sábado, 12 de janeiro de 2019

Estoicismo


O estoicismo foi uma escola de filosofia helenística fundada em Atenas por Zenão de Cítio no início do século III a.C.

Os estoicos ensinaram que as emoções destrutivas resultavam de erros de julgamento, da relação ativa entre determinismo cósmico e liberdade humana e a crença de que é virtuoso manter uma vontade (chamada prohairesis) que está de acordo com a natureza[necessário esclarecer]. Devido a isso, os estoicos apresentaram sua filosofia como um modo de vida e pensavam que a melhor indicação da filosofia de um indivíduo não era o que uma pessoa diz, mas como essa pessoa se comporta.Para viver uma boa vida, era preciso entender as regras da ordem natural, uma vez que ensinavam que tudo estava enraizado na natureza.

Mais tarde os estoicos – tais como Sêneca e Epiteto – enfatizaram que, porque "a virtude é suficiente para a felicidade", um sábio era imune ao infortúnio. Essa crença é semelhante ao significado da frase "calma estoica", embora a frase não inclua as visões dos "radicais éticos" estoicos, onde somente um sábio pode ser considerado verdadeiramente livre e que todas as corrupções morais são igualmente perversas.O estoicismo desenvolveu-se como um sistema integrado pela lógica, pela física e pela ética, articuladas por princípios comuns. A ética estoica que teve maior influência no desenvolvimento da tradição filosófica e alguns pensam que chegou a influenciar os primórdios do cristianismo.

Desde a sua fundação, a doutrina estoica era popular com seguidores na Grécia romana e por todo o Império Romano, incluindo o imperador romano Marco Aurélio (r. 121–180), até o fechamento de todas as escolas de filosofia pagã em 529 por ordem do imperador Justiniano (r. 527–565), que os percebeu como em desacordo com a fé cristã. O neoestoicismo foi um movimento filosófico sincrético, juntando-se o estoicismo e o cristianismo, influenciado por Justus Lipsius.

O estoicismo floresceu na Grécia com Cleantes de Assos e Crisipo de Solis, sendo levado a Roma no ano 155 a.C. por Diógenes da Babilônia. Ali, seus continuadores foram Marco Aurélio, Sêneca, Epiteto e Lucano.

O estoicismo foi uma doutrina que sobreviveu todo o período da Grécia Antiga, até o Império Romano, incluindo a época do imperador Marco Aurélio, até que todas as escolas filosóficas foram encerradas em 529 d.C. por ordem do imperador Justiniano, que percepcionou as suas características pagãs, contrárias à fé cristã.

A escola estoica preconizava o cultivo da equanimidade frente à dor de ânimo causada pelos males e agruras da vida. Reunia seus discípulos sob pórticos ("stoa", em grego) situados em templos, mercados e ginásios. Foi bastante influenciada pelas doutrinas cínica e epicurista, além da influência de Sócrates.

Princípios básicos do estoicismo
A filosofia não visa a assegurar qualquer coisa externa ao homem. Isso seria admitir algo que está além de seu próprio objeto. Pois assim como o material do carpinteiro é a madeira, e o do estatuário é o bronze, a matéria-prima da arte de viver é a própria vida de cada pessoa.
—Epiteto

Os estoicos apresentavam uma visão unificada do mundo consistindo de uma lógica formal, uma física não dualista e uma ética naturalista. Dentre estes, eles enfatizavam a ética como o foco principal do conhecimento humano, embora suas teorias lógicas fossem de mais interesse para os filósofos posteriores.

O estoicismo ensina o desenvolvimento do autocontrole e da firmeza como um meio de superar emoções destrutivas. Defende que tornar-se um pensador claro e imparcial permite compreender a razão universal (logos). Um aspecto fundamental do estoicismo envolve a melhoria da ética do indivíduo e de seu bem-estar moral: "A virtude consiste em um desejo que está de acordo com a natureza".Este princípio também se aplica ao contexto das relações interpessoais; "libertar-se da raiva, da inveja e do ciúme" e aceitar até mesmo os escravos como "iguais aos outros homens, porque todos os homens são igualmente produtos da natureza".

A ética estoica defende uma perspectiva determinista. Com relação àqueles que não têm a virtude estoica, Cleanto uma vez opinou que o homem ímpio é "como um cão amarrado a uma carroça, obrigado a ir para onde ela vai". Já um estoico de virtude, por sua vez, alteraria a sua vontade para se adequar ao mundo e permanecer, nas palavras de Epicteto, "doente e ainda feliz, em perigo e ainda assim feliz, morrendo e ainda assim feliz, no exílio e feliz, na desgraça e feliz", assim afirmando um desejo individual "completamente autónomo" e, ao mesmo tempo, um universo que é "um todo rigidamente determinista".

O estoicismo tornou-se a filosofia mais popular entre as elites educadas do mundo helenístico e do Império Romano, a ponto de, nas palavras de Gilbert Murray, "quase todos os sucessores de Alexandre [...] declararem-se estoicos."

Características do estoicismo
Virtude é o único bem e caminho para a felicidade;
Indivíduo deve negar os sentimentos externos;
O prazer é um inimigo do homem sábio;
Universo governado por uma razão universal natural;
Valorização da apatheia (equanimidade);

História

Por volta de 301 a.C., Zenão de Cítio ensinou filosofia no Pórtico Pintado, lugar a partir do qual o nome da filosofia se originou. Ao contrário de outras escolas de filosofia, como a dos epicuristas, Zenão escolheu ensinar a sua filosofia num espaço público, que era uma colunata com vista para o local central de manifestação da opinião pública, a Ágora de Atenas.

As ideias de Zenão desenvolveram-se a partir do cinismo, cujo fundador, Antístenes, foi um discípulo de Sócrates. O seguidor mais influente de Zenão foi Crisipo de Solis, responsável pela moldagem do que actualmente é denominado estoicismo. Estoicos posteriores, da época do Império Romano, focaram o aspecto da promoção de uma vida em harmonia com o universo, sobre o qual não se tem controlo directo.

