sábado, 3 de fevereiro de 2018

Ordem Rosa Cruz – Stanislas de Guaita



Quando, perto do fim do reinado de Henrique IV, o mundo profano ouviu falar pela primeira vez de uma associação muito fechada de teósofos taumaturgos, os Rosa-Cruzes já existiam há mais de um século. Derivaram seu nome de um emblema pantacular, de muita tradição entre eles. Esse pantáculo é o mesmo que Valentin Andréa (ou melhor Andréas), o grão-mestre de então, trazia gravado na pedra de seu anel: uma cruz de São ]oão, cuja áustera nudez ramificava-se em quatro rosas, desabrochadas em seus ângulos.

Muito se falou que a Ordem não remontava a antes de Valentin Andréas, mas isso é um erro manifesto. Se para refutá-lo evocarmos o artigo dos estatutos que ordenava dissimular durante cento e vinte anos a existência da mística fraternidade, poderíamos considerar a prova como insuficiente. Melhor seria recorrer a outros argumentos. Bem antes do ano de 1613, quando apareceu o manifesto dos Rosa-Cruzes, e mesmo antes de 1604, quando o mundo profano começou a suspeitar de sua existência, colhemos aqui e ali, vestígios incontestáveis de sua associação: eles são inúmeros, para quem sabe ler os escritos dos adeptos da época.
Vejamos alguns exemplos. Todos os arcanos Rosa-Cruzes são representados em um dos pantáculos do Amphitheatrum saptientiae eternae(122), onde Khunrath desenhou um Cristo de braços abertos em cruz, em uma rosa de luz. Ora, o livro de Khunrath traz uma aprovação imperial com data de 1598. Contudo, é principalmente em Paracelso, falecido em 1541, que devemos obter as provas decisivas de uma Rosa-Cruz latente no século XVI. Podemos ler em seu tratado De Mineralibus (tomo II, pp. 341-350 da edição de Genebra)(123) o anúncio formal do milagroso acontecimento que deveria confundir o século seguinte. Diz ele: “Nada existe de octulto que não deva ser descoberto. É assim que deverá suceder-me um ser prodigioso, que revelará muitas coisas” (De Mineralibus, 1). Algumas páginas adiante Paracelso precisa seu pensamento, anunciando certa descoberta: “que deve permanecer velada até a chegada de ELIAS-ARTISTA” (De Mineralibus, 8).

Elias Artista! Gênio diretor dos Rosa-Cruzes, personificação simbólica da Ordem, embaixador do Santo Paracleto! Paracelso, o Grande, prediz tua vinda, ó Sopro Coletivo das generosas reivindicações, Espírito de liberdade, de ciência e de amor que deve regenerar o mundo!…
Em outra passagem, Paracelso é mais formal ainda. Abramos sua espantosa Prognosticatio(124), coletânea de profecias, cuja única edição traz a data de 1536. O que vemos na figura XXVI? Uma rosa desabrochada numa coroa, e o místico diagrama (F), emblema da dupla cruz, enxertado sobre esta rosa. Ora, eis a legenda que se lê embaixo: “A Sibila profetizou o digamma eólico. Foi também pelo direito, ó cruz dupla, que foste enxertada sobre a rosa: és o produto do tempo, obtendo precocemente a maturidade. Tudo o que a Sibila predisse sobre ti realizar-se-á infalivelmente em ti, motivo pelo qual o verão produziu suas rosas… Triste época, em verdade, a nossa, onde tudo se faz sem ordem. Essa desordem é o mais evidente símbolo da inconstância humana. Mas tu, sempre de acordo contigo mesma, só produzes frutos estáveis, pois construíste sobre a pedra boa; e, tal como a montanha de Sião, nada mais poderá abalar-te; todas as coisas favoráveis chegam a ti como que por um desejo. Tanto que os homens confundidos dirão que é milagre. Mas o tempo e a idade propícia trarão essas coisas com eles; quando a hora soar, será necessário que elas se realizem, e é por isso que ELE VEM(125)” (versão textual).

Quem deverá vir? Ele, o Espírito radiante do ensinamento integral dos Rosa-Cruzes: Elias-Artista!
Não teríamos nenhum impedimento para reproduzir, se necessário, outros textos não menos formais, para provar que Andréas não foi o fundador da Ordem Rosa-Cruz.

Não nos iremos limitar às lendas Rosa-Cruzes. Não cabe aqui discutir se a história do fundador Christian Rosenkreutz é puramente legendária, ou se um fidalgo de carne e osso, nascido na Alemanha por volta de 1378, conseguiu que o santuário da Cabala lhe fosse aberto pelos sábios de Damcar (provavelmente Damasco), após uma longa peregrinação pelas terras do Oriente; e se, de volta à Alemanha, tendo transmitido a alguns discípulos a provisão dos arcanos, ele se tornou o eremita do mistério e passou sua longa velhice no fundo de uma caverna, onde a morte o esqueceu até 1484. Durante três séculos as controvérsias sobre esse ponto não conduziram a nenhuma conclusão positiva; não temos a mínima vocação para encher páginas fúteis, para acrescentá-las às antigas…

Essa gruta, sepulcro de Rosenkreutz, só foi descoberta em 1684, ou seja, cento e vinte anos após a morte do mago, conforme a estranha profecia que se pode ler na parede de rocha: “Serei descoberto após cento e vinte anos”, – profecia que nos interessa pouco no momento. Todas essas lendas têm seu interesse, sem dúvida nenhuma, assim como possuem sua razão de ser do ponto de vista cabalístico. O mesmo se pode dizer das mil e uma maravilhas que os herdeiros espirituais de Rosenkreutz – segundo se afirma – teriam descoberto a partir da meditação sobre os mistérios. As latitudes de um campo mais vasto seriam necessárias, em todo o caso, para efetuar esse inventário e revelar o significado preciso e profundo desses símbolos múltiplos; talvez algum dia nos lancemos nessa tarefa.

O que nos é lícito afirmar desde já é que a Rosa-Cruz, cujos emblemas constitutivos nos conduzem aos poemas de Dante e de Guillaume de Lorris, durante muito tempo funcionou veladamente, antes de manifestar-se publicamente através de obras.

Hoje, quantos falsos magos ousam levar a mistificação ao ponto de cobrir com o rótulo ultramontano a Rosa-Cruz (restituída desde então, dizem eles, à pureza de sua gloriosa origem)(126). Pode parecer interessante transcrever duas frases do Manifesto(127) da Ordem, publicado pelo Grão-Mestre em 1615. Os irmãos aí proclamam, diz o contemporâneo Naudé(128): Que por seu intermédio, o tríplice diadema do Papa será reduzido a pó;

Que eles confessam livremente, e publicam sem nenhum medo de serem castigados, que o papa é o Anticristo.

Três linhas adiante, eles manifestam o desejo de que se retorne à simplicidade dogmática e rítualista da Igreja primitiva. Sem dúvida, essas frases, como todas as outras de seu Manifesto, são intencionalmente exaltadas, notoriamente impelidas ao maravilhoso, às vezes absurdas. Inúmeros prodígios são aí anunciados, sendo que vários, tomados ao pé da letra (que mata, dizia São Paulo), chocam-se contra a impossibilidade física. Mas sob essa forma paradoxal, esses engenhosos teósofos tiveram o cuidado de ocultar aos olhos dos tolos e de designar à sagacidade dos sábios as mais preciosas luzes do ocultismo tradicional.

Assim, jamais os Rosa-Cruzes renegaram o catolicismo na significação esplêndida de sua verdadeira etimologia, reveladora de um esoterismo superior; foram inspirados demais pelo Espírito que vivifica, para jamais atentarem contra a hierarquia gnóstica. Eles (tão ligados aos símbolos cristãos, denominavam Capela do Espírito Santo seu colégio supremo e Liberdade do Evangelho um de seus mais ocultos manuais) não se furtavam a ver no Santo Padre o princípio encarnado da unidade viva, e no papado espiritual a pedra angular do templo-síntese onde oficiarão um dia os pontífices professadores da Religião-Sabedoria universal. Bem mais, muitos dos Irmãos, nascidos no protestantismo, proclamavam-se católicos de viva voz, a exemplo de seu ilustre patrono Khunrath, de Leipzig.

Lembremos, ainda, que Valentin Andréas foi o instigador, em 1620, de uma Fraternidade Cristã, que se fundiu, mais tarde, à Fraternidade-Mãe dos Rosa-Cruzes.

Mas o abuso do papado temporal fazia com que eles fossem implacáveis e criticassem as ações ridículas, difamassem as intrigas, sem tréguas e sem piedade.

O verbo anticlerical dos Rosa-Cruzes clamava tão intensamente por toda a Europa, nos primeiros lustros do século XVII, que se acreditou tratar-se de uma associação secreta de huguenotes fanatizados; ledo engano. Anticlerical jamais significou anticatólico ou anticristão; confundir seria um erro. No papa, os Rosa-Cruzes distinguiam duas potências, encarnadas em uma só carne: Jesus e César. Quando qualificavam o sucessor de Pedro de anticristo, eles ameaçavam destruir sua tríplice coroa, mas não visavam senão o déspota temporal do Vaticano.

Seu sistema era, em suma, exaltar ao máximo as fórmulas até o paradoxo, falsear as obras até o milagre. Tinham tomado emprestado esse método a seus antigos mestres, os Cabalistas. Davam às alegorias um estilo tão inverossímil, que somente os imbecis se atinham sentido aparente, e os demais adivinham no primeiro contato o valor íntimo de um sentido oculto – era, de fato, um método inteligente. Foi assim que pregaram cartazes em Paris, no ano de 1622, contendo as proclamações seguintes, próprias convenhamos a intrigar os espíritos sutis e a distanciar as mentes parvas:

PRIMEIRO CARTAZ: “Nós, deputados do Colégio principal dos Irmãos da Rosa-Cruz, estamos visível e invisivelmente nesta cidade, pela graça do Altíssimo, em direção do qual se volta o coração dos justos. Mostramos e ensinamos sem limitações, podemos falar toda a espécie de língua dos países onde desejamos permanecer, para livrar os homens, nossos semelhantes, do erro e da morte.”
SEGUNDO CARTAZ: “Se alguém deseja nos ver por simples curiosidade, não se comunicará jamais conosco; mas se a vontade o conduz realmente e de fato a inscrever-se nos registros de nossa fraternidade, nós que lemos os pensamentos o faremos ver a veracidade de nossas promessas; é por isso que não revelamos nosso endereço, pois os pensamentos, refletindo a vontade real do leitor, serão capazes de nos fazer conhecer a ele e ele a nós.”

Não surpreenderemos os estudiosos, mesmo pouco avançados, do ocultismo, se protestarmos aqui que o anúncio dessas prerrogativas que os Irmãos exibiam, secretamente, sob a aparência de uma loucura incurável, ocultam significações da mais perfeita sabedoria. A última das pretensões das quais eles se vangloriavam, aquela que se julgará talvez a mais exorbitante, é precisamente a única que se poderá interpretar ao pé da letra. Ela lembra a condição expressa da admissão ao mais alto grau de uma fraternidade muito fechada e pouco conhecida, no areópago supremo da qual o postulante é obrigado a apresentar-se em corpo astral…

Os Irmãos iluminados da Rosa-Cruz eram obrigados, por juramento, a praticar a medicina oculta por onde quer que passassem, sem jamais receber remuneração alguma, sob nenhum pretexto. Psicurgia, Mestria Vital, Hermetismo, Teurgia e Cabala não tinham nenhum segredo para os mais avançados.

Um artigo de sua profissão de fé obrigava-os a “acreditar firmemente que, caso sua associação fracassasse, ela entraria num processo de regressão, voltando ao sepulcro de seu primeiro fundador”. Isso quer dizer que se acontecer que um dos Irmãos se comprometa no mundo, a Ordem que eles terão manifestado imperfeitamente em atos voltará a seu potencial; de seu estado de abertura, ela voltará a ser oculta…

Assim como nenhum homem é perfeito, nenhuma sociedade é indefectível. A Ordem enfraqueceu e, por volta de 1630, entrou pelo menos como associação regular – nas trevas ocultas de onde saíra vinte anos antes(129). Só alguns Rosa-Cruzes manifestavam-se esporadicamente. A unidade coletiva pareceu adormecer por longo tempo no silêncio da gruta, de onde a fizeram sair novamente em 1888.

