terça-feira, 2 de maio de 2023

Simetria na Cosmologia de Anaximandro de Mileto


Arché e Phýsis na Cosmologia Simétrica de Anaximandro:

Ápeiron e a Noção de Divino


Mediante os testemunhos doxográficos pelos quais foi construída a história da filosofia pré-socrática, notou-se, desde o início desta (no final do sexto século a.C.) a busca do princípio – arché82 – a qual, como pensava a maioria dos primeiros Fisiólogos, teria engendrado todas as coisas abarcadas pela phýsis83.


82 O TERMO ORIGINAL GREGO PARA ARCHÉ É ἈΡΤΉ, CONFORME A TRANSLITERAÇÃO DE GUTHRIE. O AUTOR TRADUZ DE FORMA DETALHADA E EXPLICA A UTILIZAÇÃO DA PALAVRA NO AMBIENTE PRÉ-SOCRÁTICO.

83 ΦΎΖΗΣ, É O TERMO ORIGINAL GREGO CORRESPONDENTE À PHYSIS, CONFORME A TRADUÇÃO DE GERD A. BORNHEIM. SEGUNDO O AUTOR, “A PHYSIS É O CONCEITO FUNDAMENTAL DE TODO O PENSAMENTO PRÉ-SOCRÁTICO”

O testemunho de Aristóteles corrobora o pensamento que considerou os milésios como os primeiros filósofos interessados naquilo que teria constituído todas as coisas. Não obstante a tradição demonstrar que as opiniões dos primeiros físicos eram divergentes quanto à natureza material do elemento primeiro, conforme assinalou o estagirita na Metafísica, os antigos conservaram a opinião de que tais elementos sempre persistem, nunca são gerados.


Quando Anaximandro define ápeiron (infinito, ilimitado) como sendo a arché da natureza, o milésio evoca em sua máxima a noção de imperceptível e infinitude referindo-se à imortalidade dos deuses? A noção de divino e imortal, presente entre os antigos, no que diz respeito à eternidade do cosmos e seus elementos constituintes, foi herdada da religião e do mito? Certamente, a resposta a essas questões requer, nas páginas seguintes, passar em revista ao testemunho de Simplício: “Anaximandro chamou a arché e elemento de todas as coisas existentes ‘o ilimitado’, sendo o primeiro a atribuir este nome à arché.”


Com efeito, frente ao excerto de Simplício em discurso direto, nesta abordagem não se pretende fazer qualquer tipo de interpretação sobre o fragmento de Simplício em voga; nem sequer, questionar a autenticidade do mesmo, mas, tomá-lo como parâmetro para a questão da arché na cosmologia simétrica de Anaximandro. Todavia, mediante as inferências dos comentadores modernos, sobretudo Guthrie, Kahn, Kirk, Raven e Schofield, Thomas McEvilley, entre outros autores consagrados, os problemas e as conjeturas, durante este percurso, surgirão.


A investigação sobre a arché, no pensamento pré-socrático, deve estar para além de uma análise sobre as divergências de opiniões que os primeiros físicos tiveram no tocante ao elemento primeiro.


Embora o pensamento moderno, principalmente aquele que segue fielmente a tradição grega antiga seja um norte a respeito do significado do elemento primeiro, no decorrer das próximas páginas se questionará sua concepção sobre a qual o princípio – arché – teria sido concebido como apenas de natureza material. A princípio, é prudente considerar as observações assinaladas por Guthrie no que tange à arché, inscrita no fragmento de Simplício.

O autor, primeiramente, remonta ao fragmento 204 b 24 da Física de Aristóteles, o qual abarca os elementos contrários, postulados como arché pelos primeiros físicos. Pelo que demonstra Guthrie, os contrários, no viés de Anaximandro, estão inseridos em uma cosmologia pautada pelo equilíbrio, não pela sobreposição entre os elementos. Igualmente, na esteira de Guthrie, dirá Vernant “Para Anaximandro, ao contrário, nenhum elemento singular, nenhuma porção do mundo poderia dominar as demais. São a igualdade e a simetria dos diversos poderes constituintes do cosmos que caracterizam a nova ordem da natureza”.


Guthrie, ciente de que Anaximandro não concebia a arché da maneira de Aristóteles, haja vista a palavra elemento, no fragmento de Simplício, ser um termo aristotélico, assinalou:


Cuando Anaximandro intentó por primera vez expresar filosóficamente su idea, no era posible ninguna distinción clara entre sustancia y atributo. Del mismo modo que habló de “lo infinito”, designó también a los contrarios recurriendo a un artículo y a un adjetivo: lo caliente, lo frío, lo húmedo y lo seco. Anaximandro los consideraba cosas y no cualidades, como ha dicho Cornford.


Para destacar a originalidade do pensamento anaximandrino que estava imbricado no excerto de Aristóteles, Guthrie assinala outra vez:


“Lo caliente” no era el calor, considerado como una propiedad adjetiva de una sustancia, de algo que está caliente. Era una cosa sustantiva y “lo frío”, su contrario, era otra cosa. Como consecuencia de ello, era posible considerar a lo caliente y lo frío como cosas contrarias que pueden fundirse juntas en un estado indiferenciado, como una mezcla de vino y agua.


Consensual aos argumentos assinalados por Cornford na obra: Principium Sapientiae, as Origens do Pensamento Filosófico Grego, Guthrie lançou luzes inteligíveis sobre o fragmento de Simplício. Se, para Anaximandro, o quente e o frio não são qualidades, mas, potências substantivas, ao contrário da concepção aristotélica que teria influenciado Simplício no excerto citado, simetria e equilíbrio serão princípios intrínsecos na arché de Anaximandro? Na esteira de Guthrie, a resposta a essa pergunta será positiva. “Anaximandro ha reconocido que existe la tendencia natural de cada uno de los elementos a destruir a su contrario”. Nesse sentido, o equilíbrio entre esses elementos comprova a existência deles na natureza. Nota-se:

En el mundo considerado como un todo, ninguna de las fuerzas contrarias (o fuerzas litigantes, como las imaginaba Anaximandro) obtiene una victoria completa y final: el equilibrio entre ambas siempre se está recuperando o manteniendo. Si una obtiene una ventaja local, la otra se retira a otro lugar.


Conforme Guthrie observou, a tradição doxográfica foi tributária a Aristóteles por ser ele a fonte que aponta os milésios como interessados exclusivamente na arché da natureza. Entretanto, o autor adverte que a abordagem do estagirita requer do leitor alguns cuidados, sobretudo por Aristóteles ter evocado a filosofia pré-socrática justificando seu próprio sistema quádruplo93 de causalidade, parecendo-lhe que os milésios “[…] trataram, exclusivamente, de princípios de ordem material […]”


93 O TERMO SISTEMA QUÁDRUPLO DE CAUSALIDADE REFERE-SE ÀS QUATRO CAUSAS ABORDADAS POR ARISTÓTELES, A SABER: CAUSA MATERIAL, EFICIENTE, FORMAL E FINAL.

Se, o princípio arché de tipo material é, exclusivamente, uma noção do núcleo da filosofia aristotélica baseada nas causas materiais, não contempladas pelos milésios do sexto século a.C., e tão pouco por Anaximandro, a que Anaximandro estaria fazendo remissão ao estabelecer um princípio extrínseco à categoria dos quatro elementos materiais? Segundo Guthrie, o milésio se referiu ao conceito primeiro da ciência jônica – a phýsis.


Ao tratar sobre o tema phýsis – o qual entendemos ser um dos mais fecundos entre os pré-socráticos – consideramos estar diante de uma noção cujo significado está para além do que a modernidade lhe conferiu, haja vista a proximidade do termo física com a palavra natureza, verificada na expressão aristotélica – fisiólogos ou filósofos da natureza.


O interesse de Aristóteles por assuntos sobre a natureza, confirmado pela tradição doxográfica, rendeu-lhe uma obra intitulada Física, na qual o estagirita remonta à cosmologia dos primeiros sábios para justificar a sua. O título da obra, como notou Guillermo de Echandía, seu prefaciador, ocasionou mal entendidos, pois, não obstante o termo Física ser pertinente às ciências exatas, Aristóteles o teria abordado em termos naturalistas intrínsecos à cosmologia jônica do sexto século a.C. Note-se:


Ahora bien, el título de esta obra se presta a un malentendido. Porque el lector no iniciado que se aproxime a ella desde el actual nivel de conocimiento puede creer que el vocablo “física” tenía el mismo significado entonces que ahora, como efectivamente ocurre con “geometría” o “aritmética”. Y aquí está el malentendido. La física moderna, tal vez el producto más gigantesco del espíritu europeo en su historia, ha hecho, junto con la técnica, que el modo como el europeo actual se siente intelectualmente instalado en el mundo sea radicalmente distinto que el del griego. […] En efecto, phýsis no era el nombre de una región especial del ente, sino que en la tradición griega designaba todo cuanto existe en el Universo: los astros, la materia inerte, las plantas, los animales y el hombre.


A descrição do que seria a phýsis, operada por Guillermo de Echandía, parece se aproximar do que pensaram sobre ela os primeiros sábios jônios. Esse tema, por ser uma discussão fecunda entre os fisiólogos, como já demonstrado por Aristóteles, era comumente discutido entre esses pensadores.


Desde Tales de Mileto, o primeiro filósofo que se propôs a investigar sobre a natureza, a phýsis tornou-se o núcleo da investigação milésia. Por esse tipo de investigação versar acerca do todo – o divino, o homem e o cosmos – os escritos em prosa intitulados – Da Natureza ou Perì phýseos – a partir de Anaximandro, ganharam notoriedade entre os pré-socráticos. Pois:


Era costume entre os escritores alexandrinos dar títulos, na ausência de provas concretas, que conviessem aos interesses conhecidos de um pensador antigo. “Da Natureza” foi um título clássico e compreensivo que teve tendência para ser atribuído a todos aqueles a quem Aristóteles chamou θσζητοί, isto é, a quase todos os Pré-Socráticos.


Os pormenores dos feitos e da vida dos pré-socráticos, embora questionáveis, sobretudo no que diz respeito ao conteúdo das investigações, não impedem que lhes sejam atribuídas algumas obras pela doxografia, as quais remontam àquelas investigações já assinaladas por Aristóteles acerca da Natureza.


Dentre os fisiólogos interessados por esse tipo de investigação, Kirk, Raven e Schofield mencionam Xenófanes de Cólofon, Empédocles de Agrigento, Heráclito de Éfeso e Melisso de Samos, os quais possivelmente viveram do século VI a.C. ao século V a.C. Esses filósofos, cuja acmé (άκμή) teria sido influenciada por Anaximandro, “[…] procuraram compreender a “natureza” de uma coisa descobrindo de que fonte e de que forma isso veio a ser o que é”.


Efetivamente, o sistema cosmológico inaugurado por Anaximandro, cujo princípio é homólogo à proporção e à justa medida, preconizou uma cosmologia advinda da operação inteligível humana. Os tratados sobre a natureza, desde Anaximandro, englobaram a phýsis a partir de princípios harmônicos nos quais “Os homens, a divindade, o mundo formam um universo unificado, homogêneo, todo ele no mesmo plano […]”.


De acordo com as inferências mencionadas por Kahn e Vernant, chega-se à seguinte hipótese: se, por um lado, os princípios inteligíveis operados por Anaximandro, ao discorrer sobre arché e phýsis, abdicaram da linguagem teogônica, por outro lado esses mesmos princípios, cujo núcleo é o ilimitado, estão imbricados com aquela noção de divino na qual a phýsis, em sua completude, foi concebida na mentalidade pré-socrática.

Vale, portanto, a partir dessa conjetura, lembrar que Tales, o mestre de Anaximandro, foi o primeiro fisiólogo que, não obstante inaugurar o nascimento da filosofia milésia, a partir da investigação natural, conservou em sua essência a noção de uma phýsis divina.


Tales, conforme o testemunho de Aristóteles, ter-se-ia referido a um deus não antropomórfico em sua descrição na qual todas as coisas, cheias de deuses, seriam os princípios da phýsis? Outrossim, quando Anaximandro evocou os atributos divinos, a saber: imortalidade e indestrutibilidade, para descrever o ápeiron, ele estaria conservando na cosmologia jônica a noção de divino da antiga tradição religiosa grega? A fim de responder tais perguntas, urge considerar o porquê de Anaximandro ter convergido o princípio da phýsis no ápeiron.


A partir dessas considerações, a originalidade da cosmologia de Anaximandro chega ao seu ponto alto. O ápeiron, como arché da phýsis, será a definição apropriada em substituição àquela que postulava ser, como elemento perceptível98, o princípio de todas as coisas. Se a phýsis amalgamou em seu núcleo todos os elementos naturais e supranaturais, conforme a descrição de Tales e Anaximandro, “a noção de não perceptível”, segundo Guthrie, traduz quase com exatidão a noção divina de ápeiron.


98 AQUI, ELEMENTO PERCEPTÍVEL SIGNIFICA: ÁGUA, TERRA, AR E FOGO; OU SEJA, LÍQUIDO, SECO, ÚMIDO E QUENTE.

De fato, quais serão os atributos que corroboram essa noção de divino presente no ápeiron? Não obstante tratarmos minuciosamente dessa questão em um tópico específico nas páginas a seguir, serão ilustrados, neste intróito, alguns significados que a tradição grega atribuiu ao ilimitado:


O Infinito de Anaximandro pode estar relacionado aos seus interesses astronômicos baseados na Mesopotâmia por ser esférico ou circular; além de seu significado como “indefinido”, apeiron em grego também tem o significado de “anel” ou “círculo”, uma vez que o círculo é uma linha ilimitada, uma linha sem começo nem fim.