Os acadêmicos dividem, normalmente, a história de estoicismo em três fases:

A primeira (estoicismo antigo) desenvolveu-se no século III a.C., com Zenão de Cítio, Cleanto, Crisipo de Solis e Antíprato de Tarso, se preocupando com a lógica, a física, a metafísica e a moral.
Na segunda (estoicismo médio), o pensamento estoico combinou-se com o espírito romano. Foi representado por Panécio de Rodes (180 - 110 a.C.) e Possidónio (135 - 51 a.C.).
A terceira (estoicismo imperial ou novo estoicismo), com representantes como: Caio Musónio Rufo, Sêneca (nascido no início da era cristã e falecido em 65 d.C., Epicteto (50 - 125 d.C.) e Marco Aurélio (121 - 180 d.C.), que foi imperador romano em 161 As obras de Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio propagaram o estoicismo no mundo ocidental. A última época do estoicismo, ou período romano, caracteriza-se pela sua tendência prática e religiosa, fortemente acentuada como se verifica nos "Discursos" e no "Enquirídio" de Epiteto e nos "Pensamentos" ou "Meditações" de Marco Aurélio. A obra de Sêneca, Cartas morais a Lucílio, pode ser vista como um excelente curso de estoicismo.
Não sobreviveu, até a actualidade, qualquer obra completa de um filósofo estoico das duas primeiras fases. Apenas textos romanos da última fase nos chegaram completos.

Epistemologia

Os estoicos acreditavam que o conhecimento pode ser atingido por meio do uso da razão. A verdade pode ser distinguida da falácia, embora, na prática, apenas uma aproximação possa ser conseguida. De acordo com os estoicos, os sentidos recebem constantemente sensações: pulsações que passam dos objectos através dos sentidos em direcção à mente, onde deixam uma impressão na imaginação (phantasia). Uma impressão originária da mente era designada de phantasma.

A mente tem a capacidade de julgar (sunkatathesis) — aprovar ou rejeitar — uma impressão, permitindo que possa ser feita uma distinção entre uma verdadeira representação da realidade de uma falsa. Algumas impressões podem ter um assentimento imediato, enquanto que outras podem apenas atingir diferentes graus de aprovação hesitante, que podem ser chamadas de crenças ou opiniões (doxa). É apenas através da razão que podemos atingir uma clara compreensão e convicção (katalepsis). A certeza e o conhecimento verdadeiro (episteme), alcançável pelo sábio estoico, podem apenas ser atingidos pela verificação da convicção com a experiência dos pares e pelo julgamento colectivo da humanidade.

Produz para ti próprio uma definição ou descrição da coisa que te é apresentada, de modo a veres de maneira distintiva que tipo de coisa é na sua substância, na sua nudez, na sua completa totalidade, e diz a ti próprio se é seu nome apropriado, e os nomes das coisas de que foi composta, e nas quais irá resultar. Pois nada é mais produtivo para a elevação da alma, como ser-se capaz de examinar metódica e verdadeiramente cada objecto que te é apresentado na tua vida, e sempre observar as coisas de modo a ver ao mesmo tempo que universo é este, e que tipo de uso tudo nele realiza, e que valor todas as coisas têm em relação com o todo.
—Marco Aurélio

Filosofia social

Uma característica distintiva do estoicismo é o seu cosmopolitismo: todas as pessoas seriam manifestações do espírito universal único e deveriam, de acordo com os filósofos estoicos, em amor fraternal, ajudarem-se uns ao outros de maneira eficaz. Nos Discursos, Epicteto comenta sobre a relação do ser humano com o mundo: "cada ser humano é, primeiro, um cidadão da sua comunidade; mas também é membro da grande cidade dos homens e deuses..." Esse sentimento ecoa o de Diógenes de Sínope, que disse "Eu não sou nem ateniense nem coríntio, mas um cidadão do mundo."

Os estoicos da época promoviam a ideia de que as diferenças externas, como status e riqueza, não são importantes nas relações sociais. Em vez disso, advogavam a irmandade da humanidade e a natural igualdade do ser humano. O estoicismo tornou-se a mais influente escola do mundo greco-romano e produziu uma grande quantidade de escritores e personalidades de renome, como Catão, o Jovem e Epiteto.

Em particular, os estoicos eram notados pela sua defesa à clemência aos escravos. Sêneca exortava: "Lembra-te, com simpatia, de que aquele a quem chamas de escravo veio da mesma origem, os mesmos céus lhe sorriem, e, em iguais termos, contigo respira, vive e morre."

Misticismo


Misticismo (do grego μυστικός, transliterado mystikos, "um iniciado em uma religião de mistérios") divindade, verdade espiritual ou Deus através da experiência direta ou intuitiva.

No livro de Jakob Böhme "O Príncipe dos Filósofos Divinos", o misticismo se define como um tipo de religião que enfatiza a atenção imediata da relação direta e íntima com Deus, ou com a espiritualidade, com a consciência da Divina Presença. É a religião em seu mais apurado e intenso estágio de vida. O iniciado que alcançou o "segredo" é chamado um "místico". Os antigos cristãos empregavam a palavra "contemplação" para designar a experiência mística.

Visão geral
A palavra "místico" foi empregada pela primeira vez no Mundo Ocidental nos escritos atribuídos a Dionysius, o Areopagite, que apareceu no final do século V. Dionysius empregou a palavra para expressar um tipo de "Teologia", mais do que uma experiência. Para ele e para muitos intérpretes, desde então, o misticismo tem se baseado em uma teoria ou sistema religioso que concebe Deus como absolutamente transcendente, além da Razão, do pensamento, do intelecto e de todos os processos mentais.

A palavra, desde então, tem sido usada para os tipos de "conhecimento" esotérico e teosófico, não suscetiveis de verificação. A essência do misticismo é a experiência da comunicação direta com Deus.

A palavra "misticismo" tem origem no termo grego μυστικός = "iniciado" (nos Mistérios de Elêusis, μυστήρια = "mistérios", referindo-se as "Iniciações") é a busca para alcançar comunhão ou identidade consigo mesmo, divino, Verdade espiritual, ou Deus através da experiência direta, intuição ou insight; e a crença que tal experiência é uma fonte importante de conhecimento, entendimento e sabedoria. As tradições podem incluir a crença na existência literal de realidades empíricas, além da percepção, ou a crença que uma "verdadeira" percepção humana do mundo trancende o raciocínio lógico ou a compreensão intelectual.

O termo "misticismo" é, frequentemente, usado para se referir a crenças que são externas a uma religião ou corrente principal, mas relacionado ou baseado numa doutrina religiosa da corrente principal. Por exemplo, Kabala é a seita mística dominante do judaísmo, sufismo é a seita mística do Islã e gnosticismo refere geralmente a várias seitas místicas que surgiram como alternativas ao cristianismo. Enquanto religiões do Oriente tendem a achar o conceito de misticismo redundante, e o conhecimento tradicional e ritual são considerados como esotéricos: por exemplo, vajrayana e budismo.