Os homens estão sujeitos ao erro, à malícia, à cegueira, e os Rosa-Cruzes são homens;
entretanto, não se podem computar suas faltas ao abstrato da Ordem. Elias-Artista é infalível, imortal, e além disso, inacessível tanto às imperfeições como às manchas e às ridicularizações dos homens de carne que desejam manifestá-lo. Espírito de luz e de progresso, ele se encarna nos seres de boa vontade que O evocam. Se estes porventura tropeçarem no caminho, Elias-Artista os abandonará.

Fazer esse Verbo Superior mentir é impossível, mesmo que se possa mentir em Seu nome. Pois cedo ou tarde Ele encontra um órgão digno Dele (nem que seja por um minuto), uma boca fiel e leal (nem que seja para pronunciar uma só palavra). Por esse órgão de eleição, ou por esses lábios de encontro – que importa? – Sua voz se faz ouvir, poderosa e vibrante da autoridade serena e decisiva que dá ao verbo humano a inspiração do Alto. Assim são desmentidos na terra aqueles que Sua justiça havia condenado abstratamente.

Evitemos falsear o espírito tradicional da Ordem; sendo reprovados no Alto, no mesmo instante, cedo ou tarde seríamos renegados aqui embaixo pelo misterioso demiurgo que a Ordem saúda por esse nome: Elias-Artista!

Ele não é a Luz, mas, como São João Batista. Sua missão é dar o testemunho da Luz de Glória, que deve irradiar de um novo céu sobre uma terra rejuvenescido. Que Ele se manifeste por conselhos de força e que Ele desobstrua a pirâmide das santas tradições, desfigurada pelas camadas heteróclitas de detritos e de caliças que vinte séculos acumularam sobre ela. E que enfim, por Ele, as sendas sejam abertas para receber o Cristo glorioso, no ninho maior do qual se dissipará – estando Sua obra concluída – o precursor dos tempos futuros, a expressão humana do Santo Paracleto, o gênio da Ciência e da Liberdade, da Sabedoria e da Justiça integral: Elias-Artista.

3. Bringaret…

Bringaret, provavelmente Jean Bringern, o autor da versão alemã do Manifesto de Andréas, impresso em Frankfurt em 1615, juntamente com uma tradução da Confissão de Fé dos Irmãos da Rosa-Cruz (Veja Gabriel Naudé, Instruction à Ia France, p. 31).

Esses quadros eram todos da lavra do proprietário

O leitor atento de Zanoni não poderá deixar de pensar nesse momento no pintor Clarence Glyndon, um dos personagens que surgem em primeiro plano nesta grande obra esotérica. Glyndon é o aspirante excluído do adeptado, não pelo vício de incapacidade mental ou de fraqueza de alma, mas ao contrário, pelo orgulho e pela temeridade que o induziram a desobedecer as ordens peremptórias de Mejnour, o Mago.

O neófito dos mistérios só quis tributar à sua audácia a coroa da eleição; o hierofante estando ausente, tentou conquistar de assalto as prerrogativas do Sanctum Regnum, desafiando o Guardião do Umbral… Mejnour vai puní-lo fechando-lhe para sempre a porta do santuário, pois o fracasso é definitivo e a suprema prova não se tenta duas vezes. Mas não deixa de estabelecer-se uma comunicação entre o visível e o invisível; o véu que separava Glyndon do mundo astral é rompido. Regressando à vida cotidiana, o pintor debater-se-á entre as duas influências adversas, fasta e nefasta, que disputarão o seu ser, isto é, a virtude vivificadora do elixir e a obsessão do fantasma.

Liberado finalmente por Zanoni, que o ressuscita para a vida ativa e serena de antes da prova, seu longo martírio vai parecer-lhe a reminiscência de um pesadelo e o ensinamento substancial adquirido na escola dos dois caldeus subsiste apenas ao naufrágio das ilusões perdidas, fazendo do velho Glyndon um iniciado especulativo, um amador apaixonado das ciências ocultas…

Qualquer que seja a parcela de ficção inserida na possível realidade dos fatos revelados neste prefácio, não há dúvida de que Bulwer não quer dar a entender que Glyndon e o velho cavalheiro encontrado na livraria excêntrica são o mesmo personagem. Inúmeros detalhes não permitem duvidar disso e a sagacidade do leitor os distinguirá sem muitas dificuldades.
…A mais extensa distinção entre o Realismo e a Verdade.

O realismo dá um colorido servil às coisas, tais como os sentidos fornecem sua noção no mundo físico; a verdadeira arte, comparando esta noção dada pelos sentidos com o ideal dessas mesmas coisas intuitivamente pressentido, reergue e corrige os objetos segundo o modelo de seu arquétipo. E se o Real pode ser concebido sob a aparência que nos é sensivelmente proposta, o Verdadeiro só se concebe compreendido na revelação das Essências e das formas puras; é através de tais indícios que nos cabe definir a realidade como aquilo que é, no sentido dos positivistas (ou, melhor, daquilo que parece ser), e a verdade como aquilo que deveria ser (ou melhor, o que virtualmente por direito concebido, mas que não existe fisicamente de maneira palpável).
…pagou com sua vida pela maliciosa sátira…

Villars (abade de Montfaucon de) nasceu perto de Toulon, em 1635, e morreu em 1673, em circunstâncias misteriosas. Seus contemporâneos acreditaram tratar-se de uma vingança oculta. No ano de 1670, o abade de Villars publicou sob o título O Conde de Gabalis, ou diálogos sobre as Ciências Ocultas, um panfleto bastante estranho, aliás agradavelmente escrito, onde zombava do simbolismo dos RosaCruzes, com interpretações ao pé da letra; mas isso em estilo bastante equívoco e de maneira a fazer crer, que, por ser um fervoroso adepto da Alta Ciência, ele só zombava pela forma, e da boca para fora. Por outro lado, não se ignorava que ele se fizera iniciar outrora nos mistérios dessa Ordem Cabalística, e ele próprio deixara entender, com um tom meio brincalhão e ansioso, a vários íntimos seus que, convidado a comparecer diante de uma espécie de Corte Vêmica, sob a acusação de ter profanado os arcanos, não quis obedecer; mas, à revelia, os irmãos o tinham condenado à morte como costumavam fazer com os reveladores e traidores… Entretanto, ele tinha ainda recebido um prazo para opor-se à sentença… Os amigos do abade acreditaram tratar-se de uma mistificação em estilo gracejador. Mas a lembrança de todos esses fatos lhes veio à memória quando o planfletário espiritual foi raptado e assassinado na estrada que conduz a Lyon (1673).

…Salamandra ou Silfo!… o senhor também cai no erro comum…

Sob a graciosa alegoria do casamento dos Rosa-Cruzes com as Salamandras, os Silfos e outros Espíritos dos elementos, esses adeptos da Escola de Paracelso simbolizavam o poder que o homem pode conquistar sobre as forças semiconscientes da Natureza.

O Leitor não ignora que, seguindo essas tradições ao pé da letra, as Salamandras habitam a região do Fogo; as Ondinas, a da Água; os Silfos povoam a imensidão dos ares, e os Gnomos as cavernas do mundo subterrâneo. A antigüidade pagã multiplicava ainda mais as raças demiúrgicas, ou dos deuses inferiores. Cada povo inventava nomes para designá-los; não havia fonte que não se glorificasse de alguma ninfa tutelar, não havia floresta onde não se reverenciassem faunos, sátiros e silvanos, etc…

8. …Imortais obras-primas de Apolônio.
9. …Nesse caso, o senhor jamais sonhou.
Apolônio (de Tiana), veja à página 11.

Esta resposta do velho iniciado é plena de profundidade. Sabe-se que, durante o sono, o homem interno abandona seu despojo material para banhar seu corpo luminoso fatigado e retomar sua vitalidade esgotada no Oceano fluídico universal. Ele pode assim transportar-se a distâncias imensas (veja nossas Notas sobre o Êxtase, pp. 57 a 61) e discernir as coisas exteriores a ele, nos planos físico e astral, por intermédio dos órgãos de percepção de seu corpo astral, ou mediador plástico. Mas, por mais que o ser astral se distancie de seu invólucro material, permanece unido a ele por uma cadeia simpática de tal eficácia, que à mínima sensação anormal percebida por intermédio desse cordão fluídico o homem interno é bruscamente trazido a seu corpo exterior, no qual se reintegra imediatamente, ocasionando o despertar. Em certos casos, felizmente bastante raros, onde o choque foi extremamente intenso, o cordão pode romper-se, o que ocasiona a morte imediata. Por isso, é perigoso despertar de sobressalto as pessoas que sonham.

O próprio sonho não é outra coisa senão a percepção mais ou menos confusa dos reflexos e dos fenômenos do mundo astral, cujas lembranças bastante vagas só se coordenam imperfeitamente no estado de vigília.

Os iniciados sabem em que condições hiperfísicas o corpo astral, assim expulso de sua efígie carnal, pelo sono ou pelo êxtase, pode condensar-se, tornar-se objetivo ao ponto de ser visto e tocado, mesmo a distâncias enormes do local onde o corpo material jaz imóvel e, geralmente, em catalepsia. A história fornece-nos vários exemplos desse fenômeno, em casos em que ele pode ser bem verificado.

“Nada no mundo, diz Eliphas, “é melhor atestado e mais incontestavelmente provado do que a presença visível e real do pe. Alphonse de Liguori ao lado do papa agonizante, enquanto que o mesmo personagem era visto em sua casa, a uma grande distância de Roma, orando e em êxtase. A presença do missionário François Xavier em vários locais ao mesmo tempo não foi constatada com menor rigor(130). Ver, ainda, o livro de Gurney, Meyers e Podmore, Phanstams of the living (3 vol. in-8°), ou o resumo francês dessa grande obra, efetuada por M.L.Marillier, sob um título menos explícito e significativo: As alucinações telepáticas (Les Hallucinations télépathiques Paris, 1891, in-8.°).

Esta fase de aparição à distância de um ser vivo, cujo corpo jaz adormecido no mesmo instante longe do lugar onde se produz o fenômeno, tem o nome de desdobramento.
10. …Testemunho ocular da Revolução Francesa…

É inútil sublinhar aqui esse traço revelador, entre outros, da identidade que, segundo entendemos, se impõe entre Clarence Glyndon da narrativa e o old gentleman do Prefácio.
…Platão assinala quatro tipos de Êxtase…

Cornélio Agrippa faz, no terceiro volume de Filosofia Oculta, um comentário extenso dessa classificação quaternária, advinda de Platão e dos Alexandrinos (Capítulos XLVI-XLIX).
Depois de ter definido o Êxtase (iluminação da alma pelos deuses ou gênios) – uma alienação do homem animal sensual e, ainda, uma amarra que mantém cativo esse carcereiro da alma, de modo que ela se solta da prisão que não está mais guardada e, livre, sob os influxos divinos, envolve todas as coisas e prevê o futuro -, Agrippa detalha quatro tipos de furores ou êxtases, que distingue pela diversidade de suas origens: o primeiro procede das MUSAS (êxtase Musical), o segundo de DIONISO (Êxtase Místico), o terceiro de APOLO (Êxtase Sibilino), o quarto, enfim, de VÊNUS (Êxtase de Amor).

