terça-feira, 2 de maio de 2023

Mitos Herméticos

É fato conhecido que a ignorância costuma andar de mãos dadas com a pretensão. São justamente as pessoas que menos conhecem um assunto que se apresentam como doutas e se põem a falar dele da maneira mais irresponsável. Foi com certo espanto que tomamos conhecimento da matéria publicada no Correio Popular de 27 de abril, intitulada Contra a Astrologia. Nosso espanto não se deve ao fato de ser a Astrologia atacada por um cientista; nestes nossos mais de quarenta anos de atividade profissional como astrólogos, estamos acostumados a travar debates de alto nível com figuras do meio universitário. O motivo de nosso espanto é que já há muitos anos não víamos argumentos tão infantis, levianos, superados e inconsistentes.


Nosso articulista começa dizendo que a Astrologia “não possui qualquer base racional de funcionamento”. Acaso não será racional estudar as relações existentes entre o homem e a natureza? Ou entre a terra e o cosmos? Ou entre a vida e o ambiente que nos rodeia? Pois é exatamente isto que se faz em Astrologia. Seu método é baseado em cálculos matemáticos e posições astronômicas verdadeiras e seus resultados avaliados mediante correlações estatísticas. Ousaria o articulista afirmar que a Ecologia não possui uma base racional? Não constitui um dos apanágios da nossa era a consciência de que estamos, enquanto espécies viventes, absolutamente vinculados, por estreitas e mútuas relações, ao ambiente do nosso planeta? Não estamos nós na Terra o tempo todo sujeitos a poderosas radiações cósmicas, capazes de provocar mutações genéticas e mesmo profundas alterações – positivas e negativas – na constituição dos organismos vivos? Apresentando-se como biomédico, é espantoso que o articulista do Correio Popular ignore as recentes descobertas a respeito das consequências sobre a nossa vida, advindas do rompimento da camada de ozônio – até porque foram objeto de intenso noticiário, mesmo na imprensa popular. E não são apenas radiações solares que nos atingem. Uma quantidade incrível de energias desconhecidas – e, diga-se de passagem, muito mal explicadas pelo meio científico – estão a provocar transformações sensíveis na vida terrestre. Qualquer biólogo as reconhece hoje, mas até bem pouco tempo atrás, a ciência oficial as ignorava, talvez por serem demasiado sutis, talvez porque não havia ainda descoberto um método, nem desenvolvido aparelhagem capaz de detectá-las. Sucederá o mesmo um dia com as energias que a Astrologia já conhece há milênios, e cujas leis estabeleceu com profunda seriedade e impressionante exatidão, embora não possa ainda explicar a sua natureza.


É fato que as pessoas se divertem com a leitura de horóscopos diários, publicados pela imprensa. Também é fato que muitos leem a coluna da Astrologia como quem se recreia com palavras cruzadas, sabendo que as previsões aí escritas raramente batem com a realidade. Mas é preciso esclarecer que horóscopos diários são, em 98% dos casos, escritos por jornalistas, não por astrólogos. E, afora o simbolismo e a linguagem típica, tais matérias nada têm de Astrologia, não passando de folclore repetitivo e superficial, destinado a ministrar inofensivos conselhos e mensagens de otimismo. Assim, criticar a Astrologia baseando-se nas matérias jornalísticas da imprensa diária equivale a julgar toda a Medicina através de uma receita médica prescrita, digamos, por um vidraceiro.


Acontece que a Astrologia não é ainda uma profissão regulamentada, de modo que qualquer pessoa, sem preparo algum para o assunto, pode se auto-intitular astróloga, ganhar espaço numa revista e publicar asneiras. Mas o articulista não se limita a atacar a Astrologia que chamamos folclórica. Ele menciona “estudos científicos feitos por astrônomos” – como se astrônomos pudessem ter alguma autoridade para julgar uma ciência tão diferente da deles como, por exemplo, é a Psicologia em relação à Botânica! Quais astrônomos e quais estudos, o autor se esquece de citar. Mas, para nos atermos ao nosso exemplo, seria recomendável que o psicólogo estudasse botânica uns bons anos numa universidade antes de aventurar-se a publicar pareceres técnicos sobre o trabalho de um Linnaeus ou de um Liebig. Quando se sabe que é preciso dedicar no mínimo 20 anos à pesquisa da Astrologia – o mesmo tempo que um médico leva para obter alguma experiência profissional, ou um biólogo para formar suas próprias teorias sobre uma especialidade qualquer – só podemos considerar levianos e irresponsáveis os comentários do tipo que vemos nesse artigo.


Mas, suponhamos que tais “estudos” possam ser feitos por alguém que nunca estudou a matéria – como, é óbvio, é o caso deste nosso “articulista de ciência”. O mínimo que se exige é isenção de ânimo e honestidade intelectual, qualidades que o autor carece desenvolver. Ele propõe a seguinte pesquisa: tomar um grupo de 100 pessoas nascidas no mesmo dia e na mesma hora – deveríamos acrescentar no mesmo local, coisa que o articulista parece ignorar ser necessário para cumprir a função da pesquisa proposta – uma condição bastante difícil, senão impossível, de preencher, uma vez que, mesmo numa cidade grande como Tóquio ou Nova York, será realmente um prodígio reunir 100 pessoas nascidas no mesmo instante. Mas, adianta ele, já sabedor, de antemão, dos resultados: “veremos que pouca coisa existe em comum entre tais pessoas”. Segundo ele, “meras coincidências, diz ele, que se diluirão ao se tratar de pessoas oriundas de culturas distintas ou pontos opostos do planeta”.


Repetimos, em Astrologia – a científica, não a folclórica – é preciso que as pessoas tenham a mesma data, a mesma hora e o mesmo lugar do nascimento – se queremos comparar personalidades ou destinos. Acontece que pesquisas deste gênero, e muitas outras, já foram feitas – está claro que não pelo nosso articulista, nem pelos astrônomos que ele menciona, mas não nomeia. Mais de uma vez, aliás, em diferentes países, e por verdadeiros cientistas, dispostos a avaliar sem preconceitos e sem subterfúgios o resultado que surgisse, ainda que contrário a suas convicções anteriores. E todas essas pesquisas, sem exceção, concluíram que as semelhanças de personalidade e de fatos da vida eram absolutamente marcantes e indiscutíveis.


E para corroborar o que acabamos de afirmar, citaremos o mesmo autor que o articulista menciona, Michel de Gauquelin. Em 1950, Gauquelin – não um fisiólogo, como quer nosso articulista, mas um psicólogo – começou a interessar-se pela pesquisa da Astrologia não para defendê-la, mas para combatê-la. Baseou-se em levantamentos estatísticos feitos por Leon Lasson e Paul Choisnard, onde se colocava em teste a tradicional afirmação dos astrólogos de que os planetas significadores de determinadas profissões se colocariam nos ângulos – ascendente, descendente, zênite e nadir – da carta astrológica do nascimento: Marte para os atletas e militares, Vênus para os artistas, Saturno para os cientistas, Júpiter para os políticos. Gauquelin levantou nada menos que 25 mil horóscopos de eminentes figuras europeias, entre campeões, generais, artistas laureados, políticos famosos, etc., tentando demonstrar que a distribuição dos respectivos planetas significadores seria igual para todos, o que provaria que tudo se devia ao acaso. Qual não foi sua surpresa – e seu desagrado – ao descobrir que a estatística, muito ao contrário do que ele esperava, provava que os astrólogos tinham razão. Nos mapas de 3.142 líderes militares, Marte aparecia nos ângulos 634 vezes, quando, pelo acaso, deveriam ser apenas 535. A probabilidade de que tal distribuição anômala se devesse ao acaso era da ordem de um para um milhão. Nos mapas de 1.485 atletas, Marte apareceu nos ângulos 327 vezes – o acaso daria 253. Probabilidade: um para 500 mil. E assim por diante.


Gauquelin publicou em diversos livros seus resultados e a polêmica com os cientistas acadêmicos seus colegas, que, aliás – numa postura típica, mas profundamente anticientífica – diziam preferir deixar de crer na Estatística, a crer na Astrologia. Recomendamos a sua leitura ao nosso articulista, para que compreenda melhor com que rigor científico se deve fazer uma pesquisa sobre Astrologia antes de poder julgá-la. Gauquelin levantou ainda o mapa de 15 mil casais e seus filhos, a fim de testar a hereditariedade de posições astrológicas, encontrando novamente correlações estatísticas importantes, muito além do admitido para resultados devidos ao acaso. Para informação do articulista, e de seus leitores, Françoise, a esposa, colaboradora e coautora das pesquisas do Sr. Gauquelin, e emérita estatística, esteve, há alguns anos, hospedada em nossa casa, após participar de um Congresso de Astrologia. Tivemos oportunidade de conhecer de perto suas ideias sobre a matéria, assim como as provas que o casal reuniu em 30 anos de pesquisas.


O casal avaliou o desempenho de dezenas de astrólogos de várias épocas e países, não apenas um “famoso astrólogo francês” de que fala nosso articulista. Comparou estudos psicológicos de profissionais sérios, não de pessoas ignorantes do povo, ansiosas apenas por verem um retrato favorável na sua carta astrológica. E demonstrou de maneira inequívoca que uma pesquisa idônea leva à confirmação da Astrologia – nunca à sua refutação. Para concluir, vamos responder às “perguntas embaraçosas” que sua revista dos Céticos nos propõe:


1ª) A probabilidade de que 1/12 da população tenha o mesmo tipo de dia depende de fatores cósmicos que atingem uma região ou mesmo o planeta como um todo; assim toda a cidade de Kobe sofreu com o terremoto que a atingiu há alguns anos. O mundo todo sofreu com a 2ª Grande Guerra – embora em diferentes medidas, conforme o país. Mas um bom astrólogo pode identificar, com excelente precisão, dentro de uma população conhecida, quais pessoas terão uma dor de barriga num determinado dia. Entretanto, é importante que se diga, a Astrologia é uma ciência qualitativa, e não quantitativa. Podemos prever muita chuva para um dado período – mas não pretendemos dizer quantos milímetros de chuva cairão.


2ª) O momento da concepção também é estudado, e fornece indicações interessantes quanto à formação do feto. O senhor biomédico deveria estudar essa matéria, aprenderia muito com ela. No entanto, o momento da concepção raramente é conhecido com precisão, o biomédico deve saber bem disso. E quando a criança nasce, e respira, implanta-se nela o horóscopo do nascimento. Antes de respirar, sua vida depende totalmente da mãe. A Astrologia lida com a carta astral de alguém que já afirmou sua independência vital. Quanto às crianças prematuras, ocorre o mesmo que com as de tempo normal, ou com as de tempo excedido de gestação: só vale o momento da primeira respiração.


3ª) Antes da descoberta de Urano, Netuno e Plutão, o mundo era consideravelmente mais limitado. Os assuntos que eles regem na Astrologia não existiam na consciência dos homens, e não fazia qualquer diferença que existissem ou não, que fossem ou não colocados nos horóscopos das pessoas. De que serviria Urano num mundo que não conhecia a eletricidade, as máquinas, e os aviões – assuntos que ele domina? E para que se usaria Plutão numa Terra que desconhecia a bomba atômica, o petróleo e os computadores – coisas controladas pela influência deste planeta?


4ª) A influência dos astros não depende da sua distância. A influência deles é possivelmente da mesma natureza que a luz, mas isso ainda é uma hipótese. Sabemos, quase com certeza, que não se trata de influência gravitacional, pelo menos não somente ela, portanto a “matemática gravitacional” do nosso articulista não se aplica. A ciência descobrirá um dia como tudo se processa, assim como descobriu as ondas hertzianas, os raios gama, o ultra-violeta e o efeito Kyrlian.


5ª) A Astrologia considera, sim senhores, as outras estrelas, além do nosso Sol. Temos excelente estatística sobre sua influência, especialmente em casos de cegueira, mortes por acidente, profissões, naufrágios, ganhos em loteria e muitas outras coisas. Entretanto, confessamos não ter por enquanto qualquer estudo sobre a influência de outras galáxias. Talvez por falta de informações mais precisas dos astrônomos quanto à sua localização. Sugestão anotada!


6ª) Por que os astrólogos não ficam milionários, embora possam prever o futuro? Cremos que os bons e autênticos astrólogos se dedicam à sua prática da mesma forma e com os mesmos propósitos que todos os verdadeiros cientistas: por idealismo, por amor à ciência, não por dinheiro, de modo que apenas sobrevivem com o seu trabalho. Mas, parece-nos bastante óbvia a resposta à pergunta mais pueril de todas: saber prever não significa necessariamente poder alcançar, nem poder evitar alguma coisa. De resto, repetimos que nossa ciência é qualitativa. Prevemos tendências, não números, nomes, endereços nem fatos inevitáveis.


A seguir, daremos uma lista de 10 cientistas e pensadores laureados com o Prêmio Nobel, e que estudaram Astrologia e a apoiaram de modo explícito e mesmo público: Alexis Carrel (Medicina, 1912); Arrhenius (Química, 1903); Herman Hesse (Literatura, 1946); Maeterlinck (Literatura, 1911); R. Kipling (Literatura, 1907); Wolfgang Pauli (Física, 1945); Romain Roland (Literatura, 1915); Theodore Roosevelt (Paz, 1906); R. Tagore (Literatura, 1913); e Albert Einstein (Física, 1921). Há também dois Prêmios Pulitzer: John O’Neill (1937) e Norman Mailer (1969). Isso para não mencionar obras, tratados, cartas e documentos provando que estudaram profundamente e pesquisaram sistematicamente Astrologia: Copérnico, Galileu, Isaac Newton – que além de astrólogo era alquimista e ocultista, facetas desconhecidas de um cientista autêntico, que só é famoso como físico e matemático – Kepler, Tycho Brahe e Bode. Todos astrônomos!


Dentre os modernos astrônomos, citamos: M. L. Filipoff -do Observatório da Argélia- Charles Nordmann – do Observatório de Paris – e Bernard Lovell – Observatório de Jodrel Bank, em declaração publicada no Sunday Times de Londres, em março de 1963. Teria nosso articulista a coragem de afirmar que esses homens eram ou são cientistas medíocres, que suas descobertas são duvidosas ou que seus trabalhos ficam invalidados porque eles estudaram, acreditaram e se dedicavam à prática da Astrologia? Diria que Isaac Newton era um supersticioso, um ingênuo, um charlatão? Que Einstein – a quem devemos um dos mais comoventes testemunhos escritos em defesa da Astrologia – era um tolo, metido numa “atividade fraudulenta”?


Para finalizar, brindamos os leitores com uma expressiva declaração do astrônomo John O’Neill, Prêmio Pulitzer e editor de ciência do New York Herald Tribune, em carta dirigida ao astrólogo Sydney Omarr: “Falo como cientista que não se desviou da absoluta fidelidade aos mais altos padrões da evidência em apoio da verdade. Desvio-me, isto sim, da atitude comum de cientistas ao depositar mais confiança na observação direta da Natureza do que nos livros de texto das autoridades humanas. A Astrologia é um dos mais importantes campos para a pesquisa científica, em nossos dias, e um dos mais negligenciados. A Astrologia, propriamente definida, é a ciência do relacionamento do homem com seu ambiente celeste. É o conhecimento organizado e acumulado do efeito sobre o homem das forças que atingem a Terra, vindas do espaço circundante. Nada há de não científico, absolutamente, no fato de se realizarem pesquisas nesse campo, e não existe estigma algum que se lhe possa associar na mente de qualquer cientista ou leigo. Os cientistas não podem olhar do alto a Astrologia, antes terão de levantar os olhos para alcançar os horizontes mais elevados que os astrólogos reservaram para eles. Os ataques à Astrologia, sem prévia e extensa investigação feita por pessoas competentes, devem de agora em diante ser vistos como prática antiquada, nada científica, intimamente relacionada com a caça aos feiticeiros, e devem ser corretamente diagnosticados como sintomas de paranoia profissional da parte dos indivíduos atacantes”.