Thomas Mcevilley, no tocante à influência oriental e suas nuanças, que teriam influenciado os primeiros físicos jônicos, levou a cabo, num estudo comparativo entre o pensamento grego e a remota cultura do Oriente, a noção de infinito descrita por Anaximandro. O autor está cônscio de que a noção de infinito, atribuída ao ápeiron no sistema do milésio, evoca a noção de ciclo cósmico da remota civilização mesopotâmica, sobretudo, a noção de infinitude divina existente nos quadros mentais egípcios e indianos.


A descrição tomada por Mcevilley, na qual o ápeiron, cujo significado em grego, está para além de indefinido, ajusta-se ao modelo geométrico – círculo – símbolo do infinito, o qual é homólogo à falta de limites da esfera. Pelo que demonstraram as investigações do autor, aquela noção de divindade que os gregos atribuíram à esfera e, de acordo com Guthrie, também assumida por Xenófanes, corresponde estreitamente à noção divina intrínseca ao círculo, o qual abarcava a noção de geração e destruição conforme a remota religiosidade oriental.


Na esteira de Mcevilley, Mircea Eliade empreendeu uma investigação na qual atestou a proximidade dos quadros mentais do oriente com a sentença de Anaximandro, testemunhada por Simplício – “Todas as coisas se dissipam onde tiveram a sua gênese […]”.


Com efeito, Eliade parte de pressupostos entre os quais o excerto testemunhado por Simplício trata-se de um ciclo cósmico similar ao contemplado na tradição indiana. Quanto à investigação de tais ciclos, sobretudo no que se relaciona à geração e destruição das coisas, dirá Eliade “Devemos começar pela tradição indiana, pois foi ali que o mito do eterno retorno recebeu sua mais corajosa formulação. A crença na periódica destruição e criação do universo já pode ser encontrada no Atharva-Veda”. Outrossim, ao que demonstra Eliade, a infinitude cíclica contemplada por gregos e orientais é, portanto, inerente à noção de divino em ambas as culturas, conforme sugeriu o fragmento supracitado, de Simplício. Nesse sentido, quanto ao mito do eterno retorno e sua estreita correspondência com o ápeiron, dirá o autor: “Este mito ainda podia ser encontrado nas primeiras especulações pré-socráticas. Anaximandro sabe que todas as coisas nascem e retornam ao apeiron”.


A partir das considerações assinaladas por Mcevilley e Eliade, os quais descreveram o mito do eterno retorno como um ciclo divino, presente na tradição grega e oriental, conclui-se que, em virtude da originalidade religiosa grega, Anaximandro foi influenciado pelas narrativas homéricas e hesiódicas, que fundamentaram o pensamento religioso pré-filosófico. Por isso, a partir desses pressupostos, as linhas a seguir pretendem investigar o núcleo da cosmologia simétrica de Anaximandro, a saber: o ápeiron, no qual toda a phýsis foi convergida a partir do termo original – arché.


Enfim, mediante esses atributos inexauríveis e axiais da cosmologia do milésio, em suas órbitas, as próximas linhas percorrerão os caminhos pelos quais Anaximandro fundamentou seu sistema filosófico harmônico e simétrico. É o que se ensaiará nos subcapítulos a seguir.


No início do percurso sobre a origem e a natureza do universo em Anaximandro, uma pluralidade de investigações, como tem demonstrado a história da filosofia grega, surgiu, devido à complexidade das questões – arché e cosmologia – inerentes ao pensamento dos primeiros físicos jônicos, especialmente Anaximandro.


Noção de Arché na Cosmologia Simétrica de Anaximandro

Diante dessas questões, entende-se que o pensamento racional foi inaugurado imbricado na investigação versada sobre a arché da natureza, uma das vias cujo ponto de chegada é a cosmologia simétrica de Anaximandro. Entende-se que a harmonia e a simetria, apanágios da razão, foram determinantes no princípio dessa organização cósmica. Pois:


El nacimiento de la filosofía en Europa consistió, por tanto, en el abandono, a nivel de pensamiento consciente, de soluciones mitológicas para los problemas que atañen al origen y a la naturaleza del universo y a los procesos que continuaron desarrollándose en él.


O pensamento de Tales de Mileto ajusta-se perfeitamente ao modelo de investigação que, como notou Guthrie, inaugurou o pensamento filosófico europeu. Quanto a isso, a tradição que o sucedeu lhe será tributária. Igualmente, “El nombre de Tales gozó siempre de gran consideración entre los griegos como el de un sabio y científico ideal. […]”.


Contudo, por que a harmonia e a simetria não foram notadas por Tales e, incluídas em sua investigação cosmológica? Tales, tradicionalmente, possuía um refinado conhecimento matemático e geométrico. O filósofo, ao contrário de Anaximandro, antes de ir para Mileto teria contemplado as colossais pirâmides egípcias, construídas a partir de um conhecimento geométrico. De acordo com Proclo, “Tales, tendo ido primeiro para o Egito, transferiu este estudo [a geometria] para a Grécia…”.


Por que Tales, provido de conhecimentos matemáticos e geométricos pertinentes à justa medida, à simetria, operou sua cosmologia a partir de um arquétipo material, a saber: a água? A harmonia e a simetria, ao que demonstra a doxografia talesiana, não foram notadas, sequer ocuparam lugar de destaque na cosmologia do milésio. Isso, portanto, constitui-se um fato assaz curioso, uma vez que o filósofo era um exímio matemático, acima de tudo, geômetra.


Certamente, a conclusão do milésio – aquela que sustentou ser a água a arché da phýsis – tem a ver com o fato de ter ignorado a esfericidade da terra. Como afirma Guthrie, as previsões eclípticas de Tales seriam mais precisas, não fosse o conhecimento esférico da Terra lhe ter faltado.


Embora esse aparente lapso não tire o mérito de Tales, por ter sido ele o primeiro fisiólogo a empreender uma investigação cosmológica a partir da própria natureza, será Anaximandro, seu discípulo, o fisiólogo sempre lembrado por ter empreendido uma investigação sobre a natureza a partir de uma nova tese, um modo excelente, no qual, filosoficamente, ultrapassou Tales. Note-se:


Agora tudo se desenrola à volta das teses e dos pensamentos de homens individuais que se exprimem pela escrita, na forma de livros dirigidos a um público leitor crescente. Aparecem textos com formas e conteúdos nunca antes existentes. O novo é incomparável ao velho. A filosofia começa com o livro escrito em prosa. […] No livro de Anaximandro, em princípio, já está esboçado o modelo do universo que permanece determinante até à revolução copernicana […].


A superação do sistema filosófico talesiano pelo anaximandrino, de acordo com Burkert, vai além da percepção simétrica e esférica ignorada por Tales. O autor salienta, além do modelo cosmológico revolucionário de Anaximandro, o modo com o que Anaximandro abrangeu em um livro escrito em prosa, todos os elementos constituintes da sua noção de arché. A opinião de Burkert, portanto, lança luzes sobre o novo modo de se exprimir teses quanto à cosmologia milésia, ou seja: o modo da escrita em prosa, criado por Anaximandro.


Se, por um lado, a explicação cosmológica talesiana sobre o elemento primeiro tornou-se rudimentar, frente à refinada cosmologia inaugurada por seu discípulo, por outro lado, atribuir o nascimento da filosofia à escrita do primeiro livro em prosa – cujo autor, pela tradição, é Anaximandro – pode ser um exagero ou um preciosismo por parte de Burkert.


Quando Guthrie destacou o problema entre os primeiros fisiólogos relativamente à arché, atribuindo o nascimento da filosofia a esse tipo de investigação, o autor partilha o mérito da investigação filosófica entre os primeiros físicos, os quais pretenderam dizer qual seria a arché cosmológica. Nesse sentido, portanto, Tales de Mileto parece ter uma primazia razoável.


O debate propenso a articular, por meio da historiografia pré-socrática, um consenso quanto a quem teve o mérito de inaugurar a filosofia na Jônia, deve estar cônscio que tal empreendimento versará sobre intrincados testemunhos, os quais consideramos como fósseis da filosofia pré-socrática.


Ademais, esta pesquisa, na esteira de Diógenes Laércio e Guthrie, é solidária à tese de que o termo – precursor – traduz o significado da relação discípulo/mestre, notadamente no caso de Tales e Anaximandro. O testemunho de Diógenes coaduna com a opinião exposta neste trabalho, o qual não considera a hipótese de emulação entre o pensamento talesiano e anaximandrino:


Diógenes Laercio dice que la filosofía jonia surgió con Anaximandro, pero que Tales, “un milesio y, por ello, un jonio, instruyó a Anaximandro”. Hay mucho que decir sobre la opinión de este compilador tardío, según la cual, tal y como nosotros la conocemos, Tales debe ser considerado como precursor y Anaximandro, como creador del primer sistema filosófico del que tenemos noticia.


Os motivos pelos quais Guthrie se apoia em Diógenes são, portanto, justificáveis. Diógenes Laércio, de cuja vida a tradição historiográfica pouco sabe, ao opinar sobre a filosofia milésia e seus precursores, certamente comparou o ambiente filosófico vivido na Academia platônica e no Liceu de Aristóteles com aquele vivido por Tales e Anaximandro. Essa hipótese apoia-se na máxima citada anteriormente: instruiu Anaximandro.


Nota-se que o verbo grego, instruir, é homólogo ao verbo grego ensinar, no infinitivo impessoal didásko, o que, em geral, circulava no ambiente acadêmico. Essa conjetura se baseia na noção de philía – amizade – como princípio básico da relação entre discípulo e mestre.


Essa noção, conforme assinalou Cornelli, se sobressaiu nos primeiros discursos de Pitágoras. A philía incorporava todos os atributos pertinentes à fidelidade entre os amigos, amigos do saber, logo: filósofos – philósophos. Esse tema, de acordo com Cornelli, era intrínseco à filosofia reinante nas comunidades pitagóricas, que obedeciam à ética da philía.


Com efeito, conforme comentado no capítulo segundo sobre A Jônia de Anaximandro e a Itália Pitagórica, a proximidade dessas duas escolas permitiu aos milésios o contato com a noção de philia do pitagorismo, florente na Itália do sul. Observa-se que os termos instruir e precursor, testemunhados por Diógenes Laércio são, portanto, termos comuns à época do Liceu e da Academia de Platão. Foi nesse ambiente entre amigos que Anaximandro teria, sem dúvida, recebido as primeiras instruções de seu mestre, Tales.


Porém, se a tradição atribuiu a Anaximandro o mérito de ser o primeiro filósofo a mencionar o termo arché à substância originadora, como deverá ser entendida essa questão, visto a arché, em Tales de Mileto, ser a Água? Esse problema parece ter sido causado por Aristóteles, quando ele se propôs a empreender sua investigação quanto à causa material no pensamento dos primeiros sábios. Nota-se:


Dos primeiros filósofos, a maioria considerou os princípios de natureza material como sendo os únicos princípios de tudo que existe. Aquilo de que são constituídas tôdas as coisas, o primeiro elemento de que nascem e o último em que se resolvem […], a isso chamam êles o elemento e o princípio das coisas, […]. Tales, o fundador dêste tipo de filosofia, diz que o princípio é a água (por êste motivo afirmou que a Terra repousa sôbre a água), […] ora, aquilo de que originam tôdas as coisas é o princípio delas.


É mister, antes de discorrer o problema sugerido por Aristóteles sobre a arché em Tales, voltar a uma das primeiras questões contempladas aqui, neste sub-tópico. Inicialmente, foi perguntado: Por que Tales, provido de conhecimentos matemáticos e geométricos pertinentes à justa medida, à simetria, operou sua cosmologia a partir de um arquétipo material, a saber: a água? Em que pese a contribuição de Guthrie, ao assinalar que esse problema seria um dos resultados da ignorância de Tales quanto à esfericidade da Terra, a noção de simetria não foi contemplada já que não era este o tema que interessava Aristóteles quando fez remissão à filosofia pré-socrática.


Desde o início de sua análise sobre os fisiólogos, de acordo com David Ross, Aristóteles já havia postulado qual seria a natureza, o conteúdo do qual ter-se-iam engendrado todas as coisas. Na Física, o estagirita nomeou tais princípios naturais como: causa material, formal, eficiente e final. Nessa linha, corrobora David Ross: “Daí, [Aristóteles] passa a testar a exatidão da sua análise verificando se os filósofos anteriores descobriram outras espécies de causas além destas quatro”.


A conclusão de Ross, portanto, demonstra que a intenção de Aristóteles, remetendo aos primeiros filósofos, não era outra senão justificar o seu próprio sistema filosófico causal. A partir dessa, e sobretudo das advertências de Dirk Couprie quanto ao “jargão aristotélico” observado na historiografia pré-socrática, é possível afirmar que Aristóteles tivesse contaminado o pensamento talesiano, ocultando em seus testemunhos, a noção de simetria e justa medida? Afinal, não era esse o tema (simetria, harmonia e proporção) sobre o qual Aristóteles se propôs a tratar na Física, conforme notou Ross. A água, princípio material em Tales, seria mais conveniente aos propósitos da causa material, investigada pelo estagirita? Segundo Kirk, Raven e Schofield, sim. Segundo os autores, esse tema (a água) ajustou-se à ideia aristotélica de uma arché material.


Retomando a questão – arché em Tales – problema suscitado por Aristóteles, a partir de agora as considerações precedidas servirão como fundamentos nos quais se questionará o porquê de Aristóteles ter conferido a Tales o título de o primeiro filósofo a empreender uma investigação sobre o fundamento primeiro da phýsis.