O primeiro furor, segundo o discípulo de Tritemo, imanta a inteligência, tornando-a divina e apta a atrair as influências superiores, pelas virtudes das coisas naturais(131). As musas nada mais são do que as almas das esferas celestes que dirigem hierarquicamente as qualidades atrativas das coisas materiais, com relação ao que se encontra no Alto. A Lua rege as plantas, as pedras e os metais; Mercúrio, aquilo que provém da natureza animal e principalmente o que se refere ao beber e ao comer; Vênus rege os perfumes, ungüentos, exalações e fumigações; o Sol preside à voz, às palavras, à música, à harmonia; Marte, às paixões veementes, às afecções da alma, ao ímpeto da imaginação; Júpiter governa o que se refere à razão; Saturno rege tudo o que se refere à inteligência e ao espírito puro – eis o que concerne às sete esferas dos planetas. Restam a oitava esfera (aquela das Estrelas Fixas), que exerce influência sobre a astrologia e seus instrumentos e a nona, enfim (aquela do Primeiro Móbil), que exerce sua influência sobre o que se refere à analogia e ao símbolo: números, figuras, pantáculos, efígies de divindades, etc. Tal é, segundo Agrippa, o governo cósmico das nove Musas, e suas correspondências…

O segundo furor, emanado de DIONISO, obtém-se pelas cerimônias exteriores do culto:
exorcismos, sacramentos, solenidades, práticas e pompas religiosas, etc. Sublimando a alma na região espiritual, que é a parte mais elevada, o Êxtase de Dioniso faz desta alma um templo purificado, digno de ser visitado pelos deuses. Desde então, os deuses vêm morar nele e o enchem de oráculos, numa efusão de alegria divina e de inefável sabedoria. Eles não se manifestam por sinais ou prognósticos, mas diretamente, acionando o espírito ou ainda, às vezes, por visões claras ou por vozes articuladas. Um exemplo, entre vários, é o demônio de Sócrates.

O terceiro furor provém de APOLO, que é o Espírito Universal, a alma inteligente do mundo. Se o furor de Dioniso é fundamentado por pompas exteriores do culto, o de Apolo obtém-se pelos mistérios sagrados, as adorações, as invocações, a virtude dos objetos consagrados e as práticas da Magia. É o Espírito de profecia que repentinamente desce sobre um mortal e o invade inteiramente. O mais ignorante, purificado sobre o todo poderoso amplexo de Deus, vaticina os oráculos da suprema sabedoria. Exemplo: os Sibilas.

O quarto juror, enviado por VÊNUS, o furor do amor, identifica a alma humana com a natureza divina e a assimila às potências empíreas. Deve-se ver aí a reintegração propriamente dita: um contato essencial, uma fusão temporária da alma humana transfigurada com a divindade transfigurante, que lhe infunde a Sabedoria em um abraço sublime, transpondo os limites do Entendimento. É por isso que Orfeu considerou o Amor cego como superior ao entendimento humano(132), acrescenta Agrippa.

Esses comentários distintivos são excelentes(133). Mas nada impede que o texto platônico tenha outra interpretação, uma vez que o sentido dos apotegmas é múltiplo em Magia, bem como o sentido dos próprios símbolos. Assim, o Êxtase enviado pelas Musas (inspiradoras das inteligências e reitoras das esferas) pode ser entendido igualmente como a iluminação espontânea, que favorece os homens de gênio: seja aguilhão fulgurante do pensamento, ou chama criadora da arte. Lá jaz o arcano de uma apoteose semiconsciente da natureza adâmica, ilustrada por intervalos, e depois obscurecida.

Traduziremos ainda Êxtase Musical no sentido estrito da palavra? Leitor de Zanoni, nós o podemos, em memória do papel preponderante(134) reservado por Bulwer Lytton ao pai da jovem, esse bizarro e genial maestro Pisani. Viola, nascida de um sonho, caminhará no sonho, protegida do mundo exterior por uma muralha de melodia. Silfos e Salamandras, de asas vibrantes e musicais, transparecem em rivalidade na atmosfera encantada engendrada pelos acordes do violino. É toda uma teurgia evocatória em volta do berço da criança; o milagroso ambiente torna-a predestinada a encontrar o mago, do qual ela se tornará a fatal delícia e o inocente flagelo. Podem-se ler, já, as fatalidades de sua vida futura, virtualmente incluída nas ondas sonoras do violino paterno.

Os músicos mais importantes de hoje sabem o que é a Música, concebida em sua essência e potencialidades? Eles vêem nela apenas uma arte divina, mas só uma arte. “Ora, o que fazia da Música uma ciência tão importante para os antigos era a faculdade que nela haviam reconhecido de poder facilmente servir de meio de passagem do físico ao intelectual; de forma que, como transportavam de uma natureza para outra as idéias que ela fornecia, acreditavam-se autorizados a atingir, por analogia, o Desconhecido partindo do conhecido. A Música então, era, entre suas mãos uma espécie de medida proporcional que eles aplicavam às essências espirituais” (Fabre d’Olivet, História Filosófica do Gênero Humano, 1, p. 264). Esta simples citação deve bastar. É suficiente para entrever a que nível a Música pode, sozinha, servir de base a uma categoria de iluminação celeste: aquela correspondente ao Êxtase Musical, cuja significação pode ser interpretada textualmente.
Marquês de Stanislas de Guaita

(fonte: Hermanubis; em Português do Brasil)

História do Martinismo – Jean Bricaud


História do Martinismo
Segundo Jean Bricaud Comentado por Constant Chevillon


De todas as Ordens da Maçonaria Iluminista que floresceram na França durante o século XVIII, nenhuma teve influência comparável àquela que entrou para a história sob o nome de Martinismo. O surgimento desta Organização coincidiu com a de um estranho personagem chamado Joachim Martinez Pasqually. Ainda hoje alguns afirmam que ele pertencia a uma raça oriental, enquanto outros dizem que Pasqually era um judeu Polaco. Na verdade, nada disso é verdade. Sua família veio de Alicante na Espanha, onde seu pai nasceu em 1671, de acordo com as credenciais maçônicas apresentadas por seu filho em 26 de Março de 1763 na Grande Loja da França. De acordo com o mesmo documento, Joachim Martinez Pasqually nasceu em Grenoble no ano de 1710. Além disso, em 1769 durante o curso de um processo legal contra Du Guers, atestou ser Católico. Portanto, não era Judeu.
Martinez Pasqually que também se intitulava Don Martinez de Pasqually, passou a vida ensinando nas Lojas, na forma de um rito maçónico elevado, um sistema religioso ao qual deu o nome de: Elus Cohens, ou Sacerdotes Eleitos (Cohen em hebraico significa Sacerdote). Apenas aqueles maçons do grau de Elus eram admitidos nos Elus Cohen. Martinez viajou, de maneira misteriosa, por várias partes da França, sobretudo pelo sul e sudoeste deste país. Costumava deixar uma cidade sem dizer para onde ia e chegar a um lugar sem revelar de onde vinha. Enquanto propagava sua doutrina, conseguia adeptos nas Lojas de Marseilles, Avignon, Montpellier, Narbonne, Foix e Touluse. Se estabelece finalmente em Bordeaux em 1762, onde se casou com a sobrinha de um antigo auxiliar do Regimento Foix.

Em Bourdeaux, Martinez ingressa na Loja La Française, que era a única, das quatro lojas simbólicas, activa na cidade, naquele tempo. Martinez se empenhou em reviver o entusiasmo dos maçons de Bordeaux e após assegurar a cooperação de vários deles, escreveu para a Grande Loja da França em 1763: “Instituí um templo em Bourdeaux à Glória do Grande Arquitecto, compreendendo as cinco ordens perfeitas que administro sob a constituição de Charles Stuart, Rei da Escócia, Irlanda e Inglaterra, Grão-Mestre de todas as lojas regulares espalhadas pela superfície da terra, e que estão hoje sob a protecção de George William, rei da Grã-Bretanha, e sob a Grande Loja intitulada “Elested and Scottish Perfection”. Na mesma época, dirigiu à Grande Loja uma cópia do certificado em Inglês. Pasqually dirigiu esta instituição na qualidade de Grão Mestre do Templo.
Após a troca de várias correspondências, a Grande Loja da França acabou emitindo um documento formal a Martinez, autorizando a constituição de sua Loja sob o nome de “Française Elue Ecossaise” nome registado na Grande Loja em 1º de Fevereiro de 1765. Neste mesmo ano partiu para Paris onde esteve em contacto com vários maçons eminentes incluindo os Irmãos Bacon de la Chevalerie, de Leisignan, de Loos, de Grainville, Willermoz e alguns outros a quem deu suas primeiras instruções. Com o auxílio destes irmãos fundou em 21 de Março de 1767 fundou o seu Sovereign Court (Supremo Conselho) de Paris, apontando Bacon de Chevalerie seu vice.
Em 1770 o Rito dos Elus Cohens contava com templos em Bordeaux, Montpellier, Avignon, Foix, Libourne, La Rochelle, Versailles, Metz e Paris. Outro templo estava prestes a se abrir em Lyon, graças aos esforços do Irmão Willermoz que viria a ser a figura mais activa e importante do rito de Martinez. O Rito dos Elus Cohens consistia de nove graus, divididos em três partes principais, como se segue:
1ª – Aprendiz, Companheiro, Mestre, Grão-Elu e Aprendiz Cohen.
2ª – Companheiro Cohen, Mestre Cohen, Grande Arquiteto, Cavaleiro Grão Comandador ou Grão-Elu de Zorobabel.
A terceira parte era secreta e reservada aos Réaux-Croix, uma espécie de elite dos Rosa-Cruzes.
Embora Martinez não tenha deixado um trabalho escrito completo referente aos seus ensinamentos, graças ao texto (incompleto) “Traité de la Réintegration des Etres” (Tratado da Reintegração dos Seres Criados), as informações sobre seus escritos e um estudo das reuniões de seus adeptos, é possível

Como muitos de seus contemporâneos que estavam alarmados com a materialidade dos filósofos, Martinez lutou a fim de resistir a esta tendência que prevalecia entre os intelectuais da época. Contra aqueles que defendiam o materialismo ele colocou uma vigorosa resistência na forma de uma idealização da vida, uma mudança de atitudes com relação à atracção dos apetites
físicos. Afirmava que em cada ser humano havia algo divino emborca adormecido e que era preciso reviver. Segundo Martinez esta centelha divina poderia ser inflamada a ponto de ser quase que inteiramente libertada do materialismo.
Sob tais condições o homem é capaz de adquirir poderes os quais lhe permitirão se “comunicar com seres invisíveis, chamados pela Igreja de Anjos e obter não apenas uma santidade pessoal, mas também a santidade de todos os discípulos de boa vontade”. Transformar o homem desta forma seria regenerá-lo e reintegrá-lo gradualmente em seu estado original; seria capacitá-lo a
atingir aquele estado perfeito que cada indivíduo e sociedade deveria buscar, já que o Iluminismo Martinista também incluía actividade social colectiva. Contudo, não é possível alcançar este estado de perfeição imediatamente. Muitas mentiras se acumularam durante séculos e muitos preconceitos pesaram sobre a humanidade. É necessário permitir que a Luz se espalhe pouco a pouco, de outra forma seria por demais ofuscante cegando a humanidade ao invés de iluminar o verdadeiro caminho. Por este motivo é que Martinez distribuiu seus ensinamentos em pequenas doses e por graus. Ele queria que os adeptos – aqueles chamados a adentrarem os mais profundos mistérios da iniciação – buscassem, de qualquer forma, a devoção ao estudo dos segredos da Natureza, das Ciências Ocultas, dos altos ramos da Química, Magia, Cabala e do Gnosticismo, a fim de, aos poucos, chegar aos graus do iluminismo e da perfeição. Esta doutrina atingiu um surpreendente sucesso e a Grande Loja da França, logo compreendeu que como resultado de todos os ritos místicos ocorreu uma grande adesão de membros e se fazia necessário preservar com muito cuidado o segredo de suas tarefas misteriosas.