Astrologia e Livre-Arbítrio

“ASTRA INCLINANT, NON NECESSITANT”

OS ASTROS INCLINAM, MAS NÃO OBRIGAM

Tenho visto algumas vezes alunos iniciantes de Astrologia tomados por uma vaga dúvida, uma ponta de ceticismo em relação a essa ciência. A dúvida é um aguilhão que impulsiona o autêntico pesquisador em direção ao conhecimento, e, até certo ponto, ela deve ser considerada um sintoma saudável da alma que está em busca da verdade. Entretanto, ao escavar bem fundo essa dúvida, tenho identificado muitas vezes um desejo recôndito de que não existisse a realidade astrológica, para garantir mais amplamente aquilo que convencionamos chamar “livre-arbítrio”.


Quando o estudante afinal se convence de que não há saída e os fatos científicos se impõem aos seus olhos com toda a força e evidência da verdade irrecorrível, surge inevitavelmente a indagação: mas, se a Astrologia é um fato, será que nós somos um mísero e indefeso joguete dos astros, e tudo que nos acontece é fruto de ângulos planetários? Seremos bonecos cujas ações, longe de ser o produto de uma vontade própria, são apenas o resultado de uma posição astronômica no espaço naquele instante longínquo em que nascemos? Nosso amor próprio, nosso orgulho humano se revoltam contra tal ideia. Nada mais chocante do que acreditar durante toda uma vida que sempre fizemos o que desejávamos, e descobrir um dia que mãos invisíveis teciam nosso destino e haviam movimentado a cada instante os cordéis da nossa vontade. A crise filosófica em que esse raciocínio necessariamente nos submerge, além de nosso sentimento de angústia e rebelião, se tornam ainda mais profundos quando nos detemos a observar a realidade à nossa volta e descobrimos aquilo que só podemos qualificar de terrível injustiça cósmica: ricos e pobres, nobres e miseráveis, felizes e infelizes, sadios e doentes, puros e sórdidos, perfeitos e mutilados, lutadores e parasitas, coexistindo lado a lado, evidenciando uma outra realidade interna, essa produzida pela visão exclusiva e privilegiada do astrólogo – a dos horóscopos individuais – igualmente cheia de disparidades e contrastes. É claro que idêntica consideração filosófica se impõe àquele que não possui a bagagem do astrólogo. Essa mesma realidade de contrastes nos é apresenta à vista diariamente e não deixa de nos conduzir a uma incômoda dúvida sobre a bondade infinita do nosso criador, na qual desejamos por força acreditar e que nos foi ensinada em quase todas as doutrinas religiosas.


Mas a visão do astrólogo mostra algo mais: mostra qualquer coisa que soa a inevitável e a irrevogável. É nesse momento que a crise chega a um impasse: duvidar da Astrologia – e há um ponto em que isso já não é mais possível – ou da justiça divina – e isso significa derrubar um alicerce no qual nosso inconsciente está solidamente ancorado, de uma forma ou de outra. Resta a posição materialista de que não existe Deus e, portanto, não há lugar para considerações sobre “bondade” ou “justiça” divinas. Existem horóscopos individuais “felizes” e “infelizes” e isso encerraria a questão. Não deixa de ser uma posição cômoda como doutrina filosófica, mas obviamente não responde à indagação básica, que é a do determinismo versus livre-arbítrio.


Para aqueles que buscam uma explicação transcendente, há a resposta dos espiritualistas: tudo o que somos hoje é produto de nossos próprios atos passados, em vidas anteriores – a Lei do Karma ou da Causa e Efeito. A bondade divina se manifesta nas múltiplas oportunidades que nos confere o universo para redimir nossos erros e aprender com as novas experiências oferecidas em cada encarnação, e assim progredir na senda da verdade, até alcançarmos o Nirvana. Todo sofrimento é justo, pois resulta de uma má ação cometida por nós mesmos. Todo benefício é igualmente justo, uma vez que nos advém de um mérito passado. Nosso horóscopo individual, de acordo com esse raciocínio, nada mais é, portanto, que o “saldo” de nossas ações passadas, e a nossa “contracorrente” herdada do conjunto das encarnações anteriores.


Essa posição espiritualista nos reconcilia com o Criador, e nos permite voltar a crer na sua bondade e justiça – embora ainda possamos indagar por que é que Ele nos deixou um dia incorrer no primeiro erro, o que causou todos os outros e nos prendeu tão irremediavelmente à roda triturante das reencarnações. E a resposta a isso talvez pudesse ser “porque ele nos deu livre-arbítrio para optar entre o bem e o mal e, naquele dia, nós infelizmente optamos pelo mal”. Mas, redarguimos, não poderíamos agir mal senão em função de uma potencialidade para o mal! E essa potencialidade para o mal não nos adviria do nosso próprio horóscopo “infeliz”? E se nascemos com tal horóscopo “infeliz”, isso não tinha que ser necessariamente a consequência de um erro anterior?!


Há certamente um sofisma neste raciocínio, na presumida potencialidade para o mal: ela existe não apenas no horóscopo “infeliz”, mas também no “feliz”. E assim a pergunta se alonga para muito mais além e teríamos que questionar sobre o porquê da existência do mal em si. Mas isso pertence ao campo da Metafísica, não mais da Astrologia. Ainda que a explicação espiritualista nos deixe em paz novamente com o Criador, ela não resolve, à primeira vista, a questão do livre-arbítrio, de acordo com a visão astrológica. De certa forma, a proposta reencarnacionista nega o livre-arbítrio quando nos leva a concluir que nosso horóscopo é fruto inevitável de nossas ações passadas. Isso seria o mesmo que dizer: uma vez estabelecido o horóscopo de nascimento – “feliz” ou “infeliz” – tudo que nele está prometido, agradável ou desagradável, terá necessariamente que se realizar, para que nossas “dívidas” passadas sejam pagas e os méritos “cobrados” aos que nos deviam – “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos àqueles que nos ofenderam”. Não seria uma forma de pedir a abreviação dessa espécie de “vendetta” cósmica?


Por esse raciocínio, no entanto, notamos que a inevitabilidade do nosso destino transcende os limites do horóscopo, que corresponde à nossa atual encarnação, e se estende aos futuros horóscopos que herdaremos. As “dívidas” atuais são pagas, os méritos são “cobrados” e o “saldo” resultante se transfere para a encarnação futura, segundo um horóscopo que lhe corresponde em número e medida, e assim sucessivamente. Mas a resposta reencarnacionista certamente não nega o livre-arbítrio. Pelo contrário, o exalta. Ela nos diz que as circunstâncias da vida – nós traduziremos por “as condições astrológicas do nascimento” – nos colocam diante de certas escolhas, e são essas escolhas que irão determinar a espécie de vida – nós diremos “o horóscopo” – futura que teremos.


De fato, a inevitabilidade não está na escolha que fazemos, mas nas condições astrológicas que a puseram diante de nós – e estas sim são fruto de nossos atos passados. A forma de nossa escolha é livre e ditada unicamente pela nossa vontade. E ela que determina as “flutuações” do nosso “saldo” kármico, calcando os pratos da balança para cima ou para baixo. Em suma, movimentamos a nossa conta bancária do “céu”, acumulando reservas para as vidas futuras ou dilapidando as já existentes, de acordo com as ações presentes, que são opções livres diante de fatos inevitáveis. Não resta dúvida de que, colocada desta forma, a explicação espiritualista nos satisfaz muito mais amplamente do que qualquer teoria materialista. Ela torna compatível um aparente determinismo com o nosso conceito de justiça e adapta a visão astrológica a parâmetros filosóficos muito mais aceitáveis para o espírito racional. Resta ainda, porém, explicar de que maneira as circunstâncias astrológicas inevitáveis, pois que já estão estabelecidas quando nascemos, se colocam diante de nós para escolha – essa voluntária – e qual seria na verdade o nosso grau de liberdade nessa escolha, dado que esta mesma não poderia estar livre das próprias circunstâncias astrológicas que as produziram.


A Transmutação Astrológica


Se, em determinado período da vida estamos sob um influxo cósmico que a Astrologia qualifica como Quadratura de Saturno – o que deve ser traduzido como um período muito difícil, desagradável, duro, cheio de privações e adiamentos, perdas e sofrimentos, pela natureza maléfica do planeta e do ângulo em questão – a tradição nos ensina que uma série de acontecimentos nos aguarda, todos relacionados com a natureza própria do planeta Saturno, além de outras considerações que nos remetem a cada caso individual – tais como a casa onde se localiza o planeta, as casas regidas por ele, etc. Para simplificar, vamos enumerar apenas cinco das consequências prováveis dessa quadratura: morte de um parente idoso; fratura de um osso; um mau negócio imobiliário; uma profunda depressão psíquica e debilidade física; ou uma situação de grande isolamento e privação das condições normais de conforto.


Certamente, nenhuma dessas opções nos parece atrativa. Por nossa vontade, evitaríamos todas elas. Saturno, porém, exige seu imposto, é preciso satisfazê-lo, pois em Astrologia, não existe “sonegação”. Muita gente optará por pagar esse “imposto” no plano físico: uma fratura, uma doença, uma depressão lhe parecerão mais baratas que a perda de um ente querido. Outros preferirão uma perda financeira. Outros pagarão o imposto na íntegra, sofrendo nos cinco itens. Uma questão que depende do grau de evolução individual ou do nível em que se encontra a “dívida” atual em termos kármicos.


Está claro que, na imensa maioria dos casos, essa “opção” é absolutamente inconsciente. Há um fluxo de energia proveniente da vontade íntima que sopra na direção dos acontecimentos que o indivíduo mais necessita experimentar, a título de evolução espiritual. Ou sopra na direção que seu super consciente exige como “cobrança” kármica. São mecanismos complexos que somente os interessados no campo esotérico chegam a estudar. De qualquer forma, existe uma opção possível, e está entre os vários planos de vivência de um aspecto ou posição astrológica – seja no mapa de nascimento, seja nas progressões e trânsitos durante a vida. Como nos ensina Hermes Trismegisto, “existem vários planos de causalidade, porém, nada escapa à lei”. Creio que esta frase resume o que se pode dizer de mais importante em matéria de livre-arbítrio. Podemos “jogar” entre os vários planos causais, mas não podemos simplesmente fugir a um aspecto ou influência, qualquer que seja.


Quais serão esses “planos de causalidade”? Podemos enumerar cinco deles, os mais comuns em nossa vida terrestre: lº) plano físico; 2°) emocional; 3º) social; 4º) profissional e 5º) simbólico. O plano físico é o preferido da maioria das pessoas. É através da saúde que mais frequentemente resgatamos nosso karma. No exemplo do aspecto de Saturno, que mencionamos há pouco, é uma fratura, que nos imobiliza numa camada de gesso, ou uma doença prolongada, que nos amarra a um leito de hospital. No plano emocional, é uma depressão, que nos subtrai a alegria de viver, nos afasta dos amigos e da família e nos obriga a passar por tratamentos penosos. Pode ser também uma dor moral, um medo, uma preocupação, uma pesada responsabilidade que nos assusta e rouba nossa paz de espírito.


No plano social, a influência se dilui entre pessoas de nosso convívio – a família, os amigos, os colegas de estudo e trabalho. Saturno cria distancia, esfria relacionamentos, separa e chega a destruir vidas ao nosso redor. Pouco poder de decisão nos compete neste plano, já que nele dependemos de terceiros, e, mesmo que façamos nossa parte para evitar as piores consequências, nada podemos fazer a respeito da vontade alheia. O plano profissional é, em parte, um desdobramento do social, mas merece algumas considerações especiais. Na nossa atividade profissional cotidiana, vivemos aspectos astrológicos através de clientes, por exemplo. É como uma “transferência” da força do aspecto para outras pessoas. Assim, ao invés de sofrermos nós uma fratura, atendemos um cliente que acaba de ter uma. Ao invés de termos uma perda financeira, recebemos no escritório um cliente que faliu.


A vivência neste plano é particularmente reconhecível nas atividades que podemos denominar “sacerdotais”, ou seja, naquelas em que se subentende um aconselhamento ou prestação de socorro. É o caso, por exemplo, dos médicos, psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, assistentes sociais, sacerdotes e astrólogos, é claro. Finalmente, o plano simbólico é o mais sutil. Em nossos sonhos e pesadelos “descarregamos” os medos, angústias, preocupações e desejos reprimidos. Ao sonharmos com uma guerra, por exemplo, vivemos um aspecto negativo de Marte; sonhando com cemitério, campos devastados, desertos e pragas domésticas, “gastamos” um Saturno negativo. E assim por diante.


A vivência simbólica é mais frequente do que pensamos nesta Era Moderna. Após a invenção do cinema e dos jogos computadorizados, abriu-se para nós mais uma opção de “descarga” de aspectos negativos. Assistimos a um filme de guerra e, quanto mais violento, mais o planeta Marte se declara satisfeito; vemos um filme de Kung-Fu, e Plutão – quem sabe também Marte, Saturno, Netuno e Urano, todos juntos! – ficam em paz conosco. Um drama de amor – quanto mais lacrimal, melhor – e aí gastamos a dor que nos produziria Vênus num drama autêntico. Um bom videogame simula com perfeição um combate aéreo – quem sabe lá gastamos o risco de um acidente de verdade!


O segredo da vivência simbólica é a transferência do sofrimento físico para um plano intelectual ou emocional, não raro tão ou até mais intenso ainda do que seria o drama físico, só que compactado num pequeno espaço de tempo – o tempo que dura o filme ou o jogo. Se medíssemos as lágrimas derramadas por alguns telespectadores durante um só capítulo de certas novelas, é provável que superem as que dispenderiam numa separação conjugai. Ou se aferíssemos a pulsação e os batimentos cardíacos de um garoto enquanto mede forças com seu videogame, certamente entenderíamos a descarga de energia que isso representa para Urano ou Marte em mau aspecto.


Aos artistas, o reino dos símbolos destinou uma válvula especial para cada mau aspecto: pinte para si mesmo um quadro triste, e lá se vai a quadratura de Saturno, transformada nas tintas de uma paisagem melancólica; componha uma marcha militar, e Marte se gratifica com ela; escreva uma poesia nostálgica, e Vênus se delicia; escave na pedra a escultura de um pequeno monstro, e Plutão desejará levá-la para sua coleção particular. Não há mau aspecto de Saturno com Plutão que resista a uma carreira como a de Steven Spielberg, o grande cineasta da atualidade, cujas criações cinematográficas jamais deixam de registrar cenas horripilantes, em que baratas, escorpiões e serpentes disputam espaço com cadáveres em putrefação, alimentos repulsivos, tripas arrancadas à mão e gente esmagada, devorada ou triturada aos pedacinhos. Spielberg – que, não por acaso, possui em seu mapa natal uma conjunção Saturno-Plutão – é uma verdadeira panaceia para descarregar aspectos que tragam desastres terríveis. Consciente ou inconscientemente, este cineasta usa em sua criação tudo aquilo que poderia ocorrer com ele na vida diária. Outro exemplo interessante disso está em Van Gogh, outra vítima do mau aspecto Saturno-Plutão, que passou a vida a pintar cenas de miséria humana; ou Victor Hugo, com o mesmo aspecto, que teve uma enorme produção literária, mas cuja obra mais famosa foi exatamente a que retrata as mais tristes cenas da exploração humana: “Os Miseráveis”.