O excerto da Metafísica em voga, contempla a descrição de Aristóteles e, logo, o problema levantado por ele ao afirmar que o princípio de todas as coisas era a investigação principal entre os primeiros filósofos.


Se a noção de arché foi inaugurada por Anaximandro, conforme narrou Simplício, até que ponto esse testemunho será válido, visto que Aristóteles considerou, na Metafísica, Tales de Mileto como o fundador desse tipo de investigação? O problema parece avolumar-se à medida que Kirk, Raven e Schofield, assim como Burnet, posicionam-se favoráveis a Aristóteles. Os autores, assim, iniciam a discussão sobre a arché, subordinados à pergunta: “Anaximandro chamou ἀρτή à substância originadora”?


Embora a pergunta citada, não contenha a palavra – primeiro – a qual modificaria o seu sentido, levando a crer que Anaximandro teria sido o primeiro a chamar ἀρτή à substância originadora, a pergunta inclina-se, segundo Kirk, Raven e Schofield, a uma resposta na qual será discutível se Anaximandro utilizou de fato, pioneiramente, o termo arché para nomear a substância originária. Trata-se de uma investigação na qual os autores, concordando com Burnet, analisaram exclusivamente um excerto de Simplício, ignorando o outro.


Nos dois discursos de Simplício, os quais serão notados a seguir, não obstante o autor estar comentando Aristóteles na Física, nos dois casos o termo grego – prõtos cujo significado é primeiro, comparece em ambos os fragmentos remontando aos feitos de Anaximandro.


No primeiro caso, Kirk, Raven e Schofield passam em revista o fragmento de Simplício no qual, segundo os relatos de Teofrasto, assinalou: “Anaximandro de Mileto, filho de Praxíades, sucessor e pupilo de Tales, disse que o princípio e elemento das coisas que existem é o ápeiron, [indefinido ou ilimitado], tendo sido ele o primeiro a introduzir este nome do princípio material”.


Nesse fragmento, a resposta a essa pergunta (Anaximandro chamou ἀρτή à substância originadora?) parece ser afirmativa. Tiraram eles essa conclusão fundamentados na opinião de Burnet sobre o que realmente Teofrasto queria dizer:


Burnet, contudo, defendeu a opinião de que Teofrasto disse simplesmente que Anaximandro foi o primeiro a chamar o princípio material (ἀρτή no sentido peripatético normal) pelo nome de ηὸ ἄπεηρολ, sem outra qualificação. É este, certamente, o sentido mais óbvio do extrato de Teofrasto, 101 A, ao passo que em 101 B ηοῦηο provavelmente se perdeu por haplografia antes de ηοὔλοκα.


O comentário de Burnet citado pelos autores, contribuiu substancialmente para aproximar, ao pensamento moderno, o que de fato Simplício queria dizer. É mister lembrar que a tradição considera Simplício um dos principais comentadores de Aristóteles; portanto, o mérito de Burnet está em sua investigação que abarcou esses consagrados autores do mundo antigo, a saber: Aristóteles e Simplício.


Diante disso, no campo das hipóteses, entendemos que a inferência de Burnet vem corroborar o sistema aristotélico causal, que Aristóteles postulava, desde o início, a respeito da investigação dos primeiros físicos.


Essa hipótese, portanto, nasce a partir do que assinalou Kirk, Raven e Schofield supracitados, concernente à intenção pela qual Teofrasto testemunhou sobre a arché. Ao qualificar as afirmações de Teofrasto como sendo um testemunho no sentido peripatético normal, Kirk, Raven e Schofield, cada vez mais, alargam a distância entre o leitor e o pensamento de Anaximandro.


Se, por um lado, Kirk, Raven e Schofield, na esteira de Burnet, evocam a cosmologia do milésio, certos de que Teofrasto não disse que Anaximandro foi o primeiro a introduzir o termo arché – mas que ele teria sido o primeiro a chamar a arché pelo nome ápeiron – por outro lado, o testemunho dos autores torna-se discutível, dado que o princípio material operado no fragmento em voga é uma categoria desconhecida por Anaximandro.


Com efeito, a opinião de Kirk, Raven e Schofield quanto ao elemento primeiro possui as lentes de Aristóteles e não as de Anaximandro. A noção de arché na cosmologia do milésio não é homóloga àquela do sistema causal aristotélico. De Anaximandro a Aristóteles, abriu-se uma lacuna de cerca de trezentos anos sobre a investigação cosmológica, motivo pelo qual toda conclusão a respeito do princípio material nesse período será tributária a Anaximandro.


Quando o milésio qualifica a natureza da substância originadora como sendo indefinida ou ilimitada, essa era a melhor definição para além de uma natureza material vigente desde Tales.


É, portanto, prudente lembrar que a opinião de Kirk, Raven e Schofield na esteira de Burnet, pela qual Teofrasto não teria designado Anaximandro como o primeiro filósofo a usar o termo arché entre seus contemporâneos, também está no campo das hipóteses. Não obstante a inferência de Kirk, Raven e Schofield estar de acordo com o fragmento de Simplício em foco, conferindo ao milésio o feito de ser o primeiro fisiólogo a chamar ápeiron a arché, os autores, ao contrário da maioria dos críticos modernos, limitam-se apenas ao primeiro excerto de Simplício.


Nesse sentido, finalmente, o testemunho de Aristóteles no qual favoreceu Tales de Mileto como sendo o primeiro físico a empreender uma investigação sobre a arché, corroborou a hipótese argumentada por Burnet e Kirk, Raven e Schofield na qual insinuaram que Tales poderia ser o primeiro físico a utilizar o termo arché na investigação cosmológica pré-socrática.


Entretanto, nunca é demais lembrar que, ao remeter à investigação feita por Tales, Aristóteles está se debruçando sobre noções materiais causais díspares da noção de physis investigada tanto por Tales quanto por Anaximandro.


Conforme se notou até agora, o primeiro discurso de Simplício justifica a hipótese de Kirk, Raven e Schofield, pela qual Anaximandro não teria sido o primeiro a usar o termo arché, mas que teria sido o primeiro a chamar arché pelo nome de ápeiron. Como consequência dessa hipótese, surge obviamente um problema adicional a ser enfrentado, qual seja, o uso do termo arché como tendo sido criado por Anaximandro.


Na sentença de Simplício, a seguir, há indícios que mostram Anaximandro não apenas sendo o primeiro a designar a substância primeira como sendo infinita ou ilimitada, mas também como o primeiro filósofo a utilizar o termo arché. Nota-se:


“Anaximandro disse que os opostos estavam no substrato, que era um corpo infinito, e que eles são extraídos dele; ele foi o primeiro a chamar o substrato um princípio”.

Não obstante o excerto supracitado resolver o problema da ambiguidade de interpretação presente em Simplício conforme notado por Kahn, o fragmento ainda não convence Kirk, Raven e Schofield de que Anaximandro seria o precursor da investigação cosmológica a partir do termo arché. Os autores ignoraram o fragmento, argumentando estar diante de um comentário no qual Simplício tornou difícil o entendimento do termo arché.


Simplício, que segundo a tradição doxográfica leu os pré-socráticos, ao comentar Teofrasto, teria-se equivocado sobre a arché em Anaximandro? Ao que demonstram Kirk, Raven e Schofield, sim. Nota-se:


É possível, evidentemente, que Simplício tenha interpretado erradamente o comentário de Teofrasto acerca de ἀρτή e ἄπεηρολ […] Parece, todavia, provável que em Teofrasto não se sugere nenhum emprego técnico de ἀρτή por parte de Anaximandro – o emprego a que ele se referiu foi o de ηὸ ἄπεηρολ.


O equívoco de Simplício na Física, como concluíram Kirk, Raven e Schofield, e também Burnet, certamente tem conexão direta com o primeiro excerto no qual, Anaximandro teria operado sua cosmologia na órbita do ápeiron, não da arché. Por outro lado, Teofrasto já havia, segundo o fragmento de Simplício, empregado a palavra arché ao falar sobre a cosmologia de Tales, o que para os autores, seria o momento oportuno para Simplício consagrar Anaximandro como o criador do termo, porém não o fez.


Entretanto, tais conclusões não podem, consoante os autores supracitados, resolver definitivamente esse problema. Ao contrário do que já foi dito até agora, a análise empreendida por Kahn nos dois fragmentos de Simplício, demonstra estreita concordância doxográfica com os fragmentos assinalados por Hipólito, os quais testemunharam a respeito da arché no pensamento de Anaximandro.


De acordo com as investigações levadas a cabo por Kahn nas colunas A e B, onde a primeira reúne fragmentos compilados por Simplício, e a segunda, por Hipólito, o problema parece estar na órbita do pronome demonstrativo neutro – toûto – esse, o qual comparece nos fragmentos de Simplício, mas ausenta-se em Hipólito. “[…] a omissão de ηοῦηο[em Hipólito], e a substituição de θαιέζας por θοκίζας, está claramente como uma lectio difficilior”. Nota-se:


Isso é um antigo e contínuo tema de controvérsias: se a frase πρῶηος ηοῦηο ηοὔλοκα θοκίζας ηῆς ἀρτῆς refere-se à palavra ἀρτή nela mesma, ou se está antecedendo imediatamente ἄπεηρολ. Devemos entender que Anaximandro foi o primeiro a introduzir “este mesmo termo de ἀρτή”, ou “este nome ἄπεηρολ para a ἀρτή”? Ambas as construções podem ser, e têm sido, defendidas.


Kahn, conforme supracitado, evocou a pergunta recorrente nos argumentos de Kirk, Raven e Schofield, a do emprego da palavras ápeiron e arché na cosmologia simétrica de Anaximandro. A ambiguidade na qual está submersa o excerto de Simplício e os argumentos corroboradores das interpretações contrapostas desse fragmento, como notou Kahn, são alguns indícios que demonstram a imortalidade do pensamento de Anaximandro na tradição doxográfica.


Por fim, ao empregar o pronome demonstrativo neutro toûto – esse – a que Teofrasto estaria fazendo remissão: ao ápeiron ou à arché? Conforme observou Kahn “Deve-se admitir que a evidência puramente gramatical determine uma prima facie para o caso da palavra ηὸ ἄπεηρολ”. Igualmente, na coluna B, quando Hipólito mencionou pela primeira vez ápeiron, conforme apontado por Kahn, ele iniciou a sentença com o nominativo masculino oûtos – esse – que é uma sentença equivalente a toûto – esse – recorrente em Simplício. Tais indícios gramaticais, portanto, apontam Simplício e Hipólito dizendo que Anaximandro foi o primeiro a chamar ápeiron a arché. Porém, na opinião de Kahn “tal evidência não pode ser decisiva aqui”.


Por que essa evidência gramatical, segundo Kahn, não resolveu o problema da ambiguidade de interpretação em torno do princípio material na sentença de Simplício e Hipólito? O exame realizado por Kahn, nessa questão, está para além do olhar filológico gramatical pelo qual a doxografia dos textos antigos, sobretudo pré-socráticos, estabeleceu como confiáveis ou canônicos.


O autor, quanto a isso, é conhecedor de que a acessibilidade dos textos antigos é possível graças à filologia, por meio da qual se investigaram os testemunhos dos primeiros milésios. Todavia, a eficácia de tal investigação torna-se questionável, caso o testemunho de outros filósofos e doxógrafos contemporâneos, ou textos que se incluam no mesmo tema sejam descartados como autoridades que permitam outro olhar sobre a questão. Pois:


Tais paralelos poderiam mostrar que ηοὔλοκα ηῆς ἀρτῆς é uma possível referência à palavra ἀρτή, mesmo não sendo a frase a que esperamos. E a ambiguidade em torno dessa expressão é, penso eu, definitivamente resolvida por duas outras passagens em Simplício, as quais mostram que ele mesmo compreendeu isso para referir-se ao termo ἀρτή. A primeira indicação disso está nas palavras que seguem imediatamente: ιέγεη δ‟ αὐηὴλ κήηε ὕδφρ κήηε ἄιιο ηη … εἶλαη, onde αὐηὴλ deixa claro que é a palavra ἀρτή, não ἄπεηρολ, que está predominante na mente de Simplício (e na de Teofrasto, se seu texto estiver fielmente copiado aqui). Além disso, quando Simplício retorna mais tarde à doutrina de Anaximandro, sua sentença é inequívoca: πρῶηος αὐηὸς ἀρτὴλ ὀλοκάζας ηὸ ὐ ὑποτείκελολ.


A opinião de Charles Kahn é a mais razoável diante da questão tratada quanto à arché. Ao contrário do que já foi dito por Kirk, Raven e Schofield supracitados, Kahn se alinhou com Simplício, embora isso não seja unanimidade entre outros autores, considerando que a questão primordial tratada por Teofrasto em todo o fragmento não era o ápeiron, mas a arché.


Ao ilustrar o fragmento 150.23 da Physis, no qual Simplício assinalou como sendo Anaximandro o primeiro filósofo a nomear o substrato dos contrários como arché, Charles Kahn, na esteira de Guthrie recorre a outro escrito no qual Teofrasto, ao que parece, tratou sobre a arché em Anaximandro, sem dar margens para dupla interpretação.


Diante desse problema e da imersão doxográfica nos textos gregos antigos da época, não pretendemos emitir juízos interpretativos extrapolando o que os autores, aqui citados, emitiram ao longo da Historia da Filosofia Antiga.