Entre os discípulo de Martinez muitos ficaram famosos, entre eles estão o Barão d’Holbach autor de “Systéme de la Nature”; o Cabalista e Hebraísta Duchanteau, inventor do “Calendário Mágico”, que morreu após uma bizarra experiência alquímica, realizada na Loja “Amis Réunis” em Paris; Jacques Cazotte, o célebre autor de “O Diabo Amoroso”; Bacon de la Chevalerie; Willermoz, que desempenhou um importante papel na Maçonaria; e finalmente o “Filósofo Desconhecido”, Louis Claude de Saint-Martin.
Saint-Martin servia como tenente no Regimento Foix quando ouviu falar de Martinez de Pasqually e seu Rito dos Elus-Cohen. Após se retirar do exército, dirigiu-se a Bordeaux onde foi iniciado nos graus Cohens pelo irmão de Balzac. Trabalhou por três anos como secretário de Martinez tendo contato com os principais adeptos. Seus árduos estudos o fizeram atingir um notável progresso, rapidamente, levando-o a penetrar o profundo Iluminismo Martinista. Viajava frequentemente a Lyon, que veio a ser um influente centro do Rito. Em Lyon Saint-Martin fez um esboço do livro “Dos Erros e da Verdade”, que teve um grande impacto sobre as idéias maçônicas no final do século XVIII. Saint-Martin que era de natureza cortês, modelada por uma intensa atividade intelectual, se via perturbado e até alarmado pelas operações que envolviam a Magia, associadas aos ensinamentos de seu Mestre. Aos poucos ele se retirou das práticas ativas, dedicando-se ao Réaux-Croix, a fim de se devotar unicamente ao estudo do misticismo e espiritualismo. Dirigiu-se então a Paris, onde foi muito bem recebido pela alta sociedade. As mulheres, em particular, discutiam entre si imaginando quem teria o privilégio de sua companhia e muitas delas lhe pediram orientação espiritual. Saint-Martin se viu obrigado a formar uma espécie de grupo, puramente espiritualista que excluía cerimônias ritualísticas e operações envolvendo Magia. Sem romper com seus irmãos Cohens, seguiu, cada vez mais, o caminho do desenvolvimento de teorias filosóficas contidas no sistema de Martinez, as quais ensinava oralmente e através de seus escritos. Até a eclosão da Revolução Francesa, Saint-Martin se alternava entre as orientações a seus adeptos e viagens ao exterior onde estabeleceu contacto com os escritos de Jacob Boheme um “Iluminati”.

Saint-Martin estava bastante preocupado durante o Reino do Terror Francês em 1793. Contudo, alguns de seus antigos discípulos que chegaram ao poder, o protegeram e graças a eles ficou livre de ser interrogado diante de uma corte revolucionária. Morreu em 1803 deixando vários adeptos em diferentes países da Europa. Sempre surgem confusões referentes à descrição do “Martinista” como sendo discípulo de Martinez ou de Saint-Martin. Embora as teorias fossem as mesmas, havia uma grande diferença de pensamento entre as duas escolas. A escola de Martinez permaneceu com o formato de uma alta Maçonaria, enquanto a de Saint-Martin se remetia aos não iniciados rejeitando, portanto, as práticas e cerimônias as quais a primeira dava tanta importância.

Após a morte de Martinez (no Haiti) o influente mestre Caignet de Lestére, seu sucessor, se sentia incapaz de se devotar ativamente à Ordem; sisões ocorreram. Ele morreu em 1778 após transferir seus poderes ao grande mestre Sébastien de las Cases. Este não considerava necessário restaurar as relações interrompidas entre diferentes templos dos Elus-Cohen e reestabelecer a unidade dentro do Rito. Pouco a pouco as atividades do templo se paralizaram. Foi então que o presidente dos Elus-Cohens de Lyon, Jean Baptiste Willermoz, com o objetivo de preservar a Tradição Martinista, decidiu introduzi-la no Rito da Estrita Observância Templária, do qual era um dos respeitáveis presidentes. Este ato contou com o apoio do vice Grão- Mestre dos Elus-Cohens, Bacon de la Chevalerie.

Sabe-se que a Estrita Observância Templária da Alemanha enviou um grupo do seu movimento à França. Seu centro era em Lyon, na Loja “La Bienfaisance”. Sob a influência de Willermoz, a Estrita Observância Templária francesa dirigiu-se gradualmente rumo ao Martinismo.

Por ocasião da assembléia geral dos Franco-Maçons gauleses, organizada em Lyon por Willermoz em 1778, se temia que o ressurgimento da Ordem do Templo pudesse levantar suspeitas por parte da polícia; assim sendo foi decidido que a Estrita Observância substituiria os Templários franceses pelos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa (CBCS). Os Cavaleiros Benfeitores de Lyon liderados por Willermoz, consideravam a Estrita Observância uma escola preparatória, por onde os Eleitos eram introduzidos nos círculos internos do Martinismo. A Estrita Observância francesa decidiu conduzir o grupo mãe a um caminho que eles mesmos se comprometeram a seguir. Com esse objetivo Willermoz acrescentou dois graus secretos aos seis já existentes na Estrita Observância e em 1782 compareceu à assembléia geral dos Franco-Maçons em Wilhelmsbad, Alemanha, com a intenção de assegurar o sucesso de seu sistema. Willermoz teve o apoio de dois Irmãos, que eram os membros mais influentes da Franco-Maçonaria Templária, o Príncipe Ferdinando de Brunswick e o Príncipe Charles de Hesse. Contudo, os Iluminados Martinistas franceses se depararam com poderosos adversários, os Iluminados da Bavária. A assembléia de Wilhelmsbad veio a ser uma implacável e desesperadora luta entre Martinistas franceses e os Iluminados da
Alemanha, resultando no triunfo do Martinismo.

Willermoz foi capaz de apresentar seus planos de reforma e novos rituais à Assembléia. Mais que isso, conseguiu o título de Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, aceito por todos os Irmãos da Ordem Interna, como era na França. conseqüentemente, o ritual Escocês seguiria, em grande parte, o ritual de Lyon, no qual Willermoz havia inserido referências preparatórias para a Doutrina Martinista. Por fim, uma Comissão especial comandada por Willermoz foi incumbida com a tarefa de redigir rituais e instruções dos presidentes do Regime Interno, que incluíam, no seu ápice, os dois graus Martinistas secretos, praticados na Estrita Observância de Lyon.

Obs.: A Estrita Observância era uma Ordem Templária fundada na Alemanha por volta de 1754 e mais tarde espalhada pela França onde os Templários Franceses vieram a ter o nome de “Chevaliers Bienfaisants de la Cité Sainte” (CBCS), que é hoje o Rito Escocês Retificado. Seus graus eram:
1º Aprendiz,
2º Companheiro,
3º Mestre,
4º Mestre Escocês (Maitre Escossais),
5º Escudeiro Noviço(Ecuyer Novice),
6º C.B.C.S. (Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa), ao qual foi adicionado “Professo”, classe de dois graus:
7º Cavaleiro Professo(Chevalier-Profès)
8º Cavaleiro Grão-Professo(Grand-Profès).
As conferências destes dois graus secretos são aquelas dadas nesse volume. Os “Cavaleiros Benfeitores” ainda existem nos dias de hoje, mas os dois graus secretos introduzidos por Willermoz desapareceram, não estando presentes nos trabalhos atuais. A Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa não foi restaurada na França até 1806. Ela reivindicava imediata filiação com a Grande Loja com a qual a Estrita Observância já havia tido tratados anteriormente. Assim como os Martinistas Elus-Cohens eles não reassumiram suas tarefas oficialmente. Contudo, Bacon de la Chevalerie, vice Grão-Mestre dos Elus-Cohen para a região norte, tomou posse em 1808, por virtude de sua posição, no Grande Consistório dos Ritos da Grande Loja da França. Mesmo assim, apesar de suas insistentes solicitações, não conseguiu o reconhecimento da Ordem junto ao corpo da Grande Loja. Em uma carta data de de 5 de Agosto de 1808, endereçada ao Irmão Marquês de Chefdebien, lamentou a falta de atividade e “absoluto silêncio dos Elus-Cohen, atuando ainda com extrema reserva o cumprimento de ordens do Mestre Supremo”.

Na Suíça, o sistema Martinista dos Cavaleiros Benfeitores estava operando por intermédio da “Directoire de Bourgogne” que transmitiu seus poderes à Diretoria Suíça. Acredita-se que este ramo se tornou o atual Regime Escocês Retificado. Willermoz morreu em Lyon em 1824, transmitindo seus poderes e instruções Martinistas a seu sobrinho Joseph-Antoine Pont do Regime Escocês Retificado. Assim como os antigos membros da Ordem dos Elus-Cohen, eles continuaram a propagar as doutrinas de Martinez, tanto individualmente como em grupos secretos formados por nove pessoas chamadas de Areopagitas Cabalistas. Os ensinamentos ocultos de Martinez foram, portanto transmitidos no século XIX, de um lado pelos Elus-Cohens, dos quais um dos últimos representantes foi o influente Mestre Destigny que morreu em 1868; e por outro lado, por alguns Irmãos do Rito Escocês Retificado que preservaram as instruções secretas de Willermoz.

Finalmente, os discípulos de Saint-Martin espalharam a doutrina do Filósofo Desconhecido na França, Alemanha, Dinamarca e sobretudo na Rússia. Foi através de um deles, Henry Delaage, que em 1880, um jovem ocultista parisiense, Dr. Encause (Papus) tomou conhecimento da doutrina de Saint-Martin decidindo se tornar seu paladino. Com esse objetivo, fundou em 1884, com alguns de seus associados, uma Ordem mística que chamou de Ordem Martinista. Muitos Franco-Maçons que tinham interesse em assuntos místicos e ocultos se juntaram a esta Ordem.
Até aquele momento, o Dr. Encause não sabia que a transmissão da tradição Martinista dos Elus-Cohens nunca fora quebrada e nunca deixou de ter seus representantes, tanto em Lyon como em várias cidades do exterior (em Lyon os Irmãos Bergeron e Brébanalomon; na Dinamarca Carl Michelsen e no Estados Unidos, Dr.Edward Blitz). O Dr. Edward Blitz, Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa e pertencendo aos altos graus do Memphis-Misraim foi o sucessor direto de Willermoz e de Antoine Pont. Tornou-se presidente do Supremo Conselho da Ordem Martinista, para os Estados Unidos, retomado por Papus. Em 1901, na qualidade de herdeiro de Martinez, decidiu reestabelecer a Ordem nos Estados Unidos com base na antiga tradição. Seu representante na França, Dr. Fugairon e mais tarde Charles Détré (Téder) tinha carta branca para agir com tal objetivo. De fato, Téder em concordância com Papus, organizou um congresso de Ritos Maçônicos em Paris (1908) a fim de ligar a Ordem Martinista aos Altos Graus da Franco-Maçonaria.

Por fim, em 1914, após um acordo com o Grão-Mestre do Rito Escocês Retificado (Dr. De Rib…) ficou decidido criar um Grã Capítulo Martinista consistindo unicamente de altos graus maçônicos, que serviria de ligação entre o Martinismo e o movimento Escocês Retificado. Novos eventos provocados pela guerra, a morte do Grão-Mestre Papus (1916), e principalmente as mudanças promovidas pelo Grão-Mestre do Rito Escocês Retificado na França, impediram este plano de ser realizado. O sucessor de Papus, o Irmão Charles Détré (Téder) morreu em 1918, transferindo seus poderes ao Irmão Jean Bricaud de Lyon. Este, durante a reorganização do Martinismo após a guerra, restabeleceu a Ordem nos sólidos fundamentos da Franco-Maçonaria simbólica e fora decretado que somente aqueles maçons pertencentes ao grau de Mestre poderiam ingressar na Ordem Martinista.

Em 25 de Setembro de 1918, após a morte de Téder, o Irmão Jean Bricaud foi apontado Grão-Mestre da Ordem Martinista. Ele havia estado em contacto com Dr. Blitz por intermédio do Dr. Fugarion e do próprio Téder. Se comunicou com os últimos representantes do movimento de Willermoz em Lyon, Dr. L. e o Sr. C. em particular, colectando seus ensinamentos. Pertenceu portanto à linha tradicional dos discípulos de Martinez, dos quais Saint-Martin havia formalmente se desligado a fim de se refugiar no espiritualismo puro e oferecer aos adeptos, no mais absoluto ecletismo, livre acesso a todo caminho do misticismo. Além do mais, Papus, assim como Saint-Martin, solicitava àqueles fora da organização, uma única coisa: Boa Vontade! Teoricamente isso era muito bom, mas como o Iluminismo estava em questão, boa vontade muitas vezes significava mera curiosidade. Contudo, o problema da Reintegração não pode ser resolvido pela curiosidade ou por uma boa vontade comum.. Para alcançar tal objectivo é preciso que o discípulo tenha uma qualidade ternária, aquela do espírito, da alma e do corpo. É exactamente este discípulo que os ensinamentos dos Elus-Cohens atingiam, ensinamentos que sequenciavam aqueles da Estrita Observância e dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa.. Bricaud compreendeu isto desde o princípio, e portanto, trabalhou a fim de ligar o Martinismo de Papus aos discípulos do Gnosticismo.