Percebemos por estes exemplos uma das possibilidades de usar nosso livre-arbítrio: podemos transferir a vivência dos aspectos astrológicos de um plano para outro. Como já dissemos, essa transferência é inconsciente na maioria dos casos. Mas pode tornar-se consciente quando a pessoa conhece Astrologia, identifica ou prevê os aspectos que a afetam e assume a responsabilidade de desviar a força do aspecto para outra direção. Em geral, basta a vontade forte para promover a transferência. Entretanto, é sempre útil empregar um ponto de apoio, como um filme, uma novela, o jogo certo ou a criação artística, pois não deixam de ser formas mágicas de defender-se dos aspectos nefastos.


Neste capítulo sobre as vivências simbólicas, cabe ainda citar as do gênero cerimonial, que são em geral aplicadas de forma programada, intencional. É o caso das ordens iniciáticas, como a Maçonaria e a Rosacruz. Em ambas, tal como nas antigas cerimônias do Egito, determinados ritos simulam a morte do candidato à iniciação nos mistérios. Foram criadas com a finalidade de preparar o candidato para o verdadeiro momento da sua morte, mas também para fazê-lo sofrer a morte simbólica para a vida profana, e seu renascer para uma nova vida de iniciado.


No Egito – e ainda hoje nas lojas maçônicas mais preocupadas com a perpetuação dos antigos segredos – tais cerimônias desencadeavam enorme força mágica, onde mantras especiais e uma poderosa egrégora se somavam para produzir no profano um formidável impacto. Exatamente a força desse impacto era capaz de “descarregar” as energias negativas de sua existência profana, e, de quebra, resolvia os maus aspectos astrológicos que pudessem abreviar indevidamente o curso de sua vida.


Conheci certa vez uma senhora que passava por um período crítico na vida. Sua convivência em família era problemática, tinha conflitos com o marido, a atividade profissional ia mal, tudo estava naufragando. Desejou morrer, porém, não lhe passava pela ideia suicidar-se, fosse por sua formação religiosa, fosse porque tinha filhos menores para criar. Mas, tendo algum conhecimento quanto aos ritos simbólicos, preparou para si mesma um “funeral”. Sozinha em casa, e, em absoluto segredo, cercada por quatro velas acesas, deitou-se na cama, cobriu-se com um pano negro e, através de uma prática que lhe era familiar, entrou em “alfa”, programando-se para retornar dali a algumas horas. Voltou à vigília consideravelmente aliviada das tensões e muito mais preparada para enfrentar suas dificuldades. A pequena cerimônia serviu-lhe, portanto, às mil maravilhas para descarregar os pesados problemas que vivia.


Tão poderoso foi seu singelo ritual solitário, do qual se absteve de falar com qualquer pessoa da família, que, na manhã seguinte, a filha menor, com quem tinha uma ligação mais afetuosa, entrou correndo em seu quarto, tomada de prantos convulsivos, e gritando: “Mamãe, mamãe, eu sonhei que você tinha morrido!”. A sua “morte cerimonial” tinha sido gravada tão fortemente na memória astral – ou akasha, como se diz em sânscrito – que sua filha foi capaz de captar a imagem em sonhos.


É assim, através de mensagens que impregnam dimensões mais sutis, que se opera a “descarga” dos aspectos que ameaçam a pessoa nos planos mais grosseiros. Os sacerdotes e os grandes iniciados das antigas ordens de magos conheciam o processo pelos quais tais mensagens melhor se gravam na memória da natureza – e do candidato aos mistérios – de forma que a própria aura, assim como os corpos mais sutis da pessoa, ficavam assinalados com a experiência. Assim, poderiam ser reconhecidos por outro mago, ainda que muitas vidas se tivessem passado. Na verdade, a vivência “teatralizada” funciona como se a experiência tivesse ocorrido de fato na vida da pessoa. Pelo menos, para fins astrológicos, o processo é muito eficiente.


Citando mais uma vez Hermes Trismegisto, sua primeira lei nos ensina que o todo – ou o universo – é mental. É como dizer que tudo que existe à nossa volta e que nos parece tão sólido, opaco e pesado, não passa de energia pura – apenas um pouco mais condensada. Curiosamente, em uma de suas peças pouco conhecidas, A Tempestade, Shakespeare nos diz algo bem semelhante: “0 mundo é feito da mesma matéria de que se fazem os sonhos”. Sendo assim, o universo é como uma imensa máquina de videogame, com cenários virtuais muito aperfeiçoados, e nós não passamos de pequenos personagens igualmente virtuais, que lutam, trabalham, estudam, sofrem, amam, têm filhos, guerreiam e morrem.


Da mesma forma que nos nossos sofisticados programas para jogos de vídeo, os personagens lutam, enfrentam obstáculos, tentam salvar sua pele e a da amada princesa, enfrentam adversários impiedosos, e, conforme nossa habilidade em lidar com a máquina, sobrevivem ou morrem. “Ganham-se” vidas adicionais, de acordo com méritos previamente estipulados nas regras do jogo, ou se “perdem”, conforme as mesmas regras. No próximo jogo, com uma nova vida, os mesmos personagens voltam a enfrentar outras dificuldades, e assim por diante. No imenso holograma cósmico, somos suas minúsculas partes, cópias idênticas do todo, dotados da mesma inteligência e do mesmo poder – embora pouco conscientes disso. Michael Talbot, no livro O Universo em Forma de Holograma já prenunciava a descoberta científica moderna dessa visão de Hermes. Estaremos, em nossos inocentes joguinhos para adolescentes, tentando imitar o holograma cósmico?


Se o universo é um grande cenário virtual, guiado por forças intangíveis, e manipulado segundo regras previamente traçadas – regras secretas que os astrólogos descobriram como funcionam, e que, tais como Cassandra, proclamam aos quatro ventos, mas quase nunca são ouvidos – é possível entender por que se pode transferir de um plano para outro as influências do nosso horóscopo. Faz parte desse grande jogo “ganhar vidas” ou vantagens – se cumprirmos rigorosamente certas condições – como faz também parte perdê-las e sofrer castigos, no caso de infringirmos as normas prescritas. Ou seja, prolongamos nossa vida terrestre e angariamos algum tipo de prêmio sempre que obedecemos a regras específicas. Abreviamo-la e sofremos derrotas quando deixamos de segui-las.


De alguma forma, coube sempre aos sacerdotes de todas as eras enunciar tais regras, sendo que o prêmio se colocava sempre para além da morte. Daí o papel das religiões – elos feitos para “religar” o homem às suas origens e aos segredos do universo. Como vimos, as escolas iniciáticas da vertente hermética foram bem mais longe do que isso, ensinando aos seus discípulos a verdadeira natureza do Grande Jogo Cósmico.


Uma conclusão se impõe sobre tudo isso: o livre-arbítrio é tanto maior quanto mais alto o grau de consciência do indivíduo em relação a esse Jogo Cósmico. A Astrologia, regida por Urano, o primeiro dos planetas não visíveis a olho nu em nosso Sistema Solar, é também a primeira das chaves para a descoberta das leis do universo. Aquele que estudá-la e aplicá-la em prol de seu autoconhecimento e nas previsões de seu próprio futuro, conseguirá superar inúmeros obstáculos, que a outros parecerão impossíveis, e saberá como viver, em esferas muito mais refinadas, os aspectos de dor e sofrimento por que teria de passar normalmente.


Ao iniciado, outras chaves mais secretas se apresentarão como recursos extraordinários para transcender a dimensão grosseira dos mundos material e emocional: a segunda chave é a Kriya-Yoga, regida por Netuno – segundo planeta não visível – e a terceira é a Alquimia, governada por Plutão – o terceiro planeta não visível. As três chaves são dadas aos mortais como instrumentos para superar o karma, reduzindo o número de reencarnações obrigatórias. No Jogo Cósmico, são “prêmios extra” conquistados através de méritos muito especiais, méritos que se adquirem levando uma vida austera, renunciando a prazeres frívolos e dedicando-se ao serviço do próximo e da humanidade. Tais são, em síntese, as regras desse jogo. Entretanto, mesmo conhecedor de vários destes recursos, há momentos em que o domínio de nosso destino fica realmente ameaçado. É quando os acontecimentos estão nas mãos de terceiros – estes sem qualquer acesso ao conhecimento das regras do jogo.


No exemplo anterior, a influência de Saturno poderia, entre outras consequências, trazer a doença e até a morte de uma pessoa querida – geralmente idosa – como o pai ou a mãe. Mas, como persuadir certos velhinhos obstinados de que já passaram da idade de subir em telhados para limpar as calhas? Como convencê-los de que precisam tomar os remédios nas horas certas, mesmo quando já se sentem curados? E assim, alguns de nossos aspectos nefastos são vividos de maneira bem desagradável, sem que tenhamos tempo de intervir. Estes fatos servem para nos mostrar que está razoavelmente em nosso poder modificar o karma pessoal, mas que o de outrem geralmente foge à nossa competência. Há poucos exemplos de que alguém conseguiu alterar o destino de outra pessoa. É o caso de mães que salvam a vida de um filho – seja por um gesto heroico, seja pelo poder de orações – ou de amantes apaixonados, quando o heroísmo e a abnegação igualmente entram em cena.


Nestes casos, de imediato se percebe a intervenção de três fatores, todos dotados de um incrível poder mágico e transformador: o amor, o sacrifício e a fé. Não é raro que, para salvar o filho, se dê em troca a vida da mãe – o mesmo ocorrendo entre os amantes. Assim é a norma do jogo: você pode salvar outra vida, contanto que entregue a sua. Às vezes, a simples disposição de dar a vida em troca de outra é suficiente para resgatá-la. Em ambas as possibilidades, o amor foi o preço inestimável pago para se obter o prêmio da outra vida. Aprendemos aqui uma regra de ouro do Grande Jogo: o amor – não o amor passional ou possessivo, mas o amor-doação, o amor capaz do sacrifício maior – é uma das formas de redenção, talvez a mais poderosa de todas. A fé é outra força redentora, mas, como diz São Paulo, nada vale se não houver amor.


Falemos um pouco sobre o livre-arbítrio quando se trata do mapa astral de um criminoso ou de um viciado. Há mapas simplesmente “terríveis”, dos quais um astrólogo deduzirá com facilidade acontecimentos trágicos e alta cota de dor e sofrimento. Diríamos talvez que tais indivíduos, com tendências notáveis para o vício ou o crime, tiveram pouca chance de evitar seu triste destino, pelo mapa astral que lhes coube. Mas, o mesmo mapa astral, violento e terrível, pode ser encontrado em indivíduos cuja vida foi inteiramente dedicada ao benefício da humanidade, e que deixaram uma obra magnífica para a posteridade. No entanto, eles encontraram um destino trágico, com perseguições, prisão, tortura, mutilação, perda de tudo e de todos que lhes foram caros, e finalmente morreram nas piores circunstâncias.


Citemos o caso de Giordano Bruno, o grande iniciado do século XV, que, após permanecer preso por sete anos, sofrendo as mais terríveis torturas, morreu na fogueira da Inquisição; de Ludwik Zamenhof, o criador do esperanto, cuja família foi assassinada e os bens confiscados pelos nazistas; de Jan Amós Comenius, um dos mais admiráveis educadores de todos os tempos, cuja família também foi assassinada, a casa e a preciosa biblioteca foram queimadas, e que morreu no exílio; o célebre sábio e alquimista Sendivogius, preso e torturado até a morte; ou William Wallace, o herói libertador da Escócia, cuja vida foi objeto de um filme recente, Coração Valente – perseguido, traído, a esposa assassinada, e, por fim, barbaramente torturado e decapitado; ou Mahatma Gandhi, iniciado, sábio e libertador da Índia, um dos maiores homens da Terra, preso a maior parte de sua vida, perseguido e brutalmente assassinado. Seus mapas astrológicos certamente mostram o destino trágico que tiveram. Mas suas vidas foram limpas, suas obras, beneméritas e suas almas, abnegadas.


Ao nascer, o homem recebe uma pequena coleção de instrumentos de trabalho: um recebe uma machadinha, uma régua, uma pá. Outro ganha um martelo, um lápis, uma faca. O primeiro vai usar a machadinha para cortar lenha, a régua para desenhos arquitetônicos, a pá para plantar árvores. O segundo vai usar o martelo para arrombar janelas alheias, o lápis para contar o dinheiro que roubou, a faca para matar. Antes de nascer escolhemos os instrumentos de trabalho com os quais viremos ao mundo. Esta é a parte que não poderemos mudar. Durante a vida, porém, recebemos a liberdade de optar pelo uso que faremos desses instrumentos. É neste setor que mais podemos exercitar o livre-arbítrio. Inclusive, eventualmente, por nosso mérito, aplicação e inteligência, talvez consigamos criar nós mesmos alguns novos instrumentos, ou aperfeiçoar os que já temos. Podemos ainda melhorar o uso daqueles que recebemos sem um “manual de instruções”.


Resta abordar a interessante questão do livre-arbítrio a nível coletivo. Conta-se que um grande astrólogo persa previu um terremoto em sua cidade. Deu-se o trabalho de avisar a todos no lugar que haveria um imenso desastre, e que muitos morreriam se não abandonassem suas casas. Os habitantes apenas riram dele, ninguém saiu de casa. Fiel aos seus prenúncios, o astrólogo foi à praça da cidade, aguardar o terremoto. Já tarde da noite, começou a nevar e a fazer um frio intenso. Temeroso de morrer ali mesmo, de frio, ele acabou por recolher-se de volta à sua casa, onde um fogo acolhedor o esperava. Sua previsão se cumpriu: veio o terremoto, a cidade foi bastante destruída, muitos morreram, incluindo o nosso pobre astrólogo.


É muito raro que alguém dê ouvidos às profecias dos astrólogos, mesmo quando são acertadas. Nosso astrólogo persa não foi o único a prever corretamente os terremotos. Outro, mais moderno, Alfred Pearce, previu com exatidão de dia, diversos tremores nos Estados Unidos, publicando suas previsões num almanaque popular. Ninguém lhe deu crédito a ponto de deixar a cidade, exatamente como ocorreu com o colega persa. Felizmente, não houve danos terríveis, e com certeza os habitantes acharam boa a decisão de ficar em casa. Se já é bastante difícil para um indivíduo mudar seu destino através de algum trabalho ou sacrifício, pode-se imaginar como será mudar o de uma cidade ou nação inteira. Seria preciso mobilizar a opinião pública numa direção que talvez seja completamente contrária às suas tendências naturais. E, mais provavelmente, acharão demasiado incômodo mudar seus hábitos para seguir um “profeta” qualquer, ainda que já muitas vezes ele tenha mostrado ser eficiente. Já houve tempo em que os governantes se deixavam assessorar por astrólogos – ou eram eles mesmos versados nesta ciência, e o próprio povo conhecia dela o suficiente. O povo seguia as orientações e as mais sérias decisões eram tomadas sob a égide da Astrologia. Mas a tendência atual é deixar acontecer.


Há duas formas pelas quais se pode abrandar, senão resguardar-se de todo da influência nefasta de certos aspectos. Ambas nos remetem para o terreno da Alquimia. Uma delas é a confecção de talismãs astrológicos, baseados no trânsito de um planeta benéfico, como Júpiter ou Vênus, sobre o mapa astral de um determinado indivíduo, num momento cósmico especialmente calculado. Serão válidas somente para aquele indivíduo em questão, e para mais ninguém, e poderão servir como um autêntico para-raios em relação a aspectos nefastos do mapa natal, ou de passagens transitórias da pessoa durante um período da vida. Poucas pessoas são capazes de calcular corretamente tais talismãs, e muitos charlatães, atribuindo-se “poderes mágicos” comercializam medalhas protetoras – um mercado fácil para vítimas ingênuas. Mas sabemos como a medalha autêntica pode realmente defender a pessoa contra um mau aspecto. Produzida em metal apropriado, emana sutilmente uma influência inspiradora. A outra forma de defesa requer um grande esforço pessoal e muita sabedoria. Representa a verdadeira saída transcendental para aqueles que não aceitam as formas grosseiras de “pagamento” dos impostos dos astros.