Realmente, é necessário lembrar que a arché foi, dentre a cosmologia de vários filósofos pré-socráticos, objeto de investigação pelo qual se marcaram seus sistemas filosóficos. Todavia, em se tratando do sistema cosmológico pioneiro de Anaximandro, não apenas a arché, como também, seguramente, o termo ápeiron foram introduzidos por Anaximandro na discussão filosófica.


Coadunando com as investigações efetuadas por Kahn, Guthrie notou que a investigação de Aristóteles em torno da arché e, posteriormente endossada por Teofrasto, era uma prática comum entre os primeiros milésios. Entretanto, o que se deve questionar, é se Aristóteles empregou o termo em seu sistema causal no mesmo sentido utilizado por Anaximandro ao referir-se ao ápeiron e à arché.


Por um lado, se a linha da investigação do elemento primeiro se sustenta no que propôs Aristóteles a respeito da causa material, a noção de arché não será outra senão a própria noção da materialidade. Por outro lado, para além das causas materiais propostas pelo estagirita, a noção de arché em Anaximandro ultrapassa toda a noção de phýsis perpetuada no sistema aristotélico.


Ora, afinal, antes de Aristóteles empreender suas investigações sobre o sistema causal, a cosmologia simétrica pautada pela equidistância da Terra em relação às extremidades do cosmos já havia sido instaurada por Anaximandro. De acordo com o milésio, é de se presumir que, a justa medida da qual a phýsis fazia parte, não admitiria um princípio no qual os elementos se sobrepõem uns aos outros. Assim, nenhum dos elementos contrários ou forças litigantes intrínsecas às phýsis obtém vitória completa ou final. Pelo contrário, em Anaximandro, essas forças da natureza vão se mantendo.


A noção de arché – princípio ilimitado e infinito – seria para Anaximandro uma negação de uma noção material para a composição da phýsis? A resposta, certamente, está envolvida na remota possibilidade de ler Anaximandro sem as lentes com as quais Aristóteles examinou os pré-socráticos.


Los Solsticios Masónicos


Si hay un festejo universal en que todos los masones del mundo celebran al mismo tiempo es el de las fiestas de San Juan Bautista y de San Juan Evangelista, patronos de la Masonería, celebrados ritualmente en los solsticios de invierno y de verano, en el hemisferio sur, respectivamente.


Pero, ¿qué es un Solsticio? Mirando el Sol desde la Tierra, en una mirada geocéntrica, que es como en realidad se ven los astros y como recibimos su influencia, el Sol, además del paso diario del día y de la noche, tiene otro modo de moverse, que es viajar de sur a norte y viceversa. El 21 de diciembre el Sol cae a plomo sobre el Trópico de Capricornio en el hemisferio sur, y es el solsticio y comienzo del verano en ese hemisferio, cuando los días son más largos que las noches; de allí parte el rumbo hacia el norte, cruza el 21 de marzo el Ecuador y es el equinoccio de Otoño, cuando el día y la noche duran ambos 12 horas; sigue su viaje hacia el norte y el 21 de junio cae a plomo sobre el Trópico de Cáncer y es el solsticio y comienzo del verano en el hemisferio norte y del invierno en nuestro hemisferio sur; finalmente, de allí emprende el regreso nuevamente hacia el Ecuador, que cruza el 21 de septiembre, para venir a terminar su viaje el 21 de diciembre, otra vez, sobre el Trópico de Capricornio. Tal es la carrera norte-sur y sur-norte del Sol que determina las estaciones.


Solsticio, literalmente significa “el Sol quieto” o “que está quieto” porque es el momento cuando termina su carrera de sur a norte o de norte a sur. Es el instante inconmensurable cuando ya ha dejado de ir pero todavía no ha empezado a volver, cuando está quieto. Por eso ales lugares se llaman trópicos, de Capricornio y de Cáncer, cuando el sol ejecuta un tropos, palabra que significa giro, vuelta, porque es allí donde da vuelta y desanda su camino.


En el curso de un año el Sol pasa sobre nuestras cabezas 365 veces; pero la esfera de las estrellas ronda sobre nosotros 366 veces en el año, es decir, el cielo de las estrellas da una vuelta más. Este girar estelar fundamenta el llamado tiempo sideral, en el que un día dura menos de 24 horas. El Sol, a partir del 21 de marzo, recorre “para atrás” todos los astros que conforman el Zodiaco, y es el tercer movimiento del Sol. Por eso los antiguos observaban el horizonte oriental al alba y, determinando cuáles eran las estrellas que nacían antes que el Sol, conocían de esa forma con exactitud en qué época del año estaban y cuáles eran las estaciones; no necesitaban calendarios, lo tenían en las estrellas. Por eso no es raro encontrar pasajes en textos antiguos en los que se dice, por ejemplo: “cuando veas elevarse las estrellas del Boyero; “elevarse” se refiere a las estrellas que nacen, que “se elevan” en el este antes de salir el Sol.


Los Signos Zodiacales dentro del Templo


En el templo masónico los signos se distribuyen comenzando en Aries (inicio del año astronómico y espiritual) en el Oriente, donde reside el Venerable Maestro, y prosiguiendo, “hacia la izquierda”, hacia el Norte, pasando luego por Occidente y Sur para terminar en el Oriente, como muestra la siguiente imagen.

Las estaciones simbólicas, en cambio, circulan “hacia la derecha”, localizándose: al Oriente la Primavera, el verdor, el renacer de la vitalidad, la época de la Siembra; al Mediodía el Verano, la plenitud de la vida activa y del cuidado del campo; al Occidente el Otoño, el tiempo de la cosecha, del descanso, del placer, de recibir el justo salario del obrero; al Norte el gélido Invierno, cuando uno se queda al calor de la casa a la espera de la nueva Primavera.


La línea Este-Oeste, la de los equinoccios, representa el eje de la Acción, pues en el Oriente, secundado por su fiel ayudante, el Primer Vigilante, que está en el lugar opuesto y sobre la línea equinoccial, reside el Venerable, cuya función, reza el rito: ”abrir la Logia, emplear e instruir a los HH:. en la Francmasonería”. En cambio la línea del Sur-Norte es el eje iniciático, pues es en la columna del Norte donde se sientan los Aprendices que vienen del frío, del mundo profano, y donde, de la mano del Segundo Vigilante, serán llevados, según nuestro rito: “del trabajo al descanso y del descanso al trabajo, a fin de obtener provecho y placer”. Es el tiempo y el lugar donde, abandonando la cristalizada quietud del Invierno, hay que pasar a aprender, bajo la intensa Luz del mediodía, a mirar todas las cosas desde un nuevo punto de vista, con los propios ojos alertas a la realidad que se ofrece tal cual es, y que posiblemente nunca se haya mirado con atención.


Sobre esta línea Sur-Norte se extiende aproximadamente la Vía Láctea, donde se apiñan los astros hasta formar blancos lienzos compactos de estrellas. La Vía Láctea es nuestra galaxia vista de perfil desde la Tierra, y está formada por unas cien mil millones de estrellas, y siendo un disco que gira alrededor de un centro, posee un diâmetro medio de unos cien mil años luz, vórtice gigantesco que eternamente gira alrededor de su núcleo. En un rincón de su periferia reside nuestro Sol y, dentro del sistema solar, nuestra Tierra, que la mira con asombro y cuyos habitantes racionales son capaces de comprenderla, medirla y admirarse del orden y concierto de su inmensa gloriosa Geometría. Tamaña aglomeración de cuerpos lucientes no podía más que exaltar la imaginación de los antiguos, para quienes la bóveda celeste era familiar en sus observaciones y, a partir de la cual tomaban conocimiento del tiempo, de las estaciones, de su ecología que es vivir acorde con la Tierra y con el Cielo.


A la Vía Láctea también se la llamaba “Camino de Santiago”, por ser guía de los peregrinos en su ruta a Santiago de Compostela.


Cualidades de los Signos Zodiacales


Los signos de Aries, Cáncer, Libra y Capricornio, reciben el nombre de “Signos Cardinales”, son signos bisagra, cuando da vuelta el tiempo e inicia una nueva estación climática en la energía de su juventud.


Los signos de Tauro, Leo, Escorpio y Acuario se los denomina “Signos Fijos” o sólidos, porque en ellos la estación climática adquiere plenamente sus características y se mantiene estable durante toda la duración del signo. Son también los llamados Ángulos del Cielo o Los Vigías del Cielo, de importancia simbólica, porque es en estos lugares donde los arquitectos (Maestros Masones) ponían las cuatro piedras fundamentales de los edificios, y precisamente el signo de Tauro, el sólido y fecundo Toro, que está en el ángulo Noreste, lugar del Neófito, el recién iniciado, donde, reza el I Ching, “todo comienza y todo termina”. Por eso, cuando el Sol ingresa a la constelación (signo) de Tauro (entre abril y mayo) se tiene uno de los más grandes festivales espirituales universales, denominado “Festival de Wesak”, un festival viviente y de plena actualidad, donde el Buda desciende por unos instantes a nuestro Planeta, siendo recibido por su hermano, el Cristo y toda la Jerarquía Espiritual o Gran Logia Blanca Planetaria que le acompañan, además de los discípulos, aspirantes y personas de buena voluntad.


A los signos de Géminis, Virgo, Sagitario y Piscis son “Signos Mutables”, cadentes o decadentes, porque en ellos decae la estación, se desvanece de a poco para dar lugar a un signo Cardina o comienzo de una nueva estación. Se los llama también signos Dobles, porque en ellos hay una mezcla de momentos de la estación que termina y momentos de la estación que comienza.


Volvamos otra vez a hablar de los signos Tauro, Leo, Escorpio y Acuario, son los signos de los cuatro animales sagrados: el Toro, el León, el Águila (Escorpio en su sentido elevado es el Águila) y el Hombre (Acuario, el cultivador, el que vuelva el agua del cielo sobre la Tierra, tiene rostro de hombre).


Así la esfinge de Egipto pertenece la Eje Leo-Acuario, con cuerpo de león y rostro humano, que mira hacia la salida del Sol, es decir, hacia el Oriente donde se encuentra el V∴M∴. Así, el Toro alado de Babilonia pertenece al eje Tauro-Escorpio con cuerpo de toro y alas de águila.


Así los cuatro evangelistas: Marcos, Mateo, Lucas y Juan, se les atribuye respectivamente, los símbolos del León, el Toro, el Hombre y el Águila.


También la carta 21 (XXI) del Tarot, la carta del “todo está consumado”, “El Mundo” o de la Obra perfecta que realizan los MM∴MM∴ la mujer que lleva en sus manos la bolsa del tesoro sagrado y la vara de los deseos cumplidos, y que cruza sus piernas en señal de nobleza, está rodeada por estos cuatro animales. (El hombre está sustituido, en este caso, por un Ángel o Deva).


Los Festejos de los dos San Juanes


Son las fechas de los solsticios, cuando en la Masonería se realizan los festejos rituales de San Juan Bautista, en junio, y de San Juan Evangelista, en diciembre; únicos festejos universales de la Masonería, porque son de rito, y se celebran en todo el mundo masónico.


Dice el catecismo del Aprendiz:


P: ¿A qué logia perteneces?


R: A una venerable logia de San Juan.


P: ¿Por qué todas las logias se llaman “de San Juan”?


R: Porque los masones antiguos han elegido a San Juan Bautista y a San Juan Evangelista por patronos, cuyas fiestas se celebran en toda la masonería durante los solsticios (de invierno y de verano, en el hemisferio sur).


La costumbre es designar una Logia que se proponga para organizar y dirigir la fiesta: los masones se reúnen en un templo dispuesto para la cena; se abren los trabajos ritualmente y luego se suspenden para la frugal cena. Durante la comida se suceden palabras sobre la ocasión y brindis por las autoridades y por la hermandad. Terminada la Cena, se retoman los trabajos y se cierra la Logia, volviendo cada uno a sus quehaceres. De esta forma, festejaban los masones antiguos.


Las Puertas Esotéricas Solsticiales


Muy apropiadamente y desde muy antiguo, los extremos solsticiales fueron llamados simbólicamente “Puertas”; Puerta de los hombres, al solsticio de Cáncer; Puerta de los Dioses, al de Capricornio. Son puertas, aberturas que comunican con mundos metafísicos, sitios de tránsito desde otras dimensiones (puertas interdimensionales o multidimensionales), del ignoto lugar de donde vienen las almas nuevas cuando reencarnan otra vez, los nuevos hombres, del desconocido lugar de donde bajan las inspiraciones divinas, los dioses, los Salvadores, los imprescindibles para que las Puertas del Infierno no prevalezcan, para que la sal no pierda su sabor, para que haya sal, para terminar con las medianías, para recibir esa piedad que los seres humanos, que vivimos a tientas entre tantas luces y oscuridades, necesitamos.


La Puerta de los Hombres – Solsticio de Invierno – San Juan Bautista


Esta puerta está bajo la advocación de la figura de Juan el Bautista, el asceta del desierto que pregonaba la conversión, según relata el Evangelio de San Lucas:


Y vino por toda la tierra alrededor del Jordán, predicando el bautismo del arrepentimiento para remisión de los pecados, como está escrito en el libro de las palabras del profeta Isaías:


Voz del que clama en el desierto,

Preparad el camino del Señor;

Enderezad sus senderos,

Todo valle será rellenado,

Todo monte y cerro allanado.

Los caminos torcidos serán enderezados

Y los escabrosos igualados.


§

El hacha está ya a la raíz;

Todo árbol que no de buen fruto

Será cortado y arrojado al fuego.


De modo que la puerta de los hombres, en especial de los Masones, no es solamente de ingreso, sino también, y en oposición complementaria con la Puerta del Cielo, la preparación imprescindible para la liberación de los hijos de la Luz.