Uma definição de misticismo não poderia ser ao mesmo tempo significativa e de abrangência suficiente para incluir todos os tipos de experiências, que têm sido descritas como "místicas".

Por definição natural, misticismo é a crença através da prática, estudo e aplicação das leis que unem o homem à Natureza.

Desta forma, a mística se distingue da religião por referir-se à experiência direta com a divindade, transcendendo sem a necessidade de intermediários.

Na teologia
Conjunto de práticas religiosas que levam à contemplação dos atributos divinos. Estado natural ou disposição para as coisas místicas, religiosas; religiosidade.

Lista de místicos

Místico é aquele que se dedica ao estudo ou à prática do Misticismo. Esta é uma Lista de Místicos famosos por ordem alfabética:

A
Agostinho de Hipona (354-430)
Alice Bailey
Aleister Crowley (magick e Thelema)
Allen Ginsberg
Angelus Silesius (1624-1677)
Annie Besant, teósofa
C
Carlos Castaneda
Chico Xavier
Clemente de Alexandria (? - 216)
D
Dinis de Portugal (o Rei-Poeta)
E
Elias Ashmole
Emanuel Swedenborg (1688-1772)
F
Francis Bacon
Francisco de Assis (1181-1226)
Franz Bardon (1909-1958)
G
George Fox (1624-1691)
H
Harvey Spencer Lewis (AMORC)
Helena Petrovna Blavatsky
Hildegarda de Bingen (1098-1179)
J
Jacob Boehme (1575-1624)
Jiddu Krishnamurti
João da Cruz (1542-1591)
Joseph Beuys
L
Leonardo da Vinci
Louis Claude de Saint-Martin
M
Max Heindel (1865 - 1919)
Mestre Eckhart (c. 1260 - 1327/8)
Michael Maier
P
Paracelso
Plotinus (Neo Platonismo)
R
Ralph Waldo Emerson
Ramon Llull
René Descartes
Robert Fludd
S
Santo Anselmo (1033-1109)
T
Teresa de Ávila (1515-1582)
Thomas Merton (1915-1968)
W
Walt Whitman
William Blake (1757-1827)
William Shakespeare

Cristianismo Esotérico


O cristianismo esotérico é a dimensão da tradição cristã que se ocupa do campo dos mistérios, da antiga sabedoria e de métodos de realização espiritual destinados àqueles com vocação para aprofundar sua fé. Historicamente, esta dimensão esotérica ortodoxa, que não se afastou dos princípios e diretrizes fundamentais da tradição cristã, manifestou-se em confrarias como a dos Cavaleiros Templários (séculos XII a XIV), dos "Amigos de Deus" (Der Gottesfreund, séculos XIV a XVI) e Fedeli D'Amore (séculos XIII a XV). 

Trata-se de um segmento minoritário, uma vez que não se dirige às massas nem faz proselitismo, e não é estruturado em igrejas, apesar de a maioria dessas correntes possuírem cerimônias e rituais particulares, além daqueles que compartilham com a tradição cristã em geral. A esta dimensão esotérica do Cristianismo pertencem escolas como as citadas acima, que foram lideradas, respectivamente, pelas carismáticas figuras de São Bernardo de Claraval (Templários), Mestre Eckhart (Der Gottesfreund) e Dante Alighieri (Fedeli D'Amore).

A doutrina
As bases da doutrina esotérica cristã se diferenciam segundo as escolas e correntes. Segundo a escola contemporânea da filosofia perene de René Guénon e Frithjof Schuon, os fundamentos teóricos do esoterismo cristão estão nos próprios ensinamentos de Jesus, como expressos especialmente no Sermão da Montanha e no Evangelho de São João. Outras correntes mais afastadas da religião advogam conceitos como reencarnação e evolucionismo, que são heterodoxos em relação à doutrina tradicional.

Quando se fala de esoterismo cristão, pode tratar-se de três coisas. Em primeiro lugar, segundo Schuon, pode ser a gnose cristã, baseada na pessoa, nos ensinamento e dons do Cristo, beneficiando-se ocasionalmente de conceitos platônicos. Esta gnose crística se manifestou em particular, apesar de que de maneira desigual, em escritos como os de Clemente de Alexandria, Orígenes, Dionísio, o Areopagita , Scotus Erigena e Mestre Eckhart.

"Em segundo lugar, pode se tratar do esoterismo greco-latino incorporado ao cristianismo: pensamos aqui acima de tudo no Hermetismo e nas iniciações de ofício. Este esoterismo cosmológico ou alquímico cristianizado era essencialmente vocacional, dado que nem uma ciência, nem uma arte podem ser impostas a todo mundo."

"Em terceiro lugar, e mesmo antes de tudo, e deixando de lado toda consideração histórica ou literária, podemos e devemos entender por 'esoterismo cristão' a verdade pura e simples – verdade metafísica e espiritual – na medida em que ela é expressada ou manifestada mediante os dogmas, rituais e outras formas do cristianismo. Este esoterismo é a totalidade dos símbolos cristãos na medida em que eles expressam ou manifestam a pura metafísica e a espiritualidade una e universal." (Schuon)

Assim como as demais vertentes cristãs, considera-se a Bíblia e, especialmente os Evangelhos como fontes de autoridade dos mistérios de Deus. Algumas correntes mais heterodoxas consideram a Bíblia não como "palavra de Deus", nem deve ser interpretada literalmente, ou considerá-la à prova de erros. Outras escrituras que não foram incluídas na Bíblia também são consideradas, entre as quais os evangelhos apócrifos. Cristo é considerado o Logos, o "Verbo de Deus", o intermediário entre Deus e os homens, como o líder da humanidade e governante do Universo, sendo omnipresente como Deus, e por isso tendo uma centelha dentro de cada forma vivente (o chamado "Cristo Interior").

Algumas correntes, como os Fedeli d'Amore, organização esotérica cristã liderada por Dante Alighieri na Idade Média, sustentaram as teses tradicionais cristãs acerca dos mundos post-mortem, como as três moradas do Paraíso, do Purgatório e do Inferno. Outras tendências advogam que se trata de "símbolos", ou, pelo menos, que não sejam eternos. Cada pessoa paga por aquilo que praticou, na exata proporção. A todos é concedida a oportunidade de reencarnação, para o aperfeiçoamento do caráter; e a salvação será dada a toda a humanidade - alguns em mais tempo, outros em menos tempo.