Somos unânimes em considerar pouco criativos, e nada construtivos, os tributos que Saturno nos oferece à escolha. Afinal, qual a utilidade prática de uma fratura? Ou da perda de um imóvel? De uma dor de dente? A influência astrológica está aí, essa não podemos evitar, como não podemos impedir que chova. Mas, não seria possível evitar de nos molharmos? Haveria um meio de proteger-nos da influência de Saturno, qualquer coisa parecida com um guarda-chuva antiplanetário?


Conta-se que Hitler chegou a construir um abrigo subterrâneo, coberto com uma placa metálica muito espessa – não para protegê-lo das bombas, mas para servir como anteparo contra influências astrológicas nefastas. Talvez ele tivesse tido alguma indicação sobre as medalhas que mencionamos. Certamente, ninguém poderia defender-se de modo tão tosco e simplista. Influxos astrológicos são de natureza sutil e precisam ser tratadas com outro gênero de providências.


 Esse guarda-chuva antiplanetário efetivamente existe. Apenas requer que cada um de nós o construa com seu próprio esforço, sua energia, prudência, sabedoria, discernimento e paciência. É exatamente nesse momento que a capacidade individual de transmutação entra em cena. Que coisas positivas, boas, construtivas e agradáveis são governadas pelo mesmo Saturno? Citemos algumas: o trabalho profundo da mente, a pesquisa séria de uma teoria filosófica, a ciência, as lides agrícolas, o esforço digno e paciente para descobrir as origens de um mistério qualquer da natureza, o autoconhecimento, o cultivo da força de vontade, a construção lenta e minuciosa de um plano de futuro, de uma ideia, de um sonho que alimentamos há muito tempo.


Uma obra perene, ou a reconstrução de algo que no passado foi destruído pela nossa imprudência ou ignorância. A realização de uma tarefa que noutra época nos pareceu pouco compensadora, ou demasiado difícil, ou tediosa, mas que sabemos necessária e adiada. Ou colocar na devida ordem coisas velhas, abandonadas, esquecidas e desorganizadas, que há anos atiramos no sótão e cujo peso um dia fará o teto desabar. São opções sadias e benéficas que Saturno nos propõe, por que não aceitá-las? Acaso darão mais trabalho que um osso quebrado ou uma crise suicida? Talvez assim pareça, para alguns, à primeira vista, mas aqueles que aceitarem o desafio e assumirem voluntária e prazerosamente esse lado positivo, poderão saborear, como um delicioso manjar, o gosto de uma vitória íntima, uma batalha ganha sobre nós mesmos – e sobre as poderosas forças vindas do espaço, e sentirão como a pesada nuvem de Saturno, com seu imposto inexorável, se desvanecerá por si, deixando apenas um rastro de satisfação, uma consciência de poder e de saber que faz o homem crescer internamente e sentir-se mais perfeito, mais sábio e mais próximo do Criador.


Ao fim da quadratura avaliamos o seu saldo, e, com surpresa, descobrimos que criamos qualquer coisa de maravilhoso, que deixamos uma semeadura fértil, cujos frutos colheremos por muitos anos; que gerações seguidas nos recordarão com gratidão por uma obra admirável que legamos, e que um tempo de resignação e esforço dedicado levantou todo um edifício sólido, durável e belo, que nos abrigará da intempérie e mostrará seu valor e utilidade futura. Enfim, diremos que a tarefa não foi assim tão penosa, e, além de tudo, nos deixou mais ricos de alguma forma. Tal como Tom Sawyer, o famoso personagem de Mark Twain, aprenderemos que caiar um muro não era afinal uma punição, e nem sequer um trabalho, mas uma atividade simples, onde a alma sem preconceito poderia encontrar alegria e até mesmo certo encanto. É assim, apenas com uma nova disposição de espírito, que o chumbo de Saturno se transforma no ouro solar. Como nos ensina o velho Hermes: “A verdadeira transmutação é uma arte mental”.


O Zodíaco Sideral

Uma novidade de 3.500 anos


Um sábio de nome Parâshara, que nasceu na índia cerca de 1.500 anos antes da Era Cristã, é autor de alguns dos mais antigos estudos sobre a saúde humana do ponto de vista astrológico, e de cálculos documentados da distância do equinócio à estrela Revati – Zeta Piscium – ponto de partida do Zodíaco Hindu. Sua preocupação em fazer esse cálculo mostra o conhecimento, que já possuía, à época, sobre o movimento precessional. No mundo ocidental, esse conhecimento data do século II a.C., quando o astrônomo e matemático grego Hiparco, além de avançar nas ideias sobre a precessão, afirmou que o Sol possuía uma órbita circular, da qual a Terra não era o centro. Nada, portanto, sustenta a pretensão de alguns modernos astrônomos de terem descoberto “recentemente” a precessão e muito menos a afirmação de que os astrólogos desconhecem o fenômeno e que continuam a considerar a Terra como centro do universo, pois tanto Hiparco como Parâshara e outros astrônomos hindus – como Mihira, Narâda, Garga e Ranavira – eram astrólogos.


A ideia do Zodíaco de Constelações, que a chamada Escola Sideralista quer que seja o único a ser usado, não é nova. Uma vasta literatura e uma estatística pelo menos milenar mostra até que ponto os astrólogos acharam útil esse sistema. Os hindus ainda hoje o aproveitam. Mas, nem os hindus, nem os astrólogos ocidentais chegaram ao absurdo de descartar o Zodíaco Trópico – dos signos – em favor do das constelações. Todos usam simultaneamente ambos os sistemas, aos quais se deve juntar ainda o sistema do Zodíaco Terrestre – das casas – baseado na trajetória diária aparente do Sol. Um astrólogo inteligente e eclético deve saber reunir as vantagens e as informações dos três Zodíacos, dando a cada um deles a importância que merece. O grave e insuperável defeito do referencial das constelações é não refletir os fenômenos vitais mais importantes da Terra, quais sejam as estações do ano.


Assim, pelos novos signos siderais, Áries, o mais perfeito símbolo do brotar da primavera, do calor que retorna, do ardor dos acasalamentos, da ressurreição da vida após o longo inverno, do Hemisfério Norte, vai cair nas águas do degelo, no frio úmido do mês final das neves – um quadro tão evidente e próprio de Peixes! Ora, a Astrologia é exatamente a ciência que pretende, através de uma simbologia peculiar, captar o sincronismo existente entre os fenômenos terrestres e o ambiente cósmico que nos circunda, descobrindo as leis que o regem e os ciclos que nos conectam ao universo. Qualquer sistema que destrua esse sincronismo será tudo menos Astrologia. A maioria das escolas astrológicas ocidentais da atualidade – e entre elas a sideralista, que nada mais é que uma micro corrente – são unânimes em atribuir às constelações a virtude de influenciar as civilizações como um todo, durante o correr de eras inteiras – como exemplo temos a Era de Peixes, Era de Aquário, etc. – proporcionando a cada longo período um sutil colorido com formas peculiares de comportamento e de visão filosófico-religiosa. Elas estudam também, e especialmente, a influência primordial das estrelas ditas “fixas” dessas constelações.


A ciência astrológica conta sua idade por milênios, e toda a prática e estatística de mais de 2000 anos provam que, tanto no plano individual como no coletivo, são elementos atuantes os signos zodiacais com início no ponto vernal, onde quer que ele se encontre. Tirante a influência sobre as longas eras da humanidade, o sistema sideralista se mostra irracional e impraticável, como adiante se prova. O absurdo da tentativa sideralista começa com a adoção de um sistema de referência móvel com relação ao nosso calendário e ao ano trópico, quando tudo o que se espera de um sistema de referência é que seja o mais fixo possível, justamente para que cumpra o papel de ponto de partida.


Assim, daqui a 72 anos, todas as criaturas nascidas no dia 22 de abril – data aceita pela União Internacional de Astronomia como início da constelação de Áries – passarão à regência de Peixes. Mais 72 anos depois, e também as pessoas nascidas a 23 de abril serão piscianas, e assim por diante. Por outro lado, como se faz tanta questão de usar as constelações como referencial, é preciso ser fiel ao quadro geral que elas impõem, ou seja, descobrir que influências próprias determinam astrologicamente – e que não serão necessariamente idênticas às dos signos zodiacais. Isto não se fez na Escola Sideralista, que usa exatamente os mesmos tipos caracterológicos do Zodíaco universalmente adotado, limitando-se a deslocá-los no tempo e no espaço. Ainda para sermos fiéis ao verdadeiro quadro das constelações, seria preciso dividir seu ciclo de acordo com as dimensões que cada constelação apresenta, e não, comodamente – e ilogicamente – de 30 em 30 graus, como fazem os sideralistas modernos. Assim, se há uma constelação de 44º de arco, como é o caso da Virgem, há uma outra de apenas 20º, como Câncer – e os respectivos signos sidéreos deveriam obedecer o mesmo critério de duração em dias. Há, além disso, a Constelação de Ophiucus, que passou em nossos dias a ter o Sol cruzando sua órbita anual por causa do movimento Precessional, e que então deveria ser incluída entre os “novos signos”. Ela ficaria entre Escorpião – reduzido a 7 dias, ou 9 graus de arco – e Sagitário, que teria mais ou menos 30º.


Mas, outros problemas são criados se utilizarmos o referencial das constelações; além de não terem um tamanho uniforme, não estão distribuídas numa sequência espacial perfeita. Suas áreas se interpenetram, de forma que há zonas onde na verdade se encontram duas constelações, como é o caso de Peixes com Aquário e de Virgem com Libra, sendo que Denébola, a segunda estrela mais brilhante da constelação do Leão, está vários graus para dentro da constelação da Virgem. Quando o Sol transita por certos graus dessas faixas, cruza duas constelações simultaneamente; a qual das duas pertence o indivíduo que nasce com o Sol nesses lugares? Como se isso não bastasse, há zonas do Zodíaco que não têm constelação alguma, dentre as que tradicionalmente são admitidas como pertencentes ao Zodíaco. É o caso de alguns graus entre Touro e Gêmeos, entre Gêmeos e Câncer, entre Câncer e Leão. São os “vazios” do Zodíaco, e as pessoas nascidas nessas faixas decerto precisam recorrer a um outro sistema solar que lhes dê o consolo de terem uma constelação de nascimento.


Com todas essas incongruências, o Sistema Sideralista, alardeado no Brasil com um sensacionalismo muito distante do procedimento científico que deve pautar o trabalho de um verdadeiro astrólogo – e importado como a última palavra em matéria de Astrologia no mundo – se apresenta na verdade como um “aleijado impraticável” e, sobretudo, ineficiente para os fins que se propõe e para as pretensões de exclusividade que apregoa. As influências visíveis e sentidas continuam a situar-se no Zodíaco Trópico, o dos nossos velhos signos tradicionais. Todos os arianos se encontram na descrição típica do velho Carneiro Zodiacal, mas qual deles se achará na pele do seu novo signo, Peixes? A superposição dos três Zodíacos permite estabelecer o autêntico horóscopo individual, com toda a multiplicidade incrível e riquíssima de possíveis combinações, que tem condições de refletir veridicamente sobre a infinidade de tipos humanos existentes. O sistema sideralista, ao contrário, com seu Zodíaco único, revela uma imaginação paupérrima, semelhante à da corrente folclórica da Astrologia, tão ao gosto da imprensa diária, com seus 12 tipos fixos, monótonos e invariáveis – em completo desacordo com a realidade humana.


História da Astrologia no Ocidente


Origens na Mesopotâmia


Para quem trabalha com astrologia no ocidente, a história segue um rumo definido, que começa na Mesopotâmia – há registros de cerca de 15 mil anos a.C., em que as fases da Lua já eram anotadas em pedaços de osso e estas parecem ser as mais antigas observações astronômicas que se conhece. A palavra Mesopotâmia é grega e refere-se ao fato de ser uma terra entre dois rios, o Eufrates e o Tigre (‘mesos” significa meio e ‘pótamos’ significa rios).

Os registros mesopotâmicos atestam o que se chama hoje de presságios, como origem da astrologia ocidental. Tal como ocorreu com outras culturas, tratava-se de examinar os céus para ver o que poderia afetar os reinos. A maior parte destes presságios misturavam previsões de tempo e astronomia, mas o que diferenciou os mesopotâmicos de outros povos do Ocidente foi que naquela época eles começaram a gravar de forma sistemática os fenômenos celestes e tentar correlacioná-los com eventos terrestres. Um exemplo do tipo de anotação de presságios do período acádio, veja o seguinte trecho:

“Se Vênus aparecer a Oeste no mês de Airu e os Grandes e Pequenos Gêmeos circundarem-na, todos os quatro, e ela estiver escura, então o rei de Elam cairá doente e não permanecerá vivo”.

O mais extenso documento contendo os presságios babilônios está no épico chamado Enuma Anu Enlil, condensados por volta do segundo milênio a.C.

A civilização mesopotâmica nasceu há cerca de 4 mil anos a.C. – com o povo ubaida, depois vieram os sumérios, que inventaram a escrita cuneiforme, uma das mais antigas formas de registro escrito, que consiste na confecção de formas de baixo-relevo com cunhas no barro, que depois era cozido.

O traço histórico marcante, que, segundo estudiosos, terá muito impacto na própria constituição da astrologia, como também de outros conhecimentos, é a forte instabilidade política da região, durante milênios. Os acádios conquistaram os sumérios (2330 a.C.). Em 1350 a.C. tem início o Império Assírio, que mais tarde irá estender seu controle político e cultural por toda a região da Mesopotâmia, parte da antiga Pérsia, Síria, Palestina e Egito (730 e 650 a.C.). O segundo império babilônico (612 a.C.) dura até a tomada da região pelos persas, quando também o Egito fica unificado sob a dominação política persa.

Com a perspectiva sempre presente da perda do poder por parte de lutas regionais, os reis e imperadores mantinham um séquito de observadores do Céu, que informavam em “memorandum” os fenômenos que viam, como sinais de eventos que ocorreriam aos poderosos.

Não havia o “mapa astrológico” tal como o conhecemos hoje em dia. Cosmologia e cosmogonia astral entremeavam-se nos longos épicos da criação, como as Tábuas de Vênus do rei Amizaduga e o Enuma Anu Enlil, cuja forma acabada será conhecida apenas nos últimos séculos anteriores à queda da Babilônia. Os registros falavam de estrelas fixas também e não há relatos sobre casas astrológicas ou aspectos tais como os conhecemos hoje.

Os sumérios inventaram o sistema sexagesimal, que facilitou operações matemáticas muito complicadas com relação à astronomia e este seu sistema numérico foi exportado para toda a antiguidade. Os egípcios adotaram este sistema para fazer ainda melhor suas correlações arquitetônicas e celestiais. Quando o Egito ficou unificado juntamente com a Babilônia, a troca de conhecimentos foi facilitada; durante a dominação persa também, sendo este povo muito devotado à astrologia, o que facilitou o intercâmbio entre Egito e Mesopotâmia. Sabemos que os egípcios construíam obras arquitetônicas alinhadas às estrelas fixas, com precisão de minutos de arco, talvez querendo a simpatia do Céu para com suas propostas de poder e religião, mas não pareciam ter nenhuma teoria planetária envolvida nesta função, nem técnicas matemáticas apropriadas.