Conocimos en el mazo y el cincel la tarea ineludible de desprenderse uno mismo de toda indignidad y de toda ignorancia, a fin de que de adentro surgiera la fuente original de felicidad y conocimientos. Pero ahora se amplía la imagen, porque se habla de rellenar los vacíos de la ignorancia y de las perversiones, de abatir las cumbres del orgullo, de la soberbia y de la ambición, a fin de preparar el único y expedito camino posible a las inspiraciones de lo alto.


San Juan Bautista es la figura implacable de todos los desvíos: como buen masón, diríamos, no se permite desfallecimientos, y, cuanto tuvo que reprochar la conducta del rey que había usurpado el trono y llevado a la corrupción, no vaciló, aún sabiendo que su conducta, necesariamente, lo llevaría a la muerte. ¡Qué imagen notable!¡Qué firmeza y dignidad!¡Cuán soberana libertad, y por sobre todas las cosas, qué gran seguridad de conocer el preciso destino del momento!Ese es nuestro Patrono del Solsticio de Invierno, San Juan Bautista.


Todo M∴M∴ conoce la necesidad de hallar la palabra perdida; pues bien, este Juan, consciente de su vocación, es un claro ejemplo de haberla encontrado y de tener aquella abundancia del corazón necesaria para que hable la boca.


Es una figura desencarnada, más allá del aprendizaje y del estudio, un verdadero Maestro trascendente que ya ha superado la Muerte, pues no le preocupa ni le importa su propio sacrificio.


Su mensaje es urgente para nosotros, masones del siglo XXI: “ya está el hacha a la raíz”, no hay tiempo que perder, hay que hacer lo que vinimos a hacer, y hay que hacerlo ahora.


Su mensaje es oportuno: dice lo que el pueblo está deseando que alguien diga porque ya está harto de tanta vulgaridad; de allí proviene su éxito en atraer a los que están sedientos de orden y disciplina. Porque el caos se hace solo, las cosas abandonadas pierden su identidad y se confunden, las jerarquías, reinados y gobernantes desaparecen. Hay quienes creen que el mimetismo con la vulgaridad, los modos laxos y simpáticos pueden salvar. Pero es un error, o mejor, una ambición, porque en el fondo esconde el deseo de ganar, sea dinero, posición o poder, como se puede ver en todas las instituciones que aflojan sus principios y costumbres. La palabra hallada es la que se está esperando, la que lleva el vacío de los corazones, no la que intensifica la podredumbre. La astucia iniciática está en que esto se comprenda.


Por ello, la figura de San Juan Bautista hade se siempre venerada, reconocida, entendida y, por cierto, imitada por todos los masones. Su estatura es inmensa, es un héroe, un gigante, un sembrador, intransigente, pleno de amor, feliz en su desierto y en su pobreza, porque se ha hallado a sí mismo y, de nuevo, hace lo que tenía que hacer y para lo que había nacido.


La Puerta de los Dioses – Solsticio de Verano – San Juan Evangelista


La Iglesia Católica, que previamente festejaba la Natividad cerca de donde está hoy la fiesta de los Reyes Magos, así como hizo con otros festejos paganos, suplantó el culto a Saturno y las Saturnales, que, dicho sea de paso, ya habían degenerado hasta casi lo imposible, por la fiesta del nacimiento del Maestro Jesús, el descenso de un nuevo Avatar para la Puerta de los Dioses, y acumuló allí todos los aspectos de paz y armonía que tenían las antiguas celebraciones.


El patrono es ahora Juan el Evangelista, aquél que comenzó su escrito contenido en el Volumen de la Ley Sagrada con el solemne himno:


En el Principio era el Logos

Y el Logos era junto a Dios,

Y el Logos era divino:

Desde el principio era junto a Dios.

Todas las cosas fueron hechas por Él,

Y sin Él nada fue hecho.

Y lo que fue hecho era Vida en Él,

Y la Vida era la Luz de los Hombres.


Y terminando, para intensificar el sentido de esta puerta del Cielo, decía:


Y el Logos se hizo carne,

Y habitó entre nosotros,

Y vimos su Gloria,

Gloria como Unigénito junto al Padre,

Lleno de Gracia y Verdad.


Como los dos Pilares que escoltan la entrada del Templo Masónico, como el tema fundamental de la Masonería, vemos aquí repetida la dualidad Virtud-Sabiduría como inseparables e indispensables una a la otra para la efectiva realización personal y social, porque el Logos o Razón o sentido do Verbo de todas las cosas, venido del Cielo, era Vida y era Luz, y estaba lleno de Gracia y de Verdad. Por donde descubrimos la armonía existente entre el Micro y el Macrocosmos, entre el Masón y el Gran Arquitecto Del Universo, entre el Hombre y la Naturaleza Universal, ya que desde nuestro interior, innata, está la doble energia que busca el Bien y la Felicidad, que corre tras la Bondad y la Comprensión y, a su vez, en perfecta armonía y correspondencia, del Cielo le viene una colaboración doble de Vida y Luz para los mismos objetivos.


Cuando se inician los trabajos en Logia y al terminar la apertura de la misma, sobre el Ara se abre el llamado VLS, que puede ser el de cualquier religión o creencia, con tal que sea un libro sapiencial, y que habitualmente, en los países de tradición judeocristiana, es la Biblia, de la cual proviene mucho del simbolismo masónico. En el grado de Aprendiz, según costumbres de algunos Ritos, se abre la Biblia en la primera página del evangelio de San Juan Evangelista, lo que testimonia cuan apreciado es este evangelio para los masones, y los que no abren sus trabajos de primer grado en dicho evangelio, como es el Rito de York, igual se debe apreciar este cuarto libro y venerar a su autor, ya que también es Patrono de la Masonería Universal porque Juan es el poeta de la Luz que inicia su evangelio con la palabra griega LOGOS, palabra demasiado rica para traducirla bien al español, pues implica Razón, en todos sus sentidos de argumento, analogía, análisis, proporción, definición. Significa también palabra, expresión del pensamiento, lenguaje y discurso. Además se usa para expresar buen sentido, prudencia, comprensión, inteligencia, juicio, apreciación. Prudentemente los traductores cristianos, siguiendo a Jerónimo, lo suplantaron por VERBO, término que refleja mucho de la densidad del concepto.


Porque el LOGOS es la aplicación de la Inteligencia al mundo objetivo y a la vida, pues, mucho más allá de un seco y escuálido racionalismo, la Razón, secundada por la imaginación y la fantasía, pasando por los canales de los sentidos y fecundada por el amor, alcanza la realidad mismo del mundo fenoménico y entiende las esencia de las cosas; ya que no solamente implica una inducción analítica y abstractiva, sino ponderación de la realidad y comprensión del mundo. Por eso Hermes Trismegisto, en su Poinmandres, decía:


Lo que en ti ve y oye es Logos del señor,

Tu Inteligencia en cambio es Dios Padre,

Ya que no están mutuamente separados,

Pues su unidad es la Vida.

Y Juan completando el pensamiento, añade:

Nada puede hacer el Hijo,

Sino lo que ve al Padre hacer.


§

El Padre ama al Hijo,

Y le enseña todas las cosas.


Notemos tanto Hermes y Juan Evangelista insisten en no separar conocimiento y vida, inteligencia y amor. Por eso Hermes no duda en afirmar que el Nous, la Inteligencia y el Logos, La Razón, están siempre unidos y que su unidad es la Vida, única verdadera, porque quien carece de una de ambas cosas no merece ser ni humano ni masón. Y Juan, expandiendo los términos, replica que el Logos, el Hijo, nada puede hacer que no se lo diga el Nous, el Padre y, precisamente, que es el Padre el que ama al hijo y el que le enseña todas las cosas. Por consiguiente, Juan es el Poeta de ese Conocer fecundado por el Amor, cuya unión es la esencia de la Sabiduría, por eso se expresa diciendo:


Ésta es la Vida Eterna,

Que te conozcan a Ti, el solo Dios verdadero.

Y complementa su pensamiento diciendo:

Para que sean Uno,

Como Tú y Yo somos Uno.

Porque en realidad, ¿de qué serviría creer en Dios si no se lo conoce?


Juan es el Poeta de la Unión, de la unión trascendental, de la Comunidad Humana, porque todo este mundo de los seres humanos es una única especie y una sola raza que está tan intensamente comunicada que se puede hablar del río de la Humanidad, de la Universalidad Humana, como si todos los hombres fuéramos una sola entidad. Y Juan lo expresa con su símbolo de la Vid y los Sarmientos que son como una continuidad y transmisión de sabia vital, y en su oración en el Huerto lo completa de la siguiente manera:


Padre Santo, custódialos en tu Nombre

A los que me diste

Para que sean Uno como Nosotros.


§

No sólo por éstos ruego, sino también por aquellos

Que crean en mí por su palabra:

Para que todos sean Uno,

Como Tú Padre en mí, y yo en Ti.


Los masones al terminar sus trabajos en Logia, suelen formar una cadena que precisamente se llama de “Unión”, poniéndose en círculo y tomándose de las manos con los brazos cruzados. Es entonces cuando se expresan pensamientos universalistas, y se concluye con la triple exclamación de ¡Salud!, ¡Fuerza!¡Unión!Y esta unión, que es el resultado de la Tolerancia y la Comprensión, demuestra por si misma que las diferencias raciales, conceptuales y de costumbres son del todo secundarias, y que son como lo enseñan la Plomada y el Péndulo, las cosas mudan, una generación viene y otra va, una ideología nace y luego es obsoleta, una filosofía surge dominante y luego otra la desvirtúa. Pero, por sobre todo lo que siempre cambia, es necesario que permanezca el Amor, que es causa de la Unión, e hijo y padre de la Belleza.


En testimonio de esta búsqueda perpetua de la unión, San Juan Evangelista es también el Poeta de la Vida y del Amor. Dicen que ya viejo, centenario y ciego, cuando sus discípulos le honraban y le llevaban en andas adonde quería, Juan incansablemente les repetía: “amaos los unos a los otros”, mensaje dado por el Cristo. los discípulos un poco hastiados de tanta insistencia, le preguntaron por qué decía siempre lo mismo, y él les respondió: “Porque es lo único necesario”. En la Masonería, podríamos traducirlo también como la Unión Amorosa que, en nuestra bien llamada “Hermandad”, es y siempre será lo verdadero y lo único necesario por sobre todas las vanas rencillas y pasiones. Sin la Unión, cimentada en la Caridad, sin excusas y sin especulaciones, ¡No Hay Masonería!


Magister, respecto a las Logias de San Juan, señala que es fundamental que el Aprendiz, a semejanza de Edipo, se esfuerce en contestar satisfactoriamente a la pregunta: ¿De dónde venís?, cuya respuesta es “De la Logia de San Juan”, buscando en si mismo la solución del problema de los orígenes, el origen de su ser y del universo que lo rodea.


Ya se sabe que la Tradición Masónica guarda una relación muy estrecha con la Tradición Juanítica o Mística del Cristianismo relacionadas con los dos solstícios. Estas mismas fiestas se celebraban dondequiera también antes del cristianismo, siendo cerda de los romanos en honor de Jano, el dios de las dos caras que muy bien simboliza a la Tradición, estando una de sus caras constantemente vueltas al pasado y la otra al porvenir. Este nombre se relaciona etimológicamente con el latín “janua” o “puerta”, de donde viene igualmente el latín “Januarius” o “Enero”. También “puerta” es el significado originario de la letra griega “Delta”, representada por un triángulo, y que la antigua puerta de las iniciaciones era triangular.


Este dios presidía todos los comienzos (en latín “initium”, de donde también deriva “initiare” o “iniciar”) y, en particular el ingreso del Sol en los dos hemisferios celestes, y la iniciación cuya llave tenía y guardaba. Ahora es evidente que el nombre “Jano” tiene también en latín (Janus) un parecido muy singular con el de “Juan” (Johannes) y no fue por azar que este último fue puesto en el exacto lugar del primero.


Por otro lado, el hebraico “Jeho-hannam” o “Juan” significa “Gracia o favor de Dios”, es decir, “Hombre Iluminado o Iniciado”.


La expresión “Logia de San Juan” viene a ser así un nombre simbólico de toda unión o agrupación de Iniciados, de hombres iluminados y favorecidos espiritualmente, aplicándose en su acepción más general a todos los que han sido admitidos en los Misterios, y más particularmente a los verdaderos HH:. de San Juan, los Maestros de Sabiduría que constituyen la Gran Logia Blanca, la más justa y perfecta “Logia de San Juan”, en la cual debemos buscar la inspiración y el origen profundo y verdadero de nuestra Orden.


Por su parte, Jorge Adoum señala que la Logia de San Juan se llama así porque los antiguos Masones eran Gnósticos y San Juan fue considerado como el Jefe del Gnosticismo y, luego, Patrono de los Constructores. Hay otro motivo: Jano, el dios de dos caras, regía la fiesta de los dos solsticios.


Tenía una cara vuelta hacia el pasado y outra hacia el futuro, o sea que el Dios Jano preside la entrada del Sol en los dos hemisferios. La Iglesia cambió el nombre de Jano por el de Juan (Johanes) y puso a Juan, el Apóstol y Discípulo, en la entrada de “Januarius”, Janeiro, Enero, o puerta del año, y a Juan Bautista en el día 24 de junio, con lo cual la sustitución fue genial.


De ahí la Logia de San Juan, de Jeho-Hannan, nombre que significa Gracia de Dios, Hombre Iluminado, que designa también al conjunto de Iniciados en los Misterios.