Em algumas escolas cristãs esotéricas não existem sacerdotes na hierarquia outras não têm simplesmente hierarquia entre "irmãos". Algumas escolas geralmente se compõem de um ou mais instrutores, mas que não ministram qualquer tipo de sacramento. O único sacramento reconhecido é a chamada iniciação, que pode não ocorrer dentro das escolas, mas, segundo afirmam os cristãos esoteristas, é um processo de ordem espiritual.

Algumas escolas sustentam que existem nove iniciações menores e quatro iniciações maiores, a Hílica, a Psíquica, a Pneumática e a Gnóstica. Cada nível de iniciação corresponde a um nível de identidade própria e a um elemento e uma descrição gnóstica diferente. Em O Livro do Grande Logos, Jesus oferece aos seus discípulos "os mistérios dos três batismos por água, ar e fogo. O batismo pela água simboliza a transformação da pessoa hílica, que se identifica exclusivamente com o corpo, num iniciado psíquico que se identifica com a personalidade ou a psique. O batismo pelo ar simboliza a transformação do iniciado psíquico num iniciado pneumático que se identifica com o Eu superior. O batismo pelo fogo representa a iniciação final que revela ao iniciado pneumático a sua verdadeira identidade como o Daemon Universal, o Logos, o Cristo em si.

Segundo alguns, nas iniciações maiores o homem adquire o poder da magia, tendo, entre outras faculdades, a de falar todos os idiomas como se fosse nativo e constituir um corpo físico sem passar pelo processo de gestação. Nem todas as iniciações aconteceriam numa mesma encarnação, sendo que poderia haver crianças "excepcionais", de inteligência muito acima da média, que já teria sido iniciada em vidas anteriores.

Conversão
Não há proselitismo religioso dentro do cristianismo esotérico. Os membros das escolas cristãs esotéricas, tal como os membros das outras vertentes religiosas esotéricas, entendem que todas as religiões são provenientes de Deus, que as teria apresentado conforme as necessidades espirituais e o nível de evolução de cada povo. Alguns sustentem que o cristianismo é a religião preparada para os mais avançados da humanidade, na escala de evolução espiritual; outros argumentam que isso é um etnocentrismo sem qualquer fundamento. Também não existem impedimentos àqueles que desejarem se converter, desde que a conversão seja por livre e espontânea vontade. Não há juramentos especiais e os convertidos podem livremente manter contato com suas religiões de origem.

Notas históricas
O cristianismo esotérico remonta às palavras e ações de Jesus Cristo quando habitou entre os homens, na Palestina do século I. Do ponto de vista histórico, se expressou pelos escritos e exemplos de vida de sábios como João, o Evangelista, Orígenes, Clemente de Alexandria, Dionísio, o Areopagita e Mestre Eckhart, entre outros. Manifestou-se também em escolas exemplares como a dos Templários, dos Fedeli d'Amore, dos "Amigos de Deus" (Gottensfreund, liderados por Eckhart na Alemanha e na Suíça medievais). Outros creem atribuir suas origens aos essénios. Eles são descritos como um terceiro grupo que existiu para além dos outros dois mencionados no Novo Testamento, os hipócritas fariseus e os materialistas saduceus. Os essénios não são mencionados no Novo Testamento e evitavam qualquer referência a si próprios e aos seus métodos de estudo e de adoração. Jesus, de acordo com algumas tradições cristãs esotéricas, foi um elevado iniciado educado pelos essénios, até aos trinta anos de idade, e alcançou um estado muito elevado de desenvolvimento espiritual. É possível que a sua educação haja sido conduzida entre os essénios nazarenos de Monte Carmelo, uma comunidade na zona da Galileia.

Outros creem que a existência histórica de Cristo não é o mais importante, embora não neguem necessariamente a historicidade dos evangelhos, mas a natureza alegórica da sua história não deve ser confundida com a sua historicidade, mas ser entendida nos seus muitos níveis. A história de Jesus,nome construído de forma a igualar em guemátria o número místico 888, pode ser visto como um mito de iniciação mística que conduz à ressurreição espiritual ou como representando o Daemon universal que foi desmembrado e precisa de ser remembrado, etc.

Os ensinamentos ocultos Cristãos referem que a maior fonte viva da tradição Cristã esotérica, no decorrer do desenvolvimento da civilização ocidental, teve início no século XIV com a constituição de uma irmandade secreta de homens santos designada por Ordem Rosa-cruz, que se expôs a si mesma pela primeira vez na profunda obra esotérica Fama Fraternitatis R.C. Esta Ordem abriu a Iniciação nos Mistérios, naquele tempo e nos séculos que se seguiram, aos indivíduos com maior preparação e mérito, qualidades alcançadas por esforço dos próprios. Por volta dessa época começa também a idade da Alquimia, expressando o conhecimentos oculto através de escritos herméticos, do tipo criptográfico, para evitar a perseguição e o mau uso dos ensinamentos sagrados por parte do homem. Nos seus Manifestos do início o século XVII, a Ordem Rosa-cruz menciona "nós reconhecemo-nos verdadeiramente e sinceramente professar Cristo (…) viciamo-nos na verdadeira Filosofia, levamos uma vida Cristã" (in Confessio Fraternitatis, 1615) e estabelece o tempo e o modo como viria a apresentar publicamente ao mundo o seu conhecimento, num esforço para trazer uma "Reforma da Humanidade" através de uma mais avançada fase da religião cristã. O Cristianismo Rosacruz, começado no início do século XX em Monte Ecclesia relaciona-se a si próprio com este renascimento público da ordem.

A teosofia cristã clássica, que precede a Sociedade Teosófica e o martinismo, inclui alquimistas conhecidos, através dos seus escritos, como estando ligados ao movimento rosa-cruz. Entre os cristãos teosofistas encontramos homens letrados como Valentin Weigel, Heinrich Kunrath, Johann Arndt, Johann Georg Gitchel, Jakob Böehme, Gottfried Arnold, Jan Baptist van Helmont, Robert Fludd, John Pordage, Jane Leade, e Pierre Poiret.