Por todos os séculos que se sucederam, os povos que viviam entre o Tigre e o Eufrates continuaram cuidadosamente a registrar suas observações, até que após verificar a recorrência de ciclos planetários, chegaram a calcular com grande grau de acerto as posições dos planetas para o resto do tempo futuro. Registros de eclipses que começavam em 727 a.C. e que cobriam até o período após as conquistas de Alexandre mostraram-se corretos, segundo todos concordam. Naquele período babilônico, o que se fazia era marcar o Céu de acordo com estrelas, e não através de marcas fixas de um zodíaco de 30 graus; os babilônios usavam estrelas individuais para marcar a posição dos planetas.


A Dominação Persa


Em setembro de 539 a.C., o rei Nabonidus encontra as tropas do rei Ciro II, da Pérsia, perto da atual Bagdá. O império da Babilônia encontra seu fim. Com Ciro, a região encontra uma certa estabilidade. O período de enorme atividade e descoberta, dos astrólogos assírios e babilônios, havia chegado a um limite, também. Após centenas de anos registrando, nos “Diários Astronômicos”, os fenômenos celestes para informação dos reis, os persas, no contato com os astrólogos da Mesopotâmia, introduziriam a matemática no cálculo astronômico e astrológico.

A astrologia e astronomia conhecem um grande avanço, com a regularização dos calendários como consequência de um entendimento maior dos ciclos celestes. O período sinódico dos planetas é descoberto, assim como o período sideral. A descoberta destes dois períodos possibilitou a formulação de períodos planetários bem mais amplos no tempo. Os planetas ficam estabilizados em signos zodiacais ao invés de em constelações, como vinha se fazendo até então. Os cálculos matemáticos se provaram eficientes na sofisticação do sistema astrológico. O contato com os Mazdeísmo, religião persa, impulsiona a relação entre o simbolismo solar e astrologia, carregando para dentro do corpus astrológico o conceito de monoteísmo, que contradizia frontalmente o politeísmo assírio-babilônico.

A primeira carta astrológica conhecida da Babilônia data de provavelmente 29 de abril de 410 a.C. O registro indica signos zodiacais, mas sem graus. Conta o nascimento de uma pessoa em determinada data e elenca os signos em que a Lua e outros planetas estavam posicionados. Apesar de aparentemente terminar com uma predição, esta parte da tabuleta foi perdida.


A Era Alexandrina


Quando Alexandre, o Grande conquista o Egito, todo o período alexandrino vai destacar-se na história da astrologia ocidental. Até a chegada de Alexandre, o Grande, a região floresceu em cultura e conhecimentos, acumulados de todos os povos anteriores. A partir de Alexandre (331 a.C), toda a área fica sob dominação do império e o grego será a língua dominante. Tanto no Egito quanto na Mesopotâmia, dois generais alexandrinos ficarão responsáveis pelas dinastias subsequentes em cada uma das regiões. Na Mesopotâmia, o general Seleucos instaura a dinastia Seleucida e no Egito o general Ptolomeu I começa a dinastia dos Ptolomeus.

O período alexandrino foi rico na produção intelectual. Todos os povos sob a regra alexandrina tiveram a oportunidade de trocarem conhecimentos e ampliarem sua relação cultural com outras ciências nascentes. (Há muito que os gregos travavam contato com os babilônios; Pitágoras, Platão são alguns dos exemplos). O confronto cultural entre o pensamento helênico, que queria saber o por quê das coisas, e a tradição intelectual assíria, que se importava mais no como as coisas são feitas, alavancou a criação de uma explicação filosófica e matemática sobre o universo, o mundo natural. A filosofia estóica de Zeno, somada à teoria dos 4 elementos de Empédocles e mais tarde à teoria dos Humores de Hipócrates forneceu as bases da astrologia alexandrina. Enquanto os gregos teorizavam e procuravam melhorar a presteza matemática no cálculo de posições planetárias, os estudiosos caldeus calculavam alguns eventos dos ciclos: ascensão e ocaso, movimentos retrógrados, estacionários e oposições.

As cartas astrológicas do período de dominação helênico podem ter como exemplo a mais antiga, encontrada perto da região de Uruk, datando de 4 de abril de 263 a.C. Os graus de signo já eram mencionados:

“Ano 48 da Era Seleucida, mês de Adar, a criança nasceu. Neste dia o Sol estava em 13.30o Áries, a lua em 10o Aquário, Júpiter no início de Leão, Vênus com o Sol, Mercúrio com o Sol, Saturno em Câncer, Marte no fim de Câncer…” (…) “Ele terá falta de saúde… Seu alimento não será suficiente para sua fome. A riqueza que terá na juventude não permanecerá. No seu 36o ano terá riqueza. Seus dias serão longos em número…”

As outras três tabuletas abarcam de 258 a.C. a 235 a.C. – uma é carta de concepção e a outra de nascimento, mostrando graus zodiacais para o Sol e todos os planetas, sendo que a Lua está sem nenhuma datação matemática. A última das tabuletas, também de Uruk, registra várias predições:


“Júpiter… em 18o Sagitário. O lugar de Júpiter significa: Sua vida será regular, boa; ele se tornará rico, alcançará a velhice, seus dias serão numerosos. Vênus em 4o Touro. O lugar de Vênus significa: Onde quer que ele vá, será favorável para ele; ele terá filhos e filhas. Mercúrio em Gêmeos, com o Sol. O lugar de Mercúrio significa: Este bravo será o primeiro nas paradas, será mais importante do que seus irmãos”.

Uma das efemérides mais antigas data de 307 a.C., da era Seleucida – e até 42 d.C. elas foram produzidas. É desta época, também, o único texto com ilustrações de constelações e figuras zodiacais; as sete estrelas das Plêiades, que aparecem juntas da Lua crescente e o touro do Touro. Há também imagens do signo de Virgem com a estrela Spica, ao lado de Mercúrio e no reverso uma imagem de Júpiter com a estrela de oito pontas, ao lado da Hidra e do Leão. Com estas ilustrações, doze divisões, uma para cada signo do zodíaco; cada um destes signos está dividido em um micro-zodíaco, produzindo uma divisão de dois graus e meio ou dois dias e meio; cada signo zodiacal traz um comentário a respeito de sua significação astrológica.

A astrologia horoscópica conhecida por nós vai florescer, como já disse, na era alexandrina, com relação a aspectos mais elaborados. Os estudiosos que se debruçam sobre os textos gregos estão encontrando cada vez maiores evidencias disso. Uma das mais completas fontes dos registros gregos de astrologia foi compilada no final do século passado por uma equipe de estudiosos, e chama-se “catálogo grego dos registros astrológicos” iv.

IV EM 1898, FRANZ CUMONT CONDUZIU EXPLORAÇÕES ARQUEOLÓGICAS NA ÁSIA MENOR E SÍRIA; O RESULTADO ESTÁ EM STUDIA PONTICA (1906) E EM OUTRA OBRA, DE 191. EM COLABORAÇÃO COM OUTROS, CUMMONT PRODUZIU O CATALOGUS CODICUM ASTROLOGORUM GRAECORUM (28 VOLUMES), COM DESCRIÇÕES E FRAGMENTOS DE CÓDICES GREGOS.

Um sistema astrológico completo estava pronto por volta do século I de nossa Era, e escrito em grego, como se pode observar nos escritos de Doroteu de Sidon. Os registros gregos da era helenista estão cheios de referencias a um conhecimento ainda mais anterior da astrologia – em outras palavras, os para nós antigos gregos já escreviam sobre a astrologia referindo-se a ela como sendo muito antiga e contendo citações e/ou referencias a astrólogos ainda mais antigos é o do astrólogo Vettius Valens, que em sua obra se refere a velhos professores que encontrou em suas andanças pelo Egito, o que propiciou a este escritor que registrasse ensinamentos que somente são encontrados nas suas próprias obras.

Hiparco foi o primeiro grego a refletir sobre a precessão como sendo um fenômeno ordenado; compilou um catálogo de 100 estrelas (190-120 a.C.). O último mapa de nascimento escrito em caracteres cuneiformes que sobreviveu até nós data de 68 a.C. e Antioco I de Comagena, um dos últimos regentes helênicos, colocou seu mapa de nascimento em sua tumba (62 a.C.).


Persas, Gregos e Indianos – A Questão da Astrologia Indiana


O avanço das tropas de Alexandre fez com que o grego se espalhasse como língua cultural, como instrumento da helenização de toda a região da Ásia Menor, que incluía a Magna Grécia – por muitos séculos, a língua grega desempenhou o papel que hoje a língua inglesa ocupa em nossa vida cultural.

Assim, os métodos babilônicos anexados na astrologia egípcia – bem como os próprios métodos egípcios puderam viajar em grego até a Índia, espalhando o conhecimento. A maior parte dos termos técnicos encontrados na astrologia indiana “cuja origem pode ser encontrada em outra língua são gregos, não babilônios, nem coptas nem mesmo em antigo egípcio” e também é digno de nota que poucas palavras técnicas da astrologia grega tenham sua origem em qualquer outra língua. Entre as palavras semelhantes encontradas entre a língua grega e o sânscrito, encontram-se as referentes a casas e aspectos, o que talvez explique o impacto que a astrologia helenista teve na Índia neste item. Apesar de haver muita controvérsia a respeito do tema da origem e desenvolvimento da astrologia hindu, as referências encontradas nos textos indianos às figuras dos Yavanas – pessoas que falavam grego, ainda que de variada origem étnica – não deixa dúvidas sobre a troca de conhecimentos.


A Era Romana


Embora sob dominação romana, a cultura ainda era helenista. Apenas dois autores romanos destacam-se na astrologia: Marcus Manilius, autor de Astronômica (10 d.C.), um poema didático longo em latim; como ele não faz referências a autores da sua época, muitos duvidam de sua autoria, atribuindo o texto ao Renascimento e não à Antigüidade Clássica. Além deste, temos Julius Firmicus Maternus, que compilou muito do conhecimento da época e escreveu no seu Mathesis o livro 8, que trata de astrologia e suas técnicas, em latim; seu texto ficou conhecido por toda a Idade Média.

Data do primeiro século depois de Cristo o mais longo tratado astrológico de uma linhagem que nasce diretamente no movimento filosófico dos estóicos2. O trabalho não chegou até nossos dias inteiro, mas há diversas referências dele entre diversos autores até da Era Medieval européia. O autor é Doroteu de Sidon e o nome do trabalho é o Pentateuco, um longo poema astrológico em 5 livros. Doroteu é a mais velha fonte conhecida do sistema de triplicidade trina. Uma versão deste Pentateuco é conhecida como Carmen Astrologicum, a Canção da Astrologia, mas que nos chega através de uma versão comentada em árabe, possivelmente com acréscimos posteriores. Este trabalho mostra o uso das triplicidades, eclipses e uma série de pontos como ASC, graus, em torno do mapa.


2 ZENO, CERCA DE 300 A.C., ENSINAVA EM ATENAS PERTO DO STOA POIKILE (COLUNA PINTADA) DA ÁGORA (PRAÇA), DAÍ O NOME STOIKOS, QUE ORIGINOU ESTÓICOS. ZENO PREGAVA QUE O UNIVERSO ERA RACIONAL E GOVERNADO PELO DESTINO; O SER HUMANO DEVIAM ENCONTRAR SEU LUGAR NA SOCIEDADE, AJUDANDO A MELHORA-LA E CUMPRINDO SUAS OBRIGAÇÕES, E APRENDENDO QUE A MELHOR MANEIRA DE SE HAVER COM O DESTINO ERA NÃO FUGIR DELE, MANTENDO A CABEÇA FORTE E TRANQUILA.  O ESTOICISMO TEM 3 FASES, A ULTIMA DELAS ABARCA O PERÍODO EM QUESTÃO. MESMO SÊNECA SENDO ESTÓICO, NÃO ACEITAVA A ASTROLOGIA, EMBORA NO CORPUS DOUTRINÁRIO DA FILOSOFIA HOUVESSE LUGAR PARA UMA COSMOLOGIA COMPLEXA QUE ABARCAVA A TEORIA POLÍTICA E ÉTICA, ALÉM DA FÍSICA. ATÉ EM DESCARTES, MUITAS CENTENAS DE ANOS DEPOIS, VAMOS ENCONTRAR UMA FORTE TENDÊNCIA ESTÓICA. ESTE FOI O MOVIMENTO MAIS FORTE DE TODO O IMPÉRIO ROMANO.

Parece que algumas fontes consideram Teucer, da Babilônia como sendo o primeiro a delinear os decanatos astrológicos, que também é do primeiro século, mas não se tem certeza. Da mesma época, no cenário romano destacam-se o astrólogo Balbilus – que era parente do astrólogo de Augusto e Tibério, Trasilo, tornou-se conselheiro de Calígula, Tibério, Cláudio, Nero e permaneceu ainda no reinado de Domiciano.

Entre 117 a 18 d.C. reina o imperador Adriano, que foi um patrono da astrologia; seu mapa natal sobreviveu até nossos dias. A Roma imperial e republicana não nos deixa muitos registros da utilização de astrologia, mas a confluência de xamanismo, rituais mágicos e encantamentos de variada origem era grande o bastante para atestar que a astrologia viceja forte não apenas na periferia do império mas também na população da baixa Itália3. A tradição intelectual romana era bastante crítica com relação ao Zoroastrismo, Mitraísmo e demais práticas do Sol Invencível que adentrou a região conforme a fronteira política do estado Romano aumentava. Dentre os filósofos (estoicos) destacam-se Sêneca e Cícero; todos eles céticos com relação ao conhecimento astrológico. Mas a tradição continuava não apenas nas franjas do sistema, como foi aos poucos sendo levada e transformada em contato com as populações do norte da Europa e da Ásia Menor.

De todo modo, é desta época o conhecido Cláudio Ptolomeu (100?-170 d.C.?), egípcio de nascimento e provavelmente cidadão romano, embora tenha escrito em grego. Ptolomeu foi um grande sistematizador de uma certa corrente representativa do conhecimento astrológico, descrevendo no Almagesto e no Tetrabiblos tudo o que se conhecia a respeito na área e que se coadunava com as premissas filosóficas de Aristóteles. Portanto, Ptolomeu não pode nem deve ser considerado “a última palavra” na nossa raiz filosófica. Vários conceitos ele deixou de usar e até hoje, embora tenha se descoberto alguma evidência, por exemplo, de que ele jamais escreveu que havia apenas uma maneira de se calcular a Roda da Fortuna, ele utilizava um sistema de triplicidades bastante diferente de outros autores contemporâneos seus. Além do mais, Ptolomeu não era um astrólogo praticante; sistematizou em um conjunto inteligível tudo o que lhe pareceu suficientemente congruente com a tradição filosófica que professava. Contemporâneo de Galeno (120-199? d.C.) – que incorporou não apenas Hipócrates e seu Paradigma dos Humores mas estabeleceu a conexão entre estes e os elementos na astrologia – Ptolomeu incorpora as categorias da medicina aplicada ao simbolismo astrológico. O Almagesto é talvez escrito em 127 d.C., mas o impacto tanto desta obra quanto de seus trabalhos na geografia – ele era cartógrafo e matemático, além de astrônomo – foram de grande impacto durante 1400 anos. Ptolomeu catalogou 1022 estrelas (antes se conheciam 850). Foi Ptolomeu quem expôs de forma organizada a teoria geocêntrica, em que a Terra está no centro do universo, em torno da qual giram os outros corpos celestes; seguindo a tradição de outros gregos anteriores, Ptolomeu reconhece a esfericidade da terra – fato que seria “esquecido” durante um certo período da Idade Média no Ocidente. A teoria geocêntrica só será abalada com a teoria heliocêntrica, no século XIV, proposta e defendida por Nicolau Copérnico. A ideia de que a terra gira em torno do Sol, como os demais corpos celestes, só foi publicada após a morte de Copérnico, enquanto que a Igreja demorou muito tempo para aceitar esta nova teoria4. Cláudio Ptolomeu escreveu um pequeno tratado sobre as estrelas fixas, além de um tratado sobre geografia. Outra tradição surge com um astrólogo praticante, que foi, para a vertente da astrologia estoica, o que William Lilly será para a astrologia horária do século 17. O que nos restou do que Vettius Valens (C150-185 d.C.) compilou na sua Antologia, é uma massa de material nascido da experimentação e da prática. Valens utilizava o sistema de profecções, sua filiação filosófica era estoica, utilizava os Lotes (erroneamente chamadas Partes Árabes), calculados diferentemente para nascimentos diurnos ou noturnos, o sistema de casas era semelhante ao de Ptolomeu – casas iguais que começavam 5 graus antes da cúspide, entre outros quesitos de sua análise. Sua obra mostra vigorosa aplicação do conceito de katarqué (o estudo dos inícios) como já a raiz de um dos ramos da astrologia que teria grande desenvolvimento posterior: a astrologia eletiva e horária. Só no final do século II d.C. teremos Antioquio de Atenas, que compila grande coleção de trechos e excertos de astrólogos anteriores; uma das partes é o Thesaurus, repleto de termos astrológicos técnicos.