También Oswald Wirth –cuando se refiere a las Confraternidades de San Juan– señala que estos Arquitectos de la Edad Media gustaban celebrar los solsticios, conforme a los usos de las más antiguas épocas paganas. A fin de poder permanecer fieles a las tradiciones equívocas, bajo el punto de vista cristiano, escogieron como patronos los dos Santos Juanes, cuyas fiestas caen en épocas solsticiales.


Quien sabe, si al abrigo de esta elección, el antiguo culto de Jano volvió a encontrar adeptos más o menos conscientes. Lo mismo que los dos santos solsticiales, el dios de la doble cara, presidía la entrada del sol em cada uno de los hemisferios celestes. Jano era, por otra parte, el gênio de todos los comienzos, tanto de los años como de las estaciones, de la vida y de la existencia en general. Pues, es preciso no perder de vista que Comienzo se dice “Initium” en latín. Los iniciados debían, pues, ver la dignidad tutelar de la Iniciación en este inmortal encargado de guardar las puertas (Janua), de donde él separaba a los que no deben entrar. Una vara (vaculum) le servía para esto. Tenía, además, una llave para indicar que tenía derecho para abrir y cerrar, revelar los mistérios a los espíritus elegidos o sustraerlos a la curiosidad de los profanos indignos de conocerlos.


Etimológicamente, Juan, en verdad, no proviene de Jano, pero sí del hebrero Jeho H’annan, que se traduce por “aquel que Jeho favorece”. El mismo verbo viene en H’anniBaal o Annibal, que significa favorito de Baal. Pero, Jeho y Baal, no son sino nombre o títulos del Sol. Este, era considerado por los fenicios como un astro quemante, a menudo homicida, cuyos estragos eran temibles. Los mistagogos (sacerdotes griegos) de Israel veían al contrario, en él, la imagen del Dios Luz que ilumina las inteligencias. Jeho H’annan, Johanes, Hehan o Juan, son así sinónimos de hombre iluminado, a la manera de los profetas. Lo mismo que los artistas de las catedrales, instruidos sin duda en las doctrinas esotéricas muy antiguas, el Pensador verdadero o iniciado está, entonces, en el derecho de llamarse Hermano de San Juan.


Anotaremos, finalmente, que San Juan Bautista se nos presenta como el precursor inmediato de la Luz redentora o del Cristo solar. Es la Aurora intelectual que, en los espíritus, precede al día de la plena comprensión. Áspera y ruda, su voz resonaba a través de la esterilidad del desierto, despertando los ecos dormidos. Sus acentos vehementes sacuden las mentalidades rebeldes y las preparan para acoger las verdades que deben ser reveladas.


Si el huraño Precursor representa, simbólicamente, a las descoloridas blancuras de la mañana, conviene por oposición, representar a San Juan el Evangelista, como rodeado de la gloria empurpurada del atardecer. Personifica la luz crepuscular de la tarde, aquella que inflama al cielo cuando el sol desaparece del horizonte. El discípulo preferido del Maestro fue, en efecto, el confidente de sus luces secretas, reservadas para las inteligencias escogidas de los tiempos futuros. Se le atribuye el Apocalipsis, que, bajo el pretexto de descorrer el velo de los mistérios cristianos, los disfrazó (encubrió) bajo enigmas calculados para arrastrar a los espíritus perspicaces más allá de las estrecheces del dogma.


También, es de la tradición Johanista, que se han aprovechado todas las escuelas místicas que, bajo el velo del esoterismo, han aspirado a la emancipación del pensamiento. No olvidemos, en fin, que el cuarto Evangelio comienza por una introducción de un alto alcance iniciático, sobre el cual se presté durante mucho tiempo el juramento masónico.


La doctrina del Verbo hecho carne, es decir, la Razón divina encarnada en la Humanidad, se remonta, por otra parte, según Platón, a las concepciones de los antiguos hierofantes. En estas condiciones, el título de Logias de San Juan, conviene mejor que cualquier otro, a los Talleres, donde los inteligentes, después de haber sido preparados para recibir la luz, son conducidos a asimilarla progresivamente, a fin de poderla reflejar a su turno.


Finalmente, demos una interpretación todavía mucho más esotérica de los Solsticios producidos en las Constelaciones (signo) de “Cáncer” (Solsticio de Invierno – Hemisferio Sur) y “Capricornio” (Solsticio de Verano – Hemisferio Sur), para todos aquellos masones verdaderamente esotéricos, donde Hércules -el Discípulo por excelencia- realiza el cuarto y décimo trabajo.


Síntesis de los Signos


Cáncer es el último de los que podríamos llamar los cuatro signos preparatorios, si estamos considerando la involución del alma en la materia, o la evolución del aspirante a medida que se esfuerza por pasar del reino humano al espiritual. Estando equipado con la facultad de la mente, en Aries, y con el deseo, en Tauro, y habiendo llegado a la realización de su dualidad esencial en Géminis, el ser humano encarnado entra, a través del nacimiento en Cáncer, dentro del reino humano.


Cáncer es un signo de masa, y las influencias que emite son apoyadas por muchos esoteristas para dar lugar a la formación de la familia humana, de la raza, de la nación y de la unidad familiar. En lo que al aspirante concierne, la historia es algo diferente, pues en estos cuatros signos, él prepara su equipo y aprende a utilizarlo. En Aries se aferra con fuerza a su mente y busca inclinarla a su necesidad, aprendiendo el control mental. En Tauro, “la madre de la iluminación”, recibe su primer destello de esa luz espiritual que crecerá cada vez más brillante a medida que se acerca a su meta. En Géminis, no sólo aprecia los dos aspectos de su naturaleza, sino que el aspecto inmortal empieza a acrecentarse a expensas del mortal.


Ahora, en Cáncer, logra su primer contacto con ese sentimiento más universal, que es el aspecto superior de la conciencia de la masa. Equipado, por consiguiente, con una mente controlada, una capacidad de registrar la iluminación, una capacidad para hacer contacto con su aspecto inmortal y para reconocer intuitivamente el reino del espíritu, está listo ahora para el trabajo mayor.


En los cuatro signos siguientes, a los que podríamos considerar como los signos de la lucha del plano físico por la realización, hemos pintado para nosotros la tremenda batalla por medio de la cual el individuo autoconsciente, emergiendo de la masa en Cáncer, se conoce a sí mismo como siendo el individuo en Leo, el Cristo potencial en Virgo, el aspirante esforzándose para equilibrar los pares de opuestos en Libra, y el que vence a la ilusión en Escorpio. Estos son los cuatro signos de crisis y de estupendo esfuerzo. En ella toda la iluminación, la intuición, y el poder del alma del cual Hércules, el aspirante, es capaz, son utilizados al extremo. Estos tienen su reflejo también en el arco involutivo, y se puede trazar una secuencia similar de desarrollo. El alma logra individualidad en Leo, se vuelve la que alimenta las ideas y las capacidades potenciales en Virgo, oscila violentamente de un extremo al otro en Libra, y está sujeta al efecto disciplinante del mundo de la ilusión y la forma en Escorpio.


En los últimos cuatro signos, tenemos los signos de la realización. El aspirante ha trabajado en el mundo del espejismo y de la forma y en su conciencia está libre de sus limitaciones. Ahora él puede ser el arquero en Sagitario, yendo directamente a su meta; ahora puede ser la cabra en Capricornio, escalando el monte de la iniciación; ahora puede ser el trabajador del mundo en Acuario, y el salvador del mundo en Piscis. Así, puede resumir en sí mismo todos los beneficios del período preparatorio y de las batallas ferozmente luchadas en los cuatro signos de enérgica actividad; y en estos cuatro signos finales demostrar los beneficios logrados y los poderes desarrollados.


Esta breve recapitulación de los signos, según afectan a Hércules, servirá para dar alguna idea de la magnífica síntesis del cuadro, y de la constante progresión, y del desarrollo controlado de las distintas fuerzas que juegan su parte sutil, en realizar los cambios en la vida del hombre.


Tres palabras resumen el objetivo autoconsciente o el aspecto conciencia del evolucionado ser humano: instinto, intelecto, intuición. El signo que ahora estamos estudiando es predominantemente el signo del instinto; pero la sublimación del instinto es la intuición. En la misma forma, así como la materia tiene que ser elevada al cielo, así el instinto tiene que ser igualmente elevado, y cuando ha sido así trascendido y transmutado, se manifiesta como intuición (simbolizada por la gama). El estado intermedio es el del intelecto. La gran necesidad de Hércules ahora es desarrollar su intuición y familiarizarse con ese reconocimiento instantáneo de la verdad y de la realidad que es la alta prerrogativa y potente factor en la vida de un liberado hijo de Dios.


Cualidades del Signo


Cáncer es llamado el Cangrejo y los griegos nos dicen que fue el cangrejo quien fue enviado por Hera a morder el pie de Hércules (de nuevo nos encontramos con este símbolo en el vulnerable “talón de Aquiles”). Esta es una interesante forma de expresar los riesgos del proceso de la encarnación y de ilustrar los obstáculos que acosan al alma mientras ella viaja a lo largo del sendero de la evolución. Simboliza las limitaciones de toda encarnación física, pues Cáncer es una de las dos grandes puertas; siendo una la puerta hacia la vida de la forma, y la otra hacia la vida espiritual; abriendo uno la puerta hacia la forma masa de la familia humana, y el otro hacia el estado universal de conocimiento que es el reino del espíritu. Uno marca el comienzo de la experiencia humana en el plano físico, el otro marca su clímax. Uno significa potencialidad y la otra consumación.


Se nos dice que Cristo dio a San Pedro las llaves del cielo y de la tierra; él le dio, por lo tanto, las llaves de estas dos puertas. Nosotros leemos:


“Jesús da a Pedro las llaves de las dos puertas principales del zodíaco, que son los dos puntos solsticiales, los signos zodiacales Cáncer y Capricornio, llamados las puertas del sol. A través de Cáncer, o ‘la puerta del hombre’, el alma desciende sobre la tierra (para unirse con el cuerpo), que es su muerte espiritual. A través de Capricornio, la ‘puerta de los dioses’ ella vuelve a ascender al cielo”.


(E. VALENTÍA STRAITON, EL BARCO CELESTIAL DEL NORTE, VOL. II, PÁG. 206)

En el zodíaco de Denderah, el signo Cáncer está representado por un coleóptero, llamado en Egipto, el escarabajo. La palabra “escarabajo” significa “unigénito”; se halla por lo tanto, por el nacimiento, dentro de la encarnación, o en relación al aspirante, por el nuevo nacimiento. El mes de junio era llamado en el antiguo Egipto “meore”, que significa asimismo “renacimiento”, y así ambos, el signo y el nombre, sostienen firmemente ante nosotros el pensamiento del apoderarse de la forma y del acceder a la encarnación física. En un antiguo zodíaco de la India fechado alrededor del 400 a.C., el signo es representado asimismo por un coleóptero.


Los chinos llamaban a este signo “el pájaro rojo”, pues el rojo es el símbolo del deseo, y el pájaro es el símbolo de esa proyección hacia la encarnación y de su aparición en el tiempo y el espacio. El pájaro aparece bastante frecuentemente en el zodíaco y en las antiguas historias mitológicas; Hamsa, el pájaro de la tradición hindú, “el pájaro fuera del tiempo y del espacio”, permanece igualmente para la manifestación de Dios y el hombre.


Desde la oscuridad, el pájaro cruza como un relámpago y vuela a través del horizonte en la luz del día, desapareciendo nuevamente dentro de la oscuridad. Nuestra palabra “ganso”, viene de la misma raíz sánscrita, a través de los islandeses, y cuando nosotros decimos, “que ganso eres”, estamos haciendo realmente una afirmación de lo más esotérica; le estamos diciendo a otro ser humano: “Eres el pájaro fuera del tiempo y del espacio, eres el alma que toma forma; ¡eres Dios encarnado!”.


El cangrejo vive mitad en la tierra y mitad en el agua. Es, por lo tanto, el signo del alma morando en el cuerpo físico, pero viviendo predominantemente en el agua, que es el símbolo de la naturaleza emocional, sensible.


Exotéricamente, Cáncer está gobernado por la luna, que es siempre la madre de la forma, controlando las aguas y las mareas. Por consiguiente, en este signo la forma es dominante, y constituye um obstáculo. El cangrejo construye su casa o caparazón y la lleva sobre su espalda, y la gente nacida en este signo es siempre consciente de lo que ha construido; esas personas son por lo general demasiado sensibles, demasiado emocionales, buscando siempre esconderse. El nativo de Cáncer es tan sensible que es difícil de tratar y tan elusivo y a veces tan indefinido, que es difícil comprenderlo o restringirlo.


La Cruz Cardinal


Cáncer es uno de los brazos de la cruz cardinal. Un brazo es Aries, el signo del principio, el comienzo, de la vida subjetiva, del estado prenatal o involución, y del primer paso, ya sea hacia la toma de forma, o hacia la liberación espiritual. Un tercer brazo de la cruz es Libra, la balanza, la elección entre; el comienzo del caminar por el “sendero angosto como el filo de la navaja” al que Buda tan frecuentemente se refiere. Capricornio, el cuarto brazo, es asimismo nacimiento, el nacimiento del salvador del mundo, nacimiento dentro del reino espiritual, nacimiento fuera del mundo de la materia dentro del mundo del ser. Involución, encarnación, expresión, inspiración, son las cuatro palabras que expresan la historia de la cruz cardinal en los cielos (la cruz del iniciado).