Mais tarde, é especialmente reconhecido Emanuel Swedenborg porque uma igreja seguiu os seus ensinamentos desde 1787: a New Church e a Swedenborgian Church of North America. Martines de Pasqually, Louis-Claude de Saint-Martin e Jean-Baptiste Willermoz são três das mais influentes figuras do martinismo, que data do início do século XVII e continua a existir até aos dias de hoje.

Outras perspectivas modernas sobre o cristianismo esotérico incluem a Ordem Hermética da Aurora Dourada e suas principais ramificações, os Builders of the Adytum, a Society of the Inner Light e os Servants of the Light. Paul Foster Case, W. E. Butler, Dion Fortune e Gareth Knight em particular, são autoridades desses ramos que contribuíram para a literatura dedicada a um cristianismo esotérico. Alguns dos modernos neo-templários e neo-essénios são também dignos de nota.

Escritos do século XX
"Quando se fala de esoterismo cristão, pode tratar-se de três coisas: em primeiro lugar, pode ser a gnose cristã, baseada na pessoa, nos ensinamento e dons do Cristo, beneficiando-se ocasionalmente de conceitos platônicos. Esta gnose crística se manifestou em particular, apesar de que de maneira desigual, em escritos como os de Clemente de Alexandria, Orígenes, Dionísio o Areopagita , Scotus Erigena, Mestre Eckhart, Nicolau de Cusa, Jakob Böhme e Angelus Silesius.
Em segundo lugar, pode se tratar do esoterismo greco-latino incorporado ao cristianismo: pensamos aqui acima de tudo no hermetismo e nas iniciações de ofício. Este esoterismo cosmológico ou alquímico cristianizado era essencialmente vocacional, dado que nem uma ciência, nem uma arte podem ser impostas a todo mundo.

Em terceiro lugar, e antes de tudo, e deixando de lado toda consideração histórica ou literária, podemos e devemos entender por “esoterismo cristão” a verdade pura e simples – verdade metafísica e espiritual – na medida em que ela é expressada ou manifestada mediante os dogmas, rituais e outras formas do cristianismo." (Frithjof Schuon: O Esoterismo como Princípio e como Caminho, pp. 29-30)

Os rosacruzes sustentam que nem o judaísmo nem o "cristianismo popular", mas sim o verdadeiro cristianismo esotérico será a religião mundial. (Max Heindel in Conceito Rosacruz do Cosmos, 1909; Fraternidade Rosacruz)
Este é o caminho da Sabedoria Divina, da verdadeira teosofia. Ela não é, como alguns pensam, uma versão diluída do hinduísmo, ou do budismo, ou do taoismo, ou de qualquer religião particular. Ela é tão verdadeiramente cristianismo esotérico como é budismo esotérico, e pertence igualmente a todas as religiões, e a nenhuma com exclusividade. (Annie Wood Besant in Cristianismo Esotérico ou Os Mistérios Menores , 1914; Sociedade Teosófica)
No cristianismo, também, especialmente no que concerne ao seu ponto central, o Mistério do Gólgota, nós temos de fazer uma distinção entre concepções esotéricas e conhecimento esotérico. Uma contemplação esotérica do cristianismo, acessível a todo o mundo, está contida nos Evangelhos. Lado a lado com esta contemplação esotérica, sempre houve um cristianismo esotérico para aqueles que tinham vontade - como eu disse antes - de preparar os seus corações e mentes de uma forma adequada para a recepção de um Cristianismo esotérico. (Rudolf Steiner, Cristianismo Esotérico e Esotérico , 1922, Sociedade Antroposófica)
Se este doutrina interior foi sempre resguardada das massas, das quais por um código simples foi dividida, não é altamente provável que os expoentes de cada aspecto da civilização moderna—filosóficos, éticos, religiosos, e científicos-sejam ignorantes do verdadeiro significado de todas as teorias e postulados em que as suas crenças são fundadas? Encobrem as artes e ciências que a raça herdou de nações mais antigas por debaixo do seu justo exterior um mistério tão grande que só o mais iluminado intelecto pode alcançar a sua importância? Tal é sem dúvida o caso. (Manly Palmer Hall, Os Ensinamentos Secretos de Todas as Eras , 1928, Philosophical Research Society)

Cristianismo Místico


Cristianismo místico é a vertente mística do cristianismo que ensina verdades espirituais inacessíveis por meio do intelecto apenas. Essas verdades são aprendidas por varias técnicas de meditação e oração, como a oração contemplativa, oração da união, a lectio divina, oração de quietude e a oração de Jesus.

Fundamentos bíblicos
A Bíblia apresenta várias passagens que se relacionam com o Misticismo e seu objetivo máximo: O Encontro com Deus e consequentemente consigo mesmo, mas através do sacrifício de Jesus Cristo.

No Evangelho de São Matheus, Jesus Cristo nos chama a ser perfeito como Deus é Perfeito (Cap. 5, versículo 48). Tanto no Novo Testamento (Evangelhos, cartas Paulinas e Apocalipse) quanto no Antigo Testamento (sobretudo nos cinco primeiros livros que formam a Torah judaica) se encontram comandos, ensinamentos e chaves para a ascensão mística de imenso valor. Cabe a cada pessoa que deseja seguir esse caminho estudar a Bíblia e encontrar nela as chaves e os passos para o encontro místico.

Oração
Cristãos místicos

Alguns exemplos de cristãos místicos:

Ana de Jesús
São João Evangelista (? -101)
São Clemente de Alexandria (? -216)
Agostinho de Hipona (354-430)
Gregório I (590-604)
Santo Anselmo (1033-1109)
Hugo de São Vítor (1096-1141)
Santa Hildegarda (1098-1179)
São Francisco de Assis (1181-1226)
Santo Antonio (1195-1231)
Mechtild de Magdeburg (1210-1279)
Marguerite Porete (? - 1310)
Mestre Eckhart (c. 1260 - 1327/8)
Gregory Palamas (1296 - 1359)
Santa Brígida da Suécia (1302-1373)
Julian of Norwich (1342-c.1416)
Malinda Cramer
Emma Curtis Hopkins
Margery Kempe (c.1373-1438)
Santa Teresa de Ávila (1515-1582)
São João da Cruz (1542-1591)
Santa Maria Madalena de Pazzi (1566-1607)
Jakob Boehme (1575-1624)
Joana d'Arc
Sir Thomas Browne (1605-1682)
Angelus Silesius (1624-1677)
George Fox (1624-1691)
Sarah Wight (1632-?)
Emanuel Swedenborg (1688-1772)
John Woolman (1720-1772)
William Blake (1757-1827)
Anna Catarina Emmerich (1774-1824)
Jakob Lorber (1800 - 1864)
Max Heindel (1865 - 1919)
Thomas Merton (1915-1968)
Santa Margarida Maria de Alacoque (1647-1690)
Madre Virgínia Brites da Paixão (1860-1929)
Beata Maria do Divino Coração Droste zu Vischering (1863-1899)
Beata Alexandrina de Balazar (1904-1955)
Padre Pio de Pietrelcina (1887-1968)
Joel S. Goldsmith (1892-1964)

Ascética


Para a teologia cristã há uma ascética, com um sentido amplo, e uma ascese, com sentido mais restrito.