Em 1911 Papus assinou um tratado sob o qual reconheceu a Igreja Gnóstica Universal como a Igreja oficial do Martinismo. Com isso, ele ligou a Ordem que reviveu à secular doutrina Ocidental da qual Martinez extraiu sua inspiração, no princípio. Este tratado, confirmado e ampliado por Téder em 1917, numa segunda versão, deu aos membros do Alto Sínodo Gnóstico o direito de ter representantes dentro do Supremo Conselho Martinista, com base na reciprocidade. Assim, a íntima união entre as duas organizações foi alcançada.

Após tomar posse como Grão-Mestre, Bricaud fez ainda mais. Reverteu-se completamente à concepção de Martinez e Willermoz, que já havia sido objecto de examinação desde a assembleia geral dos Franco-Maçons em 1908. Ele sobrepôs o Martinismo à Franco-Maçonaria e decretou que somente os maçons regulares de todos os ritos seriam aceites na Ordem, ou mais conclusivamente, em seus círculos internos. Para receber o primeiro grau Martinista era preciso ter sido Mestre Maçom e, para ser investido dos outros graus, era necessário possuir os Altos Graus (da Franco-Maçonaria) de acordo com uma meticulosa hierarquia estabelecida. O Martinismo deixou de ser incorporado à Franco-Maçonaria, como ocorria no tempo de Willermoz; com isto, o Martinismo manteve sua própria personalidade, ainda que baseada na Franco-Maçonaria e da obrigação de desenvolver as instruções recebidas nos graus fundamentais da Franco-Maçonaria tradicional.

A guerra havia enfraquecido e, às vezes, rompido os elos que havia, até então, unindo as diferentes comunidades Martinistas do velho e do novo mundo. As lojas ficaram adormecidas, os discípulos dispersos e já não representavam mais do que uma unidade moral. O primeiro passo tomado pelo Grão-Mestre Bricaud foi reestabelecer a cadeia. Ele reestabeleceu a unidade da Ordem na França no início de 1919.


Ordem Martinista de Paris (L`Ordre Martiniste de Paris)



Fundado em 1951 por Philippe Encausse (o filho de Papus). Ele havia reunido vários Martinistas livres da França e formou a uma ordem baseada da constituição original.

Phillipe Encausse sendo o Grande Mestre fundiu-se com a Federação das Ordens Martinistas, com A Ordem Martinista e Elus Cohen ( L`Ordre Martiniste e o Martinist Order do Elus Cohen de Robert Ambelain) e removeu a exigência da qualificação maçônica pela qual era determinada a pré-afiliação. Ele resignou como Grande Mestre em 1971, e teve como sucessor Irénée Séguret. Philippe Encausse retomou a direção em 1975 e resigna finalmente em 1979. O Irmão Emilio Lorenzo encabeça atualmente a Ordem. A linhagem é:

1. Papus (morreu 1916)
2. Charles Detré ( Teder, morreu em 1918)
3. Jean Bricaud (morreu em 1934)
4. Chevillon (morreu em1944)
5. Charles-Henry Dupont (morreu 1960)
6. Philippe Encausse (se aposentou em 1960)
7. Irenee Seruget (1971-74)
8. Emilio Lorenzo (1979)


A História do Martinismo segundo Jean Bricaud comentários doutrinais de Constant Chevillon


De todas as Ordens da Maçonaria Iluminista que floresceram na França durante o século XVIII, nenhuma teve influência comparável àquela que entrou para a história sob o nome de Martinismo. O surgimento desta Organização coincidiu com a de um estranho personagem chamado Joachim Martinez Pasqually. Ainda hoje alguns afirmam que ele pertencia a uma raça oriental, enquanto outros dizem que Pasqually era um judeu Polonês. Na verdade, nada disso é verdade. Sua família veio de Alicante na Espanha, onde seu pai nasceu em 1671, de acordo com as credenciais maçônicas apresentadas por seu filho em 26 de Março de 1763 na Grande Loja da França. De acordo com o mesmo documento, Joachim Martinez Pasqually nasceu em Grenoble no ano de 1710. Além disso, em 1769 durante o curso de um processo legal contra Du Guers, atestou ser Católico. Portanto, não era Judeu. 

Martinez Pasqually que também se intitulava Don Martinez de Pasqually, passou a vida ensinando nas Lojas, na forma de um rito maçônico elevado, um sistema religioso ao qual deu o nome de: Elus Cohens, ou Sacerdotes Eleitos (Cohen em hebraico significa Sacerdote). Apenas aqueles maçons do grau de Elus eram admitidos nos Elus Cohen. Martinez viajou, de maneira misteriosa, por várias partes da França, sobretudo pelo sul e sudoeste deste país. Costumava deixar uma cidade sem dizer para onde ia e chegar a um lugar sem revelar de onde vinha. Enquanto propagava sua doutrina, conseguia adeptos nas Lojas de Marseilles, Avignon, Montpellier, Narbonne, Foix e Touluse. Se estabelece finalmente em Bordeaux em 1762, onde se casou com a sobrinha de um antigo auxiliar do Regimento Foix.

Em Bourdeaux, Martinez ingressa na Loja La Française, que era a única, das quatro lojas simbólicas, ativa na cidade, naquele tempo. Martinez se empenhou em reviver o entusiasmo dos maçons de Bordeaux e após assegurar a cooperação de vários deles, escreveu para a Grande Loja da França em 1763: "Instituí um templo em Bourdeaux à Glória do Grande Arquiteto, compreendendo as cinco ordens perfeitas que administro sob a constituição de Charles Stuart, rei da Escócia, Irlanda e Inglaterra, Grão-Mestre de todas as lojas regulares espalhadas pela superfície da terra, e que estão hoje sob a proteção de George William, rei da Grã-Bretanha, e sob a Grande Loja intitulada "Elested and Scottish Perfection". Na mesma época, dirigiu à Grande Loja uma cópia do certificado em Inglês. Pasqually dirigiu esta instituição na qualidade de Grão Mestre do Templo.

Após a troca de várias correspondências, a Grande Loja da França acabou emitindo um documento formal a Martinez, autorizando a constituição de sua Loja sob o nome de "Française Elue Ecossaise" nome registrado na Grande Loja em 1º de Fevereiro de 1765. Neste mesmo ano partiu para Paris onde esteve em contato com vários maçons eminentes incluindo os Irmãos Bacon de la Chevalerie, de Leisignan, de Loos, de Grainville, Willermoz e alguns outros a quem deu suas primeiras instruções. Com o auxílio destes irmãos fundou em 21 de Março de 1767 fundou o seu Sovereign Court (Supremo Conselho) de Paris, apontando Bacon de Chevalerie seu vice.

Em 1770 o Rito dos Elus Cohens contava com templos em Bordeaux, Montpellier, Avignon, Foix, Libourne, La Rochelle, Versailles, Metz e Paris. Outro templo estava prestes a se abrir em Lyon, graças aos esforços do Irmão Willermoz que viria a ser a figura mais ativa e importante do rito de Martinez. O Rito dos Elus Cohens consistia de nove graus, divididos em três partes principais, como se segue: 
1ª - Aprendiz, Companheiro, Mestre, Grão-Elu e Aprendiz Cohen. 
2ª - Companheiro Cohen, Mestre Cohen, Grande Arquiteto, Cavaleiro Grão Comandador ou Grão-Elu de Zorobabel. 
A terceira parte era secreta e reservada aos Réaux-Croix, uma espécie de elite dos Rosa-Cruzes. 

Embora Martinez não tenha deixado um trabalho escrito completo referente aos seus ensinamentos, graças ao texto (incompleto) "Traité de la Réintegration des Etres" (Tratado da Reintegração dos Seres Criados), as informações sobre seus escritos e um estudo das reuniões de seus adeptos, é possível

Como muitos de seus contemporâneos que estavam alarmados com a materialidade dos filósofos, Martinez lutou a fim de resistir a esta tendência que prevalecia entre os intelectuais da época. Contra aqueles que defendiam o materialismo ele colocou uma vigorosa resistência na forma de uma idealização da vida, uma mudança de atitudes com relação à atração dos apetites 
físicos. Afirmava que em cada ser humano havia algo divino emborca adormecido e que era preciso reviver. Segundo Martinez esta centelha divina poderia ser inflamada a ponto de ser quase que inteiramente libertada do materialismo. 

Sob tais condições o homem é capaz de adquirir poderes os quais lhe permitirão se "comunicar com seres invisíveis, chamados pela Igreja de Anjos e obter não apenas uma santidade pessoal, mas também a santidade de todos os discípulos de boa vontade". Transformar o homem desta forma seria regenerá-lo e reintegrá-lo gradualmente em seu estado original; seria capacitá-lo a 
atingir aquele estado perfeito que cada indivíduo e sociedade deveria buscar, já que o Iluminismo Martinista também incluía atividade social coletiva. Contudo, não é possível alcançar este estado de perfeição imediatamente. Muitas mentiras se acumularam durante séculos e muitos preconceitos pesaram sobre a humanidade. É necessário permitir que a Luz se espalhe pouco a pouco, de outra forma seria por demais ofuscante cegando a humanidade ao invés de iluminar o verdadeiro caminho. Por este motivo é que Martinez distribuiu seus ensinamentos em pequenas doses e por graus. Ele queria que os adeptos - aqueles chamados a adentrarem os mais profundos mistérios da iniciação - buscassem, de qualquer forma, a devoção ao estudo dos segredos da Natureza, das Ciências Ocultas, dos altos ramos da Química, Magia, Cabala e do Gnosticismo, a fim de, aos poucos, chegar aos graus do iluminismo e da perfeição. Esta doutrina atingiu um surpreendente sucesso e a Grande Loja da França, logo compreendeu que como resultado de todos os ritos místicos ocorreu uma grande adesão de membros e se fazia necessário preservar com muito cuidado o segredo de suas tarefas misteriosas. 
Entre os discípulo de Martinez muitos ficaram famosos, entre eles estão o Barão d'Holbach autor de "Systéme de la Nature"; o Cabalista e Hebraísta Duchanteau, inventor do "Calendário Mágico", que morreu após uma bizarra experiência alquímica, realizada na Loja "Amis Réunis" em Paris; Jacques Cazotte, o célebre autor de "O Diabo Amoroso"; Bacon de la Chevalerie; Willermoz, que desempenhou um importante papel na Maçonaria; e finalmente o "Filósofo Desconhecido", Louis Claude de Saint-Martin. 