Las Estrellas


No hay estrellas brillantes en Cáncer, ni estrella descollante o reluciente, porque Cáncer es un signo de ocultación, de retiro detrás de lo que ha sido construido. No es una constelación llamativa. Es interesante observar que no hay una palabra hebrea para “cangrejo”. Este era considerado como impuro y no se, lo mencionaba. Así es considerada la forma material desde el punto de vista del espíritu, y los esoteristas nos dicen que el cuerpo físico no es un principio. (La sustitución del escarabajo sagrado egipcio por el cangrejo parece un reconocimiento de la cualidad de Cáncer en sus aspectos superiores, cuando el nativo es un aspirante o discípulo, pues nosotros transitamos muchas veces alrededor del zodíaco).


Hay ochenta y tres estrellas en este signo, la más brillante de la cuales es de tercera magnitud, y en el mismo centro de la constelación hay un racimo de estrellas: Praesepe, el pesebre, llamada por los astrônomos modernos, “la colmena”. Este es un maravilloso símbolo de la organización colectiva de la familia humana, y es una de las razones por la cual éste es siempre considerado como un signo de la masa. En la masa, el instinto gobierna; por consiguiente, Cáncer es el signo del instinto, de la vida del rebaño, de la reacción de la masa. Representa la mente subconsciente, el instinto hereditario, y la imaginación colectiva. Se sostiene individualmente, para la totalidad de la vida y el conocimiento de las células en el cuerpo, y de esa vida instintiva, colectiva, que es grandemente subconsciente en el hombre, pero la que siempre influencia su cuerpo físico y, subjetivamente, su mente inferior y su ser emocional. El no evolucionado nativo de Cáncer está inmerso en la masa; él es una parte inconsciente del gran todo, y en eso yace el problema; pues la persona término medio de Cáncer, así como el aspirante que está realizando el trabajo de este signo, está sujeta al impulso de elevarse por encima de la masa a la cual está asida por su instinto, y a desarrollar en cambio la intuición, la que así la capacitará para elevarse. Este signo es llamado a veces “el ataúd”, por los hebreos, porque indica falta de identidad, mientras que los primitivos cristianos lo llamaban “el sepulcro de Lázaro”, el cual fue revivido de la muerte. En estas palabras “ataúd”, “sepulcro”, “cangrejo”, y en la referencia que a veces encontramos de Cáncer como de “la matriz”, tenemos el pensamiento de la vida oculta, de una forma velada, de la potencialidad, y de esa lucha con las circunstancias que eventualmente producirá, en Leo, el surgimiento del individuo y, en Capricornio, el nacimiento de un salvador del mundo.


Definitivamente, por lo tanto, este signo retrata la lucha que prosigue en la vida del aspirante para que el instinto pueda dar eventualmente, lugar a la intuición.


Compensación con Capricornio


Es interesante contrastar los dos signos, Cáncer y Capricornio, pues lo que está indicado en Cáncer, es consumado en Capricornio. Cáncer representa el hogar, la madre. Es personal y emocional, mientras que Capricornio representa el grupo en el que la unidad entra conscientemente, y también “el padre de todo lo que es”. Al portal de Cáncer se entra a través del proceso de transferencia del estado animal de conocimiento, al humano; mientras que al portal de Capricornio se entra a través de la iniciación. Uno es inevitable, subconsciente y potencial; el otro es autoindicado, autoconsciente y poderoso. Cáncer representa la forma de la masa, el alma del animal colectiva; Capricornio representa el grupo, el alma universal.


Cáncer era llamado originariamente el mes de nacimiento de Jesús. Capricornio es, como sabemos, el mes de nacimiento del Cristo, y el veinticinco de Diciembre ha sido celebrado a través de los siglos el nacimiento del salvador del mundo; pero en los muy antiguos días, el natalicio de los dioses del sol naciente era en Cáncer. Se nos dice:


«El natalicio del niño Jesús, estando establecido arbitrariamente por los sacerdotes, produce una seria discrepancia, ya que se nos dice que nació en un pesebre. El pesebre se encuentra en el signo del solsticio de verano, la constelación de Cáncer, que era llamada la puerta del sol, a través de la cual se le decía a las almas que descendieran desde su hogar celestial a la tierra; exactamente como en el solsticio de invierno, en diciembre, se les decía que regresaran a su hogar celeste o celestial, la constelación de Capricornio, la otra puerta del sol. Capricornio era el signo del cual se decía que en él habían nacido los dioses del sol en el solsticio de invierno y eran consagrados a los hijos de la luz”.


(E. VALENTÍA STRAITON, THE CELESTIAL SHIP OF THENORTH, VOL. II, PÁG. 205)


Símbolos


 El símbolo astrológico para el signo de Cáncer no tiene en absoluto relación con el cangrejo. Está compuesto de dos colas de “asnos”, y éstos asimismo vinculan la historia del evangelio con la historia del pesebre. En relación con el nacimiento de Jesús aparecen dos asnos; uno en el cual la Virgen cabalgó hacia Belén, previo al nacimiento, y el otro en el cual ella cabalgó a Egipto, después del nacimiento. Cerca del signo de Cáncer hay dos estrellas brillantes; una llamada Asellus Borealis, o el asno del norte, y la otra, Asellus Australis, o el asno del sur. (Hay también una tercera vez, cuando Cristo cabalgó en Jerusalén durante su breve momento de triunfo en el Domingo de Ramos sentado en las ancas de un burro, un símbolo de paciencia y humildad, las joyas de la corona de la grandeza). Por lo tanto, no desmerezcan a este símbolo.


Alguien ha usado las siguientes palabras para expresar la cadencia de Cáncer cuando entró por primera vez: “Una triste vocecita subterránea, una melodía baja, capturada a medias, semi-evasiva”.


Todavía no ha sido consumado el trabajo. Todo lo que se oye es la señal de un posible logro. Todo lo que se encuentra es un profundo impulso interior y un descontento que se vuelve gradualmente tan fuerte que saca a la luz al oculto, esforzado individuo, fuera de su medio de estabilizada condición del mundo y lo hace el fervoroso aspirante que no conoce descanso, que ha emergido fuera del agua y trepado constantemente hasta que se encuentra en la cima del monte en Capricornio, el nacimiento, no la consumación del salvador del mundo. “Cristo nació en Capricornio, cumplió la ley bajo Saturno, inició la era de inteligente hermandad bajo Venus, y es el perfecto ejemplo del iniciado de Capricornio, que se vuelve el servidor del mundo en Acuario; y el salvador del mundo en Piscis. Cáncer admite al alma en el centro del mundo que llamamos humanidad. Capricornio admite al alma en la participación consciente en la vida de este centro del mundo que llamamos la Jerarquía.” (Astrología Esotérica).


Las Tres Constelaciones Simbólicas


Jesús es llamado a menudo el Buen Pastor, y ha sido representado muchas veces como el pastor guiando sus ovejas. El pensamiento del rebaño ha sido estrechamente asociado con Cristo en la mente de la gente. Conectadas con el signo de Cáncer hay tres constelaciones: la Osa Mayor, la Osa Menor y Aros. Los corrientes nombres occidentales para las dos primeras son Osa Mayor y Osa Menor, pero es uno de los misterios de la astronomía cómo el nombre “osa” llegó a ser asociado con cualquiera de estos grupos de estrellas, pues en los zodíacos caldeos, persa, hindú y egipcio no se encuentra ninguna osa. Los nombres más comúnmente usados son aquellos de “la majada”, o “el rebaño de ovejas”, y se encontrará que un análisis de los nombres hebreo y árabe para las estrellas que están en estas constelaciones, prueba el hecho de que los nombres antiguos significan “el rebaño menor”, “la majada”, “la oveja”, y “el barco”. En el capítulo treinta y cuatro de Ezequiel y en el capítulo décimo de San Juan, es mucho lo que se refiere a estas constelaciones.


La Osa Menor es famosa porque la estrella más brillante en ella es la estrella polar, la estrella del norte. En el simbolismo de estas dos constelaciones hemos tenido ante nosotros el pensamiento de la masa o del grupo, que es la influencia significativa del trabajo hecho en el signo de Cáncer, y en el simbolismo de la estrella del norte tenemos el pensamiento de una estrella guía, una atracción magnética que guía al peregrino de vuelta al hogar. Muchos esoteristas sostienen la creencia que la familia humana, el cuarto reino en la naturaleza, vino a la existencia gradualmente durante los dos mil años, aproximadamente, cuando nuestro sol estaba en Cáncer.


El pensamiento de una masa de animales, de límites determinados dentro de los cuales estas ovejas o animales estaban confinados, y el pensamiento de un centro magnético de atracción, están simbólicamente pintados para nosotros también en la tradición masónica. En el planisferio egipcio de Kircher, Argos está representado por dos galeras (así como nosotros tenemos dos rediles), cuyas proas están coronadas por cabezas de carneros, y la popa, de una de ellas, termina en una cola de pez. Adviértase, por lo tanto, como aquí hemos sostenido gráficamente frente a nosotros, la consumación en Capricornio, donde la cabra trepa la cima de la montaña. Tenemos también la descripción gráfica de ese ciclo mayor que incluye el progreso del alma desde Cáncer hasta Capricornio, pero que comienza en Aries, el carnero, y termina en Piscis, los peces. Un concienzudo análisis del simbolismo de los signos zodiacales, profundiza en uno la fuerte convicción de la eterna representación de la verdad, y el constante mantenerse ante nuestros ojos, la historia de la evolución de la matéria dentro de la forma, del conocimiento, del espíritu y de la vida.


Argos se extiende en todo del camino desde Cáncer hasta Capricornio y es una de las constelaciones más grandes. Tiene en ella sesenta y cuatro estrellas, de la cuales Canopus es la más brillante. Su simbolismo, por consiguiente, abarca la vida del aspirante desde el momento en que encarna hasta que ha alcanzado su meta. Usamos la palabra “barco” bastante frecuentemente en un sentido simbólico, hablando del “barco del estado”, del “barco de la salvación” y comunicando siempre la idea de seguridad, de progreso, y del logro de una salida, del hacer un viaje y de la conducción de una enorme multitud de peregrinos en búsqueda de un tesoro de oro o de un nuevo y más libre hogar.


Los peregrinos están equipados con el instinto, y a medida que ellos pasan a través de varias constelaciones abarcadas por este inmenso signo, ese instinto demuestra cómo el intelecto en un ser humano a medida que desarrolla autoconciencia y emerge del puro estado animal, hasta que llega el momento en que, habiendo avanzado alrededor del zodíaco una y otra vez, el aspirante se encuentra nuevamente en Cáncer, enfrentado con el problema de encontrar esa elusiva, sensible, y profundamente oculta, o escondida, intuición espiritual que lo guiará en su ahora solitaria jornada; que el aspirante no está más identificado con la masa y perdido en ella; él no es más una de las ovejas guardadas a salvo en el redil; no es más uno del gran rebaño de emigrantes, sino que ha emergido de la masa y empezado el solitario camino de todos los discípulos. Entonces camina el sendero de la tribulación, del ensayo y la prueba, luchando por sí mismo como individuo, desde Leo hasta Capricornio, hasta que llega el momento que, con la ayuda del instinto, el intelecto y la intuición, y conducido por el impulso de la vida de Cristo, se funde de nuevo con la masa y se identifica con el grupo. Entonces se vuelve el servidor del mundo en Acuario y no tiene sentido de separación.


Cuando Hércules llega a la Constelación (signo) de Capricornio en el Solsticio de Verano, realiza otro trabajo interesante, denominado: “Matando a Cerbero, guardián del Hades”.


El signo de Capricornio, dice El Maestro Tibetano, es uno de los signos más difíciles acerca del cual escribir, y es el más misterioso de los doce signos. Así lo hemos encontrado nosotros. Aún el símbolo del signo nunca ha sido correctamente dibujado, se nos dice, porque su correcta delineación produciría una afluencia de fuerza que no sería deseable; este símbolo es llamado también a veces “la firma de Dios”.


Al pie de la montaña, la cabra, el materialista, busca alimento en lugares áridos. El chivo expiatorio, camino hacia arriba, encuentra las flores del deseo obtenido, cada una con su propia espina de saciedad y desilusión. En la cima de la montaña la cabra sagrada ve la visión y el iniciado aparece. En otros escritos los símbolos son la cabra, el cocodrilo y el unicornio.


Un mito pone el énfasis en el descenso al infierno para liberar a la humanidad (en la figura del torturado Prometeo). Otros se ocupan más de Cerbero, algunos matándolo, otros haciéndolo subir a la tierra. Nosotros presentamos estas variaciones para la consideración del significado espiritual, por parte del lector.


Se recuerda que, según el Credo, Jesús el Cristo “descendió a los infiernos”. ¿Por qué? Seguramente porque su muy inclusivo amor protegía a las llamadas “almas extraviadas”, que se nos dice que Cristo cobija a la humanidad hasta que la última “pequeña alma” haya llegado al hogar.


Y ¿quiénes somos nosotros para interpretar la “firma de Dios”? Con humildad sometemos estos puntos para la reflexión. Se nos dice que es de rodillas que el capricorniano ofrece corazón, y vida al alma, y solo entonces es cuando al autoiniciado se le pueden confiar los secretos de la vida y de los poderes superiores.


Interpretación del Trabajo en Capricornio


Hay dos portales de importancia dominante: Cáncer, hacia lo que erróneamente llamamos la vida, y Capricornio, el portal hacia el reino espiritual. Capricornio, la puerta a través de la cual finalmente pasamos cuando no nos identificamos más con la parte forma de la existencia, sino que vivimos identificados con el espíritu. Eso es lo que significa ser iniciado.