A Ascética consiste no esforço metódico e continuado, com a ajuda da graça, para favorecer o pleno desenvolvimento da vida espiritual, aplicando meios e superando obstáculos. Aqui actuam e organizam-se os grandes meios e práticas da vida espiritual: oração, penitência, retiro, exame de consciência, direcção espiritual, sacramentos. Como também uso de métodos, projectos, disciplina interior, para um maior aproveitamento da graça e dos meios. Este sentido amplo é o que normalmente tem a palavra, quando se encontra em títulos de manuais, ou se contrapõe a Mística. Ascese, em sentido mais restrito, é o conjunto dos exercícios mortificantes, aplicados directamente a eliminar vícios, dominar e reorientar tendências desordenadas, robustecer a liberdade. É o que normalmente se expressa em termos como abnegação, mortificação, penitência, renúncia.

O filósofo Platão aprofundou a diferença entre corpo e alma. O corpo para ele era uma sede dos desejos e paixões que desvia o homem do caminho para o bem. Desta forma, Platão defendia o ascetismo como meio de purificação do mundo para alcançar o bem.

Ascese


A ascese (do grego ἄσκησις, áskesis, "exercício espiritual", derivado de ἀσκέω, "exercitar") consiste em uma prática que visa ao desenvolvimento espiritual. Muitas vezes, essa prática consiste na renúncia ao prazer e na não satisfação de algumas necessidades primárias.

O conceito abrange um grande espectro de práticas, em culturas e etnias muito diferentes, que vão dos ritos iniciáticos (maus-tratos, incisões e escoriações no corpo, repreensões de extrema severidade, a mutilação genital ou a participação em provas que exigem actos excessivos de coragem) aos hábitos monásticos de diversas religiões, incluindo o celibato, o jejum e a mortificação do corpo por diversos meios.

Ascese e fenômenos místicos
Segundo as interpretações mais correntes, alguns dos fenómenos religiosos e místicos envolvendo visões ou estados de êxtase resultam do enfraquecimento do corpo e da alteração do equilíbrio sensorial. Segundo o idealismo platónico, a ascese servirá, exactamente, para aproximar a pessoa (o asceta) da verdadeira realidade espiritual e ideal, ao desligar-se da imperfeição e materialidade do corpo.

No cristianismo
A ideia de que a religião cristã liga os desejos corporais à ideia de pecado foi amplamente divulgada ao longo dos anos, e esta poderia ser associada à prática asceta . No entanto, a teologia cristã possui o grande consenso de que a matéria e o corpo são valorizados no cristianismo, foram criações divinas e possuem seus propósitos divinos, como em Gênesis 1 e em I Coríntios 15, respectivamente: "e viu Deus que era bom" a sua criação material ali expressa e "Mas Deus dá-lhe o corpo como quer, e a cada semente o seu próprio corpo. Nem toda a carne é uma mesma carne, mas uma é a carne dos homens, e outra a carne dos animais, e outra a dos peixes e outra a das aves. E há corpos celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres. Uma é a glória do sol, e outra a glória da lua, e outra a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela. Assim também a ressurreição dentre os mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção." onde Paulo demonstra valores à criações materiais, incluindo o corpo humano, que será também redimido na glorificação, o processo final da redenção de Cristo.

Os desejos corporais também são legitimados pela teologia cristã, no entanto, a prática deles foram desvirtuadas pelos vários pecados cometidos pelo homem. Mas o valor dos prazeres físicos quando dentro da forma divina é assegurado por serem igualmente criação divina com um bom propósito, quando Deus se refere à união do homem e mulher no casamento, que incluiria o sexo, por exemplo, ou quando fala da comunhão dos santos através da ceia, onde se come e se partilha comidas e bebidas [Ver Gênesis e Atos, respectivamente], e ainda quando Deus demonstra sua avaliação de "bom" da sua criação, o que pode ser associado a um prazer estético. Portanto, quando realizado da forma correta, de acordo com as motivações corretas ligas a Deus e não a idolatria e nem ao vício, o prazer físico é legitimado no cristianismo.

A prática de um asceta pode ser associada à prática cristã à medida em que o cristianismo rejeita os prazeres corporais quando são praticados de forma contrária à forma correta estabelecida por Deus e portanto, contrária ao propósito divino. Nesse sentido é que o cristianismo prega a negação da própria "carne", no sentido de o homem caído e afastado de Deus desejar de forma destrutiva prazeres físicos quando os pratica fora dos propósitos divinos como já dito acima, e isto é o que deve ser negado.

Para a teologia cristã, há uma ascética, com um sentido amplo, e uma ascese, com sentido mais restrito. A ascética consiste no esforço metódico e continuado, com a ajuda da graça, para favorecer o pleno desenvolvimento da vida espiritual, aplicando meios e superando obstáculos. Aqui, actuam e organizam-se os grandes meios e práticas da vida espiritual: oração, arrependimento, busca pelo conhecimento e transformação através da bíblia, palavra divinamente inspirada. Como também uso de métodos, projectos, disciplina interior, para um maior aproveitamento da graça e dos meios. Este sentido amplo é o que normalmente tem a palavra, quando se encontra em títulos de manuais, ou se contrapõe à mística.

Ascese, em sentido mais restrito, é o conjunto dos exercícios mortificantes, aplicados directamente a eliminar vícios, dominar e reorientar tendências desordenadas, robustecer a liberdade. É algo que pode estar associado a termos como abnegação, mortificação, penitência, renúncia.