Este período da história da filosofia ocidental é marcado pelo florescimento vigoroso do platonismo e temos em Clemente de Alexandria (150-215 a.C.) um dos maiores platonistas cristãos. A escola neoplatônica está forte e Plotino (205-270), considerado um dos mais importantes representantes, escreveu as Enéadas, que tenta dar conta de muitos dos problemas levantados pelos astrólogos de seu tempo. Jâmblico (C250-330 d.C.), um neoplatônico sírio, tentou criar uma religião neoplatônica combinada com as praticas mágicas de natureza tantrica. Em De Misteriis Jamblico lida diretamente com o problema das energias planetárias “maléficas” e suas relações com a alma.

Por volta do sec II os godos apareceram na Rússia, vindo aos poucos da Escandinávia. Bateram os germanos que moravam no norte do Império Romano e chegaram ao Mar Negro por volta do início do século 3. Ali, começaram a atacar as províncias romanas da Ásia Menor. Em pouco mais de cem anos seriam divididos em dois grandes grupos, visogodos e ostrogodos.

Em 313 d.C., o Cristianismo vira a religião oficial do Estado, mas o paganismo ainda é tolerado; em 325 d.C. há o Concilio de Nicéia, que irá alterar para sempre a relação entre astrólogos, cristãos e estrutura social no ocidente. Depois que o Imperador Constantino lançou seu édito de tolerância para todas as religiões, em 313 d.C., o cristianismo emergiu como a religião mais poderosa, enquanto movimento, dentro do Império Ocidental. A maior parte dos imperadores se tornaram cristãos na tentativa de ganhar mais poder por aumentar sua intimidade com a sociedade cristã organizada. Os desacordos internos na Igreja eram entendidos como ameaças que poderiam abalar a uniformidade e a unidade do império. Para contornar estas divisões, os imperadores conclamavam os encontros ecumênicos (do grego oikoumenos, ajuntar na casa – no caso – de Deus). O Concilio de Nicéia foi o primeiro de uma série e o ponto de discussão foi rejeitar o arianismo, que propunha ser Jesus Cristo um ser criado e não igual a Deus. Obviamente, o arianismo foi uma corrente religiosa que somava várias tradições mágico-religiosas das regiões dominadas pelo Império Romano e o ataque e anatematização do arianismo abriu a porta para a negação e perseguição de toda e qualquer forma de crença mágico-religiosa que não fosse alinhada com a linha programática da Igreja, ou melhor, de certa linha dentro da Igreja que estava para tomar a direção política e religiosa daquele período histórico.

No final do século 4, o Império Romano já estava repleto de contradições internas insolúveis; a vigilância necessária para a manutenção do poder na periferia do sistema, há mais de 100 anos, havia se afrouxado. A cizânia se estabelecera nas três Gálias; os hunos se fortaleciam sob as ordens de Átila, conhecido por não deixar pedra sobre pedra onde passava, salgando o chão e destruindo as casas, símbolos, segundo ele, da dominação romana. Da periferia oriental do Império o então jovem guerreiro Alarico liderou as hostes visigodas em um levante onde tomam grandes áreas da porção oriental romana, logo após a morte do imperador Teodósio, em 395.

Data desta época a formação do Império Bizantino. Um dos filhos de Teodósio ficou no comando da parte oriental do Império, enquanto o outro filho seria o administrador da parte ocidental, comandando a partir de Milão. Esta era uma divisão que, apesar de temporária, tornou-se permanente e determinou em muito as enormes diferenças culturais e filosóficas que inclusive são patentes na tradição astrológica.

Vai ser na porção oriental do império que a tradição filosófica e religiosa, além do debate teórico, será mais rico e produtivo. No ocidente, sobrariam poucas condições de troca de informações. A história teria outro rumo nas terras que seriam tomadas pelos vândalos.

Muitas eram as tentativas de manutenção de uma paz precária entre a parte oriental e ocidental do antigo império romano, tendo de se haver com hordas hunas, no oriente, vândalas no ocidente, entre outras, de par com as inúmeras cisões religiosas que espocavam de todos os lugares do antigo império romano. Mas, em menos de cem anos, todo o império ruiria.

Roma caiu em uma manhã de 410, a despeito do aviso incessante dos gansos romanos, que protegiam a cidade sagrada das sete colinas; liderados por Alarico, chegaram os visigodos.

Cinco anos depois da queda de Roma, Hefaistio de Tebas escreve a Apotelesmatica, onde reconcilia a visão de Ptolomeu e Doroteu de Sidon; considerado um dos mais antigos interpretes de Ptolomeu e fonte primária dos fragmentos de Doroteu. Agostinho (354-430) escreve contra a astrologia individual, mas não nega a relação entre planetas e história. Paulus Alexandrinus (C378 d.C.) escreve as Matérias Introdutórias, que sobrevive intacta quase, dando um rico panorama da astrologia alexandrina e romana. Um tratado anônimo de 379 prescreve a utilização de 30 estrelas fixas na análise do mapa astrológico natal; são idênticas as que Ptolomeu utilizou no seu tratado chamado Fases.

Em 476 o Império Romano do Ocidente chegava ao fim, quando, curiosamente, reinava em Roma Romulo Augustulo, com o mesmo nome do primeiro dos chefes urbanos de Roma. Odoacro, um chefe bárbaro, o depôs. Antes dele, Diocleciano havia dividido o império em duas partes.


Período Bizantino


A primeira fase do Império Bizantino abarca de 324 a 640. Este longo período afastou e separou as duas metades do Império, tendo consequências importantes para manutenção e o desenvolvimento e de várias correntes que compõem nossa tradição astrológica. Uma das razões de não interrupção da prática e tradição astrológica na região bizantina é que ali o grego ficou sendo a língua falada em primeiro lugar e na parte ocidental, ficou sendo o latim. Ora, a maior parte das obras era escrita em grego e aos poucos foram desaparecendo aqueles que poderiam entender antigos escritos.

Bizâncio era uma colônia grega pequena, fundada no século 7 a.C. Ali foi que o imperador Constantino, em 330 d.C. resolveu criar, no dia 11 de maio, a cidade de Constantinopla. Dizem que ele escolheu certas estrelas fixas para estarem elevadas neste dia, a fim de construir uma cidade que durasse em poder e glória muitas centenas de anos.

O imperador Justiniano sobe ao trono em 527. Justiniano recuperou muitas áreas que haviam sido tomadas pelos povos que invadiram o império romano e o fragmentaram.

Dentre os bizantinos que seguiram a tradição helenista antes do advento da era islâmica, temos Olimpiodoro, cerca de 564 d.C., que deu aulas de astrologia mesmo sob a hostilidade crescente de Justiniano e Retório, no início do sec. VII d.C., que fez uma coletânea de textos de antigos escritos astrológicos.

Retório tinha à sua disposição os escritos de Ptolomeu e outros astrólogos. Elenca inclusive mais detalhes de interpretação. Utiliza as triplicidades e inclui elementos, 18 Lotes diurnos e 17 noturnos, discorre sobre o thema mundi cujo ASC seria em Câncer e conta como certos astrólogos acham que todos os ascendentes de todos os mapas devam estar neste signo, embora escreva que outros preferem que seja em Leo, o signo do Sol, mas ele mesmo prefere no final usar o equinócio da primavera e seu signo, Áries. Para Retório, a Lua adquire maior importância do que para Ptolomeu; a exaltação ou exílio dela é o mais importante; lista as casas da mesma maneira que Ptolomeu, mas as separa em masculinas e femininas, assim como os planetas e signos:

“Se Mercúrio está em boa casa, especialmente a casa de Saturno, e bem aspectado por Júpiter, Saturno e Marte, ele produzirá astrólogos, profetas e sacerdotes; se Saturno está no ascendente na casa de Mercúrio ou Mercúrio está no ascendente, produzirá matemáticos portentosos”

Mas os dias gloriosos da astrologia haviam terminado, pelo menos oficialmente. Pressionada pelo estado e pela Igreja, o caminho da sua proscrição começara em 357, quando Constancio chamou os mathematici – era este o nome dos astrólogos durante centenas de anos – de indesejáveis, colocando no mesmo saco os magos, os adivinhos de sonhos, e os intérpretes de auspícios. Em 409 Honório e Teodósio mandaram os astrólogos queimar seus livros na presença de bispos e voltar à antiga fé católica sob pena de exílio. Em 425 Teodósio e Valentiniano chegaram a banir vários heréticos, inclusive os mathematici. Obviamente, nem tudo foi assim tão fácil e nem todos os astrólogos foram inteiramente banidos de Bizâncio. Um certo persa chamado Estefânio, o filósofo, gabava-se, no século 8, de haver reintroduzido a astrologia na região. Ele insistia que as estrelas não eram deuses e que só expressavam o desejo de Deus, que não agiam através de um poder que lhes era próprio, mas através do poder de Deus e, portanto, era um pecado que o ser humano não usasse este conhecimento. E já que falamos em persas, é importante lembrar a enorme e decisiva importância que esta cultura terá para a constituição da astrologia, seja no aspecto da importância do mito solar, ligado ao zoroastrismo, seja na maneira de criar divisões do mês baseadas nas fases da lua, para darmos apenas dois pequenos exemplos! Foram os persas que ensinaram aos povos autóctones da região perto de Harran muito da tradição espiritual e mágico-ritualística que criariam uma poderosa corrente esotérica que se manteria intacta durante centenas de anos. Na cidade de Harran, no atual Iraque, levas e levas de grupos filosóficos e esotéricos de origem árabe, persa, grega – neoplatônicos e platônicos – mantiveram-se, como em um enclave de resistência, até o tempo das Cruzadas. É desta cidade – que agora começa novamente a ser escavada – que saiu a forma acabada das mansões lunares – tal como é conhecida no ocidente – e os símbolos sabeus.


Os Árabes


Próximo do ano de 227, a região do atual Irã foi tomada dos partas pelos exércitos sassânidas do persa Adachir I. Coroado, transformou o Zoroastrismo a religião do estado; fazia parte da cultura persa o amor à astrologia e durante o império de 4 séculos dos sassânidas, a arte floresceu bastante. Os imperadores persas abrigavam todos os filósofos que os cristãos baniam. Várias artes e práticas cresceram bastante. No entanto, tendo de brigar com hunos, romanos, bizantinos, de acordo com cada século, foram perdendo muito de seu território. Depois da ascensão do Império Sassânida, quando há este florescimento da astrologia e o Zoroastrismo é restaurado, alguns pesquisadores consideram que a astrologia árabe foi uma extensão da tradição astrológica grega e que recebeu influencias da astrologia hindu. Depois, no século 7, quando os árabes islâmicos dominam as áreas semitas da Mesopotâmia e da Pérsia, além do Egito, a troca de conhecimentos astrológicos cresce como resultado da própria dominação política daquelas regiões, que impõe maior contato cultural.

Após a dominação árabe, a maior parte dos textos de astrologia persa foram destruídos, mas os registros que chegaram até nós indicam que os maiores astrólogos da era árabe eram persas.

Praticantes de uma astrologia um pouco diferente da grega ou hindu, os árabes introduziram conceitos tais como orbe de aspectos, e muitos outros que ainda foram utilizados pela astrologia horária dos séculos mais recentes, tais como frustração e translação de luz e outros. Embora a astrologia árabe deva muito à astrologia helenista, os árabes introduziram modificações novas que podem ter sua origem na astrologia persa.

Na sua forma mais acabada, a astrologia árabe – que seria a terceira fase da história da astrologia – é a origem mais imediata do que hoje se pratica no ocidente.


Período Clássico da Idade Média


Data deste período a maior divisão entre dois braços da astrologia: a grega e a hindu, sendo que também continua a linhagem da astrologia originada das fontes persas, como uma terceira via, que mais tarde vai desembocar na composição do corpus astrológico árabe.


Era Árabe


Data desta época o grande florescimento da astrologia, com a contribuição de sírios, gregos, egípcios, persas e hebreus.

Teófilo de Edessa (final do sec. VIII) representa uma ponte entre a astrologia grega e árabe; cerca de 770 d.C., alguns trabalhos astronômicos da Índia – a astrologia hindu se parece muito com a persa no estilo e nos métodos, mas os dados astronômicos são de origem indiana, que por sua vez tem origem em textos ainda mais antigos do Oriente Próximo. Desta fase destacam-se Masha’ allah (770 – c 815), Messala em latim, autor de muitas obras astrológicas. Também surge Omar de Tibérias (815) possivelmente tradutor de Doroteu do persa para o árabe, tendo um estilo helenista nos seus escritos astrológicos. No começo do século 9 d.C., surge Abu Bakr e, entre 822 a 850, surge Kahel, um dos astrólogos de linha claramente helenista dentro da corrente árabe da astrologia.

Por volta de 854 surge Abu ‘Ali al – Khayyat, aluno de Masha’allah e autor do Julgamento das Natividades, um trabalho que mostra grande importância das idéias de Doroteus.

Alguns anos mais tarde, surge o astrólogo Al – Farghani (Alfarganus em latim) e já no final do século 9 (870) surge Al-Kindi, cujos trabalhos tiveram grande impacto na metafísica neoplatônica, mais do que na própria astrologia – influenciou Robert Grosseteste e John Dee; escreveu Sobre os Raios Estelares. Em 886 surge Abu Mashar (Albumassar em latim), representante da corrente persa na astrologia; um dos mais importantes autores da era árabe era um persa que escreveu em árabe e persa. Escreveu As Grandes Conjunções, A Grande Introdução a Astrologia, A abreviação da Introdução a Astrologia e De Revolutionibus, além de Flores Astrologiae, sobre astrologia mundial. Entre 834 e 901, vive o astrólogo Thabit ibn Qurra – hermético, neoplatônico; entre 820 e 912, Qusja ben Luqa, ou Costa bem Luca; em 865 – 932, Ar-Razi, em latim Rhazes. Em 967, aparece Al-Qabisi, em latim Alcabitius, que empresta seu nome a um sistema de divisão de casas, embora não tenha sido seu autor, pois é um sistema que nasceu ainda na era clássica. Um dos trabalhos de Alcabitius, Introdução a Astrologia, traduzido para o latim, foi muito popularizado. Depois de 1040 o astrólogo Ali ibn abi r-Rijal, em latim Haly Abenragel, foi um dos mais influentes astrólogos da Era árabe no período latino tardio; escreveu um grande tratado sobre astrologia.

Entre 973-1049 viveu o astrólogo Al-biruni, que escreveu o Livro da Instrução nos Elementos da Arte da Astrologia, um dos mais cultos e preparados astrônomos da era árabe e conhecedor de astrologia.