Saint-Martin servia como tenente no Regimento Foix quando ouviu falar de Martinez de Pasqually e seu Rito dos Elus-Cohen. Após se retirar do exército, dirigiu-se a Bordeaux onde foi iniciado nos graus Cohens pelo irmão de Balzac. Trabalhou por três anos como secretário de Martinez tendo contato com os principais adeptos. Seus árduos estudos o fizeram atingir um notável progresso, rapidamente, levando-o a penetrar o profundo Iluminismo Martinista. Viajava frequentemente a Lyon, que veio a ser um influente centro do Rito. Em Lyon Saint-Martin fez um esboço do livro "Dos Erros e da Verdade", que teve um grande impacto sobre as idéias maçônicas no final do século XVIII. Saint-Martin que era de natureza cortês, modelada por uma intensa atividade intelectual, se via perturbado e até alarmado pelas operações que envolviam a Magia, associadas aos ensinamentos de seu Mestre. Aos poucos ele se retirou das práticas ativas, dedicando-se ao Réaux-Croix, a fim de se devotar unicamente ao estudo do misticismo e espiritualismo. Dirigiu-se então a Paris, onde foi muito bem recebido pela alta sociedade. As mulheres, em particular, discutiam entre si imaginando quem teria o privilégio de sua companhia e muitas delas lhe pediram orientação espiritual. Saint-Martin se viu obrigado a formar uma espécie de grupo, puramente espiritualista que excluía cerimônias ritualísticas e operações envolvendo Magia. Sem romper com seus irmãos Cohens, seguiu, cada vez mais, o caminho do desenvolvimento de teorias filosóficas contidas no sistema de Martinez, as quais ensinava oralmente e através de seus escritos. Até a eclosão da Revolução Francesa, Saint-Martin se alternava entre as orientações a seus adeptos e viagens ao exterior onde estabeleceu contato com os escritos de Jacob Boheme um "Iluminato" 

Saint-Martin estava bastante preocupado durante o Reino do Terror Francês em 1793. Contudo, alguns de seus antigos discípulos que chegaram ao poder, o protegeram e graças a eles ficou livre de ser interrogado diante de uma corte revolucionária. Morreu em 1803 deixando vários adeptos em diferentes países da Europa. Sempre surgem confusões referentes à descrição do "Martinista" como sendo discípulo de Martinez ou de Saint-Martin. Embora as teorias fossem as mesmas, havia uma grande diferença de pensamento entre as duas escolas. A escola de Martinez permaneceu com o formato de uma alta Maçonaria, enquanto a de Saint-Martin se remetia aos não iniciados rejeitando, portanto, as práticas e cerimônias as quais a primeira dava tanta importância. 

Após a morte de Martinez (no Haiti) o influente mestre Caignet de Lestére, seu sucessor, se sentia incapaz de se devotar ativamente à Ordem; sisões ocorreram. Ele morreu em 1778 após transferir seus poderes ao grande mestre Sébastien de las Cases. Este não considerava necessário restaurar as relações interrompidas entre diferentes templos dos Elus-Cohen e reestabelecer a unidade dentro do Rito. Pouco a pouco as atividades do templo se paralizaram. Foi então que o presidente dos Elus-Cohens de Lyon, Jean Baptiste Willermoz, com o objetivo de preservar a Tradição Martinista, decidiu introduzi-la no Rito da Estrita Observância Templária, do qual era um dos respeitáveis presidentes. Este ato contou com o apoio do vice Grão- Mestre dos Elus-Cohens, Bacon de la Chevalerie. 

Sabe-se que a Estrita Observância Templária da Alemanha enviou um grupo do seu movimento à França. Seu centro era em Lyon, na Loja "La Bienfaisance". Sob a influência de Willermoz, a Estrita Observância Templária francesa dirigiu-se gradualmente rumo ao Martinismo. 

Por ocasião da assembléia geral dos Franco-Maçons gauleses, organizada em Lyon por Willermoz em 1778, se temia que o ressurgimento da Ordem do Templo pudesse levantar suspeitas por parte da polícia; assim sendo foi decidido que a Estrita Observância substituiria os Templários franceses pelos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa (CBCS). Os Cavaleiros Benfeitores de Lyon liderados por Willermoz, consideravam a Estrita Observância uma escola preparatória, por onde os Eleitos eram introduzidos nos círculos internos do Martinismo. A Estrita Observância francesa decidiu conduzir o grupo mãe a um caminho que eles mesmos se comprometeram a seguir. Com esse objetivo Willermoz acrescentou dois graus secretos aos seis já existentes na Estrita Observância e em 1782 compareceu à assembléia geral dos Franco-Maçons em Wilhelmsbad, Alemanha, com a intenção de assegurar o sucesso de seu sistema. Willermoz teve o apoio de dois Irmãos, que eram os membros mais influentes da Franco-Maçonaria Templária, o Príncipe Ferdinando de Brunswick e o Príncipe Charles de Hesse. Contudo, os Iluminados Martinistas franceses se depararam com poderosos adversários, os Iluminados da Bavária. A assembléia de Wilhelmsbad veio a ser uma implacável e desesperadora luta entre Martinistas franceses e os Iluminados da 
Alemanha, resultando no triunfo do Martinismo. 

Willermoz foi capaz de apresentar seus planos de reforma e novos rituais à Assembléia. Mais que isso, conseguiu o título de Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, aceito por todos os Irmãos da Ordem Interna, como era na França. conseqüentemente, o ritual Escocês seguiria, em grande parte, o ritual de Lyon, no qual Willermoz havia inserido referências preparatórias para a Doutrina Martinista. Por fim, uma Comissão especial comandada por Willermoz foi incumbida com a tarefa de redigir rituais e instruções dos presidentes do Regime Interno, que incluíam, no seu ápice, os dois graus Martinistas secretos, praticados na Estrita Observância de Lyon. Obs.: A Estrita Observância era uma Ordem Templária fundada na Alemanha por volta de 1754 e mais tarde espalhada pela França onde os Templários Franceses vieram a ter o nome de "Chevaliers Bienfaisants de la Cité Sainte" (CBCS), que é hoje o Rito Escocês Retificado. Seus graus eram: 

1º Aprendiz, 
2º Companheiro, 
3º Mestre, 
4º Mestre Escocês (Maitre Escossais), 
5º Escudeiro Noviço(Ecuyer Novice), 
6º C.B.C.S. (Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa), ao qual foi adicionado "Professo", classe de dois graus: 
7º Cavaleiro Professo(Chevalier-Profès) 
8º Cavaleiro Grão-Professo(Grand-Profès). 

As conferências destes dois graus secretos são aquelas dadas nesse volume. Os "Cavaleiros Benfeitores" ainda existem nos dias de hoje, mas os dois graus secretos introduzidos por Willermoz desapareceram, não estando presentes nos trabalhos atuais. A Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa não foi restaurada na França até 1806. Ela reivindicava imediata filiação com a Grande Loja com a qual a Estrita Observância já havia tido tratados anteriormente. Assim como os Martinistas Elus-Cohens eles não reassumiram suas tarefas oficialmente. Contudo, Bacon de la Chevalerie, vice Grão-Mestre dos Elus-Cohen para a região norte, tomou posse em 1808, por virtude de sua posição, no Grande Consistório dos Ritos da Grande Loja da França. Mesmo assim, apesar de suas insistentes solicitações, não conseguiu o reconhecimento da Ordem junto ao corpo da Grande Loja. Em uma carta data de de 5 de Agosto de 1808, endereçada ao Irmão Marquês de Chefdebien, lamentou a falta de atividade e "absoluto silêncio dos Elus-Cohen, atuando ainda com extrema reserva o cumprimento de ordens do Mestre Supremo". 

Na Suíça, o sistema Martinista dos Cavaleiros Benfeitores estava operando por intermédio da "Directoire de Bourgogne" que transmitiu seus poderes à Diretoria Suíça. Acredita-se que este ramo se tornou o atual Regime Escocês Retificado. Willermoz morreu em Lyon em 1824, transmitindo seus poderes e instruções Martinistas a seu sobrinho Joseph-Antoine Pont do Regime Escocês Retificado. Assim como os antigos membros da Ordem dos Elus-Cohen, eles continuaram a propagar as doutrinas de Martinez, tanto individualmente como em grupos secretos formados por nove pessoas chamadas de Areopagitas Cabalistas. Os ensinamentos ocultos de Martinez foram, portanto transmitidos no século XIX, de um lado pelos Elus-Cohens, dos quais um dos últimos representantes foi o influente Mestre Destigny que morreu em 1868; e por outro lado, por alguns Irmãos do Rito Escocês Retificado que preservaram as instruções secretas de Willermoz. Finalmente, os discípulos de Saint-Martin espalharam a doutrina do Filósofo Desconhecido na França, Alemanha, Dinamarca e sobretudo na Rússia. Foi através de um deles, Henry Delaage, que em 1880, um jovem ocultista parisiense, Dr. Encause (Papus) tomou conhecimento da doutrina de Saint-Martin decidindo se tornar seu paladino. Com esse objetivo, fundou em 1884, com alguns de seus associados, uma Ordem mística que chamou de Ordem Martinista. Muitos Franco-Maçons que tinham interesse em assuntos místicos e ocultos se juntaram a esta Ordem. 

Até aquele momento, o Dr. Encause não sabia que a transmissão da tradição Martinista dos Elus-Cohens nunca fora quebrada e nunca deixou de ter seus representantes, tanto em Lyon como em várias cidades do exterior (em Lyon os Irmãos Bergeron e Brébanalomon; na Dinamarca Carl Michelsen e no Estados Unidos, Dr.Edward Blitz). O Dr. Edward Blitz, Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa e pertencendo aos altos graus do Memphis-Misraim foi o sucessor direto de Willermoz e de Antoine Pont. Tornou-se presidente do Supremo Conselho da Ordem Martinista, para os Estados Unidos, retomado por Papus. Em 1901, na qualidade de herdeiro de Martinez, decidiu reestabelecer a Ordem nos Estados Unidos com base na antiga tradição. Seu representante na França, Dr. Fugairon e mais tarde Charles Détré (Téder) tinha carta branca para agir com tal objetivo. De fato, Téder em concordância com Papus, organizou um congresso de Ritos Maçônicos em Paris (1908) a fim de ligar a Ordem Martinista aos Altos Graus da Franco-Maçonaria. 

Por fim, em 1914, após um acordo com o Grão-Mestre do Rito Escocês Retificado (Dr. De Rib...) ficou decidido criar um Grã Capítulo Martinista consistindo unicamente de altos graus maçônicos, que serviria de ligação entre o Martinismo e o movimento Escocês Retificado. Novos eventos provocados pela guerra, a morte do Grão-Mestre Papus (1916), e principalmente as mudanças promovidas pelo Grão-Mestre do Rito Escocês Retificado na França, impediram este plano de ser realizado. O sucessor de Papus, o Irmão Charles Détré (Téder) morreu em 1918, transferindo seus poderes ao Irmão Jean Bricaud de Lyon. Este, durante a reorganização do Martinismo após a guerra, restabeleceu a Ordem nos sólidos fundamentos da Franco-Maçonaria simbólica e fora decretado que somente aqueles maçons pertencentes ao grau de Mestre poderiam ingressar na Ordem Martinista. 

Em 25 de Setembro de 1918, após a morte de Téder, o Irmão Jean Bricaud foi apontado Grão-Mestre da Ordem Martinista. Ele havia estado em contato com Dr. Blitz por intermédio do Dr. Fugarion e do próprio Téder. Se comunicou com os últimos representantes do movimento de Willermoz em Lyon, Dr. L. e o Sr. C. em particular, coletando seus ensinamentos. Pertenceu portanto à linha tradicional dos discípulos de Martinez, dos quais Saint-Martin havia formalmente se desligado a fim de se refugiar no espiritualismo puro e oferecer aos adeptos, no mais absoluto ecletismo, livre acesso a todo caminho do misticismo. Além do mais, Papus, assim como Saint-Martin, solicitava àqueles fora da organização, uma única coisa: Boa Vontade! Teoricamente isso era muito bom, mas como o Iluminismo estava em questão, boa vontade muitas vezes significava mera curiosidade. Contudo, o problema da Reintegração não pode ser resolvido pela curiosidade ou por uma boa vontade comum.. Para alcançar tal objetivo é preciso que o discípulo tenha uma qualidade ternária, aquela do espírito, da alma e do corpo. É exatamente este discípulo que os ensinamentos dos Elus-Cohens atingiam, ensinamentos que sequenciavam aqueles da Estrita Observância e dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa.. Bricaud compreendeu isto desde o princípio, e portanto, trabalhou a fim de ligar o Martinismo de Papus aos discípulos do Gnosticismo. 

Em 1911 Papus assinou um tratado sob o qual reconheceu a Igreja Gnóstica Universal como a Igreja oficial do Martinismo. Com isso, ele ligou a Ordem que reviveu à secular doutrina Ocidental da qual Martinez extraiu sua inspiração, no princípio. Este tratado, confirmado e ampliado por Téder em 1917, numa segunda versão, deu aos membros do Alto Sínodo Gnóstico o direito de ter representantes dentro do Supremo Conselho Martinista, com base na reciprocidade. Assim, a íntima união entre as duas organizações foi alcançada.