Concretamente, como se deve configurar este caminho de ascese e purificação? Como deve ser vivido o amor, para que se realize plenamente a sua promessa humana e divina? Uma primeira indicação importante, podemos encontrá-la no Cântico dos Cânticos, um livro do Antigo Testamento bem conhecido dos místicos. Segundo a interpretação hoje predominante, as poesias contidas neste livro são, originalmente, cânticos de amor, talvez previstos para uma festa israelita de núpcias, na qual deviam exaltar o amor conjugal. Neste contexto, é muito elucidativo o facto de, ao longo do livro, se encontrarem duas palavras distintas para designar o "amor". Primeiro, aparece a palavra dodim, um plural que exprime o amor ainda inseguro, numa situação de procura indeterminada. Depois, esta palavra é substituída por ahabà, que, na versão grega do Antigo Testamento, é traduzida pelo termo de som semelhante agape, que se tornou, como vimos, o termo característico para a concepção bíblica do amor.

Em contraposição ao amor indeterminado e ainda em fase de procura, este vocábulo exprime a experiência do amor que agora se torna verdadeiramente descoberta do outro, superando assim o carácter egoísta que antes claramente prevalecia. Agora, o amor torna-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se busca a si próprio, não busca a imersão na inebriação da felicidade; procura, ao invés, o bem do amado: torna-se renúncia, está disposto ao sacrifício, antes procura-o.

Faz parte da evolução do amor para níveis mais altos, para as suas íntimas purificações, que ele procure agora o carácter definitivo, e isto num duplo sentido: no sentido da exclusividade — "apenas esta única pessoa" — e no sentido de ser "para sempre". O amor compreende a totalidade da existência em toda a sua dimensão, inclusive a temporal. Nem poderia ser de outro modo, porque a sua promessa visa ao definitivo: o amor visa à eternidade. Sim, o amor é "êxtase"; êxtase, não no sentido de um instante de inebriação, mas como caminho, como êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus: "Quem procurar salvaguardar a vida, perdê-la-á, e quem a perder, conservá-la-á" (Evangelho segundo Lucas, capítulo 17, versículo 33) — disse Jesus; afirmação esta que se encontra nos Evangelhos com diversas variantes (Evangelho segundo Mateus, capítulo 10, versículo 39; capítulo 16, versículo 25; Evangelho segundo Marcos, capítulo 8, versículo 35; Evangelho segundo Lucas, capítulo 9, versículo 24; Evangelho segundo João, capítulo 12, versículo 25).

Assim descreve Jesus o seu caminho pessoal, que o conduz, através da cruz, à ressurreição: o caminho do grão de trigo que cai na terra e morre e, assim, dá muito fruto. Partindo do centro do seu sacrifício pessoal e do amor que aí alcança a sua plenitude, ele, com tais palavras, descreve também a essência do amor e da existência humana em geral de amar a Deus acima de tudo e ao próximo.

Ascetismo


O ascetismo ou asceticismo é uma filosofia de vida na qual se realizam certas práticas visando ao desenvolvimento espiritual. Muitas vezes, essas práticas consistem no refreamento dos prazeres mundanos e na austeridade.

Aquelas que praticam um estilo de vida austero definem suas práticas como virtuosas e perseguem o objetivo de adquirir uma grande espiritualidade. Muitos ascéticos acreditam que a purificação resultante do corpo com a prática ascética ajuda a purificação da alma, a compreensão acerca de uma divindade ou a encontrar a paz interior. Tais objetivos também poderiam ser obtidos com a automortificação, rituais, ou uma severa renúncia ao prazer. Ascéticos defendem que essas restrições autoimpostas trazem grande liberdade em várias áreas de suas vidas, tais como aumento das habilidades para pensar limpidamente e para resistir a potenciais impulsos destrutivos.

Etimologia
O substantivo "ascetismo" deriva do termo grego antigo áskesis (prática, treinamento ou exercício, de cunho espiritual). Originalmente, era associado com qualquer forma de disciplina ou filosofia prática. Modernamente, além deste sentido mais geral, o termo ascetismo também se refere mais especificamente a alguém que pratica uma renúncia ao mundo com objetivo de adquirir um alto intelecto e espírito.

Muitos guerreiros e atletas, na sociedade grega antiga, utilizaram a disciplina áskesis para conseguir uma melhor forma corporal e graça. A forma de vida, a doutrina, ou os princípios de alguém que se engaja no áskesis são classificados como asceticismo.

"Ordinário" versus "extraordinário"
Max Weber fez uma distinção entre os asceticismo innerweltliche e ausserweltliche, que significam, respectivamente, "dentro do mundo" e "fora do mundo". E. Carvalho traduziu isto como "ordinário" e "extraordinário" (alguns tradutores usam "mundo interior", mas isto tem diferentes conotações no português e não é o que Weber tinha em mente).

O ascetismo "extraordinário" refere-se a pessoas que desistem do mundo para viver uma vida ascética (o que inclui os monges que vivem comunitariamente em monastérios, bem como os ermitões que vivem sozinhos). O asceticismo "ordinário" refere-se a pessoas que vivem vidas ascéticas mas não se retiram do mundo.

Weber utilizou esta distinção no contexto da Reforma Protestante. Mais tarde, o conceito foi secularizado. Assim, o conceito pertence a ambos os domínios: religioso e não religioso.

David McClelland sugeriu que o asceticismo ordinário se restringe a agir contra alvos pré-identificados como prazeres que distraem pessoas em relação a alguma inspiração divina: essa pessoas poderiam, então, aceitar prazeres que não sejam distracionistas. Como exemplo, ele apontou que quacress têm, historicamente, se objetado a usar roupas coloridas, apesar de que, mesmo sem cores, as roupas dos quacres são feitas de matérias muito caras. As cores foram consideradas distracionistas, mas o material não. Os amish usam critérios similares para tomarem decisões sobre que tecnologias modernas podem usar e quais devem evitar.

Motivação religiosa
O asceticismo é muito associado com monges, iogues ou sacerdotes. Entretanto, qualquer indivíduo pode escolher levar um vida ascética. Lao Zi, Sidarta Gautama, Mahavira, Santo Antão, Francisco de Assis, Mahatma Gandhi e Augustine Baker podem ser considerados ascetas. Muitos deles deixaram as suas famílias, posses, e lares para viver uma vida mendicante, e, aos olhos de seus seguidores, demonstram grande espiritualidade, ou iluminação.