Entre 1092-1167 Avraham ben Meir Ibn Ezra, Ibn Ezra, professor judeu que escreveu obras de grande importância, como O Inicio da Sabedoria e o Livro das razões, entre outros. Ibn Ezra foi muito influente no ocidente latino.


Período Latino-Medieval


Cobre o período da era latina do ocidente, que derivou quase que totalmente da astrologia árabe, sem maiores contribuições criativas. No panorama ocidental, uma das empreitadas mais importantes foi a constituição de um grupo de astrólogos tradutores das obras em persa, árabe e grego na corte de Espanha, pelo rei Alfonso de Castela e Leão (1226-1284), que também promoveu a elaboração das Tábuas Alfonsinas, de tanto uso na navegação em épocas posteriores. As Tábuas Alfonsinas, são tábuas planetárias usadas durante a Idade Média por astrônomos e astrólogos. Entre os astrólogos traduzidos para o castelhano medieval estavam as obras de Ali Aben Ragel (1254).

As figuras mais importantes são: Isidoro de Sevilha (560-636), João Escoto Erígena (815-877), Pedro Abelardo (1079-1142); Hugo de Santilla (1119-1151) traduz obras do árabe, compilações de métodos árabes não encontrados em outras fontes. Em 1125, temos a figura de Adelardo de Bath, inglês que aprendeu cultura árabe e traduziu as obras de Abu Mashar para o inglês. Em 1138, surge a tradução do Tetrabiblos de Ptolomeu, do árabe para o latim, feita por Platão de Tivoli; foi a primeira tradução. João de Sevilha (c 1150) traduziu do árabe e escreveu um tratado de astrologia – considerado um dos escritores mais antigos dos trabalhos originais em Latim durante a Idade Média. Também há Robert Grosseteste (1175-1253), bispo inglês envolvido nas teorias metafísicas da linhagem de Al-Kindi a John Dee, que foi conselheiro de reis e rainhas na corte da Grã-Bretanha.

Alberto Magno (1193-1280), professor de Tomás de Aquino, responsável pela introdução do aristotelismo na sua vertente árabe no pensamento ocidental, era um estudioso de Alquimia e Astrologia, e escreveu, ao que parece, uma obra intitulada Speculum Astronomiae, uma bibliografia critica que examinava as obras astrológicas que estavam ou não em harmonia com o Cristianismo.

A figura de Guido Bonatti (C1210-1290) desponta como um dos mais importantes compiladores e práticos latinos, escreveu o Liber Astronomiae, uma enciclopédia que sumariza o conhecimento da tradição árabe; Bonatti experimentou e testou os conhecimentos que aprendeu, tendo sido conselheiro do conde de Montefeltro, inclusive para assuntos militares, onde exercia sua arte astrológica no comando de operações de guerra. Recebeu de Dante Alighieri um lugarzinho no Inferno da sua Divina Comédia. Por volta de 1210 nasce Campanus de Novara, um dos supostos autores da divisão de casas conhecida como Campanus, mas sabe-se que este sistema era usado entre os árabes.

No final do século XIII, surge Pedro de Abano, astrólogo e mago que escreveu uma longa obra, Conciliador, sobre astrologia e medicina astrológica, dentro de uma visão escolástica; traduziu Ibn Ezra do francês para o latim; no começo do sec. XIV, há registros dos trabalhos de um astrólogo chamado Andalo di Negro. Também neste século surge o primeiro astrólogo inglês importante, John de Ashenden, que praticava astrologia política e mundial, muito influenciado por Abu’Mashar, e por volta de 1400, Antonio de Montulmo, que escreveu sobre astrologia mágica, além de um livro chamado Sobre o Julgamento das Natividades.


Renascimento


A corrente arabe-latina da astrologia continua forte, mas surgem os pensadores que acreditam que Ptolomeu seria a única fonte verdadeira, e o conhecimento árabe é pouco a pouco criticado. Surgem criações e pesquisas e uma “reforma” da astrologia que segue a linha das obras de Kepler. Os trabalhos de Morin de Villefranche (Morinus) são aristotélicos, e inovam em certos aspectos da prática e da análise.

Laurentius Bonincontrius (1410-1502) escreve o Tratado sobre as Eleições; Marcilio Ficino (1433-1499) traduz todas as obras do Corpus Hermeticum, muitas obras de Plotino e Platão, para o latim e conclui uma das obras mais importantes para o panorama cultural renascentista: o Liber Vitae, o Livro da Vida, em que recupera a tradição mágico-ritualística há muito esquecida, e propõe as mudanças de hábito de acordo com cada temperamento. Regiomontanus (1436-1473) escreve sobre o Almagesto de Ptolomeu e ajuda o florescimento da astronomia entre os povos germânicos – apesar de ser atribuído a ele o sistema de casas que leva seu nome, este sistema era conhecido antigamente pelos árabes, sendo que ele próprio chamava este sistema de “racional”. Lucas Gauricus (1475-1558), astrólogo que trabalhou para setores da Igreja, escreveu muitos livros. Nicolau Copérnico (1473-1543) cria um sistema de astronomia heliocêntrica; escreve De Revolutionibus. Johannes Schoener (1477-1547) foi um astrólogo e astrônomo muito importante que disseminou as obras de Regiomontanus e compilou efemérides anuais; escreveu Opusculum Astrologicum e Três Livros sobre o Julgamento das Natividades.


Em 1492 a América é Descoberta


No final deste século, Melanchton, amigo de Lutero e grande patrono da astrologia, faz a primeira tradução do Tetrabiblos do grego original e era amigo de Schoener; seu pensamento estava um pouco à esquerda de outros luteranos e por isso foi considerado herético; influenciou o pensamento de intelectuais como Jacob Boheme.

No começo do século XVI, Girolammo Cardano, matemático, astrólogo, mago, escreve algumas obras importantes. Em 1503 nasce Nostradamus, que ficou famoso pelas suas Centurias. Junctinus (1523-1590) foi outro astrólogo que escreveu obra enciclopédica chamada Speculum; da mesma época são os trabalhos de John Dee, astrólogo e alquimista, que circulava nas rodas poderosas da Inglaterra. Outros astrólogos foram: Johannes Garcaeus (1530-1575), que escreveu uma compilação de mapas de nascimento; Claude Dariot (1530-1594), que influenciou outros astrólogos europeus, como William Lilly, e escreveu algumas obras. Durante aquele século, Tycho Brahe fez a compilação do mais completo catálogo de estrelas, além de outros registros planetários que foram a base das observações de Kepler.

Galileu Galilei vive entre 1564-1642. Um seu contemporâneo foi Morin de Villefranche, astrólogo que escreveu 28 volumes entre os quais a Astrologia Gallica, tentou reformar a astrologia; era conselheiro do ministro Colbert, da corte francesa.


O Declínio


O começo do declínio da astrologia na Europa é antecedido por um grande florescimento da astrologia na Inglaterra, com as figuras de William Lilly (1602-1681), que desenvolveu a astrologia horária e se apoiava nas técnicas medievais, tornou-se a fonte da revitalização contemporânea da astrologia na Inglaterra. Outro astrólogo importante foi Plácido de Tito (1603-1668), que alterou algumas formulas dos sistemas de Maginus e dos árabes e criou o que conhecemos por sistema de casas Placidus; tentou criar uma astrologia cientifica baseada em Ptolomeu e Aristóteles, mas a revolução da idéias já não permitiria espaço para a astrologia. Nicholas Culpeper (1616-1654), médico inglês e astrólogo, escreve muitas obras que disseminam conhecimentos astrológicos. Outros nomes da astrologia na Inglaterra são Gadbury (inimigo de Lilly), Coley, Partridge.

O abalo da revolução copernicana nos setores científicos europeus detonaria o que muitos autores chamam de “a segunda morte da astrologia”. Após a profusão de almanaques publicados na Inglaterra, França e Itália, em que a popularização da astrologia de pouca reflexão se espalhou, os poucos teóricos e estudiosos realmente sérios já não conseguiam espaço político junto às academias científicas. A idade do racionalismo, com o seu universo dessacralizado, estava para se tornar hegemônica na produção cultural do ocidente.

Quando, ao final do ano letivo de 1770, o último curso acadêmico de astrologia é fechado na Universidade de Salamanca, a intelligentsia européia já não tinha mais porque reclamar; algumas dezenas de anos antes, a astrologia havia sido banida da formação regular da Sorbonne, na França.

Durante o século 18 e 19, a idéia da previsibilidade dos ciclos históricos, deslocada da tradição até então relacionada à arte astrológica, desloca-se para as ciências e disciplinas “novas”, como a sociologia – que nasce como um subproduto para melhor dominar os povos coloniais – baseada no positivismo de Augusto Comte e seus critérios de anomia e ordem social. Na análise mais profunda, são os mesmos temas milenaristas de controle do ciclo do tempo e da relação entre grupo social e ciclos de perpetuação do controle político do estado que vem desde o tempo da Mesopotâmia e que podem ser encontrados até mesmo na produção teórica marxista.

Durante mais de um século, o conhecimento astrológico ficou reduzido a pequeno grupo de pessoas na Europa. Somente em meados do século XIX é que se começa a registrar maior movimentação na área. A astrologia europeia, assim como sua vertente norte-americana, só se recuperaria em todo o seu vigor no “boom” astrológico da segunda metade do século 20, salvo as raras exceções nas décadas anteriores, que ilustram quadros infelizes da relação entre astrólogos e nazistas – ou a sua contraparte britânica, cujo serviço secreto chegou a chamar astrólogos para tentar descobrir quais seriam as próximas manobras de Hitler.

A corrente de transmissão do conhecimento astrológico só seria plenamente refeita nos anos 90, quando um movimento informal de alcance internacional e liderado por astrólogos ingleses, norte-americanos, espanhóis e russos se dedicaria à recuperação das fontes primárias da arte astrológica, não para brigar pela “verdade” astrológica – que inexiste – mas pelo direito ao conhecimento do passado, para melhor produção no presente.


A América


Aqui o genocídio cultural já havia sido perpetrado por ocasião da invasão das terras pelos portugueses e espanhóis. Ingleses no Norte da América destruíram povos e tradições espirituais, e o processo de retomada e descoberta, assim como de recuperação deste conhecimento – de astronomia física e cultural – ainda que esteja sendo feito, pode estar comprometido se não houver a necessária troca de informações entre vários conhecimentos do céu.

Na América Espanhola e Portuguesa o quadro é igual, mas as consequências são mais trágicas. No genocídio do povo maia perdeu-se quase que totalmente a prática de utilização da astrologia deste povo, conhecido depois pela sofisticada matemática e precisão astronômica a que chegaram. Astecas, toltecas, quíchuas, povos nativos do Peru, cuja tradição xamânica e mágico-ritualística muitas vezes remete a estações do ano e períodos do dia, também quase que se transformaram em motivo de teses de doutoramento esparsas ou suspeitos movimentos milenaristas, com raras e honrosas exceções.

Pouca gente conhece o que existe, o pouco que sobrou do genocídio – e, quem conhece, não tem olhos nem interesse pelos estudos da culturalização do Céu ou do simbolismo das estações. Também, pouca gente sabe que durante a Inquisição no Brasil alguns brasileiros e portugueses foram presos ou torturados por denúncias de prática de feitiçaria e ou astrologia, também chamada de outros epítetos, embora a história oficial fale de uma Inquisição branda na colônia portuguesa do Brasil e uma, muito mais feroz, nas colônias espanholas nossas vizinhas. Para uma história da astrologia no Brasil moderno, consultar a obra de Antonio Carlos Harres.

Pouca gente sabe também que os Tupinambá do interior da Bahia, no Brasil, produziram até marcos geográficos semelhantes aos de Stonehenge na Inglaterra – mas a diferença de valor cultural faz com que esta descoberta, que motivou exposição no Rio de Janeiro em 1997, não consiga nem ao menos romper as fronteiras lingüisticas. Afora o trabalho paciente e difícil de pessoas como Kaká Werá Jacupé, guarani criado por txucarramães, poucos se lembram que os povos da floresta brasileira tinham sim, antes do genocídio, um céu cheio de símbolos e uma vida com significado e propósito, que é, afinal de contas, tudo o que um astrólogo quer saber ver nos mapas do céu de alguém ou de um país.


Um pouco de História de Astrologia

Celisa Beranger

O termo Astrologia deriva das palavras gregas astron, astro, e logos, palavra, razão e cômputo. Suas origens e desenvolvimento no passado distante não são conhecidas. Ela se confunde com as origens da civilização. Mas seguramente foram as necessidades de ordem prática como a de marcar o tempo e reconhecer a ordem geral dos movimentos celestes para poder prevê-los, que fez com que em todos os povos da antiguidade possamos encontrar estes conhecimentos. É preciso observar que todos os sistemas primitivos do Universo eram ao mesmo tempo astrológicos e astronômicos. A observação do Céu tinha como objetivo a interpretação.

A Astrologia floresceu na Mesopotâmia, (entre os rios Tigre e Eufrates) onde habitavam os sumérios, acádios e caldeus e é fato insofismável que para estes povos o Sol, a Lua e os planetas eram deuses que tinham influência sobre a vida na terra. As provas mais antigas da existência da Astrologia são os fragmentos de um relicário de um templo egípcio de 4000 a.C, descoberto pela expedição do arqueólogo francês Frank Goddio em 1999 e as tabuas de argila descobertas no séc XIX nas escavações nas cidades de Ninive (25.000) e Nippur (50.000) que já mostram a Astrologia bastante desenvolvida. O conhecimento, dos movimentos do Sol e da Lua levou a confecção dos primeiros calendários, ao planejamento de plantios e colheitas e à previsão do tempo.

No Egito a primeira cronologia de 3000 a.C, estabeleceu o ano de 360 dias determinado pelo retorno do nascer helíaco de Sothis (Sirius) observada em Heliopolis. Os meses de 30 dias eram divididos em três períodos de dez dias (os decanatos, que mais tarde foram incorporados na Astrologia grega).

No Egito faraônico, a crença era no destino inelutável. Contava-se que ao lado de Maât e de Isis, haviam as Hathor, sete sacerdotisas que na presença de um deus escriba, anunciavam ao recém nascido seu destino, mas este anúncio só era feito para os privilegiados, reis ou sacerdotes. O conhecimento astrológico era ensinado apenas nos templos. Os sacerdotes especialistas, inicialmente encarregados de medir o tempo, tornaram-se depois astrólogos do Estado.

Entretanto foi a escrita cuneiforme dos povos da Mesopotâmia e a conservação dos documentos mais diversos de fatos de todos os tipos, inclusive os que se relacionavam ao céu, que possibilitou a comprovação do desenvolvimento da extraordinária tradição de observação desses povos. Registravam mês a mês, ano a ano e século a século tudo o que observavam e sabiam. As fases da Lua e a evolução do Sol através das constelações, também identificaram o movimento dos cinco planetas visíveis a olho nu – Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno através do zodíaco e determinaram seus períodos de revolução com exatidão. Até os eclipses foram observados em sua regularidade de 18 anos e 10 ou 11 dias (o ciclo de Saros).

Na Babilônia já aparecem os simbolismos utilizados pela Astrologia até hoje. O deus lunar Sin reinava sobre a vegetação, os meses, os anos, os dias e o destino dos homens. O deus solar Shamash era o senhor da vida e da justiça; Ishtar deusa do amor, correspondia a Vênus. Júpiter era o criador Marduk, deus protetor da Babilônia. Seu filho e companheiro Nabu foi identificado como Mercúrio: o que segura o estilete das tabuinhas do destino, o deus das ciências. Marte era Nergal, deus dos infernos e das armas, arauto de infelicidade, com seu inquietante brilho vermelho. Saturno, cuja evolução lenta foi notada, era assimilado a um velho Sol fatigador, Ninib, o estável, astro da justiça e da ordem.