Após tomar posse como Grão-Mestre, Bricaud fez ainda mais. Reverteu-se completamente à concepção de Martinez e Willermoz, que já havia sido objeto de examinação desde a assembléia geral dos Franco-Maçons em 1908. Ele sobrepôs o Martinismo à Franco-Maçonaria e decretou que so-mente os maçons regulares de todos os ritos seriam aceitos na Ordem, ou mais conclusivamente, em seus círculos internos. Para receber o primeiro grau Martinista era preciso ter sido Mestre Maçom e, para ser investido dos outros graus, era necessário possuir os Altos Graus (da Franco-Maçonaria) de acordo com uma meticulosa hierarquia estabelecida. O Martinismo deixou de ser incorporado à Franco-Maçonaria, como ocorria no tempo de Willermoz; com isto, o Martinismo manteve sua própria personalidade, ainda que baseada na Franco-Maçonaria e da obrigação de desenvolver as instruções recebidas nos graus fundamentais da Franco-Maçonaria tradicional. 
A guerra havia enfraquecido e, às vezes, rompido os elos que havia, até então, unindo as diferentes comunidades Martinistas do velho e do novo mundo. As lojas ficaram adormecidas, os discípulos dispersos e já não representavam mais do que uma unidade moral. O primeiro passo tomado pelo Grão-Mestre Bricaud foi reestabelecer a cadeia. Ele reestabeleceu a unidade da Ordem na França no início de 1919. 

Cristologia Gnóstica



A Cristologia Gnóstica diz que o Sol visível é o mediador do Sol Central ou Sol Oculto. E o Crestos Cósmico é o meio astral que liga o homem ao Pai Solar. A força de Cristo pode manifesta-se de diferentes modos, seja como Baphomet, Abraxas ou Thelema, porém, todas derivadas da força espiritual da Luz do Sol Oculto. Podemos inferir, assim, que Thelema é Cristo. Ou que a Vontade do Crestos é Thelema.

Como símbolo, Cristo se liga aos deuses solares, Mitra, Abraxas e Dionísio. Mas também é um fato histórico, na pessoa de Jesus. O corpo de Jesus de Nazaré foi utilizado para que a entidade divina do Cristo, no momento do batismo, pudesse tomar a forma que lhe era necessária para, daí em diante, estar em comunhão com as almas humanas. Os acontecimentos na Palestina foram necessários para o nascimento da vida terrena do Cristo que aconteceu a partir do Mistério do Gólgota, esse acontecimento é denominado por Rudolf Steiner (1861-1925) de “Impulso do Cristo”.

Para os Gnósticos há uma diferença sensível entre os as personalidades de Buda, Zoroastro, Confucio, Maomé e a divindade do Cristo. Os primeiros foram certamente grandes filósofos e grandes Iniciados a quem lhes foi dada a incumbência de a pregar e instalar uma região em sua época. No entanto, Cristo tem uma personalidade diferente. Ele é Deus, é o Logos Solar ou a Essência Solar, a força do Espírito que está fundida no Sol. 

O Dr. Krumm-Heller diz que a Força Cristônica de Jesus, se propagou pelo mundo (Impulso do Cristo) e transformou seu ambiente, perpetuando-se até nossos dias. Para vida terrestre, o Sol possui grande importância para nosso planeta, por sua vez, o Sol físico depende de outro Sol espiritual. O Sol espiritual é algo prático e real, como também é o Logos. Cristo é a Luz do Sol física e espiritual.

O Dr. Krumm-Heller reúne na figura do Cristo uma força consciencial e uma substância material. Isso pode parecer estranho, mas nas próprias palavras do Dr. Krumm-Heller, a realidade é formada pelo trio de matéria, energia (força) e consciência. Deste modo, o Crestos Cósmico é uma substância, uma força, uma consciência atuante. Os gnósticos aprendem a manejar Crestos e sua força mediadora.

CRISTO EM SUBSTÂNCIA

O Dr. Krumm-Heller associa Cristo a outros conceitos, o que pode causar uma certa confusão, mas ele mesmo, didaticamente divide essa força em duas: o Cristo Real ou Substancial e o Cristo Ético ou Consciencial. Em sua oração ao Logos Solar, ele invoca essas forças da seguinte maneira:

“Tu, Logos Solar, emanação ígnea, Cristo em substância e em consciência, vida potente pela qual tudo avança, vem até mim e penetra-me, banha-me, transpassa-me e desperta em meu SER todas essas substâncias inefáveis que tanto são parte de ti como de mim mesmo.”

Primeiro, vamos entender o que seria o Cristo Substancial e como ele se relaciona com a Thelema. Como já dito sobre a Cristologia Gnóstica, Cristo é uma substância material, na qual possui Vontade. Essa Vontade atuante na Luz é chamada de Thelema, conceito muito similar da Telesma apresentado por Hermes Trimegisto na Tábua Esmeralda:

(1) É verdade, certo e muito verdadeiro:

(2) O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.

(3) E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.

(4) O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua alma;

(5) O Pai de toda Telesma (Thelema) do mundo está nisto.

(6) Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.

(7) Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.

(8) Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores.

(9) Desse modo obterás a glória do mundo.

(10) E se afastarão de ti todas as trevas.

(11) Nisso consiste o poder poderoso de todo poder: Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.

(12) Assim o mundo foi criado.

(13) Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.

(14) Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegisto, pois possuo as três partes da filosofia universal.

(15) O que eu disse da Obra Solar foi cumprido.

Recorremos ao Dr. Gerald Encausse (1865-1916) – Papus – que cita Eliphas Levi (1810-1875) para explicar que Telesma é um agente universal, um fluído e uma força que permeia a tudo e a todos. Uma Thelema substancial que pode ser manejada e modificada. Ele escreve:

“Esse agente universal das obras da natureza é o OD dos hebreus e de Reichembach, é a luz astral dos martinistas. A existência e o uso possível dessa força constituem o grande arcano da magia prática. (...) Essa substância é a que Hermes Trimegisto chama “o grande Telesma”. Quando ela produz seu esplendor, ela se chama luz. (...) O grande agente mágico se manifesta por quatro tipos de fenômenos: calor, luz, eletricidade e magnetismo. O grande agente mágico é a quarta emanação da vida princípio, da qual o Sol é a terceira forma. (...) Quando a luz universal forma os metais, ela é chamada de azoto, quando dá vida aos animais é chamada magnetismo”.

No texto, Levi traz outros nomes para essa substância: Luz Astral e Força Odica. Como ele, associamos essa força com outras diversas substâncias espirituais, cada uma com um nome cultural próprio: Prana para os hindu, Ki para os japoneses, Chi para os chineses ou, como denominam os espíritas, Fluído Vital.

As Doutrinas Vitalistas ensinam que a força vital permeia os seres orgânicos e dá vida a eles. Essa força vital interpenetra e nutre todas as coisas do universo. Antes de ser absorvida pelos seres orgânicos é chamada de Energia Cósmica ou, nas palavras de Hermes, Telesma. Esse agente universal, como é dito no texto, pode ser manipulado. Como dito por Levi, o Magnetismo Animal é a faculdade de transformar o fluído cósmico em fluído magnético ou fluído vital. É também chamado de Mesmerismo, por conta de Franz Anton Mesmer (1734-1815) um dos primeiros a teorizar sobre o estudo do magnetismo. Nesse ponto, Telesma acaba por se tornar o fluído universal.

O Dr. Krumm-Heller também fala do Vitalismo. Ele diz que o Prana é uma força modeladora do Universo, que brota do Sol. Escreve que: “Prana é movimento, vibração, sensação de peso, luz, calor, eletricidade, magnetismo etc., especialmente em sua forma primordial. Prana é a vida do éter (...) Sem Prana não poderia haver nada vivo na Natureza”. Ao que parece, a explicação sobre o Prana é muito similar ao que Eliphas Levi fala sobre a Telesma e, por conseguinte, o Crestos Solar.

Então, Thelema na visão rosacruciana, do Dr. Krumm-Heller, inicialmente, é afastado o princípio filosófico da Thelema descrito por Crowley e se aproxima de uma explicação realista da formação do universo e da vida, como uma força que pode ser manipulada magicamente.

CRISTO EM CONSCIÊNCIA

Seguindo a linha de pensamento, na qual o Dr. Krumm-Heller entendia Cristo e Thelema como forças impessoais, inferimos, então que a Força Consciencial Cristônica também é impessoal. Podemos entender melhor esse conceito Vontade Universal lendo um trecho da obra “Uma Aventura entre os Rosacruzes”, de Franz Hartmann:

“- Tudo não passa de efeito deste poder primordial, único, chamado Vontade, pelo qual o mundo veio à existência - disse o Imperator dos Rosa-cruzes de Ouro. - Ela pode manifestar-se de muitos modos e nos sete distintos planos de atuação como força mecânica ou como influxo espiritual; porém, é simplesmente o mesmo poder divino e único da Vontade, movida pelo harmonioso conjunto instrumental do organismo humano, dirigido pela inteligência.

- Então, disse eu - intentar fortalecer a Vontade deve ser o fator mais imediato e necessário?

- Não - respondeu Imperator. - A Vontade é uma força universal que sustém entre si os mundos no espaço e causa as revoluções planetárias; existe em toda parte e a tudo penetra, não havendo necessidade de fortificá-la, porque ela é suficientemente poderosa para conseguir o que deseja. Vós não sois mais do que um instrumento, por meio do qual esta força universal pode agir e manifestar-se; podeis experimentar a plenitude do seu poderio se não tratardes de oferecer-lhe resistência. Porém, se imaginais possuir uma vontade vossa, na qual a ação difere da Vontade Universal, na realidade, não fazeis outra coisa do que subtrair dela um fragmento insignificante, opondo-a à grande força original. Se vós imaginais de posse de um vontade exclusiva e própria, no mesmo instante entrais em conflito com a potência energética do universo e sendo, como sois, uma partícula insignificante dele, sereis aniquilado, causando vossa própria ruína. Vossa vontade não pode usar o seu poderio senão quando se harmoniza com a vontade do Espirito Universal; ela será tanto mais forte, quanto menos a empregardes em benefício próprio e por isso deveis permanecer sempre obediente à lei. (...) Porém é lícito submeter a razão e a inteligência ao serviço e guia da força voluntária universal, já existente na Natureza para conduzi-la; assim podemos acelerar o ritmo da vida inconsciente de mais lento movimento, sem nosso auxílio ou intervenção”.

A Vontade apresentada por Hartmann não é a Vontade individual, apesar de atuar no individuo, é um princípio universal, análogo a Divina Providência. Como expresso por Paulo de Tarso: "Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20). Desta forma, podemos entender a Vontade como uma Força Impessoal, como é invocada na Missa Gnóstica do Mestre Huiracocha: “Vem, Santo Querer, Divina Energia Volitiva. Transforma a minha vontade fazendo-a una com a Tua”.

Assim, para o Dr. Krumm-Heller, Thelema é a Vontade Divina Universal, na qual atua sobre toda existência. Como escrito por ele mesmo, Thelema é a Vontade atuante na Luz. E a Luz é o Cristo. A Vontade provém do Crestos Cósmico, a fonte universal que todos podem beber. A diferença entre Crowley e o Dr. Krumm-Heller é a origem dessa Vontade.

Para Crowley, a Thelema brota no próprio homem, “Todo homem e toda mulher é uma estrela” (AL I:3). Frater Achad escreveu o ensaio Passando do Velho ao Novo Aeon , no qual explica que a partir do momento em que o homem passar a se identificar com o Sol, ele passará a ser um Deus, pois será a fonte de luz:

“Você sabe o quão profundamente nós sempre ficamos impressionados com as ideias de Sol nascente e Sol poente, e como os nossos antigos irmãos, vendo o Sol desaparecer à noite e nascendo novamente na manhã seguinte, basearam as suas ideias religiosas neste conceito de um Deus Moribundo e Ressuscitado. Essa á a ideia central da religião do Velho Æon (...). O Sol não morre, como acreditavam os antigos; ele está sempre brilhando, sempre irradiando Luz e Vida. Pare por um momento e tenha uma clara concepção deste Sol, como Ele está brilhando já cedo pela manhã, brilhando ao meio-dia, brilhando à tarde e brilhando à noite. Você percebeu esta ideia claramente em sua mente? Você acabou de sair do Velho Æon e entrar no Novo.

