliada por incensos, sons, objetos e desenhos associados às energias que serão trabalhadas, definidos por analogia.

MATERIAIS

Segundo as Clavículas de Salomão, os selos dos daemons devem ser confeccionados utilizando diferentes metais, ou cores metálicas que remetam aos planetas, de acordo com a hierarquia. Alguns daemons podem estar relacionados a mais de uma hierarquia, e portanto a mais de um material.

CÍRCULOS DE MAGIA


Os círculos (e/ou triângulos, hexagramas, pentagramas) de magia descritos nas Clavículas de Salomão devem ser desenhados no chão e nas vestes do magista, usando cores específicas e dimensões aproximadas que variam conforme as versões dos textos. Os elementos básicos descritos nas versões mais usuais, a serem desenhados no chão, de dentro para fora, são:

1:Quadrado vermelho onde o magista irá se posicionar
2:Quatro hexagramas com pontas amarelas e centro azul ou verde
3:Círculo interno com 6 pés de diâmetro
4:Cobra em espiral contendo os nomes divinos, sobre fundo amarelo
5:Círculo externo com 9 pés de diâmetro
6:Quatro pentagramas com pontas amarelas e centro vermelho, contendo velas
7:Triângulo branco com círculo verde inscrito, onde o daemon irá se manifestar

VESTES E SELOS


O magista deve ser usar vestes brancas, onde será desenhado o hexagrama de Salomão. Este hexagrama deve ser mostrado aos daemons para compelir que se mostrem em forma humana. Sobre o peito do magista, deve ser posicionado o selo do daemon selecionado, contendo em sua outra face o pentagrama de Salomão. Este talismã serve para proteger o magista e comandar os daemons por meio de seu selo específico. Já em outra versão dos rituais, o selo que deve ser desenhado no verso é o do anjo correspondente (estes também são 72), tornando possível o controle dos daemons.

Há ainda o disco de Salomão, que deve ser gravado em um anel de ouro ou prata, e segurado em frente à face do magista para protegê-lo da fumaça e do fogo expelidos pelos daemons. Finalmente, o selo secreto de Salomão deve ser usado para aprisionar os daemons em urnas.

URNA


Dependendo do desejo do magista, os daemons podem ser guardados em urnas, feitas em latão e seladas hermeticamente. O selo secreto de Salomão, descrito anteriormente, deve ser desenhado ou soldado sobre a tampa das urnas, preferencialmente em chumbo.

EVOCAÇÃO

Segundo as Clavículas de Salomão, as evocações podem ser feitas de diversas formas, e utilizando diferentes ferramentas como cetro, espada, mitra, chapéu, túnica, mantos de diversas cores, caixas, incensos, carvão e água. De forma geral, a evocação segue algumas etapas.

1:Purificação: o magista se limpa do pecado e de qualquer energia que carregue consigo;
2:Conjuração: o magista evoca uma ou mais vezes o daemon desejado, comandando-o pelos nomes divinos e pelos nomes de seus superiores infernais, e desde já requisitando que não seja enganado, exposto a ambiguidades, ou mesmo assustado pelo daemon, e não seja seguido pelo mesmo após o término do ritual;
3:Segunda conjuração: evocação de forma mais assertiva, caso o daemon não apareça;
4:Mandamento: o magista comanda o daemon para aparecer, de forma mais brusca, sob pena de ser eternamente penalizado;
5:Invocação do Rei: caso o daemon não apareça, este pode ter sido comandado por seu Rei a realizar outra tarefa, e esta etapa consiste da evocação de seu Rei para mudança das ordens;
6:Maldição menor: conjuração usada para amaldiçoar o daemon e sua linhagem hierárquica caso este não apareça, ou tenha alguma atitude que desagrade o magista;
7:Conjuração do fogo: forma avançada de maldição, onde o selo do daemon é colocado em uma caixa com materiais fétidos (por exemplo, assafétida), que é aquecida sobre o fogo até que o daemon colabore;
8:Maldição maior: caso o daemon ainda assim não apareça, a caixa é queimada, sendo retirada do fogo assim que houver colaboração.

NEGOCIAÇÃO

Após uma evocação bem sucedida, segundo as Clavículas de Salomão, é necessário receber, dar as boas vindas e solicitar o que se deseja ao daemon. As etapas são descritas a seguir.

1:Recebimento: o magista mostra ao daemon todos os selos de proteção, pentagramas e hexagramas, se protegendo com o disco ou anel à frente do rosto e solicitando obediência;
2:Boas vindas: são dadas as boas vindas ao daemon, comandando-o que fique sempre dentro do triângulo de invocação, e que não parta sem licença, e sem realizar os desejos do magista;
3:Solicitações: as solicitações devem ser realizadas de uma forma que evite ao máximo ambiguidades ou mal-entendidos, focando-se nos efeitos práticos e na intenção desejada, e mentalizando-se as pessoas, objetos e lugares envolvidos.