Un iniciado es una persona que no sitúa la conciencia en su mente, sus deseos, o su cuerpo físico. Él puede usar éstos si lo elige; y lo hace para ayudar a la humanidad, pero no es ahí donde su conciencia está enfocada. Está enfocado en lo que llamamos alma, que es ese aspecto de nosotros mismos que está libre de forma. Es en la conciencia del alma que nosotros funcionamos eventualmente en Capricornio, nos conocemos a nosotros mismos como iniciados y entramos en los dos grandes signos universales de servicio a la humanidad. Pues es interesante que, en Acuario, tratamos simbólicamente con animales a granel, ya que en ese signo Hércules tiene el trabajo de limpiar a fondo los establos de Augías, su primer trabajo como discípulo del mundo. Pero en Piscis captura, no al toro, sino a todos los bueyes, llevando a nuestra conciencia la idea de la universalidad del trabajo del mundo, de la conciencia de grupo, de la conciencia universal y del servicio universal.


Si hubieras nacido en el signo de Capricornio, por favor no pienses que eres un iniciado. Deberemos poner énfasis en el sentido de la proporción y del estado de evolución. Los aspirantes, o sufren de un complejo de inferioridad que les hace sentir que no es posible hacer nada, o tienen una idea exagerada de su importancia; tiene un toque de conciencia del alma, pero sólo un minúsculo toque, lo cual ellos piensan que es el total y se vuelven envanecidos. Esto no muestra sentido de proporción.


Este signo simboliza la tercera iniciación, la primera de las iniciaciones mayores. En Mateo 17 leemos que Cristo llevó a tres discípulos, Pedro, Juan y Jacobo, a lo alto de una montaña y se transfiguró delante de ellos. Ellos “cayeron sobre sus rostros” y Pedro dijo, “Construyamos tres chozas”. En la filosofía hindú esto es llamado “la iniciación del hombre que construye su choza”. Pedro, una roca o cimiento, es el símbolo del cuerpo físico. Jacobo, el engañador, simboliza la naturaleza emocional, la fuente de todo hechizo. Juan simboliza la mente, significando el nombre, “El Señor ha Hablado”. Ahí tienes el simbolismo de los tres aspectos de la personalidad, postrados sobre sus rostros delante de Cristo glorificado, en su transfiguración en Capricornio.


Significado del Signo


Este es el signo de la cabra: es un signo sobrehumano, un signo universal e impersonal. Todos los trabajos de Hércules hasta aquí han estado comprometidos con su propia liberación. Ahora entramos en tres signos que no tienen relación con sus realizaciones personales. Él es libre. Es un iniciado, un discípulo del mundo. Ha dado vuelta tras vuelta al zodíaco, ha aprendido todas las lecciones de los signos y trepado la montaña de la iniciación; ha sufrido la transfiguración; está perfectamente libre y así puede trabajar universalmente en tareas que no tengan ninguna relación consigo mismo. Trabaja como un ser sobrehumano en un cuerpo humano. Las grandes etapas de desarrollo en el sendero de la expansión, que nosotros llamamos iniciaciones, están grabadas en el cerebro y no te serán dichas por nadie. Yo nunca encontré a un verdadero iniciado que estuviera dispuesto a admitir que lo era, nunca. La marca de pureza del iniciado es el silencio. Capricornio es un signo triste, es el signo del sufrimiento intenso y la soledad, pues éstas son también señales del iniciado.


La impersonalidad está basada en un logro fundamental de la personalidad. Se debe haber estado enormemente apegado antes de poder conocer el significado de la impersonalidad. Esto es una paradoja, pues no hay logro de ser impersonal sin haber tentación en lo personal. La impersonalidad que debemos desarrollar es una expansión del amor personal que tenemos por un individuo, por nuestra familia, nuestro círculo de amigos; es exactamente la misma actitud hacia la humanidad, pero no tiene nada que ver con el sentimentalismo. Podemos amar a toda la humanidad porque conocemos el significado del amor personal, y debemos brindar a todos el mismo amor que hemos dado a los individuos cercanos a nosotros. La impersonalidad no es impedir la entrada, levantar muros; es amar a todos porque somos capaces de ver a las gentes como realmente son, con sus faltas, sus fracasos, sus logros, con todo lo que hace de ellos lo que son, y viéndolos con mirada penetrante, amarlos lo mismo. En las Reglas del Camino está escrito. “Cada uno ve y conoce la vileza de cada cual. Y sin embargo no hay, con esta gran revelación, negación ni rechazo mutuo”, esa es la condición que se debe lograr en Capricornio. Lo que debemos desarrollar no llega endureciendo al corazón, ni con una tremenda separación, ni trepando a un pedestal.


El discípulo del mundo no sólo hace lo que hizo Hércules, bajar al infierno para vencer a Cerbero, sino que trabaja entre los hombres todo el tiempo, interesado en su prójimo. Es impersonal. Me pregunto si esta impersonalidad no se refiere a nosotros mismos más bien que a otras personas. Nosotros hablamos acerca de ser impersonales en nuestro comportamiento. Si fuéramos absolutamente impersonales tratándose de nosotros mismos, nuestras reacciones hacia el prójimo serían justas.


Las Constelaciones


Hay tres constelaciones conectadas con el signo de Capricornio. Una es llamada Sagitta, la flecha. No tiene conexión con el signo de Sagitario. En ese nosotros teníamos al arquero con la flecha, con la cual el aspirante realizado atravesaba la personalidad. Aquí tenemos la flecha que viene de una fuente cósmica, atravesando el corazón del hijo de Dios, llamado el Cristo, el más cercano a nosotros de los grandes salvadores del mundo, “un hombre de infortunios y familiarizado con el dolor”. Él estaba atravesado por la flecha Sagitta, la flecha cósmica.


El nombre hebreo para esta flecha significa “el desolado”, y el sendero que todo discípulo huella es necesariamente solitario. El sendero del iniciado es aún más solitario. El sendero de un salvador del mundo es el más solitario de todos. Yo pienso que esta condición va a ser aliviada. A través de los años hemos tenido estas tremendas manifestaciones, una aquí, una allí. ¿Has considerado alguna vez la soledad de ellos? No había nadie que entendiera. Tal vez ellos fueron canonizados cientos de años después de que murieron. Pero ahora hay tantos aspirantes, tantos en el sendero del discipulado, que tal vez la conciencia de grupo que está empezando a ponerse de manifiesto en los asuntos del mundo, resultará en una soledad grupal más bien que en una soledad individual.


Aquila, el águila, es vista como estando tan estrechamente relacionada a Capricornio como a Sagitario. Tenemos el pájaro de luz (símbolo del más alto aspecto del hombre) manifestándose como el alma (el segundo aspecto) que se ha realizado.


En Delphinus, tenemos una constelación muy interesante, que contiene en sí un sorprendente simbolismo. Es representada en un antiguo zodíaco como un pez lleno de vida, saltando fuera del agua en el aire y jugando. Ese es el símbolo del hijo de Dios, quien trabajando bajo la ley, toma forma y vive en el agua y en el aire; y no siendo limitado por la ley física, puede jugar con las fuerzas de la naturaleza. Estamos empezando a aprender acerca de estas fuerzas, pero todavía pasará un tiempo antes de que Delphinus, el delfín, tenga mucho significado personal para nosotros.


El Escalamiento de la Montaña


Capricornio cuanta la historia del escalamiento de la montaña y del descenso al infierno. Hay tres grandes ascensiones de cada alma. La masonería, a través de las edades, ha sido un custodio de esta tradición. Primero se produce la elevación de la materia al cielo. Encontramos eso en Virgo, luego, la elevación de la naturaleza psíquica desde abajo del diafragma. Tú no eres más, emocional y centrado, en ti mismo, viviendo en el plexo solar, sino que estás enfocado en el corazón y eres consciente del grupo; tus sentimientos y deseos están relacionados con el grupo.


No vives más en la naturaleza animal, interesado en la creación en el plano físico, sino que te vuelves una criatura espiritual trabajando con materia mental. No estás más limitado por la forma, sino que tienes que tratar con la forma que se ha elevado a la conciencia de la cabeza, y desde la cabeza controlar la garganta, el corazón, el plexo solar y cada parte de tu cuerpo.


Haces esto no centrándote en ellas, no pensando sobre ellas, sino viviendo como un hijo consciente de Dios sentado en “el trono entre las cejas”, el centro ajna (o glándula pituitaria) como lo llaman los hindúes. Esa es la segunda gran ascensión.


La ascensión final es la que marca la emancipación del iniciado de un grado muy alto, que se vuelve conscientemente un salvador del mundo. Pero es en la segunda iniciación, la elevación de la naturaleza psíquica inferior, en la que tenemos que trabajar para que cada deseo, cada disposición de ánimo y cada emoción, sea elevada al “cielo”.


Preparación para el Descenso al Hades


Había tres cosas que Hércules debía hacer antes de empezar a bajar al infierno. El orden en que llegaron es interesante. Primero tenía que purificarse. Hércules, el hijo de Dios que había vencido, que había sido transfigurado, iba a bajar al infierno a trabajar, y llegó la orden de que se purificara. Él pensó que era muy puro. Cómo fue sometido al proceso de purificación, no se nos dice, pero tengo la idea de que él tenía que probar que estaba libre de irritabilidad y egoísmo en ese poco interesante círculo donde estaba viviendo como un ser humano. Es una regla en ocultismo que, en la escala de la iniciación, si no puedes vivir puramente en tu propio círculo, no eres de utilidad en el cielo o el infierno. ¿Qué quiero significar con “puro”? Nosotros usamos mayormente la palabra en su sentido físico, pero “puro”, realmente es, libre de las limitaciones de la materia. Si yo soy en alguna manera prisionero aún de mi mente, que es una forma de materia sutil, no soy puro. Si tengo cualquier emoción egoísta, no soy puro. Hércules tenía que purificarse.


Luego leemos que él tenía que ser iniciado en los misterios. Hasta donde yo puedo comprenderlo (y puedo estar equivocada) esto quiere decir que tú debes pasar a través de tu propio infierno personal, antes de que puedas pasar por el infierno universal. Tienes una época terrible en tu propia vida, y tú eres iniciado cuando sufres tu propio infierno. Aprendes la naturaleza de lo universal, por la experiencia individual; sólo eso es la realización. Tú no puedes aprender de oídas.


Como ha sucedido antes en los mitos, Hércules entonces tenía que detenerse y realizar un acto de servicio, antes de que pudiera imponerse a Cerbero. El vio a dos personas atadas y siendo atacadas por el ganado. Tenía que liberarlas antes de que pudiera hacer frente a su propio problema. Siempre para el iniciado, el servicio está primero; dejar pasar lo que ha emprendido si se necesita su ayuda. Esa es siempre la historia del iniciado, porque está basada en la conciencia de grupo.


El Símbolos de Cerbero


Cerbero, el perro de tres cabezas, de espantoso ladrido, con serpientes creciendo en todo su cuerpo y con víboras por cola, era el guardián del Hades. Las tres cabezas simbolizan la sensación, el deseo y las buenas intenciones. Es el amor a la sensación el que conduce a la humanidad de acá para allá, para satisfacer el hambre en el mundo económico o para satisfacer el deseo de felicidad en el mundo del placer. Los violentos impactos de sensación se buscan para mantener ocupada la mente. La cabeza central fue la primera apresada por Hércules porque era la más importante, ya que el deseo subyace en todas las sensaciones; ellas son lo que el deseo busca expresar y así obtener satisfacción en el mundo exterior. La tercera cabeza son las buenas intenciones no llevadas a cabo. Así tenemos el deseo en el centro, a un lado la sensación simbolizando todos los impactos, y del otro lado la tercera cabeza de las buenas intenciones, no consideradas, nunca realizadas, de las cuales siempre se ha dicho: “El camino del infierno está pavimentado de buenas intenciones”.


La cola formada de serpientes representa a todas las ilusiones que impiden el progreso de la vida espiritual; la materialidad que nos oprime; la naturaleza psíquica inferior que causa tal destrucción; el temor a lo largo de cada posible línea; el temor al fracaso que mantiene a tantos apartados de la actividad y engendra sólo inercia, la gran falta, se nos dice, de los aspirantes y los discípulos.


Hércules asió a Cerbero por la cabeza central y lo venció, porque todos los dioses del sol están ocupados con los problemas de la humanidad y porque desolados, descienden solos al infierno para salvar a la humanidad; de ahí que los dioses del sol han nacido en el signo de Capricornio.


QQ∴HH∴ tienen en sus manos una hermosa recopilación del significado de los Solsticios, para que ustedes lo lean, estudien, mediten y, por supuesto, lo practiquen en su vida diaria. Éste es el paso prévio que todo Masón debe realizar, antes de participar en las Tenidas Solsticiales, tanto de Invierno (Cáncer) como de Verano (Capricornio). Que el G∴A∴D∴U∴ les ilumine en estas fiestas masónicas universales.


BIBLIOGRAFÍA CONSULTADA

“ESPIRITUALIDAD Y MASONERÍA”, JORGE E. SANGUINETTI (LIBRO BASE).

“MANUAL DEL APRENDIZ”, ALDO LAVAGNINI (MAGISTER).

“EL APRENDIZ Y SUS MISTERIOS”, JORGE ADOUM (MAGO JEFA).

“EL LIBRO DEL APRENDIZ”, OSWALD WIRTH.

“LOS TRABAJOS DE HÉRCULES”, ALICE A. BAILEY.

“ASTROLOGÍA ESOTÉRICA”, ALICE A. BAILEY.


Jacques Bergier - Melquisedeque

  Melquisedeque aparece pela primeira vez no livro Gênese, na Bíblia. Lá está escrito: “E Melquisedeque, rei de Salem, trouxe pão e vinho. E...