Hinduísmo
Na Índia antiga, havia uma tendência a abandonar o mundo convencional e entrar no ascetismo, ou seja, uma vida de exclusão e renúncia, chamada tyaga ou sannyasa. Este movimento começou nos tempos das Upanixades, refletindo um ideal, e acabou se tornando um problema social. Em resposta, os legisladores Hindus inventaram os ideais de estágios da vida (ashramas). De acordo com este modelo, a pessoa primeiro termina o estágio de brahmacarin - estudante, passando para grihastha - cidadão ativo, e somente depois se retiraria do mundo.

Um exemplo extremo de grihastha são os sadhus, homens santos, que praticam uma forma extrema de automortificação. Suas práticas incluem atos de extrema devoção para uma deidade ou princípio. Tais votos nunca podem ser quebrados. Por exemplo, eles mantêm um braço estendido no ar por um período de meses ou anos. Os tipos particulares de asceticismo variam de um para outro, e de homem santo para homem santo.


Budismo
O personagem histórico Sidarta Gautama, o Buda, adotou uma vida extremamente ascética após deixar o palácio do seu pai, onde vivia em extremo luxo. Mas, após experimentar o ascetismo, Buda rejeitou o asceticismo extremo como caminho para a libertação do sofrimento (nirvana), e escolheu, em vez disso, um caminho onde satisfaz as necessidades do corpo sem cruzar os limites da luxúria e indulgência. Após abandonar o asceticismo extremo, ele atingiu a iluminação. Este tipo de posicionamento se tornou conhecido como Caminho do Meio e se tornou a base dos princípios da filosofia budista.

Os graus de moderação sugeridos neste caminho do meio variam dependendo da interpretação do budismo. Algumas tradições enfatizam a vida ascética mais do que outras.

O estilo de vida básico de um praticante budista (bico, monge, ou bicunim, freira) como descrito no Vinaia Pitaca, foi interpretado como nem excessivamente austero nem hedonista. O monge e a freira são orientados a manterem requisitos básicos da vida (particularmente comida, saúde, roupas e moradia) seguros e saudáveis, sem nunca terem problemas com a doença ou a fraqueza. Embora a vida descrita pelo Vinaya possa parecer difícil, ela deveria ser descrita mais como Espartana do que ascética. Privações para a própria santificação não são louvadas. Realmente, isto pode parecer mais um sinal de vínculo do que uma real renúncia. O objetivo da vida monástica era evitar as preocupações com as circunstâncias materiais da vida e permitir, ao monge ou freira, a possibilidade de se engajar na prática religiosa. Para este fim, ter poucas posses é mais aconselhável do que não ter nenhuma.

Inicialmente, o Buda rejeitou algumas práticas especificas de ascetismo que alguns monges queriam seguir. Estas práticas — tais como dormir no chão em locais de cremação e cemitérios, usar apenas trapos etc. — foram consideradas inicialmente como muito extremas, contrárias aos valores sociais da comunidade, e criando uma competição de austeridade entre os monges. A despeito da proibição, há registros no Tripitaca de que estas práticas (conhecidas como práticas de Dhutanga, ou em tailandês como thudong) eventualmente se tornaram aceitáveis na comunidade monástica. Elas foram registradas por Budagosa em seu Visuddhimagga e mais tarde se tornaram importantes nas práticas da tradição florestal tailandesa.

As tradições Mahayana do budismo receberam um singular código de disciplina que era usado em diversos setores do Theravada. Combinando-se com as variações culturais regionais, tiveram, como resultado, diferentes atitudes em relação ao asceticismo em diferentes áreas Mahayanas pelo mundo. Particularmente notável é a regra em relação ao vegetarianismo empregada na Ásia Oriental, e particularmente na China e Japão. Enquanto os monges Theravada são compelidos a comer tudo que lhes possa dar sustentação, incluindo carne, os monges mahayana na Ásia Oriental são, frequentemente, vegetarianos. No sudeste asiático e no Sri Lanka, monges, geralmente, pedem esmolas nas ruas e comem carne. Já os monges da Ásia Oriental recebem suprimentos alimentares de doadores e são alimentados em uma cozinha localizada no local do templo ou monastério.

Similarmente, há divergência entre as diferentes escrituras e tendências culturais, como a forte ênfase ao asceticismo de algumas práticas Mahayana. O Sutra do Lótus, por sua vez, contém uma história de um bodhisattva que se queimou como uma oferenda à reunião de todos os Budas no mundo. Esta tornou-se uma história símbolo do autossacrifício no mundo Mahayana, provavelmente causando a inspiração da espectacular autocremação do monge Thich Quang Duc durante os idos de 1960, bem como vários outros incidentes.

Judaísmo
O asceticismo enquanto renúncia ao mundo é completamente rejeitado pelo judaísmo, pois é considerado contrário ao desejo de Deus para o mundo. Segundo a crença judaica, a intenção de Deus é que o mundo seja agradável, nos contextos permitidos. O Talmude diz: "se uma pessoa tem a oportunidade de apreciar uma nova fruta e se recusa, ele prestará contas disto no próximo mundo".

Esta é uma das principais diferenças entre judaísmo e cristianismo. Alguns setores do cristianismo, influenciados pelo gnosticismo pagão, defendem a tese que o mundo é basicamente mau (visão dualista) e deve ser evitado. Em contraste com o judaísmo, que defende que somente vivendo no mundo e apreciando-o é que o ser ascenderá espiritualmente.

Os escritos principais para o judaísmo estão na Torá.

Cristianismo
O cristianismo tem, como base para suas doutrinas, a Bíblia. No Novo Testamento escrito pelos apóstolos e discípulos de Jesus, não há nenhuma aprovação ao ascetismo no sentido de renúncia ao mundo:

"Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne." (Epístola aos Colossenses, capítulo 2, versículos 20 a 23)

Contrariando a ideia de que o sofrimento carnal traz paz espiritual, o apóstolo Paulo de Tarso afirma que tais práticas não produzem real proveito espiritual, mas somente uma breve satisfação pessoal.

O apóstolo João, porém, doutrina que o cristão deve cuidar para não desejar desenfreadamente as coisas deste mundo. Pode usufruí-las, mas não amá-las:

"Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre."  (Primeira Epístola de João, capítulo 2, versículos 15 a 17) Todo desejo ou impulso carnal deve ser equilibrado pelo cristão:

"Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma... Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam."  (Primeira Epístola aos Coríntios, capítulo 6, versículo 12; capítulo 10, versículo 23) 

Jacques Bergier - Melquisedeque

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