Na Babilônia não se acreditava em um destino inelutável. Através do Sol, da Lua, dos eclipses e cometas, eram feitas as predições mais variadas. Uma coleção de tabuinhas encontrada, abrangia acontecimentos em larga escala tais como a morte do rei, epidemias, fome, qualidade das colheitas, invasão de territórios, chuvas, etc. Nas 4.000 tabuinhas da coleção do Rei Assurbanipal (669-626 a.C.) os presságios eram estudados sem que se possa compreender quais eram os métodos utilizados. Os perigos podiam ser afastados com sacrifícios ou ritos.

Os primeiros calendários mesopotâmicos foram estabelecidos conciliando os dias, as lunações e os anos. O ano tinha 12 meses e começava na primavera. O dia foi dividido em doze partes iguais de uma hora dupla, dividida em sessenta minutos duplos, segundo o cálculo sexagesimal adotado pela primeira vez aqui e que se imporia por toda a parte .

O circulo graduado dividia-se em 12 partes iguais e o primeiro zodíaco (do grego zodion = figura) descoberto, data de 419 a.C. (tabuinha de Cambises) e seu ponto de partida era a estrela Sirius e não o ponto equinocial vernal (vernal = da primavera) de nossos dias.


Aparecimento da Astrologia Individual


Há séculos consagrada aos acontecimentos gerais e públicos, o desenvolvimento da Astrologia em direção ao indivíduo situou-se ainda na Mesopotâmia. O “horóscopo” (do grego horoskopos = marca da hora) mais antigo é da Babilônia, 410 a.C. Nesta ocasião parte integrante do império arquimênida, a Babilônia não deixou mais de ser dominada por estrangeiros, Pérsia, Grécia, Partia e Roma se sucederam. Parece que foi sob o domínio dos persas que a religião se modificou na Babilônia e, menos baseada na repetição de ciclos naturais impessoais, tendeu a enfatizar o caráter único da existência de cada um e com ele a influência preponderante da configuração do céu na hora do nascimento. Uma série de “horóscopos” em tabuas de argila precedeu os primeiros horóscopos gregos, em papiro, encontrados no Egito em 10 a.C.

Nesses textos estão descritas as posições dos planetas no zodíaco e no horizonte, (que corresponde ao que é designado Ascendente) que já desempenhava papel importante, pois o astro que nascia aparece em relevo. As predições são precisas e surgem os primeiros esboços de uma tipologia mesclada às predições fundamentais: “os acontecimentos lhe serão favoráveis, ele será forte”. Então os babilônios já estabeleciam métodos de análise de nascimentos individuais antes dos gregos. Os mapas da astrologia ocidental já aparecem, embora sob forma ainda rudimentar, mas já reconhecível.

Com o declínio da Babilônia (a última tabuinha data de 70 a.C.) ocorreu a difusão da Astrologia no mundo Mediterrâneo.


Na Grécia


O inegável desenvolvimento das ciências na Grécia antiga proporcionou um renascimento da tradição secular da Astrologia da Mesopotâmia e Egito.

Tradicionalmente, a introdução da Astrologia na Grécia, ocorreu após a conquista da Mesopotâmia por Alexandre o Grande (331 a.C.). Berose, sacerdote caldeu, astrólogo e historiador, foi enviado à Grécia (330 a.C.) e fundou em Cós uma escola de Astrologia. Entretanto o desenvolvimento da Astrologia na Grécia ocorreu porque o terreno já estava preparado.

Dentre a maioria dos filósofos gregos era firme a crença na influencia dos astros e seus movimentos sobre o destino dos homens, começando por Pitágoras (582 a.C.), Empédocles, Aristóteles, Hipócrates e Platão. Filipe de Oponte, discípulo de Platão, foi quem atribuiu os nomes dos deuses do Olimpo aos planetas, afirmando que eles pertenciam às divindades.

O dogma fundamental da Astrologia grega é um principio presente até hoje: A interação constante entre o Céu e a Terra.

Os gregos dedicaram-se a fazer horóscopos para todos os homens, promovendo a disseminação da Astrologia individual.

Com a morte de Alexandre (323 a.C.) seus generais dividiram o império entre si e propagaram o helenismo que evoluiu em contato com Macedônia, Egito e Síria promovendo o nascimento de uma civilização greco-oriental helenística. Nesta civilização o principal centro intelectual foi Alexandria, onde o horóscopo fundamentou-se em bases matemáticas. No século II a.C. a estrela fixa tomada como ponto de partida do zodíaco foi substituída pelo ponto vernal e assim se mantém até os dias de hoje.

No século II a.C. a semana em que cada dia é regido por um deus planetário já estava em vigor.

Nesta época os signos do zodíaco foram classificados em cardinas, fixos e mutáveis. As regências dos signos foram definidas e instauradas as casas, dividindo o movimento diurno do Sol em doze etapas à imagem do movimento anual no doze signos.

O conjunto dos conhecimentos astrológicos na Grécia foi sintetizado por Cláudio Ptolomeu, em 140 a.C. no Tetrabiblos a “Bíblia”da Astrologia Ocidental, expondo toda a prática conhecida. Ptolomeu afirmou quanto à possibilidade de “julgar os humores e temperamentos dos homens por meio da qualidade do Céu”. Justificou também a previsão astrológica porque “fortalece o espírito de modo que a espera das coisas futuras se passa como se estas já estivessem presentes, preparação que nos permite recebê-las com serenidade”.


Roma


A Astrologia fazia parte dos círculos de eruditos, abordada por Cícero (106 -43 a.C.), Virgílio, Ovídio e Horácio.

A Astrologia estava na moda como provam moedas, jóias e decorações murais evocando os signos individuais, e certos imperadores, como foi o caso dos Césares, tinham seus astrólogos.

Entretanto foi em Roma que a Astrologia encontrou seus primeiros adversários declarados. No reinado de Tibério começou em Roma uma longa historia de expulsões e regresso dos “caldeus”, nome dado aos astrólogos, devido à inclusão de charlatães, que utilizavam a credulidade geral em função da popularidade e além do mais o fatalismo astral, em moda, atraiu muitos adversários, esquecendo a influência dos astros sobre as características dos indivíduos.

Durante o reinado de Augusto, Manilius compôs seu “Astronomicon”, dedicado ao imperador, retomando o essencial das técnicas helenísticas. No reinado de Calígula viveu um dos astrólogos mais celebres de Roma: Doroteu de Sidon, que escreveu um tratado bastante citado, mas que se perdeu.


O Início da Era Cristã


O povo judeu se opunha ao culto dos imperadores romanos e também resistia à Astrologia, porque o fatalismo astral da época contradizia os dogmas de redenção e onipotência divinas. Entretanto, um dos manuscritos do Mar Morto, (4Q 186) é claramente astrológico, mostrando a determinação do destino de um homem pela posição dos astros no dia de seu nascimento. E os Reis Magos em textos antigos eram designados como Astrólogos do Oriente.

Pela primeira vez em 381 d.C., o concílio de Laodicéia proibiu aos eclesiásticos o interesse pela Astrologia e esta interdição foi reiterada em dois concílios posteriores, o que mostra a dificuldade de eliminar a Astrologia dos costumes dos cristãos.

A partir de 395 d.C., ocasião da divisão do Império Romano em Oriental e Ocidental, medidas duras tomadas contra os astrólogos, levaram-nos a se refugiarem na Pérsia, onde novos centros culturais mantiveram o espírito grego e promoveram contato com outros povos dentre os quais os árabes.


Na América Pré-Colombiana


Os Maias e os Astecas cultivavam a Astrologia. No apogeu da civilização Maia, por volta de 500 d.C., Copán era uma cidade de sacerdotes, onde o monumento do caracol era utilizado para observações do Céu.

O culto ao milho, que simbolizava a renovação periódica das forças vitais, associado à adoração do Sol, era semelhante aos rituais que envolviam a cultura do trigo no Egito, na Caldéia e na Grécia.

Os conquistadores espanhóis no desejo de eliminar, de uma vez para sempre, o “paganismo” dos povos conquistados, destruíram objetos e manuscritos preciosos.


O Mundo Árabe


A astrologia se difundiu amplamente entre os persas, sírios, árabes e turcos, integrando-se à cultura muçulmana. O período mais importante, a partir do século VII d.C. cobriu oito séculos, e a Astrologia tomou a designação de Julgamento das Estrelas.

Albumasar (805-885) com seu tratado “Introductorium in Astronomian”, traduzido depois na Europa, contribuiu para alicerçar o reflorescimento da Astrologia no Ocidente.

No campo da matemática, os árabes forneceram contribuições importantes à técnica astrológica (determinando com exatidão as casas intermediárias) e efetuaram o cálculo da data dos acontecimentos celestes, graças ao arco equatorial percorrido segundo o movimento diurno e desenvolveram o sistema das “partes” que em Ptolomeu tinha apenas uma única fórmula.


Idade Média


Depois da queda definitiva do Império Romano do Ocidente (455), a Astrologia se manteve nas entrelinhas e a partir do século XI começou seu reflorescimento.

Entretanto foi o século XII, marcado por uma nova sede de saber, que propiciou a redescoberta de textos e autores gregos e proporcionou respeitabilidade à Astrologia, refletindo-se em sua inclusão dentre as sete Artes Liberais do Trivium e Quadrivium das novas universidades européias (Paris 1205, Pádua 1221, Oxford 1249, Lisboa 1290 etc.). Na época, a ciência dos astros formava uma unidade: scientia motus, a ciência dos movimentos = astronomia, e scientia judiciorum, a ciência dos julgamentos= astrologia, retomando a união antiga.

Santo Alberto Magno (1193-1280, dominicano de Colônia na Alemanha) considerava a Astrologia compatível com o Cristianismo porque admitia que os acontecimentos terrestres eram provocados pelo movimento dos corpos celestes, mas não o destino individual dos homens.

Também a medicina da época considerava a contribuição da Astrologia importante. Tratados como o “Temporal” do matemático Regiomontanus (1436-1476) e outro de Vila (David Ibn Bilia) continham instruções sobre os instantes mais favoráveis para tomar pílulas ou purgantes, fazer uma sangria, etc. Um médico que não soubesse Astrologia era considerado incompleto e as pessoas eram desaconselhadas à entregarem-se aos seus cuidados.

Entre 1450 e 1650 o saber astrológico conferia prestígio. Os nobres e soberanos possuíam astrólogos, todos médicos, que às vezes também serviam como embaixadores e conselheiros Carlos V. Carlos VI, Luis IX, o imperador Frederico III, etc. Até Papas como Inocêncio VIII e Paulo II abriram-se à técnica astrológica.

Neste período numerosas técnicas de detalhe foram aperfeiçoadas e a precisão aumentada.

O aparecimento da imprensa em 1453 e sua difusão beneficiou a Astrologia com a publicação da Ephemerides e das Tábuas de Casas.

A Astrologia teve grande importância na descoberta dos novos continentes. As tabelas elaboradas para o cálculo do movimento dos astros com fins astrológicos foram aquelas utilizadas para as navegações. Os astrólogos judeus da península ibérica ( séculos XII a XV) foram os principais responsáveis pela elaboração desta obras. A mais importante é o “Almanach Perpetuum” de Abraham Zacuto, que serviu aos reis Dom João II, e mais tarde Dom Manuel I ( rei em 1496) . Zacuto foi estimulado pelo Bispo de Salamanca. A obra de Zacuto contém os elementos necessários ao cálculo das latitudes.

Regiomontanus, Copérnico, Tycho Brahe, Galileu e Kepler, astrônomos conhecidos também eram astrólogos e Kepler, praticava a Astrologia com convicção, como comprovam os vários mapas desenhados por ele. Kepler afirmou que a nova concepção de Copérnico não afetava a Astrologia, em sua tese 40 (Tertius Interveniens) precisou que “se quisermos estudar a influência do meio cósmico sobre nós na Terra devemos considerar a configuração do Sistema Solar de acordo com nossa perspectiva. Este é o Céu que vivenciamos. Se estivéssemos em Saturno seria o Céu de Saturno”.

No começo do século XVII J.B.Morin (1583-1650) médico, matemático e astrólogo do Duque de Luxemburgo, contemporâneo de Descartes, abraçou a era cartesiana de método e análise. Escreveu a volumosa obra “Astrologia Gallica”, publicada em 1661 em latim, onde fez um balanço completo da Astrologia da época, e também revisou toda a técnica astrológica, mas sua maior importância está na elaboração de um método e de uma verdadeira técnica para a interpretação astrológica.

A partir do Discurso do Método de Descartes, 1637, a Astrologia começou a perder crédito nos meios científicos e em 1666 Colbert a proibiu na França, embora tenha permanecido em algumas universidades européias até o final do século XVIII.

Em 1710 a suspensão da impressão das Ephemerides e Tábuas de Casas contribuiu para o declínio da Astrologia, embora almanaques dirigidos ao grande público tenham continuado a ser editados na Inglaterra.

No final do século XIX (1889), o encontro do astrólogo Alan Leo (pseudônimo de W. F. Allen) com a sociedade Teosófica de Mme. Blavatsky promoveu o renascimento da Astrologia. Alan Leo fundou a primeira empresa astrológica e em 3 anos forneceu 20.000 mapas. Sua técnica fez escola difundindo-se, na Inglaterra e Estados Unidos.

Em 1900 despontou na França Paul Choisnard (1867-1930) engenheiro, que procurou relacionar a Astrologia tradicional, com as exigências de sua formação cientifica racional, elaborando pesquisas cientificas, pelo cálculo das probabilidades, e publicou mais de 20 obras. Entretanto a grande estatística astrológica foi desenvolvida a partir de 1949 pelo francês Michel Gauquelin, psicólogo e estatístico que dedicou 40 anos à pesquisa da correlação entre as posições da Lua, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno em relação ao horizonte e ao meridiano, com os nascimentos de certos grupos de pessoas que, se tornaram célebres. Gauquelin também pesquisou esta correlação quanto à hereditariedade. Tendo levantado cerca de 100.000 datas de nascimento publicou o resultado de suas pesquisas, que contaram com a colaboração de Françoise Gauquelin, em 27 monografias pelo “Laboratório de Estudos das Relações entre os Ritmos Cósmicos e Psicológicos”, criado pelos autores. Seu resultado é inegável, embora poucos cientistas o tenham aceito e como não eram astrólogos só nos últimos anos suas pesquisas foram incorporadas pelos profissionais de Astrologia.

Na década de 70 o advento dos computadores, possibilitou os estudos do americano Jim Lewis, que desenvolveu a astrolocalização criando o programa de Astrocartografia. Foi possível assim localizar os lugares da terra, nos quais os planetas em mapas de evento ou de nascimento estarão mais enfatizados.

Na década de 90 os italianos Ciro Discepolo e Luigi Miele promoveram uma nova estatística, elaborada pelo “Departamento de Estatística da Universidade de Nápoles”, primeiro com 8000 datas e posteriormente atingindo 75.000, comprovando a forte tendência dos filhos nascerem com o Ascendente no mesmo signo onde o pai ou a mãe tem o Sol.


BIBLIOGRAFIA:

A ASTROLOGIA – SUZEL FUZEAU-BRAESCH

A ASTRONOMIA NA ÉPOCA DOS DESCOBRIMENTOS – RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO

DA PSICANÁLISE À ASTROLOGIA – ANDRÉ BARBAULT

HISTORIA DA ASTROLOGIA – SERGE HUTIN

EM DEFESA DA ASTROLOGIA – JONH ANTHONY WEST

TRIVIUM & QUADRIVIUM – EDITORA ÍBIS – VÁRIOS AUTORES

Jacques Bergier - Melquisedeque

  Melquisedeque aparece pela primeira vez no livro Gênese, na Bíblia. Lá está escrito: “E Melquisedeque, rei de Salem, trouxe pão e vinho. E...