BANIMENTO

Segundo as Clavículas de Salomão, o banimento inicia com uma licença para partir, comandando o daemon para que não realize nenhum ato danoso a qualquer pessoa que não esteja envolvida nos pedidos, ou mesmo ao local do ritual. Posteriormente, agradece-se aos nomes divinos que tornaram a evocação possível. Pode ainda ser realizado um ritual menor do pentagrama para limpeza e re-estabelecimento das energias.

GRIMORIUM GOETIA

Descrição de cada espírito, sua aparência e poderes, além das entidades direta ou indiretamente relacionadas. Contém também análises baseadas em gematria, tarot e cabala. Ilustrações e selos consultados no livro Goetia – A Chave Menor de Salomão, compilado por Liddell e Mathers.

Daemons


Considerava-se na Mitologia Grega que os humanos que nasceram nas Eras de Ouro e de Prata se tornavam daemons ou daímones depois de sua morte. Sua função era a de intermediários entre os homens e os deuses, agindo sobre a terra (daemons epictônios, da Era de Ouro) e abaixo dela (daemons hipoctônios, da Era de Prata).

 DÆMONS, DJINNS, NÉTERES, EXUS

Os daemons eram descritos na cultura árabe como gênios ou djinns, entidades eternas que ajudavam os homens, e no Corão são descritos como bons e/ou maus, possuindo livre-arbítrio assim como os humanos. Na cultura Egípcia, eram descritos como Néteres, as diferentes facetas de Atum (princípio objetivo que surgiu a partir do subjetivo Nun), responsáveis por controlar diferentes aspectos materiais, mentais e espirituais do Cosmos.

Na cultura africana, são descritos como exus, entidades formadas a partir da separação em várias partes do Orixá Exu, que servem como intermediários entre os humanos e os Orixás, e comandam as encruzilhadas, pontos de forte intercâmbio energético.

AS CLAVÍCULAS DE SALOMÃO

Posteriormente, os daemons foram descritos como entidades infernais pela Igreja Católica, e a compilação mais detalhada que se tem notícia são as Clavículas de Salomão, citando que este rei subjugou os 72 daemons e os prendeu em uma urna, criando um sistema de evocação estruturado para se utilizar da energia dos mesmos conforme a necessidade.

Em diversas narrativas, a Rainha de Sabá teria se casado com o Rei Salomão, e com seus conhecimentos de magia teria auxiliado nesta árdua tarefa. Diz-se também que exploradores encontraram a urna e liberaram os daemons, o que teria feito com que os malefícios retornassem ao mundo. Esta alegoria dos daemons presos em uma urna deu origem ao conto de Aladin e a lâmpada mágica.

OS 72 DEMÔNIOS DA GOETIA

Os 72 daemons descritos nas Clavículas de Salomão são:

• Baal • Agares • Vassago • Samigina • Marbas • Valefor • Amon • Barbatos • Paimon • Buer • Gusion • Sitri • Beleth • Leraie • Aligos • Zepar • Botis • Bathin • Saleos • Purson • Marax • Ipos • Aim • Neberius • Glasya-Labolas • Bune • Ronove • Berith • Astaroth • Forneus • Foras • Asmoday • Gaap • Furfur • Marchosias • Stolas • Phenex • Halphas • Malphas • Raum • Focalor • Vepar • Sabnock • Shax • Vine • Bifrons • Vual • Hagenti • Crocell • Furcas • Balam • Alloces • Camio • Murmur • Orobas • Gremory • Ose • Amy • Orias • Vapula • Zagan • Valac • Andras • Haures • Andrealphus • Cimeies • Amdusias • Belial • Decarabia • Seere • Dantalion • Andromalius •

Percebe-se claramente que os 72 daemons das Clavículas de Salomão foram inspirados em entidades cultuadas por outras culturas, dominadas e relegadas ao esquecimento pelo cristianismo após séculos de embates tanto físicos quanto intelectuais. Estas entidades, algumas mesmo mantendo o nome original, foram demonizadas e descritas como espíritos infernais, uma vez que todo o poder verdadeiro só poderia provir de um Deus, o Deus cristão.

Além disso, com a lacuna de correspondências deixada por estas entidades, foram criados 72 anjos (Shemhamphorash), baseados em combinações de três caracteres hebraicos ou sílabas dos versículos 19, 20 e 21 de Êxodo, 14. Estes versículos descrevem a fuga de Moisés e seus seguidores do Egito, passando pelo Mar Vermelho, e possuem 72 sílabas cada. Pode ser percebido que estes anjos englobaram, de forma geral, as características dos daemons correspondentes.