Agora consideremos o que aconteceu. O que você fez para obter essa imagem mental do Sol sempre brilhante? Você se identificou com o Sol. Você saiu da consciência deste planeta; e por um momento você teve que se considerar um Ser Solar”.

No novo Aeon de Hórus, a era thelêmica, da criança conquistadora, todo homem e toda mulher passam a ser deuses, co-criadores do Universo.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

ESTUDO OCULTISTA SOBRE O EVANGELHO DE JOÃO CAPÍTULO 1



1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

2 Ele estava no princípio com Deus.

3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

4 Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;

5 a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.

6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.

7 Este veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos cressem por meio dele.

8 Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.

9 Pois a verdadeira há consentido no conselho e nos atos dos chegando ao mundo.

10 Estava ele no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu.

Comentário: a Palavra (Logos) é a espada de Cristo, por onde as coisas surgiram em emanação primeira. Assim todo o átomo e mesmo desde a mônada, houve a penetração dessa vitalidade. Esse Logos é um Espírito, que é o Cristo Cósmico e Místico, e encarna através da Virgem (a matéria), assim que vem como Espírito Santo. Ademais, o Logos-Solar ou Cristo-Solar se encarna na constelação de Virgem, e por isso a criança é para ser degolada por Herodes (o Logos ser degolado pela matéria). O Logos é assim crucificado na cruz da matéria, ou seja, nos quatro elementos. Também é ao mesmo tempo o homem celeste, o Novo Adão, que está crucificado no Universo. Já tratamos dele como as esferas da Árvore da Vida, e assim guarda as emanações de Deus, do Altíssimo, Grande Rosto. Essa encarnação não pode ser conhecida sem a iluminação, segundo Jacob Böehme, não bastando mero estudo das Escrituras. É o Homem-Deus, como se referem os Martinistas. A árvore é Cristo e o ramo é Jesus. Volta à lição de Angelus Silésius. Essa palavra também nos leva ao mundo da Imagem Verdadeira, ao paraíso, segundo Taniguchi. Pelo Logos solar que as coisas foram feitas e existem, e do Sol (Universal) que veem e para onde retornam. Aqui se incluem a Criação dos anjos e hierarquias celestes, pois o Adão antes da queda possuía a “vestidura de luz”, era um com Cristo, e assim ordenava e dominava os animais (seres viventes, aves do céu, anjos, hayot etc). O Novo Adão ou Cristo é o Salvador, que livra da escravidão do materialismo e ego (Diabo). Deus tornou-se homem para restaurá-lo, segundo Böehme. E os anjos caídos e Lúcifer teriam um papel de fogo, sendo tal fogo uma relação com a serpente astral, luz astral inferior. A falta de castidade levando a se perder na nona esfera da árvore da vida, encontrando assim a árvore da morte, demoníaca. A queda é uma queda dimensional, e o Verbo lembra que as coisas foram feitas perfeitas. O testemunho da luz é de Cristo, de sua vestidura de luz, aquele “corpo glorioso” a que ainda teremos. Como já falei em livro “Bíblia e Misticismo”, o Verbo é muito um som, um mantra primordial. E cada Era ou Aeon tem sua “Palavra”.

11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.

12 Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus;

13 os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.

14 E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.

15 João deu testemunho dele, e clamou, dizendo: Este é aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim, passou adiante de mim; porque antes de mim ele já existia.

16 Pois todos nós recebemos da sua plenitude, e graça sobre graça.

Comentário: o nome é Yeheshua, que é uma referência ao nome divino de Jesus. É o nome de Deus, o tetragrama, adicionado da letra Shim, que significa a descida do Espírito Santo. João é a porta estreita, é um dos messias, dos dois a que a tradição dos essênios e as messiânicas já esperavam. Uma porta triangular para a iniciação. João é ao mesmo tempo o passado e o futuro, e assim também um João escreveu o livro do Apocalipse ou Revelação. Um dos dois messias teve sua vida mais exposta, e entre eles trocavam ensinamentos e acabou o Verbo se fazendo carne, na forma de Cristo Interno, naquele batismo de fogo. A pessoa de João fez o batismo de água, que era a iniciação. João é também o João interno, segundo Pistis Sophia, e assim é a reencarnação do Elias. João sendo o precursor, aquele que prepara o caminho do Cristo Íntimo, segundo Samael Aun Weor. O iniciado desce assim ao inferno, semelhante a o que fez o Cristo, antes de encontrar o Reino. Sobre o Verbo se fazer carne, disse Böehme: “Quando o Verbo se colocou em movimento para a revelação da vida, ele se revelou na essencialidade divina, na água da vida eterna; ele a penetrou e se tornou súlfur, ou seja, carne e sangue; produziu a tintura celestial, que envolve e preenche a Divindade, onde a sabedoria de Deus permanece eternamente com a magia divina. Compreenda corretamente: A Divindade desejou tornar-se carne e sangue; embora o puro e imaculado Deus permanece espírito, tornou-se o espírito e a vida da carne, operando na carne; assim, quando penetramos, através de nosso desejo, em Deus, nos doando totalmente a ele, podemos dizer que penetramos a carne e sangue de Deus, vivemos em Deus, pois o Verbo se fez homem e Deus é o Verbo” (A Encarnação de Jesus Cristo). Portanto, necessária se faça a “reintegração” a Cristo, que esteve também no ramo do adepto Jesus, para nos mostrar o caminho e revelar a verdade. Carne não significa apenas o corpo, mas a dimensão da matéria como um todo.

17 Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.

18 Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer.

19 E este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu?

20 Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: Eu não sou o Cristo.

21 Ao que lhe perguntaram: Pois que? És tu Elias? Respondeu ele: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não.

22 Disseram-lhe, pois: Quem és? para podermos dar resposta aos que nos enviaram; que dizes de ti mesmo?

23 Respondeu ele: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.

Comentário: Não se pode ver a Face senão através de seu anjo, Metraton, que em muito se identifica com o Cristo. Esse é o Grande Rosto, onde está o Pai, o Ancião dos Dias, e que está acessível através da esfera da árvore da vida de tipharet, ou Cristo. O Cristo que existe em cada um de nós pode por fim revelar o Pai, e esse encarna, ressuscita e sobe ao céu. Perguntar pelo seu paradeiro é uma forma profana de reagir, uma vez que renascemos em Cristo. Não se trata apenas de um homem como insistimos em refletir nessa obra. Cristo é Heli, o homem primordial, segundo Pasqually. Entende Vicente Velado: “Não se pode confundir o veículo físico chamado Jesus com o Cristo Cósmico nele manifestado”.

24 E os que tinham sido enviados eram dos fariseus.

25 Então lhe perguntaram: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?

26 Respondeu-lhes João: Eu batizo em água; no meio de vós está um a quem vós não conheceis.

27 aquele que vem depois de mim, de quem eu não sou digno de desatar a correia da alparca.

28 Estas coisas aconteceram em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando.

Comentário: O João era o próprio messias, um dos dois, e assim oculto, uma porta ou portal. O batismo é uma purificação, exigência de iniciação.

29 No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.

30 este é aquele de quem eu disse: Depois de mim vem um varão que passou adiante de mim, porque antes de mim ele já existia.

Comentário: Uma simbologia messiânica. O Cristo é sacrificado na semelhança do cordeiro, pois em toda a páscoa o Logos-Solar se sacrifica pela natureza, que depois se renova nos 4 elementos. A palavra INRI se refere à renovação pelo fogo e aos 4 elementos. A Era ou Aeon de Áries, o “cordeiro”. Também vemos noutros evangelhos o relato da pescaria, de peixes, que se refere à Era de Peixes. O Cristo-Solar passando pelas constelações e tendo a experiência do Cósmico, bem como em todos nós. Tira o pecado porque o mundo evolui através Dele. O sacrifício de Deus é limitar os Seus poderes no plano material, encarnar. É a Lei do Sacrifício. O mineral se sacrifica pelo vegetal, o vegetal pelo animal, e ambos pelo homem. O homem sacrifica seus animais internos, impulsos, por Deus. E Maimônides fala de cordeiros como vestimentas, que ocultam a sabedoria.

31 Eu não o conhecia; mas, para que ele fosse manifestado a Israel, é que vim batizando em água.

32 E João deu testemunho, dizendo: Vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele.

33 Eu não o conhecia; mas o que me enviou a batizar em água, esse me disse: Aquele sobre quem vires descer o Espírito, e sobre ele permanecer, esse é o que batiza no Espírito Santo.

34 Eu mesmo vi e já vos dei testemunho de que este é o Filho de Deus.

Comentário: O batismo é a iniciação nos mistérios de Cristo. Não se refere a uma religião, mas a uma vivência interna e cósmica, pessoal (pegar a cruz e segui-lo...). O batismo da água é um grau inicial, já o batismo de fogo é grau avançado. O batismo de fogo é o do Espírito Santo, que dá as 12 faculdades e que possibilita vestir a vestimenta, para assim adentrar nos aeones. A pomba é um animal de Vênus, logo nos leva a pensar na doutrina do amor. Também reflete a paz. Outro símbolo parecido é a fênix, que assim ressuscita de si mesma pelo fogo. O pio pelicano que sustenta seus filhotes com o sangue do peito. O caminho do coração. Bricaud ainda fala no batismo de ar, que estaria junto ao de fogo, chamado consamentum, e pelo qual se torna o homem “filho de Deus”. Sem esse batismo de fogo e ar não se pode entrar no Pleroma. O batismo de fogo e ar se dava na idade mínima de 20 anos.

35 No dia seguinte João estava outra vez ali, com dois dos seus discípulos

36 e, olhando para Jesus, que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus!

37 Aqueles dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus.

38 Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que buscais? Disseram-lhe eles: rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde pousas?

39 Respondeu-lhes: Vinde, e vereis. Foram, pois, e viram onde pousava; e passaram o dia com ele; era cerca da hora décima.

40 André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João falar, e que seguiram a Jesus.

41 Ele achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Havemos achado o Messias (que, traduzido, quer dizer Cristo).

42 E o levou a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).

Comentário: Hora décima devia ser umas 4 da tarde. Messias é aquele que é ungido. A unção se dava com óleo santo. Pedro é a pedra fundamental do “templo”, e a pedra de tropeço. Refere-se muito a castidade, quando vemos a trajetória dele. O Cordeiro de Deus está sacrificado desde a fundação do mundo.

43 No dia seguinte Jesus resolveu partir para a Galiléia, e achando a Felipe disse-lhe: Segue-me.

44 Ora, Felipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.

45 Felipe achou a Natanael, e disse-lhe: Acabamos de achar aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.

46 Perguntou-lhe Natanael: Pode haver coisa bem vinda de Nazaré? Disse-lhe Felipe: Vem e vê.

47 Jesus, vendo Natanael aproximar-se dele, disse a seu respeito: Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!

48 Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes que Felipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira.

49 Respondeu-lhe Natanael: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és rei de Israel.

50 Ao que lhe disse Jesus: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês? coisas maiores do que estas verás.

51 E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem.

Comentário: Os 12 Apóstolos são as 12 potestades, que também são interiores ao homem. Eles levam aos 12 aeones e podemos pensar nos mesmos como representantes das 12 tribos de Israel. Outrossim, vemos aqui mais uma vez as 12 constelações do céu, uma referência aos animais sagrados (seres viventes ou hayot), que são descritos em Gênese, Ezequiel e Apocalipse. A relação com os anjos se vê estreita e os poderes celestes e divinos aparecem no Cristo Místico e Mítico. A visão do filho do homem é usar de todas as vestimentas e trafegar pelas dimensões, a “Escada de Jacó”, onde anjos sobem e descem. O Filho do Homem é o homem celeste, Adão Kadmon, que partilha do mesmo símbolo das esferas ou sephirot da árvore da vida. Refere-se ao Cristo Cósmico e Interno, e por isso do céu se abrir, esse que vem na experiência mística da teofania.

(Parte de livro Bíblia e Mistérios)

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