Primeiramente temos que desmistificar a palavra lúcifer:
Muitos podem ficar horrorizados com um santo chamado Lúcifer, mas, nos primórdios do cristianismo o nome lúcifer não era sinônimo para Satã, muitos cristãos eram batizados com esse nome em homenagem a Jesus, já que não ousavam utilizar o nome do Filho de Deus. No latim lúcifer significa o que traz a luz.
Lúcifer, do latim formada por duas palavras “lux” (luz) e “ferre” (portar, carregar, trazer), lúcifer: o que traz a luz.
Jó 11,17: “et quasi meridianus fulgor consurget tibi ad vesperam et cum te consumptum putaveris orieris ut lucifer”.
Na 2ª Epístola de São Pedro, onde o Apóstolo diz “et lucifer oriatur in cordibus vestris” ou “e a Estrela da Manhã nasce em vossos corações”, Estrela da Manhã significa Jesus. “e estrela… e o mesmo Jesus ilumine por completo as vossas almas” – Comentário da Bíblia Sagrada traduzida pelo Padre Matos Soares, 13ª Edição, Edições Paulinas de 1961.
“Et habemus firmiorem propheticum sermonem, cui bene facitis attendentes quasi lucernae lucenti in caliginoso loco, donec dies illucescat, et lucifer oriatur in cordibus vestris (Epistula II Petri 1, 19)”
A forma como é utilizada a palavra lúcifer atualmente não é muito antiga, remonta do século XIX, por influência, de mais um erro protestante.
São Lúcifer Calaritano
Lúcifer Calaritano, Santo da Igreja Católica, morreu por volta do ano 370, sua festa litúrgica é comemorada no dia 20 de maio. Foi Bispo de Cagliari na Sardenha, conhecido pela sua luta contra o arianismo (o arianismo, que negava que Cristo fosse Deus, tratando-O como uma espécie de “semideus”, no que, para tanto, compunha canções a fim de espalhar tais ensinamentos).
Ário já havia sido combatido anteriormente por Santo Atanásio, a quem se atribui o Quicumque vult ou o Credo de Santo Atanásio que diz: “Quem quiser salvar-se deve antes de tudo professar a fé católica. Porque aquele que não a professar, integral e inviolavelmente, perecerá sem dúvida por toda a eternidade. A fé católica consiste em adorar um só Deus em três Pessoas e três Pessoas em um só Deus. Sem confundir as Pessoas nem separar a substância. Porque uma só é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo. Mas uma só é a divindade do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, igual a glória e coeterna a majestade. Pelo que foi perseguido e exilado”.
São Lúcifer, no Concílio de Milão (354), defendeu violentamente Santo Atanásio de Alexandria e suas ideias, ao ponto de ser também exilado pelo imperador Constâncio II, que havia aderido à doutrina ariana. Juntamente com o bispo, outro santo foi exilado, Eusébio de Vercelli, defensor da plena divindade de Cristo. Escreveu obras contrárias às heresias, sempre criticando duramente o arianismo, de modo que, seus seguidores eram chamados luciferianos, que posteriormente foram liderados por São Gregório de Elvira. A seu respeito, escreveu São Jerônimo na Altercatio Luciferiani Et Orthodoxi.
Segundo os escritos de São Jerônimo, Lúcifer faleceu em 370, na cidade de onde é patrono, Cagliari.
Pois bem. Vemos, portanto, que o nome Lúcifer não foi o maior dos problemas para o santo, mas sim, a defesa inabalável de Nosso Senhor Jesus Cristo. Muitos podem pensar que seus pais não tinham muito amor ao chamá-lo assim. Todavia, lembramos mais uma vez que lucifer não designava Satanás, o que veio somente a veio a surgir com mais “popularidade” com São Jerônimo que concorda com a ideia de que Lúcifer é o estado anterior em que se encontrava o anjo caído antes de sua rebelião, da luz para a escuridão.
Outra evidência sobre a inadequação do referido nome é que na Liturgia, mais precisamente no Exsultet (Proclamação da Páscoa), a Igreja exalta a glória de Nosso Senhor designando-o como da Igreja, Nosso Senhor:
“Flammas eius lucifer matutínus invéniat: ille, inquam, lucifer, qui nescit occásum. Christus Fílius tuus, qui, regréssus ab ínferis, humáno géneri serénus illúxit, et vivit et regnat in sæcula sæculórum” (Que ele brilhe ainda quando se levantar o astro da manhã, aquele astro que não tem ocaso: Cristo Vosso Filho, que, ressuscitando de entre os mortos, iluminou o género humano com a sua luz e a sua paz e vive glorioso pelos séculos dos séculos).
Isto a Igreja, em sua santa sabedoria, o faz em conformidade com as Escrituras, pois o próprio Cristo diz “Eu, Jesus, enviei o meu Anjo para vos testificar todas estas coisas a respeito das Igrejas. Eu sou o Rebento da família de David, a brilhante estrela da manhã” em Apocalipse 22, 16 e noutro lugar “Pois também Eu recebi do Pai esse poder. Vou dar ao vencedor a Estrela da manhã”.
Não bastasse tudo isso, Santo Antônio de Pádua, falecido em 1231, nos brinda com belíssimas palavras, a fim de ratificar tudo isto que expusemos, não deixando dúvidas seu conhecimento e seu amor à Virgem Santíssima: “A estrela da manhã ou Lúcifer é Maria Santíssima, que, nascida no meio da névoa, afugentou a névoa tenebrosa, e na manhã da graça anunciou o sol da justiça aos que habitavam nas trevas. Dela diz o Senhor a Jó, És tu porventura que fazes aparecer a seu tempo a estrela da manhã (Jó 38,32).
Quando chegou o tempo da misericórdia (Salmo 101,14), o tempo de edificar a casa do Senhor, o tempo aceitável e o dia da salvação, o Senhor fez aparecer a estrela da manhã, Maria Santíssima, para luz dos povos. Os povos devem dizer o que disseram a Judite, como se lê no seu livro: O Senhor abençoou-te com a sua fortaleza, porque ele por ti aniquilou os nossos inimigos… Ó filha, tu és bendita do Senhor Deus altíssimo, sobre todas as mulheres que há sobre a terra”.
Bendita seja a Estrela Matutina! Bendita seja a Grande Mãe de Deus, Maria Santíssima!
Diz-se que o uso do substantivo lúcifer como o que estamos acostumados a ouvir remontado o século XIX e tem perdurado até os nossos tempos, indiscriminadamente, sem ao menos haver uma busca por maior compreensão.
Parece-nos que ocorreu algo semelhante a cruz invertida, símbolo do martírio de São Pedro, hoje, causa de escândalo para muitos por crerem que seja o símbolo do anticristo, sendo ostentados por “satanistas” ou ainda, servindo de ataque por parte dos protestantes à Santa Igreja de Deus.
Esclarecidas as coisas, não esqueçamos de pedir a intercessão de São Lúcifer, especialmente, no dia 20 de maio, em que a Igreja celebra sua memória, a memória de um grande santo, que defendeu com bravura Nosso Senhor Jesus Cristo e, consequentemente, a Santa Religião.
Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Jerônimo deixaram muitas referências sobre a sua vida e obras.